EU VOCE E OS NOSSOS ESCRITOS A NOSSA ANTOLOGIA LIVRO II
Uma Publicação de MUNDO PRODUÇÕES
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Direitos adquiridos pela MUNDO PRODUÇÕES Rua Gilda Bayma, 110 – Nossa Senhora das Graças CEP 32637-000 Betim — MG Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Eu, você e os nossos escritos : a nossa antologia livro II. – São Paulo : nScortecci, 2013. Vários Autores ISBN 978-85-366-3316-9 1.
Poesia brasileira - Coletâneas
13-09650
CDD-869.9108 1.
Índices para catálogo sistemático Poesia : Antologia : Literatura brasileira 869.9108
Grupo Editorial Scortecci Scortecci Editora Caixa Postal 11481 – São Paulo – SP – CEP 05422-970 Telefone (11) 3032-1179 www.scortecci.com.br editora@scortecci.com.br
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“Todos juntos somos fortes. Somos flecha e somos arco.” (Trecho da música Todos juntos, de Chico Buarque - Enriquez – Bardotti)
“Sonho que se sonha só. É só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade.” Raul Seixas
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PREFÁCIO
Um pedaço qualquer de papel e uma caneta lentamente criando algo. Não existe beleza mais singela do que os nossos escritos. Cria lágrimas, sorrisos, inspirações, diálogos, relações, reflexões, ponderações, opiniões. Nos permite ousar entre a razão e o coração. Nos deixa viajar pelos labirintos do ser e da alma. Transmite o que somos e sentimos, cabendo aos que leem interpretar. Perpetua nosso ser. Esta
antologia
consegue
harmonizar
vários
estilos
textuais. Cada autor é independente, sem nenhuma ligação com o outro, mas seus escritos conseguem se entrelaçar numa suave viagem entre o eu e a alma, não se consegue delinear os motivos e as inspirações, mas com certeza nos fazem pensar e refletir. (Mundo Produções – 25 abr. 2013)
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SUMÁRIO
KELLY MOUSINHO ................................................................ 8 Meu Lírio Branco ·············································································9 No colo da minha mãezinha ··························································10 Certas Coisas ··················································································11 A última poesia ···············································································12 O Flautista ······················································································13 Um ano sem você ···········································································14 Colibri ·····························································································15 O amor segundo Mousinho ····························································16 O pássaro que há em mim ······························································16
MARIA JOSÉ VITAL JUSTINIANO ..................................17 Devolva-me ·····················································································18 Neurônios ·······················································································19 Lágrimas de uma alma ···································································20 Qual o sentido? ···············································································21 A poesia fala ···················································································22 A Intrusa ·························································································23
JOHANNA GABRIELI ...........................................................24 Escrevo pra você ·············································································25 Marinheiro ······················································································26 A Guerra acabou ·············································································27 Eu queria que... ··············································································28 Eis a verdadeira solidão ··································································29 Coisas que eu odeio em você ··························································30 Você não me ligou apenas para ouvir minha voz ···························31 O que dizer? ···················································································32
ALINE SANCHEZ ..................................................................33 Amor ·······························································································34 Felicidade Existe! ···········································································35 Nada sou, nada sinto, não posso seguir ·········································36
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O divino ··························································································37 Uns dias ··························································································38 Quero estar em casa ·······································································39 Você não está ··················································································40
RODRIGO SANCHEZ ...........................................................41 A Mulher que nunca existiu ···························································42 O anjo particular ·············································································44 Não tem ninguém em casa (O telefone) ········································45 Amor tirania e paz ··········································································46 Duas crianças ·················································································47
JORGE MARQUES DA SILVA .............................................49 De louco um pouco ········································································50 A pequena grandeza do céu ···························································51 Medo de altura ················································································52 Sou apenas o que sou ·····································································53 Chão ·······························································································54
GUILHERME SANTOS DA SILVA ....................................55 Lusco-fusco ····················································································56 Reflexões ························································································57
JOELSON FERNANDES ......................................................58 Além do vidro dos olhos ·································································59 Carne de minha carne ·····································································60 Um segundo ···················································································61 Poeminha do falo ············································································61 Meta-anatomia ···············································································62 A outra carta de Pero Vaz de Caminha ···········································63
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KELLY MOUSINHO É autora de pequenos poemas, poesias e pensamentos, seus textos são marcados pela trajetória de sua vida. Uma jovem pacata e muito observadora, não se considera uma poetisa. Mas, costuma dizer que possui habilidades para expor seus sentimentos em folhas de papel. Uma eterna amante de tudo que está relacionado à arte como a música, dança, pintura, poesia etc. Amazonense, tecnóloga em logística e pós-graduada em Gestão em Marketing. Vindo de origem simples, aprendeu desde cedo que bons princípios e valores éticos são a base para
a
boa
formação
e
comportamento
pessoal,
profissional e social. Conheça mais sobre o trabalho de Kelly Mousinho acessando: <http://www.recantodasletras.com.br/autores/mousinho>.
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Meu Lírio Branco KELLY MOUSINHO
Eu tentei segurar a lágrima no olhar, mas ela teimou e caiu. Eu tentei não pensar, deixar de gostar, mas tua lembrança persistiu. De repente me vi sozinha entre outras flores do campo. Mas, a flor que eu queria não podia ser minha, desesperada caí em pranto. Senti que foi embora o meu lírio branco, me deixou a música, as cores, o branco, o preto e o vermelho, o desenho que fiz, a flor e o colibri. Saudade eu senti do que não foi meu, do que não vivi. O sabor do beijo doce e calmo que não provei. Saudade do carinho suave das mãos que não toquei. E de longe eu sei, não importa o lugar que estiver, da flor irei lembrar. Ficarei ouvindo aquela música imaginando eu e você, agora eu sei o que o lírio quer dizer... Eu te desafio a me amar. Então, quem sabe um dia a gente possa se encontrar. Será?
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No colo da minha mãezinha KELLY MOUSINHO
Quando me falta o chão, meu coração pintado com cara de palhaço se retrai no peito dolorido, com um sorriso aberto no rosto, mas por dentro entristecido. Quando me falta o chão, os pensamentos acelerados invadem minha cabeça, não consigo ver cores, só sinto as dores. Ah! Como é bom ter você, agradeço a Deus por tê-la sempre perto e por me proteger. Em uma só pessoa encontro amor, carinho e paz... Quando me falta o chão e tudo parece perdido, nos seus braços repouso e tudo faz sentido. Encontro aconchego e ternura no colo da minha mãezinha. Então, de repente eu volto a ser a sua Menininha.
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Certas Coisas KELLY MOUSINHO
Certas coisas perdem-se para sempre, como o dia que percebi o que realmente sentia por ti. Bons tempos que ficaram para trás, junto com as conversas que tínhamos você não sabe como eu amava ouvir sua voz e adorava quando ficávamos a sós. É uma pena realmente, mas certas coisas perdem-se para sempre, como seu belo sorriso que deixava meu dia mais lindo, levava-me ao paraíso. Certas coisas perdem-se para sempre, como os dias que eu ficava ansiosa e desejava que o fim de semana acabasse para tão somente poder admirar-te. Agradeço por apresentar-me ao amor, tornei-me muito melhor quando na minha vida você entrou e marcou... Certas coisas sempre acabam, nada dura pra sempre... Mesmo que o tempo passe e muita coisa mude, suas lembranças não serão esquecidas, não serão apagadas. Certas coisas perdem-se para sempre, exceto o amor que há e que sempre foi só meu, transformou-se em poesia, em meu coração ainda sinto a alegria que me trouxeste um dia, algo de ti ainda vive em mim, ainda não morreu.
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A última poesia KELLY MOUSINHO
E, como um pássaro, desejei ser livre e levantei voo. Voei alto em lugares desconhecidos, pousei em outro ninho, me arrisquei. Iludi-me com a brisa que soprou em meus cabelos compridos, me enganei. Com as asas feridas, certo dia voltei pra voar contigo. Você me deu abrigo, me curou, me mudou, me tornou bem melhor, agradeço o que fez comigo. O tempo passou e o amor fez valer o tempo, fez valer a pena cada minuto contigo. Você provou do meu puro amor, mas o destino foi justo e ele não me poupou, rios de lágrimas chorei, senti a dor que um dia te causei, sofri, te perdi e me encontrei. Enfim, a dor passou. Hoje aprendi a voar sem ti, desejo-te tanto bem, tudo de melhor que posso desejar a alguém. Decidi escrever-te pela última vez, talvez... Agora tenho que partir preciso deixar-te ir, quero entender melhor quem eu sou. Eu sou menina e vivo uma fantasia, sou mulher e preciso de companhia, sou poeta e preciso sonhar, sou como um pássaro e preciso voar. Eu preciso voar!
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O Flautista
KELLY MOUSINHO
De onde vem esse som que adentra a janela e me encanta todas as noites? É um som mágico, som enigmático da flauta doce que toca uma melodia com um tom solitário. Som que paira no ar, acalenta e envolve. Canção que contagia e inebria. Por muito tempo admirei a ternura da triste melodia. Mas, certo dia algo aconteceu, a música parou e eu nunca soube quem era o flautista que tocava minha alma com sua música como jamais alguém tocou. Ah! Como sinto saudade daquela canção tocada por ele, uma canção tão diferente que vinha do coração e me dava paz, assim era o som doce da flauta que já não escuto mais.
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Um ano sem você KELLY MOUSINHO
Onde será que você está? Será que ainda vou te encontrar? Será que você está contente? E será que ainda se lembra da gente? No meio de tanto será queria muito poder te abraçar. Será que ainda tens medo da chuva? Será que eu tive alguma culpa? Tanta coisa que eu não sei. Você tem alma? Tem espírito? Você esteve no acampamento comigo? Eu quero saber senhor! Será que há cães no céu? Para onde eles vão? Ela também é tua criação. Tanta coisa que eu não sei. Ainda que jamais te encontre sempre estarás comigo. Em minhas lembranças, no meu coração eu fiz teu novo abrigo.
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Colibri
KELLY MOUSINHO
Quem me dera ser livre pra voar sem rumo, sentir o vento soprar e na leveza do meu corpo no imenso palco céu dançar, deliciar- me de todo mel, as mais belas flores beijar. Ah! Se eu pudesse seria como aquele colibri, tão pequeno e gracioso que lá da janela um dia eu vi. Que fascínio é ver-te, ágil e encantador também chamado beija-flor. Mas, não sou você, não sou um pássaro, sou uma mulher, sou filha, sou irmã e sou tia, minhas asas são minhas escolhas e elas levam- me aonde eu quiser. E mesmo que livre eu seja, como o colibri jamais serei, contemplando tua beleza ao beijar as flores vejo que não tenho a mesma sutileza. Quem me dera ser igual a ti, meu admirável, deslumbrante colibri.
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O amor segundo Mousinho KELLY MOUSINHO
Amar é dar-se sem pedir nada em troca. É contentar-se com a felicidade do outro. Mesmo que para isso tenha que abrir mão da sua. Amar é respeitar, é deixar livre, não sufocar. Às vezes é ter que partir. Embora, não sem dor. Esse sentimento inexplicável e complexo é chamado de amor.
O pássaro que há em mim KELLY MOUSINHO
Quando fui pássaro, voei atrás de sonhos que jamais imaginei realizar, brincando de escrever espalhei devaneios no papel e só assim libertei-me da gaiola que existia em mim.
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MARIA JOSÉ VITAL JUSTINIANO Nascida em Minas Gerais, mas atualmente mora na Paraíba, estado que adotou de coração. Possui graduação em Licenciatura Plena em Letras pela Fundação Francisco Mascarenhas, com especialização em Educação (UFPB), especialização em Metodologia do Ensino Superior (UFPBFIP)
e
mestrado
Universidade
em
Estadual
Ciências da
da
Paraíba
sociedade
(UEPB).
pela
Escritora,
amante da literatura, autora de vários outros textos literários. Obras publicadas
Escritores Mirins Instituto Educacional Vera Cruz um educandário presente na cidade de Patos Acorda a poesia Segredos em poesias
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Devolva-me
MARIA JOSÉ VITAL JUSTINIANO
Devolva-me Minha ilusão Estima Sorriso Destino Beijos Carinho Sossego Poesia Tempo Lágrimas Meu passado Devolva-me por inteiro Não quero ser seu parceiro Não mereço ser o terceiro Não quero nem seu dinheiro Se não a tenho querida Se...tu estás perdida Se não tens a medida Devolva minha vida
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Neurônios
MARIA JOSÉ VITAL JUSTINIANO
GRANDE é o espetáculo do cérebro, com todas as ligações possíveis de neurônios GRANDE é o homem que possui o cérebro, que contém neurônios GRANDE
é o neurônio,
que pode armazenar vida e memória GRANDE é a memória que atravessa e suporta o tempo GRANDE é o tempo infinito, irrecuperável, terapêutico, imensurável , utópico GRANDE é a utopia do poeta que apresenta o cérebro para a escrita GRANDE é a escrita que pode registrar tudo aquilo que liga o neurônio à memória e ao tempo, mas não é utópica, pois permanece.
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Lágrimas de uma alma MARIA JOSÉ VITAL JUSTINIANO
!! !! !! !! Estás desconfortável? É isso mesmo... Estás desconfortável? ! !!
Pensas que a alma não chora? Seu desconforto é imaginar as
lágrimas !
Razão pela qual lê esta poesia...
!
As lágrimas da alma são quase invisíveis, nem são transparentes...
!
Elas têm uma melancolia...
!
Elas provocam até mesmo depressão...
!
Nenhuma dor da alma deixa de derramar lágrimas...
!
Lágrimas sem sal...
!
lágrimas misteriosas...
!
lágrimas cheias de segredos...
!
lágrimas secas...
! !! Secas por que vêm da alma !
lágrimas diferentes pois carregam pesos.
!
lágrimas invisíveis...
!
Alma possuidora de torrentes lacrimosas...
!
Um açoite em cada dia...
!
uma traição em cada hora...
!
uma desilusão a cada minuto...
!
As lágrimas da alma
!
são apenas da alma...
!
mas alma que derrama lágrimas e mais
lágrimas !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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Qual o sentido?
MARIA JOSÉ VITAL JUSTINIANO
O óbvio A religião A cor O belo O sonho O ódio
O estudo O amor As lágrimas A dor O trabalho A rejeição O ciúme O crime A ambição A inveja A morte A solidão O desespero O sabor A doença A inquietação
Todos os homens E mulheres sempre Perguntam o PORQUÊ.
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A poesia fala
MARIA JOSÉ VITAL JUSTINIANO
A voz da poesia É mágica, poética Toda poesia é ousadia Também é energética A poesia fala Fala de amores Amor que não cala Às vezes feito de dores A poesia fala Da natureza Da realeza Ela não se cala Com ou sem rima a poesia Tem voz tem magia Às vezes de lamento Ou mesmo de tormento Ninguém neste mundo Compreende a voz da poesia Tentam analisar, mas ela está solta São sussurros, gritos e vozes Mesmo sem voz ela possui ruídos Mesmo no silêncio ela fala Fala aos poetas A poesia tem voz...
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A Intrusa
MARIA JOSÉ VITAL JUSTINIANO
Ela chegou Acordem todos Nenhum comentário Só a recebam com calma Ela veio sem ser chamada Quase ninguém a reconheceu Nossa atitude será de apreensão A impostora é mesmo uma intrusa Usou de todos os recursos possíveis Para poder se instalar sem perguntar Oh! Intrusa que quer permanecer Mesmo sabendo que não a queremos Sempre chega arrebentando tudo e todos Ela tem vários nomes e um deles é depressão Vá embora sua malvada e deixe em paz meu coração
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JOHANNA GABRIELI Estudante, nascida em 9 de Junho de 1998 no interior do Paran谩, vive atualmente em Minas Gerais. Apaixonada por letras, desde pequena encontra na poesia as respostas para seus pr贸prios sentimentos, sutilmente tornando-se assim dependente das palavras.
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Escrevo pra você JOHANNA GABRIELI
Escrevo pra você, Que chegou fazendo bagunça, Esbarrando em tudo, Nem sabendo que minha vida estava atrapalhando. Escrevo pra você, Que tem a ousadia de me elogiar, Após me perturbar, E palavras grosseiras da minha boca tirar. Escrevo pra você, Que com seu jeito campeiro Mais parece uma criança Ao ganhar um brinquedo novo. Escrevo pra você, Guri de bombacha, Que suas piadas eu hei de entender. Escrevo pra você, Moço de pensamentos pervertidos, Que hei de um beijo teu roubar. Escrevo pra você, Moço dos olhos bonitos, Que sorrisos meus acabou de tirar. Escrevo pra você, Aventureiro nato, Que me apresentou ao mundo. Escrevo pra você, Que meu amor há de ter. Escrevo pra você, Que reclamará da minha repetição ao lhe referir, Mas você precisa saber Que eu escrevo pra você.
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Marinheiro JOHANNA GABRIELI
Dizem que sou louco Por em todos os portos um amor ter Mas o que seria de mim? Sou um pobre marinheiro Viajando por aí em mares desconhecidos Dizem que marinheiro como eu não merece amor como o teu Mas hei de um dia ouvir o que se diz por aí. Nesses tantos caminhos que percorri Nessas tantas tempestades que enfrentei Nessas palavras que em vão joguei Eu só queria te ter aqui.
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A Guerra acabou JOHANNA GABRIELI
Acontece que não mandamos em nossas vidas, até achamos que mandamos, porém sempre terá alguém dizendo o que fazer, como fazer e quando fazer. E sem querer, às vezes, deixamos de fazer o que realmente queremos, tudo porque não podemos. Estaríamos invadindo a privacidade de alguém, ou pior, estaríamos, talvez, o impedindo de ser feliz. Até lutamos, tentamos ir atrás dos nossos princípios, mas chega um ponto que cansamos, nossas táticas de ataque se acabam, então desistimos. Sofremos, até porque a guerra foi dolorosa, e muito, mas muito cansativa. Choramos, não sabemos se é por orgulho ou saudade, me refiro à saudade, mas não da guerra, mas sim do tal "prêmio" a quem vencesse. Não sei vocês, mas eu desfrutei desse prêmio, mas foi às escuras, ninguém viu e, acreditem, ainda bem que perdemos.
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Eu queria que... JOHANNA GABRIELI
Eu queria que o céu fosse rosa, a grama fosse azul, o sol vermelho e a lua laranja. Eu também queria que a chuva tivesse gosto de morango, que o vento cheirasse a bolo de cenoura, que o trovão fosse como uma sinfonia clássica. Eu queria que os carros não me perturbassem tanto, que os prédios não tirassem minha visão do céu, nem que pássaros se batessem neles - como eles conseguem? Eu queria fechar os olhos e ir para um mundo paralelo, eu queria que nesse mundo só tivesse pessoas felizes, sorrindo, correndo e fazendo piadas. Eu queria dizer que te amo, mas como eu dizia, eu só queria...
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Eis a verdadeira solidão JOHANNA GABRIELI
Espero impacientemente As ajudas que a mim são oferecidas Em momentos de pavor. Essa loucura de sentimentos perdidos, Subestimam-me. Choro a sós, Com meu medo idealizado. Julgo a mim mesma, Por não ter a quem socorrer-me. Perdoo-os, Por não poderem socorrer-me. A verdade machuca-me, Ela é cruel. Mas antes uma faca no peito, Limpa, Do que um abraço, Cheio de espinhos.
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Coisas que eu odeio em você JOHANNA GABRIELI
Odeio seu sorriso Odeio seu jeito de falar Odeio mais ainda seu jeito de andar Odeio quando você me olha e dou risada sem pensar Odeio quando vai com o seus amigos Odeio quando está comigo Odeio o fato dela ser tão sem graça e você nem perceber Odeio quando você esquece de me proteger Odeio quando você fala dela e eu finjo não ligar Odeio mais ainda ter que lutar Simplesmente te odeio por não conseguir te odiar
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Você não me ligou apenas para ouvir minha voz JOHANNA GABRIELI
Espere, você deixou sua caneca de café cheia. Nosso assunto sobre o filme de ontem ainda não acabou. Ei, você esqueceu de dizer que adorou a noite e que irá me ligar. Volte, você não me deu um sutil beijo na testa. Qual é mesmo o seu número? Desculpe, não me lembro se você disse que tinha gostado da janta, espere, você comeu a janta? Eu fiz janta? Qual é mesmo seu nome? Lucas? Desculpe, é Ícaro, não? Me perdoe, como nos conhecemos mesmo? Ah, sim, no balcão da boate. Como viemos para minha casa? Ei, não vá. Trabalhar? Mas hoje é domingo, ei, calma, por favor... PELO MENOS ME LIGUE.
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O que dizer?
JOHANNA GABRIELI
Ultimamente não sei mais o que escrever, não sei o que falar. Faltam palavras para expressar-me, poesias não são mais suficientes, o que escrevo quase parece elegia. Minha insolência chega a ser estupidez. Minhas palavras soam como gotas de sangue. Meus ouvidos imploram por amparo. Minhas mãos geladas tremem ao tentar desvendar seus mistérios. Meus olhos querem desvanecer sua imagem. Meu estômago destrate-se das borboletas, sem ganho. Meus pulsos mutilados pelas suas palavras ainda não cicatrizaram. Minhas unhas ruídas pela ansiedade me arranham durante a noite. Minha cabeça dói ao lembrar a sua voz. Meu nariz ainda tem pesadelos com o seu cheiro viciante que me fazia dormir. Meu coração despedaçado se junta aos poucos, já eu, bom, ainda procuro as palavras certas a serem ditas.
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ALINE SANCHEZ Nascida em 15 de março de 1989 passou a maior parte de sua vida em Peruíbe uma cidade pequena do litoral paulista. Aos 24 anos decidiu publicar seus textos, escritos em momentos de angústia, revolta, saudade, solidão ou nos instantes em que surge a vontade incontrolável de escrever em folhas aquilo que está guardado na alma. Contato <alinesanchez_89@hotmail.com>
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Amor
ALINE SANCHEZ
É engraçado como nos doamos inteiramente ao amor... não questionamos nem exigimos recompensas. Apenas entregamos toda a vida de nossa alma, o ar que entra pelas narinas, cada pulsar do coração, nossos melhores momentos... entregamos tudo o que possuímos e o que fingimos possuir... as medidas se perdem, o limite se torna algo incompreensível e o impossível algo comum., nos jogamos, pois tudo que desejamos é sentir o cair. Alcançar as estrelas é apenas questão de erguer os braços e o nascer do sol é apenas o pequeno instante em que se desenha o sorriso em seu rosto. O amor é despido de necessidades, anda nu sem pudor, está naquele que ama e no que nem sabe dizer seu próprio nome. Está na simplicidade dos rios que beijam suas margens, na delicadeza das mãos quando tocam o corpo, no menino que agarra a fruta no pé, no velho que senta para contar suas histórias, no vento assanhado que levanta as saias das meninas e no singelo ato de ser.
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Felicidade Existe! ALINE SANCHEZ
A felicidade existe, só que na maioria das vezes não é intensa, felicidade exagerada está ligada à necessidade de demonstrá-la aos outros, o que significa que senti-la realmente é o menos importante, felicidade existe em pequenas doses, muitas vezes nem a notamos, pois está em pequenas coisas, como um remédio que se toma periodicamente e com o tempo nem se nota mais que o está tomando. Felicidade está em amanhecer, sentir, viver... Amar. Desejamos tanto a felicidade explosiva, que vemos sempre nos outros e nunca em nós mesmos, que nos cegamos diante da felicidade singela que nos é proporcionada todos os dias com um abraço amigo, um olhar encorajador ou em um inocente sorriso de uma criança. Felicidade esta que é ignorada, desvalorizada e esquecida, apenas nos lembramos de lamentar pela tristeza e invejar a felicidade alheia que é sempre maior do que a nossa, ao invés disso deveríamos agradecer pela felicidade que nos negamos a ver, e por ignorância deixamos de sentir.
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Nada sou, nada sinto, não posso seguir ALINE SANCHEZ
De repente sinto-me conduzido a um abismo, olho para os lados e não vejo mais nada, nenhum ponto para onde seja capaz de voltar, tudo é vazio e solidão, então pulo desejando que as cordas
que
me
tornaram
marionete me impeçam de atingir o chão e assim ser poupado da dor
de
morrer
sem
me
reconhecer no pó que me tornei. Deito-me na cama e nada mais me agrada, nem mesmo o terno beijo de um filho. Alma já não tenho, corpo não reconheço, não existe Deus para que eu possa rogar, nem crença dentro de mim.... dores já não sinto, as batidas de meu coração são lamentações, meu sangue é óleo, meus olhos são um infinito de tristezas, mágoas e remorso, minhas mãos são fracas, sem pulso, minhas palavras são regurgitadas, as vomito todos os dias sem ninguém pra limpá-las, pouco a pouco sinto a escuridão e o nada próximos a mim e gosto deles. Então, fecho os olhos e desejo que a noite me consuma para que amanhã não exista mais nada do pouco de mim.
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O divino
ALINE SANCHEZ
Não me curvo diante de nenhum Deus, não o temo, não acho que ele puna aquele que o questiona e nem abençoe apenas aqueles que se curvam, se cegam e se anulam. Não exijo de um Deus se eu estagno, não o culpo por minhas mazelas e nem lhe sou grata por meus esforços. Não lhe cobro alento, não peço que diminua o peso de minhas escolhas, não rogo seu perdão, pois pagarei por cada pecado. Sou sua imagem e semelhança, o divino está em mim, está em ser homem, sentir a faca que corta a carne, os temores que engolem a alma, os medos que paralisam... posso escolher para onde ir... sou o bem e o mal... e quando me olho no espelho e minha imagem é refletida, vejo o Deus que existe em mim.
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Uns dias
ALINE SANCHEZ
Acordo alguns dias com a sensação de que não dormi nada, como se fantasmas tivessem me assombrado durante a interminável noite, me agarro nas cobertas para que elas não me deixem, meus olhos indecisos não sabem se devem abrir ou fechar, meu corpo imóvel, estagnado em um impulso se levanta, acredito estar atrasada, pois meu relógio é alheio ao tempo. Corro, voo com os pés no chão e sinto um inexplicável alívio ao chegar na hora, no exato momento de receber tudo que me é ofertado. Com um sorriso forçado aceito de bom grado e mesmo sem gostar engulo, tapo o nariz para não sentir o gosto, digiro tudo como uma criança esganada, ao final do dia sinto-me enjoada, mais que satisfeita e cheia daquilo que não quis.
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Quero estar em casa ALINE SANCHEZ
A cada instante que me sinto perdida, almejo o aconchego que só conheci no lugar de onde vim e sonhei nunca sair, mas a vida é delicadamente cruel e nos leva como um rio que carrega para longe as folhas secas que não suportam mais se agarrar nos galhos... fui levada como uma dessas folhas, me desprendi, tentei nadar contra a corrente mas não tive forças, então me rendi... deixei que as águas me levassem até que desaguassem em um lugar que não conheço, não reconheço as esquinas, não encontro um olhar amigo, tudo me é estranho, cinza e vazio. O asfalto é mais áspero, as palavras são ditas sem ordem, conversas supérfluas, ninguém se vê ou se sente, são apenas pessoas que vão e vêm para lugar nenhum... estou entre essas pessoas e só desejo ir para casa... reconhecer os rostos, dobrar as esquinas... correr...abrir o portão, encontrar o mais terno abraço e finalmente sentir... estou em casa!
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Você não está ALINE SANCHEZ
Não sei quais caminhos a vida vai me permitir percorrer, mas sei que neles nunca mais irei lhe encontrar, não verei em outros olhos a mesma ternura, não tocarei seus cabelos, nem tornarei a deitar em seu colo. Não me recordo mais do timbre da sua voz, nem do cheiro que deixava pela casa e nem das histórias que contava. Hoje o que resta são vagas lembranças, uma imagem já distorcida de seu rosto e a saudade do que nós não pudemos viver. O vazio de sua ausência até hoje preenche os cantos da casa, seu nome é falado em conversas, ainda posso lhe ver em fotos antigas, e em cada um vejo algo que você não pode levar. A sua libertação levou minha fé, causou lágrimas, dor e tristeza, não entendia bem como Deus poderia ser tão cruel ignorando o pedido de uma criança que mesmo sem entender quase nada orava, rogava, pedia e implorava. Mas hoje sei que a dor que suportei com sua morte ainda é menor do que a dor que teria que suportar em vida.
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RODRIGO SANCHEZ Nascido em Santo André - SP, morou em diversas cidades, entre elas Peruíbe - SP, Gravataí - RS. Desde cedo desenvolveu
grande
interesse
pela
literatura
clássica.
Cursou dois anos de Administração de empresas. Hoje reside em Betim – MG, trabalhando no ramo imobiliário. Escreve
esporadicamente
impressões,
sensações
conjecturas de realidades tangíveis e oníricas. Contato <rodrigodespachante2010@hotmail.com>
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e
A Mulher que nunca existiu RODRIGO SANCHEZ
Conheci a mulher dos meus sonhos, penso que poderíamos estar juntos, acho que o destino criou uma lacuna entre nós. Ela é a mulher que homens sedentos oferecem bagatelas para possuir, não acredito que ela se renda por tão pouco. Seus olhos negros, seu hálito acerbo, seu jeito depressivo me cativaram. Acredito nela, torço pelo seu logro. As estradas de nossas vidas se bifurcaram em léguas longínquas. Posso revê-la nos meus devaneios, de dia, de noite, meus momentos a partir de agora são conduzidos pela certeza dela existir. Se eu pudesse tê-la, solaparia os fantasmas que me torturam.
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Um amor tão fugaz me aflige. Gostaria de
atenuar sua
depressão. Ela não tem um bom relacionamento com seu pai, exalta a figura materna, sofre por um irmão que se entregou ao vício, tem uma sobrinha que dança, e um forte desejo de vencer na vida; isso é tudo que sei, mas não é tudo que sinto. Quando nos conhecemos, sabia que algo diferente estava acontecendo, tive um sutil espasmo, fumei uns trinta cigarros, fiquei inebriado pelo cheiro de seus cabelos, pela profusão de seu sorriso, uma formalidade exagerada de um almoço dominical. Em minha vida fútil e estagnada, aquela visão foi o rufar de um tambor dentro do meu peito. Já tive muitas mulheres, no entanto, todas não passaram de um mero paliativo para meus instintos. Hoje sou um homem ansioso pelo simples fato de gostar de alguém, de saber que deitar na cama e não dormir pode ser bom, e, além disso, saber que o amor não concretizado é o mais belo, pois basta idealizá-lo e com um torpor absoluto olhar para o céu e saber que as estrelas brilham, que a lua sempre está envolta em tristeza e, sobretudo ter consciência de que tudo faz sentido quando se ama.
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O anjo particular RODRIGO SANCHEZ
Tenho conversado, insistido e procurado a companhia do meu Anjo. Passei por um grave bloqueio de escrita, não é para menos, tenho acendido velas de manhã e à noite, rezado orações maçantes e repetitivas. Temo de uma forma indistinta a solidão. Acho que estou criando um amigo imaginário, sei lá, gosto do meu Anjo, sobretudo quando estou sozinho, fazendo alguma leitura e antes de dormir. Têm sido assim meus dias: eu, meus livros e o anjo. Já tenho liberdade demasiada com ele. Há uns três dias passei a dar boa-noite e bom-dia, já mantenho um diálogo franco e inteligível com ele, confessei todos meus pecados, abri meu coração, até deliberei sobre conjecturas cósmicas e metafísicas. Devo confessar que ele tem sido uma parceria salubre, é bom sentir-se acompanhado. Digo: ele nunca me criticou – e olha que ele sabe muito de mim – aceita tudo que eu lhe digo com uma resignação admirável. Acho que já o amo o suficiente para comprar-lhe uma vela de sete dias. Ele não fez abismo tornar-se planície, terra virar céu e muito menos fez nascer dinheiro em árvore. De qualquer forma sou grato a ele por ter tornado noite luz, dia santo e minha solidão um vício.
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Não tem ninguém em casa (O telefone) RODRIGO SANCHEZ
Realmente não sou perfeito, tento me policiar ao máximo não cometendo erros recorrentes. Mas é claro que eu os cometo com insistência. Não tenho planos, meu futuro não sabe a quem pertence, lavo minhas mãos e deixo o tempo correr. Não quero nada de ninguém, não exijo quase nunca. O telefone sempre chama e possivelmente você não está em casa. Tem de ser assim, não tem outro jeito. O vento soprou e meu futuro se impõe. Deixo seguir, não me aflige o toque continuo do telefone, ainda não tem ninguém em casa. A noite está tão triste, nem as estrelas se apresentaram em suas cósmicas conferências. Deve ser triste de se ler, no entanto não é demasiado trágico de sentir. Quantas vezes o que eu não gosto vai se repetir? Não sou um ditador intransigente, não sou algo a ser temido. Mas o abandono me afasta. O que não vem para agregar eu simplesmente rechaço. Não me tenham respeito, é preferível me deixar. Sou um pobre que conhece todas as notas da chamada do telefone e tenho certeza que ainda não tem ninguém em casa.
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Amor tirania e paz RODRIGO SANCHEZ
Sofrimento, angústia, cumplicidade, gozo, apego, dependência, sofisticação e dor. Amar é bastar-se de amor, transformar-se e refazer-se. Tornar a ser o que era e viver em mutação. Paulatino em abundância. Consome-se e se refaz. Desfaz o que refez e transforma aquilo que permanece. Displicente e atencioso, corrompido nunca. Impoluto, ilibado; sem nódoa que o estigmatize. É sempre e nunca será. Constante em falta. Intenso quando ausente. Feroz, ferido e pacifista. Agressivo! Tudo do nada, pouco do tudo. Humano, animal, racionalista. Aloucado! Diz-se, faz-se, é aquilo que não se vê. Visível a olhos distraídos. Amar é saber-se sem certeza, ver sem ouvir, enxergar sem ver. Sentir-se desfalecido quando a vigília lhe mantém. Estar aflito no instante de paz. Conciliar o incoerente, celebrar a paz e exaltar a guerra. Claro e escuro. Rutilo fosco, aquilo que não se revela. Incógnito, evidente e indiferente. Faz-me e conduz-me. Sou o que mandar-me ser, no fundo entrego-me a ti, sei que vim, vi e vencido estou.
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Duas crianças RODRIGO SANCHEZ
Vejo duas crianças! Não imagino seus sonhos, seus anseios ou conjecturas de futuro. Brincam, brigam e se amam. Amam a si, a nós e ao mundo. Não vejo peso de responsabilidade em seus olhos, muito menos ganância no querer. Vivem de forma fluida e contínua, exigem atenção, reclamam carinho e afeto. Purgam seus pecados pela inocência auferida com seus poucos anos de vida. Quando agridem não medem consequências, seguem impulsos, acreditam no lúdico e não se atêm ao rancor ou mágoa no longo prazo, bastam poucos minutos para se arrependerem de uma atitude e alguns milésimos para perdoarem aquilo que julgam uma agressão. Seus sorrisos puros e sinceros, o carinho e a atenção legítima da puerilidade. Artes sem sequela, choros birrentos de quem sabe a verdade absoluta. A simplicidade e o domínio de quem tem
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sempre razão por não perceber o porquê da dúvida. São certeiros, sinceros e perspicazes. Decididos no que querem e seguros do que podem. Ah! Duas crianças! Às vezes se multiplicam e parecem mil, estão em todos os lugares, mas também acontece de estarem em lugar nenhum. Desaparecem e aparecem com agilidade, parece que testam nossos sentimentos, assim que somem bate aquele desespero, o aparecimento é seguido de bronca, no entanto dentro do peito sente-se o alívio e a felicidade deles estarem ali. O sono talvez seja a parte mais linda. É quando a criança mais se aproxima do comportamento adulto. Em suas camas alegóricas junto ao quarto colorido procuram companhia, temem a solidão e roncam. Duas crianças! Digo que as amo integramente, plenamente e atemporalmente. Preciso mais delas do que elas de mim. Aliás, quem não precisa de sinceridade em um mundo em que os homens se esqueceram da lisura e da boa-fé?
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JORGE MARQUES DA SILVA Nascido em São Paulo capital, vive atualmente com sua família em Betim, Minas Gerais. Mantém desde jovem o gosto por uma boa leitura e uma boa música, e acredita que por meio de uma cultura acessível a todos conseguiremos a plena cidadania. Obras publicadas
Eu, você e os nossos escritos – livro I Conheça mais sobre o trabalho de Jorge Marques da Silva acessando
<http://www.mundoproducoes.recantodasletras.com.br> <http://www.cidadaniaaflordapele.com.br> <http://www.osnossosescritos.com.br> <http://www.facebook.com.br/Mundoproducoes65>
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De louco um pouco JORGE MARQUES DA SILVA
Não sei por que insisto em escrever. Escrevo e escrevo. Tento entender o que escrevo Escrevo coisas que não entendo. Escrevo coisas que não compreendo. Mas mesmo assim continuo escrevendo. Às vezes escrevo o que sinto. Às vezes escrevo o que penso. Às vezes escrevo o que não entendo. Às vezes escrevo por escrever. Já escrevi coisas que nem os outros entendem. Já escrevi coisas que os outros entendem. Mas só sei que escrever me faz bem, me faz sorrir, me faz viajar, me faz ser eu. Em resumo, escrever me faz ser o que sou. Porque sou o que escrevo, e escrevo o que sou. Sem medo de ser feliz. Sem medo de ser louco. Porque de louco não tenho nada. Mas quando escrevo eu não sei.
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A pequena grandeza do céu JORGE MARQUES DA SILVA
Caminhando pela estrada. Olhando para o céu. Descubro as estrelas. E de repente eu meu encontro viajando pelo céu. E na grandeza desse céu. Descubro milhares de estrelas. Descubro milhares de planetas. E viajando pelo céu descubro o quanto sou pequeno. Pequeno diante da grandeza desse céu. Desse céu criado ou inventado. Desse céu que me mostra novamente o quanto sou pequeno. Mas dentro da minha insignificância diante desse céu. Descubro o quanto sou parecido com as estrelas e planetas que vi. Porque as estrelas também nascem, crescem e morrem. E é nesse momento que me sinto maior do que as estrelas e planetas. Simplesmente porque nasci, cresci e um dia vou morrer. Mas com uma grande diferença, vou renascer.
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Medo de altura
JORGE MARQUES DA SILVA
Na insustentável leveza do meu ser, viajo por lindos campos. Por lindos campos floridos. E nesses campos, abro os braços e saio voando. Voando na leveza da minha alma. E na leveza da minha alma posso voar alto. Tão alto que me assusto. Me assusto porque que tenho medo. Mas medo de que? Medo de voar alto. Medo da leveza da minha alma. Ou simplesmente medo da altura. Da altura que não me permite colocar os pés no chão. Da altura que me dá frio na barriga. Da altura que não conheço. Da altura que me dá medo. Mas é no medo da altura que me encontro. Encontro a minha insustentável leveza. Encontro o meu pensamento. E nesse pensamento me descubro. Descobrindo que tenho medo de altura. Mas que sou o que sou.
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Sou apenas o que sou JORGE MARQUES DA SILVA
Não posso ser aquilo que quero. Mas sou aquilo que sou. Sou aquilo que penso. Sou aquilo que deseja. Sou aquilo que tem esperança. Sou aquilo que acredita. Sou aquilo que ama. Sou aquilo que chora. Sou aquilo que ri. Sou aquilo que escuta. Sou aquilo que fala. Sou aquilo que faço. Mas não sou o que pensam. Mas não sou aquilo que querem. E muito menos o que desejam. Porque sou aquilo que quero. E o que quero é aquilo que sou. Portanto sou o que sou. Nem mais nem menos. Sou apenas o que sou.
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Chão JORGE MARQUES DA SILVA
Em noites escuras. Fecho os olhos e me aquieto. Aquieto meu coração. Aquieto minha alma. Aquieto meus pensamentos. Em noites escuras. Na quietude do meu ser. Sinto a plenitude da imensidão. Imensidão que diante de meus olhos, se torna visível, se torna palpável, se torna presente, se torna meu chão. Chão que caminho pelas noites escuras. Chão que me dá sustento. Sustento para meu corpo. Sustento para meu ser. Sustento para minha alma. Chão que me ensina o caminho. Qual caminho eu não sei. Mas sei que nesse chão irei caminhar. Porque é esse chão que me faz sonhar. E esse sonho é que me faz viver E assim caminho por esse chão nas noites escuras.
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GUILHERME SANTOS DA SILVA Guilherme Santos da Silva não se considera escritor. Acredita
que
a
realidade
é
um
quadro
com
cores
complexas, logo tenta traçar interpretações sobre ela. Teme que suas Interpretações – versos – padeçam de seu frescor, porém compreende que escrever é seu ato nato, algo que estava adormecido em ventre. Contato <guilhermesantos1992@hotmail.com>
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Lusco-fusco
GUILHERME SANTOS DA SILVA
À minha amada Mãe, repleta de Amor. À minha Mestra Vilma, repleta de Alma. Seria possível envelhecer em flor? Tal como pétalas murchas que cessaram sua usurpação d’água? Seria possível pensar já ter visto todas as façanhas humanas existentes? Ou ao menos suas raízes, provedoras de variações No canto submerso em treva, Aquele canto que sempre se enegrecerá em sombra Mesmo quando todas as velas, luzes, lâmpadas e lembranças estiverem acesas Lá estarei. Pergunte por meu sorriso. Ele sempre esteve ali. Por minhas memórias – sujas e empoeiradas. Por minhas cores. Ah! As cores... Complexas, puras, selvagens! Pergunte por minha Alma Alma... Só então lhe direi: - Alma?! Não pergunte. Encontre-a. De mim não mais parte faz, Procure-a onde passei outrora, antes de repousar em trevas e cantos. Pergunte por Alma, e a conceberá naquilo que lhe entreguei ao primeiro toque, Pergunte por Alma, E encontrará o Azul toque da Mocidade finda. Pergunte por mim E responderei... Alma.
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Reflexões
GUILHERME SANTOS DA SILVA
*** Pior do que viver pela metade é odiar pela metade. *** O Ser Humano é uma pedra. Ou é preciosa ou difícil de lapidar, ou está no caminho ou está em seu sapato. *** De que vivem os Loucos? De sonhos? De passado? Não! Os Loucos sobrevivem da verdade. *** Tentar compreender o Tempo, nada mais é do que uma grande perda de tempo.
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JOELSON FERNANDES ร professor universitรกrio e nas horas vagas inventa mentiras reais ou verdades mentirosas e espalha pra quem quiser ler.
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Além do vidro dos olhos JOELSON FERNANDES
(Inspirado na música “sempre ela” de Casar Passarinho) o tempo brando discorre a noite fria meus olhos umedecem a garoa lá além do vidro dos olhos eu já não sei é sonho ou se ainda acontece ela dança entre adereços que renascem do passado o avesso do avesso pálido de mim declama “é o jeito dela me manter encarcerado”. me quedo manso mirar “além do limite do meu desejo” além das roupas estendidas além da borda da consciência além do luar que entra pela janela é ela quem entra vou ruminando seus recados olhando além das roupas estendidas surge a loucura a repetir o nome dela. o nome dela.
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Carne de minha carne JOELSON FERNANDES
Senta-te. Olha nos meus olhos [vê minha alma] Saibas que não és meus olhos, não és meus pensamentos, não és eu. És tu mesmo: pequeno e já lindo homem. Toma pois, me leva contigo, Pega o que é teu: minha alegria, minha fé, Minha alma. Faze, com isso, um unguento e [me] leva perto de ti. Sempre estarei por perto. Porque és [e sempre serás] a carne de minha carne amada. Parte! E quando olhares para os lados: Eu estarei por perto. Siga! A vida nos chama. Eu estarei por perto, te amando como sempre. Erre, acerte, avance, recue, corra, arraste-se, voe. E eu... te amando como sempre.
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Um segundo
JOELSON FERNANDES
Um segundo antes do beijo Uma eternidade Uma vida Um suspiro Uma eternidade Um segundo como resto de vida Um segundo sem vida Uma eternidade
Poeminha do falo
JOELSON FERNANDES
ficar na chuva olhando [de baixo pra cima] a verdade emprenhar a gravidade com minha loucura pra parir criatividade!!!!!
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Meta-anatomia JOELSON FERNANDES
Os anatomistas erram. O pensamento não vem da cabeça, na verdade Ele vem das artérias; Dos olhos; Das entranhas; Do nariz [mas somente quando inspiramos]. Os anatomistas erram. O pensamento não fica na cabeça, na verdade Ele fica no coração; Nos músculos; No peito; Na boca [mas somente quando expiramos] Os anatomistas erram. O pensamento não é abstrato, na verdade ele é O desenho da criança; A pena que dá a sentença de Luis XVI; O martelo que trabalha o ferro na bigorna; É o gozo da amada [mas somente quando respiramos]
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A outra carta de Pero Vaz de Caminha JOELSON FERNANDES
“E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo. E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, [...] Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. Pero Vaz de Caminha.” Este é o fim da carta de Pero Vaz de Caminha a Vossa Alteza, pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista,
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Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc. D. Manuel I., do relato do descobrimento do Brasil. O também chamado por alcunha, “parteiro do Brasil”, assim como o Bispo Sardinha, tem seu fim em controvérsias, pois alguns dizem que suas mortes não são bem assim como rezam a lenda. Oficialmente, Pero fora abatido pelos mouros em batalha, defendendo assim, como seu progenitor, o orgulho de ser escrivão, vereador e tesoureiro de seu Rei. Más línguas outras ainda dizem que os dois tinham muitas afeições um com outro. Mas com esta dúvida mordaz e cardeal de sua morte corroía as entranhas e pensamentos, fomos à procura de respostas. Após várias pesquisas em bibliotecas nas masmorras de castelos e iguais bibliotecas espalhadas pela Europa, Américas, África e por fim na Ásia, descobrimos “a pura verdade absoluta”. Nossa história começa justamente com a escrita da carta do descobrimento do Brasil ao Rei. O virtuoso escriba fizera aqueles ofícios no convés da caravela Anunciada, comandada pelo intrépido assim como desconhecido Nuno Leitão da Cunha, no entanto, o cenário era uma praia que atualmente chama-se Praia do Espelho, no sul do estado da Bahia. Quando da terceira hora de sua descrição das terras brasis, exatamente no trecho: “Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela
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tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma.” Foi assim deste modo que nosso nobre Pero flagrou que estava há mais de 6 meses embarcado, longe de sua esposa e de seu Rei. Não fora nos registros oficiais, porém os marinheiros narram este fato em documentos raríssimos que nem o WikiLeaks descobrira, pois Caminha desembarcou para conhecer os costumes dos nativos e seus hábitos tradicionais. Tradição esta cultivada por séculos também na história humana e, graças aos céus, continuará por mais tempo: o ato de acasalamento. Após aproximação em visitas aos descendentes daquela tribo descrita na carta, conseguimos, a duras penas, ter acesso aos registros históricos transmitidos pelas Midrash de seus anciões. O ato fora complexo e penoso, porém nosso Pero, após muito refletir pesados planos estratégicos, aceitou o desafio. Tal ato aventureiro coincidia com o casamento da filha do Cacique Abarémirim (em português significa “poucos amigos”). Índia linda em seu vigor da doce juventude, preparada para casar-se com aquele guerreiro que sobreviveria a prova de fogo da tribo. A prova era largamente conhecida pelos indígenas de toda terra tupiniquim pela dificuldade de aprovação. Consistia em duas etapas. A primeira atinava-se a tomar, em um coco vazio, um bebida fermentada chamada pelos nativos na língua local arcaica de
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“piracuiaçú”, três vezes. Com o passar dos séculos, esta bebida começara a ser chamada “Santo Daime”. Após ingerir os três cocos da bebida, o candidato deveria ir à mata e caçar, com apenas um pedaço de porrete feito de bambu, a maior onça possível. E não apenas isso, o candidato teria de presentear ao Cacique sua pele em estacas de cipó de fogo. Aquela mesma planta que se, caso seu sumo tocasse na pele, provocaria queimaduras gravíssimas, levando até, segundo os nativos, a amputação de membros. Após isto, e somente então, o candidato teria sua recompensa imediata de desposar a linda Índia na jovem flor de seus hormônios femininos. Chegada a hora da prova, nosso herói concentra-se falando repetidamente as metas de seu plano, como um mantra: - pele da onça e desposar a virgem flor; - pele da onça e desposar a virgem flor; - pele da onça e desposar a virgem flor; - pele da onça e desposar a virgem flor; - pele da onça e desposar a virgem flor. A prova começa. Nosso herói tomara tranquilamente o primeiro coco e repetia incessantemente “pele da onça e desposar a virgem flor”. Segundo coco ainda ouvia-se partes da frase: onça...virgem... Terceiro coco: no final, solfejava alguns sons incompreensíveis. E lá se foi nosso herói mata adentro. Algumas horas depois, ouvem-se gritos selvagens e rugidos agrestes vindos da mata. Perdurariam por horas.
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Quando o vento balançou a folha do Pau-brasil e ouviu-se o barulho da marola do mar, percebeu-se que aqueles sons serenaram. O fim daqueles horrendos ruídos antevia a derradeira aventura de nosso personagem. Pois se enganou quem assim pensou. A cena descrevia a superação heroica de nosso personagem. Ele chega à tribo, com seu corpo coberto de sangue de cortes abertos pelas garras do animal selvagem. Porém, aquela selvagem dobrara-se e docemente ao seu lado andava. Quando de sua aproximação, grita ao grande Cacique: - Onde está a virgem para tirar a pele? Após este vexame e na borracheira, nosso herói volta ao navio. Dois dias depois, acorda e envergonhado começa reescrever a carta ao Rei. Após ingerir alguns litros de água e alguns comprimidos da panaceia farmacêutica da época, consegue terminá-la. Ocorre que concomitantemente à carta, manda-lhe outra, pedindo sua remoção daquela terra auspiciosa, pois teria outras melhores funções em outras mais a descrever-lhe, e prova desse auspício todo percebemos no trecho: “Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”
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Já na outra carta constavam dois pedidos: o de remoção e, o outro, de levar consigo embarcada a onça que conhecera naquela tão difícil prova. Alguns
meses
depois,
Pero
embarca
para
Portugal
concretizando seu pedido. No entanto, durante a viagem sofre com tempestades e a nau perde todo tipo de direcionamento. Alguns meses à deriva em alto mar, a nau leva seu último golpe de uma violentíssima tempestade e vai a pique. Pero consegue salvar-se nadando montado em sua onça, exímia nadadora. Na ilha desconhecida, já na praia, fora recebido pelo comandante do clã que habitava a ilha, o Cacique, o Rei, o chefe “Ngan cau” (em português “pena curta”). O grande Pena Curta narra que naquela ilha passou um tipo de guerra civil há exata uma década antes da chegada de nosso personagem, e o Grande Ngan Cau era o último homem daqueles alqueires de terra cercada pelo mar. Esta história fora contada no caminho até a aldeia do Chefe. Pero Vaz era também poliglota e não teve a mínima dificuldade de entendê-lo. No caminho para a aldeia, dentre a mata fechada, Pero preocupou-se em um possível emboscada, uma vez que Ngan não passara de uma criança de aproximadamente 11 anos. Mas na trilha até a aldeia, Pero indagou-o do funcionamento de sua aldeia. Ele respondera que suas mães iriam esclarecer-lhe tudo. Não obstante, Pero fica cristalizado com o que vê. Ao subir no cume de um cerro, avistara a grande aldeia de perto. Observa cabras, vacas, galinhas e porcos andando livremente sendo
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pastoreadas por lindas mulheres loiras, todas nuas. Logo adiante atenta, ansioso, para outras pradarias sendo cultivadas com trigo, milho, arroz, feijão e sorgo, por morenas maravilhosamente iguais àquelas loiras: lindas e nuas. Quando olha para o jovem chefe e pergunta: me recordes, oh seu putinho, pois falastes que eras o último homem desta ilha? O jovem entusiasmado com a afirmação enchendo seu peito juvenil responde-lhe de imediato: Exatamente. Pero nunca foi de fugir dos seus misteres. Então ao chegar na aldeia tratou de imediato organizar um censo entre os moradores. Os resultados foram publicados num documento, um pano em linho escrito a tinta de framboesas com o líquido produzido pela Glândula de Skene. Muitos anos se passaram para que este documento precioso fosse encontrado em uma garrafa que boiava pelo Canal dos Dez Graus, entre as Ilhas de Andamão e Nicobar. Após o achado, em meados do século XVIII, neste ponto do Canal, os nativos começaram a esperar pelas supostas autoras daqueles escritos. Algumas luas depois, foi fundada nas proximidades daquele ponto de espera, a cidade de Port Blair. Em nossas andanças insaciáveis pelos cinco continentes a buscar respostas para o fim do nosso personagem, tivemos acesso a este Documento na biblioteca municipal de Port Blair.
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Porém antes de seguir com nossas descobertas, alertamos a existência de uma lenda que paira por entre as tramas deste tão delicado pano, uma maldição para todos aqueles e aquelas que souberem o conteúdo de tal documento: “lede o ‘paninho suado’, e não sabereis na prática o líquido da tinta e ainda, nem tampouco chegareis perto dele”. Esclarecemos que originalmente o censo foi chamado de “paninho suado” pelas nativas daquela ilha, como há no dito popular, “tradutori, traidore”, traduzimos a expressão como “censo”. Maldição esta, também checada por nós quanto as suas origens e veracidade. No decorrer destas averiguações, fomos agraciados pela descoberta da resposta e mais um mistério desta nossa peripécia “Caminhísticas”. Porém, os fatos a seguir podem explicar melhor a maldição. Esclarecemos que também ficamos sabedores do antídoto à maldição. Para aquelas que interessarem saber o antídoto, favor consultar nossos contatos. Com vossa permissão e após o aviso, seguiremos com o documento. Então nosso incansável Pero, levantou exatas cento e dezessete mulheres, alguns dizem que em coincidentes cento e dezessete noites, e colocou-as estratificadas (repare a maldição) em: Nove anciãs, com mais de setenta e três anos, que controlavam a ilha numa forma colegiada de parlamentarismo matriarcal de governo junto ao grande chefe Pena Curta;
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Quinze mulheres acima de quarenta e oito anos, chamadas de mães; Vinte e cinco mulheres entre vinte e nove e quarenta e sete anos; Cinquenta e sete mulheres entre dezoito e vinte e oito aninhos de puro ânimo para descobrir/desfrutar a natureza humana; Seis mulheres entre dez a dezessete anos por fim, lembrando que o chefe Pena Curta tem apenas onze anos; Alguns outros dizem que depois da penosa labuta dos cento de dezessete levantamentos, Pero necessitou de férias para descansar deste que foi o maior trabalho de sua vida entrelaçado com um exacerbado rigor científico, em alguns casos, mais específico, em nove casos. Após o censo dos moradores, Pero usou sua experiência de exímio edil em Porto, e promulgou em conjunto com o chefe Pena Pequena e suas anciãs, a primeira constituição da ilha. Entre outros grandes feitos como controle de natalidade por oferta de “matéria prima” e não por demanda de fabricação, também batizou, oficialmente, a ilha como “Pasárgada”. Os documentos não deixam claro, mas fizemos uma relação com o poeta Manoel Bandeira. É atribuído pelo poeta, que apreendeu esta palavra de um autor Grego em sua tenra juventude, porém com seu imaginário focado neste nome da Grécia antiga, fez sua redondilha mais famosa.
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Diante de dezenas de documentos e fatos históricos não bem claros, concluímos nossa análise deixando dúvidas, na verdade, de como foi o verdadeiro fim de Pero Vaz de Caminha. Porém, arrolamos três alternativas possíveis, a saber: Pero vivera até o final de seus dias como senador (único) de Pasárgada, ajudando o colegiado de anciãs e o grande chefe a governar sabiamente seu plantel. Alguns expedicionários descobriram Pasárgada e guerrearam pelo seu ouro, haja vista que aquele substrato da pirâmide de habitantes tinha muito a dar ainda em termos de produção e construção do PIB de Pasárgada. Outros ainda chamam Pasárgada de um nome estranho: “Atlântida”. Mas deste viés dos documentos ainda não concluímos as análises por falta de papel toalha. Estão muito molhados. A última notícia que constatamos em análises dos documentos, é que nosso Pero Vaz cansara fisicamente dos seus afazeres e numas férias tentou chegar à Índia, sendo abatido violentamente por uma tempestade numa praia onde os mouros dominavam. E logo, ao proferir suas primeiras palavras “eu tenho ouro, gajos!”, os dominantes daquele lugar já o abateram, pois era um inimigo português. Por fim, deixamos em aberto o estudo para que novas contribuições sobre o tema sejam agregadas para enriquecer esta etapa da história dos descobrimentos. E colocamos à prova de veracidade contrária, qualquer informação aqui prestada.
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