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SÃO CAMILO PASTORAL DA SAÚDE INFORMATIVO DO INSTITUTO CAMILIANO DE PASTORAL DA SAÚDE ANO XXX N.328 ABRIL 2014

A CASA É O MELHOR LUGAR PARA MORRER ANÍSIO BALDESSIN

Nos últimos cinco anos tenho prestado assistência espiritual a muitos pacientes que são atendidos no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Por ser um hospital de referência atende pacientes de alta complexidade e em geral muito graves. Assim sendo, é muito comum encontrar pacientes para os quais já não existe mais nenhum tipo de tratamento a não ser o cuidado paliativo. Fazer cuidado paliativo não significa abandonar o doente e sim mudar o foco do tratamento. Ou seja, ao invés de alta tecnologia e medicamentos de alto custo que, às vezes, traz mais sofrimento do que bem-estar, é mais conveniente oferecer cuidados básicos e uma “alta” dose de amor, carinho e conforto. Ou seja, proporcionar um final de vida sem dor, sem sofrimento, e o que é melhor, próximo dos seus familiares e amigos. Todavia, quando a equipe aborda a família do doente falando sobre esse tipo de conduta é muito comum as pessoas reagirem até de maneira agressiva dizendo: “o quê doutor, vocês não vão fazer mais nada pelo pai, mãe, irmão”! Essas reações podem ser consideradas normais. Pois o fato de saber que nos cuidados paliativos nenhum procedimento extraordinário será tentado, quando o doente estiver em fase terminal, deixa a família com uma sensação de que esteja “jogando a toalha” e ao mesmo tempo matando todas as expectativas que ainda pudessem existir. Além disso, cria nos familiares uma mistura de culpa e dúvida. Afinal, muitos não entendem ou não sabem o que fazer nestas circunstâncias. E essas dúvidas vêm acompanhadas da famosa frase: “enquanto existe vida, existe esperança”. Nessas circunstâncias, quando sou solicitado pelo paciente, pela equipe médica ou pelos familiares procuro ser bastante firme. Não matando a esperança de ninguém, e ao mesmo tempo não alimentando falsas ilusões. Para os familiares é importante fazê-los entender duas coisas: a primeira é que a conclusão à qual a equipe médica chegou para encaminhar o paciente para os cuidados paliativos foi baseada em dados científicos e não em cima do “eu acho”. Portanto, o que eles estão dizendo precisa ser levado muito a sério; a segunda é a respeito da frase: “enquanto existe vida, existe esperança”. Em parte ela é verdadeira. Porém, é preciso lembrar que enquanto existe vida pode existir também muito sofrimento. Por isso, costumo ser bem racional dizendo: a maioria absoluta, para

não dizer 100% dos doentes que são encaminhados para os cuidados paliativos morrem num curto período de tempo. Assim sendo, querer forçar um prolongamento da vida sem levar em conta o sofrimento do outro é uma atitude, no mínimo, egoísta. Pois nessas circunstâncias, não devemos pensar o que é melhor para nós, os familiares, e sim o que é melhor para aqueles que estão sofrendo. Assim sendo, nessas horas é imprescindível ouvir e levar em consideração a vontade do paciente. Um caso prático pode nos ajudar a entender. Uma paciente pediu para falar comigo. Quando entrei e me apresentei ela foi logo dizendo: “padre, o senhor precisa me ajudar”. “Em que posso ser útil?”, perguntei a ela. Ela disse: “é o seguinte: eu vou morrer e eu quero morrer na minha casa”. Ao que eu respondi. “E por que não”? “Porque meus familiares não querem e os médicos não deixam”. E continuou: “meus familiares eu consigo convencê-los, mas os médicos, somente o senhor”. “Você já manifestou essa sua vontade para eles”? “Sim padre. Mas eles não me escutam. Se o senhor falar, eu tenho certeza que eles vão levar em consideração”. Sem perder tempo fui conversar com a médica responsável pela paciente e em seguida com os familiares. A médica disse que estava apenas esperando um exame e não via nenhum problema em deixá-la ir para casa. Os filhos, porém se mostravam um tanto quanto resistentes. Um deles me perguntou: “padre, e se ela passar mal e ficar ruim em casa o que a gente faz”? Eu respondi, dizendo: “Se isso acontecer ela vai morrer. Todavia vai morrer onde ela sempre desejou. Ao invés de morrer cercada por máquinas, tubos, e pessoas estranhas ela estará rodeada de pessoas que fizeram parte da vida dela. Além disso, se ela ficar aqui no hospital só irá morrer mais bem informada e certamente mais bem equipada, mas, irá morrer da mesma maneira. Além disso, não podemos esquecer que antigamente as pessoas morriam em casa”. Por isso, quando os familiares me perguntam onde é o melhor lugar para morrer eu costumo responder: em casa. Meu pai morreu em casa rodeado pela família. A família que tantas vezes se reuniu para celebrar as “liturgias” da vida, naquele dia se reuniu para celebrar as “liturgias” do morrer.

Padres e Irmãos Camilianos a Serviço da Vida

CONGRESSO

JUNTE-SE A NÓS, SEJA UM CAMILIANO TAMBÉM! “Estive enfermo e me visitastes” (Mt 25,36)

Serviço de Animação Vocacional Av. São Camilo, 1200 - A Cotia - SP - CEP: 06709-150 Fone: (11) 4702-2212 vocacional@camilianos.org.br / www.camilianos.org.br

Anísio Baldessin é padre da Ordem de São Camilo e presta assistência espiritual no Hospital das Clínicas da FMUSP e no Instituto do Câncer de São Paulo.

Vem aí o XXXIV Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde que deverá ter como tema central: A FÉ DESPERTA A AÇÃO: COMO ENFRENTAR OS OBSTÁCULOS NA PASTORAL DA SAÚDE (Mc 2,3-12). Marque na sua agenda e venha participar conosco. Será nos dias 06 e 07 de Setembro em São Paulo. Maiores informações nos próximos boletins ou na secretaria (11) 3862-7286 com Fernanda.

FIQUE POR DENTRO Você pode obter informações a respeito de congressos, cursos, palestras e materiais para a Pastoral da Saúde acessando nossa página na internet. www.icaps.org.br


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