Patrimónios do Mês - CIAB Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia

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CIAB - Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia


IGREJA DE S. JOSÉ A Igreja de S. José na Vila de Atouguia da Baleia teve como primeiro orago Nossa Senhora da Graça. A primitiva capela terá sido construída no século XV, sendo contemporânea do Convento de S. Bernardino. Os seus fundadores também criaram, na Vila de Atouguia da Baleia, a Ordem Terceira de S. Francisco. O templo foi renovado - ou feito um novo no local - em 1747, continuando com o mesmo orago. A igreja foi afetada pelo terramoto de 1755, tendo as obras sido levadas a cabo com as contribuições dos fiéis e da então Câmara Municipal de Atouguia. A alteração de padroeiro principal explica-se por uma doação, em 1807. O Pe. Gregório Viana de Azevedo agraciou a Ordem com a importância de 48000 réis para a construção de um altar dedicado a S. José. Estando a igreja a precisar de obras de beneficiação, o dinheiro foi aplicado nestas. Assim, e com o objetivo de respeitar

a dádiva do eclesiástico, alteraram-se

as imagens, passando a estar no Altar-mor, a imagem de S. José. Até recentemente, a igreja abria aos crentes, para a celebração da Missa

em honra de S. José, no dia 19 de Março. A Missa era antecedida de Novena e, no dia 19, havia lugar a Festa, com baile, no Largo fronteiro. Em 2004 iniciam-se as obras de requalificação e, em 2012, abre ao público, integrada no circuito de visita do Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia. É uma Igreja de planta octogonal com contrafortes dispostos na diagonal e apresenta no frontispício cornija encimada pelas armas da Ordem Terceira de S. Francisco. Igreja de S. José na Vila de Atouguia da Baleia. integrada no circuito de visita do CIAB - Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia.

Armas da Ordem Terceira de S. Francisco.


PELOURINHO DE ATOUGUIA DA BALEIA Fronteiro à Igreja Matriz de S. Leonardo, encontra-se o Pelourinho de Atouguia da Baleia. Imóvel do início do séc. XVI, é herança de um passado de autonomia política, administrativa e judicial – o Concelho de Atouguia da Baleia, extinto em 1836. É um Pelourinho de pinha, de estilo manuelino, em cantaria de calcário, sobre soco de três degraus quadrangulares, com coluna de base tripla e fuste liso, interrompido por anel no centro. Apresenta remate em capitel cúbico, encimado por pináculo cónico. As armas heráldicas dos Condes de Atouguia, que se encontravam esculpidas no capitel do Pelourinho, foram mandadas picar por Marquês de Pombal na sequência Récitas em Geraldes. Décadadadetentativa 1940. de assassinato do autoria rei D.de José, em 1758, no Fotografia da Pe. Miguel, cedida por Graça Campos. âmbito do processo dos Távoras, no qual D. Jerónimo de Ataíde, último Conde de Atouguia, foi implicado e supliciado.

Pelourinho de Atouguia da Baleia, de estilo manuelino, com a Igreja de S. Leonardo em segundo plano.

Originalmente erigido em frente do Edifício dos Paços do Concelho – demolido na década de 1960, tendo no seu lugar sido construído o novo edifício da Junta de Freguesia –, o Pelourinho de Atouguia da Baleia situa-se, desde então, no centro do Largo de S. Leonardo, a poucos metros do local primevo.

Capitel com as armas heráldicas dos Condes de Atouguia picadas após tentativa de assassinato de D. José.

Imóvel de Interesse Público classificado pelo Dec-Lei nº 23/122, DG, 1ª Série, nº 231 de 11 de outubro de 1933.


FOTOGRAFIA – ESCOLA PRIMÁRIA FEMININA Fotografia a preto e branco, datada do final da década de 30 do século XX, que reporta às classes da Professora Felisbela Oliveira Lopes Chagas.

Récitas em Geraldes. Década de 1940. Fotografia da autoria de Pe. Miguel, cedida por Graça Campos.

Esta Escola Primária feminina situava-se na Rua José Augusto Vaz, em Atouguia da Baleia. Na fotografia estão representadas parte das alunas: Fila de cima, da esquerda para a direita: Menina Emília Lopes Chagas (sentada); Rosa Vitorino; Ilda Vitoria; Maria Júlia Cavalheiro; Hortense Simões; Odete Chagas; Sofia Vala; Lucília Vala; Noémia Baltazar (Néné); Alice Chagas. Fila do meio: Natália Ferreira; Maria Odete; Maria Lurdes Ferreira; Leonilde; Maria do Rosário Machado; Fernanda Chagas; Palmira Salvador; Prof.ª D. Felisbela Oliveira Lopes Chagas; Alice; Maria Luzia; Stael;(?); (?); Raquel. Fila de baixo: (?); Mariete Correia; Violeta Chagas; Lisete Chagas; Leonor Chagas; Maria Sofia Vala; Maria Belo; Maria do Céu Chagas; Maria de Lurdes Machado; (?) e (?). Fotografia tirada junto à janela da sacristia da Igreja de S. Leonardo, Atouguia da Baleia, em 1938-39. Exemplar cedido por Mariete Correia ao CIAB (Imagoteca), em 2012.


TÚMULO DE D. ÁLVARO GONÇALVES DE ATAÍDE Na capela-mor da Igreja de S. Leonardo jaz o 1º Conde de Atouguia, D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, falecido em 1452. O seu túmulo, de grandes dimensões, em pedra calcária e faces lisas, apresenta, ao centro, o escudo com as armas dos Ataíde. No Altar-mor, encimando o mausoléu, encontra-se a Lápide dos Ataíde, inscrição gravada em caracteres góticos que tem as primeiras palavras picadas, tal como acontece com o escudo que a coroa. Na Sacristia é ainda possível observar, intacto, o Brasão dos Ataíde. Os restantes Brasões de Armas da família Ataíde – que encimam o Túmulo, o Pelourinho de Atouguia e a porta de entrada da Fortaleza de Peniche – foram mandados picar pelo Marquês de Pombal em 1759, na sequência da tentativa de assassinato do rei D. José, à qual o último Conde de Atouguia, D. Jerónimo de Ataíde, se viu associado e, pela qual, foi supliciado publicamente em Belém com outros elementos da família Távora. A Vila de Atouguia, com seu castelo, termo, jurisdição e padroado, foi doada por D. Afonso V a Álvaro Gonçalves de Ataíde, a 17 de dezembro de 1448.

Récitas em Geraldes. Década de 1940. Fotografia da autoria de Pe. Miguel, cedida por Graça Campos.

D. Álvaro de Ataíde casou com D. Guiomar de Castro que, de acordo com lápide evocativa gótica existente na Igreja de S. Leonardo, terá mandado construir, pela alma de seu marido, o Coro Alto desse templo, em 1463, desmantelado no final da década de 1970 aquando da intervenção de requalificação da Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. Túmulo de D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, 1º Conde de Atouguia da Baleia. Brasão dos Ataíde (em cima) | Pormenor de inscrição (em baixo) Fotografias patentes na Exposição “Pedras com História – Monumentos da Vila de Atouguia da Baleia. Fotografias de António Évora e Textos de Cecília Cavalheiro“, de 10 de agosto a 27 de setembro’14.


IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO A Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Atouguia da Baleia, Imóvel de Interesse Público desde 5 de julho de 1962, é um templo de estilo barroco atribuído ao arquiteto João Antunes. A construção da igreja está associada a um milagre ocorrido com a imagem de Nossa Senhora da Conceição: por se encontrar muito carcomida, a escultura teria sido substituída por uma imagem nova e guardada numa capela secundária da povoação, onde, mais tarde, foi encontrada transpirando, deitando lágrimas e com o rosto rosado. Os devotos ergueram então a presente igreja para albergar a imagem, para a qual se produziu um novo corpo de roca. Em 1694 teve, assim, início a edificação deste templo, no local de uma antiga capela, com a ajuda das esmolas da população e o apoio da rainha D. Maria Sofia Isabel de Neuburgo, segunda mulher de D. Pedro II.

Récitas em Geraldes. Década de 1940. Fotografia da autoria de Pe. Miguel, cedida por Graça Campos.

Trata-se de uma igreja de planta longitudinal, composta pelos retângulos justapostos da nave e da capela-mor à qual se anexam a sacristia e sala de reuniões. A fachada é marcada pelos torreões em cantaria aparelhada. No interior, de uma só nave abobadada, sobressai a beleza da capela-mor revestida a embutidos de mármore rosa e negro contrastando com o branco da pedra calcária, com as características formais do estilo nacional, centrado por um trono com a imagem da padroeira. O mármore rosa da Arrábida é também empregue nas bases dos dois púlpitos e nas pias de água esculpidas em forma de concha.

Exterior da Igreja.

Interior da Igreja. Pormenor do altar-mor.


BARBEIRO No âmbito do “Inventário Participativo de Atouguia da Baleia”, projeto basilar do Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia, as barbearias – enquanto profissão tradicional e local de socialização e confraternização masculina – foram frequentemente apontadas como um dos pontos de interesse patrimonial de várias localidades. Nesta perspetiva, inventariaram-se 11 barbearias na freguesia de Atouguia da Baleia. Neste Boletim Informativo, destacamos um desses barbeiros: Fernando José Faustino, nascido na Vila de Atouguia da Baleia em 1935. Iniciou o seu percurso como barbeiro por volta dos 15 anos de idade, influenciado pelos seus irmãos mais velho, Luís e Rui, que também praticavam este ofício. A profissão de barbeiro era normalmente exercida nos finais do dia e aos fins de semana, Récitas tendo em também dado apoiode como Geraldes. Década 1940. jornaleiroFotografia em trabalhos agrícolas. da autoria de Pe. Miguel, cedida por Graça Campos.

Até aos 38 anos, época em que emigrou para a Alemanha, foi proprietário de um estabelecimento sito na Rua José Augusto Vaz, conhecido popularmente como “Barbearia do Estarrolho”. No regresso, em 1987, voltou a dedicar-se a este ofício, mas já num outro local. Alguns dos objetos associados à sua vida enquanto barbeiro estão temporariamente expostos no Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia: uma cadeira de barbeiro, navalhas, máquinas de cortar cabelo, pentes, etc.

Fernando José Faustino a cortar o cabelo a António “Engorra”. Thiéres e Rui Chagas ladeiam o barbeiro. Autor: António Engorra. Data: c.1956. Cedida por Maria Luísa Vala e Fernando Faustino


CAIXAS DE MEDIDA Conjunto de cinco medidas, de forma cúbica, com diferentes tamanhos. Estas caixas são medidas-padrão de volumes secos, usadas para calcular quantidades de trigo, cevada, centeio, milho e feijão, entre outros. As caixas são em madeira, com encaixe por malhetes simples nas faces laterais e elementos metálicos fixando a base, de formato quadrado. As duas medidas de maior dimensão têm duas pegas laterais em faces opostas, para mais fácil manuseamento. A caixa maior apresenta inscrito – riscado – o apelido do proprietário original: “VALA”. As caixas de dimensões mais pequenas ostentam marcas numa das faces exteriores com correspondente capacidade volumétrica em litros: “5 litros”, “1 l”, “½ l”,. Os dois recipiente de maiores dimensões são referidos como “alqueires”, tendo capacidade aproximada de 14,2 e 10 litros, respetivamente. O alqueire é uma medida cujo volume varia tanto ao longo dos séculos como por área geográfica. A sua equivalência em quilogramas depende do cereal ou leguminosa em causa.

Récitas em Geraldes. Década de 1940. Fotografia da autoria de Pe. Miguel, cedida por Graça Campos.

Conjunto de cinco caixas em madeira, usadas como medida-padrão para volumes secos. Séc. XX MAB000515, 516, 517 (a, b e c) Doação de Fernando Vala / JFAB, 2009 Etnografia


25 DE ABRIL Celebra-se, este ano, o 40º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974, comumente conhecida como Revolução dos Cravos. Esta ação, liderada por um movimento militar – o Movimento das Forças Armadas – pôs fim a mais de quatro décadas de Ditadura de inspiração fascista. Esse estado autoritário tinha sido implementado em Portugal na sequência do golpe militar de 28 de maio de 1926 e da Constituição de 1933, tendo como Chefe do Governo António de Oliveira Salazar, até 1968, ano em que, por invalidez, foi substituído por Marcelo Caetano. Durante o período de vigência da Ditadura do Estado Novo, Portugal atravessou um período no qual as liberdades democráticas fundamentais foram negadas aos seus cidadãos. As movimentações militares da noite de 24 e madrugada de 25 de abril de 1974, culminam no fim do dia com a rendição do então chefe do governo, Marcelo Caetano, que se encontrava no Quartel do Carmo, em Lisboa. Na sequência do 25 de abril, a Fortaleza de Peniche – onde esteve instalada, durante 40 anos, uma prisão política na qual Récitas em Geraldes. Década de 1940. estiveram encarcerados opositores ao regime ditatorial – viu o da autoria de Pe.a Miguel, povo reunir-se junto Fotografia aos seus portões, exigindo libertação cedida por Graça Campos. dos presos políticos, acontecimento que teve lugar na madrugada de 27 de abril. Este é um episódio particularmente marcante da História Local. Uma das conquistas de Abril foi, também, o fim da Guerra Colonial e a independência dos territórios ultramarinos. Diversos soldados do concelho de Peniche combateram – e alguns destes morreram – na guerra que assolava as então colónias portuguesas. Na Vila de Atouguia da Baleia, encontra-se um monumento aos Combatentes, alusivo ao Soldado Desconhecido, inaugurado a 10 de junho de 2009, em homenagem “a todos os que lutaram, sofreram e faleceram por Portugal”. A memória da Revolução está igualmente patente em Récitas em Geraldes. Década de 1940. diversos lugares da Freguesia Atouguia Fotografia de da autoria de da Pe.Baleia Miguel,e do Concelho de Peniche,cedida nomeadamente na toponímia local, por Graça Campos. onde pontuam diversas avenidas, ruas e travessas com o nome 25 de Abril ou Liberdade.


RÉCITAS Práticas performativas muito comuns em diversas localidades da freguesia de Atouguia da Baleia, as récitas são teatros amadores, levados a cabo por grupos de jovens atores locais. Estas práticas culturais foram reproduzidas entre as décadas de 1930 e 80, consoante as localidades, num espectro que ia do drama à comédia, passando também por temáticas religiosas. Nalgumas povoações do concelho, ainda se ensaiam e apresentam peças, normalmente associadas ao calendário católico. Estas manifestações de carácter performativo, eram realizadas em diversas épocas do ano – verifica-se uma consistência na época dentro de um mesmo grupo, ainda que varie de localidade para localidade (Verão, Natal/Reis, Carnaval, Dia da Mãe, …) – e tinham por objetivo recolher fundos que revertiam para obras de caridade, associadas à igreja, casa paroquial ou à coletividade local, tais como apoio à reabilitação ou construção de imóveis religiosos ou aquisição de equipamentos.

Récitas em Geraldes. Década de 1940. Fotografia da autoria de Pe. Miguel, cedida por Graça Campos.

Inicialmente eram realizadas em palcos improvisados, montados em antigos lagares, celeiros e sótãos. Mais tarde, com a construção de associações recreativas, as récitas passam a ter lugar nestes novos espaços de sociabilidade. Espetáculos de variedades com fins recreativos, incluíam, por norma, duas a três peças de teatro, intervaladas com momentos de dança (folclore, marchas) e canto. “Malhar em ferro frio”, “O Limpa Chaminés”, “Drama da noite de Natal”, “Qual das duas?”, “Maldição de mãe”, “Tribulações dum aldeão em Lisboa” e “Fábrica de Malucos” foram algumas das peças representadas, que contavam com forte afluência de público nas matinées e soirées de apresentação!

Récitas em Geraldes. Década de 1940. Fotografia da em autoria de Frio”, Pe. Miguel, Récita “Malhar Ferro em S. cedida por 1987. Graça Fotografia Campos. da autoria de Bernardino. Pe. Castro, cedida por Idália Agostinho e Mª Carmo Bastos.


fevereiro’14 BARRILINHO Designado barrilinho, este objeto servia para transportar o vinho ou água-pé para os trabalhadores beberem quando iam para os campos agrícolas. Produzido de varas de madeira dispostas verticalmente e fechado nos topos, este consiste essencialmente em barril de pequenas dimensões (apenas 30 cm de altura) em forma de recipiente cilíndrico oco bojudo ao centro, com pega e quatro aros metálicos de suporte. Foi utilizado em Atouguia da Baleia

aproximadamente até à década de 1940 e foi doado ao CIAB em março de 2012 por António Manuel Prioste Salvador. Pertenceu

anteriormente a Henrique

Tarão, agricultor e proprietário de um

dos maiores lagares que existiu na vila. No

território

nacional

é

conhecido

também por quartil, borracho ou barril portátil. Considerando o contexto da identidade rural

de Atouguia da Baleia,

está

inserido desde a sua inauguração a 17

de

março

permanente

de

2012 do

na

Exposição

CIAB

“Centro

Interpretativo de Atouguia da Baleia: um projeto museológico participativo" no tema “Atouguia da Baleia na atualidade”.

Barrilinho. Nº inv.: MAB000598


CANGA Esta peça foi herdada por José da Costa Clara (n. 1924) do seu pai, João da Costa Clara, agricultor de Atouguia da Baleia, tendo sido produzida na década de 1930. "Esta canga parece-me que veio de Turquel. O meu pai mandou fazer um carro e a canga em Turquel e foi lá buscá-la. (...) Deve ter sido por volta de 30 e qualquer coisa que ela veio.” Deixou de ser utilizada pelo proprietário há cerca de 40 anos, tendo sido doada ao CIAB em abril de 2013, considerando a sua importância no contexto da identidade rural de Atouguia da Baleia. A canga é um arreio de tração, duplo, com que se emparelham os animais para a lavoura ou transporte. Esta peça era apoiada no pescoço do animal através do burnil e tinha como função ligar a junta (ou parelha) de animais à carroça ou charrua. Aquando da entrega ao CIAB, o doador expos a utilização deste objeto: “[o burnil era] uma espécie de gravata cheia de palha. Depois, enfia-se ao pescoço dos burros. Ata-se uma corda no centro da canga que depois era atada à grade, à charrua... Elas [as burras] puxavam e elas guiavam a charrua". Em madeira de pinho pintada a verde, com quatro canzis em ferro, dois de cada lado, entre os quais se coloca o pescoço do animal, esta peça apresenta, ao centro, símbolo entalhado que, de acordo com o doador, não seria marcação da família proprietária, antes um embelezamento do produtor.

Canga em madeira. Nº inv.: MAB000619


PRESÉPIO Presépio existente na Igreja de S. Leonardo, em Atouguia da Baleia, atribuído à Escola de Machado de Castro. Joaquim Machado de Castro (1731-1822), natural de Coimbra, foi um dos

maiores

e

mais

renomados

escultores

portugueses, sendo célebres os seus presépios barrocos. Este presépio pertenceu ao extinto Convento

Franciscano de São Bernardino (concelho de Peniche) que,

com a extinção das ordens

religiosas em Portugal, em 1834, e o abandono do convento, foi transferido para a Igreja de S. Leonardo, matriz da Freguesia. Para além da mensagem religiosa que transmite, este presépio de figuras em terracota, constitui uma

bela

manifestação

da

arte

popular:

excetuando as figuras representativas da Sagrada Família, as demais remetem para uma realidade cultural muito portuguesa, integrando elementos etnográficos,

animais

e

personagens

sem

correspondência direta à época, local e momento do nascimento de Jesus. Podem-se observar alguns aspetos interessantes, onde se destaca a presença de um elefante. Presépio barroco existente na Igreja de S. Leonardo atribuído à Escola de Machado de Castro

Pormenor central da Sagrada Família


FEIRA DE S. LEONARDO Trata-se de uma popular feira de rua, com frutos secos, água-pé e produtos tradicionais, no dia 6 de novembro, dia da morte de S. Leonardo de Noblat, padroeiro da Freguesia e Igreja Matriz de Atouguia da Baleia. Em Portugal, a Igreja de S. Leonardo é o único templo dedicado a este santo. 1

A Feira de S. Leonardo, na Vila de Atouguia da Baleia, terá a sua génese no reinado de D. João IV e teria lugar junto à Igreja de S. Leonardo, onde permaneceu até aos princípios do séc. XVIII, passando para o largo de Nossa Senhora da Conceição aquando a construção da Igreja homónima. Num inquérito promovido, em 1758, pela Secretaria de Estado dos Negócios Interiores do Reino, o Vigário da Matriz de S. Leonardo informa que existe feira a 6 de novembro que dura um só dia e não é franca, o

que queria dizer que não isentava os feirantes de pagamento de direitos fiscais. As rendas desta feira terão, contribuído para a construção do Forte de Nossa Senhora da Consolação, imóvel do séc. XVII. 1

Janeiro de 1641- Os procuradores de Atouguia da Baleia às Cortes de Lisboa pediram a D. João IV, em nome do povo, para que, todos os anos, se fizesse uma feira franca na vila, a 6 de novembro, dia de S. Leonardo.

As feiras instituíram-se como um espaço de encontro de produtores,

consumidores

distribuidores

tempo,

ao

sendo

importância

longo

a

económica

e do

sua e

social inquestionável. A de S. Leonardo constitui assim um marco na identidade da Vila de

Atouguia da Baleia. Nos dias de hoje, a par dos frutos

secos

tradicionais,

e

produtos

abundam

as

tendas para venda de roupa, oferecendo as confeções com grandes descontos! Feira anual de novembro, largo de Nossa Senhora da Conceição, Atouguia da Baleia (6 de novembro de 1908), cedido pela Junta de Freguesia de Atouguia da Baleia., original de Maria de Lourdes Vala Correia.


outubro’13 CRUZEIRO DO CASAL DA CRUZ No largo sobranceiro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição na Vila de Atouguia de Baleia, templo barroco do século XVIII, atribuível ao arquiteto João Antunes encontra-se um Cruzeiro. Por aproximação conjetural à Igreja e dadas as suas características estilísticas é um monumento oitocentista, no entanto, julga-se adequado não considerar como cronologia definitiva. Monumento de arquitetura religiosa, em pedra calcária, caraterizado pela simplicidade do seu talhe é constituído por três partes, soco de secção circular de três degraus, coluna simples de fuste quadrangular e remate de haste e braços trilobados criando cruz latina. Antigamente implantado na orla da localidade no caminho designado como Casal da Cruz, atual Rua do Casal da Cruz, muito certamente este Cruzeiro lhe terá dado o nome.

Foi transferido para o largo da Igreja no dia 15 de outubro de 1963. Na fotografia podemos ver a sua antiga localização com a Igreja de Nossa Senhora da

Conceição ao fundo, destacava-se nesse tempo pela sua implantação ímpar. Atualmente

no

centro

da

Vila

colabora

harmoniosamente na qualidade do espaço urbano e na ligação do tempo com o lugar. Cruzeiro no Casal da Cruz, Atouguia da Baleia (década de 1950 (?)), digitalização de foto cedida por Carlos Chagas

Cruzeiro no largo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Atouguia da Baleia – localização atual


setembro’13 MEMÓRIAS FOTOGRÁFICAS DE ATOUGUIA DA BALEIA Memórias reunidas no arquivo fotográfico do Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia, este espólio abrange maioritariamente as décadas de 1920 a 1980, correspondendo quase à totalidade do séc. XX. Porém, atendendo à sua diversidade dos temas e temáticas representadas, praticamente constitui

um retrato da região durante o século passado podendo se observar as transformações sofridas no território nas últimas décadas. Estamos a falar de cerca de 300 fotografias, identificadas, catalogadas e digitalizadas desde 2012, correspondentes a muitas fotografias de exterior sendo ainda hoje fácil reconhecer quais os locais em

que foram recolhidas as imagens. Por conseguinte, a importância deste espólio é indiscutível e tende a aumentar à medida que o tempo vai passando.

Naturalmente,

este

arquivo

fotográfico

apresenta apenas temas da Freguesia de Atouguia da Baleia, essencialmente registo de paisagens, costumes e vivências, algumas já totalmente perdidas, levando a que, alguns destes registos se convertam em verdadeiras preciosidades.

Anjinhos da Procissão dos Passos de Atouguia da Baleia (1969, foto cedida p/ digitalização por A. V. Marques) MAB000596

“Vista da Praça do Logar d’Estrada (início séc. XX, doação de Maria L. Glória) MAB000621


NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO Escultura de vulto pleno em terracota, do período barroco, com revestimento dourado e polícromo pela técnica de estofado. A figura apresenta-se de pé, em posição frontal e de mãos postas com a cabeça ligeiramente inclinada para a direita, coberta por véu. Anuncia um cabelo longo, bem cinzelado com ondulados e monocromado a castanho claro, que pende sobre o ombro direito. Enverga vestes de pregueado fluído sugerindo volume e movimento, com motivos florais polícromos e enrolamentos vegetalistas dourados puncionados e esgrafitados. Assenta sobre uma base ou soco, também em terracota, representando uma nuvem figurada rodeada por três cabeças de anjos alados. Originalmente cultuada na Igreja de S. Leonardo, em Atouguia da Baleia, esta imagem do século XVIII encontra-se agora patente ao público na exposição de longa duração do Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia. Até à intervenção de conservação e restauro, promovida pela Câmara Municipal de Peniche em colaboração com a Fábrica da Igreja Paroquial de S. Leonardo de Atouguia da Baleia, a escultura estava depositada em local com deficientes condições de conservação. A intervenção, realizada em 2007, teve como objetivo a estabilização estrutural e das camadas polícromas e cromáticas. A devoção a Nossa Senhora da Assunção tem a sua representação ritual na Festa de Verão da Vila de Atouguia da Baleia, que decorre em agosto, com manifestações sagradas e profanas. Nossa Senhora da Assunção Séc. XVIII 60 x 109 x 38 cm MAB000130 Arte Sacra Escultura de Nossa Senhora da Assunção antes e depois da intervenção


IGREJA DE N.ª SENHORA DA CONSOLAÇÃO A Igreja de Nossa Senhora da Consolação, fronteira ao Forte com a mesma designação, data do séc. XVIII. Obra da responsabilidade do engenheiro militar Estêvão Luís, este templo terá sido edificado perto do local de uma ermida consagrada ao mesmo culto. A dimensão deste templo, composto por uma vasta nave, justificar-se-ia pela grande afluência de romeiros durante os Círios de Freiria (Torres Vedras)

e do Gradil

(Mafra)

que aí

se

celebravam. Apresenta um interior revestido de painéis de azulejos barrocos, com temas alusivos à vida de Nossa

Senhora

e

diversa

imaginária,

destacando-se a imagem da padroeira, Nossa Senhora da Consolação. A Igreja tem vindo nos últimos anos a receber obras de beneficiação, desde a recuperação exterior do edifício como intervenções de conservação e restauro do revestimento azulejar e das suas imagens.


ALGUIDAR DE BARRO Conjunto de três alguidares em barro vermelho cozido, de base plana e circular, corpo troncocónico de base invertida e bordo saliente. De grandes dimensões, os seus bordos superiores oscilam entre os 54 e os 74 cm de diâmetro. As superfícies interiores encontram-se revestidas por vidrado, apresentando uma tonalidade verde, num dos casos, ou vermelho-acastanhada, nos outros dois exemplares. De notar que dois destes exemplares se encontram gateados. Este processo de preservação permitia que, quando rachados, mantivessem a sua utilização, através de um sistema de junção por elementos metálicos, designados “gatos”, sendo a fratura impermeabilizada com argamassa. Alguns artesãos locais eram especializados, entre outros afazeres, na arte de gatear peças de barro. É um utensílio que se fabrica em diversos tamanhos, tendo tradicionalmente grande utilidade no serviço doméstico. Os seus usos são múltiplos, servindo de recipiente para amassar o pão ou na preparação das carnes aquando da matança do porco. Estes alguidares, que datam de meados do século XX, pertenciam a uma coleção privada, tendo integrado o espólio etnológico do Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia, através de doação consubstanciada em 2009, com os seguintes números de inventário: MAB000533, MAB000536 e MAB000537.


CONVENTO DE S. BERNARDINO O Convento de S. Bernardino tem a sua génese em 1451, com a criação do Ermitério franciscano. No entanto, devido a grande inundação em 1563, promove-se uma segunda fundação em sítio mais alto e adequado, algo que se concretizaria no final do século XVI. Após a revolução republicana, com a extinção das ordens religiosas, este espaço foi refuncionalizado acolhendo a Colónia Agrícola da Casa Pia em S. Bernardino. Em 1927 é criada a Colónia Correcional feminina, renomeada Instituto de Reeducação (1967), Centro Escolar (1975) e Colégio de S. Bernardino (1995), em funcionamento até ao início do século XXI. O núcleo residencial do espaço, o mais antigo do conjunto, corresponde ao primitivo convento dos frades franciscanos. Mantém grande parte da sua planimetria original onde se destaca, no andar térreo, o claustro, com a primitiva colunata clássica, em redor do qual se distribuíam as celas monásticas, o refeitório e a igreja do convento. Esta, originalmente de cruz latina, apresenta nave única abobadada decorada com pinturas seiscentistas, silhares de azulejos e altar em pedra com grande colunata torsa. O espaço é delimitado por uma cerca, existindo ainda, nos terrenos do Convento, entre outros elementos, duas pequenas ermidas de traça populista.

MP.011071.FTG

MP.011072.FTG

Entrada do Convento e altar-mor da igreja (1977, Museu Municipal de Peniche)


MOINHO DO SR. ARNALDO O Moinho de Vento do Sr. Arnaldo Pinheiro data de 1947, tendo sido construído por requerimento de José Ferreira Brazileiro (Licença Camarária, Obra nº 116, Processo nº 56/1947), comumente conhecido por José Granita, importante negociante de cereal da Bufarda. Em 1955, José da Costa Pinheiro, comprou o moinho ao então proprietário, José Cecília, para que o seu filho – Arnaldo Pinheiro, atual proprietário do moinho, então com 26 anos de idade – pudesse exercer a profissão da família: moleiro. Da família eram também outros moinhos de vento da Bufarda. O moinho de vento, sito na Rua do Caldeirão, em Geraldes, apresenta planta circular semi-cónica, com dois pisos, sendo constituído pela torre fixa em alvenaria e capelo rotativo cuja orientação é efetuada por sarilho interior. Do exterior são visíveis a torre de cor branca com barras azuis, o capelo e o mastro com as velas e búzios. O moinho encontra-se bem preservado e a funcionar, produzindo farinha de milho, de trigo e ainda milho partido para os pintos. Foi sujeito a obras de reabilitação em 2011. No âmbito do Inventário Participativo do Património Cultural de Atouguia da Baleia, foram identificados 41 locais de moagem de cereais (moinhos e azenhas), dos quais 31 estruturas permanecem visíveis. Este imóvel é propriedade privada. O Sr. Arnaldo Pinheiro possibilita visitas acompanhadas ao interior do moinho. Com 83 anos de idade, sempre ligado ao ofício de moleiro, o Sr. Arnaldo afirma: “O moinho é o meu orgulho e a minha companhia”.

Malhando na eira em Geraldes, com o Moinho do Sr. Arnaldo em 2º plano (Fotografia: C. Rosa, 1966)

Sr. Arnaldo Pinheiro à entrada do Moinho (Fotografia: A. Caetano, C. Gomes e D. Costa, 2010)


BILHA DE ÁGUA Bilha cerâmica, de barro vermelho. De bordo cilíndrico, com lábio saliente, tem o bojo largo, estreitando até ao pé. Apresenta uma pega com caneluras entre o bordo e o bojo. Este é um de vários exemplares que hoje se encontram e que evocam a memória da época em que se "ia buscar água à fonte“. Durante o projeto Inventário Participativo do Património Cultural de Atouguia da Baleia, as referências à Água, aos Rios e Ribeiros, às Fontes e às sociabilidades associadas, foram prolíferas. Identificaram-se 119 sítios de interesse patrimonial associados ao elemento “Água”, nem todos tangíveis. Destes, 53 permanecem conservados como património edificado. Transportamos agora para este boletim algumas das memórias destes espaços: “Sinto saudades do tempo em que a gente andava… também sou das pessoas que ia à fonte buscar água e ia ao rio lavar. Ainda lá tenho uma das bilhas de barro. Ainda lá está como recordação, que era da minha mãe.” (Refere-se à bilha representada na fotografia ao lado, agora espólio integrante do Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia – MAB000601) “A fonte era mesmo defronte da igreja de São Leonardo. De maneira que quando era pelas festas a gente fazia um grupo grande e acartava a água à cabeça para depois se limpar a igreja para se fazer a festa.” (Fonte de S. Leonardo, Atouguia da Baleia) “Ia à fonte também, a minha casa era ao pé da Igreja de Nossa Senhora, naquele largo – é mesmo ao pé! (…) E a gente esperava que a água nascesse. Tínhamos de esperar. Com as bilhas. Estava a nascer, tínhamos de esperar. Tinha uma barroca (…) O tanque ainda está lá ao lado [coberto] – era onde os leprosos iam tomar banho, na água da fonte. Diziam que era milagrosa.” (Fonte Gótica, Atouguia da Baleia) “Tinha ali uma fonte, estava sempre a correr água! Em 1949, que foi um ano de muita seca, havia pessoas que iam para lá de madrugada para encher as bilhas, para ir buscar água. (… ) Era ali que as pessoas se encontravam, era ali que as pessoas partilhavam os seus momentos de lazer.” (Poço da Barroca, Geraldes) “Era uma água muito boa, uma água muito fininha.” (Fonte Caixeira, Lugar da Estrada) “A minha [mãe] lavava, dobrava, quando queriam lá se passava a ferro também, e eu ia lá entregar com o burro. Corri lá Peniche todo com os cestos.” (Reinaldes) “Aqui é que tem a história das Lavadeiras dos Bolhos!” (Rio Salão, Rio da Quinta e Rio da Tapadinha, Bolhos)


TOURIL DE ATOUGUIA DA BALEIA Junto ao terreiro fronteiro à Igreja de Nossa Senhora da Conceição encontramos o Touril de Atouguia da Baleia, um conjunto de esteios de pedra com perfurações retangulares, regularmente alinhados, conhecidos popularmente pelo nome de “trincheiras”. Se alongarmos a vista, de costas para a referida igreja, identificaremos um outro exemplar a pouco mais de 50 metros. Trata-se da reminiscência de um espaço tauromáquico, palco de festividades testemunhadas por documentos da segunda metade do século XVIII, que o dão como um espaço tradicional onde há festas de Touros. O Touril de Atouguia da Baleia corresponde a um dos raros e, simultaneamente, mais antigos exemplares do género existentes em Portugal. A presença desta estrutura abre campo a diversas conjeturas acerca da origem do nome da povoação e do próprio Brasão de Armas da Vila de Atouguia da Baleia (um touro com chifres enfeitados por duas torres).

Alguns dos esteios originais foram, ao longo dos anos, partindo-se ou desaparecendo. No último século, as trincheiras foram reapropriadas para outros usos, fazendo parte das memórias dos mais velhos a sua utilização como espaço de “jogo de bola”, local de onde se colocava a corda de estender a roupa ou onde por vezes se amarravam os animais.

Perspetiva sobre o Touril e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição


ANTIGO RETÁBULO COLATERAL DA IGREJA DE S. LEONARDO Destaca-se, em janeiro, o Retábulo quinhentista originalmente existente como Altar colateral da Igreja de S. Leonardo, na Vila de Atouguia da Baleia. Este seria formado por cinco tábuas pintadas com um nicho vazio ao centro, sobressaindo mísula recortada e dourada. Era encimado por um pequeno alçado, com o Pai Eterno em relevo entre dois pináculos e um friso entalhado com decoração maneirista. Em baixo, observava-se um rodapé com o mesmo tipo de decoração mas pintado. Este conjunto foi considerado, em 1968, pela Comissão de Arte Sacra do Patriarcado de Lisboa, como “muito curioso, de sabor muito italianizante, ou mais precisamente florentino, com pintura muito recortada e desenhada”. Os elementos conhecidos deste retábulo encontram-se em dois locais: das cinco tábuas, quatro foram integradas num altar da Igreja de S. Leonardo, após a sua reabilitação no início dos anos 80 do século XX; alguns dos restantes elementos desmantelados foram recuperados e estão patentes ao público na Exposição “Restaurando o Passado: Arte Sacra em Atouguia da Baleia”, até 2 de março de 2013, no Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia. 2

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1. Altar original, em 1968 (fotografia do Inventário Artístico da Comissão de Arte Sacra do Patriarcado de Lisboa) 2. Elementos do retábulo patentes na Exposição “Restaurando o Passado: Arte Sacra em Atouguia da Baleia” 3. Tábuas do retábulo integradas em altar lateral da Igreja de S. Leonardo


LIVRO DA CONFRARIA DE N.ª SENHORA DA CONCEIÇÃO O Livro da Confraria de Nossa Senhora da Conceição de Atouguia da Baleia, ou Rol dos Confrades, expõe os momentos marcantes por que passou esta Confraria, fundada a 21 de março de 1696. Trata-se de um in-fólio de cerca de 700 páginas com encadernação portuguesa em pele, do século XVIII, de tom avermelhado, reforçada sobre outra mais recente, com motivos vegetalistas e florais dourados. O Livro da Confraria principia com os treslados das Bulas iniciais do reconhecimento do milagre da imagem da Nossa Senhora da Conceição (de 19 de maio de 1693), a Bula das Indulgências e o Breve Pontifício. Neste documento histórico, estão elencados os nomes dos diversos confrades de Atouguia mas também de localidades diversas tais como Coimbrã, Ferrel, Fetais, Estrada, Geraldes, Reinaldes, Bolhos, no concelho de Peniche, ou Dagorda, Tornada e Santarém, na região estremenha. Depois de uma relativa decadência no século XIX, que resulta numa diminuição dos registos, a Confraria é restaurada a 19 de maio de 1908 – estando este marco identificado no Livro agora apresentado. A última entrada registada fixa-se em 1931.

Livro da Confraria de Nossa Senhora da Conceição: capa e primeira página, com descrição do Milagre



DOAÇÃO DE ATOUGUIA A D. ISABEL DE ARAGÃO A 19 de outubro de 1307, D. Dinis, Rei de Portugal, doou a Vila de Atouguia com a sua alcaidaria e todos os direitos à sua esposa, Rainha D. Isabel de Aragão1. A Carta de Outorga concede à Rainha Santa: “Em todolos dias da nossa vida, a minha vila e o meu castelo da Atougya asi como a tragiam herees [herdeiros] de dona Johanna com todos seus termhos e com todas suas rendas e suas pertenças e com todos seus direitos que eu hy ei e de dereito devo a aver.” Esta Carta tem a particularidade de ter sido assinada na própria Atouguia2, vila onde o Rei D. Dinis residiu por diversas vezes e que lhe deve várias benesses, entre as quais o restauro do Castelo ou o desassoreamento do Estuário do Rio de S. Domingos. Outras referências associam a Rainha Santa Isabel ao concelho de Peniche: a sua possível ligação à criação da Irmandade de Nossa Senhora da Gafaria de Atouguia e à edificação da Fonte Gótica3, ou a lenda do Milagre da Natividade quebrada4, sobre o baixo-relevo existente na Igreja de S. Leonardo, demonstram a importância desta Rainha na região. Referências bibliográficas: 1 Calado, M., 1991, Peniche na História e na Lenda 2 Engenheiro, F., 2007, “A Rainha Santa Isabel de Aragão foi proprietária de todo o nosso espaço concelhio”, A Voz do Mar nº 1207 3 Landeiro, J., 1971, “O milagre da Virgem da Conceição em 19 de Maio de 1693 e a sua igreja”, A Voz do Mar nº 342 4 Hipólito, F., 1999, “O Milagre da Natividade Quebrada”, O Pelourinho nº 2 [original publicado em 1982 - Expresso]

Reprodução da Carta de Outorga do Livro de Doações de D. Dinis, liv. III, fls 58V – Torre do Tombo



PRAIA DOS BANHOS DE S. BERNARDINO No concelho de Peniche, tal como na região Oeste, as praias com as tradicionais barracas de tecido riscado eram, e são, uma das imagens de marca da época balnear. A aldeia litorânea de S. Bernardino, na freguesia de Atouguia da Baleia, tem diversos focos de interesse patrimonial: o convento de S. Bernardino, as fontes, os moinhos de vento, a paisagem natural, as praias… Foi nesta localidade que, entre 1850 e 1960, existiram os afamados Banhos Quentes, tratamento terapêutico à base de água do mar aquecida. A norte das Praias dos Pedrógãos e dos Frades – sob o Convento de S. Bernardino – estende-se a Praia dos Banhos.

Caracterizam-na o “banheiro” (nadadorsalvador), os veraneantes, as barracas de praia (alugadas ao dia, à semana ou à época), as arribas, a beleza natural… Foram vários os nadadores-salvadores desta praia ao longo do século XX: José Bento (1920-1960), Joaquim Santos (1960), Carlos Humberto (1970), Humberto Santos (1982-2002)... O Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia expõe, no mês de agosto, espólio cedido por Esmeralda Santos, referente às últimas décadas do século passado: a barraca da praia, as bandeiras de sinais – verde, amarela, vermelha –, os uniformes de nadador-salvador e vigia… As fotografias de diferentes épocas permitem ilustrar sob diversos ângulos esta praia, convidando à rememoração e a um passeio à beira-mar.

Perspetivas sobre a Praia dos Banhos. Fotografias das décadas de 1950 (?) e 1980.




CIAB Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia

do

mes maio'12

SINO Sino, em bronze, fundido em Lisboa pela firma Manoel António da Silva & Filhos em 1891, conforme inscrição na base. A decoração caracteriza-se pela existência de vários frisos e imagens em alto-relevo. Destaca-se a representação de Nossa Senhora da Conceição sobre inscrição “MATER PURISSIMA” e, opostamente, uma cruz latina sobre peanha.

Sino

O sino, até abril de 2012, encontrava-se na torre direita da igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Atouguia da Baleia, embora já não funcional. Apresenta-se rachado, com um dos arcos de sustentação partido. Foi alvo de tentativa de furto na madrugada do passado dia 11 de abril, estando agora à guarda do Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia. Dimensões: A = 66 cm; Ø = 65 cm; Peso ≈ 200 Kg

Igreja de Nossa Senhora da Conceição

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CENTRO INTERPRETATIVO DE ATOUGUIA DA BALEIA Rede Museológica do Concelho de Peniche Largo de S. José, 2525-028 Atouguia da Baleia

Lat. 39 20 25.68; Long. -9 19 37.81 T. 262758644 ciab@cm-peniche,pt | www.cm-peniche.pt


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do

mes

abril'12

RETÁBULO-MOR DA IGREJA DE S. JOSÉ Inserido na capela-mor da igreja de S. José, edificada pela Ordem Terceira de S. Francisco, este retábulo-mor terá sido executado na segunda metade do século XVIII, imediatamente após a construção da Igreja, enquadrando-se no estilo barroco final.

peanhas, as imagens de S. Francisco de Assis, à esquerda, e Santa Bárbara, à direita, em madeira policromada. Sobre o entablamento em arquivolta plena, sobre a tribuna, sobressaem um coroamento com as armas da ordem Terceira de S. Francisco e diversos elementos fitomórficos.

De madeira entalhada dourada e policromada, apresenta planta em perspetiva plana, embasamento com duplo registro, corpo único de três tramos e tribuna profunda. Na mísula, exibe imagem de S. José e, lateralmente, sobre duas

Recentemente alvo de intervenção de conservação e restauro, o retábulo-mor - e a igreja de S. José - está integrado no circuito de visita do Centro Interpretativo de Atouguia da Baleia.

Retábulo-mor da Igreja de S. José, antes e depois da intervenção

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