Cine Foco

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SUMÁRIO

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CAPA: 20

03. Editorial 04. Entrevista Grazi Massafera 05. O homem que mudou o jogo 06. Heleno: Rodrigo Santoro 07. Cenas românticas fora do contexto 08. Cinema X Ditadura 11. Filmes futuristas do passado 14. Filmes e Infância 17. American Pie

18. Festival de Paulínia 20. Capa: Mazzaropi 22. Cinema Brasileiro x Argentino 24. Downloads 26. Jogo do amor 27. Trilhas sonoras 30. Adeus horror! 32. Cinema norte-americano 35. Críticos

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36. Ser artista! 40. Sweeney Todd 42 e 43. Cult 45. Adaptações do cinema 46. Curta metragem 48. Remakes 49. História 50. Billi Pig

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EDITORIAL

A CineFoco! Essa revista online é produto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de cinco estudantes de jornalismo da Universidade de Sorocaba. Cristina Almeida, Debora Carvalho, Fernando Oliveira, Henrique Barbosa e Kleber Oliveira.

Na pesquisa desse trabalho apresentamos algumas revistas digitais que oferecem conteúdo noticioso e jornalístico através das suas revistas on-line. Buscamos avaliar revistas tradicionais que estão há mais de cinco anos no mercado, trabalhando com conteúdo digital. Apesar da parte teórica desse trabalho ter se baseado mais especificamente sobre a cobertura do Oscar 2010 por dois dos veículos de comunicação online da região de Sorocaba (Cruzeiro do Sul e Bom Dia Sorocaba) e um da capital (Estado de São Paulo), no produto optamos por falar do cinema em geral. Assim, a CineFoco é o resultado de nosso trabalho. Uma revista on-line voltada para o desenvolvimento de conteúdo sobre o mundo cinematográfico. Assim que decidimos por isso, a primeira questão foi: Qual será o nome de nossa revista? Muitos nomes foram citados como “O lanterninha virtual”, “Projetor online” entre outros. Por fim, nos surgiu a ideia do nome CineFoco, que junta nossos dois objetivos: Falar de CINEma, com o FOCO no jornalismo, também por conta disso, nosso endereço termina com “.jor.br”. Já a segunda questão foi: “Que temas abordaremos nas matérias de lançamento da CineFoco? Uma das soluções escolhida foi divulgar os objetivos do nosso trabalho no Facebook, e fazer a seguinte pergunta: “ O que você gostaria de ler em uma revista online de cinema?”. A partir desse momento dezenas de sugestões foram aparecendo, e em menos de dois dias, o post teve mais de 100 comentários.

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Elegemos algumas das ideias e para a estreia da CineFoco, escrevemos as matérias sugeridas. A partir dessa ideia, abrimos um espaço também na CineFoco para os leitores deixarem sua sugestões. Assim dividimos a revista nas categorias: Página Inicial, Quem somos, Cinema Regional, Cinema Nacional, Premiações, Críticas, Editorial, Colunistas, Contato e Espaço do Leitor. Dentro dessas categorias divulgaremos notícias a respeito do mundo cinematográfico em geral, além de fornecer um clipping sobre cinema no Brasil e do mundo, informações de contato e versão em PDF. O plano agora é produzir as matérias das sugestões restantes e das que ainda vierem pela frente.

Uma boa leitura. Equipe CineFoco cinefoco Maio 2012

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ENTREVISTA

Henrique Rios

Grazi Massafera fala sobre seu primeiro filme A

atriz Grazi Massafera muito conhecida por sua participação na edição cinco do Big Brother Brasil e também em novelas como Páginas da Vida e Aquele Beijo falou sobre seu primeiro filme, Billi Pig. Em Billi Pig Grazi vive o papel de

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uma aspirante a atriz ao lado do premiado ator Selton Mello. Para a atriz sua estreia no cinema é um grande passo na carreira e conta que a expectativa é grande. “Não tem como não ter expectativas. Foi um ano de muito traba-

lho e dedicação e só quero alegrias para o filme. Sei que o público vai curtir muito esse longa”. Grazi conta que já havia sido convidada pelo diretor José Eduardo Bemonte para fazer outro filme, porém ainda não se sentia preparada, já quando o diretor convidou pela segunda vez não teve como recusar. “O Zé um dia me ligou e me fez o convite para participar do filme “Se nada mais der certo”. Achei que não era o momento. Por ironia do destino, o Cauã Reymond acabou participando do filme e fiquei conhecendo o modo como o Zé trabalha. Um dia ele disse: “Ainda vamos fazer um filme juntos”. E quando ele me convidou para fazer o “Billi Pig” eu aceitei na hora, conta”. Grazi conta que o desafio de gravar um filme pela primeira vez foi difícil porém muito gratificante. “O desafio acabou sendo também a minha maior alegria, que era atuar com aquele grupo. O nível de “jogo” deles é muito alto, então, fazer parte daquele grupo era um desafio, mas depois eu me senti integrada, fazendo parte da equipe e ficou tudo bem. Foi uma alegria, comenta Grazi”. Para o ator Selton Mello dividir o set de filmagens com Grazzi foi ótimo. “Ela é uma pessoa querida e com muita vontade de aprender, de crescer. Grazi vai surpreender nesse trabalho e ainda vai fazer uma bela trajetóCF ria como atriz”, finaliza Selton.


CRÍTICA

Henrique Rios

O homem que mudou o jogo

O novo longa de Brad Pitt é um filme difícil e inteligente que mostra ao espectador os bastidores do baseball O esporte pode ser considerado algo fantátisco independente da sua modalidade. Treino, habilidade, talento são pontos importantes para o sucesso de uma equipe. Porém, tudo isso atrelado há uma boa estratégia pode se tornar ainda melhor. O longa ‘Moneyball’, adaptado do livro de Michael Lewis (‘Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game’) fala muito bem disso. O filme conta a história de um gerente de um time de baseball que ao lado de um jovem economista cria uma metodologia baseada em um programa de estatísticas. Através do programa ele consegue dados com resultados dos jogadores combinadas a desvalorização dos mesmos. Com esses dados ele re-

monta o time com jogadores baratos. Mas o problema que os frutos positivos dessa nova metodologia demoram a acontecer. Brad Pitt vive o gerente Billy Beane que ao lado do economista vivido por Jonah Hill tentam inovar dentro do mercado desse famoso esporte americano. A construção de Pitt para seu personagem é um dos pontos altos da produção que é dirigida por Benneth Miller (Capote). O roteiro ficou a cargo competente Aaron Sorkin (A Rede Social) e de Steven Zaillian (‘A Lista de Schindler’). Moneyball embora bem dirigido e roteirizado para alguns brasileiros será um filme de difícil compreensão. Muitos dados se perdem no meio de tantas informações do

programa criado por Billy Beane. Um dos méritos da direção de MoneyBall é a recriação da atmosfera dos bastidores do Baseball. As crises, conflitos e os dilemas vividos por Billy são bem retratos e um dos momentos que temos essa sensação é quando um jogador é vendido para outro time e o anuncio é feito dentro do vestiário. Para nós espectadores a dispensa fique engasgada dando mais veracidade ao acontecimento. Moneyball não é uma produção que agradará a todos, mas é filme que consegue trazer ao publico conteúdo e informação.. Apreciando o esporte ou não Moneyball é um bom filme de se ver. Não é um filme popular muito menos a melhor atuação de Brad Pitt, mas é um filme que vale pena assistir, pelo bom roteiro, pela boa história e principalmente pelo gaCF nho de conhecimento. cinefoco Maio 2012

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CRÍTICA

Henrique Rios

Gol de Placa Com grande atuação de Rodrigo Santoro o longa “Heleno” se destaca como um dos grandes filmes nacionais de 2012

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m jogador polêmico, um craque que movimentou o futebol carioca entre a década de 40 e 50. Para muitos um nome desconhecido é assim que surge Heleno de Freitas nas telas no mais novo filme do diretor José Henrique Fonseca. A história do jogador Heleno de Freitas parece ter sido desenhada para o cinema. Tudo na vida desse jogador é intenso e essa intensidade tem cara de filme. Craque do Botafogo, advogado de formação, rico, viciado em cigarro e éter, vaidoso e mulherengo o jogador era dono de um temperamento explosivo e peculiar. Heleno é um filme com elementos fundamentais, fotografia impecável, cenários bem escolhidos, boas atuações e uma trilha sonora de mexer com quem assiste. A escolha de ser rodado em preto e branco é tão acertada quanto dois mais dois é quatro. O cuidado com o cenário é outro destaque, os carros, as roupas os bares e as casas fazem o espectador viver a década passada. 6

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O ponto auto do filme é a atuação de Rodrigo Santoro, que consegue dar vida ao personagem de forma visceral e impactante, ele encarna o jogador de uma forma que muitas vezes o espectador se assusta com tanta verdade. O outro ponto a destacar é que o filme consegue trazer uma linguagem brasileira mesmo tendo ares de hollywoodiano. A direção precisa de José Henrique Fonseca

colabora para isso. O cinema nacional tem vivido bons momentos e isso é resultado de iniciativas e tentativas diferentes de diretores que não estão preocupados com bilheteria, mas em fazer cinema com qualidade e filmes que tenham começo, meio e fim. Heleno merece destaque no cenário nacional e internacional com chances de ser o melhor filme CF brasileiro do ano.


ROTEIRO

Cristina Almeida

Cenas românticas fora de contexto –

Necessidade do público ou insistência (clichê) dos roteiristas?

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m um mundo apocalíptico, alguns sobreviventes lutam pela vida no Deserto de Nevada. Carlos, o herói da cena, dirige um caminhão de diesel para uma área repleta de zumbis, onde irá morrer como mártir, para salvar a todos. Mas antes, ele precisa realizar uma última e romântica façanha: Dramaticamente, toma Alice nos braços e beija-a pela primeira, e última vez...”. Situações assim são bastante comuns em filmes. A cena, que você acabou de ler, trata-se de uma interpretação de Oded Flev e Milla Jovovich em Residente Evil 3 - A extinção (2007), de Russell Mulcahy. Parece mania da indústria cinematográfica, que todo longa, não importa o gênero, não importa o contexto, seja necessário haver uma cena de romantismo raso e clichê. Seria esta uma necessidade do público, ou uma insistência já esperada, dos roteiristas? Para o Diretor de Cinema e Teatro e Produtor de Audiovisual Marcelo Domingues, a resposta está no perfil do público. “Os produtores da indústria cinematográfica se identificam com um perfil de espectador: aquele que parece ser a maioria, e dá mais lucro. Assombrosamente é o público mais jovem quem consome esse cinema. como se a visão cultural mais apurada só viesse com a maturidade. mas claro há exceções”, declara. A professora de idiomas, Mônica de Góes, concorda que tal tipo de estereótipo, é preferido pelo público de espectadores mais jovem. “Todo filme tem que ter o clichê de

que todo mocinho é o cara bom e pegador e uma mocinha perfeita que se apaixona por ele. Para os mais jovens, é o auge do filme, para pessoas mais velhas, é dispensável, porque tira a atenção do tema principal”, explica. Nem mesmo as animações escapam desse estereótipo. Quando é um desenho sobre a Barbie, ou uma princesa da Disney, o romancezinho é até esperado. Mas em contextos como “A era do Gelo”, animação de 2002, dirigida por Carlos Saldanha e Chris Wedge, os roteiristas não conseguiram lançar o segundo filme apenas com os personagens (animais) machos) do primeiro e acharam necessário adicionar um mamute fêmea para fazer par romântico com o mamute Manny. Como não bastasse, no terceiro filme, surgiu um par romântico até para o esquilo Scrat, o que mudou totalmente a personalidade do pequeno e cômico, perseguidor da noz. Exemplo mais significativo, é do longa Madagascar, de Eric Darnell e Tom McGrath - 2005. O primeiro filme mostra as aventuras entre os animais de um zoológico. Até

então, são apenas amigos, já no segundo filme, a produção tem a espalhafatosa ideia de criar um romance entre o hipopótamo fêmea (Glória) e a girafa macho (Melman). O filósofo Horácio Vieira, diz que sente falta da cena do beijo no final, quando é um filme da indústria comercial. “Porque onde a indústria atua, estabelecem-se padrões, fórmulas- clichês que se vestem de filmes, sendo assim, o que está previsto pelo estilo do filme não acontece, até estranhamos, fica a sensação de estar faltando algo”, explica. Já Mônica reafirma sua posição de que esse tipo de cena é desnecessária. “Não entendo porque eles insistem em incluir pitadas desnecessárias de romancezinho, ou até erotismo, em filmes de ação, terror, suspense. Se o filme for bom, dentro do seu gênero, não precisa disso”, diz. Assim, respondendo a pergunta do título, mesmo que tal tipo de cena seja enjoativa, para alguns expectadores, ainda é esperada por muitos outros. A indústria cinematográfica se adapta ao seu público. Se esse tipo de clichê persiste nos CF filmes, é porque ainda vende. cinefoco Maio 2012

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NACIONAL

Débora Carvalho

Cinema x Ditadura

Saiba os motivos que levaram alguns filmes a serem vetados durante o regime militar

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maginem a cena. Uma sala de cinema cheia, apenas esperando a reprodução do longa-metragem. As luzes se apagam, o projetor começa a reproduzir uma imagem na tela branca, que toma aos poucos forma e cor. Os espectadores estão ansiosos para ver a história. De repente as luzes se acendem, o projetor é desligado e o lugar, invadido por policiais munidos de cassetetes. É declarado o fim da sessão, por violação de uma das regras emitidas pelos órgãos censores responsáveis. A alegação é que a fita no aparelho, não corresponde com a que foi entregue para os censores. Isto acontecia muito no período conhecido por “ditadura militar” e que durou dos anos 60 até o inicio dos anos 80. Entre os quase 1000 filmes, apresentados no site MemóriaCineBr, como vetados pela censura, destacaremos seis deles, apresentando os motivos pelos quais eles passaram pela tesoura da censura. Primeiro, uma produção que causou grande polêmica na época

em que foi feita, “Prá frente Brasil”, protagonizado pelo ator Reginaldo Faria, o qual conta a história de um homem que acaba sendo confundido com um “reacionário” (palavra utilizada para classificar aqueles que eram contra o regime militar), simplesmente pelo fato, de que pega o mesmo táxi que outra pessoa nesta situação, que está sendo procurado pela policia. Com base nisso, o filme narra todo tipo de tortura e atrocidade feita com as pessoas capturadas pelo regime e vistas como “agitadores”. Não foi explicado exatamente o motivo pelo qual o filme foi vetado de ser exibido na televisão e só ter sido permitido à exibição no cinema para maiores de 18 anos, apesar de que o próprio enredo já responde a pergunta. Era uma película que atacava diretamente a postura militar, expondo as crueldades feitas por eles. E por isso foi proibido, sem mais explicações ou mesmo apresentação de lista de possíveis cortes, para que o filme ainda assim pudesse ser reproduzido.

Entenda um pouco o contexto histórico Para a professora de História Rafaella Souza, tal atitude era parte da postura do regime da época. Segundo ela, a ditadura teve inicio em março de 1964, no golpe militar com o então presidente João Goulart, sob a alegação de que o mes-

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mo tinha ligações com socialistas. Rafaella explica que este foi o “chute inicial” para um dos períodos mais negros da história do Brasil. “Assim que os militares tomaram o poder eles começaram a lançar Atos Institucionais, que basicamente eram

Outra curiosidade de “prá frente Brasil”, também extraída da documentação oferecida pelo site MemóriaCineBr, durante a exibição do filme, foi pedido um numero de viaturas para que ficassem na frente dos cinemas, fiscalizando as pessoas que iam assistir ao longa-metragem. Qualquer menor de idade que tentasse se aproximar no cinema seria autuado e preso. Outro grande alvo dos cortes da censura eram os filmes baseados nos textos do escritor Nelson Rodrigues. Seus trabalhos, recheados de perversão, crueldade e uma visão crua de mundo, costumavam ser uma verdadeira “pedra no sapato” dos militares. No filme “toda nudez será castigada”, protagonizado por Paulo Porto e Marlene Glória, que apresentava a típica tragédia fluminense, tão debatida nos textos de Rodrigues, vemos a história de um homem que se casa novamente e cujo filho detesta a madrasta e para se vingar, decide seduzi-la. Este é o mote inicial da história, que passou por cor-

leis que entravam em vigor imediatamente sem qualquer anuência do Congresso, que perdeu poder completamente.” Explica a professora. O Ato Institucional mais marcante e que influenciou diretamente nas artes, foi o AI-5. Segundo Rafaella, este foi o mais severo de todos, pois além de dar poderes ilimitados ao


tes violentos para poder ser reproduzido nas telonas e ainda assim, foi vetado de ir para a televisão aberta. Entre os cortes impostos pelos militares, estavam citações e expressões chulas, além de uma passagem interessante, em que, originalmente, mostrava uma delegacia como um “antro de depravação e irresponsabilidade” (palavras extraídas do documento de veto). Aqui fica claro a idéia de Nelson Rodrigues de como irritar a ditadura. O filme, inclusive entrou para a lista negra, dos que estavam proibidos de serem exportados. Ainda falando do autor controverso, temos outra película que também foi retalhada pelas tesouras da censura. O filme “Bonitinha, mas ordinária ou Otto Lara Rezende”, que conta a história de uma família praticamente normal, exceto por uma série de pequenos segredos sujos que o pai, oculta. E há um fato muito curioso em relação ao veto deste filme, originalmente, ele havia passado na inspeção, mas pelo fato de que, ao entregarem o rolo de

filme para os censores, os responsáveis pela produção, deram uma versão incompleta, que terminava de forma desconexa. Em resposta a isso, ocorreu uma reclamação da comissão censora: “o exame censório referente ao filme em questão

está prejudicado por que a cópia apresentada não contêm as cenas/ situações ditas na sinopse.” Ainda assim, pelo pouco que eles viram do filme, taxaram o mesmo

como impróprio para menores de 18 anos e ameaçaram, que, se o ultimo rolo não fosse apresentado, o filme não seria liberado para exibição. Mas o filme ganhador de vetos e cortes foi “Macunaíma”. A história adaptada a partir do livro homônimo de Mario de Andrade e produzida no ano de 1969, conta a história do índio Macunaíma, que já nasceu adulto e é interpretado por Grande Otelo, recebeu 13 cortes, a sua maioria cenas de nudez parcial e insinuações de cunho sexual. Detalhes que nos dias de hoje passam despercebidos por nós, enquanto vemos algum filme, foram duramente extraídos da película em nome, segundo eles “da moral e bons costumes” E como se isso não fosse o suficiente, o pedido para exibir o filme na televisão foi vetado, mesmo após terem sido feito os devidos cortes exigidos. Pode-se deduzir que tal proibição tem diretamente a ver com o fato de o “herói” ser um personagem preguiçoso e boa vida, que

presidente também foi o responsável por estabelecer a censura prévia de qual quer material considerado inadequado para exibição publica, (incluindo os filmes, entre outras formas de expressão artística). Quanto a postura dos censores em relação aos materiais, ela explica que os mesmos tinham uma

postura bastante restrita e fechada. “Os censores viam tudo em matéria de cultura que era produzido no país e permitiam ou proibiam a veiculação. Eles simplesmente cortavam as coisas ou mandavam que fossem modificadas.” A docente explica que as práticas tomadas pelos que determinavam

quais filmes poderiam ser considerados “reproduzíveis” era tão rígida a ponto de que quase nada era considerado aprovado para exibição. “Os filmes tinham os fotogramas cortados, ou seja, o que não estivesse de acordo com as ideias do regime era retirado. Então o filme era editado, mesmo que ficasse sem nexo.”

Outros 14 filmes vetados pela censura 1. Memórias do cárcere 2. Dona Flor e seus dois maridos 3. Gabriela, cravo e canela 4. Os 07 gatinhos 5. Deus e o diabo na terra do sol 6. O homem nu 7. O homem de Itu 8. A falecida 9. O bandido da luz vermelha 10. Deus e o diabo na terra do sol 11. Terra em transe 12. Como era gostoso o meu francês 13. Quincas Borba 14. Os garotos virgens de Ipanema

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visa apenas tirar vantagem das coisas e aproveitar os prazeres físicos. Além do fato de que o personagem afronta diretamente a figura dos policiais durante o filme. Tal atitude era totalmente repreendida e mal vista. Outra figura muito combatida pelos órgãos censores foi o diretor Cacá Diegues, responsável, por entre outros títulos, o filme “Bye Bye Brazil”, que conta a história de um grupo de artistas mambembes que rodam o Brasil, apresentando um show para as pessoas que não tem televisão. Entre os principais cortes estão palavrões, cenas de nudez (parcial ou total) e insinuações de relações sexuais. Ao analisarmos o documento de cortes, é possível notar que ao retirarem as cenas marcadas, o filme perde boa parte de sua fluidez e compreensão, deixando-o oco, seco e sem profundidade. Pois eles não visavam retirar apenas a cena “controversa”, mas sim toda a tomada, para não correr “riscos” de que o publico conseguisse compreender algo do que estava acontecendo ali. E necessário ressaltar que todos os diretores deste período tentavam, mesmo que sutilmente, mandar mensagens subliminares para os espectadores sobre sua visão contra a imposição militar. Para finalizar nossa, o segundo filme com o maior número de vetos foi “Navalha na Carne”, contabilizando um total de quatro substituições. Todas relacionadas 10 Maio 2012 cinefoco

diretamente à interação de dois personagens específicos. A história gira em torno de Norma Suely, uma prostituta apaixonada secretamente pelo seu cafetão, Vado. O qual só está interessado no dinheiro que a moça pode lhe oferecer. Juntamente a isso, acontece o fato de Vado ir buscar seu “pagamento” com a mulher, e ela alegar que o mesmo havia sido roubado por Veludo, seu vizinho de quarto e homossexual. Os três então se trancam em um dos aposentos e começa uma disputa aberta por afeto, poder e dinheiro de forma cruel e quase desumana. Os cortes feitos foram na sua maioria, relacionados às cenas em que os personagens de Veludo e Vado interagiam fisicamente. É de conhecimento geral a visão abominante que os militares tinham e até hoje tem sobre a homossexualidade, mas novamente, tais pretextos foram apenas para retalhar a película e torná-la algo incompreensível para os que a assistiriam. Em nenhum momento eles visavam preservar os expectadores e sim apenas omitir idéias que poderiam instigar algum tipo de revolta contra o regime. Para ver os materiais relacionados a cada um dos filmes censurados pela ditadura, uma opção é visitar o site http://www.memoriacinebr. com.br, eles oferecem uma vasta coleção de documentos digitalizados, para leitura do publico. Não fique sem saber, informação sempre foi um diferencial significativo. CF


FILMES

Cristina Almeida

Filmes futuristas do passado Algumas ingênuas, outras pertinentes... Assim são as visões de futuro dos filmes antigos

É

interessante observar a visão relatada nos filmes futuristas produzidos há alguns anos atrás. Muitos deles mostram a realidade atual muito diferente do que ela realmente é, porém outros conseguiam ter uma visão mais clara do progresso da sociedade. Um dos exemplos mais antigos é “Metrópolis” (Metrópoles) de 1927. Dirigido por Fritz Lang. O longa alemão, baseado no romance de Thea Von Harbouse, se passa no ano de 2026 em uma cidade fictícia que leva o nome do filme. Metrópolis é governada por um poderoso empresário. Seus colaboradores formam uma classe privilegiada que vive de todos os prazeres fornecidos por esse futuro. Já a classe inferior é constituída pelos ope-

“Essas produções são criadas em determinados contextos sociais, econômicos, políticos e culturais. rários, que são escravizados pelas máquinas e condenados a viver e trabalhar em galerias no subsolo de modo a sustentar a classe superior. O filme retrata uma analogia que se encaixa perfeitamente no que Karl Marx chamou de “luta de classes”, onde a sociedade é dividida entre proprietários (burguesia) e trabalhadores (proletariado), ou seja, possuidores dos meios de produção e possuidores unicamente de sua força de trabalho. Realidade não tão distante da nossa, onde uma classe sustenta a outra. Uma pirâmide social em que os trabalhadores formam o alicerce e os políticos, empresários e religiões, o topo.

Outro exemplo de quase 50 anos depois é “2001: A Space Odyssey” (2001: Uma Odisseia no Espaço) de 1968. Como o nome já diz, o filme de Stanley Kubrick se passa em 2001, ano pelo qual já passamos, mas mesmo assim retrata uma realidade a qual ainda não existe em nossa época. Como, por exemplo, uma máquina computadorizada capaz de pensar, criar planos e atentar contra o ser humano para evitar ser desligada. É o caso da personagem HAL 900, um computador com inteligência artificial instalado a bordo da nave espacial Discovery e responsável por todo seu funcionamento. HAL aprecia arte, expressa emoções, joga xadrez e afirma, ela própria, ser “infalível”. Após demonstrar problemas em seu funcionamento, a máquina consegue ler os lábios de seus tripulantes, que escondidos dela planejam desligá-la. Ao saber disso HAL corta o suprimento de oxigênio da tripulação, impede que um dos astronautas, que está do lado de fora entre, e inclusive demonstra medo ao perceber que está sendo derrotada. Cena parecida acontece no longa animado de Andrew Stanton, WALL•E de 2008. Na animação, a Terra não tem mais condições de abrigar a vida humana, por isso todos vivem em uma nave estelar automatizada controlada por um capitão e um dispositivo chamado “Auto”. Quando os humanos recebem notícias de que Terra voltou a ter condições de abrigar a vida e o capitão direciona a nave para voltar para o planeta, “Auto” cria um motim e controlando todas as outras máquinas da nave tenta impedir cinefoco Maio 2012 11


FILMES FUTURISTAS

o regresso a Terra. Entretanto diferente de “A Space Odyssey”, “WALL-E” adianta um pouco mais sua ‘visão de futuro’ e coloca essa realidade apenas no ano de 2805. Outro clássico ‘filme futurista do passado’ é “A Clockwork Orange” (Laranja Mecânica) de 1971. Dirigido por Stanley Kubrick e adaptado do romance escrito por Anthony Burgess. O filme se passa em um futuro indeterminado e reflete a situação daquele período, como a decadência moral, o desemprego em massa e os diferentes enfoques políticos dados ao crime cometido. O resultado dessa distopia futurista, são pessoas como o protagonista Alex DeLarge. Ele é líder de uma gang de arruaceiros, apreciador da música clássica e também um estuprador bastante violento. Capturado durante um assalto, DeLarge é sentenciado a 14 anos de prisão e após ter cumprido dois é submetido a uma terapia experimental chamada de “Tratamento Ludovico”. O método desenvolvido pelo governo, como estratégia para deter o crime na sociedade, consiste em expor o detento a repetidas imagens violentas enquanto está sob efeito de drogas. O objetivo é de que ao ver imagens de estupro e tortura, o paciente se torne incapaz de tentar fazer o mesmo ou sequer testemunhar tais atos de violência. Realidade não muito distante da nossa, onde já existem métodos parecidos como a ‘castração química’, tratamentos psicológicos e pílulas de placebo que tem por finalidade usar de formas psíquicas e químicas para coibir o crime. Avançando um pouco temos “Blade Runner” (Blade Runner – O Caçador de Androides) de 1989. Um bom exemplo de visão ‘ingênua’ de futuro. Dirigido por Ridley Scott e estrelado por Harrison Ford, o filme se passa numa Los 12 Maio 2012 cinefoco

Angeles de 2019 (daqui apenas sete anos). Nessa realidade, robôs com a aparência idêntica a humana circulam entre as pessoas. Os “Replicantes”, como são chamados, são máquinas produzidas por uma poderosa corporação chamada Tyrell. Após seu uso ser banido da Terra, eles passam a ser usados apenas em trabalhos ilegais, perigosos e escravos em colônias Extra Terrestres. Os Replicantes que desafiam essa regra e retornam a trabalhar entre humanos, são caçados por um grupo conhecido como “Caçadores de Andróides”. Assim o enredo se foca em um grupo de Replicantes que resiste ao banimento e em um integrante aposentado do grupo “Caçadores de Androids” que decide perseguí-los em busca de uma ultima aventura. Realidade bem distante da nossa. “Blade Runner” foi fracasso de bilheteria, mas mais tarde se tornou um ícone do cinema ‘cult’. Em 1993, o longa foi selecionado para preservação no National Film Registry da Biblioteca do Congresso como sendo significativamente histórico e cultural. Claro que para fechar essa lista de clássicos do ‘cinema futurista antigo’, não podíamos deixar de citar a trilogia “Back to the Future” (De volta para o futuro) de 1989, dirigido por Robert Zemeckis. A história do longa começa quando o Dr. Emmett Brown cria, a partir de um DeLorean (carro esportivo da época), uma máquina do tempo e, acidentalmente, um adolescente volta para o ano de 1955. No passado, Marty McFly, como é chamado, conhece seus pais ainda jovens e sua mãe se apaixona por ele. Assim começa a sua jornada em tentar fazer com que sua mãe se aproxime de seu pai para que nada seja alterado, além de encontrar a versão jovem do Dr. Brown nessa realidade que possa ajudá-lo a voltar para o futuro, 1985. Mas as noções exageradas de futuro começam mesmo a partir do segundo filme da série “Back to the Future” que mostra


um fantástico mundo dos anos 2015. Totalmente diferente do que hoje, com nossa atual visão de 2012, poderíamos esperar. O ano de 2015 exibido no filme mostra carros e outros veículos voadores, roupas automáticas que se ajustam no corpo, apresentações holográficas no meio da praça, além de garçons holográficos que alternam suas imagens para diferentes celebridades. Esse segundo longa da trilogia narra a viagem de Dr. Brown e McFly ao ano de 2015 para resolver um problema que McFly virá a ter com seu filho. Nessa etapa da série Dr. Brown está voltando de lá e por isso introduziu ao DeLorean um dispositivo que o permite voar, para que possa se adaptar a realidade de 2015. Finalmente o ultimo filme da trilogia “Back to the Future III” é lançado apenas seis meses depois do anterior. A história narrada nessa etapa foge totalmente ao contexto de enumerar as peripécias dos filmes futuristas antigos, pois após ter sido atingido por um raio o DeLorean sofre um curto circuito e é mandado diretamente para o ano de 1885, época do velho oeste onde MacFly e Dr. Brown precisam bolar uma estratégia para ‘voltar para o futuro’ uma terceira vez. Em sua tese de doutorado “O erótica em Senhora do Destino: recepção de telenovela em Vila Pouca do Campo”, a antropóloga, Josefina Tranquilin, explica que segundo (MORIN, E. Cultura de massas no século XX: o espírito do tempo. Neurose – 1987) a cultura de massa foi construindo ao longo do tempo um imaginário próprio. “Analisando os filmes de ficção sobre essa ótica, é possível dizer que há sempre uma projeção dos receptores quando assistem a este gênero, pois faz parte do imaginário humano desvendar os mistérios do futuro para aliviar a eterna contradição que vivemos: morreremos, somos finitos. Projetando-nos em filmes futurísticos, imaginaria-

mente podemos supor que seremos seres eternos, pois descobrimos o futuro”, diz. Provavelmente, daqui a alguns anos, os cinéfilos do futuro também analisarão a visão futurista dos filmes atuais. Por exemplo, será quem em 2030 o homem estará construindo câmaras subterrâneas para morada na lua, como descreve o filme “A máquina do tempo”, de 2002? No longa, dirigido por Simon Wells, o protagonista chega ainda ao ano de oitocentos e dois mil setecentos e um. Nessa realidade, milhares de anos após uma explosão na lua, ocasionadas pelas construções das “colônias lunares”, a raça humana foi divida em duas espécies que evoluíram de formas diferentes: os Eloi, pessoas de pele morena que tem um estilo de vida indígena vivendo em cabanas de bambu construídas nas paredes rochosas do entorno de um rio. E os Morlock, seres monstruosos que passaram a viver no subsolo e se alimentam dos Eloi. Mesmo nesse mundo do futuro, onde a tecnologia regrediu e as formas de vida são totalmente diferentes, os Eloi ainda preservam um espaço com várias placas do passado. Entre anúncios de cafeterias, nomes de cidades e um letreiro da Tiffany’s Joalheria, se lê a seguinte frase: “Uma geração se foi e outra virá, mas a terra durará para sempre”, Eclesiástico 1:4. Afirmação que, como nos filmes, pode ser apenas a visão da época em que foi escrita. A antropóloga Josefina Tranquilin afirma que a explicação a respeito da noção de futuro de cada um dos filmes citados, pode estar realmente ligada ao contexto temporal em que cada um foi produzido. “Essas produções são criadas em determinados contextos sociais, econômicos, políticos e culturais. Dessa forma, vemos que os filmes buscam uma relação com real de sua época e vão articulando o CF futuro imaginariamente”, declara. cinefoco Maio 2012 13


FILMES

Débora Carvalho

Quais filmes marcaram sua infância/ adolescência nos anos 80 e 90?

N

ão existe nada melhor do que se sentar na frente da tevê para assistir a um filme, especialmente se o longa-metragem em questão for um daqueles antigos, que marcaram sua infância/adolescência. A pergunta que intitula a matéria foi feita a 16 cinéfilos, em uma pesquisa feita durante o período de 03 a 10 de Abril de 2012, através da rede social “Facebook”, e as respostas obtidas foram bastante diversificadas. Enquanto que para uns as novas tecnologias 14 Maio 2012 cinefoco

trazem um avanço na produção cinematográfica, outros afirmam ferrenhamente que as produções desta época, jamais poderão ser superadas. Quando o assunto é comédia adolescente clássica, Roberta Cozer Bacca e Eduardo Souza são unânimes em sua resposta. O filme que representa esta categoria é para eles “Curtindo a vida adoidado”. O longa, protagonizado por Matthew Broderick e que narra a aventura de três adolescente ao matarem aula

se tornou um ícone dos anos 80 por sua inovação e leveza na narrativa. Para Eduardo, foi “amor a primeira vista”. “Eu fiquei hipnotizado pela cara-de-pau, pela coragem do Ferris Bueller, não tem como não se apaixonar. Mas à medida que fui assistindo ao filme outras vezes, fui prestando atenção nos diálogos/ monólogos mais dramáticos. Concluí então que o filme é todo muito saudosista, que a sua mensagem é “aproveite ao máximo o tempo que


você ainda tem”, e isso fica cada vez mais nítido a cada vez que o assisto,” E ele ainda complementa. “Eu gostaria que meus filhos assistissem a um filme como esse,” Roberta conta que a sua cena preferida é quando Ferris interpreta Twist and Shout na parada de São Patrício, dançando em um dos carros alegóricos. “rendia brincadeiras quando imitávamos a cena da música Twist and show,” Falando agora da área Sci-Fi (ou Ficção Cientifica, se preferirem), temos clássicos representantes neste período, que englobam desde extraterrestres que desejam ligar para casa até um garoto que viaja em um carro através do tempo, ainda passando por dinossauros e é claro, Matrix (produzido em 1999, por isso, ainda englobado na década de 90). Para Daniela Follador, dentro desta categoria, o filme que mais marcou sua infância foi “Jurassic Park”, a franquia dirigida por Steven Spielberg “foi um marco”, explica ela, frisando que desde muito pequena sempre adorou dinossauros. “Eu era daquelas crianças fascinadas por dinossauros, que queria ser paleontóloga, que sonhava em achar um fóssil e que morreria por eles se já não estivessem mortos. O filme foi à realização de todos os meus sonhos e com ele vieram tantos merchandisings maravilhosos e as notícias e matérias nos jornais encheram meus cadernos de recortes”. Conta Daniela e ainda complementa. “Eu nunca tinha visto efeitos tão lindos no cinema, a premissa tão interessante... eu sabia quase todas as teorias sobre os dinos que apresentaram no filme e me senti uma

garota muito inteligente”. Já na opinião de Débora Mille, Erika Bolanho e Eduardo, os mais impactantes foram os que trataram do tema “futurista” em si, como por exemplo, os filmes “De Volta para o Futuro” e “Matrix”. “De volta para o Futuro” me prendia pela narrativa, pela angústia do Martin McFly, por ter uma história muito redondinha (foi por isso que não gostei tanto do 2º e do 3º)... Eu gostava também do orgulho que o Martin sentia de si próprio (ele partia pra briga quando o chamavam de “covarde”) mesmo sem sentir orgulho da sua família,” relembra Eduardo. Débora Mille explica que todos os filmes com a temática de ficção cientifica e fantasia tem um lugar especial em seu coração, especialmente pelo fato de que “além de fazerem parte de minha infância mostravam mundos imaginários, que seriam possíveis ou não. Sempre gostei de filmes com temas assim, que estimularam minha imaginação e me deram motivos com que sonhar,” Erika vai além e faz uma analise de como se vê o cinema atualmente, classificando as produções em “A.M e D.M (Antes e Depois de Matrix). Acho que Matrix foi o filme que atingiu diversos públicos, teve efeitos maravilhosos e uma história que deixou muitas pessoas comentando em jornais, programas de TV e na internet, durante muito tempo, sendo que até hoje identificamos as sátiras que usam com o filme Matrix e a tentativa de usar os mesmo efeitos, sem que eles sejam ligados ao filme. Hoje existe o cinema 3D que trouxe grandes nomes, como Avatar. A partir as pessoas

Aqui estão outros 50 filmes citados na entrevista, mas que não entraram na matéria. No entanto ficam como sugestões para os leitores assistirem (nem todos eles foram produzidos nos anos 80 e 90, mas muitos foram exibidos neste período): 1. Três formas de Amar 2. Quase igual aos outros 3. Alladin (Disney) 4. O homem-elefante 5. Free Willy 6. Stargate 7. Série “Cosmos” 8. Jumanji 9.Meu primeiro amor 10. Eu sei o que vocês fizeram no verão passado. 11. Pânico 12. Titanic 13. O sexto sentido 14. A Espera de um milagre 15. Em busca do Vale Encantado 16. Entrevista com o Vampiro 17. A Cura 18. Anjos Rebeldes 19. Conta Comigo 20. Indiana Jones e a Última Cruzada 21. O Carteiro e o Poeta 22. Ou Tudo ou Nada 23. A Vida é Bela 24. Central do Brasil 25. Terra Estrangeira 26. Arquivo X 27. O Casamento do Meu Melhor Amigo 28. Coração de Dragão 29. História sem Fim 30. E A vida continua 31. E.T. O extra-terrestre 32. A fantástica fabrica de chocolate 33. O mágico de Oz 34. Amigos para sempre 35. A noviça rebelde 36. Trilogia indiana Jones 37. Flashdance 38. Grease 39. Caça fantasmas 40. Triologia Star wars 41. Tudo por uma esmeralda 42. Porkys 43. Os Goonies 44. A lagoa azul 45. ...E o vento Levou 46. Romeo e Julieta 47. Jack 48. O óleo de Lorenzo 49. Willow na terra da magia 50. Elvira, a rainha das trevas

cinefoco Maio 2012 15


FILMES E INFÂNCIA

passaram a classificar o cinema em antes e depois do 3D – Avatar,” Agora quando o assunto é fantasia e magia, existe nestas duas décadas uma gama infindável de produções maravilhosas para serem relembradas e sugeridas. Desde bruxos cruéis, demônios milenares, unicórnios, feitiços que transformam pessoas em animais, englobando todo tipo de enredo medieval. Para Valéria Fernandes Da Silva e Camila Fernanda da Silva, “Labirinto – a magia do tempo”, dirigido por ninguém menos que George Luca (famoso pela franquia Star Wars) e protagonizado por David Bowie e Jennifer Connelly, é um dos principais títulos lembrados, quando se fala no gênero fantástico. “Minha fissura com o filme foi tanta que toda semana eu e minha irmã passávamos na locadora e o alugávamos pra ver continuamente no final de semana. Chegávamos a assistir umas quatro ou cinco vezes por dia. Tanto que o dono da locadora depois de alguns anos acabou dando a fita de presente pra gente!” relembra Camila. “A emoção da tela grande, foi o que me marcou, amo cinema, amo o lugar, a experiência coletiva e tudo mais. Meu segundo filme foi Labirinto, A Magia do Tempo. Filme diverti-

do, mas que ao ser revisto impressiona muito pouco,” explica Valéria. Ainda falando de filmes com a temática “mágica”, podemos citar o que é considerado por muitos cinéfilos uma pérola esquecida, “A Lenda”, protagonizado por Tom Cruise em começo de carreira, foi para Elisabete Costa, o responsável por apurar seu gosto no tema “medieval”. “Filmes que marcaram minha infância e adolescência foram o “Feitiço de Àquila” e “A Lenda”. Acho que foi a partir desses filmes que a temática épica e medieval entrou na minha vida e fizeram me apaixonar por esse período da história,” diz Elisabete e ainda ressalta que o principal atrativo dos filmes desta época era a boa utilização da maquiagem. “Outra coisa que amo nesses filmes é que eles conseguiam com poucos recursos reproduzir aquela atmosfera mágica de maneira perfeita sem precisar de tanto efeitos especiais como os filmes atuais e em 3D. O que é aquele Diabão do filme A Lenda? Tão assustador; perverso e ao mesmo tempo tão irresistível, sedutor e tudo isso quase sem efeitos especiais, somente maquiagem. Não vemos demônios como aqueles hoje; nada nos dá tanto medo e ao mesmo tempo tanta vontade de nos entregarmos àquela beleza

máscula como acontece quando vemos aquele Diabão!” Para finalizar, cito um clássico dos desenhos animados dos anos 90, o “Rei Leão”, que para Douglas Alves, Erika e Eduardo, foi uma das mais importantes produções feitas na indústria do cinema, na área da animação. “O filme que mais me marcou no cinema, quando a pergunta vem à cabeça eu respondo: Rei Leão, por causa da sua história, sua emoção e tudo que ele passou na sua animação fabulosa para a época. Mas não quer dizer que o cinema hoje não tenha o mesmo trabalho emocionante, como no filme UP - Altas Aventuras, que é maravilhoso e emocionante,” Comenta Erika. “O Rei Leão foi um impacto em vista da produção geral. São dois filmes de que gosto muito, mas não saberia dizer se algo em especial me chamou a atenção neles,” complementa Eduardo. Apesar de tantos filmes citados, em um ponto todos concordam, estes foram para eles; as películas que tiveram maior impacto em suas vidas e as quais serão relembradas até hoje com carinho e nostalgia, cada vez que forem citadas em uma conversa, roda de amigos ou até CF mesmo em uma entrevista.

Número de comentários coletados

Média de faixa etária dos entrevistados

A maioria das pessoas que respondeu a esta pesquisa era...

Eles têm uma faixa-etária média de...

25%

12 mulheres 4 homens

75% 16 Maio 2012 cinefoco

10 08 06 04 02

17-25 anos 26-35 anos


CRÍTICA

Henrique Rios

Amigos reunidos

American Pie - Reencontro traz um novo enredo lembrando séries de comédia da TV americana

A

palavra nostalgia é a melhor para definir essa nova sequência de American Pie – Reencontro. Para quem não sabe, segundo o dicionário Aurélio, nostalgia é aquela sensação de saudade de um tempo vivido, muitas vezes idealizado e irreal. E esse novo filme traz tudo isso. Romances do passado, sentimentos antigos, confusões envolvendo sexo e muitas lembranças nesse encontro da turma original. Outros filmes com o título American Pie tentaram imitar os personagens de Jason Biggs e companhia, porém, dificilmente surgirá algo melhor que o original. Tudo começa quando os amigos resolvem marcam um encontro, na verdade uma confraternização entre os formandos da turma de anos atrás. Todos estão com a vida totalmente diferente daquela época de formatura. Jim, por exemplo, está com problemas sexuais com sua esposa Michelle, Kevin se tornou arquiteto, porém tem uma rotina caseira entediante e Stifler está como estagiário em um emprego sem nenhuma perspectiva, além de suportar um chefe muito chato. Já Oz se tornou apresentador de programa de esportes, mas tem um dia a dia vazio ao lado de uma modelo que está mais preocupada com fama e dinheiro. Somente Finch, ao que tudo indica, teve mais sorte entre todos, cruzando o mundo como um aventureiro. Todos que vão ao cinema para

ver American Pie já imaginam um filme cheio de sacanagem e pouco conteúdo. Porém, nesse novo longa os roteiristas Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg conseguem fazer comédia, sacanagem e bom conteúdo. O roteiro consegue encaixar bem as histórias e faz com que o expectador que já assistiu os outros filmes relembre de muitas coisas, e para quem nunca viu cria-se um interesse pela histórias desses amigos malucos. American Pie - Reencontro é um filme normal, muitas vezes lembrando o estilo de séries da TV americana. O enquadramento

usado sempre nos traz essa sensação. E isso é um problema que a industria americana vem tendo quando produz a chamada “comédia moderna”, muitas vezes o estilo de enquadramento e andamento lembra as séries de TV. Para quem curte a série, ir ao cinema vai significar relembrar um filme com o mesmo estilo de humor picante e adolescente dos primeiros longas. Já para que não é fã o filme será uma descoberta do que essa turma é capaz de fazer mesmo esCF tando mais “maduros”. cinefoco Maio 2012 17


NOTÍCIA

Henrique Rios

Festival de cinema

de Paulínia é cancelado

Prefeito afirma que o objetivo é investir mais na área social e meio ambiente

O

Festival de cinema de Paulínia de 2012 que seria realizado de 21 a 28 de julho está suspenso. O anúncio foi feito pelo prefeito do município de Paulínia José Pavan Junior, em uma coletiva de imprensa realizada no último dia 13 de abril. De acordo com o prefeito o objetivo é investir mais na área social e meio ambiente. “As medidas foram necessárias para a economia do município, uma vez que a partir deste ano o Festival deveria ser 100% patrocinado por empresas privadas. Cerca de R$ 10 milhões que seriam investidos no Festival de Cinema, serão direcionadas para os trabalhos realizados na área social, como, construção de

José Pavan Júnior, prefeito da cidade de Paulínia 18 Maio 2012 cinefoco

novas escolas, casas, saúde e nos programas do meio ambiente”, afirmou o prefeito. Pavan disse ainda, que Paulínia continuará a apoiar e investir em longa metragens e curtas produzidos no Polo cinematográfico, festival de dança, concertos, peças de teatro e na formação e capacitação dos 1200 alunos que frequentam o espaço cultura. Para o designer e participante do festival, Moreno Motta esse cancelamento é uma perda não somente para a cidade de Paulínia como também para o cinema nacional. “Acho lamentável um evento de tamanha importância para o cenário artístico nacional ser cancelado

dessa maneira. Acredito que com isso se foi uma vitrine da arte brasileira. Perderam não só os artistas como a própria cidade de Paulínia. De acordo com Motta outro ponto a ser ponderado é que a cidade de Paulínia pode perder tudo que conquistou nos últimos anos com o festival. “A cidade de Paulínia corre o risco de passar a ser apenas mais uma cidade do interior de São Paulo e não mais um Polo de cinema, onde diretores, jornalistas, cinéfilos e outros do meio tinham a certeza de se encontrar ao menos uma vez ao ano no Festival. Uma pena”. Para Motta o fato de estar em um ano eleitoral foi fator determinante para o cancelamento do Festival de Cinema. “A Prefeitura de Paulínia literalmente está “correndo atrás do prejuízo”. Eles poderiam ter realizado todas estas ditas “obras sociais” bem antes. Sacrificar o Festival em prol de uma campanha política definitivamente não foi uma boa escolha para a imagem deste governo. A nossa reportagem procurou a prefeitura de Paulínia, porém eles não querem mais comentar o assunto. Abraccine lamenta a suspensão A Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) lamentou em carta aberta a notícia do cancelamento da edição 2012 do Festival de Cinema de Paulínia.


Teatro Municipal de Paulínia, um dos principais palcos do Festival de Cinema

Leia na integra a carta: Carta aberta da Abraccine ao Sr. Prefeito de Paulínia, José Pavan Jr. A Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) recebe com muito pesar o comunicado de que o Festival de Cinema de Paulínia não será realizado este ano. A nota do prefeito José Pavan Jr. afirma que a alocação de recursos destinados ao festival em outras prioridades (saúde, educação, moradias populares) tornou a decisão inevitável. Como cidadãos, entendemos a construção de moradias populares, e o investimento em educação, saúde e meio ambiente deveriam mesmo ser prioridades constantes de qualquer municipalidade, e não apenas em anos eleitorais. Já como profissionais de cinema, lamentamos a descontinuidade de um projeto muito bem formatado e de grande repercussão nacional. Em poucos anos, Paulínia criou um Polo Cinematográfico, uma Escola de Cinema e um festival que se tornaram exemplares. O festival, ora em compasso de espera, era justamente a

vitrine de toda essa atividade. Reunia em Paulínia produtores, cineastas, atores e atrizes, jornalistas e críticos de todo o País. Formava público para os filmes brasileiros. Criava empregos na cidade e beneficiava a autoestima dos seus habitantes. Muitos novos projetos surgiram desses encontros anuais entre profissionais de diversos estados da federação. Foi dessas reuniões, por exemplo, que nasceu a nossa própria instituição, a primeira associação nacional de críticos de cinema, o que faz com que tenhamos carinho especial com Paulínia. Todo esse patrimônio simbólico corre o risco de se perder, ao sabor de conveniências políticas de momento. Esperemos que a fresta de esperança aberta no comunicado do prefeito resulte na realização do festival em 2013. Mas ressaltamos, desde já, que é perda irreparável o cancelamento da edição de 2012. Eventos importantes firmam sua tradição pela continuidade. Luiz Zanin Oricchio (presidente da Abraccine)

cinefoco Maio 2012 19


Kleber Oliveira

Centenário do ícone do cinema brasileiro: o Mazzaropi

S

“ Sua maior

felicidade era levar alegria ao povo...

20 Maio 2012 cinefoco

e estivesse vivo, o cineasta, ator de rádio, TV, circo, cantor e diretor Amácio Mazzaropi teria completado 100 anos no dia 09 de Abril de 2012. Para comemorar esta data podemos encontrar no Brasil exposições, exibições de filmes e programas de televisão que procuram de diversas formas, recordar e homenagear o ator que é símbolo do cinema nacional. Segundo o site Museu Mazzaropi, o ator nasceu no bairro de Santa Cecilia na cidade de São Paulo. Seus dons artísticos foram atribuídos a genética que herdou do avô João José Ferreira que era tocador de viola e animador de festas. Com dez anos morando na cidade de Taubaté interior de São Paulo, Mazzaropi já participava de atividades circenses. Aos 14 saiu de casa para trabalhar no Circo La Paz dando origem a sua carreira artística. Sua história com o cinema começou no ano de 1952, convidado por Abílio Pereira de Almeida e Franco Zampari, estreou no cinema com o filme “Sai da Frente”. Em 1958 montou a sua própria produtora de filmes, a PAM (Produções Amácio Mazzaropi) e o primeiro filme criado por sua empresa foi “Chofer de Praça”. No ano de 1961 comprou uma fazenda onde começou a gravar seus filmes, lá rodou seu primeiro longa em cores, o famoso “Tristeza do Jeca”. Com seus filmes chegou a levar cerca de 8 milhões de pessoas ao cinema, número que dificilmente hoje o cinema nacional consegue alcançar. Foi sucesso total nas décadas de 1950 a 1970. Mazzaropi em sua carreira gravou 32 filmes. O trigésimo terceiro que se chamaria

‘Maria Tomba Homem’ não foi finalizado devido à morte do ator em 13 de junho de 1981, aos 69 anos com câncer na medula óssea. Segundo publicado pelo portal Terra no dia 09 de abril de 2012, Mazzaropi era homossexual, não teve filhos legítimos, mas deixou um filho adotivo chamado Péricles, que faleceu na década de 1990. Conhecido por falar a ‘língua do povo’ apesar do enorme sucesso de público, a crítica da época desprezava a forma como desenvolvia seus filmes e seu trabalho era considerado “superficial” pela elite intelectual do país. Mazzaropi sempre acreditou no seu trabalho e estava satisfeito com seu resultado, por isso nunca mudou suas táticas artística e jamais deixou se levar pelo ataque dos críticos. Sua maior felicidade era levar alegria ao povo, com sua forma simples de contar histórias, abordando temas como racismo, religião, politica e ecologia, que fascinam as pessoas até hoje. A secretária Iracema Rodrigues, 57 anos, afirma que desde criança é apaixonada pelos filmes de Mazzaropi. “Desde pequenininha eu assisto, foi no cinema que o vi pela primeira vez. Íamos à matinê. O meu favorito sempre foi o filme ‘Casinha Pequenina’. O Jeito dele andar, a sua fala, a ingenuidade e simplicidade sempre foram as características que mais me chamaram a atenção”. A professora Maria Cristina Machado, 33 anos, aprendeu assistir os filmes do Mazzaropi com seus pais quando tinha oito anos e hoje rever os filmes é um hobby. “Antes alugávamos suas fitas, hoje eu tenho vários dos seus filmes em DVD. Assisti quase to-

Foto: Acervo Museu Mazzaropi /Divulgação

CAPA


O Jeca, caipira, de linguagem simples que desafiou a muitos para fazer a sua arte, marcou seu espaço no cinema brasileiro e por aqui fez história. Conquistou gerações de fãs e ainda os cativa. Ainda bem que para matar a saudade do Jeca mais querido do Brasil é só ir a uma locadora próxima de você, pois seus filmes ainda são sucesso de público e podem ser CF encontrados em DVD.

Segue a lista de todos os filmes de Mazzaroppi segundo o site museumazzaropi.com.br ANO – FUNÇÂO

FILME

1952 – ator 1952 – ator 1953 – ator 1955 – ator 1956 – ator 1956 – ator 1957 – ator 1958 – ator 1958 – produtor, roteirista, argumentista, ator 1959 – produtor, roteirista, argumentista, ator 1960 – diretor, produtor, ator 1960 – diretor, produtor, argumentista, ator 1961 – diretor, produtor, argumentista, ator 1962 – produtor, argumentista, ator 1963 – produtor, argumentista, ator 1964 – produtor, ator 1964 – produtor, roteirista, ator 1965 – diretor, produtor, argumentista, ator 1966 – produtor, argumentista, ator 1967 – diretor, produtor, argumentista, roteirista, ator 1968 – diretor, produtor, roteirista, ator 1969 – produtor, argumentista, roteirista, ator 1970 – produtor, argumentista, ator 1972 – produtor, argumentista, ator 1973 – diretor, produtor, argumentista, ator 1973 – diretor, produtor, argumentista, ator 1974 – diretor, produtor, argumentista, ator 1975 – diretor, produtor, argumentista, ator 1977 – diretor, produtor, argumentista, roteirista, ator 1978 – produtor, argumentista, ator 1979 – diretor, produtor, argumentista, roteirista, ato 1980 – diretor, produtor, argumentista, roteirista, ator

Sai da Frente Nadando em Dinheiro Candinho A Carrocinha O Gato de Madame Fuzileiro do Amor O Noivo da Girafa Chico Fumaça Chofer de Praça Jeca Tatu As Aventuras de Pedro Malasartes Zé do Periquito Tristeza do Jeca O Vendedor de Lingüiça Casinha Pequenina O Lamparina Meu Japão Brasileiro O Puritano da Rua Augusta O Corinthiano O Jeca e a Freira No Paraíso das Solteironas Uma Pistola para Djeca Betão Ronca Ferro O Grande Xerife Um Caipira em Bariloche Portugal Minha Saudade O Jeca Macumbeiro Jeca Contra o Capeta Jecão...Um Fofoqueiro no Céu Jeca e o seu Filho Preto A Banda das Velhas Virgens O Jeca e a Égua Milagrosa

Foto: Acervo Museu Mazzaropi /Divulgação

dos, mas os meus favoritos são, ‘Jecão...um fofoqueiro no céu’, ‘Uma pistola para Djeca’, ‘A carrocinha’ mas o meu favorito é o ‘As aventuras de Pedro Malasartes”. Na cidade de Taubaté no interior de São Paulo, onde o ator viveu e gravou uma grande parte dos seus filmes, existe o Museu Mazzaropi que relembra a história desse ícone. Esta localizada na Estrada Municipal Amácio Mazzaropi, 201, Bairro dos Remédios.

Mazzaropi no filme ‘Jecão... Um Fofoqueiro no Céu’. No filme Jecão conhece o céu e o inferno

cinefoco Maio 2012 21


MUNDO

Fernando Oliveira

Cinema Brasileiro x Cinema Argentino A simples pergunta “Quem foi melhor: Pelé ou Maradona?” ascende à rivalidade entre brasileiros e argentinos, que não se restringe somente no futebol, mas em todas as áreas que ambos estão envolvidos. As relações entre Brasil e Argentina sempre foram tensas e não é de hoje essa rivalidade. Na música, brasileiros e argentinos tentavam definir quem era melhor: Carmem Miranda ou Carlos Gardel. Essa rivalidade também está no cinema. Em 2010, nossos “hermanos” ganharam o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, com o filme O Segredo dos Seus Olhos. Qual cinema será melhor?

O

cineasta e professor doutor Paulo B. Schettino, do Mestrado de Comunicação e Cultura da UNISO, afirma que a rivalidade de brasileiros e argentinos é boba e que ambos deveriam se preocupar com o cinema americano, que domina as salas de cinemas de ambos os países. “O cinema brasileiro e o cinema argentino tem a mesma história de vida e períodos de altos e baixos. A disputa entre brasileiro e argentino começa desde década de 30 com Carlos Gardel e Carmem Miranda. Depois vem Pelé e Maradona. Essa rivalidade é uma bobagem. O cinema brasileiro e o cinema argentino ganhariam muito mais se unindo no mercado 22 Maio 2012 cinefoco

sul-americano, porque chegou à hora de um apoiar o outro”, diz Schettino. Para a documentarista e professora de Cinema do CEUSP Lilian Santiago, a parceria entre o cinema brasileiro com o cinema argentino seria uma das melhores estratégias de sobrevivência dos cinemas não majoritários. “As co-produções entre dois ou mais países amplia as possibilidades de captação e multiplica o mercado exibidor. Contudo, nem todas as produções se encaixam nesse perfil que serve tanto para um público quanto para outro”, fala Santiago. Atores brasileiros da televisão também estão fazendo cinema, segundo o profes-


Ao lado, cena do filme argentino ‘O Segredo dos seus olhos’, vencedor do oscar melhor filme estrangeiro

sor Schettino o cinema brasileiro se fortaleceu devido à ida de atores das telenovelas para a produção cinematográfica. “Os atores das telenovelas, que são celebridades estão sendo chamados pra fazer filme, para que o poder de atração que eles têm na televisão se transfira para o filme, para que os brasileiros possam ir ao cinema prestigiar - los, como fazem na televisão. Isso é um fenômeno, que o Brasil está descobrindo com mais de 70 anos de atraso, por que os Estado Unidos já tinha percebido isso no inicio da década de 50”, afirma Schettino. Já a professora Santiago afirma que o cinema brasileiro vem crescendo em números de produção desde a implantação da Lei do Audiovisual, em 1993. “Este período, de 93 até hoje, coincide com o que se chama de ‘Retomada do Cinema Nacional’. Hoje, além das Leis Federais, há Leis Estaduais e Editais de Fomento por todo o Brasil. As Leis de Incentivo são importantes, mas filmes que não se encaixam no perfil das empresas, filmes de experimentação de linguagem e documentários, por exemplo, têm muitas dificuldades de captação de recursos nesse esquema”, diz Santiago. Segundo Agencia Nacional do Cinema (ANCINE), foi produzido em 2011, cerca de 70 filmes nacionais. Schettino afirma que os brasileiros só assistem aos filmes nacionais, quando o mesmo ganha um prêmio internacional. “Quando um filme brasileiro consegue ser exibido, ele não consegue público. Agora se ele, concorrer um festival internacional e consegue ganhar um prêmio... daí o filme estoura. Porque é assim, se os Estados Unidos e a Europa aplaudem, nós também temos que aplaudir. Mas qualquer filme de fora, pode ser até porcaria, lota os cinemas. Isso é a comprovação da mente colonizada: o que é bom é estrangeiro”, diz Schettino. Já a professora Santiago diz que o brasileiro valoriza o cinema nacional, quando tem um bom filme, que chega até ele na mesma forma que os lançamentos dos filmes norte-americanos, com uma grande

campanha de lançamento e grande oferta nas salas (mais de cem cópias distribuídas ao mesmo tempo). “O brasileiro vai em peso assistir os filmes nacionais, porque ele pode curtir uma história confortavelmente, sem ter que ler legendas o tempo todo. Filmes brasileiros para massa recuperam público para o cinema como um todo, como ‘Se eu fosse você’ de Daniel Filho, e ‘Tropa de Elite’, de José Padilha”, fala Santiago. O cinema brasileiro desenvolveu junto com o cinema argentino, de acordo com o professor Schettino, os dois tem a mesma história de vida, com bons e maus momentos. “Na década de 50, o cinema brasileiro estava em desenvolvimento no Rio de Janeiro e São Paulo. No Rio tinha a Atlântica Cinematográfica, com as comédias cariocas; as chanchadas carnavalescas. A argentina teve um período muito bom na época de Perón, em 1950 e teve um bom desenvolvimento. Mas quando o Brasil começa despontar, com a Atlântica no Rio e com Companhia Vera Cruz em São Paulo e houve uma grande imigração de profissionais argentinos pra cá”, diz Schettino. Além da imigração dos “hermanos”, o cinema brasileiro e o cinema argentino começam fazer parcerias. Conforme a professora Santiago, o idioma facilita as co-produções, mas o Brasil vive numa ilha lingüística de português de uma América Latina que fala espanhol, isso dificulta bastante a interlocução fílmica. “Recentemente estreou na Argentina a co-produção entre Brasil, Argentina e Espanha “All In”de Daniel Burman, ganhadora do Edital de cooperação Brasil-Argentina lançado pela ANCINE e pelo Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales –INCAA em fevereiro de 2011. Falado em espanhol, com atores argentinos, o filme ficou em 6º lugar nas salas argentinas em sua estréia e deve entrar em cartaz no Brasil no segundo semestre de 2012. Esse tipo de lançamento aponta novos rumos para a cooperação entre os dois países que será benéfico para todos”, CF conclui Santiago. cinefoco Maio 2012 23


INTERNET

Débora Carvalho

Downloads - Qual a sua

opinião sobre o assunto?

Aviso: Os nomes das fontes desta matéria foram modificados para preservar suas identidades, já que o tema apresentado além de polêmico, também é visto como algo ilegal, que é a pratica de baixar filmes pela internet, como previsto pela lei nº 10.695 de 2007-07-01, a qual prevê pena de reclusão de dois a quatro anos além de uma multa, para quem oferecer a reprodução total ou parcial de um determinado arquivo audiovisual com o intuito direto ou indireto de lucro.

C

om a onda da acessibilidade virtual, encontrar arquivos se tornou muito mais fácil e rápido. Tudo está a apenas um clique de distancia. E com longas-metragens não é diferente, basta procurar um pouco e se encontra uma série infindável de sites/blogs especializados em oferecer séries e filmes para download. É neste contexto que encontramos alguns “aficionados por filmes” que falaram um pouco sobre suas experiências com downloads. Para Marina, baixar filmes teve inicio quando ingressou na universidade, há aproximadamente cinco anos. Ela diz que não sabe precisar quantas horas por dia passa baixando arquivos, mas, que está sempre fazendo download de alguma coisa. Seja música, vídeo ou ainda

24 Maio 2012 cinefoco

outros arquivos. “Quase sempre que ligo o computador, eu ligo o torrent também. Não poderia dar um número exato de horas, mas eu baixo filmes, jogos e músicas com uma grande frequência.” Explica Marina. Ela não vê qualquer problema em baixar estes arquivos de forma “gratuita” na internet e afirma. “É uma prática plenamente aceitável. Eu tenho uma opinião bem forte quanto ao poder das pessoas terem acesso a cultura e a informação: acredito no direito ao acesso pleno e gratuito.” E ainda complementa “não acredito que downloads estejam prejudicando essas empresas. Qualquer perda relacionada a downloads é muito pequena se compararmos com os gastos de marketing ou os salários dos empresários.”

Já no caso de Laura, a prática teve inicio por causa de sua filha, na época então com quatro anos de idade. “ela começou a se interessar por assistir filmes de animação. Passei a comprar, mas percebi que não duravam muito. Logo eram danificados pelo uso intenso. Por sugestão de amigos, comecei a procurar na internet e a fazer os downloads. Resolvi o problema, além de economizar cerca de R$ 40 a cada DVD original.” Complementando a idéia de Marina, temos Carlos, o qual diz que em sua opinião não há nada de errado em fazer download de um arquivo, para uso doméstico. “Baixar um filme para conhecê-lo, como se o estivesse assistindo em TV aberta é aceitável. Só vejo problema quando o material passa a ser comercializado sem o pagamento dos devidos direitos autorais e de reprodução.” Para ele, é mais vantajoso adquirir o arquivo para ver no computador do que ir ao cinema ou comprar um DVD original. “Considerando os altos preços do cinema (aos domingos à noite, uma entrada chega


a R$40), baixar é sem dúvida mais barato, sobretudo porque quero apenas conhecer.” Mas Carlos não é totalmente contra a compra do produto original e afirma. “Quando eu gosto da obra, o DVD sai mais barato pelo prazer de colecionar o material e pelos recursos que acompanham o disco.” Enquanto que na visão de Laura, não há nada demais em pegar um arquivo sem pagar os direitos autorais. Ela afirma que como não usa os filmes para fins comerciais, acredita que não está infringindo nenhuma lei e explica que, por causa do acesso aos arquivos pela internet, pode oferecer mais opções de lazer e entretenimento para a filha. “O download pela internet de filmes me proporcionou oferecer a minha filha um acervo e uma audiência em filmes que dificilmente ela teria em sua idade. Ela tem uma coleção com mais de 300 títulos e assiste em média 30 filmes por mês.” Mas se há promoções em títulos que lhe interessam, por que não comprar? “Se encontro ofertas razoáveis, como DVDs originais por R$ 10, é impossível resistir. O Último que comprei foi “E Vento Levou...”, por R$ 19,90. Não resisti. Se encontrasse mais clássicos por valores assim, compraria mais DVDs originais.”

O FECHAMENTO DO MEGAUPLOAD Em janeiro deste ano um dos maiores sites de compartilhamento de arquivos foi fechado sob acusação de ajudar diretamente a pirataria e a disseminação de arquivos sem os devidos créditos ou lucros. Este site era o “Megaupload”, famoso entre os fãs de downloads, após seu fechamento, muitos arquivos se perderam e diversos sites ficaram sem materiais. Indagados sobre encerramento forçado das atividades do megahospedeiro, os entrevistados expressaram sua indignação e frisaram que o site foi apenas um grande bode expiatório. “Considerei esse fechamento um ato de censura bastante estúpido, porque não faz diferença para as pessoas que sabem onde encontrar seus downloads. Também foi uma grande injustiça com pessoas que mantinham arquivos virtuais de livros acadêmicos e outros materiais raros para compartilhar com os outros. As empresas empenhadas em destruir esses sites tem uma visão maliciosa do mundo e só acreditam em intenções egoístas, mas com todos os problemas, creio que muitas vezes a internet inspira um espírito coletivo,” Diz Marina. Para Carlos, tal ação não passou de uma tentativa forçada de mostrar serviço para as grandes empresas. “Acredito que fechar o Megaupload foi um grande erro, pois o site serviu somente como bode expiatório e não parou realmente a prática de download não-oficiais, uma empresa inteira foi prejudicada e nada mudou realmente,” Laura expressa um sentimento comum a diversos ex-usuários do site de compartilhamento de arquivos, quando diz. “Me sinto órfã. Foi uma pena. Hoje, uso o que estiver disponível. Tenho usado mais o Uploaded”.

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CRÍTICA

Kleber Oliveira

O jogo de amor de Cameron e Ashton O filme de 2008 é uma dica do Cinefoco para o dia dos namorados Filme de 2008 dirigido por Tom Vaughan. Com Cameron Diaz, Ashton Kutcher, Queen Latifah, Lake Bell, krysten Ritter, Zach Galifianakis, Dennis Farina, Rob Corddry, Michelle Krusiec, Cheryl Cosenza, Maddie Corman, Jason Sudeikis, Delia Sheppard, Michael Harkins. O longa é a sugestão do Cinefoco para o dia dos namorados que está chegando. É uma ótima idéia para quem ainda não assistiu, e fica a dica para aqueles que quiserem rever. Segundo o site Tudo em Foco o filme teve um orçamento de US$ 35 milhões e mundialmente arrecadou quase US$ 220 milhões. Apenas na semana de lançamento nos EUA, o faturamento foi de US$ 20 milhões. Na época em que foi lançado ficou em segundo lugar no cinema americano perdendo apenas para o filme “O Homem de ferro” que foi lançado na mesma semana. Apesar dos personagens viverem em clima de guerra, “Jogo de amor em Las Vegas” é uma deliciosa comédia romântica estrelada pelos experientes Cameron Diaz e Ashton Kutcher, que aparecem exibindo excelente forma. Finalmente estes dois grandes atores da comédia americana se encontram em um longa metragem. A maior aposta do diretor Vaughan foi unir o casal de atores, e o resultado não poderia ter sido melhor. No enredo Jack (Ashton Kutcher) acabou de ser demitido do emprego pelo patrão que nada mais é que seu próprio pai. Joy (Cameron Diaz) preparou uma festa surpresa 26 Maio 2012 cinefoco

de aniversário para o seu noivo, mas o aniversariante sem saber da festa termina o noivado diante de todos os convidados que estavam escondidos em seu apartamento. Para afogar as mágoas Jack e Joy têm a mesma ideia, passar o fim de semana na agitada Las Vegas. Lá os dois se conhecem e vivem uma longa noitada. No dia seguinte acordam com uma surpreendente novidade: Estão casados! No meio de uma discussão dos dois,

Jack coloca uma moeda de Joy no caça níquel, o que faz o cassino inteiro estremecer porque acabam de ganhar 3 milhões de dólares. O juiz decreta que terão de tentar fazer este casamento dar certo vivendo juntos por seis meses e só depois deste período é que poderão dar entrada no divórcio e receber o prêmio. Agora eles terão de aturar um ao outro para por as mãos no dinheiro. Uma analise que poderia ser feito em cima do roteiro seria para o casal rever a forma que estão levando o seu relacionamento. O filme apresenta reflexões sobre a vida conju-

gal e diferenças entre homens e mulheres de uma forma bem engraçada. Considerações que poderiam fazer compreender a aceitar as diferenças entre os conjugues e até mesmo salvar uma relação. Segundo matéria publicada no site da Uol no dia 27 de abril de 2012, nos últimos dez anos, o número de divórcios no Brasil quase dobrou, passando de 1,7%, em 2000, para 3,1% em 2010. Os números fazem parte de novos dados do Censo 2010 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mesmo os personagens não terem sido casados como é tradicionalmente feito em nosso país e sim da maneira relâmpago e típica da cidade de Las Vegas, No entanto o filme não foi feito para levantar questões e teses e sim para puro entretenimento e este objetivo com certeza foi atingido com louvor. Jogo de amor em Las Vegas traz todos os elementos tradicionais de uma comédia romântica, o atrito entre o casal, o enredo sendo desenrolado com diversas confusões e situações improváveis. No entanto surpreende com um texto muito bem amarrado, um humor contagiante do inicio ao fim. O experiente diretor de séries de TV Tom Vaughan, conseguiu deixar o filme com seu toque especial, com a ajuda dos atores, este é um dos maiores destaques da comédia CF romântica dos últimos anos.


MÚSICA

Cristina Almeida

Trilhas Sonoras A alma da obra cinematográfica É

natural no ser humano associar os sons às imagens. Por esse motivo, causa certo desconforto acompanhar imagens sem um som de fundo. As trilhas sonoras são parte importantíssima da composição de um filme, é ela quem vai dar o clima, causar o contexto, mexer com as sensações e emoções do expectador. Diz-se que no início o cinema era ‘mudo’. Mas ele nunca foi mudo totalmente. Apenas não tinha falas, mas o som, aquelas musiquinhas tocadas no piano, isso sempre existiu. Nas salas de exibição dos filmes mudos, era contratado um pianista, encarregado de tocar conforme as situações exibidas na telona. Em salas de mais renome, podia haver até orquestras inteiras tocando. Em 1927 chegou um sistema pioneiro de sonorização de cinema, o Vitaphone. Era uma máquina de projeção muito grande com uma vitrola acoplada que sincronizava o som com a imagem a um disco de 33 rotações. O som gerado pelo objeto tinha a qualidade muito baixa e, com o tempo, foi sendo aperfeiçoada e evoluiu para um sistema superior chamado Movietone. Esse imprimia o som no próprio filme, o que acabou com os problemas de falhas no sincronismo e chiados. Assim, a indústria cinematográfica

teve de se adaptar aos novos sistemas e entender a aplicação do som nos filmes. No início o som era usado para apenas duas necessidades durante as narrativas: como elemento climático ou como foco da ação. Nos primórdios da trilha sonora, o compositor designado recebia o roteiro antes e compunha através apenas de sua leitura. Este tipo de

A música realça, ou às vezes praticamente determina os sentimentos que o espectador terá ao ver certa cena orquestração foi usado por várias décadas. Às vezes, as mesmas trilhas eram usadas em mais de um filme, por ser muito caro gravar trilhas especiais para cada produção. O tempo foi passando e a ideologia mudando. Então, ao invés da trilha ser produzida baseada no roteiro, passou a ser composta junto à produção do filme. Olhando cada

cena, denotando cada passo, cada emoção, cada tonicidade do clima filmado. De fato o primeiro filme notório a receber uma trilha sonora com detalhes finos foi “King Kong”, dirigido por Merian C. Cooper e Ernest B. Shoedsack, em 1933. A adaptação levou muito tempo, mas aos poucos a trilha sonora começou a ganhar forma e se tornar parte imprescindível de uma película. No final da década de 40 começaram a nascer as trilhas em função de gênero. Nos anos 50 diretores passaram a fazer parcerias com compositores e usá-lo em todos os seus filmes. Nos anos 60, a indústria cinematográfica começa a utilizar a música popular como trilha sonora, empregando a partitura orquestral apenas para funções adjacentes. Foi a partir dessa época, inclusive, que passaram a surgir os musicais. Um bom exemplo é o clássico “Cantando na Chuva”, de 1952, dirigido por Stalen Donnen e Gene Kelly. Nos anos 70 e 80, alguns diretores passaram a usar a música popular até mesmo nos climas de segundo plano, antes ocupados pela música orquestrada, e outros desenvolviam os dois tipos de trilhas juntos, transformando a música popular em orquestrada ou vice-versa. (Tá confuso esse parágrafo) A evolução da trilha sonora foi um cinefoco Maio 2012 27


TRILHAS SONORAS

O Fantasma da Ópera Do original: The Phantom of the Opera De: 1925 Dirigido por: Rupert Julian Tema Musical: “The Phantom of the Opera” Composto por: Charles Hart / Richard Stilgoe / Mike Batt

E o Vento levou Do original: Gone with the Wind De: 1939 Dirigido por: Victor Fleming Tema musical: “Thara’s Theme” Composto por: Max Steiner

Fantasia - Aprendiz de Feiticeiro Do original: Fantasia De: 1940 Dirigido por: Samuel Armstrong, James Algar, Bill Roberts, Paul Satterfield, Ben harpsteen, David D. Hand, Hamilton Luske, Jim Handley, Ford Beebe, T. Hee, Norm Ferguson, Wilfred Jackson Tema Musical: Tocata e Fuga em Ré Menor (entre outros) Composta por: Johann Sebastian Bach

Cantando na chuva Do original: Singin’ in the Rain De: 1952 Dirigido por: Stanley Donen e Gene Kelly. Tema musical: “Sing inThe Rain”, Composto por: Arthur Freed (letra) e Nacio Herb Brown (música), interpretada no filme pelo protagonista Gene Kelly.

Psicose Do original: Psycho De: 1960 Dirigido por: Alfred Hitchcock Tema Musical: “Psicho Theme” Composto por: Bernard Herrmann’s

Romeo e Julieta Do original: Romeo and Juliet De: 1968 Dirigido por: Franco Zeffirelli Tema musical: “What is a Youth?” Composto por: Nino Rota

processo demorado e até mesmo sua aceitação por cineastas mais tradicionais foi difícil. Charles Chaplin, por exemplo, demorou em se render aos novos recursos. Seu personagem só soltou a voz pela primeira vez em 1936 no longa “Tempos Modernos” e, ainda assim, foi cantando. Somente foi falar mesmo em 1940, em “O Grande Ditador”. Para o músico Fabiano Campos, a trilha sonora é um dos itens mais importantes de um filme. “Ela realça, ou às vezes praticamente determina os sentimentos que o espectador terá ao ver certa cena”, diz. Já Ricardo Oliveira, pós-graduado

pela Escola Superior de Música de Saarbrücken – Alemanha, afirma que a trilha sonora é a alma da obra cinematográfica. “O filme pode até ter um bom enredo, mas é a música que lhe dá boa parte da profundidade buscada pelo diretor”. Oliveira afirma que como músico erudito, trabalha com orquestras sinfônicas e preza muito as trilhas que são gravadas acusticamente e não por meio de samplers ou sintetizadores. “Apesar de estes apresentarem hoje em dia ótima qualidade, acho impossível à máquina ter o mesmo nível de intensidade emocional que é percebida com

trilhas gravadas com orquestra sinfônica”, destaca. Para o professor, Luís Góes, técnico em informática e cinéfilo, a trilha sonora também é de extrema importância dentro de uma narrativa. “Sentimentos, expressões, gestos, socos ou beijos são transformados em notas musicais pelo bom compositor”, declara. Para ele, a música tornou-se parte fundamental do filme, junto a seus personagens, paisagens e histórias. “O mundo fantástico do cinema não é nada sem música”, enfatiza. O diretor de cinema e teatro e produtor de audiovisual, Marce-

O guarda costas Do original: The Bodyguard De: 1992 Dirigido por: Mick Jackson Tema musical: “I Will Always Love You” Composto por: Dolly Parton, interpretado por Whitney Houston

Titanic Do Original: Titanic De: 1997 Dirigido por: James Cameron Tema musical: Will My Heart Let Go Composto por: James Horner e Will Jennings – Interpretado por Celine Dion

Harry Potter Do original: Harry Potter De: 2001 Dirigido por: Chris Columbus Tema Musical: Hedwig’s Theme Composto por: John Willians

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Rei leão Do original: The Lion King De: 1994 Dirigido por: Roger Allers e Rob Minkoff Tema Musical: Circle of Life (Ciclo da vida) Composto por: Hans Zimmer, interpretada por Carmen Twillie, Lebo M. e Mbongheni Ngema

O Senhor dos Anéis Do original: Lord of the rings De: Primeiro filme (A sociedade do anel) lançado em 2001 Dirigido por: Peter Jackson

Piratas do Caribe Do original: Pirates of the Caribbean De: Primeiro filme (A Maldição do Pérola Negra) lançado em 2003 Dirigido por: Gore Verbinski Tema musical: “He’s a Pirate” Composto por: Hans Zimmer Tema musical: “The History of the Ring” Composto por: Howard Shore


Love story Do Original: Love Story De: 1970 Dirigido por: Arthur Hiller Tema Musical: “Where Do I Begin?” Composto por: Francis Lai

O Poderoso Chefão Do original: The Godfather De: 1972 Dirigido por: Francis Ford Coppola Tema Musical: “Love Theme” Composto por: Nino Rota

lo Rodrigues, explica que existem várias formas de se compor uma trilha sonora. “Os músicos geralmente assistem uma versão do filme pré-editado e compõem em cima da imagem”, diz. Rodrigues acrescenta que no cinema de arte a relação é mais intensa. “Os músicos participam das filmagens para absorverem todo o espírito da obra que terão de musicar”, destaca. Para o músico Fabiano Campos, se tratando de bons compositores não se pode deixar de citar John Willians (compositor de trilhas sonoras para filmes como: E.T (Steven Spielberg - 1982), Jurassic Park Madagascar Do original: Madagascar De: 2005 Dirigido por: Eric Darnell e Tom McGrath Tema Musical: I Like to Move It Composto por: Sacha Baron Cohen

(Steven Spielberg - 1993), Star Wars (Gerge Lucas - Anos 90), Tubarão (Steven Spielberg - 1975), Caçadores da Arca Perdida entre outros (Steven Spielberg - 1981)). “Suas

Guerra nas Estrelas Do original: “Star wars” De: primeiro filme (Star Wars Episódio IV - Uma Nova Esperança) lançado em 1977, Dirigido por: George Lucas. Tema Musical: “The Imperial March” (Darth Vader’s Theme). Composto por: Jhon Willians

Indiana Jones Do original: Indiana Jones De: primeiro filme (Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida) lançado em 1981 Dirigido por: Steven Spielberg Tema Musical: “The Raiders March” Composto por: John Willian

obras conseguem, além de cumprir o papel de transmitir emoções, alcançar um nível técnico-musical admirável, tanto pelo ponto de vista da composição, como também de execução”, afirma. Outros compositores destacados pelo músico foram Alan Mencken (compositor de vários clássicos da Disney), Bernard Herrmann (Psicose - Alfred Hitchcock - 1960), Danny Elfman (Batman, o retorno - Tim Burton - 1992), Hans Zimmer (Piratas do Caribe - Rob Marshall – a partir de 2003). As opiniões de Fabiano são bem parecidas com a do também músico Ricardo Oliveira. “Meu compositor de trilhas preferido também é John Williams, porém, arrisco dizer que além de altamente competente, Williams teve sorte ou foi muito esperto, pois suas trilhas mais famosas foram coincidentemente (ou não) frutos de bem sucedidas parcerias com diretores ou com ótimos roteiros”, esclarece. Luís Góes explica que seu compositor preferido é o alemão Hans Zimmer. “Ele consegue dar outra ‘vida’ ao filme, deixando os personagens memoráveis, emocionando com suas notas e percorrendo

E.T. - O Extraterrestre Do original: E.T. the ExtraTerrestrial De: 1982 Dirigido por: Steven Spielberg Tema Musical: “E.T. and Me” Composto por: John Willians

Ghost – Do outro lado da vida Do original: Ghost De: 1990 Dirigido por: Jerry Zucker Tema musical: “Uchained Melody” Composto por: Alex North (Letra) e Hy Zaret (Música) - Interpretada por Righteus Brothers

cada fio de esperança, ódio, amor e adrenalina que elas passam. Das mais de 200 trilhas já compostas por Hans, destaco como favoritas: ‘Anjos e Demônios’ (Ron Howard – 2005), ‘Gladiador’ (Ridley Scott – 2000), ‘Batman Begins’ (Christopher Nolan – 2005), ‘A Origem’ (Christopher Nolan - 2010), ‘Piratas do Caribe’ (Rob Marshall - primeiro filme de 2003), ‘O Rei Leão’ (Roger Allers e Rob Minkoff – 1994)”, diz. O diretor Marcelo Rodrigues também cita alguns compositores. “Meus três prediletos são: o polonês Zbigniew Preisner (O Jardim Secreto - Agnieszka Holland - 1993), a grega Eleni Karaindrou (A Eternidade e Um Dia - Theo Angelopoulos - 1998) e o italiano Ennio Morricone (Era Uma Vez no Oeste - Sergio Leone - 1968)”, conta. Para o diretor Marcelo Rodrigues, a música é uma das artes mais importantes da humanidade e não poderia ficar de fora do cinema, que de certa forma, traz em seu corpo um pouco de todas as artes. “A música é um dos principais elementos de linguagem para nos transportar para outros estados emocionais e o CF cinema sabe disso”, conclui. cinefoco Maio 2012 29


REGIONAL

Fernando Oliveira e Kleber Oliveira

‘Adeus Horror’ completa 20 anos Média metragem produzido em um Castelo na cidade de Araçoiaba da Serra falava sobre monstros em seu último dia de vida.

I

Cena do Filme. O ator Paulo Rocha como ‘o corcundo’

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magine se todos os monstros clássicos do cinema estivessem reunidos em um Castelo medieval sombrio. Por infelicidade um casal de palhaços está passando próximo ao local, não imaginando que fará parte de um momento digno de filme de terror. Essa é a história do “Adeus Horror”, dirigido por Marcelo Domingues em 1992, utilizando como locação, o Castelo do Padre Pieroni em Araçoiaba da Serra. A produção é um média – metragem de 48 minutos e foi exibido nos festivais de Curitiba (PR) e de Belo Horizonte (MG), sendo bastante elogiado. O diretor Marcelo Domingues conta que o filme tem um clima nostálgico e experimental, mostrando a decadência dos monstros clássicos das lendas de horror. Os monstros eram um vampiro interpretado pelo já falecido José Evaristo Neto, um lobisomem vivido por José Luiz Tatu e o último um corcunda interpretado por Paulo Rocha, todos amigos e na época residentes em Araçoiaba da Serra. “O filme não é um terror como o título pode sugerir. Nele podemos ver esses monstros perambulando sem identidade por matas noturnas, até que a figura da morte aparece e avisa que eles terão de passar a última noite neste mundo, num pequeno castelo abandonado”, diz Domingues. Este foi um dos primeiros trabalhos do diretor de cinema e teatro e produtor de Audiovisual Marcelo Domingues. “Fiz mais cinco filmes em Araçoiaba na década de 90. Esse filme foi a minha primeira produ-

ção não caseira”, explica. Segundo o diretor “Adeus Horror” terá um remake.“Eu tenho uma cópia desse filme em DVD, mas não gosto muito de mostrá-la, porque a qualidade está comprometida. Eu pretendo refilmar esse roteiro em breve com melhores equipamentos e melhor técnica”, afirma. Você deve estar se perguntando: “E o casal de palhaços?” O casal de palhaços foi interpretado por José Ercílio e Nara Martins, ambos residem em Araçoiaba da Serra e com várias histórias dos bastidores do filme para contar. José Ercílio é professor de história e foi o palhaço “Pierro” no filme “Adeus Horror” e conta que na produção não havia diálogos e as maquiagens dos monstros demoravam horas para serem feitas. “Uma das minhas primeiras cenas, eu brigava com o lobisomem e levei aquilo a sério, dei umas pancadas nele e quebrei suas


unhas. Daí tivemos que parar as filmagens, para que os maquiadores pudessem arrumar o lobisomem de novo”, fala José Ercílio. Ercílio conta que o filme foi o único a ser rodado no “castelinho” e não se lembra ao certo dos valores, mas na época a prefeitura da cidade ajudou a financiar o projeto. Nara Martins é fonoaudióloga e foi convidada para ser a palhaça “Colombina” pelo cunhado Domingues. Aceitou fazer o papel para ajudar porque não estavam encontrando alguém para este personagem. Foi a única vez que ela atuou num filme. “Tinha uma cena de dança que fazia que era muito complicada, mas daí deu tudo certo, consegui fazer os movimentos ensaiados mas alguns deles eram improvisados”, confessa. Foram seis meses de trabalho, explica Nara, sendo executados sempre a noite pelo motivo de que todos os envolvidos tinham seus trabalhos individuais com que se sustentavam. Fazer o filme era uma espécie de ‘hobby’, por isso o grupo se reunia duas noites por semana para desenvolver o projeto. Nara sempre estava junto nas gravações, mas não gravava em todas as cenas. Ela explica que os atores ajudavam na produção quando não estavam atuando e os trabalhos iam até a madrugada. Afirma que fazer o filme foi uma experiência inesquecível. “Foi muito divertido, depois de pronto reuníamos a família e amigos para assistir e outras pessoas da cidade pediam empresCF tado para conhecer o trabalho”, diz.

Acima, à esquerda. Making off. Outras, cena do filme.

Hoje o filme ‘Adeus Horror’ não se encontra disponível. Pra quem conheceu o trabalho e os que estão curiosos só resta esperar pelo remake prometido pelo diretor e claro prestigiar seus outros trabalhos que vocês podem conhecer em:

marcelo-domingues.blogspot.com.br.

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INTERNACIONAL

Cristina Almeida

CINEMA NORTEEtnocêntricos, megalomaníacos ou

O

Cinematográfico, Irmãos Lumiere

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cinema de maior evidência mundial é o norte-americano. Todo filme estrangeiro que conquista certo destaque, logo é adaptado, pelas produtoras americanas, para a realidade condizível com a deles. Além de que qualquer fenômeno da natureza ou invasão alienígena que aconteça, é, quase sempre, nos Estados Unidos. Até mesmo a própria massa parece ter certa preferencia pelo cinema do “Tio San”. Possivelmente desconheçam que os originais de muitos filmes que eles adoram ver com os atores hollywoodianos tenham, na verdade, origem em outros países. Mesmo fora das telonas, os Estados Unidos são uma influência para o restante do mundo. Tudo que é lançado lá, rapidamente passa a ser consumido pelos demais países: Roupas, calçados, comida, música, entre outros. Analisando do ponto de vista histórico, toda essa influência, teve início logo após o final de Segunda Guerra Mundial e começo da Guerra Fria, quando ocorria a real ameaça do desencadear de uma guerra nuclear. Percebendo isso, os EUA passaram a investir pesado na indústria bélica, visando o municiamento das Forças Armadas, cujo objetivo foi a defesa de seu território e de todos os seus aliados. O país se manteve firme após a guerra, ao contrário dos europeus, e ainda financiou a reconstrução de outros países. Tais poderes, econômico e bélico, transformaram-no no país mais rico, desejado, e temido do mundo. Para a antropóloga Bruna Hernandes, le-

vando em consideração o processo histórico pelo qual os EUA passaram, seria impossível que o mesmo, de fato, não se tornasse uma potência. “Um país que se livrou de outras potências, negociou estados a baixos preços (comprou a Flórida da Espanha, por uma ninharia), libertou seus escravos antes de qualquer outro país, acelerou processos tecnológicos na Guerra Civil Americana e supostamente mandou o homem à lua, não poderia passar ileso pelo processo de etnocentrismo”, diz. Toda a influência dos EUA, não poderia ser diferente, com o cinema. Em 1891, o americano, Thomas Edison, inventou o primeiro sistema de fotografia animada, o qual chamou de “Kinetoscópio”; era uma espécie de caixa de madeira, onde as pessoas depositavam moedas para assistir a um pequeno filme. Por conta de tal invenção, Edison é considerado por muitos, ‘o inventor do cinema’. (Mais tarde esse título passaria aos franceses irmãos Lumière que, em 1895, patentearam o ‘cinematográfico’, máquina de filmar e projetor de cinema, inventada em 1982 pelo também francês Léon Bouly, que veio a perder a patente da sua criação). Depois de algum tempo, esse “cinema primário”, foi aperfeiçoado. Salas para exibição de filmes foram abertas e o cinema passou a se tornar uma indústria rentável. Ao se dar conta de tal fato, Edison resolveu patentear sua ideia, e mover ações judicias contra quem a usasse comercialmente. Com todas as pequenas companhias eliminadas, Edson deu início à monopolização


-AMERICANO apenas frutos de sua história? cinematográfica pela América. É por lá também que está instalada a, por muitos considerada, “Capital do Cinema”. Hollywood, distrito de Los Angeles, nasceu em meados dos anos 10 e rapidamente, muitos produtores se concentraram lá, na tentativa de fugir das ações de Edson. A partir desse momento, o cinema dos EUA passa de fato, a dominar o mundo. Foi nesse meio tempo, que os filmes evoluíram de “mudo” para “falado”, conquista que, por seu alto preço, ficou sob o poder dos próprios EUA, já que a Europa estava falida por conta da Primeira Grande Guerra. Na Segunda Grande Guerra, os EUA não tomaram partido, então, a produção cinematográfica continuou a todo vapor. Após o fim da guerra, muitos dos filmes hollywoodianos ainda não tinham sido vistos na Europa, assim por volta de 1946, muito dessas produções foram enviados em grandes lotes para todo o mundo. Muitos outros eventos históricos vieram a contribuir para a ascensão do cinema americano. Assim, é fácil entender que todo o domínio e monopólio do cinema norte americano não se explica apenas pela qualidade técnica da produção, mas também por todo um sistema progressivo histórico e estratégico que determinou o monopólio cinematográfico dos EUA. Bruna explica que o cinema é o reflexo da sociedade, cultura e educação de seu povo, trazendo a nós, os sentimentos vividos e expressos por um país. “Ele faz com que as pessoas desejem ser aquele personagem ou desejem ter aquela vida, aquele

carro, aquela casa, aquela namorada, aquele sonho”, afirma. Para a antropóloga o cinema norte-americano, revela a estrutura societária dos EUA e o exacerbado nacionalismo que protegerá a todos, através de um super herói americano que salvará a humanidade dos abalos, alienígenas, forças ocultas e catástrofes climáticas. “Sim, os heróis americanos tem o poder de reverter questões políticas, sociais e até mesmo climáticas! Essa perspectiva nos leva a pensar na grande dose de arrogância proveniente dessa nação e exaltada através de seus filmes que arrastam uma grande massa aos cinemas”, declara. O também antropólogo Edmilson Felipe explica que o sucesso do cinema norO sucesso do te americano se deu pelo fato de ele oferecer o que o público queria. “Na cinema norte própria U.R.S.S. havia uma indústria do americano se deu cinema, porém os filmes propagavam pelo fato de ele a ideologia do partido, e não filmes de oferecer o que o gênero, como nos Estados Unidos”, diz. público queria. Para o consultor de Direito Virtual e webmaster, Lairson Belmonte, a influência dos EUA é uma questão de prepotência. “Os heróis salvadores do mundo só poderiam ter surgido nos EUA, da mesma forma que as grandes bandas de rock só poderiam ter surgido na Inglaterra, e adicionando á este fato, os vilões são geralmente russos ou alemães”, comenta. Entretanto ele acredita que esse estereótipo está mudando. “Em ‘Independence Day’ (de Roland Emmerich - 1996), há uma invasão extraterrestre e quem salva o planeta são um negro e um judeu. E em ‘2012’ (também cinefoco Maio 2012 33


CINEMA NORTE-AMERICANO

“Ele faz com que as pessoas desejem ser aquele personagem ou desejem ter aquela vida, aquele carro, aquela casa, aquela namorada, aquele sonho”

de Roland Emmerich - 2009) o protagonista do filme é um americano anti-herói, os verdadeiros heróis são, a grande maioria, não-americanos e para fechar com chave de ouro, não é nos EUA onde o mundo se salva, mas na África do Sul”, destaca. Para o Diretor de Cinema e Teatro e Produtor de Audiovisual, Marcelo Domingues, o etnocentrismo norte-americano se dá por puro patriotismo. “Eles nos empurram a patriotada americana de sempre. Em um filme de guerra, por exemplo, os americanos são sempre bonzinhos até pra matar enquanto outros torturam e violam todas as convenções de guerra com sadismo”, diz. Domingues explica que os americanos são super-protetores de si mesmos, de sua pátria e sua cultura, e isso acaba refletindo nos filmes. “Serão sempre eles quem salvarão o mundo de uma invasão alienígena”, declara. O antropólogo Felipe afirma que o fato dos americanos se auto - ele gerem os heróis, é um modo de afas-

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tar as demais etnias. “Eles fazem da ficção científica uma forma de informar que os outros são os inimigos”, explica. Marcelo Domingues destaca que a “saliência” do cinema norte-americano se dá por uma fórmula básica: Clichês + Marketing + Tecnologia. “Eles são uma indústria e, como o nome diz, produzem em massa para a massa. Sabem fazer isso muito bem, conhecem o publico consumidor e fazem na medida. Além de gastarem quase o valor do custo do filme no marketing de distribuição pelo mundo todo.” O consultor Belmonte concorda com tal argumento. “Eles não economizam quando o assunto é cinema! Já ouvi falar de filmes, cujo orçamento ultrapassou a casa dos US$ 150 milhões! Com um orçamento desses, é praticamente impossível realizar um filme que não se tenha os melhores atores, as melhores locações e todas as tecnologias de ponta”, diz. Para Domingues, não se pode generalizar. “O cinema americano é comercial e pronto. Mas claro, em tudo há exceções, há também ótimos filmes que saem de tal indústria, até filmes de arte”, destaca. Enfim, o cinema americano lança moda, personagens, protótipos, biotipos, roupas, acessórios, e vende ao mundo uma mensagem de herói - salvador mundial. Podemos ver, por exemplo, a, sempre presente, figura de um presidente dos EUA como o grande pai o sábio, o detentor do poder. “De alguma forma, essa sociedade se autoanalisa dessa forma e acaba num efeito espelho, vendo e retribuindo exatamente o que o cinema quer evidenciar: o americandream!”, conclui a CF antropóloga Bruna Hernandes.


FILMES

Débora Carvalho

Críticos de cinema na Academia Uma visão profissional sobre a profissão dentro do curso de jornalismo

É

possível uma pessoa se tornar um critico de cinema sem ser um jornalista? As profissões influenciam uma na outra? Estas são perguntas que surgem na mente de um estudante do curso ao pensar em exercer a função na área da critica cinematográfica. Para a professora e mestre Andréa Sanhudo, que leciona no curso de Comunicação social – Jornalismo da Universidade de Sorocaba (UNISO), a profissão de crítico de cinema não precisa estar diretamente ligada ao fato de exercer o jornalismo. “Não importa se é jornalista ou não. A crítica é um direito do cidadão, e não é e nunca foi exclusividade de jornalista. Quanto à crítica de cinema, como em qualquer outra, a exigência é o conhecimento sobre a área e/ou o tema. Se for feita por um jornalista, a qualidade de texto deve ser pelo menos, um atrativo melhor. Se não, o texto deve atrair da mesma forma, se não pela qualidade, pelo conteúdo.” E segundo ela “critico de cinema” não é caracterizado como uma profissão, mas sim como uma especialização ou uma função. Quanto ao fato de o estudante de jornalismo estar ou não apto para trabalhar como critico de cinema,

Andrea explica que, teoricamente, eles são capazes de desenvolver qualquer função relacionada à sua área. Mas isso é claro, no campo das hipóteses. “Porque desempenho não se ensina, se investe. E investir no conhecimento e no aprendizado é de responsabilidade de cada aluno. Se ele se interessa por cinema, basta estudar, ler e aprender. Não é neces-

A exigência é oconhecimento sobre a área. sário esperar que alguém o pegue pela mão e mastigue o conteúdo. A formação do jornalista,” explica Andrea. E ainda afirma que “qualquer estudante pode buscar, inclusive, fora da universidade outros cursos que complementem a sua formação,” Questionada sobre a possibilidade hipotética da criação de uma matéria dentro da grade curricular, ligada diretamente com cinema, Andrea explicou que haveria prós e contras. Os prós seria o fato dos alunos poderem contemplar todos os segmentos do jornalismo e os contras se caracterizariam pelo

tempo, pois segundo ela o curso se estenderia por quase 10 anos. Segundo opinião da professora, a ansiedade para ingressar logo no mercado de trabalho fez com que os cursos sofressem reduções de cargas horárias ao invés de ampliações. Para ela tal fator também está ligado a recepção dos alunos a tais matérias. “Nem todo mundo gosta de esporte, para o curso obrigar aos alunos a uma disciplina de Jornalismo Esportivo, muito menos à critica de cinema,” comenta a docente. Para a professora, um jornalista (assim como uma pessoa formada em outra área) pode exercer a função de “critico de cinema”, com tanto, que ela tenha conhecimento do assunto, assim como é o esperado quando se vai produzir matérias sobre quais quer outras áreas. Em suma, o bom profissional é aquele que consegue exercer sua função independente das dificuldades. Um bom crítico de cinema é aquele que sabe analisar o material, opinar e criticar, sem pareCF cer presunçoso.

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ENTREVISTA

Kleber Oliveira

Meu Sonho:

Ser artista!

O desejo de se tornar um ator ou atriz se torna possível com o crescimento do cinema nacional

M

esmo os filmes nacionais não terem alcançados 1 milhão de espectadores ainda neste ano, conforme foi publicado na revista digital Veja do dia 27 de Abril de 2012, ainda assim o cinema brasileiro tem crescido muito. De acordo com dados divulgados pela Ancine (Agência Nacional de Cinema) em 1 de fevereiro de 2012 em seu portal, o número de ingressos vendidos nas bilheterias dos cinemas foi recorde na última década, totalizando 143,9 milhões de bilhetes, com geração de renda bruta de R$ 1,44 bilhão. Sete filmes nacionais bateram a marca de 1 milhão de ingressos vendidos. “No ano passado, 99 filmes brasileiros foram exibidos nas salas de cinema do país. Esse número é três vezes maior do que a quantidade de filmes brasileiros veiculados nas salas de cinema em 2003”, informa o presidente da Ancine Manoel Rangel. O cinema Brasileiro teve a terceira melhor bilheteria dos últimos dez anos. Não é por acaso que grandes atores americanos tem passado por aqui para divulgar seus filmes como fizeram Tom Cruise, Michael Bay, Vin Diesel, Antônio Banderas e Salma Hayek. Nos últimos anos é perceptivo também um crescimento no teatro e na teledramaturgia. Algumas emis36 Maio 2012 cinefoco

soras como SBT e Record voltaram a investir em novelas e séries de produção própria. Este cenário abre as portas para aqueles que sonham um dia ser ator ou atriz famosa mas que consideram Hollywood um sonho muito distante. Mas qual o primeiro passo para se tornar um ator ou uma atriz? Alguns atores possuem talento nato, para outros a única maneira é estudar e muito. Agora se você for uma mistura deste dois tipos de atores talvez você se torne um dia como o ator Wagner Moura. O ator viveu na pele um dos maiores heróis do cinema brasileiro o ‘Capitão Nascimento’ é o resultado de talento natural com muito esforço e estudo. Segundo a revista digital Quem, Wagner Moura recebeu o prêmio de melhor ator de cinema pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) em 2011 com o filme fenômeno de bilheteria, Tropa de Elite 2. O filme que levou aos cinemas de todo o país 11,4 milhões de pagantes recorde de bilheteria no Brasil. Mas como é a vida de um ator? Será que é só alegria, festas, dinheiro e fama? O que precisa ser feito para poder ingressar nesse meio

artístico? Como começar? O que estudar? O Cinefoco preparou uma entrevista com o ator Danilo Silveira, 26 anos, Paulista que atualmente mora em Curitiba (PR), que conta um pouco da sua história, como começou sua carreira artística e nos aproximar um pouco do mundo real artístico. CF: Desde quando se interessou em ser ator? DS: Minha historia com o teatro começou bem cedo. Aos 10 anos minha mãe me matriculou em um curso de teatro e desde então não parei mais. Porém, meu interesse em seguir de fato com a profissão apenas despertou aos 16 anos, quando participei de um processo intensivo na montagem de um espetáculo para uma mostra de lei-


turas dramáticas. Foi um projeto da Oficina Cultural Grande Otelo em Sorocaba. A partir desta experiência, vi que era o que realmente gostaria de fazer. Tratei então de me dedicar a este ofício, tendo é claro todo o apoio de minha família. CF: Em que faculdade é formado? DS: Graduei-me em Licenciatura em Teatro pela Universidade de Sorocaba (UNISO). Também tive a oportunidade de estudar por um ano na Universidade Mayor em Santiago do Chile onde cursava Dança. Hoje faço uma segunda faculdade. Estou cursando bacharelado em Dança pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). Tenho muito interesse em cursar uma pós-graduação na área das artes cênicas, porém ainda são apenas planos que estou tratando de realizá-los. CF: Quais trabalhos já fez como ator e no que esta trabalhando atualmente? DS: Na área teatral, ao contrário do que se pensa, as oportunidades são muitas, porém, não são fáceis de conquistá-las, principalmente no início de carreira. Tem que trabalhar muito sem remuneração para que você possa construir um bom currículo e ganhar espaço no mercado. Como ator, já fiz diferentes trabalhos como eventos em festivais, produção cultural em coletivos de dança, em companhias teatrais e em editais culturais. Atualmente trabalho como artista solo tanto em teatro como em dança contemporânea. Também estou envolvido em um edital de pesquisa em dança, trabalho este

que venho me dedicando nos últimos dois anos. Trabalho também em diversos projetos ministrando oficinas de teatro. CF: Quais as maiores dificuldades de um ator hoje? DS: Sabe o clássico pensamento, deve-se matar um leão por dia? Acho que isso resume bem o ofício do ator, assim como o de toda profissão. Existem muitas dificuldades no meio artístico, como em toda área. Poderia ficar por horas detalhando tais dificuldades, porém prefiro ater-me ao otimismo e dizer que atualmente as dificuldades não são as mesmas de quando eu decidi trabalhar como artista. Muita coisa mudou e penso que para melhor, no entanto, é preciso ter consciência de que ainda existem muitos desafios a serem enfrentados. Quando se decide ser artista, a dedicação e paixão pelo que escolheu como ofício nos ajuda a lutar contra estas dificuldades. CF: Quais são seus projetos futuros? DS: Como artista, e volto a dizer, como qualquer outro profissional apaixonado pelo que faz, sempre tenho projetos futuros, mas posso resumi-los da seguinte forma: no futuro quero ainda estar fazendo mi-

Sabe o clássico pensamento, deve-se matar um leão por dia? Acho que isso resume bem o ofício do ator [...]

nha arte da mesma forma, ou melhor, com mais segurança e paixão do que hoje, quero que estes projetos transmitam a verdadeira essência do que entendo como arte. CF: Pensa em fazer cinema ou TV algum dia? DS: Quando alguém me pergunta “o que você faz” e como resposta digo “teatro”, logo retrucam: ainda te verei na TV. Esta é uma situação típica de quem tem a mesma profissão que a minha. Na adolescência o possível sonho de um dia fazer TV já me passou pela cabeça sim, no entanto, não foi uma vontade que permaneceu em meus planos por muito tempo. Já participei e me envolvi em processos artísticos com a presença do cinema e o vídeo, e adorei passar pela experiência, mas creio que minha praia é o teatro. Admiro muito o profissional do cinema e da TV, mas o que eu gosto mesmo é de viver o teatro. Dedico-me a pensar, atuar, experimentar e ensinar a linguagem teatral. CF: Como funciona a formação do ator? DS: A formação do ator se dá no dia a dia. Pode ser bem polêmico o que vou dizer agora, mas eu, profissional graduado em teatro, afirmo que não é preciso de formação superior para ser ator profissional. Isto não é nem um ponto positivo ou negativo de nossa profissão, apenas é um fato. Muitos bons atores vivem desta arte e a fazem muito bem e tiveram sua formação na vida, já outros que são graduados, não revelam sua paixão por essa arte nos palcos ou em sala de aula. cinefoco Maio 2012 37


SER ARTISTA

Enfim, é um processo de formação continua que definitivamente, não acaba ao receber um diploma, e mais uma vez volto a repetir, penso ser assim em toda profissão. A cada trabalho, a cada processo que se vive, você aprende coisas novas. Porém, veja bem, eu sou um forte defensor do ensino universitário, acredito fielmente na formação acadêmica em comunhão com a formação artística. O que se vive na Universidade é constantemente a construção da relação com suas vivências artísticas, é a reflexão do fazer artístico, do poder da arte na escola, na rua, na empresa, enfim na vida das pessoas. Não se deve entrar na Universidade para aprender a ser ator, isso se aprende diariamente. A Universidade é um lugar para a reflexão da arte. CF: O ator que faz teatro pode fazer cinema ou precisa de uma nova formação ou um complemento? DS: O trabalho de atuação é bem específico para cada área. É diferente sim trabalhar no cinema, no teatro, em musical etc. Assim como é diferente se fazer comédia, tragédia, teatro de rua, circo e por ai vai. Dentro desta linguagem existe uma ramificação de outras micro-

-linguagens, mas para que algo seja especial tem de haver dedicação e paixão. Penso que se um ator tem a vontade de fazer cinema e teatro, deve se dedicar a tais coisas. E existem cursos específicos para cada coisa que se pretenda fazer na área da atuação. Não acredito muito em alguém que faça tudo bem feito e sim em alguém que faça bem poucas coisas. CF: Como funciona a carteira do ator, ela tem validade? Você pode explicar como funciona isso? DS: Existe o DRT (Delegacia de registro do trabalho – registro profissional) de ator, de bailarino, de diretor, de figurinista, de iluminador, enfim. Você pode adquirir este documento gratuitamente ao se graduar em curso superior de artes, assim como eu consegui, entendendo-se é claro que cada instituição se organiza diferente sobre este artifício. Pode-se também passar por uma banca avaliativa do SATED (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão), depois de pagar por uma taxa bem alta. Nesta banca você apresenta um currículo, fotos, matérias de jornais, cartazes, enfim, algo que prove sua vivência nesta área por um tempo

determinado, além de mostrar um trabalho artístico. Antigamente este documento não era tão usado. Hoje ele já é mais solicitado em testes, audições ou editais de produção artística. Eu mesmo usei o meu poucas vezes. CF: Tem algum ator que admira ou se inspirou para seguir carreira? DS: Existem muitos atores que admiro sim, nacionais e internacionais, aliás, os atores brasileiros em minha opinião são os melhores do mundo. Mas para seguir carreira me inspirei em grandes professores de teatro e de dança que encontrei durante minha formação. Minha primeira professora e diretora de teatro foi Fernanda Maia, uma ótima artista sorocabana que até hoje se faz presente na forma com que penso a arte, além de muitos outros com que tive contato em oficinas, cursos e na Universidade. CF: Quais as dicas que você deixa pra quem também quer seguir carreira artística? DS: Muitas dicas poderiam ser dadas, mas prefiro ficar com uma. Se você deseja de fato ser ator, viva isso intensamente, tendo-se bem claro o que a palavra viver significa CF para você.

A seguir segue umas dicas tiradas do site do ator e cineasta Fabiano Martins. DICAS PARA QUEM QUER SER ATOR Uma das principais dificuldades enfrentadas por estudantes de teatro e atores que estão iniciando na carreira é saber como decorar textos! Muitas pessoas nos perguntam se existem téc38 Maio 2012 cinefoco

nicas que facilitem este processo tão “chato” (segundo dizem). Não existe nenhuma fórmula mágica, mas vamos apresentar para vocês dicas que podem ajudar e muito! Vale lembrar que essas sugestões podem funcio-

nar muito bem com algumas pessoas e nem tanto com outras. O ator Antonio Fagundes, por exemplo, segundo o próprio, só precisa de 5 minutos para decorar seus textos na novela. Segun-


do ele, é um dom. Tá com inveja? Vamos lá!

com a gravação e logo logo estará com o texto todo decorado.

Farsa do Advogado Pathelin” (Autor desconhecido).

Observação 1: Procure se concentrar ao máximo na leitura do seu texto para melhor assimilação. Evite locais barulhentos, com circulação de pessoas ou com qualquer coisa que possa atrair sua atenção. Observação 2: Antes de qualquer dica, é importantíssimo que você leia e releia várias vezes seu texto, entenda todo o contexto da história/estória, analise seus personagens e só depois de um estudo completo, comece a decorar suas cenas.

Uma dica legal: procure dividir seu texto em faixas de áudio separadas. Assim você pode ficar voltando em cada trecho ainda não decorado, sem a necessidade de voltar demais à cena.

Pathelin – Isso não vem ao caso. O que precisamos é achar algum modo de ganhar dinheiro. Veja em que estado estão o seu vestido e a minha roupa. Até parece que estamos vestidos de gaze, como anjos de procissão.

Leia e releia o texto

Palavras-chave + Memória fotográfica

Para algumas pessoas, basta ler e reler suas cenas algumas vezes e ir assimilando aos poucos. Outras só conseguem se concentrar na decoreba se o texto for lido em voz alta. Qualquer recurso é válido e esse pode ser apenas o ponto de partida para as próximas opções.

Reescreva o texto

Tem gente que só consegue decorar seus textos reescrevendo inúmeras vezes suas cenas. Também é uma forma comum, mas não funciona com todo mundo e pode ser ainda mais demorado se comparado a outros métodos.

Grave seu texto

Tática bem comum e funcional, consiste na gravação em voz dos textos em algum dispositivo como: celulares, iPods, mp3 players ou mini-gravadores. Grave suas cenas e escute, escute, escute várias vezes. No carro, no ônibus, no trem, na academia, caminhando... Você vai perceber que aos poucos vai começar a falar seu texto junto

Utilize palavras-chave

Separar os textos em trechos e ir selecionando algumas palavras-chave pode facilitar o processo. Para cada trecho, selecione uma palavra-chave, leia e releia dando enfase à palavra selecionada. Leia e releia somente as palavras-chave inúmeras vezes.

A técnica anterior associada a imagens pode ser bem interessante também. Utilize sua imaginação ou faça pequenos desenhos (ou ainda cole recortes de jornal ou revista que estejam associados) para cada palavra-chave em questão. A sua memória fotográfica pode ser mais um recurso nesse processo.

Bata o texto com outro ator

Depois que você já estiver com praticamente tudo decorado, é bem importante que você “bata” (passe) o texto com outra pessoa. Isso é fundamental para perceber se o texto já está bem decorado e, principalmente, como estão o ritmo, as pausas e a interpretação do que está sendo dito.

Capitalize as palavras

Um recurso bem interessante, mas que funciona melhor com textos mais curtos, é o de capitalizar palavras. Ou seja, escrever com todas as letras iniciais maiúsculas. Vamos a um exemplo prático! O trecho a seguir foi extraído da peça “A

Utilizando o método de capitalização das palavras, você poderia dividir o texto da seguinte maneira: Isso Não Vem Ao Caso. O Que Precisamos É Achar Algum Modo De Ganhar Dinheiro. Veja Em Que Estado Estão O Seu Vestido E A Minha Roupa. Até Parece Que Estamos Vestidos De Gaze, Como Anjos De Procissão. Destaque as letras iniciais e procure memorizá-las: Ixxx Nxx Vxx Ax Cxxx O Qxx Pxxxxxxxxxx É Axxxx Axxxx Mxxx Dx Gxxxxx Dxxxxxx Vxxx Ex Qxx Exxxxx Exxxx O Sxx Vxxxxx E A Mxxxx Rxxxx Axx Pxxxxx Qxx Exxxxxx Vxxxxxxx Dx Gxxx, Cxxx Axxxx Dx Pxxxxxxx

Saiba mais no site do ator www.testedeelenco.com.br

Locais que se podem encontrar cursos de teatro em Sorocaba: UNISO - www.uniso.br Núcleo de Artes Cênicas (NACs) do SESI de Sorocaba - SP - www.fundecsorocaba.com.br (em Salto - SP) Ceunsp - www.ceunsp.edu.br cinefoco Maio 2012 39


CRÍTICA

Débora Carvalho

BURTON+DEPP+CARTER = TODD “Nunca se esqueça. Nunca perdoe”

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lassificado por alguns como a nova rapsódia gótica, “Sweeney Todd – o Barbeiro demoníaco da rua Fleet” é antes de mais nada uma adaptação bem sucedida da peça homônima de Stephen Sondheim e Hugh Wheeler, exibida até hoje na Broadway. O filme conta a história de Benjamin Barker, um barbeiro comum de Londres, casado e pai de uma garotinha, que é preso e exilado a mando de um juiz que cobiçava a esposa de Barker. Após ficar afastado por quinze anos ele retorna, adotando o nome de Sweeney Todd e carregando como bagagem emocional um desejo de vingança contra o juiz Turpin, responsável por seu tempo de exilo. Junta-se com a torteira Sr.ª Lovett, que tem a idéia de aproveitar as vitimas de Todd em deliciosas tortas de carne. Tim Burton dirigiu primorosamente a película, não deixando que o espectador se distanciasse do enredo nem por um segundo sequer, um feito notável, já que 90% do filme é musical. Já na abertura do filme, existem assimilações diretas de imagens com nomes, silhuetas do casal principal e então uma cabeça de leão relacionada ao nome de Alan Hickman, o “juiz Turpin” e novamente em outra cena, a cabeça do animal aparece quando citam o homem, talvez uma forma de dizer que o personagem é o predador e todos os outros as presas. 40 Maio 2012 cinefoco

Ainda falando da abertura, existe uma impressão que incomoda em relação a gota de sangue que faz as engrenagens da cadeira de barbeiro se movimentarem, o liquido é grudento e brilhante demais para sangue real, a aparência computadorizada das gotas de sangue, o que não condiz muito com todo o cenário do Séc.XVIII em que se passa o filme. Logo quando Todd começa a caminhar pela Rua Fleet, a seqüência da câmera correndo a frente dele, o tempo que ela se detém aqui e ali, sai os olhos do personagem, apreciando certas imagens e pessoas e em seguida avançando violentamente para estancar novamente. O jogo de cores frias e escuras envolta dos personagens é outra marca registrada do diretor, e pode chegar a chocar olhos despreparados, mas com o desenrolar do fil-

me, as cores sóbrias e as sombras são o toque que deu significado a vida dos londrinos de classe baixa do Sec.XVIII. Quanto à atuação, Johnny Depp passa em todas as suas expressões faciais os desejos obscuros de um homem corrompido e devorado pela vingança, indiferente as pessoas que o rodeiam e se importam com ele. Especialmente na passagem musical “Epiphany” onde Todd “brinca” de ameaçar a Sr.ª Lovett, subjugando-a em diversos momentos. Existe ainda outra revelação que foi Sacha Baron Cohen (Sr. Pirelli), não apenas cantando mas também atuando seriamente, mostrando ser capaz de fazer mais do que personagens estereotipados e caricatos como “Borat” e “Brüno”. Pirelli é um personagem curioso, apesar de durar pouco no filme, é


a personificação perfeita de uma farsa bem montada, para enganar a população ignorante. A roupa do italiano se destaca no cenário, como uma espécie de “clown” antigo, isso fica mais claro após sua apresentação musical espalhafatosa que mostra o quanto suas habilidades como barbeiro não passam de uma fachada. A película como um todo, pode ser considerada uma homenagem explicita aos filmes mudos dos estúdios Hammer (anos 20), responsáveis por pérolas como “o fantasma da ópera” (1925) com Sr. Lon Charney no papel titulo e também ao expressionismo alemão de “o gabinete do Dr. Caligari” em relação à maquiagem soturna e depressiva dos personagens.

Premiações: · 02 globos de ouro, melhor filme (musical ou comédia) e melhor ator (para Johnny Depp) · Oscar de melhor direção de arte para Dante Ferretti. Curiosidades: Depp já apresenta uma longa lista de projetos feitos com Tim Burton; ele participou de outros filmes do diretor, como Edward Mãos de Tesoura, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, Ed Wood, A Fantástica Fábrica de Chocolate e deu voz ao personagem Victor em A Noiva-Cadáver.

O tão conhecido humor negro de Burton pode ser percebido na canção “the great Pirelli” onde Todd e Lovett ironizam o tonico capilar de Pirelli, alegando ser apenas uma mistura de urina e tinta. A forma como o personagem de Depp rebate as alegações do garoto Tobby chega a ser deliciosamente cruel. E mais para frente, outra pitada de humor negro, na musica “A little priest”, vemos o casal dizer a frase “é gente devorando gente, e quem somos nós para negar?”, no entanto a expressão não esta sendo utilizada, na cabeça deles, como uma metáfora social e a forma como eles escolhem pela janela da loja de tortas, as possíveis vitimas deduzindo se tem ou não “um bom gosto” apenas realça tal impressão. Outro ponto do filme que merece atenção é o jogo de cenas escuras e com poucas cores, no cotidiano dos personagens e as coloridas e vibrantes das lembranças e sonhos. Mostra a idéia de que a realidade é cinza e apenas no sonhar é que os personagens conseguirão ter algum tipo de felicidade. Isso fica extremamente claro na passagem “by the Sea” e ainda é possível notar também como apesar de Sweeney Todd e a Sr.ª Lovett estarem morando juntos como um casal, vivem isoladamente, cada um preso ao seus próprios sonhos. Lovett sabe que esta presa em um jogo perigoso no qual sua vida esta sob o fio da navalha de Todd, e mesmo assim aceita ficar ao seu lado, isso aponta traços de uma relação masoquista já que ele em nenhum momento faz outra coisa além de enxotá-la e expulsa-la de perto. Ela implora pelo seu amor durante toda a película, de forma

velada digna dos britânicos, visível em suas pequenas expressões e frases. Os esforços são grandes, mas, como se nota na passagem “by the Sea” apesar dos sonhos da Sr.ª Lovett envolverem Todd, ele não se vê fazendo parte da vida dela. Em paralelo a todo o enredo de crime e matança temos o romance inocente de Johanna e Andrew, ameaçados pelo cruel juiz Turpin que deseja desposar a moça, sua “protegida”. Aqui é possível ver a obsessão humana, pode não ter a mãe, mas planeja ter a filha. Falando de Johanna, o que incomoda é sua voz extremamente alta quando interpreta a garota e também do ator que faz o papel de Toby, ambos cantam muito agudo, o que chega a doer os ouvidos do espectador. Talvez se eles tivessem tido mais algumas aulas de canto, houvesse alguma harmonia na hora de soltar a voz. Por fim, a obra ainda nos faz pensar vagamente na lenda de João e Maria e também remete a idéia de que seres humanos vivem para alimentar seres humanos. Uma fábula sobre antropofagia social (ricos devorando pobres) e até mesmo literal. Personagens bem estruturados e mergulhados em seus próprios dramas psicológicos, cegos para os problemas do próximo. Para quem gosta de musicais é um prato cheio, boas canções, bem compostas e interpretadas (pela revelação que foi Johnny Depp, que até então não cantava profissionalmente) e pelos próprios arranjos musicais. Agora se não gosta do gênero, passe longe para depois não se arrepender de ter CF gasto dinheiro à toa. cinefoco Maio 2012 41


FILMES

Fernando Oliveira

Da prateleira para sua casa:

Filmes que se tornam “cult” N

Repo Man - a onda punk de Alex Cox, é um exemplo disso, traduz o conceito, o estilo, o aspecto emocional que define o punk dos anos 80.

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o inverno, não há nada melhor do que alugar um DVD, comprar um refrigerante, fazer uma “pipoquinha” e enrolado na coberta assistir um bom filme. Nem todos os filmes que estão nas locadoras, passaram nas nossas salas de cinema. Um exemplo mais recente é o filme “50%”, lançado em 2011, que conta a história de Adam, um roteirista de programas de rádio de 27 anos, que é diagnosticado com um tipo raro de câncer. Alguns filmes que estão na locadora, se tornam “cults” e segundo o professor de cinema e fotografia do CEUNSP Filipe Salles, o filme ‘cult’ é quando é cultuado por algum grupo, mas essa denominação tem nuances, pois um filme pode ter um caráter cult apenas para um determinado grupo por ser muito específico. “Acho que o critério de diferenciação neste caso está na qualidade. Filmes com temáticas e climas específicos tendem a ser seletivos quanto ao público, mas existem filmes bons e ruins neste quesito, e quando o filme é bom, torna-se reconhecido como ‘cult’ até para o público que não aprecia o tema. É o caso de Star Wars, por exemplo”, diz Salles. Já o jornalista Fernando Pereira, 33, formado em Áudio Visual na UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba) diz que os filmes “cults” retratam gerações e costumes, porque os temas são atemporais, mas a fotografia e produção sempre ficam datadas. “Um exemplo é o filme ‘O exorcista’, de 1973, do diretor William Friedkin, que possue elementos como medo do mal e do oculto, que são temas universais, são atemporais, mas a fita envelhece e se torna um clássico”, diz Pereira. Segundo Salles o que leva um filme a ser cultuado é quando atende às expectativas

em termos de caráter e emoção de um determinado grupo. “Por exemplo, o filme Repo Man - a onda punk de Alex Cox, é um exemplo disso, traduz o conceito, o estilo, o aspecto emocional que define o punk dos anos 80. Por isso, todos os que se identificam com esse caráter, acabam por considerar o filme cult”, fala Salles. Pereira diz que o famoso boca-a-boca ajuda na divulgação desses filmes “cults”, que ficam perdidos nas prateleiras. “Eu indico o filme ‘Clube dos 5’, que conta a história de 5 jovens aparentemente diferente que ficam de castigo na biblioteca da escola, durante o sábado, acabam descobrindo que as diferenças são apenas de aparência. Todos tinham dramas pessoais, problemas familiares. Ele é ‘cult’ porque retrata a dificuldade de adaptação do jovem ao mundo adulto e a regras sociais. Milhares de jovens se identificaram com o filme por essa razão”, conclui. Salles também concorda com Pereira. “Um filme acaba sendo cult basicamente pela propaganda boca-a-boca. Determinadas tribos que se identificam com o arquétipo tratado num filme acabam por divulgar entre eles mesmos. A mídia, como sempre fez, apenas divulga. Se você considerar que hoje essas tribos se comunicam muito mais pela internet, então podemos dizer que ela tem papel relevante, mas não adianta apenas colocar num blog que um filme é cult. Não é a internet em si que cria esse rótulo, e sim as pessoas que se identificam com ele”, diz Salles. Indepedente do gênero que o filme pertença, sempre vai existir um grupo de pessoas que vão cultua – lo em DVD ou no cinema, como é o caso do filme Os Vingadores, que arrecadou mais de U$ 1 bilhão CF na bilheteria mundial.


PESSOA

Débora Carvalho

Os cinéfilos e a onda Cultz A

tualmente nada é mais comum do que se encontrar os chamados “pseudo-cinéfilos” que seriam aquelas pessoas que fingem gostar de filmes cults (filmes de arte ou antigos) apenas para fazerem bonito na frente dos amigos. Com a expansão da internet e o acesso as redes sociais, um numero incontável destes falsos apreciadores da sétima arte se espalhou rapidamente, misturando-se com aqueles que realmente entendem do assunto. Para Jorge Lemos, 24 anos, sua visão sobre os falso cinéfilos é bem sólida. “Entendo que a maioria das pessoas que apresentam o comportamento de “falso cinéfilo” (alguém que assiste filmes chamados “de arte” para exibir conhecimentos das obras) usam o recurso para se apresentarem como inteligentes, atualizados e tentar mascarar uma falta de sensibilidade por obras artísticas.” Enquanto que na visão de Ana Lúcia Malluffe, 40 anos, é tudo uma questão de falta de personalidade. “As pessoas tem de ser quem ela é. Se não tem cultura, tentam fingir ser alguém que não são, para não fazerem feio,” e Ana ainda complementa, “o problema não é a falta de cultura e sim a falsidade” Questionados sobre como diferenciar um verdadeiro cinéfilo de um falso, ambos concordam que o ponto crucial é “conhecimento da obra”. “O verdadeiro cinéfilo é capaz de se apaixonar pelo filme e de odiá-lo também, discorrendo sobre como afetou sua visão de mundo ter assistido aquela obra ou dizendo que não entendeu absolutamente nada, que reconhece a qualidade dos aspectos técnicos, sabe algo da história dos bastidores e consegue amar o filme como uma obra viva,” explica Lemos.

“Enquanto o verdadeiro aprecia a obra, analisando cada detalhe, o falso apenas repete as criticas que leu no jornal ou em algum site sobre cinema. Esta é a pessoa que apenas “faz de conta” que conhecesse em relação ao assunto, mas acaba apenas reproduzindo palavras de um critico famoso,” opina Ana. Em relação ao fato de se os estúdios de cinema foram um fator crucial para o crescimento desta nova vertente, as opiniões dos dois se complementam. Para Lemos “O fato dos estudios de cinema resgatarem produções e fazerem remakes e, até mesmo relançamentos em 3D, na verdade, reflete a dificuldade de explorarem novos territórios na sétima arte e de encontrar assuntos que chamem atenção, visto que atualmente estamos meio que “embotados” pelo excesso de informações,” Ao passo que Ana acredita que este não é o único fator. “O ser humano gosta de novidades. E aqui fica a diferença entre o fã e o falso fã,” para ela, o fato de os estúdios de cinema investirem em remakes e resgate de filmes antigos, nada mais é do que um reflexo do comportamento da sociedade. As redes sociais e os pseudo-cinéfilos Uma das principais ferramentas utilizadas para disseminar uma opinião sobre qual quer assunto atualmente, são as redes sociais. E no quesito filmes não é diferente. Muitos jovens buscam informações relacionadas a películas direto da rede. Na opinião de Lemos e Ana, tal prática é parte integrante do processo que fez crescer um movimento que pode ser chamado de “onda Cult”. “Redes sociais têm tudo haver, é impressionante o tempo que o jovem perde numa rede social, é um fator crucial no decinefoco Maio 2012 43


senvolvimento desta geração” afirma Ana. Na opinião de Lemos, os usuários costumam se ocultar por trás do perfil inatingível das redes sociais. “Revestido pelo anonimato das redes sociais ou pela “persona” criada para o meio virtual, ele multiplica essa informação, essa opinião, como se fosse de sua autoria. É uma espécie de necessidade de se manifestar, mesmo que não se tenha algo relevante a dizer, o importante é dar vazão à necessidade de ser reconhecido, de ser uma referência para seus pares nas redes. As redes sociais são então um veículo, que reflete todos os problemas que há em seu uso.” “O Artista” e o New-cult Quando perguntado sobre como eles viam o ganhador do Oscar 2012, o filme francês mudo, “O Artista” e se o mesmo se encaixaria em uma categoria que poderia ser chamada de “new-cult”, ambos concordam que tal classificação seria errônea. “O problema em se categorizar algo como “new cult” é que se perde um valor (outrora consolidado) Mesmo que seja para explicar/justificar a vacuidade das produções mais recentes. Mesmo que recente, se um seja recente, se um filme se sustenta filme se sustenta enquanto algo atemporal, estético, enquanto algo rico em informações e referências, não atemporal, estético, há porque não ser chamado de “cult”. rico em informações O filme foi uma forma de resgatar téce referências, não nicas, visões, “sabores” de um período há porque não ser em que o cinema era arte de qualidachamado de “cult”. de, um evento social (assim como ir ao teatro o era), não somente uma forma anestesiante de entretenimento,” explica Lemos. Ao passo que na visão de Ana, não é possível tirar uma base apenas por este filme, para ela, o mais importante é ver os atores em outras películas, para assim analisar se o desempenho deles no título em questão corresponde ao resto de seus trabalhos. “Como não vi outros trabalhos dele, não sei se poderia encaixar nesse perfil, a dica é pegar outros filmes do ator para descobrir se ele não é um sucesso de um filme só.” Definição de Cult por um cinéfilo Para ambos, este tipo de filme, está relacionado diretamente com contexto social, expondo de formas diferentes e às vezes até mesmo cruas, realidades pouco exploradas pelos grandes estúdios. Ana diz que estas produções são aquelas que trazem “algo a mais”, que trabalham com o emocional humano de forma bela, suave ou muitas vezes, crua e seca. Na visão de Lemos, estes são “filmes que abarcam referências so44 Maio 2012 cinefoco

ciais, políticas, históricas, sob um verniz estético (o que não quer dizer que traga somente imagens bonitas, mas sim bem construídas, quanto ao ponto de vista da fotografia) e se tornam atemporais, mesmo que ocorram em períodos determinados na história, seus valores conseguem atingir seus atuais e futuros espectadores.” Reconhecendo falsos cinéfilos Tanto Ana quanto Lemos tiveram contato direto com os chamados “falsos cinéfilos” e que ao primeiro contato, fica claro o desconhecimento da pessoa sobre o assunto em questão. “Quando você começa a falar de um filme/ator antigo e a pessoa então te olha com aquela expressão de que não está entendendo mais nada. Quem realmente gosta, conhece a fundo,” explica Ana. Já para Lemos, os contatos com este perfil de pessoa, são mais comuns pela internet. “Confesso que eu os encontro mais facilmente em redes sociais, quando vejo comentários que falam somente das partes mais óbvias dos filmes, sem se aprofundar em outros níveis da obra.” Para finalizar, ambos opinaram sobre o comportamento mecânico dos jovens que compõe a grande maioria deste movimento, “A onda Cult”. Enquanto que para Lemos este é um problema de cunho social, Ana acredita que a raiz está na facilidade virtual. “É um problema cultural, em que “ser” legítimo (por formação) se opõe a “ter” legitimidade (conferida pelos pares, em razão do gerenciamento de imagem do indivíduo), e somente é solucionado por uma educação de base em artes e pensamento crítico,” opina Lemos. “O problema é que o jovem é a geração click, que quer tudo fácil e não deseja esperar. Para eles é melhor ler a sinopse ou uma critica de um filme do que ver o próprio, apenas para ficarem interados do assunto,” complementa Ana. CF


CINEMA

Kleber Oliveira

As melhores e as piores adaptações do cinema O que os fãs acham das migrações do HQ, Games e livros para o cinema?

U

ma grande parte dos filmes lançados, de maneira especial no cinema americano, são adaptações de outras mídias como a literatura, games e das histórias em quadrinhos os chamados HQs. Um caso atual é o recém-lançado ‘Os Vingadores’ (The Avengers). De acordo com publicação do site de cinema Omelete do dia 06 de maio de 2012, o filme ‘Os Vingadores’ bateu um recorde que pertencia ao último filme de Harry Potter. O filme da Marvel chegou a 200 milhões de dólares nas bilheterias dos EUA e se tornou o filme que mais arrecadou no seu fim de semana de estreia superando os 169 milhões de dólares que tinha alcançado o bruxinho de Hogwarts nos seus três primeiros dias em cartaz. A adaptação dos heróis dos quadrinhos para o cinema é sucesso em todo mundo e foi muito elo-

giado pelos críticos de cinema e pelos fãs. O editor do Omelete, Érico Borgo disse em um trecho de sua crítica: “Para quem, como eu, cresceu lendo essas histórias e acompanha o Universo Marvel como um casamento de décadas (nos bons, maus e péssimos momentos), portanto, ver a reunião das franquias Homem de Ferro, Thor, Capitão América e Hulk é uma vontade realizada. E vê-la BEM realizada, um deleite”, afirma. Em uma enquete feita na rede social Facebook, foi perguntado aos fãs a opinião sobre o longa, se os que já assistiram tinham gostado ou não, e o filme da Marvel foi aceito unanimemente pelo público. A estudante de Jornalismo Tamara Araújo, 21 anos, assistiu o filme no dia 29 de abril, dois dias depois da estreia no Brasil. “Eu adorei! Sou fã de quadrinhos e foi a melhor adaptação da Marvel que já fizeram. Não consegui achar falhas no filme. Acho que todos os personagens apareceram bem, um não teve mais destaque que o outro, e isso é difícil de conciliar quando o filme tem muitos protagonistas. O grande diferencial é que foi Joss Whedon que escreveu e dirigiu o filme, e ele já escreveu algumas histórias para a Marvel, por isso era

impossível que ele cometesse algum erro na adaptação, já que ele também é fã e entende do assunto. É difícil um fã de quadrinhos gostar de uma adaptação para o cinema, mas aparentemente todo mundo gostou desse”, afirma. Realmente nem sempre essa migração agrada aos fãs assíduos do trabalho original. Na internet é possível encontrar sites e blogs que criam listas com as melhores e piores adaptações do cinema. Geralmente o critério mais utilizado para avaliar é a fidelidade com a obra original. De acordo com o estudante de direito Carlos Eduardo Oliveira, 22 anos, a melhor adaptação de quadrinho para o cinema foi “Os vingadores”. “Os demais filmes baseados em quadrinhos, não tem muito nexo com a história original”. Carlos ainda aponta como melhor adaptação de game para o cinema o filme “Resident Evil” e a adaptação literária para o cinema foi a trilogia “O Senhor dos anéis”. O blogueiro fã de quadrinhos e mangás Fabio Caparroz, 31 anos, concorda com Carlos Eduardo, que o melhor filme cuja história foi extraída de um livro foi a saga de Frodo em “O Senhor dos Anéis”. “Foi simplesmente fantástico, rico em detalhes, roteiro quase perfeito, passa emoção do inicio ao fim”, conclui. Caparroz ainda explica os critérios que utiliza para classificar um filme como bom ou ruim. “Uma adaptação tem que respeitar a obra original, seja livro, HQ, Games, cinefoco Maio 2012 45


CURTAS

Animações, Animes e mangás. Os asiáticos e os Brasileiros são melhores neste quesito do que os Americanos. Exemplos disso seriam: o brasileiro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e o mangá “Great Teacher Onizuka”, foram muito bem adaptados, fazendo muito sucesso nos países de origem”, explica. O administrador Ronaldo Luiz da Fonseca, 24 anos tem a mesma opinião. “Acredito que uma boa adaptação tem que agradar o fã que conhece a mídia original e quem não faz ideia de que a história já exista”, afirma. Fonseca aponta as piores produções adaptadas para o cinema na sua visão. Como adaptação de game ele afirma que o pior é “Resident Evil”. “A franquia Resident Evil perdeu a essência básica do jogo que era sobreviver a um extermínio zumbi”, diz. Já para os quadrinhos indica a pior adaptação “Lanterna Verde” e com relação as adaptações literárias, Fonseca diz que considera todos os filmes que assistiu aceitáveis. As próximas adaptações e mais esperadas ainda este ano são: “Branca de neve e o caçador”, “O Espetacular Homem Aranha”, “Batman – O cavaleiro das trevas ressurge”, “Amanhecer parte 2” e o “Hobbit – Uma jornada inesperada”. O jeito é confiar e esperar que os novos filmes consigam agradar a todos os tipos de fãs como está sendo com “Os VinCF gadores” até agora.

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Débora Carvalho

Uma jóia do curta-metragem musical

Os fantásticos livros

Ficha técnica Titulo original: Fantastic flying books of Mr. Morris Lesmore Ano de produção: 2011 Nome do diretor: William Joyce Roteiro: original Concorreu e ganhou: Oscar de melhor curta de animação de 2011 Além dos prêmios digitais: (para Ipad) “Best Ipad App 2011”, “App of the year 2011”

Durante os 15 minutos de filme, apresentado com um fundo instrumental; podemos acompanhar a história do senhor Morris Lessmore, que vivia em uma cidade comum, e estava na varanda de sua casa, escrevendo um livro, até que ocorre um vendaval, fazendo-o “voar” e levando-o para outro mundo, onde os livros têm vida. O filme, que foi dirigido por um ex-animador dos estúdios Pixar, nos remete simbolicamente a chegada de Dorothy à terra de Oz, já que a casa aonde ele esta, vai com ele, caindo de ponta-cabeça no chão ao aterrissar. Chegando nesta terra mágica, a imagem, até então colorida, se torna preto-e-branco, indicando a tristeza do lugar, todas as pessoas na cidade parecem desanimadas. É quando ele vê uma moça passar voando, sustentada por uma série de livros alados. Ao ver tal façanha, o rapaz, tenta fazer o livro, que trouxera com ele, voar também. Joga-o para cima, e nada. A moça olha, sorri e envia até ele, um pequeno volume de bolso até ele, para auxiliá-lo na adaptação àquele novo mundo. O Senhor Lessmore o segue, chegando até uma grande biblioteca, este local, assim como todos os outros por onde a moça voadora passou estão coloridos. Aqui começa a jornada do jovem visitante, aprendendo dia-a-dia a lidar com os inúmeros livros dentro do lugar. Ensinando-o as voar, alimentando-os com “cereais de letras”, para que cresçam fortes e saudáveis e restaurando-os quando necessário. E a história vai se desenvolvendo, até que chega o momento em que o senhor Lessmore, finalmente termina o livro que havia começado a escrever na sua cidade, e chega a hora da partida. Os livros estão tristes, mas sabem que precisam deixá-lo ir. Ele some na colina, levado por uma coleção de livros voadores e então... Chega uma garotinha perdida, que encontra a biblioteca e começa a ler os livros, e a história se repete mais uma vez. Os pontos mais marcantes neste curta-metragem são especificamente dois, o fato de que os livros têm vida e fazem parte importante da história. Sendo que uma das cenas mais interes-


voadores do senhor Morris Lessmore santes é quando Lessmore tenta restaurar um livro muito antigo. Isso se assemelha diretamente com uma operação de alto-risco. A expectativa dos livros, esperando para saber se outro irá ou não “sobreviver” é algo comovente. Além das assimilações diretas de livros com os aparelhos para verificar os batimentos cardíacos e o uso de fita adesiva, cola, linha e agulha como instrumentos para a “cirurgia”. Assim como diversas outras passagens do curta, que foi belamente trabalhado no melhor estilo de animação digital, já tão conhecido nos trabalhos do estúdio Pixar e agora, reproduzido por um estúdio da Louisiana. O outro ponto positivo tem haver diretamente com o enredo, a mensagem oculta por trás da história. De que um livro pode ser seu melhor amigo e que você deve cuidar bem dele. Isto fica claro no trecho em que o rapaz está entregando aos moradores, que até aquele momento eram cinza e tristes, livros que tem haver com seus gostos. No instante em que as mãos da pessoa tocam a capa do volume, ela ganha cor e um sorriso surge em seu rosto. A satisfação de levar informação as pessoas é algo tão agradável que Lessmore nem nota o tempo passando. Quando ele parte daquele lugar fantástico, está velho, cabelos grisalhos e deixa para trás seu livro escrito, como uma contribuição para a vasta biblioteca. O filme, que foi produzido em um pequeno estúdio da Louisiana, pode ser considerado, uma jóia de sua categoria, por trabalhar com um tema tão discutido, que é o valor da leitura pelas pessoas, de forma lúdica e suave, causando comoção e felicidade aos espectadores. Por isso fica aqui a dica, “os fantásticos livros do senhor Morris Lessmore”, para ser

visto quando você estiver se perguntando quão importante a leitura pode ser na vida de uma pessoa e por que um livro pode ser considerado um bom amigo. Uma curiosidade: segundo informações da própria Apple, o filme, foi lançado no ano passado originalmente, como um livro interativo digital para Ipad, e apenas depois, mas no mesmo ano, é que ganhou sua versão animada. No entanto, o brasileiro está lendo menos Apesar de todos os dados apresentados em relação ao curta nos parágrafos anteriores, pesquisas feitas pelo instituto Pró-livro em um período que engloba os anos de 2007 a 2011, mostrou que as pessoas passaram a dar menos atenção a leitura. Segundo a pesquisa, o numero de pessoas que havia lido ao menos uma obra nos três meses que antecederam a pesquisa – caiu de 95,6 milhões (55% da população estimada), em 2007, para 88,2 milhões (50%), em 2011. Esta diminuição no habito da leitura também foi analisada em crianças e adolescentes, que leem por dever escolar. Em 2011, crianças com idades entre 5 e 10 anos leram 5,4 livros, anteriormente 6,9 foram registrados no levantamento de 2007. O mesmo ocorreu entre os pré-adolescentes de 11 a 13 anos (6,9 ante 8,5) e entre adolescente de 14 a 17 (5,9 ante 6,6 livros). Uma pesquisa feita pelo instituto Ecofuturo mostrou que, crianças que moram próximas a bibliotecas públicas têm um desempenho melhor do que alunos que residem em áreas sem bibliotecas. Segundo a pesquisa, nestes casos, o índice de aprovação escolar pode chegar a 156% a mais enquanto que a taxa de abandono a CF leitura cai em até 46%. cinefoco Maio 2012 47


CINEMA

Fernando Oliveira

A onda dos remakes de Hollywood O

apresentador de televisão Chacrinha dizia: “Na TV nada se cria, tudo se copia!” e o cinema não foge dessa máxima. Ano após anos, são lançados remakes de filmes, ou uma nova versão do mesmo. Muita gente não sabe, mas o premiado filme “Os Infiltrados”, do diretor americano Martin Scorsese, lançado em 2006, é um remake de um filme chinês chamado Conflitos Internos, exibido em 2002. A versão americana ganhou o Oscar de melhor filme, de melhor edição

e melhor roteiro adaptado. O jornalista Fernando Pereira, 33, formado em Áudio Visual na UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba), diz que assistir remakes porque é uma oportunidade de ver a história adaptada para uma nova geração de espectadores. “Assistir um remake é algo até sociológico, gosto de ver como diferentes gerações reagem a um determinado filme e quais mudanças foram feitas pelo diretor em relação à fita original.” diz. Já o cinéfilo e Blogueiro do Festival de Curtas de Santos Waldemar Lopes, 38, conta que não é contra remakes, desde que o diretor ou produtor tenha uma idéia realmen48 Maio 2012 cinefoco

te inovadora e acrescente algo a um filme promissor que justifique uma refilmagem. “Posso mencionar Cidade dos Anjos, que é um belo filme de Wim Wenders que rendeu uma romântica e muito bem realizada versão com Nicholas Cage e Meg Ryan. Recentemente, houve a refilmagem hollywoodiana de Millenium, com Daniel Craig, Christopher Plummer e que teve até indicações ao Oscar, entre elas, a de melhor atriz para Rooney Mara”, diz Lopes. O grande diretor americano Alfred Hitchook dizia que não era contra adaptar livros para o cinema, porque estava difícil encontrar roteiros originais. Essa critica foi feita na década de 60 e o diretor americano justificou a falta de criatividade de Hollywood. De acordo com o jornalista Pereira o cinema norte americano está passando por uma crise de “idéias” e a solução encontrada são os remakes, continuações e adaptações de quadrinhos e livros. “Isso não quer dizer que não existam também boas idéias originais no cinema, o público não é bobo e o que lota os cinemas são bons filmes inéditos, basta comparar a bilheteria das refilmagens com a dos originais, A Hora do Espanto, de 1985, foi uma coqueluche, já sua refilmagem, de 2011, passou em branco pelas telas”. Conforme os dados do site FILME B (www.filmeb.com.br), sitesobre o mercado de cinema brasileiro, o remake de “À Hora do Espanto” arrecadou US$ 20 milhões, valor este que não chegou perto do investimento da produção, orçada em 35 milhões. Para o cinéfilo Lopes o cinema

americano sempre manteve um namoro com os remakes, na maioria das vezes, isso acontece porque Hollywood é uma indústria e precisa faturar alto. “Quando há uma escassez de bons roteiros, o jeito é recorrer aos remakes. Para mim, o cinema deve sempre investir em novos roteiros. O problema é encontrar gente talentosa para escrever. Não é sempre que se encontra um Ernest Lehman”, diz Lopes. Pereira concorda com Lopes. “O cinema americano continua tendo também idéias originais, como os filmes de Clint Eastwood ou de Woody Allen”, fala Pereira. De acordo com Lopes os filmes americanos, tantos os originais quanto os remakes seguem a mesma estrutura de começo, meio e fim. “Os filmes americanos são padronizados em termos de narrativa, mas existem filmes americanos que conseguem fugir dos padrões, como “Clube da Luta” e “Amnésia”, finaliza Lopes. O remake sempre vai existir no cinema, na televisão, mas o que importa é se a qualidade dele é boa ou ruim. O fato é que ele transmite a história para novas gerações e criam oportunidade de emprego na área do cinema. CF


FILMES

Cris Almeida

Filmes e história - Dicas O cinema além de entreter, é capaz ainda de incitar a reflexão e o senso crítico. A abordagem histórica de alguns, por exemplo, tem a capacidade de transportar o expectador para o passado.

• “Amém” (de Costa Gravas – 2002), mostra o envolvimento do Vaticano com o nazismo. • ‘Vidas secas’ (de Nelson Pereira dos Santos -1963), sobre a seca, fome e migração no sertão do Brasil.

Veja algumas dicas: • “1900”, de Bernardo Bertolucci. O roteiro resume a história da primeira metade do século XX, vista sob o ângulo de um camponês e seu patrão. Bertolucci afirmou nas telas do cinema o quanto o século XX foi caracterizado pela luta entre o capitalismo e o socialismo. • “Casablanca” de Michael Curtiz, o longa transmite o clima da Segunda Guerra Mundial. O próprio elenco é formado por atores de vários países diferentes, proporcionando a sensação do conflito entre os povos. • “Spartacus”, dirigido por Stanley Kubrick, é uma boa pedida para entender a Republica Romana do período antes de Cristo. O roteiro mostra a revolta liderada pelo escravo Spartacus contra o Estado romano, durante a crise de sua república e a guerra pelo poder entre Júlio César e Crassus, além de uma oposição política liderada por um personagem fictício chamado Gracus. • Em relação à idade média um dos principais títulos é “O Nome da Rosa”, escrito por Umberto Eco e filmado por Jean-Jacques Annaud. • Acerca da Idade Moderna pode ser citado “Giordano Bruno”, de Giuliano na Inquisição em 1600. • A época da Revolução Francesa é abordada em “Danton, O Processo da Revolução” de Wajda, o filme mostra a história do líder jacobino guilhotinado no período do Terror. • “Um olhar a cada dia” (de Theo Angelopoulos – 1995), foca a Grécia, mas discute também a queda do comunismo no leste europeu. • “Salvador - O martírio de um povo” (de Oliver Stone – 1986), mostra através de El Salvador, as tantas ditaduras que tivemos na América Latina. • “Os gritos do silêncio” (de Roland Joffé – 1984), sobre a tomada do Cambodja, o mesmo diretor ainda fez “A missão” (1986) que retrata o massacre de índios no Brasil do século 18.

Enfim, a lista é imensa, o cinema é muito rico em filmes com abordagens históricas. Segundo o Diretor de Cinema e Teatro e Produtor de Audiovisual, Marcelo Domingues, o principal cuidado que os roteiristas de filmes históricos precisam ter, é a pesquisa. “Antes de escrever o roteiro é necessário uma extensa pesquisa para ter total conhecimento daquilo que se abordará”, comenta. O professor de história José Adriano dos Santos, afirma que o objetivo de muitos desses filmes é lucrar e, mesmo havendo obras muito boas, elas nunca serão completamente fiéis. “A historia é muita ampla para ser retratada em apenas duas horas”, diz. Mesmo assim afirma aproveitar muitos desses filmes em suas aulas. “O Bom de trabalhar com filmes é mostrar como era aspecto visual da época e isso todos mostram bem”, esclarece. O professor ainda nos traz mais dicas. “O que é isso companheiro”, “Zuzu Angel” (de Sérgio Rezende – 2006), “O Resgate do Soldado Ryan” (de Steven Spielberg – 1998), “Amistad” (de Steven Spielberg – 1997), “Dr. Jivago” (de David Lean – 1965) e “Gladiador” (de Ridley Scott – 2000). Para o filósofo, Horácio Vieira, analisar filmes históricos requer certo cuidado. “A história que vemos nos filmes são versões, e podemos ficar a mercê de diretores a referido momento histórico. Há filmes históricos lindíssimos, mais ainda assim, visões desses períodos, e podem ser tendenciosas”, explica. De toda forma o cinema é uma arte e mesmo que não possa nos trazer a historia de volta, pode nos apresentar uma versão sobre esses fatos e servir como reflexão de CF análise desses períodos. cinefoco Maio 2012 49


CRÍTICA

Henrique Rios

O pecado da liberdade

O longa nacional Billi Pig erra pelos exageros e improvisos

U

ma bagunça projetada na tela é assim que podemos definir o mais novo longa do diretor José Eduardo Belmonte. Zé, como é conhecido, traz ao publico um filme com roteiro superficial deixando de ser interessante e virando uma confusão em forma de filme. O longa tenta narrar a história de Marinalva personagem de Grazi Massafera que tem o sonho de ser atriz e possui um simpático porquinho como fiel confidente. Marinalva é casada com Vanderlei (Selton Mello) que é dono de uma seguradora no subúrbio do rio de Janeiro, que após saber do acidente com a filha de um mafioso da sua região resolve pedir ajuda a um Padre do bairro (Milton Gonçalves) para fazer o impossível: ressuscitar a acidentada em troca de dinheiro. O personagem de Selton é um homem depressivo e pouco inspirador. O elenco é grande e o filme é desconexo do começo ao fim. A trilha sonora não se encaixa com que está sendo projetado nenhuma vez. O filme se perde em sua superficialidade e nem podemos falar de um roteiro, pois o filme parece não 50 Maio 2012 cinefoco

ter um roteiro determinado. Selton Mello em sua entrevista destacou a liberdade de criação e improviso que o diretor proporcionou ao elenco. Billi Pig não se desenvolve e temos alguns momentos de risadas bem especificas e pausadas. Um outro problema do filme é a falta de conexão entre as histórias. Em certos momentos vemos que a

está tudo junto sem a preocupação de divisão e definição de enredo e história. Não podemos nem falar de um roteiro, pois o filme parece não ter um roteiro determinado. Selton Mello em sua entrevista destacou a liberdade de criação e improviso que o diretor proporcionou ao elenco. Embora os atores sejam ca-

rismáticos os personagens não se preenchem. Maior destaque para Preta Gil que cumpre bem ao papel que foi proposto e Milton Gonçalves soube muito bem dar o tom que deveria dar para seu personagem. No geral Billi Pig é um filme ruim, com muitas falhas e bastante imCF proviso.


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