Revista Arquitetura e Aço - 31

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& ARQUITETURA AÇO

ARQUITETURA AÇO Uma publicação do Centro Brasileiro da Construção em Aço número 31 setembro de 2012

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Os Jogos Olímpicos e seu legado Logo de início, quando Londres foi escolhida como a sede das Olimpíadas 2012 não se imaginava que um novo marco poderia ser estabelecido na organização deste tipo de evento. A premissa adotada foi de que as obras se tornassem sustentáveis, tanto do ponto de vista construtivo, quanto pelo legado deixado à capital. Com isso, a transformação foi além dos aspectos físicos, atingindo o âmbito econômico e social. Além de impulsionar a reurbanização da zona leste da cidade – uma região degradada e precária de recursos –, o objetivo maior do Comitê Olímpico Internacional (COI) foi garantir que o Parque Olímpico não se transformasse em um local subaproveitado. Por isso, parte das construções será desmontada e reaproveitada para outros fins, ou para reciclagem. Nesta edição de Arquitetura & Aço dedicada aos “Jogos Olímpicos”, procuramos apresentar alguns destes aspectos. Reunimos os principais projetos de Londres, tanto de instalações esportivas quanto de infraestrutura. Em comum, todos os empreendimentos revelam a aplicação do aço como indispensável para se alcançar critérios como velocidade construtiva, flexibilidade nas formas e, sobretudo, sustentabilidade. A emblemática estação King's Cross que passou por um processo de requalificação, restauração e ampliação é um exemplo. O destaque é o novo saguão em forma de semicírculo, construído em estrutura metálica . Outra obra icônica, incorporada à paisagem londrina é a ArcelorMittal Orbit. Inteiramente em aço, com sua forma espiralada e escultórica, propicia uma visão panorâmica, tal qual um mirante para os turistas. Também mostramos duas obras que terão parte da estrutura desmontada e reciclada. Uma é o Centro Aquático, assinado por Zaha Hadid, e outra é o Estádio Olímpico de Londres, cuja capacidade será reduzida dos atuais 80 mil lugares para até 25 mil, e com múltiplos usos. Já no Velódromo, o diferencial foi o design inspirado na eficaz engenharia de uma bicicleta. O conjunto de soluções tecnológicas adotado na obra possibilitou

Divulgação/Tom Fox, SWA Group

que ela ultrapassasse as metas de sustentabilidade estabelecidas pela Olympic Delivery Authority (ODA). E ainda a Arena de Basquete, que foi a edificação que mais combinou mobilidade, leveza e o mínimo de construção possível, já que todos os seus componentes podem ser desmontados, reutilizados ou reciclados. Por fim, em entrevista, Maria Silvia Bastos Marques, presidente da Empresa Olímpica Municipal (EOM) fala sobre a preparação do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos de 2016 e sobre as melhorias realizadas na cidade. Boa leitura!

ARQUITETURA&AÇO

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Arquitetura & Aço nº 31 setembro 2012

London 2012/LOCOG

sumário Foto da capa: Estádio Olímpico de Londres

04.

10.

14.

22.

28.

32.

18.


04. Estádio Olímpico de Londres tem estrutura para uso permanente e também temporário. 10. Novo ícone da paisagem londrina, a ArcelorMittal Orbit foi estruturada inteiramente em aço. 14. Arena de Basquete: uma das maiores edificações temporárias já erguidas no mundo. 18. Inspirado na ergonomia de uma bicicleta, o Velódromo é uma das obras mais sustentáveis do Parque Olímpico de Londres. 22. Estação King’s Cross é remodelada e ganha novo acesso com cobertura semicircular metálica. 28. Projetado por Zaha Hadid, Centro Aquático exibe forma de onda. 32. À frente da Empresa Olímpica Municipal (EOM), Maria Silvia Bastos Marques fala sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016.


London 2012/LOCOG

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As Olimpíadas de 2012, realizadas em Londres, nem bem termi-

obra erguida na capital do Reino Unido

naram e já entraram para a história. O desempenho dos atletas,

para o evento.

os recordes quebrados, o quadro de medalhas, vitórias e derrotas

Assinada em conjunto pelo arqui-

esperadas ou não, enfim, emoções que só o esporte pode propor-

teto britânico Peter Cook e pelo escri-

cionar, certamente encantaram os que acompanharam os Jogos.

tório Populous, o mesmo que projetou

Entretanto, não só aspectos relacionados a modalidades esportivas

o Estádio Olímpico de Sydney (Áustra-

ganham destaque num acontecimento desse porte. Impossível não

lia, 2000), a obra está situada numa

ter assistido às cerimônias de abertura ou encerramento, por exem-

espécie de ilha em forma de diamante

plo, ou ainda a alguma das provas de atletismo e não ter ficado fas-

– entre dois cursos de água – na parte

cinado com a arquitetura do Olympic London Stadium, a principal

leste de Londres. De formato circular,

ARQUITETURA&AÇO


Na imagem, vista geral do estádio. No modo olímpico, a construção foi planejada para acomodar 80 mil espectadores. Após ser parcialmente desmontado, o objetivo é abrigar 25 mil pessoas

Arena

multiuso Palco das cerimônias de abertura e encerramento das O limpíadas e das provas de atletismo , a área onde se localiza o O lympic S tadium será transformada em um parque , com estrutura para esporte e cultura

ocupa cerca de 160 mil m2 e tem 60 m

Londres como sede das Olimpíadas de 2012, feito pelo Comitê

de altura. Foi construído com dois obje-

Olímpico Internacional (COI) em 2005. O propósito era elaborar um

tivos principais: ser um dos estádios

projeto de fácil leitura visual e de simples execução, minimizando

olímpicos mais sustentáveis da era

o peso físico da construção, o tempo de obra e a energia incorpora-

moderna e, após os Jogos, se transfor-

da em cada componente, reunidos em uma estrutura compacta e

mar num espaço útil à população local,

formada por elementos desmontáveis.

completamente integrado à cidade.

A estrutura do estádio é elegante e expressa claramente a arti-

Para alcançar tais metas, o proje-

culação baseada em diagonais de tubos de aço. Ao todo, foram

to começou a ser elaborado em 2003,

consumidas 10 mil toneladas de aço. Trata-se do estádio olímpico

antes mesmo do anúncio oficial de

mais leve já construído. Quanto à cobertura, foi pensada não só a ARQUITETURA&AÇO

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O sistema estrutural adotado para a cobertura é baseado em uma treliça circular, formando um anel de compressão periférico, contrabalançado por um anel de cabos tracionados na área central do estádio. Entre estes dois elementos, estão instaladas as torres de iluminação, que se sobressaem visualmente

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partir de aspectos arquitetônicos, mas principalmente levando-

de 532 refletores individuais, dividi-

-se em consideração as necessidades dos atletas, particularmente

dos em 14 torres que se erguem 70 m

sensíveis às condições do vento. A treliça do anel de compressão da

acima do campo.

cobertura é composta por 28 seções, cada uma com 85 toneladas e

Para atingir um equilíbrio entre as

15 m de altura e 30 m de comprimento. Cerca de dois terços da área das arquibancadas são cobertas, somando 25 mil m2.

necessidades imediatas do estádio e

Outro destaque foi a iluminação, que, além dos atletas, pre-

to seguiu o que o escritório Populous

cisava atender às exigências da transmissão televisiva, hoje em

denominou de “linguagem arquitetô-

alta definição, e ainda aos critérios de sustentabilidade. A fim de

nica e de design local”. O termo con-

evitar brilho excessivo, calor no ambiente e o alto nível de luz sobre

siste em explorar formas, sistemas de

a pista de atletismo – e considerando-se também o design com-

materiais, estrutura operacional, entre

pacto do estádio e a área de cobertura –, foram instalados cerca

outros itens necessários a uma obra,

ARQUITETURA&AÇO

as de longo prazo da cidade, o proje-


London 2012/LOCOG

limitados à área de inserção do projeto.

pronto três meses antes da data prevista e custou 10 milhões de

Com a instalação de um “canteiro de

libras a menos que a estimativa inicial.

pré-montagem” no local, para a montagem de diversos e importantes com-

Estrutura desmontável

ponentes da edificação, este aspecto

O Olympic Stadium de Londres tinha, durante as competições,

garantiu agilidade, pontualidade e

capacidade para 80 mil espectadores – a expectativa do COI era de

cumprimento dos prazos estabeleci-

que cerca de um milhão de pessoas passasse pelo local durante os

dos, uma vez que as peças de grandes

Jogos Olímpicos. Sua estrutura atual compreende, além da grande

dimensões ficaram livres das estradas

arquibancada e arena esportiva, vestiários, sanitários, estaciona-

e sistemas viários congestionados de

mentos, lanchonetes, lojas, departamento médico, entre outros

Londres. De acordo com a Olympic Deli-

ambientes. Pensando no uso do espaço após as Olimpíadas, tam-

very Authority (ODA), o estádio ficou

bém já conta com uma creche, um café independente, um estúdio ARQUITETURA&AÇO

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London 2012/LOCOG

A estrutura do estádio é composta pela articulação baseada em diagonais de aço tubular. Ao todo, foram consumidas aproximadamente 10 mil toneladas de aço. Trata-se do estádio olímpico mais leve que existe

de dança e estrutura para apoiar atividades esportivas do dia a dia,

Ainda de acordo com o diretor, os

tais como basquetebol, handebol, boxe, artes marciais, tênis de

Jogos foram um catalisador para a

mesa, voleibol, entre outras modalidades.

regeneração urbana no leste de Lon-

Após ser parcialmente desmontado, terá sua capacidade redu-

dres, o que levaria, normalmente, de 25

zida para abrigar 25 mil pessoas em uma maior diversidade de

a 30 anos de trabalho planejado pelas

eventos, tanto esportivos quanto culturais. Isso porque as arqui-

autoridades locais. “Criamos esse lugar

bancadas incluem uma camada totalmente retrátil inferior, per-

vibrante e próspero para se viver e tra-

mitindo que se transforme num grande ginásio ou numa pequena

balhar em apenas uma década. É um

arena para exposições, shows ou concertos para plateia restrita a

legado que os Jogos Olímpicos de 2012

1,5 mil pessoas. Além disso, seu projeto paisagístico está integrado

deixam para a cidade”, conclui. (C.E.) M

ao parque no qual se situa, o Royal Park, previsto para ser aberto ao público, neste novo formato, em agosto de 2013. Seu reduzido peso físico e estrutura flexível, um dos objetivos essenciais do projeto para sua construção mais rápida e sustentável, e critérios-chave da sustentabilidade – reduzir, reutilizar e reciclar – devem permitir maior agilidade na hora da desmontagem, justificando o custo-benefício da obra. “De uma perspectiva técnica, o principal desafio do estádio foi criar uma estrutura que pode ser temporária e permanente, capaz de abrigar 80 mil espectadores durante os Jogos, mas tornando-se um estádio gerenciável, com capacidade para apenas 25 mil pessoas após as Olimpíadas. Esta escala de reconfiguração nunca tinha sido feita antes", afirma o diretor sênior da Populous, Rod Sheard. 8

ARQUITETURA&AÇO

> Projeto arquitetônico: Peter Cook

e Populous > Data do projeto: 2003 > Conclusão da obra: 2012


ARQUITETURA&AÇO

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Arte e engenharia Novo ícone da paisagem londrina, a ArcelorMittal Orbit foi construída inteiramente em aço Durante as transmissões das Olimpíadas de Londres 2012,

A estrutura tem 114,5 m de altura e

uma torre de formas espiraladas chamou a atenção nas imagens

conta com dois deques de observação –

aéreas do Parque Olímpico de Londres. Trata-se da ArcelorMittal

um a 76 m e outro a 80 m de altura –, a

Orbit, uma gigantesca escultura em aço projetada pelo artis-

partir dos quais é possível ter uma visão

ta indiano Anish Kapoor e pelo engenheiro de estruturas Cecil

de até 32 km da paisagem de Londres,

Balmond, localizada entre o Estádio Olímpico e o Parque Aquático.

em qualquer direção. A ArcelorMittal

Idealizada como um mirante para a capital britânica e para

Orbit é um exemplo de acessibilida-

receber turistas durante e após os Jogos, a estrutura foi inspirada

de universal, pois todos os visitantes

na Torre de Babel e também na obra do arquiteto e escultor ucra-

são levados até os deques por meio de

niano Vladimir Tatlin, um dos precursores do movimento cons-

dois elevadores com capacidade para 21

trutivista. Com sua forma singular, uma escultura de tubos em

pessoas cada, e potencial para locomo-

aço entrelaçados, e acabamento em vermelho vivo, a ArcelorMit-

ver até 770 pessoas por hora. A desci-

tal Orbit passa a impressão de que sua estrutura está em plena

da pode ser feita pelos elevadores, mas

rotação, efeito acentuado pela escada metálica em espiral no

os visitantes são encorajados a fazê-la

exterior da construção.

também pelos 455 degraus da escada

O projeto foi concebido como uma órbita – por isso o nome Orbit –, uma jornada ou loop, uma estrutura contínua do começo ao

externa em espiral para experimentar a sensação de orbitar a estrutura. Um dado curioso e peculiar da obra

ram das Olimpíadas e dos esforços físicos e emocionais extraordiná-

é que todo o aço empregado foi forne-

rios pelos quais os atletas passam quando competem. Assim como

cido em quantidades simbólicas pelos

a escultura, a Olimpíada tem um começo e um fim, mas durante

continentes onde a ArcelorMittal pos-

as competições existe um empenho contínuo em se superar para

sui fábricas. Na verdade, o objetivo da

fazer o melhor possível.

companhia foi traduzir um pouco o

ArcelorMittal

fim. A ideia é a representação criativa que Kapoor e Balmond fize-

10 ARQUITETURA&AÇO


A estrutura da ArcelorMittal Orbit tem 114,5 m de altura e conta com dois deques de observação. Do local é possível avistar até 32 km do panorama de Londres. O acesso aos deques é feito por dois elevadores com capacidade para 21 pessoas cada. À noite, 250 refletores coloridos são programados e controlados, originando diversos efeitos especiais

ARQUITETURA&AÇO

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Fotos ArcelorMittal

Tubos de aço conformam a superestrutura entrelaçada, composta ainda por 366 conexões em formato de estrela. Na foto abaixo, à esquerda, montagem da parte superior da torre, com o arco pré-montado, sendo içado e elevado até seu local definitivo

espírito olímpico que une atletas de todas as partes do mundo. A

A grande escultura possui também

construção durou 18 meses e utilizou tubos de aço para conformar

250 refletores coloridos, que podem ser

a superestrutura entrelaçada, a qual apresenta, ainda, 366 conexões

programados e controlados individual-

em formato de estrela, com 4 m de altura cada. A obra é um marco

mente para formar combinações de

permanente e sustentável, visto que 60% das 2 mil toneladas de aço

efeitos especiais estáticos e animados,

empregadas vieram de fontes recicladas, destacando a característica

usados para shows noturnos, além de

do material mais reciclado no mundo. Segundo a ArcelorMittal, o

destacar a estrutura.

aço foi escolhido para a escultura por suas propriedades únicas, que

Novo ícone da paisagem londrina, a

incluem resistência, durabilidade, estrutura modular e vantagens

ArcelorMittal Orbit é a escultura mais

quanto à leveza e à velocidade de construção.

alta do Reino Unido e um dos legados contemporâneos da arquitetura deixados pelas Olimpíadas. Com sua forma híbrida, sua ligação entre arte e estrutura e sua dinâmica não linear, espera-se que atraia cerca de 1 milhão de pessoas em seu primeiro ano de operação. (E.F.) M

> Projeto arquitetônico: Anish Kapoor

e Cecil Balmond > Projeto estrutural: Cecil Balmond > Data do projeto: 2008 > Conclusão da obra: 2012

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Estádio Independência - MG

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Estrutura temporária

London 2012/Edmund Sumner

Vista da Arena, implantada no ponto mais alto do lote. Um dos destaques da edificação foi o tecido utilizado na cobertura, que inclui uma camada de blackout capaz de filtrar a luz do dia durante as partidas

Temporária e reciclável A Arena de Basquete, projetada para as Olimpíadas de Londres 2012 pelo escritório Wilkinson Eyre Architects, é considerada uma das

comprimento, 100 m de largura e 35 m de altura, totalizando 11,5 mil m2 de

maiores edificações temporárias já erguidas no mundo. Localizada

área bruta construída. Um dos maiores

numa área alta ao norte do Parque Olímpico – claramente visível a

destaques do projeto é, sem dúvida, sua

partir de diversos pontos do terreno –, o espaço foi palco não só dos

capacidade de desmontagem após os

jogos de basquete, mas de handebol, além de abrigar as competições

eventos esportivos. Tal característica é

dos Jogos Paraolímpicos, realizados entre 29 de agosto e 9 de setem-

obtida graças à estrutura constituída

bro. Trata-se de um exemplo de edificação que combinou mobilida-

por um pórtico de aço revestido por 20 mil m2 de painéis leves de PVC reci-

de, leveza e um conceito minimalista de construção. No total, são 12 mil assentos instalados num espaço de 115 m de 14 ARQUITETURA&AÇO

clado. Este revestimento translúcido


Construída no Parque Olímpico, a Arena de Basquete tem robustos componentes individuais que podem ser desmontados e subdivididos para possível reutilização

cobre a superfície entre pequenos ele-

ção, no entanto, pode ser montada em um outro evento, e mesmo

mentos modulados de aço que esti-

em outro país, a partir dos mesmos componentes. Considerando-

cam o tecido, solução que gerou um

-se que levou apenas seis semanas para ser erguida, tornou-se a

efeito tridimensional elegante e ondu-

obra mais rápida de todo o evento, segundo a Olympic Delivery

lado nas fachadas.

Authority (ODA).

No momento da desmontagem,

“A equipe liderada pelo Wilkinson Eyre Architects foi chamada

mais de dois terços dos materiais e

para erguer uma estrutura simples, que deveria ser desmontável,

componentes utilizados no projeto já

mas que seria utilizada para uma das modalidades mais impor-

estarão identificados para a reutiliza-

tantes dos Jogos Olímpicos, o basquete. A opção por uma constru-

ção ou reciclagem. A mesma edifica-

ção leve, executada com malha estrutural em aço foi uma solução ARQUITETURA&AÇO

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muito habilidosa e inteligente”, elogiou Dennis Hone, chefe executivo da ODA. Além da arena esportiva, o local conta com vestiários, elevadores e salas diversas interligadas por corredores – tudo instalado abaixo das arquibancadas, cujos assentos são revestidos em tons de preto e laranja em homenagem às cores da bola de basquete.

Iluminação Outro destaque da obra foi a sua iluminação. Segundo a equipe do Wilkinson Eyre Architects, o tecido da cobertura inclui uma camada de blackout que filtra a luz do dia durante as partidas. “A vantagem é que as paredes externas são translúcidas, permitindo que a luz solar seja filtrada; no entanto, à noite, a luz interna se torna visível do exterior. Além disso, manteve-se controlável a iluminação artificial para as equipes 16 ARQUITETURA&AÇO

David Poultney/Olympic Delivery Authority via Getty images

Vista interna da Arena, onde foram instalados 12 mil assentos num espaço de 115 m de comprimento, 100 m de largura e 35 m de altura


London 2012/Edmund Sumner

A estrutura de aço é constituída por diversos pórticos e por estruturas auxiliares externas revestidas por 20 mil m² de painéis leves de PVC reciclado. Este revestimento translúcido cobre a superfície entre pequenos elementos modulados de aço que esticam o tecido, solução que gerou um efeito tridimensional elegante e ondulado às fachadas

de transmissão de TV dos Jogos”, explicam os arquitetos. Especialistas em iluminação para

Membrana de PVC tipo blackout no teto

concertos e instalações trabalharam

Calha para escoamento de água pluvial

no projeto para criar, à noite, sobre a

Pele de membrana de PVC

base de PVC, efeitos de iluminação que transformam a superfície branca em

Superestrutura primária de aço

uma ampla e variada gama de cores saturadas e fortes silhuetas da subestrutura, criando a maior instalação de

Estrutura metálica tubular secundária para suporte do revestimento externo

iluminação do Parque Olímpico. (C.E.) M Tecido tipo blackout aplicado no fundo da arquibancada forma um vazio

Sistema de assentos temporários

> Projeto arquitetônico: Wilkinson Eyre

Architects > Projeto estrutural: SKM Anthony Hunts > Data do projeto: 2009

Pingadeira em aço inox na base do tecido

Placa de policarbonato retroiluminada

> Conclusão da obra: 2011

ARQUITETURA&AÇO

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London 2012

Vista geral do prédio, estruturado em aço e cuja cobertura é composta por malha de cabos

Velódromo

Considerada a obra mais sustentável de todo o Parque Olímpico de Londres, um dos destaques foi o uso de uma rede de cabos de aço na estrutura

O próprio ciclismo e a bicicleta – um objeto engenhoso, ergo-

de entrada para a arena e permite aos

nômico e aerodinâmico, de incomparável beleza e eficiência – servi-

espectadores manter contato visual

ram de inspiração para a criação do Velódromo, projeto do Hopkins

com a ação na pista, bem como a se

Architects para as Olimpíadas de Londres. “Desde o início do proces-

mover ao redor da construção. Objeti-

so de concepção, queríamos aplicar o mesmo nível de criatividade e

vando conceitos de sustentabilidade,

rigor no projeto de engenharia utilizado na fabricação de uma bici-

o formato da cobertura foi responsável

cleta. Para nós era importante que isso se manifestasse como uma

por minimizar o volume construtivo

resposta tridimensional aos requisitos funcionais da construção. A

e garantir, por exemplo, iluminação e

partir desta ideia, tanto a estética como a forma do espaço, surgiram

adequação térmica do ambiente. Nele,

naturalmente", afirrma Mike Taylor, sócio sênior do escritório.

uma malha de cabos de aço foi utiliza-

Localizado no Parque Olímpico – zona leste da capital britânica

da para cobrir totalmente a sua exten-

– numa área conhecida como Lower Lea Valley, a obra começou a

são – sistema semelhante a uma raque-

ser erguida em fevereiro de 2009, durou cerca de dois anos e custou

te de tênis. Os sistemas baseados em

95 milhões de libras. O prédio tem capacidade para seis mil pessoas,

cabos trabalham tracionados, e, neste

uma pista de 250 m e 35 m de altura. E, de fato, o que mais chama

caso, a tração atua sobre um anel de

a atenção são justamente os aspectos estéticos e a forma. Com

compressão no perímetro da cobertura.

estrutura em aço e revestimento em madeira, o prédio se resume a

“Montar esta rede de cabos nos trou-

uma base, chamada bowl, com uma cobertura em dupla curvatura

xe dois desafios principais. O primei-

e extremamente diferenciada.

ro era que a área interna precisava de

As arquibancadas inferior e superior são separadas pelo saguão

uma cobertura leve e graciosa, previs-

principal, de circulação pública, que constitui o principal ponto

tas no projeto arquitetônico inicial, que

18 ARQUITETURA&AÇO


isolasse as condições climáticas exter-

força de tensão gerada para fora dos cabos, evitando a utilização

nas, em função até do desempenho dos

de uma grande viga periférica circular. Em resposta, a construção

atletas. O segundo era o forte desejo de

em aço da arquibancada superior e toda a estrutura de baixo foram

reduzir os componentes da estrutura

projetadas para receberem esta força, sendo necessário apenas um

para garantir a leveza”, explica um dos

pequeno anel de compressão periférico.

engenheiros responsáveis, Chris Wise,

A partir de um redesenho do projeto inicial e levando em consi-

completando que este duplo desafio

deração as vantagens da rede de cabo, não só arquitetônicas e estru-

apresentou o maior obstáculo de enge-

turais, mas de custos, agilidade e eficiência, o Velódromo ganhou

nharia estrutural do projeto.

novas dimensões, pesos e medidas: a previsão de 1,6 mil toneladas de aço do projeto inicial, para uma área de pista de 6 mil m2 e cober-

O primeiro passo, consistiu em projetar painéis de fechamento que se diferenciassem dos cabos de aço e formassem a superfície do telhado.

tura de 11,7 mil m2, totalizando 130 kg/m2 de aço, foi reduzida, ao final para mil toneladas de aço, com área de pista de 3,7 mil m2 e

13,3 mil m2 de cobertura, totalizando 79 kg/m2 de aço.

Estes painéis rígidos, em madeira,

Sustentabilidade

to e tolerâncias necessários em uma

O Velódromo é a obra mais sustentável do Parque Olímpico. De

cobertura estruturada em cabos – com

todas as metas de sustentabilidade estabelecidas pela Olympic

movimentos maiores e mais comple-

Delivery Authority (ODA) para os projetos dos Jogos, foi o único

xos do que uma cobertura-padrão –,

que alcançou e até ultrapassou os requisitos. “Nossa estratégia de

por meio de um sistema inteligente

projeto para a construção foi focada em minimizar a demanda por

e racional de conexão articulada. Tal

energia e água, integrando-as na estrutura do edifício para reduzir

sistema envolveu a transferência da

a dependência de sistemas e infraestrutura”, diz Mike Taylor.

London 2012

precisaram ser adaptados ao movimen-

Na parte interna, a pista com 250 m e 35 m de altura. Por meio de claraboias o Velódromo utiliza luz natural na maior parte do tempo. Aberturas nas laterais fornecem ventilação, também natural ARQUITETURA&AÇO

19


Aaron Moore

A estratégia de iluminação natural da arena principal de ciclismo exemplifica esta abordagem. Em vez de investir em painéis fotovoltaicos na cobertura ou em outras tecnologias, optou-se pelo uso de claraboias para fornecer luz suficiente para fins de treinamento, por exemplo, durante a maior parte do ano. Vidros difusores especiais foram utilizados para prevenir que manchas de luz solar aparecessem na pista, e oferecendo um elevado nível de luz difusa no interior do edifício. Energeticamente eficiente, a iluminação artificial é conectada a um sistema de controle inteligente que permite fornecer elevados níveis de iluminação durante grandes eventos. Tal solução atinge o melhor equilíbrio entre a economia de energia devido ao uso de luz natural, sem incorrer em áreas excessivamente envidraçadas, o que comprometeria a estratégia térmica do Velódromo. A arena principal é altamente isolada e ventilada naturalmente, reduzindo a demanda de energia. Uma extensa e detalhada Todo o revestimento externo do Velódromo é feito em lâminas de madeira. Na foto acima, observam-se as aberturas para a ventilação natural do ginásio

simulação computacional foi utilizada para aperfeiçoar os requisitos dimensionais para as entradas e saídas de ar, com o objetivo de atingir o nível exigido de ventilação. Estas, por sua vez, estão perfeitamente integradas à fachada e, em combinação com o isolamento térmico, permitem refrigeração passiva do ambiente mesmo no verão. Um sistema de reuso de água da chuva prevê uma redução anual de até 75% do consumo de água no local. (C.E.) M

> Projeto arquitetônico: Hopkins

Architects Na ilustração acima, corte da estrutura metá-

> Data do projeto: 2007

lica que suporta as arquibancadas e das

> Conclusão da obra: 2011

diversas camadas que compõem a cobertura

20 ARQUITETURA&AÇO


Longos • Planos • Mineração • Distribuição

www.arcelormittal.com/br ARQUITETURA&AÇO

21


Entre o

moderno e o antigo

Hufton & Crow

King’s Cross, em Londres, é remodelada e ganha novo acesso com cobertura semicircular metálica

22 ARQUITETURA&AÇO


A transformação da estação criou um diálogo notável entre a estação original, de Cubitt, e a arquitetura do século XXI

ARQUITETURA&AÇO

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A superestrutura abobadada, construída com 1.200 toneladas de aço, tem cerca de 15% da sua área de cobertura revestida com vidro (foto a esquerda) para a entrada de luz natural. À direita, imagem do saguão, cuja cobertura é apoiada em um conjunto de colunas principais em aço, que se ramificam dando origem a uma malha reticulada que estrutura a cobertura, e se apoia na extremidade em outras 16 colunas menores

Saguão A principal intervenção aconteceu a oeste da estação, com o projeto de um pátio coberto por uma estrutura metálica semicircular com um vão de 150 m de largura e 20 m de altura em seu ponto mais alto. Este novo saguão foi recoberto em parte por telhas metálicas, mas também Fotos Hufton & Crow

com grande área revestida em vidro, favorecendo a entrada de luz natural no local. O arquiteto John McAslan explica que a cobertura se apoia em um elemento estrutural, formado por cinco colunas tubulares, de onde partem vigas ramificadas, como galhos O transporte ferroviário da Inglaterra é mundialmente

de árvores, para todo o perímetro

conhecido por sua pontualidade e eficiência, e também pelas belas

do semicírculo.

estações, muitas delas centenárias. Um dos melhores exemplos é a

O novo saguão de 7.500 m2 se

estação King’s Cross, erguida em 1852, em Camden, Londres, e que

conecta à parte oeste da estação, que

recentemente passou pelo maior projeto de restauração e reestru-

mantém as características arquitetô-

turação de sua história.

nicas originais. Além disso, é um dos

Projetada pelos arquitetos John McAslan + Partners (JMP), a

maiores vãos livres estruturais den-

obra levou oito anos, e 500 milhões de libras esterlinas, para ficar

tre as estações europeias. Segundo o

pronta a tempo de recepcionar os turistas durante as Olimpíadas.

arquiteto, além de ampliar os recursos

A transformação envolveu três operações arquitetônicas bas-

disponíveis para o embarque de pas-

tante complexas: requalificação, restauração e ampliação, com

sageiros, o saguão acentua as ligações

modificações principalmente nos galpões de trem, enquanto as

com o metrô de Londres, com as linhas

outras edificações tiveram de ser adaptadas e reutilizadas. A facha-

de ônibus, táxis e conexões com a reno-

da de Grau 1 (classificação que se refere aos Listed Buildings, edi-

vada estação do Eurostar, St. Pancras.

ficações de graus de importância hierárquicas e relevantes para o contexto histórico do Reino Unido) recebeu restauro detalhado,

Fachada oeste

além da ala oeste e do saguão oeste da King’s Cross, que se tornou

Para John McAslan, a fachada oeste

o destaque do projeto. A obra também reorientou a estação para

da estação tem grande valor histó-

oeste, criando melhorias operacionais importantes e revelando a

rico e concentra diversas funções.

fachada sul do projeto original criada por Lewis Cubitt.

Complexa em planta e articulada em

24 ARQUITETURA&AÇO


cinco edificações, sua renovação possibili-

arrojada da fachada sul original, com as empenas norte e sul reen-

tou melhorias nas condições de trabalho

vidraçadas e as plataformas remodeladas. As duas coberturas abo-

das equipes da estação e de manutenção

badadas foram remodeladas e adaptadas para economizar energia

da rede de trilhos, além das companhias

por meio de um conjunto de painéis fotovoltaicos instalados ao

de operações de trens. A ala norte, des-

longo das lanternas lineares do teto, enquanto uma nova passarela

truída por um bombardeio durante a

envidraçada estende-se desde o mezanino do saguão oeste, passando

Segunda Guerra Mundial, foi reconstruí-

pelo galpão principal de trem com acesso às plataformas por meio de

da a partir de seu desenho original.

elevadores e escadas rolantes. A transformação ambiciosa da estação cria um diálogo notável

Galpões de trem

entre a estação original, de Cubitt, e a arquitetura do século XXI.

A gare principal tem 250 m de compri-

Esta relação entre o antigo e o novo eleva a posição da King’s Cross

mento, 22 m de altura e 65 m de vão,

como uma referência de modernidade aos transportes, enquan-

estendendo-se sobre oito plataformas.

to revitaliza e revela um dos grandes monumentos férreos da

Sua restauração revela a arquitetura

Grã-Bretanha. (E.F.) M ARQUITETURA&AÇO

25


© John McAslan & Partners Fotos Hufton & Crow

Na foto acima, detalhe da montagem da estrutura da cobertura do saguão oeste. O corte apresenta tanto o galpão original, à esquerda, como o prédio intermediário no centro e o novo saguão, à direita. À esquerda, detalhe da instalação das placas metálicas da cobertura

> Projeto arquitetônico: John McAslan +

Partners > Data do projeto: 2004 > Conclusão da obra: 2012

26 ARQUITETURA&AÇO


ARQUITETURA&AÇO

27


Design futurista

London 2012/LOCOG

Estrutura em aço confere forma fluida ao Centro Aquático de Londres

Inovador, complexo e robusto. Este é um bom resumo das

começar, 11 edifícios industriais tive-

características do Centro Aquático de Londres, projetado pela reno-

ram de ser demolidos e cerca de 160

mada arquiteta iraquiana Zaha Hadid, obra de grande destaque

mil toneladas de solo foram escava-

nos Jogos Olímpicos 2012. A construção, que teve início em 2008 e foi entregue em 2011, localiza-se em um terreno de 36.875 m2 no

das, em uma área considerada uma

sudeste do Parque Olímpico, sobre um eixo ortogonal perpendicu-

Além disso, quatro esqueletos de cons-

lar à ponte Stratford City. Porém, antes que a construção pudesse

truções preexistentes ainda foram

28 ARQUITETURA&AÇO

das mais poluídas do Parque Olímpico.


removidos de um assentamento pré-

localizadas as piscinas de natação e mergulho. No subsolo, foi cons-

-histórico descoberto no local.

truída a piscina de treinamento. Devido à falta de luz natural no

Inspirado na forma de uma onda, o

local, cerca de mil lâmpadas foram instaladas no teto, que apresenta

partido reflete a paisagem ribeirinha local e possui cobertura ondulada, que

recortes em formato de pétalas, simulando claraboias. A cobertura tem 11 mil m2 e vence um vão livre de 160 m de

ao mesmo tempo unifica os espaços

comprimento. A sua largura máxima atinge 90 m. Somente a estru-

internos e define o volume onde estão

tura demandou 2,8 mil toneladas de aço. Esta estrutura apoia-se em ARQUITETURA&AÇO

29


Corte longitudinal

Corte transversal

dois núcleos de concreto localizados na sua extremidade norte, e sobre uma parede do mesmo material no extremo sul. A cobertura é composta por uma série de treliças de longos vãos que abrangem o Centro Aquático a partir de uma treliça transversal montada sobre a parede sul e outra que abrange os núcleos do norte. Todas as treliças são formadas a partir de perfis de seção “H” London 2012/LOCOG

fabricados especialmente para a obra. As espessuras das chapas das seções dos perfis variam ao longo do comprimento das peças para assegurar o uso eficiente do material, compreendendo entre 8 mm e 120 mm. No local, os membros foram aparafusados para produzir peças estruturais de 30 m a 40 m de comprimento. Antes da construção, foram desenvolvidos diversos modelos tridimensionais de cada peça em aço utilizada no teto, a fim de garantir a qualidade de fabricação. A cobertura foi projetada para ser fixada a partir de seu lado

Acima, o teto em grelha possui recortes em formato de pétalas que simulam claraboias para a entrada de iluminação natural durante o dia. Ao lado, imagem do Centro Aquático após os Jogos com áreas ocupadas pelas instalações temporárias agora fechadas por vidro

norte deslizando até o sul. Mas, devido a limitações do local, foi necessário percorrer o caminho inverso, começando com a elevação

> Projeto arquitetônico: Zaha Hadid

da treliça transversal sul, que pesava pouco mais de 70 toneladas.

> Projeto estrutural: Ove Arup & Partners

Somente para esta etapa foi necessário o uso de três gruas. Quando a cobertura estava 50% concluída, uma das linhas de cavaletes intermediários, que suportavam a estrutura, tiveram de ser 30 ARQUITETURA&AÇO

(London, Newcastle) > Data do projeto: 2007 > Conclusão da obra: 2011


removidas para permitir a escavação

anticorrosão. Na parte interna do Centro Aquático, tiras de madeira

de uma das piscinas. Para tanto, o teto

compensada recobriram todo o teto.

foi elevado em uma de suas partes.

Seguindo critérios de sustentabilidade, 100% de agregado reciclado

Contudo, duas linhas principais de

utilizado no concreto do interior do Centro Aquático e a utilização de

cavaletes tiveram de ser mantidas na

escória granulada de alto forno, um subproduto da produção do aço,

mesma posição até que a estrutura

reduziram a exigência de cimento em 50%. A água das piscinas tam-

estivesse completa. Após a conclusão,

bém é reutilizada para a lavagem dos banheiros. Já o fechamento em

a cobertura foi suspensa por quatro

vidro garantirá toda a iluminação natural do equipamento esportivo.

equipamentos hidráulicos montados em torres temporárias ao sul, despren-

Capacidade

dendo-se aos poucos dos apoios cen-

A área total construída do Centro Aquático é de 42.866 m2, o sufi-

trais até assumir a posição final.

ciente para acomodar 17,5 mil espectadores durante os Jogos de

Os arquitetos destacam que, devido

Londres 2012, no seu modo “olímpico”. Para isso, foram construídos

à geometria do telhado, foram forma-

dois pavilhões temporários em aço, que receberam as arquibanca-

dos dois arcos nas asas leste e oeste.

das extras. Ao final dos Jogos, estas duas estruturas serão remo-

Sob uma carga uniforme, esses arcos opostos e inclinados equilibram um ao

vidas e recicladas, reduzindo a capacidade do local para 2,5 mil lugares em 2.529 m2. Para os arquitetos, a vantagem é que o espaço

outro, formando um anel de compres-

é flexível, pois na ocasião de grandes eventos na cidade ainda pode-

são em todo o perímetro.

rão ser adicionados mil lugares. Como legado das Olimpíadas, a comunidade local terá à disposi-

corrosivo, toda a estrutura de aço foi

ção duas piscinas de 50 m e uma piscina de mergulho. Com a retira-

revestida com tinta à base de silicato

da das estruturas da arquibancada temporária, o Centro Aquático

de zinco, como forma de tratamento

terá realçada a sua forma ondulada. (M.C.S.) M

London 2012/LOCOG

Devido ao ambiente altamente

ARQUITETURA&AÇO

31


Rumo ao Rio 2016 Presidente da Empresa Olímpica Municipal (EOM), a eco-

ficação – a necessidade de energia, os

nomista Maria Silvia Bastos Marques fala sobre a preparação do

dispositivos de controle e a relação com

Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2016. A exemplo de Londres,

o entorno natural ou construído. A meta

a preocupação com a sustentabilidade será fator essencial nos

da Empresa Olímpica Municipal é forta-

projetos olímpicos. Fortalecer a cultura do planejamento detalhado

lecer a cultura do detalhado planejamen-

para cada etapa das obras e aproveitar o evento para construir um

to prévio de cada etapa das obras. Com

importante legado para cidade são metas prioritárias da EOM.

este pensamento, cada projeto vai colaborar com a criação de uma comunidade

AA – As Olimpíadas de Londres incorporaram conceitos com ênfase

mais sustentável em todos os sentidos.

na sustentabilidade construtiva. Este também é um compromisso

AA – Como têm sido tratados os impor-

para os projetos dos Jogos Olímpicos Rio 2016?

tantes desafios ambientais, sociais e

MS – Certamente; porém, antes, é preciso lembrar que para um pro-

econômicos relacionados às obras para

jeto ser considerado sustentável é preciso analisar todo o processo

a realização dos Jogos Olímpicos?

construtivo, desde a preparação do terreno, as demolições necessárias,

MS – Esta é uma oportunidade única

os materiais selecionados e sua forma de utilização. Também são

para o Rio de Janeiro. Todos os projetos

avaliadas as práticas construtivas internas e externas ao canteiro

têm como preocupação a sustentabili-

de obras, o transporte de materiais e os padrões de consumo da edi-

dade e o legado para as diversas regiões

32 ARQUITETURA&AÇO


da cidade onde acontecem as competi-

Em relação à questão ambiental, os projetos têm como base

ções. Para cada uma, foi feito um plane-

quatro pilares: conservação de água, gestão de energia, controle de

jamento distinto, de acordo com o perfil

emissões e resíduos sólidos e responsabilidade social. Nas obras ou

da área. Copacabana e Flamengo, por

demolições, a Prefeitura já adota como padrão a reciclagem de todo

exemplo, concentrarão instalações pro-

o resíduo reutilizável, verdadeiras “usinas de reciclagem” são ins-

visórias, já que o adensamento popula-

taladas nos canteiros de obras. Quanto à área econômica, é impor-

cional da área não permite construções

tante ressaltar que a Prefeitura buscou alternativas para diminuir

permanentes. As obras relacionadas à

a utilização de recursos públicos e atrair investimentos privados.

mobilidade certamente trarão inúmeros

Tratam-se das parcerias Público-Privadas (PPPs), uma opção para

benefícios à população. Embora sejam

alcançar este objetivo, uma vez que não oneram o orçamento públi-

fundamentais para os Jogos, privilegiam,

co e, ao mesmo tempo, permitem a realização dos projetos, como

sobretudo, as necessidades da cidade. A

a revitalização da Zona Portuária e as construções do Centro de

Transoeste, por exemplo, ligará a Barra à

Operações, do Parque Olímpico e da Vila dos Atletas.

Santa Cruz e Campo Grande, dois bairros que não receberão competições esporti-

AA – As empresas privadas estão engajadas com a sustentabilidade

vas, contudo, carentes de transporte efi-

dos empreendimentos?

ciente de alta capacidade.

MS – Sim. O Rio de Janeiro passa por uma fase muito especial, de ARQUITETURA&AÇO

33


crescimento e atração de novos investimentos. A preparação para os

frutos permanentes. Será uma impor-

Jogos Olímpicos mostra que já existe uma mobilização de diversos

tante ferramenta de divulgação, forta-

setores em prol do crescimento da cidade. Vemos cada vez mais a valori-

lecendo “a marca Rio de Janeiro”, cida-

zação dos empreendimentos com “selos verdes” e ações de preservação

de que é destino turístico de eventos e

do meio ambiente. O número de empreendimentos “verdes” é cada vez

negócios. A expectativa, na verdade, é

maior e o Brasil já é um dos cinco países com maior número de pré-

de que o evento se transforme em cata-

dios certificados ou em processo de certificação. Em relação aos Jogos

lisador de projetos e ações por toda a

Olímpicos, as empresas envolvidas têm trabalhado em parceria com a

cidade, acelerando os processos e esti-

Prefeitura para cumprir os compromissos de sustentabilidade estabele-

mulando o engajamento da população.

cidos pelo Dossiê de Candidatura.

Este, aliás, é outro grande desafio: que os próprios cariocas trabalhem em prol

AA – De que maneira o Parque Olímpico poderá alavancar o desen-

das melhorias, por meio do seu apoio e

volvimento social do seu entorno e também de infraestrutura local?

de sua conhecida empolgação.

MS – O Plano Diretor, escolhido em concurso internacional de arquitetura, prevê a utilização posterior do Parque Olímpico. Para se ter

Por dentro do projeto

ideia, até 2030, equipamentos esportivos e novos empreendimentos

Desde outubro de 2009, quando

formarão um novo bairro residencial – de tamanho equivalente ao

foi anunciado como sede dos Jogos

Leme. Um bairro com eficiência energética, sustentabilidade e aces-

Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, o

sibilidade. E, ao contrário da maioria dos condomínios da Barra da

Rio de Janeiro se prepara para receber

Tijuca, será um bairro aberto e atendido por duas das novas linhas de

atletas e visitantes do mundo todo no

BRT, a Transoeste e a Transcarioca. Além disso, um dos objetivos é que

maior evento esportivo a ser realizado

o local se torne um dos principais legados esportivos, pois encerradas

na América do Sul. A cidade passará por

as competições, acomodará ainda o Centro Olímpico de Treinamento,

transformações urbanas e sociais, será

voltado para atletas de alto rendimento.

dividida em quatro zonas que acomodarão as 28 modalidades de competições

AA – Com relação às contribuições que os Jogos Olímpicos podem

olímpicas: Barra da Tijuca, Maracanã,

trazer para a cidade, quais destacaria como mais importantes?

Copacabana e Deodoro. É na Barra da

MS – No que se refere ao legado tangível, depois de 2016, a intenção é

Tijuca que ficará a maior das instala-

melhorar a qualidade de vida da população. No setor de transportes,

ções: o Parque Olímpico, construído

haverá a implantação de um novo sistema de ônibus expressos e de alta capacidade (BRTs). Uma das metas é diminuir o tempo de deslocamento

sobre um grande terreno de 1,18 milhão m2, o principal local de disputas e palco

dos cidadãos. Dessa forma, até 2016, o uso de transportes de alta capa-

de 20 esportes olímpicos. Já a Arena

cidade passará de 20% para 60%, beneficiando milhares de pessoas por

Olímpica, o Centro Aquático Maria Lenk

dia. Já no setor de infraestrutura urbana, o Porto Maravilha é um dos

e o Velódromo Olímpico, construídos

principais projetos, pois revitalizará completamente a região portuária.

para os Jogos Pan-Americanos de 2007,

Outro investimento é na rede hoteleira da cidade. Para aumentar a ofer-

serão reaproveitados.

ta de quartos de hotéis no Rio de Janeiro, a Prefeitura lançou um con-

Toda a proposta urbanística está

junto de incentivos, com ótima resposta do setor. Mais de 11 mil novos

sendo desenvolvida pelo escritório

quartos de hotéis já foram licenciados ou estão em licenciamento na

Aecom Architecture, que tem sua base

Secretaria Municipal de Urbanismo.

em Londres, com unidades e projetos

Além dos projetos diretamente associados aos Jogos, o evento

em várias partes do mundo, em parceria

ainda impulsiona o desenvolvimento de outras ações que renderão

com o DG Arquitetura e Planejamento.

34 ARQUITETURA&AÇO


Mais informações: Empresa Olímpica Municipal, www.rio.rj.gov.br

O escritório também será responsável

soluções, serão adotados sistemas industrializados com estruturas e

pela recuperação da lagoa existente no

coberturas em aço em algumas edificações.

entorno do terreno, iluminação, pavi-

A construção e manutenção do local é de responsabilida-

mentação de ruas, entre outras melho-

de do Consórcio Rio Mais, formado pelas construtoras Norberto

rias na região.

Odebrecht, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken. Já a Prefeitura do

Assim como Londres, uma vez que

Rio de Janeiro ficou responsável pela execução das obras do Parque

se trata de um complexo com instala-

Aquático, Centro de Tênis e Centro Internacional de Transmissão

ções temporárias e permanentes e, em

(IBC), entre outros. Tais projetos serão realizadas com recursos do

favor da sustentabilidade, entre outras

Governo Federal. (N.F.) M

Endereços > Escritórios de Arquitetura Aecom Architecture www.aecom.com

United Kingdom Tel.: +44 (0)20 7724 1751 E-mail: mail@hopkins.co.uk www.hopkins.co.uk

DG Arquitetura End.: Av. Rui Barbosa, 170 / 1303, Rio de Janeiro (RJ) Tel.: (21) 3624-1907 www.dg-arq.com

John McAslan + Partners (JMP) End.: 7-9 William Road London NW13ER Tel.: +44(0) 201313 6000 www.mcaslan.co.uk

Hopkins Architects End.: 27 Broadley Terrace, London NW1 6LG,

Peter Cook – CRAB studio End.: 50A rosebery Avenue

EC1R 4RP London, UK Tel.: 0044(0)2078374262 E-mail: info@crabstudio.ne www.crab-studio.com Populous End.: 14 Tribunal Blades Deodar Estrada London – SW15 2NU Tel.: +44 (0) 208 874 7666 E-mail: info@populous.com www.populous.com Wilkinson Eyre Architects

End.: 33 Bowling Green Lane, London EC1R 0BJ Tel.: +44 (0)20 7608 7900 E-mail: info@ wilkinsoneyre.com www.wilkinsoneyre.com Zaha Hadid Architects End.: 10 Bowling Green Lane, Londres , EC1R 0BQ Tel.: +44 20 7253 5147 www.zaha-hadid.com

Anish Kapoor www.anishkapoor.com

> PROJETO ESTRUTURAL Cecil Balmond www.balmondstudio.com Ove Arup & Partners www.arup.com S K M Anthony Hunts www.skmconsulting.com ARQUITETURA&AÇO

35


expediente

Material para publi­ca­ção: Contribuições para as próximas edições podem ser enviadas para o CBCA e serão avaliadas pelo Conselho Editorial de Arquitetura & Aço. É desejável o envio das seguintes informações, em mídia digital: desenhos técnicos do projeto, fotos da obra, dados do projeto (local, cliente, data do projeto e da construção, autor do projeto, projetista estrutural e construtor) e referências do arquiteto (telefone, endereço e e-mail).

Números ante­rio­res: Os números anteriores da revista Arquitetura & Aço estão disponíveis para download na área de biblioteca do site: www.cbca-acobrasil.org.br A&A nº 01 - Edifícios Educacionais A&A nº 02 - Edifícios de Múltiplos Andares A&A nº 03 - Terminais de Passageiros A&A nº 04 - Shopping Centers e Centros Comerciais A&A nº 05 - Pontes e Passarelas A&A nº 06 - Residências A&A nº 07 - Hospitais e Clínicas A&A nº 08 - Indústrias A&A nº 09 - Edificações para o Esporte A&A nº 10 - Instalações Comerciais A&A nº 11 - Retrofit e Outras Intervenções A&A nº 12 - Lazer e Cultura A&A nº 13 - Edifícios de Múltiplos Andares A&A nº 14 - Equipamentos Urbanos A&A nº 15 - Marquises e Escadas A&A nº 16 - Coberturas A&A nº 17 - Instituições de Ensino II A&A nº 18 - Envelope A&A nº 19 - Residências II A&A nº 20 - Indústrias II A&A Especial – Copa do Mundo 2014 A&A nº 21 - Aeroportos A&A nº 22 - Copa 2010 A&A nº 23 - Habitações de Interesse Social A&A nº 24 - Metrô A&A nº 25 - Instituições de Ensino III A&A nº 26 - Mobilidade Urbana A&A nº 27 - Soluções Rápidas A&A nº 28 - Edifícios Corporativos A&A Especial – Estação Intermodal de Transporte Terrestre de Passageiros A&A nº 29 - Lazer e Cultura A&A nº 30 - Construção Sustentável

Próxima EdiçÃO: - Instalações Comerciais 36 ARQUITETURA&AÇO

Revista Arquitetura & Aço é uma publicação trimestral do CBCA (Centro Brasileiro da Construção em Aço) produzida pela Roma Editora. CBCA: Av. Rio Branco, 181 – 28º andar 20040-007 – Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 3445-6332 cbca@acobrasil.org.br www.cbca-acobrasil.org.br Conselho Editorial Catia Mac Cord Simões Coelho – Aço Brasil Roberto Inaba – Usiminas Ronaldo do Carmo Soares – Gerdau Açominas Silvia Scalzo – ArcelorMittal Tubarão Supervisão Técnica Sidnei Palatnik Publicidade Ricardo Werneck tel: (21) 3445-6332 cbca@acobrasil.org.br Roma Editora Rua Simão Álvares, 356, cj. 12 – 05417-020 – São Paulo/SP Tel. (11) 3061-5778 cbca@arcdesign.com.br Direção Cristiano S. Barata Coordenação Editorial Nádia Fischer Redação Camila Escudero, Érica Fernandes, Maria Clara Souza e Nádia Fischer Revisão Deborah Peleias Editoração Cibele Cipola (edição de arte), Emílio Fim Neto (estagiário) Pré-impres­são e Impres­são www.graficamundo.com.br Endereço para envio de material: Revista Arquitetura & Aço – CBCA Av. Rio Branco, 181 – 28º andar 20040-007 – Rio de Janeiro/RJ cbca@quadried.com.br

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