Revista Municipal de Lousada julho 2020

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LOUSADA

REVISTA MENSAL GRATUITA CÂMARA MUNICIPAL DE LOUSADA JUL’20

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REVISTA MUNICIPAL FICHA TÉCNICA

Revista Municipal Câmara Municipal de Lousada N.º 192 Ano n.º 21 – 4.ª série Data: julho 2020 Propriedade e edição: Câmara Municipal de Lousada Direção: Presidente da Câmara Municipal de Lousada Texto: Divisão de Comunicação Fotografia: Divisão de Comunicação e Divisão de Ambiente (Setor de Conservação da Natureza e Educação Ambiental) Impressão: Invulgar - Artes Gráficas, SA Tiragem: 17000 Depósito Legal: 49113/91 ISSN: 1647-1881

Esta revista foi impressa com tintas de base vegetal, livres de solventes e biodegradáveis.

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Redução das taxas da Feira e do Mercado Municipal

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Núcleo Museológico do Plano dos Centenários

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Conselho Local de Ação Social

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Atibuição de seguro de saúde aos Bombeiros

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6.º Free Running Especial

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Lousada Verão Fitness 2020

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A cuidar dos cursos de água

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Casa Ninho –novos participantes e mais registos

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VII Jornadas Pedagógicas «Ajudar a Educar»

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SUPLEMENTO CRÓNICAS DO MEU JARDIM: A arte de tourear carriças

BOLETIM MUNICIPAL disponível em www.cm-lousada.pt/pt/boletim-municipal


COMÉRCIO

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PARA DINAMIZAR COMÉRCIO LOCAL O Município em colaboração com os comerciantes locais promove, a partir de 1 de julho, a campanha “Comprar em Lousada”, como incentivo ao comércio local. Quem Comprar em Lousada habilita-se a prémios quinzenais, no valor de 500 euros, que são divididos em vales de 250€, 100€, 75€, 50€ e 25€, que podem ser gastos em compras de valor igual ou superior ao sorteado nas lojas aderentes. Os cupões têm de ser depositados num recetáculo próprio, disponibilizado em todas as farmácias do concelho e na Loja Interativa de Turismo, entre os dias 1 de julho a 31 de dezembro. Os sorteios vão realizar-se na primeira e terceira sexta-feira de cada mês.

As lojas que pretendem aderir a esta iniciativa devem manifestar o interesse através do preenchimento de um formulário em www.cm-lousada.pt/p/compraremlousada. Podem ainda tirar algumas dúvidas acerca do preenchimento através do email apoioempresas@cm-lousada.pt ou, presencialmente, no Balcão do Empreendedor. De referir que apenas podem participar nesta iniciativa os estabelecimentos do comércio local que tenham aderido previamente à iniciativa, sendo esta exclusiva a estabelecimentos localizados no concelho de Lousada. Para se habilitar a participar no sorteio, o comprador tem direito a receber um cupão por cada 20€ euros de compras. O regulamento pode der consultado em www.cm-lousada.pt


COMÉRCIO

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REDUÇÃO DE TAXAS DA FEIRA E MERCADO MUNICIPAL A Feira Municipal, que se realiza nos dias 9 e 25 de cada mês, foi retomada nos finais de maio, após mais de dois meses de interrupção, com um conjunto de normas para feirantes e visitantes com a finalidade de evitar a propagação da Covid-19. No sentido de minorar o impacto da interrupção, o Município anunciou uma série de medidas de apoio entre as quais a redução de 50% do valor das taxas devidas pela ocupação dos lugares de terrado na Feira Municipal e também nos pagamentos dos comerciantes que têm lojas arrendadas no Mercado Municipal.

Os apoios ao comércio local passam ainda pela isenção de taxas para as esplanadas até ao final do ano, o fim da cobrança de tarifas mensais respeitantes ao abastecimento de água, saneamento e resíduos sólidos urbanos dos consumidores não domésticos que encerraram os estabelecimentos. Uma outra medida tomada pelo executivo diz respeito à suspensão temporária do pagamento de estacionamento no centro da Vila. Foram ainda oferecidas viseiras aos proprietários de espaços abertos ao público, nomeadamente, de lojas e espaços de restauração.


Decorrem obras de restauro em quatro apartamentos de emergência no Bairro Dr. Abílio Alves Moreira. Através de um protocolo firmado entre o Município de Lousada, o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (proprietários deste empreendimento social) e a Secretaria de Estado da Habitação vão ainda ser intervencionados mais 10 habitações destinadas a agregados familiares mais necessitados. Durante o período de pandemia, a autarquia criou medidas para ajudar as famílias com doentes infetados, através do realojamento temporário em habitações municipais impedindo o contacto direto, em especial de pessoas que constituem grupos de risco ou que se encontram em quarentena preventiva por ordem da Direção-Geral da Saúde. Em parceria com várias empresas foi possível remodelar habitações municipais destinadas a realojar pessoas ou famílias em situações de emergência ou que necessitam de resposta urgente como sucede com as vítimas de violência doméstica ou de despejos. O Vereador da Ação Social e da Habitação, Dr. Nélson Oliveira, deixa um “agradecimento às empresas que se associaram a esta causa, fornecendo, de forma graciosa, alguns móveis que são fundamentais à comodidade e bem-estar das pessoas que necessitem de passar por aquelas habitações”.

HABITAÇÃO

REABILITAÇÃO DO BAIRRO DR. ABÍLIO MOREIRA

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PATRIMÓNIO

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NÚCLEO MUSEOLÓGICO DO PLANO DOS CENTENÁRIOS Está em curso a requalificação da antiga Escola Primária de Casais, espaço que vai ser reconvertido num núcleo museológico dedicado à história e à memória da Educação. O concelho de Lousada foi muito beneficiado pela construção de escolas do modelo oficial designado por Plano dos Centenários, entre os anos 40 e 70 do século XX. A Escola de Casais foi a única no concelho a ser contruída segundo a tipologia de 1 Sala. O projeto museológico pretende recriar um espaço físico similar ao de uma sala de aula antiga, em que os equipamentos utilizados, como o mobiliário, os materiais e equipamentos pedagógicos eram muito diferentes dos atuais, possibilitando um autêntico regresso ao passado analógico. O espaço vai estar disponível para visitas por parte das escolas, havendo a possibilidade de lecionar uma aula no seu interior, numa interação ímpar entre o espaço museológico e a atividade letiva formal.


A Biblioteca Municipal encerrou em abril do ano passado para obras, tendo em vista a melhoria do conforto e qualidade das suas infraestruturas. Foram intervencionadas as coberturas para a receção de equipamento de climatização e fornecimento de energia, e ainda o telhado. Procedeu-se, também, à reparação e proteção das paredes exteriores e interiores degradadas, substituição de caixilharias de madeira, construção de pequenas divisórias para reformulação de alguns espaços, nomeadamente no Piso 0 e no Piso 1. A própria organização espacial da Biblioteca sofreu algumas alterações. Assim, a Sala José Dias passou a receber

todos os documentos destinados a adultos, incluindo os que faziam parte da Sala de Literatura. Foi criada a Sala de Audiovisuais e Leitura de Periódicos, no Piso 1, e reorganizada toda a Área de Reservados, onde se encontram os documentos só disponíveis para consulta. Tal como todos os equipamentos públicos, a Biblioteca teve de se adaptar a estes novos tempos e reabriu ao público no mês passado cumprindo com todas as condições de segurança recomendadas pelas instâncias superiores, nomeadamente o Ministério da Cultura e Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas. De momento, o acesso às salas está vedado ao público e só está disponível o serviço de empréstimo domiciliário.

CULTURA

ALTERAÇÕES E MELHORAMENTOS NA BIBLIOTECA

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AÇÃO SOCIAL

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CONSELHO LOCAL DE AÇÃO SOCIAL EM DEBATE No passado dia 28 de maio, o Conselho Local de Ação Social reuniu-se por videoconferência, juntando os representantes de instituições públicas e privadas da Rede Social, como as Instituições Particulares de Solidariedade Social, Juntas de Freguesia, Agrupamentos de Escolas, Bombeiros, GNR, Santa Casa da Misericórdia de Lousada, Município, associações de carácter social, entre outras instituições de relevo nesta área. Neste encontro virtual a Autoridade de Saúde Local teve a oportunidade de fazer o ponto de situação relativa à Covid-19, transmitindo com os números, explicações técnicas e médicas sobre o fenómeno da pandemia no concelho. Das principais conclusões apresentadas destaque para o facto da situação se manter sob vigilância, sendo importante ter cuidados, nomeadamente de higienização e distanciamento pessoal.

Foi ainda referido que apesar dos ligeiros aumentos diários. No entanto, mais de metade dos Lousadenses contagiados já se encontram recuperados, sendo o grau de letalidade deste vírus na população local dos mais baixos. Desde o início da pandemia que tem existido um reforço da informação e sensibilização sobre os cuidados a manter na fase de desconfinamento. Junto aos estabelecimentos escolares, onde decorrem aulas presenciais, e nos locais de maior circulação de pessoas têm decorrido ações de sensibilização sobre as precauções a ter, em particular a distância social. Para o Vereador da Saúde, Dr. Nélson Oliveira, “existe total empenho da Autoridade de Saúde para atuar com rapidez sobre qualquer suspeita que venha a surgir, nomeadamente em contexto escolar, empresarial ou dentro de núcleos familiares e habitacionais. É importante perceber que apesar dos sinais positivos ninguém pode relaxar nos cuidados a ter”.


Lançado no início deste ano, o projeto BioSénior é um programa de educação ambiental da responsabilidade dos pelouros do Ambiente e da Ação Social da autarquia, destinado à população sénior do concelho. O intuito deste projeto é facilitar o processo de consciencialização e intervenção ambiental junto dos menos jovens, promovendo, em simultâneo, o envelhecimento ativo e a inclusão social, através de atividades enriquecedoras de partilha de experiências e de aprendizagens. Devido à situação da pandemia COVID-19, o arranque formal do projeto foi adiado para o 2.º semestre deste ano, mas o compromisso criado com a população sénior não foi esquecido. Assim, para fazer face à reclusão forçada de muitos Munícipes menos jovens, o programa BioSénior foi restruturado e adaptado para dar origem ao "BioSénior em Casa" e, dessa forma, continuar a aproximar estes cidadãos da natureza e das questões ambientais. Devido a este ajustamento do projeto, cerca de 500 idosos dos Movimentos Sénior de Lousada receberam em suas casas materiais didáticos e pedagógicos, entre os quais postais, livros e jogos, para além de um novo Jornal exclusivamente dedicado à natureza e ao projeto BioSénior – Jornal do Mundo Natural. Mais informações em www.cm-lousada.pt/p/biosenior

MUNICÍPIO

CHEGOU O "BIOSÉNIOR EM CASA"

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PROTEÇÃO CIVIL

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EQUIPAS DE PREVENÇÃO A INCÊNDIOS O Município disponibiliza, durante a época de incêndios, camaratas do Complexo Desportivo para alojar as Equipas de Combate a Incêndios Rurais (ECIN), dos Bombeiros Voluntários de Lousada. De 1 de julho até 30 de setembro estão de prontidão duas equipas ECIN, com 10 elementos, e uma Equipa Logística de Apoio ao combate (ELAC) com dois operacionais, apoiados por duas viaturas de combate a incêndios e um autotanque. Os operacionais são reduzidos para uma equipa ECIN, com cinco elementos e uma viatura de combate a incêndios, entre os dias 1 e 15 de outubro, tal como sucedeu durante todo o mês de junho. O financiamento destas equipas é da responsabilidade da Autoridade Nacional e Emergência Proteção Civil (ANEPC) e tem como funções a prevenção e combate a incêndios rurais inseridos no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais 2020. Para além destas equipas de primeira intervenção, pode haver necessidade de operacionalizar Equipas de Intervenção Permanente, sendo estas comparticipadas pelo Município e pela ANEPC.

INTERVIR NA COMUNIDADE ATRAVÉS DO RESTART+ O Município de Lousada é um dos parceiros do projeto europeu designado “Restart” . O projeto tem em vista a regeneração da comunidade, melhorando os seus conhecimentos, confiança e competências em áreas diversas como liderança comunitária, colaboração intersetorial, empreendimento social, abordagens inovadoras de investimento, património cultural, avaliação de impacto e outras. Desta forma, foi constituída uma aliança regional da qual fazem parte várias organizações que trabalham no desenvolvimento social, económico ou espacial das comunidades da região, de todos os sectores públicos, privados e sem fins lucrativos.

Para além do Município de Lousada integram esta parceria, a Comunidade Intermunicipal Tâmega e Sousa, o Conselho Empresarial do Tâmega e Sousa, o Instituto Empresarial do Tâmega, a Escola Superior de Tecnologia e Gestão, a Ader-Sousa, a Associação Empresarial de Penafiel, a VALSOUSA, bem como várias escolas do concelho de Lousada. Foi lançado, recentemente, um plano de ação com o intuito de permitir aos participantes partilhar informações, conhecimentos e competências como parte de um processo de aprendizagem em colaboração, para promover a regeneração da comunidade bem como orientar as partes interessadas para que cheguem a acordo sobre ações concretas adequadas a serem implementadas na região.


Decorreu no dia 14 de junho a comemoração do 94.º aniversário dos Bombeiros Voluntários de Lousada com a assinatura do protocolo de colaboração entre o Município e a corporação para a atribuição de um Seguro de Saúde a cada elemento do quadro ativo, no valor de 24 mil euros. Este apoio contempla consultas de especialidade em regime ambulatório, exames ou tratamentos. O Presidente da Câmara Municipal, Dr. Pedro Machado, destacou que “esta é uma forma de recompensa, tendo a certeza de que tudo é pouco perante a disponibilidade que sempre demostram em qualquer dia da semana e a qualquer hora. Este é também o reconhecimento público da população Lousadense aos bombeiros”. Para o Presidente da Direção da AHBVL, Antero Correia, a assinatura do protocolo “é uma forma de proteger os cerca de 100 homens e mulheres da corporação, que todos os dias lutam pela saúde dos outros. Por isso agradecemos à autarquia ter contribuído com esta verba de modo a que todos continuem a dar o seu melhor”.

PROTEÇÃO CIVIL

ATRIBUIÇÃO DE SEGURO DE SAÚDE AOS BOMBEIROS

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LIMPEZA DE CAMINHOS FLORESTAIS O Serviço de Proteção Civil da autarquia procedeu à limpeza de Caminhos Florestais nas freguesias de Caíde de Rei, Lustosa, Santo Estêvão e Sousela numa extensão aproximada de 15 quilómetros. Estas intervenções servem para efetuar retificações e reparações de caminhos florestais de forma a permitir a passagem das viaturas de combate a incêndios e auto tanques, caso seja necessário.


DESPORTO

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No dia 28 de maio, a iniciativa Free Running Especial completou seis anos e contando já com mais de 50 convidados. Esta atividade integrada no Centro de Marcha e Corrida de Lousada visa motivar a população para a prática de atividade física, em especial da corrida através dos testemunhos de corredores ou ex-corredores profissionais, bem como de outros atletas. Com a exceção de António Leitão, precocemente desaparecido, todos os medalhados olímpicos portugueses nas especialidades de fundo e meio-fundo já participaram nesta iniciativa: Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Rui Silva são alguns dos nomes que passaram por Lousada. Para além destes, outros nomes maiores do atletismo também participaram, tais como Fernando Mamede, António Pinto, José Regalo, Paulo Guerra, Aurora Cunha, Dulce Félix e Sara Moreira. Da jovem promessa Mariana Machado à saudosa ultramaratonista Analice Silva foram mais de 50 anos de diferença de idades, mas a mesma generosidade na partilha de experiências, opiniões e conselhos aos atletas presentes. Figuras do pelotão que saíram do anonimato pela sua longevidade, postura ou façanhas também estiveram presentes. Entre eles Geraldino Silva pelas suas 37 maratonas em 37 meses, João Oliveira pelas vitórias nas ultramaratonas Spartathlon (246 km – Grécia) ou TransOmania (300 km – Deserto de Omã), Óscar Loureiro pelos seus 80 anos repletos de vitalidade ou António Seabra, pelas personagens que encarna e com elas anima os outros corredores. Treinadores como Rui Ferreira, Pedro Rocha e António

Free g n i n n u R

Especial

6.º Aniversário

Ascensão comentaram o treino e o momento do atletismo em Portugal, homens e mulheres da ciência e das corridas como Pedro Amorim e Ester Alves partilharam um olhar atento e informado sobre a fisiologia do esforço. Os Lousadenses também ocuparam o seu lugar, como é o caso de António Mesquita com um palmarés invejável no Duatlo, Sara Catarina Ribeiro com mínimos para os Jogos Olímpicos de Tóquio, e José Magalhães, marchador presente em duas Olimpíadas (Barcelona 1992 e Atlanta 1996). A pandemia obrigou a que se fizessem algumas alterações, nomeadamente a presença física dos atletas convidados foi substituída por entrevistas online não se realizando de seguida o habitual treino. Para o dia 15 deste mês o encontro volta a estar marcado e o convidado é o Professor José Barros, ex-diretor técnico e selecionador nacional da Federação Portuguesa de Atletismo.


A autarquia instituiu o Programa Municipal de Caminhadas em 2015, no Ano Municipal do Desporto, e, desde então, têm sido muitas as caminhadas realizadas em todo o concelho. Este ano, o Programa Municipal de Caminhadas, a par de outras atividades desportivas, volta a surgir com algumas alterações na organização. De forma a evitar concentrações de pessoas, a Caminhada organizada pelas associações locais pode ser realizada no espaço temporal de uma semana, de domingo a sábado. Os participantes, individualmente ou em pequenos grupos (máximo de 5 pessoas), podem realizar a caminhada em qualquer dia da semana, de manhã, à tarde ou à noite. De modo a que os participantes saibam qual o percurso da caminhada, as associações vão definir o percurso através da aplicação Google Earth, permitindo saber qual o percurso a cumprir. As associações continuam a ser as responsáveis pela gestão

das inscrições e o Município disponibiliza as t-shirts para que os participantes possam utilizar durante a caminhada. O Programa Municipal de Caminhadas 2020 conta, à semelhança do ano anterior, com o cofinanciamento do programa Erasmus +, da União Europeia, que faz com que esta ideia nascida em Lousada continue a ser adotada na Croácia (Medimurje), Finlândia (Joensuu) e Eslovénia (Murska Sobota). O projeto inclui ainda planos alimentares saudáveis e tutoriais de atividade física, que podem ser vistos através do endereço europeanwalkingtour.eu Para esclarecimentos adicionais deve entrar em contacto através do email desporto@cm-lousada.pt. As primeiras caminhadas estão já agendadas. Na União Cultural e Recreativa de Boim o evento vai realizar-se de 19 a 25 de julho e na Associação Recreativa de Nogueira entre 26 de julho e 1 de agosto.

DESPORTO

PROGRAMA MUNICIPAL DE CAMINHADAS 2020

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DESPORTO

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A 3.ª edição do Lousada Verão Fitness 2020 realiza-se durante este mês, no Parque Urbano Dr. Mário Fonseca. A autarquia, em parceria com os vários ginásios e health clubs, do concelho, pretende proporcionar aos Munícipes um verão mais ativo através da dinamização deste programa. Esta iniciativa tem um vasto conjunto de iniciativas desportivas dinamizadas pelos ginásios e health clubs parceiros da atividade, que vão decorrer no Parque Urbano Dr. Mário Fonseca. O Lousada Verão Fitness realiza-se sempre às sextas e aos sábados à noite, pelas 21h00. Estas atividades são de participação aberta e gratuita a toda a população.


AMBIENTE

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CONTINUA A CRIAR BIODIVERSIDADE A decorrer desde 2017, Lousada Charcos é um projeto que visa conhecer e preservar os ambientes aquáticos do Município de Lousada, tendo mapeado, até à data, cerca de 600 charcos, represas, minas de água, entre outros. Assim, tem crescido o nível de sensibilização e envolvimento da população na proteção da natureza aquática, tendo sido construídos 16 charcos para a biodiversidade em diversos espaços públicos e envolvidos mais de 500 voluntários. Desde o início deste ano estão em fase de construção oito novos charcos, distribuídos pelas freguesias do Torno, Vilar do Torno e Lustosa. Com a chegada da primavera, têm-se multiplicado as ações de sensibilização junto de agricultores e outros proprietários para a correta gestão destas massas de água, o que incluiu

diversas visitas a piscinas, represas e charcos com presença de anfíbios. Nestes casos, para evitar a elevada mortalidade destes animais durante a época de reprodução (março a julho), causada pelo esvaziamento total de represas e piscinas, seja para rega seja para limpeza ou manutenção, optou-se por propor um esvaziamento parcial destas estruturas, mantendo água suficiente para a reprodução dos anfíbios. Quem estiver interessado na manutenção dos charcos para o fomento da vida selvagem ou caso encontre anfíbios (rãs, sapos ou tritões), que queria salvar da piscina ou tanque, deve contactar o setor de Conservação da Natureza e Educação Ambiental da Câmara Municipal de Lousada através do e-mail: Biolousada@cm-lousada.pt. Mais informações em www.cm-lousada.pt/p/lousadacharcos


AMBIENTE

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A CUIDAR DOS CURSOS DE ÁGUA Apesar da pandemia da Covid-19, o projeto Guarda Rios, que conta com o apoio das Águas do Norte, reforçou as ações de fiscalização no terreno. Assim, entre os meses de março e junho, foram realizadas cerca de duas dezenas de ações de fiscalização preventiva, garantindo o respeito pelo cumprimento da legislação em vigor e das boas práticas de gestão das margens e leitos de rios e ribeiras. Desde o início do projeto, em 2018, já foram realizadas mais de 50 ações de fiscalização com o acompanhamento das entidades competentes, nomeadamente a Polícia Municipal, o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da GNR (SEPNA) e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), de forma a eliminar diversas ameaças, desde descargas de efluentes ilegais provenientes de explorações agropecuárias e de pequenas indústrias, depósitos de entulho, corte de vegetação ripícola, podas ilegais, vedação das margens, alteração da topografia através de movimento de terras, entre outros. Várias destas ações de fiscalização resultam de denúncias levadas a cabo por patrulhas de Guarda Rios que, adotando troços de rios para monitorização e recuperação, zelam pela sua qualidade ambiental. São já mais de 60 os troços de rios e ribeiras adotados no concelho e mais de 700 os voluntários diretamente envolvidos nas ações de melhoria ambiental. Junte-se a este projeto e ajude a cuidar dos nossos rios e ribeiras. Mais informações em www.cm-lousada.pt/p/lousadaguardarios


AMBIENTE

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A NATUREZA (AGORA) EM CASA O primeiro semestre deste ano deu lugar a um grande número de desafios e adaptações não previstas. Cada vez mais, a atualidade demonstra a importância do respeito pela biodiversidade e pelos processos depurativos dos ecossistemas, sendo igualmente premente a aposta na educação ambiental e na literacia ecológica de todos. Neste contexto, os conteúdos do BioLousada e da Casa das Videiras tornaram-se ainda mais relevantes e rapidamente se adaptaram a um contexto virtual. Desde março o BioLousada passou a chegar a casa de todos, por meio virtual, através da plataforma Zoom, às sextas-feiras, às 21h00. Não se pretendendo substituir à programação presencial, que dever regressar em setembro, esta adaptação acabou por ter um balanço muito positivo. Em apenas três meses o BioLousada em Casa já alcançou mais de duas mil participações, com audiências em todos os continentes. Os oradores convidados são especialistas das mais diversas matérias e as sessões podem ser revistas no canal de YouTube da Câmara Municipal de Lousada. Durante este mês, a programação conta com sessões sobre a vespa-asiática, mamíferos carnívoros, programas de conservação da natureza e contributos do turismo de natureza para a preservação da biodiversidade. A informação está disponível em www.cm-lousada.pt/p/biolousada

3 JULHO Os contributos da animação turística para a conservação da natureza Living Place - Animação Turística

10 JULHO A vespa-asiática em Portugal: Apanha-me... se puderes. João Carvalho [CESAM - Universidade de Aveiro]

17 JULHO Mamíferos carnívoros de Portugal Pedro Monterroso [CIBIO - Universidade do Porto]

24 JULHO Novos paradigmas na conservação da natureza: a filosofia REWILDING Pedro Prata [Rewilding Portugal]


AMBIENTE

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NOVOS PARTICIPANTES E MAIS REGISTOS O projeto CASA NINHO foi criado com o objetivo de dar a conhecer à população de Lousada as aves das nossas casas e de recolher os dados sobre essas aves. Existem várias espécies de aves selvagens que preferem fazer o ninho junto dos seres humanos, nos beirais, chaminés, e até mesmo nos sótãos. Com a participação da população, espécies emblemáticas como a coruja-das-torres, o mocho-galego e as várias andorinhas e andorinhões passaram a ter os seus ninhos registados e monitorizados. Estes registos aliados à ação de inúmeros cidadãos, tem sido crescente o número de ações de salvamento realizadas pelos técnicos do Setor de Conservação da Natureza e Educa-

ção Ambiental da autarquia, nomeadamente em contextos de obras, como aconteceu com diversas crias de coruja-das-torres e mocho-galego e com uma colónia particularmente numerosa de andorinha-das-barreiras. Em alguns casos foi necessário proceder à colocação de ninhos artificiais para acomodar as crias e, noutros, as obras foram suspensas ou reformuladas durante o período de nidificação das aves. Todos são convidados a participar, registando os ninhos lá de casa, e recebendo uma caixa-ninho para fomentar a biodiversidade no quintal. Mais informações em www.cm-lousada.pt/p/casaninho


AMBIENTE

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Entre os dias 22 de maio e 22 de junho decorreu o processo formal de discussão pública com vista à classificação da Paisagem Protegida Local do Sousa Superior, publicado em Diário da República do dia 11 de maio, através do Aviso n.º 7587/2020. A discussão pública foi subsidiada por contributos de cidadãos e instituições locais cujo envolvimento cívico revela a abrangência e interesse despertado pelo projeto que vai conduzir à criação desta área protegida, com 1609 hectares, que correspondem a cerca de 17% do território concelhio. Trata-se de uma área que, em termos locais e regionais, apresenta assinaláveis valores naturais e patrimoniais destacando-se a presença de 317 espécies de plantas, 17 das quais raras ou ameaçadas de extinção, 2385 árvores de grande porte (Gigantes Verdes) e de elevado valor ecológico e ainda 149 espécies de animais vertebrados, 42 das quais com relevante valor conservacionista. Para além disso, esta área natural – agora em vias de classificação – regista a presença de 16 Casas Senhoriais, cujos jardins albergam mais de 160 espécies de árvores e arbustos e ainda um conjunto de 163 sítios de interesse arqueológico e patrimonial, com cronologias que se espraiam desde a pré-história à contemporaneidade, e que demonstram a milenar relação entre o homem e a paisagem do vale do rio Sousa. Mais informações em www.cm-lousada.pt/p/ppss


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Free Running

Especial 22

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Participação especia

JOSÉ BARROS

15 de julho 2020 19h00 rticipe na Pa conversa online a fb.com/cmlousad


Revista Municipal Câmara Municipal de Lousada N.º 192 Ano n.º 21 – 4.ª série Data: julho 2020 Depósito Legal: 49113/91 ISSN: 1647-1881

SUPLEMENTO

AMBIENTE

CRÓNICAS DO MEU JARDIM: A arte de tourear carriças De cada vez que o demorado silêncio dos dias cinzentos e frios de inverno se retrai ante o avanço dos amanheceres temperados de primavera, os nossos jardins reverberam com sonoridades de galanteio e sedução deixadas por uma miríade de pequenas aves canoras. Entre elas, destaca-se a minúscula carriça, uma singela bola de penas que, embora circunspecta e as mais das vezes velada entre os arbustos e sebes que adornam os nossos jardins, nada deve ao recato no que ao canto diz respeito. Com efeito, para uma ave de tamanho tão diminuto, a carriça é senhora de um canto exuberante, inconfundível e surpreendentemente potente. Tão potente que chega para acordar um morto… ou pelo menos um certo jardineiro. Texto e fotografia Carlos Steinwender, cronicasdomeujardim@sapo.pt


SUPLEMENTO

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Sou uma pessoa com um acordar sossegado. Todos os dias desperto tranquilamente para o mundo distribuindo chapadas, murros e pontapés tentando extirpar, no mínimo espaço de tempo possível, a chinfrineira desse hediondo instrumento de tortura que encima a minha mesa-de-cabeceira. Até agora o meu recorde cifra-se em 1.12 segundos. O problema é que o despertador é um aparelho com um feitio esquisito e tende a ressentir-se amiúde deste tratamento. Parece que não aprecia chapadas FIGURA 1 A carriça é uma e pontapés. Vá-se lá entender a tecnologia. exímia caçadora, procurando insetos no solo ou entre a Decerto que a esperança média de vida destes vegetação arbustiva. equipamentos acústicos que coabitam junto ao meu leito seria bem maior não fora a Doutora Evolução, num insane momento de retorcida criatividade, de que ninguém se lembra… a não ser eu. Tenho-o marcado a ter optado por prover uma pequena e insuspeita ave de um ferros, perdão, a berros na minha memória. megafone em vez da habitual siringe, o órgão vocal das aves. Portanto, março corria indolente. Os dias amornavam devagar, «Ui que avezinha tão pequerrucha e fofinha. Toma lá umas mas a aurora ainda fulgia fresca de orvalho. As primeiras goelas altifalantes e vai à tua vida, minha linda». E ela foi, flores silvestres brotavam. Nos ramos, até então despidos, nomeadamente para o meu jardim. antecipava-se o manto primaveril de folhas. Lentamente, a Recordo-me como se fosse hoje. Parecia 6.ª feira, embora o vida animal retornava ao meu jardim. A vida era boa. Até essa calendário marcasse 3.ª feira. Cheirava a abril, mas ainda madrugada. estávamos em março. Preferia que tivesse sido no ano de 2004 Ilha de Phi Phi Don. Bátegas cristalinas e uma brisa suava – o europeu perdido para a Grécia daria certamente para umas embalavam os coqueiros. Uma sombra ociosa amarrava-me à boas analogias futeboleiras – mas era apenas 2002, um ano espreguiçadeira. Mar turquesa e areal dourado. Ah… o paraíso! FIGURA 2 Entre março e junho o canto poderoso e repetitivo da carriça ecoa por todo o lado, incluindo áreas urbanas.


SUPLEMENTO

Uma bela tailandesa de 150 kgs em biquíni reduzido e em ululados brados preparava-se para me servir uma faustosa feijoada de chispe enquanto eu… Espera lá! 150 kgs? Feijoada? Brados ululados? Que #$%&@ de sonho é este? Acordei estremunhado e alagado em suor. A feijoada de chispe induz-me sempre esse efeito de catarse sudorífera. Estava no meu leito costumeiro. Nem um coqueiro à vista. Raios! Lá fora, à parte de um prenúncio níveo da alvorada, tudo dormia. O despertador marcava 05.45h da manhã. Algo me despertara do doce torpor tailandês. Um som sinistro. Algo se acoitava lá FIGURA 3 A silhueta desta pequena ave insetívora é inconfundível: uma bola de fora, na obscuridade. penas com bico longo e cauda curta e arrebitada. Era ela. Matraqueado, o apelo estridente e metálico propalou-se pela madrugada. Ampliado pelo O silêncio reinava. «Espantou-se com a berraria, a estaferma», silêncio do jardim, feriu-me os tímpanos. Um arrepio geloupensei. Um regorjeio sonoro ali perto apanhou-me me o sangue. Era ela. Seria capaz de reconhecer aquele som desprevenido e desmentiu-me. Ela continuava ali, algures, em qualquer lugar, até em sonhos. E estava ali, do lado de abrigada na sebe de folhados e azevinhos. Lentamente, à fora da janela. O medo tolheu-me as entranhas, ou talvez medida que o amanhecer se abeirava, as sombras do jardim fossem gases. Ainda assim, levantei-me, corri desabrido à ganhavam contornos. Mas dela, nem sinal. Movendo-se com porta e lancei-me jardim fora, descalço e às escuras, decidido tiques de ratinho por entre a vegetação rasteira, a criatura a enfrentá-la no seu elemento, mas segundo as minhas regras. passava despercebida. A cor parda e o reduzido tamanho a isso E enfrentei, não sem antes enfrentar o tronco firme e hirto ajudavam. Estava aqui, mas de repente surgia ali. Um espectro do carvalho junto à porta de cuja presença, obviamente, me no lusco-fusco. E sempre aquele canto potente, vibrante, esquecera. Não era suposto ter urrado daquela maneira, não altíssimo com uma série de agudos trinados e gorjeios, sempre aquela hora da manhã, levando os vizinhos, em sobressalto, iguais, repetidos mecanicamente a cada cinco segundos. às janelas à cata da vara de javalis que, em barulhenta orgia, Uma bomba sónica atrás da outra. O horror! Tinha a cabeça alegadamente esventrava o meu quintal. Mas como um dos a latejar. Sentia os neurónios a falecer, uns atrás dos outros. meus talentos é a imitação de javalis no cio enquanto as partes «Trata-se claramente de um operacional altamente treinado na moles da minha cara testam a rijeza de um tronco de carvalho arte de infligir cefaleias agudas ao inimigo», discerni entre o em plena escuridão, não me contive. Peço perdão. falecimento de um e outro neurona. Sendo eu um indivíduo Combalido, mas ainda assim mais aliviado pelas injúrias que discerne com alguma facilidade, evidencio todavia rosnadas às mães de todos os deuses da escuridão, retomei a algumas dificuldades em divisar, razão pela qual não divisei perseguição, ao pé-coxinho e de olhos esbagoados. Um exemplo que sair de casa a correr de madrugada, descalço e em trajes acabado de tenacidade; o orgulho de qualquer mãe. Claro que reduzidos q.b., haveria de trazer alguns inconvenientes em a minha estava a dormir, portanto não estava particularmente matéria de regulação da temperatura corporal e potenciar em orgulhosa. Certo. cerca de 732% a contração de uma micose do pé. «Vais

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pagar-me estas horas de sono!», voltei a discernir. Já contornara a casa e perscrutara o jardim e dela nem vislumbre. Farto do jogo do gato e do rato gritei-lhe «aparece sua #$%&*#@, mostra que tens coragem». E não é que ela teve? Empoleirouse num raminho seco, cauda curta e desavergonhadamente empertigada, olhar imperturbável e forma roliça recortada pelos primeiros raios de luz dourada. Movia-se para cima e para baixo com as asas ligeiramente distendidas num gesto de desafio. A figura acabada da altivez. Custava a crer, mas estava perante a arma sónica perfeita, desenhada com o fito único de me acordar — obrigadinho Doutora Evolução! Pulmões do tamanho de lentilhas, traqueia pouco maior que um feijão e tudo alojado numa caixa torácica com o volume de um dedo. Nove centímetros de comprimento e sete gramas de peso, um nano despertador com asas. Santas goelas! Por esses jardins fora a mera evocação do seu nome desperta suores frios e persignações entre os devotos do acordar tranquilo à hora tabelada pelo despertador. Alguns conhecem-na como camachilra ou camaxirra, outros por esconderijeira, escondrigueira ou forneirinha. No meu jardim o seu nome é… carriça, a mensageira da madruga. À volta, a luz recrudescia de intensidade e, com ela, a estridente gritaria da minúscula carriça. A alvorada prometia uma batalha dura. Arrasteime penosamente até ao seu poiso. O sono toldava-me o discernimento e os movimentos. As baixas entre os meus

FIGURA 4 Apesar do seu reduzido tamanho, o canto da carriça é surpreendentemente potente podendo propagar-se até um quilómetro de distância.

FIGURA 5 Após eclodirem, as 4 a 6 crias permanecem no ninho durante cerca de 15 dias, sendo alimentadas incessantemente por ambos os progenitores. neurónios contavam-se às centenas. A este ritmo seria o senhor Alzheimer a servir-me o pequeno-almoço. Tinha de expulsar a carriça. Num gesto desesperado apelei ao seu bom senso: «vossa senhoria não consideraria a possibilidade de ir chatear o raio que a parta, por favor?». Ela considerou, mas simpaticamente declinou. Estava visto, não havia outra


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forma de a calar, teria de tourear o bicho, mostrar-lhe que era eu a mandar cá em casa – mas só quando a Dona Steinwender não está, claro. Avaliei uma lide a pé, mas o capote estava na sala e não me lembrava onde diabo metera as bandarilhas. Nada feito. Tinha de pegar o touro pelos cornos. Insuflei o peito de ar, estiquei o pescoço e cravei as mãos nas ancas. Bamboleei-me ameaçadoramente e, à moda dos forcados, citei o touro, perdão, a carriça: «É carriiiiiiça, é carriça liiiiiiiinda! Anda lá carriça liiiiinda… anda lá, anda hei!». Devo confessar que, algo inesperadamente, senti um impulso para integrar os Forcados do Aposento da Moita. Mas se calhar eram apenas gases. Mais um passo em frente. Ela teimava, firme. Os olhinhos do tamanho de cabeças de alfinete a tentarem perceber se a coisa era séria ou apenas a imbecilidade a falar. «A mim ninguém me acorda! (a não ser o meu despertador, o meu telemóvel, a minha mãe, o meu cão e o meu chefe) Ninguém, ouviste?!». Ela ouviu, mas não fez grande caso. Manteve-se quieta no seu poiso, de cauda alçada a abanar a cabeça. Seria pavor? Seria comiseração? Pavor não era certamente, e comiseração nem sei se se escreve assim. Fui ver. Era mesmo com «s». Portanto, ela estava a furtar-se à pega. «Nem penses!», pensei. Ponderei entre uma pega de cernelha ou uma pega de caras, embora o que me desse mesmo jeito fosse uma pega de cadeira. Decidime por uma pega de caras. Desarmado e somente com a força dos meus braços para imobilizar o bicho decidi enfrentar a morte com um sorriso, olhos nos olhos. De um lado, a natureza imaculadamente perfeita, músculo e força, inteligência e perspicácia, do outro, 71.2 quilos de razoavelmente convicta natureza humana. Mais um passo. «É carriiiiiiça, é carriça liiiiiiiinda!»… e então, sem mais, ela libertou o seu canto estrídulo e carregou sobre mim. Finquei o pé. Tinha de agarrar-lhe os cornos. Espera lá… que cornos? Mas então… E subitamente o mundo escureceu e apagou-se. Acordei com o despertador aos berros. Assentei-lhe dois tabefes e uma cotovelada nas partes baixas. Gemeu e calouse. Estava na minha cama. Eram 7.15h da manhã. Lá de fora chegavam os costumeiros sons do jardim que acordava. Mas entre eles, um outro. Novo. Seria possível? Sim… era capaz de o reconhecer em qualquer lado, até em sonhos. O canto de uma carriça! Finalmente chegara ao meu jardim. Ia ser um bom dia. Como vai senhor Alzheimer? Cumprimentos à família.

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A SENHORA DAS CAVERNAS Dizer que a carriça, a única ave desta família do Novo Mundo que colonizou a Eurásia, é uma ave do bosque é dizer pouco acerca da sua natureza. Na verdade, a carriça, facilmente reconhecível pelo seu reduzido tamanho, cor castanha-avermelhada, bico longo e pontiagudo, cauda arrebitada e canto sonoro e ofegante, sendo uma ave de bosque, jardins, parques, campos, charnecas e baldios, é também uma ave de fendas e recantos, pilhas de madeira e árvores caídas, de fundos de sebes, paredes e pedras. De resto, é esse hábito de entrar em cavidades, seja para caçar artrópodes, larvas e aranhas, seja para pernoitar, que explica em parte a origem do seu nome científico Troglodytes troglodytes, do grego troglodutes = aquele que vive em cavernas. Isso, e a arquitetura peculiar dos seus ninhos construídos em forma de cúpula com uma entrada circular a lembrar uma gruta. Curiosamente, durante a época de nidificação, o macho constrói não um mas vários ninhos rituais ou de cortejamento utilizando, por vezes, os mais inusitados suportes: o interior de uma peça de roupa a secar num estendal, um sapato, o selim de uma bicicleta e até uma esfregona encostada a uma parede.



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