Surf Casting
ISCOS NO SURF CASTING
O PODER DOS CEFALÓPODES Quando pensei no isco a escolher para este artigo, lembrei-me de muitos, mas a escolha acabou por recair num que, a meu ver, ainda é pouco explorado pelos pescadores, principalmente pelos iniciantes, ávidos de capturas em número, ignorando o poder dos cefalópodes.
O
choco, a lula e o polvo, através do seu ‘bucho’, formam um isco de eleição para a prática de surf casting. Há muitos anos que os utilizo com óptimos resultados e têm sido eles os responsáveis pelas melhores capturas e pescarias que fiz e vi fazer, em termos de tamanho dos exemplares. Acredito que muitos julguem que o choco, a lula e o polvo raramente dão resultado, mas estão enganados. Se analisarem ao detalhe, a maioria dos peixes tem os cefalópodes como dieta alimentar, e quase todos os peixes desejados pelos pescadores de surf casting adoram estes iscos. Os cefalópodes percorrem as nossas praias durante todo o ano, e são um isco muito guloso e nutritivo para os peixes que tanto procuramos. Os grandes robalos, os sargos, as bailas, as corvinas e as douradas adoram uma boa tira de
TEXTO e IMAGENS Filipe Condinho (www.pesqueiro.pt)
choco fresca, uma lula da arte ou um bucho de polvo. Diria que os grandes exemplares não lhe resistem. É verdade que não serão os iscos que produzem mais actividade na maioria dos dias, mas são um dos melhores iscos para a cap-
tura de um grande exemplar, para mim o melhor. Nas praias, os grandes robalos, sargos e douradas procuram-nos, e nos estuários as grandes corvinas e robalos são loucos por uma boa iscada destes moluscos marinhos.
A iscagem
A iscagem destes iscos deve ser feita de duas maneiras: TIRA FINA A primeira procurando tirar uma tira fina e atando bem, com o fio elástico, dando uma imagem gulosa — sendo que um dos
Sobre os acessórios
Com esta opção de iscada, os elementos da nossa pesca ganham alguma importância.
FIO ELÁSTICO Importante para a apresentação do isco em condições após o lançamento, o fio elástico é uma excelente solução nas iscadas de choco, lula ou polvo, pois não interfere nas distâncias de lançamento nem afecta a eficácia do isco na água. A Vega tem um, branco, de muita qualidade, com espessura de 10 mm que vem em carrinhos de 200 m, pelo que serve para muitas jornadas. Traz de série um prático cilindro de protecção, em plástico, com tampa, que inclui no fundo um eixo onde o carrinho pode rolar, o que torna o corte do fio muito mais prático e rápido.
ESTRALHOS Considerando que este tipo de iscos pode chamar as atenções de grandes peixes, é importante que as linhas sejam de alta qualidade, principalmente os estralhos. Eu uso muito o Power Zone, um monofilamento integralmente em fluorocarbono que resiste muito bem ao desgaste dos fundos. Aprecio a sua sensibilidade aos toques, só possível pela elasticidade muito reduzida.
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Pormenor de uma iscada de tiras finas de choco
truques para se conseguir grandes exemplares, nesta iscagem, passa por se cortar com a tesoura a parte de baixo da iscada, de forma a imitar os tentáculos. Neste caso, o tamanho da iscada deve ser proporcional ao anzol, e este deve ficar com todo o seu bico de fora. Dois dos erros que vejo nesta iscada
é esconderem totalmente o anzol, tornando quase impossível qualquer tipo de ferragem; e usarem anzóis de tamanho muito pequeno para uma iscada que, de uma forma geral, pede anzóis entre o 1/0 e o 5/0. LULA DE ARTE Consiste num isco de pequenas dimensões, iscado com a FIO Shock Leader Vega
DESTORCEDOR POTENZA 7001 nº 4 MADRE Fluorocarbono Potenza 0.40mm a 0.60mm de 60cm a 1m até à urze
MONTAGEM DE FILIPE CONDINHO
As cores são um aspecto importante nestas iscadas
ESTRALHO 1.5m a 3m Power Zone 0.35mm a 0.40mm ANZOL POTENZA 4269
CHUMBADA VEGA Revestida 160 g
A corvina - neste caso capturada numa jornada de pesca embarcada - é uma das espécies de predadores que aprecia este isco
agulha, deixando os tentáculos para baixo, de forma a provocar ainda mais o peixe, que normalmente prefere atacar a zona da cabeça dos cefalópodes.
Quatro grandes vantagens
De preferência, estes iscos devem estar frescos, pois assim mantêm intactas as suas pigmentações que são muito atractivas para os peixes. Caso não consiga encontrá-los frescos, procure-os congelados o mais fresco possível, com toda a sua coloração intacta. Uma das grandes vantagens destes iscos reside no facto de, devido à sua abundância na nossa costa, serem facilmente encontrados durante o ano — principalmente o choco, que é também o mais utilizado dos três no surf casting. Quase todos os supermercados, mercados, e até lojas de pesca têm algum destes iscos disponíveis anualmente. Outras vantagens que muito aprecio nestes iscos são a sua capacidade para nos dar ‘o exemplar da noite’ e a sua durabilidade no anzol — aguentam muito mar, assim como as investidas de peixe miúdo, evitando que principalmente em
noites de muita actividade estejamos sempre com os estralhos desiscados e perdendo a possibilidade de ter isco no anzol quando passar o tal exemplar. Além disto o seu preço médio é acessível. Se pensarmos na sua durabilidade e no número de iscadas que podemos produzir por quilo de choco, lula ou polvo, vemos como estamos a falar de um isco que compensa. Um choco de cerca de 500 g, por exemplo, permite fazer entre três e seis iscadas de bom tamanho, o que — para um isco que pode estar horas no anzol sem perder as suas características — é muito acessível.
Conclusão
Em jeito de conclusão deixo-vos a ideia de que, não sendo este o isco que mais peixe me deu na vida, é claramente, no surf casting, o isco que me deu os maiores exemplares. A escolha deve ser sempre sua, mas se quer sonhar alto, se quer um dia sentir do outro lado o peixe que o deixará orgulhoso, pode ter aqui o segredo. O poder deste isco é não é mera ficção, é uma realidade com que me deparo pescaria após pescaria.
Critérios de utilização Muitos pescadores, cépticos quanto ao uso destes iscos, perguntam quando se deve realmente utilizar estes iscos? Ora, do meu ponto de vista, quase sempre que pretendemos ou temos ideia de que nesse pesqueiro existem exemplares de bom porte. Mais concretamente, ou em estuários, na pesca a corvinas
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e robalos, ou no mar, em dias de águas agitadas, que são os mares que revolvem as areias e que trazem mais predadores e peixes grandes às beiras. Nos dias do chamado ‘mar bruto’ — aquele mar espumado e com grandes ondulações, em que a maioria dos iscos não consegue aguentar — a opção por cefalópodes é obrigatória.
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