Viaje pelo sonho. Parque dos Poetas

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O Projeto Concretização dos desejos de, por um lado, dotar o concelho de Oeiras de um grande parque urbano vocacionado para o lazer, o desporto e a cultura e, por outro, homenagear e enaltecer os poetas e a poesia nacional, o Parque dos Poetas começa a ser sonhado ainda nos anos 90. Associar a poesia e a escultura num tributo à cultura portuguesa do século XX foi a premissa inicial da qual partiram o poeta e escritor David Mourão-Ferreira e o escultor Francisco Simões e foi assim que surgiu a ideia de uma Alameda dos Poetas.

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De alameda passou a parque, dos poetas do século XX para a poesia e a língua portuguesa, em Portugal e no Mundo, dos escultores para as artes plásticas, para a expressão paisagística e para as formas mais inovadoras de conceber um parque urbano.

1ª fase

Com projeto assinado pelos arquitetos paisagistas Francisco Caldeira Cabral e Elsa Severino, o Parque dos Poetas (1.ª fase) abriu portas no dia 7 de junho de 2003, assumido, desde logo, como um novo ex libris do concelho. Dez hectares para homenagear 20 poetas do século XX, num parque urbano de características únicas.

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O projeto começa a completar-se agora com a consagração de outros 13 vultos literários, desde os Trovadores à Renascença, numa área de sete hectares, mantendo-se o princípio da Alameda dos Poetas como eixo estrutural do parque, garantindo a ligação e a continuidade da primeira fase para a segunda.

1 a rua S.Salvador da Baí

É sua. Seja bem-vindo. Viaje pelo sonho.

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Dos Trovadores (séc.XII) aos Poetas da Renascença (séc. XVII) Dos Poetas do Barroco (séc.XVIII) aos Poetas da Romântico (séc. XIX) Poetas dos países ou territórios de expressão ou cultura portuguesa 20 Poetas do século XX

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Desde a sua génese um projeto de muitas pessoas, o Parque dos Poetas é, a cada dia, uma obra de mais ainda. É de todos aqueles que já o visitaram, de todas as crianças que já ali brincaram, de todos os casais que ali se beijaram.

2ª fase B

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1. Fonte cibernética. 2. Anfiteatro. 3. Zonas infantis. 4. Quiosque. 5. Campo de futebol. 6. Zonas de estacionamento.

7. Miradouro do Bugio. 8. Templo da poesia. 9. Labirinto. 10. Garden center. 11. Anfiteatro Almeida Garret. 12. Estacionamento coberto.

13. Mãe de água. 14. Riacho e lago. 15. Gruta de Camões. 16. Ilha dos Amores. 17. Sanitários. 18. Acesso mobilidade reduzida.


O Parque dos Poetas é a homenagem do Município de Oeiras à poesia portuguesa e lusófona. Mas é também o culminar de um tempo no qual Oeiras sonhou e procurou construir todos os dias os seus sonhos e as suas ambições: sonhámos acabar com barracas; sonhámos ter paz social; sonhámos construir uma comunidade solidária; sonhámos ter parques e jardins para contemplarmos a só ou em união. Tudo isto sonhámos e tudo isto a comunidade oeirense soube construir. A 2ª Fase-B, que ora inauguramos, é mais um dos elos de uma cadeia de união que veremos de forma mais premente quando o Parque estiver terminado. Ficaremos então com uma noção mais real da dimensão, da espetacularidade e da emoção que este espaço de 27 hectares poderá provocar a quem dele se apropriar. E, se este projeto, quando começou a ser sonhado, queria apenas ser uma alameda, o tempo, as ideias e a sua discussão levaram à alteração da sua génese, transformando a ideia de uma alameda num parque onde o mote principal é homenagear o sonho e a lusofonia sob a égide poética. Este projeto não é fácil de se rotular. Se ele é um jardim, é também um lugar de excelência no que à arte urbana diz respeito; se se trata de um lugar para que os mais novos se possam espraiar entre poetas e flores, entre o parque infantil e as pétalas, é também um espaço de contemplação para os mais velhos; se é um campo onde o desporto pode morar, não deixa de ser também um lugar de pausa e relaxamento. Por todas estas características ecléticas, é um parque que nos serve, que tem o nosso tamanho, que se encaixa em nós, sejamos nós quem formos, tenhamos nós os sonhos que tivermos. Este é um lugar capaz de oferecer tudo aquilo que cada um de nós vier à procura. A arte pública possui uma grande responsabilidade por aquilo que ensina, por aquilo que provoca, mas também pela valorização do que é de todos e que a todos pertence. Quando nos deparamos com o mundo de sensações que este espaço provoca conhecemos outra dimensão de nós próprios. Esta zona de sete hectares, onde habita a poesia dos Trovadores (séc. XII) aos poetas da Renascença, onde existe a ilha dos Amores, onde se construiu um parque infantil, onde o elemento água vive rodeado do verde, das plantas, flores e árvores, onde a língua de terra nos oferece o mar, ao fundo, por companhia, deve ser – a exemplo da primeira fase – apropriada por todos que assim o desejem; porque o Parque dos Poetas já faz parte da identidade de Oeiras e é na identidade de um lugar que o indivíduo encontra a sua própria identidade. Por tudo isto a é cultura tão importante, mesmo em momentos de grandes constrangimentos financeiros. Sem a criação do novo, apenas existe o contínuo exercício do que já está estabelecido. E isso, é o oposto do Município moderno, dinâmico, pensado, sentido e vivido que Oeiras é e que não quer deixar de ser. Venha daí e viaje pelo sonho! Isaltino Morais Presidente da Câmara



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Cristóvão Falcão (1512-1557)

Como dormirão meus olhos? Como dormirão meus olhos? Não sei como dormirão, pois que vela o coração. Voltas Toda esta noite passada, que eu passe em sentir, nunca a pude dormir, de ser muito acordada. Dos meus olhos foi velada; mas como não velarão, pois que vela o coração?


A uma trança de cabelos negros Diversa em cor, igual em bizarria Sois, bela trança, ao lustre de Sofala, Luto por negra, por vistosa gala, Nas cores noite, na beleza dia. Negra, porém de amor na monarquia

Reinais senhora, não servis vassala; Sombra, mas toda a luz não vos iguala; Tristeza, mas venceis toda a alegria. Tudo sois, mas eu tenho resoluto Que sois só na aparência enganadora Negra, noite, tristeza, sombra, luto. Porém na essência, ó doce matadora, Quem não dirá que sois, e não diz muito, Dia, gala, alegria, luz, senhora? (*Fénix, III, p. 204)

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(1620-1688)

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Francisco Rodrigues Lobo (1575-1621)

Cantiga Descalça vai para a fonte, Leonor pela verdura; Vai formosa, e não segura.

A talha leva pedrada, Pucarinho de feição, Saia de cor de limão, Beatilha soqueixada; Cantando de madrugada Pisa as flores na verdura: Vai formosa, e não segura.

Leva na mão a rodilha, Feita da sua toalha; Com uma sustenta a talha, Ergue com outra a fraldilha; Mostra os pés por maravilha, Que a neve deixam escura: Vai formosa, e não segura.


Soror Violante do Céu (1602-1693)

Amante pensamento núncio de amor, correio da vontade, emulação do vento, lisonja da mais triste solidade, ministro da lembrança, gosto na posse, alívio na esperança. Já que de minhas queixas a causa idolatrada vás seguindo, dize-lhe qual me deixas; dize-lhe que estou morta; mas sentindo, que pode mal tão forte fazer que sinta, ai triste, a mesma morte. escultura d

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António Ferreira (1528-1569)

Soneto Aquele claro sol, que me mostrava O caminho do Céu, mais chão, mais certo, E com seu novo raio ao longe e ao perto Toda a sombra mortal m’afugentava, Deixou a prisão triste em que cá estava. E fiquei cego e só, co passo incerto, Perdido peregrino no deserto, A que faltou o guia que o levava.

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Diogo Bernardes (1530-1605)

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Não mostreis aspereza em tal brandura, Por vos vingar de mim, vendo que venho A tanta confiança que detenho Os olhos em tamanha formosura.

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Retrato da beleza nova e pura Que com divina mão, divino engenho, Amor retratou na alma, onde vos tenho Das injúrias do tempo mais segura:

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Retrato da beleza nova e pura


Sá de Miranda

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José Ro

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(1481-1558)

O sol é grande, caem co’a calma as aves, do tempo em tal sazão, que sói ser fria; esta água que d’alto cai acordar-m’-ia do sono não, mas de cuidados graves. Ó cousas, todas vãs, todas mudaves, qual é tal coração qu’em vós confia? Passam os tempos vai dia trás dia, incertos muito mais que ao vento as naves. Eu vira já aqui sombras, vira flores, vi tantas águas, vi tanta verdura, as aves todas cantavam d’amores. Tudo é seco e mudo; e, de mestura, também mudando-m’eu fiz doutras cores: e tudo o mais renova, isto é sem cura! In Obras Completas


Bernardim Ribeiro (1480-1552)

Ontem pôs-se o sol, e a noute cobriu de sombra esta terra. Agora é já outro dia, tudo torna, torna o sol; só foi a minha vontade para não tornar co tempo! Tôdalas coisas, per tempo, passam, como dia e noute; üa só, minha vontade, não, que a dor comigo a aterra; nela cuido enquanto há sol, nela em quanto não há dia.

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Lagoa Henriques

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Garcia de Resende (1470-1536)

Trovas à morte de D. Inês de Castro Fala D. Inês Qual será o coraçam tam cru e sem piadade, que lhe nam cause paixam úa tam gram crueldade e morte tam sem rezam? Triste de mim, inocente, que, por ter muito fervente lealdade, fé, amor ó príncepe, meu senhor, me mataram cruamente! A minha desaventura nam contente d’acabar-me, por me dar maior tristura me foi pôr em tant’altura, para d’alto derribar-me; que, se me matara alguém, antes de ter tanto bem, em tais chamas nam ardera, pai, filhos nam conhecera, nem me chorara ninguém.

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Gil Vicente (1465-1537)

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Auto da Barca do Inferno

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Vem um Sapateiro com um avantal e, carregado de formas, e chega ao batel infernal, e diz:

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SAPATEIRO: Hou da barca! DIABO: Quem vem i? Santo sapateiro honrado! Como vens tão carregado?

SAPATEIRO

Mandaram-me vir assi…

DIABO SAPATEIRO DIABO

E pera onde é a viagem? Pera o lago dos danados Os que morrem confessados, onde têm sua passagem? Nom cures de mais linguagem! Esta é a tua barca, esta!


João Ruiz de Castelo-Branco

In Cancioneiro Geral

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Ru e lt ur ad

Senhora, partem tam tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tam tristes vistes outros nenhus por ninguem. Tam tristes, tam saudosos, tam doentes da partida,

tam cansados, tam chorosos, da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida. Partem tam tristes os tristes, tam fora d’esperar bem que nunca tam tristes vistes ~ por ninguem. outros nenhus

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Cantiga sua, partindo-se

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(séc.XV-1515)


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D. Dinis

Cos ta Ca bral

(1261-1325)

Ai flores, ai flores do verde pino Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo! Ai Deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado! Ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pôs comigo! Ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que mh á jurado! Ai Deus, e u é?


s imõe S o c s i c escultura de Fran

Luís Vaz de Camões (1524-1580) Os Lusíadas Canto IX Caça às Ninfas “Sigamos estas Deusas, e vejamos Se fantásticas são, se verdadeiras.” Isto dito, velozes mais que gamos, Se lançam a correr pelas ribeiras. Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos, Mas, mais industriosas que ligeiras, Pouco e pouco sorrindo e gritos dando, Se deixam ir dos galgos alcançando. (As flores ) De uma os cabelos de ouro o vento leva Correndo, e de outra as fraldas delicadas; Acende-se o desejo, que se ceva Nas alvas carnes súbito mostradas; Uma de indústria cai, e já releva, Com mostras mais macias que indignadas, Que sobre ela, empecendo, também caia Quem a seguiu pela arenosa praia.




Edição Município de Oeiras | 2013


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