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UM SUPLEMENTO DE O ALDEÃO Supervisão: José Itamar de Freitas Coordenação: Henrique Olivier Editor: André Motta Lima 11ustrações: Roberto Simões

Bárbara deixa

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Bárbara. com Harry Reasoner, no dia da estréia: a primeira mulher no noticiário noturno.

BARBARA, BELA, NA TELA DE TV No dia quatro de outubro, Barbara Jill Walters, que durante 12 anos foi coapresentadora do jornal matutino da NBC - o "Today Show" - estreou seu novo programa na ABC, ao lado do veterano Harry Reasoner. Barbara, de 45 anos, é agora a personalidade mais bem paga do telejornalismo americano - 5 milhões de dólares para um contrato de cinco anos - e a primeira mulher a apresentar um jornal em horário nobre. E nunca uma mudança dessas na televisão americana despertou tantas críticas e especulações. O veterano Walter Cronkite, da CBS, o mais respeitado dos anchormen dos EUA, disse à revista Newsweek que sentiu "um frio no estômago" quando soube da transferência de Barbara e seu contrato milionário. "Percebi - acrescentou - que todos os nossos esforços para manter o noticiário de Tv separado do show haviam fracassado". David Brinkle, um dos apresentadores da NBC, acre di ta que Barbara não suportará o ritmo de um jornal vespertino. "Não se trata apenas de ficar sentada em frente à câmara com ar bonitinho", afirmou. E Harry Reasoner, que divide agora o principal noticiário da ABC com Barbara, chegou a ser cáustico ao falar sobre a nova companheira de trabalho: "Estivemos juntos na viagem de Nixon à China e tudo que posso dizer é que ela anda muito bem de ônibus". Mas em seu artigo de capa sobre a transferência de Barbara, está mais disposto a experimentar os "brinquedos eletrônicos" da Tv. B sugestivo também que a ascensão desta mentalidade coincida com o advento de uma tecnologia revolucionária na coleta de notícias. A combinação das novas rnini-câmeras portáteis com satélites e equipamentos de retransmissão também miniaturizados permitirá aos repórteres dar notícias quentes muito mais depressa.

RESULTADOS A estréia de Barbara já deu seus resultados. A ABC continua em terceiro lugar em audiência (a liderança é da CBS), mas em apenas duas semanas conseguiu aumentar dois pontos em audiência - o 6

que equivale a 712 mil unidades residenciais e dois milhões de dólares anuais em recei ta pu blici tária, segundo a escala do Insti tu to Nielsen de Pesquisas. Mesmo que Barbara WaJters não consiga atingir a liderança, sua ida para a ABC já serviu para reavivar as discussões sobre as de ficiéncias do telejomalismo que, segundo os críticos, não mudou muito desde que a NBC pôs o primeiro jornal do vídeo no ar, em 1945. Atualmente, um jornal típico de 30 minutos (22 minutos, sem os comerciais) trata de cerca de dez assuntos, com um número equivalente de imagens. A Tv cobre os principais acontecimentos do dia, mas há histórias que não se prestam para um tratamento cinematográfico - a economia, por exemplo - e recebem menor atenção. Outro problema crônico é a incapacidade da Tv de aprofundar histórias mais complexas, incapacidade atribuída às limitações de tempo. HaJ WaJker, correspondente da CBS em Washington, lembra que há pouco tempo descobriu uma história sobre uma companhia inglesa que tinha recebido ilegalmente subsídios federais. "Fiquei uma hora estudando o assunto. Depois desisti, pois não havia meio de explicar a história, que era intrincada, em apenas três minu tos. Seria melhor que o New York Times tratasse do escândalo", disse WaJker. Os responsáveis pelos departamen tos de telejornalismo acham que os jornais de uma hora poderão eliminar em parte estes problemas. Mas isto traria problemas com ou tros departamen tos das emissoras e prejuízos de no mínimo um milhão de dólares por ano. Além disso, há o problema da reação do público, que teria de ficar mais meia hora sen tado ouvindo notícias. Estudos recentes nos EUA mostram que a a tenção do telespectador médio está no seu pon to mais baixo na hora do jantar, justamente quando os principais telejomais vão ao ar. "Este telespectador hipotético não quer ficar 10 minutos parado, vendo e ouvindo uma notícia bem apurada e bem escrita. Ele quer 10 segundos de política e 10 segundos da última separação de Elizabeth Taylor e Richard Burton", diz Walter Jacobson, da CBS.

Diante de tantas interrogações sem respostas claras, os responsáveis pelos departamentos de telejornalismo dos EUA estão convencidos de que os noticiários de Tv atravessam uma fase crítica em sua curta vida. Richard Salant, presidente do jornalismo da CBS, comenta desanimado: "Acho deplorável que um monte de gente se volte para nós como sua única fonte de notícia. Não deviam. Ao fim de cada programa, eu gostaria de dizer: para uma informação melhor, consulte os jornais de amanhã". A Newsweek afirma que a escolha de uma mulher como ela para um programa de tanta responsabilidade poderá significar mudanças profundas no jornalismo das três principais cadeias de Tv americanas, que atingem atualmente 42 milhões de unidades residenciais em todo o país. E informa que os responsáveis pelas cadeias de Tv já estão planejando um noticiário noturno de uma hora, em lugar dos 30 minutos atuais. A ABC aguarda apenas uma reação favorável ao novo programa de Reasoner e Barbara para estudar a sério a versão de 60 minutos. A NBC também está na fase de estudos. E a CBS já chegou a gravar dois programas completos de notícias de uma hora de duração, que poderão ir ao ar no início de 77. As emissoras também pretendem uma reformulação formal dos noticiários, que seriam mais revistas do que jornais. Puristas como Cronkite, que gostam da notícia nua e crua, afirmam que estas mudanças não passam de modismos. Mas seus concorrentes lembram que o programa de Cronkite está na liderança há tanto tempo que seria uma aventura brincar com seu formato. Mas isto não acontece com a NBC e a ABC, que estão na luta por uma maior audiência. As emissoras também estão preocupadas com a renovação do seu pessoal. A geração que está agora "no poder" chegou à Tv via imprensa escrita e já está atingindo a idade da aposentadoria. Na CBS, Eric Sevareid tem 63 anos e Cronkite, 59. Para substituí-Ios, existe uma fornada de "produtos da televisão", que fizeram seu aprendizado em pequenas estações locais e que nunca passaram por uma redação de jornal.


CID, BONITO, A IMAGEM PADRÃO Sexta-feira, manhã chuvosa. Lntrcvista marcada com Cid entre 9 e 9:30 no Teatro Fenix, onde ele estaria sonorizando matérias do Fantástícopara o próximo domingo. Chego apressada. Olho no relógio: 9:15. Pergunto se viram o Cid entrar. Sou informada que ele está gravando na suite, ao lado do palco do teatro. Corro pra lá, por força do hábito: na televisão] a gente está sempre correndo, a porta esta trancada. Nesse momento, Cid Moreira grava texto para um dos quadros da série "Animais" recentemente comprada pelo Fantástico, de uma agência norte americana. Entro e fico assistindo outras gravações. Quando termina o trabalho, Cid comenta que chegara às oito no teatro. Tudo bem a tempo e profissionalmente, como ele age. Sugiro que nos sentemos nas cadeiras do teatro para a entrevista que o André Motta Lima havia me pedido para fazer.

FICHA TÉCNICA Começo a entrevista sugerindo ao Cid que ele dê logo sua ficha técnica completa. E ele manda ver: filho de Isauro Morcira, aposentado como o 1.0 bibliotecário do Estado de São Paulo, e de Elza Morcira, dona de um espírito jovem, pois até hoje pinta o cabelo de preto. 42 anos, sopra velinhas no dia 29 de setembro. Do signo de libra, ele guarda todas as características, principalmente o equilíbrio, seu ponto forte. Diz não ter religião: acredita em todas. E não torce para nenhum time. O que ele gosta no futebol é a arte de jogar, o que justifica sua admiração por Garrincha. Nasceu em Taubaté, São Paulo, onde concluiu o curso de contabilidade. Recentemente prestou vestibular para Direito. Passou, mas nem chegou a fazer matrícula: o canudo não lhe fazia fal ta.

O COMEÇO A primeira coisa que se nota em Cid Moreira e seu ar tímido, meio retraído. Mesmo assim, um pouco para se justificar, ele sempre está dizendo que é tímido. Talvez por isso, quando adolescente ele gostava de falar em público, naquelas festinhas familiares onde alguém tem que fazer discurso. Ele procurava imitar os locutores da moda, como Carlos Frias e Cesar Ladeira. Numa dessas ocasiões, conheceu o diretor da Rádio Difusora de Taubaté, a quem pediu um emprego no escritório da rádio. No seu primeiro dia de trabalho uma surpresa o esperava. Ao invés dos livros de contabilidade, foi colocado à sua frente um

texto para locução. Pânico, vontade de fugir dali. Começou a tremer, as mãos suavam a ponto dc molhar papel do texto. Estava nascendo, naquele momento, em meio a tosses e engasgos, um dos maiores locutores e apresentadores de noticiârios, no Brasil.

1.0 CONTRATO

COM A REDE GLOBO

"O meu primeiro contrato com a Rede Globo, aconteceu em 66. quando a equipe do Barbosa Lima, que na época pertencia a TV Excelsior, foi convidada pelo Borjalo para fazcr o "Jornal ele Vanguarda" - grande sucesso de audiência, em 65. Nessa equipe só tinha cobras: Sérgio Porto, Luis Ja tobá, Gilda Muller, Fernando Garcia e Cól io Morcira - meu irmão. Cid fazia a voz dos bonecos - no estilo da zebrinha, hoje. "Essa equipe fez o "Jornal de Vanguarda" durante um ano, e foi nesse mcio tempo que eu ganhei uma força decisiva em minha carreira: fui clei to um dos dez homens mais bonitos pela Manchete. Apesar de todo o sucesso do Jornal de Vanguarda, aconteceu um desentendimento entre Barbosa Lima e a direção, o que provocou o retorno de toda a equipe à TV Excelsior, menos Jatobá, que permaneceu na Globo, apresentando o "Jornal da Verdade". A minha volta à Globo só foi acontecer 3 anos depois, convidado por Armando Nogueira para substituir Luis Jatobá".

MUDANDO A IMAGEM NALlSMO BRASILEIRO

DO

TELEJOR-

Cid faz uma pausa e me pergunta se já fui assistir "A Longa Noite dc Cristal", peça em cartaz no Teatro Glória, contando a vida de Luis Jatobá. Digo que sim c ele continua. "Ahl , mas antes dessa minha volta, tcnho que te contar como é que eu comecei a fazer sucesso. Ainda no "Jornal dc Vanguarda", comecei a receber muitas cartas pedindo _que fizessem um minuto com Cid Moreira. E que a Gilda Muller tinha um quadro que se chamava "Um Minuto com Gilda Muller", Então o Borjalo uma vez me colocou durante um minuto no ar, sem falar nada, só rindo c fazendo caras. Foi um sucesso. Aí a coisa ficou assim com a crítica dizendo quc eu era a imagem, Jatobá a voz. Mas não era bem isso. E que o J atobá era um tipo mcio chegado a feio, então sua voz ficava mais valorizada. Como eu era considerado bonito eles não prestavam muita atenção a minha voz". Com a saída de Luis Jatobá, a Globo começa a mudar o conceito de imagem de apresentador de telejornal.

Estão criadas as condições para Cid Moreira assumir a imagem de apresentador padrão do Jornal Nacional e da casa. ESTILO PRÓPRIO - Cid, qual a classificação de sua voz? - "Minha voz é de barítono e se eu cantasse seria baixo cantante. Teve até um cara que queria me levar pra ópera, veja só. Tenho a mesma qualidade de som e clareza de dicção que Jatobá tinha quando estava em plena formal',

_. E você estudou técnica vocal? - "Não, nunca estudei formalmente. Agora é claro que tenho a minha técnica, meus macctcs que fui criando com o exercício da profissão. Uma técnica própria, apreendida da prática e observação. - E se não é a técnica, o que é preciso para uma pessoa ter boa voz? - "Ela deve estar psicologicamente bem. Você quer ver uma coisa? Teve uma época que eu andava com muitos problemas pessoais e talvez por isso eu sempre estava resfriado. De dois anos pra cá, depois que eu acertei minha vida, nunca mais fiquci resfriado. - Qual a notícia que mais o emocionou? - "Sinceramente, a notícia mais terrível, que eu não gostaria de ter dado, foi ter que anunciar a morte do Heron Domingucs. Não foi fácil. Nem sei como consegui." - Em geral, como é o seu relacionamento com a notícia? - "Procuro não me envolver com a notícia. A in tcnção é transmití-Ia limpa, bem clara, deixando a parte emocional para o tclespectador. - E o "Boa Noite"? Você sente alguma dificuldadc ao mudar de tom no final do jornal? O "Boa Noite" geralmente é uma piada. - "Dificuldade nenhuma. Durantc o tempo em que trabalhei na Rádio Mayrink Vciga, fiz narração dc muitos programas humorísticos, como "Vai da Valsa" e "Alegria da Rua". Isso não é problema. Aliás, eu mc considero meio artista, porque faço qualquer tipo de locução. Faço locução com participação. Quer um exemplo? Final do Fantástico. faço também locução de meio termo e apática. Funciono em todo tipo de gravação.

o LADO

DOMÉSTICO

Desquitado há dois anos da primeira mulher, atualmente divide sua vida com a baiana Conceição, mestre na mistura dos quitutes baianos com macrobiótica. Um orgulho de Cid é não comer carne, seguido por Conceição c a empregada Maria, também baiana, c virgem. Comentário meio à queima roupa. Pai dc dois filhos, uma moça e um garoto, o ano que vem Cid pensa aumentar a família realizando o sonho de ter um filho da atual mulher. Pergunto sobre os troféus. Só o "Imprensa", ele já ganhou três. "Antena de Ouro", troféu da Revista Amiga e ou tros. Mas todos ficaram com a ex-mulher. O que pra ele não faz diferença. A única coisa que ele faz questão mesmo é de jogar na loteca toda semana, apesar de nunca ter feito além dc quatro pontos. E qual a grande paixão de sua vida? - Pergunto sem esperar resposta, em se tratando de um tipo tão sereno. E a resposta chega perfeita. Realmente não poderia sc encaixar melhor em Cid Moreira: A paixão pelo tênis, esporte que pratica desde garoto. MUDAN!)O DE VIDA No final do ano, Cid concretiza um velho sonho: se mudar do apartamento de Botafogo para uma casa grande e bonita, localizada num terreno de 2 mil metros quadrados em J acarepaguá. Numa rua tranquila, cheia de árvores, será vizinho de Carlos Campbel, Sérgio Ch apelin e Sandra Bréa. Nessa casa, o paulistano de Taubaté pretende realizar aspirações antigas, plantando árvores, construindo uma piscina e uma quadra de tênis, além de esperar o terceiro filho, fruto da maturidade. Com os seus 42 anos - 26 de locução - Cid Moreira confessa já estar pensando em se aposentar daqui a quatro anos. E aí dá uma risada marota, bem caractcrística dele, e diz que a aposentadoria não quer dizer fim de linha, só um dinheirinho a mais.

"No começo a critica dizia que eu era a imagem e Jatobá a voz".

ANA DAVIS 7


NOS ANTIGOS, A VOZ DA OPOSICÃO Nos Estados Unidos, não se fala em outra coisa. A estréia de Bárbara Walters pode tirar a seriedade dos telejornais noturnos, se a audiência da ABC subir, confirmando que o público prefere amenidades e shows jornalísticos. A jornalista Dorrit Harazim mostrou o que pensam dois dos mais sérios locutores americanos: Walter Cronkite e Eric Sevareid, ambos da CBS, a líder de audiência.

Walter Cronkite Uma pesquisa de opinião entre os norte-americanos, há alguns anos, indicou que a pessoa em quem mais confiavam no país era Walter Cronkite, apresentador do telejornal da cadeia CBS. Com 59 anos de idade e quase 40 de experiência no jornalismo (foi corresponden te de guerra da UPl), Cronki te tem hoje o noticiário de maior audiência da TV americana. Um rosto sóbrio e envelhecido, voz pausada e às vezes rouca, devido a um problema de laringe, Cronkite jamais ganharia um concurso de locução, e muito menos um de fotogenia. E um defensor rígido do telejornalismo voltado para a informação e não hesita em criticar as emissoras preocupadas com "o lado cosmético do telejornal" - mui to filme, gráficos em excesso, ação, repórteres jovens e bonitos, mas indiferentes à inf'ormação prestada ao telespectador. Cronkite não é apenas um apresentador de notícias. Ele ajuda a editar o telejornal, redige parte das notícias. Nas apresentações ao vivo (convenções nacionais dos partidos, festividades do Bicentenário, assassinatos de líderes nacionais, viagem à Lua), Cronkite cumpre a função que os americanos sonham num anchorman. Sentado no estúdio, com monitores ao lado, ele coordena o trabalho dos repórteres através do país, trazendo-os ao ar nos momentos certos, inserindo perguntas ao vivo nas apresentações, esclarecendo o telespectador sobre os pon tos obscuros. No primeiro debate de Ford e Carter deste ano, quando uma falha técnica criou um silêncio embaraçante na transmissão, Cronkite entrou no ar de improviso e, de memória, sem ler anotações, fez um resumo dos principais pontos discutidos até aquele momento, ao mesmo tempo em que orientava seus repórteres, no ar, para verificarem o que tinha ocorrido. De cada entrevista, recheada de retórica eleitoral a favor de um dos candidatos, Cronkite filtrava o essencial, identificando as ligações partidárias dos vários entrevistados. Paul Klein, ex-pesquisador de audiência da CBS, acha que os telespecta8

dores admiram em Cronki te sua linguagem racional, que serve como refúgio de sanidade, diante das notícias freqüentemente assustadoras no vídeo. A única vez em que Cronkite deixou trair um emocionalismo na cobertura foi durante a primeira viagem do homem à Lua. Ao subir o foguete de Cabo Kennedy, o jornalista se permitiu desabafar, com entusiasmo: "Go, baby, gol" Fora disso, ele insiste em apresen tar, sem variações de en tonação ou expressões faciais, as notícias do dia, do trágico ao cômico, convencido de que "o jornalista não tem direi to de privar o público de saber dos fatos". "Não devemos nunca considerar as conseqüências de nossa informação sobre o público ou sobre nós mesmos" - disse ele, recentemente - "o que devemos fazer é nos certificarmos de que os fatos são apresentados de maneira correta. Não devemos decidir o que é bom ou mau para o povo, não importa quem seja este povo. No momento em que fizermos este julgamento moral, o jornalismo livre estará acabado, porque então terá sido negada ao povo a informação que uma democracia exige para sobreviver".

Eric Sevareid Os congressitas e políticos entram e saem, mas Eric Sevareid, comentarista da cadeia CBS, permanece, há mais de 30 anos, com seus exórdios e prédicas de três minutos, ao fim dos noticiários. Sevareid domina a câmara com o seu queixo proeminente, todo arrumado e preparado pelos maquiladores da televisão: e suas opiniões firmes são um balanço de prós e contras, um equilíbrio que ilustra e comenta sem opinar definitivamente. A única opinião formada de Sevareid é defender a liberdade de imprensa. Sevareid, tal como Harry Smith, da ABC, não é um anchorman, ou seja, não apresenta os noticiários, embora compartilhe com Cronkite, Reasoner e Chancellor do mesmo passado de repórter e correspondente de guerra. Seus são os três minutos finais do noticiário noturno da CBS - o comentário político. Mais de 60 milhões de pessoas escutam Sevareid quase todas as noites. Seu potencial de persuasão suplan ta em muito o de quase todos os senadores e funcionários públicos norte-americanos. Um texto dele próprio, escrito em 1970, em reação à proposta de Spiro Agnew de que os comentaristas de televisão fossem examinados pelo Governo sobre suas ideologias, dá a medida de seu pensamento. Naquela noite, Sevareid disse no noticiário da CBS: " O Sr. Agnew quer saber qual é nossa posição. Estamos bem aqui, sob os holofotes, em posição desvan tajosa em relação aos políticos. Não podemos dar um voto numa comissão e um voto oposto no plenário - não podemos dizer urna coisa no N arte e ou tra no Sul. Não temos um mandato de quatro anos e podemos ser afastados com uma simples troca de canal." "Não podemos insultar ninguém, nem ridicularizá-I os, não podemos nem sonhar em contestar o patriotismo de cidadãos importan tes, ou reduzir cada questão complexa a sim ou não, preto ou branco. E preferiríamos ir para cadeia a agredir o idioma inglês. Não podemos apoiar um ou outro lado de cada questão pública controversa, porque estamos tentando explicar mais do que defender, e porque algumas questões não têm dois lados: têm três, quatro, meia dúzia e nestes casos, duvidamos que saibamos a resposta certa. Este pode ser o motivo pelo qual muitos de nós mostramo-nos um pouco exaustos, enquan to o Sr. Agnew parece tão sereno." "Nenhum de nós acredí ta que a verdade total sobre alguma coisa esteja contida em alguma exposição ou comentário, mas que emergirá através da informação e discussão livres, como Walter Lippman colocou. O ponto central a respeito de uma imprensa livre não é o fato de que ela seja precisa - embora deva tentar sê-lo - nem mesmo que seja justa - embora deva tentar sê-Io - mas que seja livre. E isto significa liberdade para se defender de qualquer Poder governamental que tente coagi-Ia, intimidá-Ia ou policiá-Ia. "


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