UM SUPLEMENTO DE O ALDEÃO
Supervisão: José Itamar de Freitas Coordenação: Henrique
Olrvíer
Editor: André Motta Lima Ilustrações: Roberto Simões
O ESQUEMA
E AS OPINIÕES 5
A HISTÓRIA DA COBERTURA MAIS COMENTADA DO ANO Pela primeira vez na história da Rede Globo de Televisão, todas as afiliadas se entrosaram para uma cobertura jomalística. Até do Acre veio a voz do locutor, dando características regionais a um trabalho de ãmbito nacional. Em que pese algumas críticas quanto à complicada função analítica da televisão brasileira, houve completa unanimidade no reconheciAna - Armando, a partir de quando. a Central Globo de Jornalismo começou a se preocupar com as eleições de 15 de novembro? Armando - Seis meses an tes das eleições saiu um memorando destacando sua importância. Era uma eleição municipal, mas sentimos que ela teria uma importância muito grande do ponto de vista jornalístico. Nessa oportunidade nós já tínhamos tomado o cuidado de encomendar a um dos nossos companheiros em Brasília, Toninho Drurnmond, que funcionaria mais tarde como coordenador da cobertura nacional aqui no Rio, um plano jomalístico para antes e durante as eleições. Ana - Esse memorando que desencadeou o processo de cobertura partiu de quem? Armando - Bem, esse memorando foi nQSSO,da CGJ. Ana - Idéia sua ... Armando - h, dava pra sentir que a eleição ia ser importante. Ana - E como foi que você sacou essa importância? Armando - Aí eu não sei não. Deve ter sido o astral ... Na realidade contou muito nossa experiência na cobertura das eleições majoritárias de 74, quando achamos que a televisão em termos de cobertura não correspondeu à sua capacidade de ação. As eleições de 74 foram um desafio a que a televisão não respondeu bem. E achamos, claro, que a coisa não podia ficar assim. A intuição que nós tínhamos era um pouco a intuição que tinha o próprio Presidente Geisel, quando ele passou o ano de 76, desde janeiro, falando que o povo brasileiro precisava dedicar uma atenção muito grande a essas eleições, que ele considerava importantes. Além disso, sentimos que a manifestação política do município iria envolver o país inteiro. Afinal de contas, o município é o interesse mais próximo do cidadão, no que representa a comunidade em que ele se integra; evidentemente que iria ser uma eleição importante, porque nós íamos ter conhecimento, ou melhor, conhecer de perto a alma do brasileiro do interior mais distante, a menos que nós não quiséssemos cobrir as eleições com a dimensão com que nós cobrimos. Foi daí que nasceu a consciência de que nós tínhamos que cobrir corretamente as eleições de 76. Ana - Alice Maria, como é que funcionou o plano de cobertura, antes das eleições? Alice - Um mês antes das eleições mandamos uma equipe mista, do Rio e de São Paulo - uma equipe normal: repórter, cinegrafista, assistente e motorista - mandamos essa equipe viajar. Ela percorreu todo o Brasil, de norte a sul, produzindo reportagens mostrando como funciona a câmara de vereadores, como funciona uma prefeitura. Eles não podiam cobrir campanha. A Lei Falcão não permitia. Então a gente mostrou como 6
mento ao despojamento e agilidade da cobertura eleitoral da Globo. Uma tarefa que mobilizou centenas de profissionais, conforme contam Armando Nogueira e Alice Maria, entrevistados pela repórter Ana Davis, logo após o término da cobertura mais comentada do ano.
as coisas funcionavam. E esse trabalho an teriormen te previsto para en trar no "Jornal Amanhã", terminou entrando no "Jornal Hoje", devido a mudança de horário, para mais tarde, que o "Jornal Amanhã" sofreu durante o período de campanha eleitoral. Dez dias antes das eleições, Toninho Drummond e Costa Manso vieram para o Rio, armar o esquema de transmissão. Como a Central Globo de Jornalismo é no Rio, e portanto muito mais armada, com muito mais condições, pudemos fazer uma cobertura mais tranqüila, com boletins de hora marcada, tudo mui to limpo, bem planejado. Na cobertura em São Paulo, uma semana antes o Boni recomendou que ela fosse mais agressiva. E, imediatamente, a Superintendência de Produção e Programação pôs à disposição da CGJ os melhores recursos técnicos e profissionais para que a Globo desse ao eleitorado paulista uma visão completa das eleições municipais. Ana - E durante as eleições, de que maneira a Globo atuou? Alice - Deslocamos para o interior de São Paulo três VTs portáteis coloridos que foram instalados em três cidades importantes: Bauru, Campinas e Ribeirão Preto. Tiramos também todas as VRs 3.000 de Brasília e do Rio, e jogamos em São Paulo. Para cada VT mandamos dois repórteres. Em Ribeirão Preto ficaram o Silva Pin to e o GuGon. Em Bauru ficou a Geny e o Jair. Em Campinas o Ciro José e a Sumika. Todos eles com táxi aéreo à disposição. O Rio também contou com táxi aéreo em cobertura de interior. Trabalhamos com 5 VRs em São Paulo - três no interior e duas na capital - sendo que uma delas, na capital, funcionava como unidade móvel. No dia da abertura da primeira uma, por exemplo, a gente botou o locutor como se fosse uma externa, lá no Museu de Arte de São Paulo onde foi aberta. Em São Paulo a cobertura foi dinamizada ao máximo. Ana - Onde ficou centralizada a cobertura nacional? Alice ós fizemos o seguin te: o Rio centralizou o Brasil, inclusive São Paulo entrava nos boletins do Rio. Mas São Paulo teve uma cobertura autônoma, dividida em interior e capi tal. No Rio de Janeiro, especificamente, nós já tínhamos um esquema de apuração montado que é o esquema de "O Globo". Mas em São Paulo nós não tínhamos. Ninguém ia fazer isso. Então a Globo montou um esquema lá, comandado pelo Zé Otávio, com rriotoqueiro, helicóptero e usando computador do Banco de Crédito Nacional. Ana - A Globo inclusive chegou a se antecipar aos resultados do TRE de São Paulo, não foi? Alice - h, realmente. ós demos o resultado às 6 horas da tarde, e o TRE somente às dez da noite. Agora, o melhor é que nós tivemos um erro mínimo,
porque nós não conseguimos 170 urnas. Mas era exatamente. ós demos os mais votados, tudo pela ordem, com diferença mínima de votos. Para você ter uma idéia do nível de cobertura em São Paulo, em três dias colocamos no ar 97 reportagens em VT, sem contar filmes e entradas ao vivo. Ana - E com relação ao lBOPE, como é que nós ficamos? Alice - No dia 15 não houve pesquisa porque era feriado, mas no dia 16, para você ter um exemplo, o Ibope do "Jornal Nacional" foi de 60.8, o que corresponde no Rio, a 90% de audiência. Quer dizer, todo mundo estava ligado na Globo, inclusive jornais. Alguns jornais chegaram a receber telex com informações nossas. A TV Globo se antecipou a tudo. Pela primeira vez, montou-se um esquema de cobertura ambicioso e esse esq uema funcionou satisfatoriamen te. Um esquema que envolveu todas as emissoras da Rede, as afiliadas e repetidoras, além das rádios de interior. As rádios nos ajudaram muito. Toda a nossa equipe foi mobilizada, usamos estagiários ... Boni praticamente montou duas rníni-estações de televisão, em São Paulo, a exemplo da que foi montada na ocasião do incêndio aqui na Globo do Rio. Inclusive lançamos repórteres, como o Silva Pinto, que pegou em microfone pela primeira vez. Foi um trabalho incrível, que mobilizou uns ISO repórteres, o mesmo número de editores e, contando as pessoas que fizeram um tipo de trabalho de apoio, podemos dizer que aproximadamen te mil profissionais estiveram envolvidos na cobertura das eleições 76. E esse resultado positivo s6 foi possível graças a um admirável espírito de colaboração que se manifestou na cobertura das eleições, possibilitando a televisão brasileira, no caso a TV Globo, cumprir o seu papel de veículo de integração nacional, através da informação. Ana - Armando, o estilo que o repórter Costa Manso utilizou para apresentar os boletins é uma tendência de mudança na linha de apresentação dos nossos telejornais? Armando - Absolutamente. A linha de apresentação dos telejornais da casa continua a mesma. O informalismo adotado por Costa Manso e outros apresentadores durante as eleições foi decorrência da correria e de falta de tempo para fazer um script. De ter que entrar no ar às pressas, com a notícia recém-apurada. Costa Manso não exerceu a função de comentarista como querem achar alguns críticos. Mas apenas a função de centralizador das informações que chegavam de todos os estados. Fez um bom trabalho. Tal como aconteceu em São Paulo, com os apresentadores Luis Lopes Correia, Celso Freitas, Sergio Roberto e Teresa Corbett que, nas circunstâncias de improvisação, tiveram uma performance à al tura do esforço dos repórteres e de toda a equipe de bastidores, que assumiu com êxito a operação eleições-76.
NÃO FIZEMOS MAIS DO QUE A NOSSA OBRIGAÇÃO Alguns anos atrás, é possível que a central de jornalismo de qualquer rede brasileira de televisão fosse obrigada a paralisar a sua rotina de informação, toda vez que empenhasse todos os seus recursos jornalísticos e técnicos numa cobertura com amplitude que teve a cobertura dada pela Rede Globo às eleições municipais de 76. Centenas de profissionais - quase mil no país inteiro - foram mobilizados pela Rede Globo para cobrir estas eleições. E, nem por isso, os telejornais da Globo deixaram de cobrir o resto. Quer dizer, tudo o que houve de importante na atualidade internacional, no setor econômico, nos esportes, nos espetáculos e na área artística. O êxito da utilização de uma "taskforce" - quase uma redação paralela sem prejuízo da redação principal, é uma das lições que se pode extrair desta cobertura, sob vários aspectos memorável, para usar uma palavra antiga e sonora. Continuamos, por exemplo, a receber nossos satélites de todo dia - recebemos inclusive um satélite especial da China sobre o culto da personalidade de Hua Kuo-Feng - e não sofremos, durante a batalha eleitoral da Rede Globo, nenhum furo importante. Os leitores dos jornais matutinos e vespertinos do Rio e São Paulo nenhuma vez foram surpreendidos, no dia seguinte, por alguma novidade que não tivessem visto, de véspera, na televisão. Ninguém notou isso porque não fizemos mais do que a obrigação - obrigação de quem sabe, com certo orgulho e muita humildade, que, neste final de século, é pela televisão que a maioria do povo brasileiro, bem ou mal, se informa, em primeira mão, do que se passa em sua cidade, neste país e no resto do mundo. LUfS EDGAR DE ANDRADE Produ tor Especial
É POSSIVEL UMA NOVA FORMA NOS TELEJORNAIS Além dos resultados de seus partidos, os habituais telespectadores da Globo notaram que nestes quatro agitados dias de cobertura das eleições, tanto o "Jor.nal Nacional" quanto os boletins estavam bem diferentes. Um repórter que di-
ficilmente aparecia mais de três minutos, naqueles dias, sentou-se ao lado dos a p re se n tadores tradicionais. Apoiado num texto descontraído - que lhe permitiu até pequenos lapsos - coordenou outros repórteres e cinegrafistas espalhados por quase todo o Brasil. A instantaneidade - um detalhe muitas vezes esquecido nos informativos de TV - esteve presente em boa parte das matérias apresen tadas. Alguns destes telespectadores devem ter estranhado que tratamento idêntico não foi dado ao período que antecedeu as eleições. Muito pouco se falou, na televisão, das campanhas, dos comícios dos candidatos e dos partidos. A lei inspirada pelo Ministro da Justiça, Armando Falcão, foi respeitada plenamente naquilo que vetou ou deixou de vetar. Agora que passou a correria em busca dos números das eleições, muitos dos colegas que trabalharam nesta cobertura começam a buscar o saldo de seus esforços. Certamente estes dois detalhes são os mais visíveis: a Globo provou que é possível uma nova forma de apresentação dos telejornais e que ainda temos um longo caminho a percorrer para que a televisão consiga um melhor conteúdo na cobertura dos grandes temas nacionais. ARNALDO
CESAR Repórter
AGORA, TODOS OS ESTADOS VÃO PARTICIPAR MAIS O trabalho de cobertura das eleições vai ser muito útil para o desenvolvimento da Coordenação Nacional, um setor do jornalismo que deve crescer nos próximos meses. E que a cobertura mostrou, de maneira rápida e prática, o potencial de produção de muitas praças distantes, como Piau í, Alagoas, Maranhão. Como a Coordenação pretende pedir o máximo de matérias regionais, para que os telejornais tenham características as mais nacionais que puder, foi importante essa constatação prática. Um aspecto burocrático importante foi a utilização plena do telex nas comunicações com as estações Globo nos estados e com as afiliadas. A coordenação se fez basicamente por telex, com urgência e eficiência. O mesmo sistema deve ser usado agora quando for preciso produzir uma matéria regional ou nacional coordenada. Vai se evitar o uso difícil e caro do telefone, que toma tanto tempo. Outro aspecto é o psicológico: muitas estações do interior não produzem. inibidas ou inconscientes de sua capacidade de produzir e gerar matérias via Embratel. Elas sentiram que podem participar. Elas deverão ter gostado, também, da maior descontração na apresentação, do maior espírito de reportagem. Elas se
sentem capazes de descobrir matérias e fazer reportagens, mas muitas vezes se sentem limitadas na apresentação (alto padrão de qualidade). A mudança que começou a se processar pode estimular a participação de um maior número de regiões, estações e pessoas no sistema Globo de Telejornalismo. RONAN SOARES Coordenador Nacional
É PRECISO SEGUIR NA BUSCA DE NOVOS CAMINHOS
Em todas as críticas ao nosso trabalho - justas e injustas, competentes e incompetentes - há reconhecimento e aceitação daquilo que foi o objetivo maior do nosso planejamento: a descontração a serviço de uma credibilidade maior do telejomalismo. E isso só deveria nos bastar, não fosse um outro resultado também pioneiro: foi a primeira vez que tod os os estados estiveram presentes numa cobertura nacional, quinze deles com imagens. Os que nunca haviam participado poderão agora usar com freqüência as estradas que lhes foram abertas. Alguns desses caminhos precisam ser cobertos por imagens, é verdade. Mas isso não depende só da Rede Globo. Depende muito da compreensão e do estímulo que profissionais e críticos possam dar a tentativas como a que acaba de ser feita pela Globo. Trata-se muito mais da montagem de uma estrutura do que da cobertura pura e simples de um evento. Depende agora da gente prosseguir na busca de novos caminhos, de novas soluções, pois como disse no Fantástico o José ltamar de Freitas, só não procura quem está morto. ANTONIO CARLOS DRUMMOND Coordenador das Eleições 76
Na página 8, uma crítica de Artur da Távola e a au tocrí tica de Costa Manso
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AVTUV UA TÃV()LA
Rádio e Tv na cobertura das apurações no Brasil Após haver maçado o leitor com quatro supimpas xaropadas a propósito das eleições e sua campanha via rádio e tevê hoje é dia de analisar a cobertura das apurações. Desde logo a diferença entre São Paulo e Rio fez-se sentir, avassaladora. Enquanto lá quatro emissoras de televisão montaram esquemas especiais de cobertura (Globo, Tupi, Cultura e Bandeirante), aqui apenas a Globo. Verdade que as Tvs Tupi e Rio deram cobertura das eleições em seus noticiários. E essa cobertura serviu para me mostrar duas coisas: que o "Grande Jornal" da Tupi, novo telenoticiário, representa uma grande melhora em relação ao anterior "Factorarna" e que a indigente Tv Rio continua sendo o canal mais vital e corajoso do Rio, funcionando heroicamente e progredindo passo a passo. Até o seu telejornal funciona direitinho, com mapa e tudo. Sem filmes, sem agências e sem radiofotos, mesmo assim lá há telejornalismo. E cobriram bem direitinho as apurações. Mas eu dizia que na cobertura das apurações a diferença entre Rio e São Paulo se fez patente. Lá foram quatro emissoras e aqui apenas uma A cobertura da Tupi do Rio não pode ser considerada especializada. Imaginem que nem em seu noticiário de uma hora de duração a uma e meia da tarde, o "Panorama", havia uma menção sequer ao resultado do pleito. E pelo visto para São Paulo a Tupi de lá fez uma grande cobertura. Por que não chegou aqui (salvo no "Grande Jornal") ninguém o sabe. Aqui foi só a Globo a montar um esquema amplo de cobertura. Quando só há uma emissora na cobertura, fica impossível o critério comparativo, sem o qual não pode haver um juízo crítico concreto. Mesmo assim, eis o que observei. A Rede Globo deu a meu ver o passo mais efetivo para a presença no vídeo do jornalista-comentarista ou o repórter-editor .ou o repórter-locutor. O nome tanto faz. aquela tão solicitada presença do jornalista que colheu ou trabalhou a matéria colhida, ele mesmo apresentando-a no vídeo. Aliás esse passo vem sendo preparado há algum tempo. É
PRECISAMOS DE CORAGEM PARA OS INEVITAvEIS EQUIVOCOS A cobertura "Eleições 76" sofreu de todas as falhas típicas das primeiras tentativas. Acho que só desenhamos um esboço. da nova postura que se busca para os telejornais. Há apenas um modelo meio longínquo a ser adaptado. No caso das eleições tinhamos um esquema de cobertura nacional, nova por sua dimensão (pela primeira vez incluindo os 22
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Esses pitonisos e pitonisas que aparecem cobrindo acontecimentos "in loco", falam ao vivo matéria editada. E assim: alguns deles redigem o que vão dizer, gravam e por um imperceptível fone de ouvido, repetem o que a sua própria voz (ou a de outro) gravou, com base no tex to escrito. Para o público eles estão falando direto, improvisando. A vantagem desse sistema é a de cortar palavas desnecessárias, redundância etc., aprimorando a concisão e a precisão das frases. Alguns dos pitonisos e pitonisas são, eles mesmos, os redatores das matérias que apresentam. Outros são locutores ou apresentadores de matérias por ou tros edi tadas. Pois de há muito o pitoniso Costa Manso vem se destacando pela boa qualidade de suas coberturas, sua presença discreta e distin ta, a boa dicção sem afetação. Ele - segundo eu soube - pertencia à categoria dos repórteres de tevê que editavam a própria matéria, vale dizer, pitonisos in tegrais, seres que colhem a matéria, gravam a cabeça e o fim da mesma e depois editam o miolo para apresentá-Ia à (à matéria) integral, com aquele fonezinho no ouvido. O que ocorreu com a cobertura das eleições? Tivemos o Costa Manso direto e ao vivo, sem fonezinho, improvisando. E como ele se houve muito bem nessa tarefa, calmo, natural, bom português etc., creio que as eleições servirão para selar e lacrar a eficiência da cobertura algo mais sol ta, natural, do repórter-editor-jornalista-comentarista. O mesmo pode ser dito dos flashes de Márcia Mendes, linda, louçã e taful, uma ótima repórter. Em matéria de cenografia, a da Globo de São Paulo deu um baile, infinitamente melhor do que a daqui, inclusive com aquela telona ao fundo e um clima muito mais real de redação. De há muito eu não via a imagem da Globo dar um "relax", Pois deu e acertou. Já os apresentadores - pitonisos e pitonisas - de São Paulo jamais conseguiram a mesma soltura, leveza e capacidade de improvisação do Costa Manso, fora de dúvida uma das melhores e mais completas figuras de telejornalismo moderno, já formado na escola da própria estados) e ousado porque propunha um novo formato de apresentação. Cada detalhe desse formato foi montado mais ou menos na base da tentativa, dois ou três dias antes da cobertura: cenários, postura do apresentador, e pequenos expedientes quanto ao uso do telefone no estúdio, foram bolados em cima da hora e utilizados pela primeira vez, com maior ou menor eficiência, no ar, direto. O próprio transplante do jornalista para o estúdio - decan tado como passo mais importante da cobertura - foi feito apenas com base na teoria comprovada em
televisão, sem vícios palavrosos e embocadura radiofõnica, Em São Paulo há um pitoniso excelente, o repórter Guilherme Queiroz. Muito bom. E o mais moderno de lá. A reparar apenas a tola idéia (quem a deu?) - depois abandonada - de fazer o pitoniso Costa Manso fingir que pegava o telefone para escutar o despacho da correspondente. Francamente! Nem em representação de colégio... A reparar, ainda, uma certa confusão nas informações quando juntavam os dados da Datamec com os dos computadores do Globo. Embora as tendências fossem as mesmas, os números eram diferentes, e o público ficava sem saber com qual ficar. Houve dias, como quarta-feira, em que a Informação da Datamec veio grudada na dos computadores do Globo. Ficou confuso. Fora desses dois senões muito pequ~ nos, aos quais eu somaria o horrendo 10gotipo, em todo o resto a Rede Globo conseguiu o que pretendeu: acompanhar o andamento das apurações em todo o país, ligando-o pela informação e realizando, assim, um papel de efeito secundário muito forte na politização de contingentes grandes da população que só têm na televisão a forma de aculturação mais poderosa De parabéns a Rede Globo, a julgar pelo Rio. Imagino que se vivesse em São Paulo, parabenizaria outras coberturas. O mais foi a cobertura radiofõnica. Confesso que fiquei' acompanhando as emissoras, mas é muito difícil corujar a todos os boletins. Quatro delas se destacaram: Globo, Tupi, Jornal do Brasil e Continental. As demais se limitaram aos noticiários. A Rádio Nacional fez alguma coisa. Mas o telejomalismo da Rádio Nacional está precisando passar pela mesma reforma pela qual passou a programação geral da emissora. A boa surpresa é a Rádio Continental. Particularmente naquele programa matutino do comunicador Hilton Aby-Rhian (é assim que se escreve? ) que é bem estruturado e realizado. O radiojornalismo é uma realidade na Rádio Continental, aquela que criou a figura do radiorrepórter no Rio de Janeiro. E bom constatar que a cada evento noticioso novo, mais e melhor funciona o radiojornalismo carioca Quatro emissoras é pouco em cerca de 20. Mas é melhor do que nada (como era há alguns anos) e só a cobertura da Globo, Tupi e Jornal do Brasil, Continental e Nacional são suficientes para atingir a todos os cariocas.
(Transcrito de "O Globo", dia 20/11/76)
outros países e o resultado refletiu a inexperiência do repórter a gravar na rua tex tos de um minuto. Ainda assim, "desmecanizar" a apresentação de notícias mesmo com os locutores - parece ser uma tarefa urgente, ao julgar pela repercussão que tiveram os boletins, com todos os seus tropeços. A tentativa das eleições pede outra experiência, com outros profissionais. E pede também coragem para os inevitáveis equívocos na procura de um telejornalismo brasileiro. COSTA MANSO Repórter-Apresentador das Eleições 76