Quem Precisa da Guerra? Alexandra Kollontai 1915
'HERÓIS' A guerra ainda não acabou, de fato, seu fim nem estava em vista, mas o número de aleijados estava se multiplicando: pessoas sem braço, sem perna, os cegos, os surdos, os mutilados... Eles partiram para o sangrento matadouro mundial jovens, fortes, sadios. Tinham uma vida toda pela frente. Apenas alguns meses, semanas, até mesmo dias depois, eles foram trazidos de volta aos hospitais quase mortos, mutilados... 'Heróis,' dizem aqueles que começaram a guerra européia, que mandaram uma pessoa contra a outra, o trabalhador de um país contra seu colega trabalhador de outro. Pelo menos agora eles ganharam um prêmio! Eles poderão andar por aí usando suas medalhas! As pessoas irão respeitá-los! No entanto, na vida real as coisas são diferentes. O 'herói' volta para casa, para o povoado ou cidade onde nasceu, e quando chega, ele não pode acreditar no que vê: no lugar do 'respeito' e alegria ele encontra esperando por ele novos sofrimentos e desilusões. Seu povoado foi reduzido à pobreza e à fome. Os homens foram arrastados para a guerra, a criação de animais requisitada... Impostos devem ser pagos, e não há ninguém para fazer o trabalho. As mulheres tem estado extremamente ocupadas. Elas estão extenuadas e famintas, cansadas de chorar. Heróis aleijados perambulam pelo povoado, alguns com uma medalha, alguns com duas. E o único 'respeito' que o herói consegue é ouvir sua própria família repreendê-lo como um parasita que come o pão dos outros. E o pão está racionado!