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LUÍS FORMIGA NO PANTANAL SAPATOS DO FRANCÊS CHRISTIAN LOUBOUTIN BALEIAS NOS MARES DE SANTA CATARINA ARTE NOSSA DE CADA DIA: ELIAS ÍNDIO ANDRADE

30 ANOS DA KRETZER MÓVEIS

JANAÍNA KRETZER






QUE SAUDADE DO NORMAL

foto CAIO CEZAR

EDITORIAL

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A

inda estamos percebendo no dia a dia e imprimindo nos comportamentos os efeitos da pandemia do Coronavírus, mas a vida não para, e muito menos a Mural. Seguimos enfrentando todas as limitações que a situação impõe, e cá estamos, com mais uma edição da Revista Mural para entregar a você. E parece combinado, até, que neste momento nossa capa traga a empresária Janaína Kretzer, CEO da Kretzer Móveis, empresa que fabrica móveis planejados de alto padrão fundada pelo marido Odenir Kretzer, e que está pertinho de completar 30 anos de atuação nesse mercado exigente e seletivo. Superação é a palavra-chave dessa história que une competência e dedicação. Exemplo nesses tempos! O nosso repórter Luís Roberto Formiga mostra um pouco das belezas do pantanal sul-mato-grossense. Ele foi ciceroneado por um praça gente boa, catarinense de Itajaí, o Norival da Silva Jr., ou Juca Ygarapé. É de encher os olhos... E o show de imagens lindas segue com as nossas ilustres visitantes de todo inverno, as Baleias Franca, que vêm ao nosso litoral para dar à luz seus filhotes, amamentá-los e encantar quem tem a oportunidade de avistar esses gigantes do mar. Da água para as montanhas. A Lu Zuê nos apresenta a serra catarinense a partir da experiência do Dario Lins, funcionário público e proprietário da Agência Eco Trilhas Serra Catarinense, que a partir de agora, vai aparecer com frequência aqui na Mural, mostrando a infinidade de alternativas de lazer e turismo que a região oferece. O Parque Ecológico do Córrego Grande mobilizou a comunidade, que viu a possibilidade de perder esse espaço verde no Córrego Grande, e agiu. A #oparqueénosso reuniu mais de 50 mil assinaturas, e agora, a área vai passar definitivamente para o município. O parque está aberto somente para a realização de caminhadas, respeitando-se o distanciamento social E passando das belezas naturais para as interferências humanas na cidade, trouxemos para as nossas páginas o mural Natureza do Desterro, assinado pelo artista plástico Rodrigo Rizo. Produzida durante a pandemia, a obra retrata 18 elementos que remetem à identidade e à natureza da Ilha. Seguimos acompanhando a “reconquista” da Ponte Hercílio Luz, e não deixamos de registrar a volta do tráfego de carros particulares sobre ela. Ainda há limitações de horário e outras regras, mas a mudança deixou muita gente feliz. A busca por diferentes formas de sair de casa sem quebrar o isolamento social e comprometer a segurança, trouxe de volta os drive-ins, e fomos conferir o que está sendo oferecido ao público por aqui, e o que pode acontecer quando a pandemia passar. Você conhece o Elias Andrade? E o Índio, artista plástico lá do Sambaqui? São a mesma pessoa, e o Índio coloca nas telas principalmente as lembranças e impressões do folclore ilhéu, como as festividades do Divino e a brincadeira do boi de mamão. Ele é uma figura, e você vai gostar de conhecer. A Mural ama fotos, e não poderia deixar de apresentar uma iniciativa muito legal: a galeria virtual Viva Fotografia – Coletivo Catarinense Solidário. Criada por um grupo diverso que tem a arte da fotografia em comum, a galeria apresenta trabalhos à venda. Confira lá na matéria o endereço do site. Você sabia que entre os tantos outros “já teves”, Floripa já teve uma fábrica de brinquedos? Então, o Marcos Heise conversou com os irmãos Adalgisa, José Renato e Celia, filhos do Oswy Nemésio de Souza, artesão formado pela Escola Politécnica, que criou a IBOS, fábrica de brinquedos de madeira e ferro. Uma história muito gostosa de ler. De Floripa para a França, de onde nossa colunista Daniele Maia nos manda notícias sobre a região de Provence, famosa – não apenas – pelas planta-

ções de lavanda, e também a respeito dos saltos vertiginosos dos sapatos de Christian Louboutin, que representam o desejo de mulheres que querem ser excêntricas e emancipadas. Na segunda parte da reportagem sobre os alimentos orgânicos, Tarcísio Mattos fala sobre o crescimento deste mercado, que acontece de forma relacionada ao consumo responsável. Entre os nossos colunistas, Marcos Heise fala sobre o aipim, o verdadeiro curinga de nossa culinária; Ana Carolina Abreu revela o auxílio que a nutrição pode dar em tratamentos de infertilidade (que fique claro, não é cura!), e também sobre a necessidade de mantermos nosso corpo muito bem hidratado. Falando em equilíbrio do corpo, a terapeuta Soraia Leal – que trabalha com diferentes terapias – apresentou à Lu Zuê as Barras de Access, que são uma ferramenta de expansão da consciência, e derruba barreiras pré-estabelecidas em nossa vida. Os efeitos são físicos e emocionais. A dra. Laura Sacchetti fala sobre a temida (mas tratável) dor no dente. Nossa colunista, avisa que nem sempre é necessário tratar o canal, mas hoje em dia, dependendo do caso é possível executar esse processo em apenas uma sessão. E Mariana Tremel lembra que não dá para esquecer da pele durante a pandemia, e sugere uma rotina de autocuidados que fazem bem e elevam a autoestima. Mostrando a necessidade de derrubar tabus e falar sobre os problemas para poder resolvê-los, a fisioterapeuta Roberta Ruiz aborda o vaginismo, uma disfunção que tem tratamento e cura, que conduzem a uma vida plena e normal. Sem sair de casa, Juliana Wosgraus deu um jeitinho de ouvir um grupo ativo e descolado, que atua em diferentes áreas e também não saiu de casa. Cada um, à sua maneira, disse como está nessa pandemia. Convivência, cuidados com a saúde, expectativas de mudança e novidades da rotina. As respostas estão distribuídas em seis páginas muito legais! Já que não tem festa, no Mural da Moral fizemos uma seleção de fotos de encontros passados, quando estivemos juntos, sem preocupações e perigos. E elas estão bem próximas das imagens do restaurante Toca da Garoupa e das casas do Grupo Novo Brasil, reabertas com toda segurança e boa gastronomia. Isso tudo para mostrar que a gente continua junto de você, trazendo recordações e formando memórias boas e que valem a pena. Força e saúde! Boa leitura



EXPEDIENTE

8 DIREÇÃO MARCO CEZAR EDITOR-CHEFE MARCO CEZAR JORNALISTA RESPONSÁVEL MARCOS HEISE (MTb-SC 0932 JP) PLANEJAMENTO GRÁFICO AYRTON CRUZ LU ZUÊ COLABORARAM NESTA EDIÇÃO ADRIEL DOUGLAS AGÊNCIA YGARAPÉ ALEXANDRE SOCCI ANA CAROLINA ABREU ANTONIO CARLOS MAFALDA BONITO SCUBA CAIO CEZAR CAIO GRAÇA CARLOS BORTOLOTTI CAROL ROSA DANIELE MAIA DARIO LINS ADELINE: @ommetlesvoiles e @yesprovence EDUARDO MARQUES EDUARDO VALENTE FELIPE CARNEIRO JOHN VENTURA JUCA YGARAPÉ JULIANA WOSGRAUS JULIO CAVALHEIRO LAURA SACCHETTI LEO COMIN LIO SIMAS LU ZUÊ LÚCIO RILA LUÍS ROBERTO FORMIGA MARCOS HEISE MARIANA TREMEL BARBATO RICARDO WOLFFENBUTTEL ROBERTA RUIZ SAMIR BELHAMRA: @grafixart_photo SÉRGIO VIGNES TARCÍSIO MATTTOS TUNAI AROZI IMPRESSÃO Maxigráfica | Curitiba/PR As opiniões expressas pelos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, o posicionamento da Revista Mural. 0 marcocezar.foto@gmail.com 1 48 3025-1551

FORMIGA RADICAL TERRA, ÁGUA E AR BONITO DEMAIS

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SAVE THE WHALE NÃO TEM ERRO: ELAS SEMPRE VÊM... E DÃO ESPETÁCULO!

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ECO TRILHAS A SERRA É PARA TODOS

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MEIO AMBIENTE O CORAÇÃO (VERDE!) DO CÓRREGO GRANDE

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ARTE URBANA MURAL HOMENAGEIA FAUNA E FLORA DA ILHA

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PONTE HERCÍLIO LUZ A “COSQUINHA” DOS PNEUS VOLTOU

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ENTRETERIMENTO A ROMÂNTICA NOSTALGIA DOS DRIVE-INS

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PERSONAGEM ÍNDIO DE TODAS AS TRIBOS

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COLETIVO SOLIDÁRIO UM VIVA À FOTOGRAFIA!

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TEM, MAS ACABOU FLORIANÓPOLIS DO “JÁ TEVE”

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TURISMO A DUBAI (BEM) BRASILEIRA

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PELO MUNDO PROVENCE

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MODA SALTOS VERTIGINOSOS

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ORGÂNICOS | PARTE 2 VAREJO DE ORGÂNICOS

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COMER & BEBER AIPIM

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NUTRIÇÃO INFERTILIDADE ÁGUA É ÁGUA

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TERAPIA O ACESSO ÀS ENERGIAS DO CORPO E DA MENTE

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SAÚDE BUCAL DOR NO DENTE, E AGORA?

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SAÚDE SPA EM CASA

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FISIOTERAPIA VAGINISMO

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JULIANA WOSGRAUS QUARENTENA, O DURANTE E O DEPOIS

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OCULTO HIP HOP BLACK WHITE

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MURAL DA MORAL QUE SAUDADE!

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MURAL DA TOCA TOCA PRA TOCA

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MURAL GNB REABRINDO COM CONFORTO E SEGURANÇA

ÍNDICE

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CAPA JANAINA KRETZER LOCAÇÃO LOJAS KRETZER MAKEUP NÉIA KELM CABELO EVANDRO DE ROSSI SALÃO ROSSI CABELEIREIROS FOTOS MARCO CEZAR ASSISTENTE LAURA SACCHETTI ROUPAS DO ENSAIO BK CONCEPT STORE I @BKCONCEPTSTORE JOIAS DO ENSAIO NILMA VIEIRA | NINEVI SEMI JOIAS I @NINEVI_NILMAVIEIRA

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foto MARCO CEZAR

CAPA

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CAPA

foto MARCO CEZAR

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foto LIO SIMAS

foto LIO SIMAS

foto MARCO CEZAR

CAPA

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texto LU ZUÊ fotos MARCO CEZAR E LIO SIMAS

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o longo de quase 30 anos, a Kretzer Móveis passou por uma série de transformações e desafios que definiram o seu relacionamento com o público e conduziram sua trajetória. E esta história, que começou a ser escrita pelo casal Odenir e Janaína Kretzer, segue viva e em evolução, ainda conduzida pela dupla, que conta agora com o reforço do filho, Gustavo Pauli Kretzer, e de um grupo formado pelo diretor comercial Luciano Casarotto e pelos designers de interiores William Berns e Luana Kalkmann Gonçalves. A linha de frente da empresa está maior e mais robusta, mas lá atrás, na década de 1990, o que hoje é uma grande empresa começou como um projeto individual. Aos 16 anos, Odenir iniciou sua vida profissional numa empresa de móveis sob medida, e em cinco anos alcançou todas as funções possíveis. Naquele ponto, permitiu-se mudar de emprego. Passou por duas outras empresas do mesmo segmento até acumular capital suficiente para comprar a primeira máquina de corte. Assim, em 1991 fundou a Kretzer Móveis com um amplo conhecimento de marcenaria sob medida. Com a fábrica instalada em Biguaçu, logo em seguida conheceu Janaína, com quem viria a se casar

CAPA

em seguida. “Construímos uma vida e uma empresa juntos. E, muitas vezes, a vida pessoal se misturou à profissional. Por vários anos, moramos num espaço dentro da própria fábrica. Nosso filho, Gustavo, cresceu aqui dentro e também trabalha conosco. Mesmo tendo que abrir mão de uma vida familiar mais tranquila e de uma convivência mais intensa, acredito que todo nosso esforço valeu a pena”, revela Odenir. Ainda em 1991, um trágico acidente fez Odenir perder o pai e um primo de uma só vez, e foi preciso recomeçar do zero, justamente em um momento em que o País ainda enfrentava problemas de planos econômicos fracassados, sofria com a inflação alta e instabilidades políticas. Ainda assim, a Kretzer Móveis buscou o seu espaço no segmento prezando pela excelência de seus produtos. Janaína recorda desta fase inicial: “Desde quando namorávamos, sempre notei no Odenir o foco em trabalhar com um material de mais qualidade e não abrir mão dos acabamentos minuciosamente cuidados, porque o cliente já exigia isso naquela época”, afirma, com o sempre presente brilho nos profundos olhos azuis e a segurança de quem, hoje, faz questão de imprimir aos projetos da empresa o mesmo cuidado com o que para muitos pode soar apenas como um detalhe. “Não poderia ser diferente. Este é um fio condutor de todos os anos em que a nossa empresa está no mercado”, complementa. foto MARCO CEZAR

A história de superação dos sócios-proprietários da Kretzer Móveis

foto LIO SIMAS

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Enquanto Odenir assumiu a coordenação das atividades ligadas à produção dos móveis, Janaína ficou responsável pelo atendimento aos clientes e fortalecimento da marca. Assim, com as funções dos proprietários definidas, a empresa se desenvolveu, ampliando a quantidade de funcionários e também sua área física. Em 1994, a fábrica mudou para um terreno maior, também em Biguaçu, onde está instalada até hoje. Nestas quase três décadas, projetaram e concretizaram diversas ampliações, tanto no espaço de produção dos móveis quanto do escritório. Ao mesmo tempo, com o avanço da tecnologia, o maquinário também foi sendo atualizado. Janaína – que passeia muito à vontade pelo chão da fábrica – explica que o mercado acaba selecionando as empresas e profissionais que têm o melhor produto e aqueles que estão mais bem preparados: “De certa maneira, manter uma empresa é como andar de bicicleta; se parar, você cai. Então, ou você investe sempre para se manter em movimento, ou a concorrência pode te derrubar”, acrescenta Odenir. Com a chegada do novo milênio, as etapas de produção dos móveis planejados também evoluíram. Antes, todo o processo era feito à mão, no papel. Hoje, os programas de computador possibilitam aos clientes visualizar o projeto em três dimensões.

“Por termos a experiência na produção de maneira mais artesanal e, agora, também com a ajuda da tecnologia, já imaginamos os detalhes de um projeto e os possíveis desafios de instalação logo no início da empreitada. Isto traz um resultado muito mais seguro para todos os envolvidos”, destaca Janaína. A consolidação da marca Kretzer promoveu um inevitável aumento da demanda. Logo, surgiram pontos de venda em outras cidades, e entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, lojas abertas em Jaraguá do Sul e Guaramirim tiveram resultados bastante positivos. E entre os anos de 2008 e 2015, atentos ao crescente mercado de imóveis de alto padrão em Balneário Camboriú, um ponto de vendas na cidade ampliou a visibilidade e consolidou a marca na região. Desde 2010, a Kretzer Móveis mantém uma loja na região central de Florianópolis. “O showroom é muito importante, e aqui temos condição de mostrar nosso trabalho em detalhes e atender aos clientes com conforto e tranquilidade, recebendo como se fosse nossa casa. E na verdade, é!”, conta Janaína. Mesmo assim, a expansão segue nos projetos do casal. “Eu sempre tive como plano ter cinco lojas: Florianópolis, Balneário Camboriú, Curitiba, São Paulo e Brasília. Assim, cada uma serve como suporte para a outra, e sempre poderemos manter e divulgar nossa qualidade”, comenta o proprietário. foto LIO SIMAS

Ampliações e tecnologia

foto DIVULGAÇÃO

foto DIVULGAÇÃO

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Alto padrão e novos desafios

foto LIO SIMAS

foto LIO SIMAS

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foto MARCO CEZAR

Se a qualidade sempre foi uma marca da Kretzer Móveis, focar num público com alto poder aquisitivo foi uma ação planejada que trouxe algumas alterações em determinados processos já estabelecidos. A principal mudança no cotidiano da empresa foi o contato mais frequente com os arquitetos, muitas vezes trazidos pelos próprios clientes. Para Janaína, “o relacionamento com os arquitetos é uma parte essencial do nosso trabalho. Quando entregamos o produto, é o nome da Kretzer que fica como referência para o cliente. Então, não podem existir dúvidas ou posições divergentes entre o projeto arquitetônico e o móvel finalizado e instalado”. Já as crises econômicas no Brasil e no mundo trouxeram dias difíceis para as finanças da empresa, principalmente a partir de

foto MARCO CEZAR

2014, quando a construção civil passou por maus momentos no País. Diretamente influenciada pelos resultados do setor, a indústria moveleira também navegou em mares turbulentos no período. Os cinco anos seguintes foram de muita dedicação, mantendo clientes tradicionais e conquistando novos, que estavam com medo de investir em tempos incertos. “Desde que comecei a trabalhar decidi que queria ser dono do meu negócio, fazendo uma atividade que trouxesse retorno financeiro e, ao mesmo tempo, me inspirasse a continuar inovando. Eu e a Janaína passamos por muitos desafios, e conhecemos profissionais mal intencionados que se aproveitaram de nossa boa fé. Também atravessamos crises políticas e econômicas, mas sempre nos recuperamos”, afirma Odenir. Novamente, o azul dos olhos de Janaína ficam ainda mais evidentes, e a CEO da Kretzer Móveis reforça seu amor pela empresa familiar. “Não é por acaso que temos clientes com mais de 25 anos de fidelidade. Em 2020, mesmo com a pandemia da Covid-19, a empresa teve um crescimento da ordem de 60% a 70%. Agora, vamos partir para novos desafios. Os sonhos nos mantêm vivos”, conclui.


foto MARCO CEZAR

As novidades na terceira década de atuação

KRETZER MÓVEIS

foto LIO SIMAS

Rua Barão de Batovi, 587 – Florianópolis/SC F moveiskretzer I @kretzermoveis D www.kretzermoveis.com.br Z (48) 3243-6067 W +55 48 98404-5385 E luciano@kretzermoveis.com.br W +55 48 99111-3001

foto LIO SIMAS

SAIBA MAIS

foto LIO SIMAS

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Em janeiro de 2020, o gerente comercial Luciano Casarotto passou a integrar o quadro de colaboradores da Kretzer Móveis. Sua chegada foi acompanhada de uma ampla reformulação na empresa, que trouxe novas ideias, parcerias e tecnologias. De acordo com Luciano, a empresa vem apresentando um momento de ascensão no mercado, apesar das dificuldades que vieram com a pandemia do novo coronavírus: “Estamos tomando todas as precauções relativas à segurança de nossos funcionários e clientes, tanto no trabalho interno de produção, quanto nas atividades externas de vendas e instalação. A parte de mídia também foi incrementada e, para 2021, quando a empresa fará trinta anos, temos como meta a criação de um parque industrial ainda mais moderno. Além disso, somos uma das poucas empresas do segmento que continua contratando mão de obra especializada”, conta. Luciano explica que o setor de móveis planejados de alto padrão tem suas características próprias, sobretudo no acabamento de qualidade exigido pelos clientes. “Entender e, cada vez mais colocar em prática essas necessidades está sendo uma marca da empresa nessa nova fase. A Kretzer Móveis não faz móveis modulados, mas sim planejados, com garantia de cinco anos. O móvel planejado é como uma continuidade da moda, por isso os materiais se modificam bastante. Este é um diferencial que nos torna únicos na região da Grande Florianópolis e, mesmo, em Santa Catarina. Hoje, atendemos Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Sempre com material importado e de alto padrão”, finaliza.


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A PE Ç

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LO DEL PE I

Z 48 3207.5627 W 48 99920.8364


foto ALEXANDRE SOCCI

FORMIGA RADICAL

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Pantanal sulmato-grossense, um pedacinho do Brasil pra lรก de especial


foto LUÍS ROBERTO FORMIGA

FORMIGA RADICAL

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texto LUÍS ROBERTO FORMIGA fotos F ORMIGA, CAROL ROSA, ALEXANDRE SOCCI, AGÊNCIA YGARAPÉ, BONITO SCUBA e JUCA YGARAPÉ

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aindo da IIha é sempre bom olhar para o lado e ver a ponte Hercílio Luz, e pelo retrovisor do carro a Floripa City ficando para trás. Mais de 1.400 km de estradas nos esperam. Carol, minha esposa, e eu, saímos cedinho e metemos o pé na estrada em direção ao Mato Grosso do Sul, mais precisamente Campo Grande, fazer uma escala e encontrar o amigo Rufo Vinagre, idealizador do Projeto Pantanal Soul, e equipe, para captar imagens e produzir conteúdo áudio visual de um Estado brasileiro pra lá de especial. Depois de 16 horas “na boleia” da minha caminhonete cruzamos Santa Catarina, atravessamos o Rio Paraná passando

JANTAR DA COMITIVA PANTANEIRA NA POUSADA PERALTA

por Presidente Prudente (SP), de olho na estrada, nas longas retas e nos animais que invadem a pista ao cair da noite. Chegamos acabados, mas felizes, na expectativa de conhecer novos lugares e gente bacana. Churrasco e receptividade no padrão sul-mato-grossense. Na sequência, mais 350 km rumo a Bonito, cidade símbolo e referência mundial de sustentabilidade com a atividade de turismo ecológico. Logo de primeira, tive a honra de conhecer o cara que “descobriu” tudo, o pioneiro do ecoturismo em Bonito. Na agência de turismo Ygarapé Tour fomos recebidos pelo catarinense de Itajaí, Norival da Silva Jr., o Juca Ygarapé. A história dele com a cidade se inicia ainda nos anos 70, quando ia com o pai pescar na região. A família acabou se mudando e baixando âncora por lá.


foto ALEXANDRE SOCCI foto CAROL ROSA

foto ALEXANDRE SOCCI

foto LUÍS ROBERTO FORMIGA

CINEMA E CARNAVAL

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O visionário

FORMIGA E O ANFITRIÃO JUCA YGARAPÉ foto ALEXANDRE SOCCI

Inicialmente, Juca e o pai se estabeleceram em Bonito vendo o potencial para abrir uma oficina mecânica. Depois, na região de pecuária trabalhou na lavoura, em seguida abriu uma churrascaria chamada Camboriú, onde era nada mais nada menos que o assador de carnes. Mas foi em 1987 que Juca visualizou o potencial de turismo. Convidando amigos para conhecer a região, ele sentiu que só no boca a boca o número de interessados em conhecer as belezas de Bonito aumentavam e resolveu abrir uma “lojinha”. O pesquisador e aventureiro nato, além de simpático e bom de conversa, mapeou novos lugares em 1990 que hoje são sagrados em nível mundial, como a Gruta do Lago Azul, passeios de bote na Porto da Ilha, o Balneário Municipal, sendo o primeiro guia do Rio Sucuri, levando turistas a remo rio acima para depois curtirem uma experiência fantástica flutuando a mercê da leve correnteza rio abaixo. Em 1992, depois de descer de rapel com uma equipe de São Paulo e descobrir o Abismo Anhumas. A alucinante beleza natural do município virou pauta do Programa Globo Repórter, da TV Globo, e Francisco José e o anfitrião Juca Ygarapé, mostraram para o mundo um dos lugares mais diferenciados do Brasil. No início de tudo, os proprietários das fazendas não gostavam desse turismo, mas hoje em dia muitos deles requisitam Juca para averiguar as possibilidades de tornarem suas propriedades locais de desejo, no quesito turismo ligado à natureza.


fotos ALEXANDRE SOCCI

CINEMA E CARNAVAL

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Visibilidade infinita Seja passeando a pé pelas trilhas, de bike, de carro ou nas águas cristalinas, a diversão é garantida. A presença de centenas de piraputangas, peixe símbolo do município de Bonito, ou o reflexo dos peixes Dourados em água de visibilidade infinita, remetem a um tranquilo sonho de voar. Seja fazendo uma flutuação, atividade orientada onde grupos com número máximo de pessoas desce os rios equipados com máscaras de mergulho, snorkel, roupas de neoprene para conforto térmico, ou com cilindros em mergulhos de grutas, cavernas e abismo Anhumas nas nascentes borbulhantes do Rio da Prata ou na Lagoa Misteriosa, onde se tem a impressão que o caminho ao centro da Terra é azul, profundo e cristalino.


foto CAROL ROSA

foto LUÍS ROBERTO FORMIGA

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Encontro com a Anaconda

foto LUÍS ROBERTO FORMIGA foto LUÍS ROBERTO FORMIGA

foto LUÍS ROBERTO FORMIGA

foto LUÍS ROBERTO FORMIGA

Entre tantas competências, Juca é um estudioso dos hábitos da cobra sucuri. Combinamos com ele e a equipe para ir ao encontro da anaconda, como são chamadas essas cobras gigantes. Pesquisadores, cineastas de natureza e outros curiosos visitam a região para tentar ver esse animal enigmático. Apesar de ouvirmos histórias de que as sucuris são perigosas, comem animais grandes e até gente, Juca garante que elas não oferecem perigo se não forem ameaçadas. Se alguém sabe o endereço e o horário para esse encontro é ele, e não deu outra: nossa equipe foi de barco ao encontro da maior das cobras. Foi simplesmente fantástico estar lado a lado com ela, e como cinegrafista confesso que foi uma das missões mais desafiadoras, filmar detalhes dessa cobra, quando pude ver minha imagem refletida no globo ocular da Sucuri. Depois dessa experiência pude analisar o crânio, a maxila e a mandíbula dessa gigante. Se ela der o bote não há o que a faça soltar, ela enrola a presa, quebra os ossos e lentamente engole.


foto LUÍS ROBERTO FORMIGA

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Na porta de entrada do Pantanal Foi em Bonito, que combinei de encontrar Dudu Waller. Nos anos 90, ele era um gurizinho, educado e inteligente. Eu voava com o pai dele e depois dessas décadas sem nos vermos, ele se tornou, além de grande fazendeiro pecuarista, um competente piloto da equipe brasileira de asa-delta. Dudu organizou uma equipe para explorar o voo livre na região, levar pilotos do mundo para conhecer o paraíso, assim como levar turistas para voarem livres, decolando de asa delta rebocados por ultraleve. No mínimo, uma experiência pra lá de diferenciada. Como a operação dessa forma de voo ainda estava em desenvolvimento, decidimos adentrar no Pantanal sul-matogrossense para buscar um voo mais técnico e arrojado.


foto ALEXANDRE SOCCI

foto ALEXANDRE SOCCI

foto LUÍS ROBERTO FORMIGA

Jacarés, piranhas, águias e tuiuiús

foto ALEXANDRE SOCCI

SAIBA MAIS

foto LUÍS ROBERTO FORMIGA

Cidade de Corumbá, margem do Rio Paraguai, divisa com a Bolívia, uma incrível formação geológica foi nosso objetivo. O Maciço do Urucum, uma imponente cadeia de montanhas me surpreendeu. Com mais de 900 metros de altura, a paisagem é avassaladora. De um lado, o Pantanal sem fim, ambiente 100% selvagem, rios, lagoas repletas de jacarés, piranhas e o “gatão” como chamam as onças na região. Do outro lado, as montanhas e a mineradora Vale do Rio Doce, extraindo o nobre minério de ferro. Voar nessa região é surpreendente, não somente pelo visual, mas também pelo calor emanado pelo solo de cor vermelha ferrugem, que proporciona correntes de ar ascendentes muito poderosas – sonho de quem voa livre, seja de asa delta ou parapente. Sempre lembrando que conhecer bem a região é muito importante, pois há poucos lugares para um pouso tranquilo, é muito alagado, onde mosquitos e outros bichos podem incomodar. Hora de voltar para casa, divisa com a Bolívia para a Ilha da Magia, 4.700 km rodados em vinte dias, mas antes um típico jantar de comitiva, tradição pantaneira de quem toca a boiada durante centenas de quilômetros cruzando o Pantanal sul-mato-grossense. Uma experiência incrível conhecer e voar no Pantanal, mergulhar nas águas cristalinas de Bonito com uma fauna e flora tão exuberante e selvagem, uma viagem imperdível para quem gosta de natureza, aventura e curtição em família. Você escolhe o nível de emoção.

AGÊNCIA YGARAPÉ TOUR

Viagens, turismo e passeios em Bonito e Pantanal (Mato Grosso do Sul) Z (67) 3255-1733 e W (67) 99213-7371 E informacao@ygarape.com.br D ygarape.com.br foto ALEXANDRE SOCCI

FORMIGA RADICAL

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foto EDUARDO VALENTE/[I]SHOOT

SAVE THE WHALE

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De olho na Rota da Baleia Franca, catarinenses aguardam as ilustres visitantes

NÃO TEM ERRO: ELAS SEMPRE VÊM... E DÃO ESPETÁCULO!


foto EDUARDO VALENTE/[I]SHOOT

SAVE THE WHALE

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m Santa Catarina é sempre assim. Todo ano, quando o inverno se aproxima, começam a ser repetidas as mesmas perguntas: Vai nevar ou não? A safra de tainha vai ser boa? O frio vai ser rigoroso? Mas, independente de quaisquer outras questões, uma coisa é certa: com o frio, as baleias chegam, e dando espetáculo! Ano após ano, entre julho e novembro, quando ocorre a chamada temporada reprodutiva das baleias da espécie Franca, a costa catarinense aguarda com expectativa e recebe com carinho as ilustres visitantes. Elas vêm da Antártica e percorrem cerca de três mil quilômetros em busca de águas mais calmas, quentinhas e rasas, onde dão à luz e amamentam seus filhotes, e ao longo de aproximadamente cinco meses é comum avistar pares de mãe e filhote, nadando calmamente em paralelo à costa, deixando à mostra ora a enorme nadadeira peitoral, ora a cauda, ou brindando os observadores com impressionantes saltos fora d´água. E ano após ano, o encantamento que provocam só cresce. O roteiro de ocorrência e observação se estende de Florianópolis até a cidade de Torres, no Rio Grande do Sul, com destaque para as áreas de Laguna, Imbituba e Garopaba, no Sul de Santa Catarina. Inserida em uma área de preservação ambiental, a chamada Rota da Baleia Franca é reconhecida como o único berçário da espécie no País. Em 2020, elas chegaram um pouco mais cedo, e já no dia 25 de junho foram avistadas duas baleias na praia do Campeche, região Sul da Ilha, e uma outra na praia do Mar Grosso, em Laguna. De acordo com o levantamento do Instituto Australis, que desenvolve pesquisas, monitora a presença dos mamíferos no Estado e desenvolve ações de proteção da população de baleias Franca no Brasil, esses foram os primeiros registros na temporada deste ano. E já na primeira semana de julho, uma nova ocorrência no Morro das Pedras, também em Floripa, essa acompanhada

de um filhote recém-nascido. “É um pouco raro que já sejam avistados filhotes tão cedo, considerando-se que o início da temporada reprodutiva acontece em julho, mas pode acontecer, e é sempre uma notícia bem-vinda”, comenta a bióloga Karina Groch, diretora de pesquisa do Instituto e coordenadora do ProFranca (Projeto Franca Austral). Segundo ela, a temporada se estende até novembro, e o pico de avistagem acontece entre meados de agosto e de setembro, quando é registrado o maior número de ocorrências de presença da espécie no Estado. O número é bem variável, mas, em média, aproximadamente 100 baleias passam a temporada reprodutiva em águas catarinenses a cada temporada. Em 2018, entretanto, foi registrado um número recorde na Rota da Baleia Franca (284 indivíduos). De acordo com os pesquisadores, diversos fatores podem influenciar no número de baleias em áreas reprodutivas, como a quantidade de alimento – quanto mais alimento disponível, mais baleias podem migrar para áreas de reprodução – e os intervalos entre as gestações, por exemplo. Segundo Karina, pelo intervalo de retorno ao “berçário” catarinense, foi possível perceber que as francas têm seus filhotes a cada três anos, em média. Assim, o “boom” de baleias observadas em 2018 não se repetiu no ano seguinte, quando 52 passaram por aqui. Que a temporada 2020 traga muitas e boas surpresas. foto PBF/AUSTRALIS

texto LU ZUÊ fotos ANTONIO CARLOS MAFALDA, CARLOS BORTOLOTTI, EDUARDO VALENTE e PBF/AUSTRALIS


foto CARLOS BORTOLOTTI

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Elas já foram uma das espécies de baleia mais abundantes em águas brasileiras, mas com a caça predatória e indiscriminada praticada desde o século XVII elas quase foram totalmente extintas. Para reverter a situação, há mais de três décadas os pesquisadores vêm concentrando esforços para a recuperação da população de baleias Franca no Sul do Brasil. O projeto de monitoramento das baleias que frequentam nossa costa começou em 1987, e desde então, mais de mil indivíduos foram catalogadas pelo Instituto Australis. A identificação é feita por meio de um programa de computador que compara o “desenho” das cabeças das visitantes. A Baleia Franca (Eubalaena australis) tem como característica o corpo negro e arredondado, manchas brancas irregulares na barriga e “verrugas” geralmente

acinzentadas ou branco-amareladas na cabeça. Essas “verrugas” de nascença são diferentes em cada baleia – uma espécie de digital – o que permite aos pesquisadores conhecê-las individualmente, identificar sua frequência e assim controlar a recuperação da espécie, que ainda é classificada como “em perigo” na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção. Nesta temporada, graças ao patrocínio da Petrobras por meio do Programa Socioambiental, o Instituto Australis colocou em execução o ProFranca – Projeto Franca Austral –, que reforça as ações de conservação da espécie, tanto a partir da a continuidade de pesquisas realizadas a longo prazo como pela execução de metodologias inovadoras aplicadas para descobertas de novas informações biológicas sobre a espécie. “O ProFranca vai nos permitir irmos além da manutenção das atividades realizadas tradicionalmente pelo Instituto, ampliando a ação. Além dos investimentos em pesquisas e metodologias de monitoramento, vamos executar novas iniciativas de mobilização social, educação ambiental e capacitações”, conta Karina. foto CARLOS BORTOLOTTI

Trabalho e investimentos para preservar a espécie


foto DIVULGAÇÃO

SAVE THE WHALE

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chega a 4%, o que pode ser considerado lento, mas sinaliza uma efetiva mudança. “O importante é que temos o nascimento de muitos filhotes e já temos, inclusive, o retorno de alguns que voltaram quando adultos e tiveram seus próprios filhotes aqui! Ou seja, estamos acompanhando segunda e terceira gerações de baleias Franca”, comemora. Karina cita, como exemplo, a baleia apelidada de JDot, conhecida aqui e na Argentina. “Ela foi avistada aqui pela primeira vez em 1988, e depois disso já apareceu outras sete vezes, a mais recente delas em 2017”, complementa. De acordo com os registros do Instituto, todas as baleias avistadas nos primeiros dias da temporada estavam aqui pela primeira vez, e no final de agosto, foi a vez de uma baleia adulta semi-albina chamar atenção e causar surpresa em Itapirubá. “Ela também ainda não havia sido catalogada. Esse tipo de baleia nasce branca com pintas pretas, e vai escurecendo com o passar dos anos, até ficar cinza. São muito raras, e isso mostra que a população das baleias Franca está se recuperando!”, conclui Karina.

foto EDUARDO VALENTE/[I]SHOOT

Junto aos pescadores, por exemplo, o Instituto deu início a um trabalho para identificar áreas de sobreposição da pesca com a presença das baleias. A partir dos resultados, em parceria com os pescadores serão identificadas regiões onde a atividade de pesca possa ser realizada minimizando o risco de perda de redes, evitando encontros das mesmas com as baleias. Este ano, inclusive, pela primeira vez o Instituto está oferecendo um programa de estágio remunerado, voltado a estudantes das áreas de biologia, oceanografia, veterinária e áreas afins, que desejam ampliar seus conhecimentos, além de contribuir para as ações do projeto. O grupo de 14 estagiários vindos de diferentes regiões do Brasil passou a reforçar a equipe do Instituto já na segunda semana de agosto, com cuidados extras devido à pandemia. E os esforços realizados ao longo dos anos vêm rendendo bons resultados, o que pode ser comprovado a partir da quantidade de novos indivíduos que a cada temporada procuram as águas catarinenses. Segundo Karina Groch, o crescimento da população


foto CARLOS BORTOLOTTI

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de pesca e um terceiro, de uma empresa de passeios marítimos auxiliaram no resgate, “arrastando” o filhote – de cerca de 10 metros – para o mar, sempre observados por uma plateia ansiosa, que vibrou quando os esguichos de ar e a cauda balançando passaram a ser os únicos sinais da baleia visíveis da praia. Do alto, entretanto, era possível ver um filhote ainda confuso, tentando recuperar o senso de direção e ganhar as águas mais profundas. E assim aconteceu! foto ANTONIO CARLOS MAFALDA

No dia 2 de junho, enquanto as baleias ainda não haviam se tornado notícia nesta temporada, pescadores encontraram um filhote de baleia Jubarte (Megaptera novaeangliae) encalhado na Praia da Lagoinha, no Norte da Ilha, em Florianópolis. A partir daquele momento, teve início uma verdadeira força-tarefa que mobilizou pessoas e entidades na missão de devolver o animal ao mar. Na primeira tentativa, feita no mesmo dia pelos próprios pescadores, a maré baixa e, provavelmente, o cansaço do filhote dificultaram o processo e o animal retornou para a areia. E desde o início da manhã seguinte, especialistas da Associação R3 Animal, do Instituto Australis e da Polícia Ambiental avaliavam e monitoravam a situação do animal e as condições do mar, enquanto o plano era traçado e pessoas mobilizadas. Foram, no total, 18 horas de uma tarefa repleta de detalhes e com resultado emocionante. O desencalhe seguiu os protocolos da Área de Preservação Ambiental (APA) da Baleia Franca, e depois que uma retroescavadeira criou uma calha na areia, dois barcos

foto ANTONIO CARLOS MAFALDA

Era baleia, mas não era Franca, e nem adulta


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ECO TRILHAS

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A SERRA É PARA TODOS Lindas paisagens, fauna encantadora, ricas histórias e muita tradição. Que tal fazer uma trilha na serra catarinense e confirmar isso tudo?


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texto LU ZUÊ fotos DARIO LINS

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ica e instigante não apenas pelas belezas naturais, mas também pela história e cultura serrana que evoca elementos da tradição tropeira, a serra catarinense abriga inúmeros locais marcados pela passagem, no século XVIII, de padres jesuítas e caravanas, que conduziam tropas de mulas e boiadas para a região litorânea do Estado. Esses personagens e hábitos ajudaram a moldar a cultura da região, caracterizada por uma diversidade de acidentes geográficos, com cânions e penhascos vertiginosos, capazes de surpreender e encantar quem por ali passa.


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Autor de dois livros que contam a história local e apresentam a avifauna serrana, Dario Lins se divide entre o trabalho como contabilista na Câmara de Vereadores de Bom Retiro (sua cidade natal) e a função de guia de turismo e proprietário da Agência Eco Trilhas Serra Catarinense, por meio da qual promove trilhas, expedições fotográficas, turismo de experiência (caçada de cogumelos) e birdwatching (observação de aves). Atualmente a empresa de Lins oferece cerca de 20 roteiros, com trilhas pelos cânions, montanhas e cachoeiras da região serrana catarinense, escolhidas sempre levando-se em consideração a beleza cênica e os atrativos naturais.


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Entre essas opções estão, por exemplo, a trilha da Pedra Furada, que conduz o grupo para dentro da imensa Pedra Furada, uma formação incrustada sobre uma escarpa do cânion localizado no Morro da Igreja, em Urubici. Ou ainda a região conhecida como Campo dos Padres, território selvagem onde estão localizados os pontos culminantes do Estado. “O lugar recebe esse nome desde o século XVIII pela passagem de jesuítas espanhóis em fuga da coroa portuguesa. Essa passagem histórica está margeada de lendas de ‘tesouros guardados’ que teriam sido escondidos pelo caminho”, explica Dario Lins. Segundo ele, quando está realizando uma trilha, a equipe da Eco Trilhas sempre procura contextualizar a atividade, introduzindo as pessoas no ambiente, o que permite conhecer e explorar elementos históricos e culturais. “E passamos para os participantes todo nosso conhecimento sobre a fauna e a flora da região”, acrescenta. Com a experiência adquirida em mais de 30 anos praticando atividades junto à natureza – como trekking e birdwatching – Lins afirma que “a montanha é para todos”, e ressalta que os grupos já reuniram pessoas de 15 a 70 anos, muitas com pouca ou nenhuma experiência. Nesse quesito, as trilhas mais procuradas são aquelas que percorrem as bordas da Serra Geral, como por exemplo as trilhas dos cânions do Funil, Laranjeiras e Ronda.

Ao mesmo tempo em que divulga as belezas e encantos da serra, o guia é, entretanto, enfático ao dizer que os riscos demandam precaução na realização das atividades de trekking, em especial nos dias de “viração”, que é quando a neblina se torna tão densa que impede totalmente a visibilidade. “Cada trilha possui seu grau de dificuldade – fácil, moderado e difícil – e as de grau fácil a moderado são muito tranquilas até mesmo para iniciantes. Mesmo assim é sempre importante ter um guia/condutor que conheça a região, saiba interpretar o tempo e analisar os riscos antes de realizar qualquer atividade”, diz.


Além das paisagens e surpresas de tirar o fôlego (que a partir de agora aparecerão com frequência aqui, nas páginas da Mural), o guia destaca os benefícios para a saúde. Para ele, qualquer pessoa que siga as orientações básicas de segurança pode ter experiências marcantes e significativas que mudarão para sempre suas vidas. “Inúmeras pessoas que deram os primeiros passos ao nosso lado nas trilhas, continuam nos acompanhando há anos e nunca mais pararam de caminhar. O resultado é muita saúde, com mente e corpo em equilíbrio”, afirma Dario. Casado com Soraya e pai de Lesther, Dario Lins é definitivamente um serrano nativo, e não esconde o quanto é apaixonado por cada pedacinho da serra catarinense, região que considera uma das mais belas do mundo. “Meu caso com a serra é antigo. Tenho um trabalho fotográfico publicado em livro, no qual apresento as mais belas aves e paisagens da serra catarinense. Por mais que eu caminhe muitas vezes pelos mesmos locais sempre há algo novo a conhecer e se apaixonar”, conclui.

SAIBA MAIS

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MEIO AMBIENTE

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O CORAÇÃO (VERDE!) DO CÓRREGO GRANDE Parque Ecológico do Córrego Grande, um espaço de lazer e de projetos ambientais que confirmam o apelo ecológico em benefício do público


foto AYRTON CRUZ

foto CARLOS BORTOLOTTI

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texto LU ZUÊ fotos CARLOS BORTOLOTTI e AYRTON CRUZ

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Parque Ecológico do Córrego Grande já viu de tudo: no início, plantava-se ali basicamente capim-limão e capimgordura para alimentar gado; depois, vegetação exótica para reflorestamento. Atualmente, uma grande variedade de plantas nativas e uma fauna diversificada expõem a biodiversidade local. No início do século XX, quando a região nada tinha a ver com o pulsante e populoso bairro do Córrego Grande, a extensa área que hoje abriga um parque ecológico era uma grande chácara para produção de leite, onde o rebanho se esbaldava no pasto, comendo capim-limão e capim-gordura. Adquirido pelo Governo Federal nos anos de 1940, o terreno se transformou numa reserva florestal do extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), onde eram plantados pinus e eucalipto para reflorestamento. O local nada tinha de atraente para a crescente comunidade que o cercava, mas foi justamente graças à mobilização dessa comunidade, que o Parque Ecológico Municipal Prof. Davi Ferreira Lima – nome oficial do Parque Ecológico do Córrego Grande – tornou-se o que é hoje: um paraíso para animais como gambás, jacarés-do-papo-amarelo, lagartos, martim pescador, biguás, papagaios, tucanos, saguis, jabutis, lindas e coloridas borboletas e para muitos insetos. E para a comunidade, é claro!

A história do parque como espaço da comunidade não teve um início feliz. Em agosto de 1994, graças a uma parceria entre o IBAMA, a prefeitura de Florianópolis e a Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap), o espaço foi aberto à comunidade, e já no mês seguinte, fortes ventos provocaram a queda de um eucalipto e a morte de um homem e seu filho pequeno. O acidente provocou a interdição do local para investigações e adequações da estrutura. Após reformas e instalação de equipamentos de lazer, desenvolvidos paralelamente à recuperação da vegetação nativa, o Parque Ecológico foi reaberto à visitação em dezembro de 2001, quando a Prefeitura recebeu do Governo Federal a cessão temporária da área. Foram plantadas mais de 25 mil mudas de espécies nativas, e por meio de um projeto de educação ambiental desenvolvido pela administração municipal da época, o parque se tornou um distribuidor de mudas para garantir a proteção da biodiversidade local. Dentre a flora nativa local pode-se observar alguns exemplares como o Pau-Brasil, Garapuvu, Imbaúva, Palmiteiro, Araribá Amarelo, Paineira entre muitas outras.


foto AYRTON CRUZ

Espaço conquistou o coração das pessoas

foto AYRTON CRUZ

foto CARLOS BORTOLOTTI

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Em uma cidade que não possui muitos parques como esse, com vasta área verde e fácil acesso à comunidade, não demorou muito para que o parque caísse no gosto popular e conquistasse o coração do público. Nos últimos anos, com o crescimento acelerado e a diminuição dos espaços adequados para o contato com a natureza, os moradores de Florianópolis tem descoberto, resgatado e valorizado esse convívio. Fato é que, em tempos normais, o parque recebe um grande número de visitantes, que passeiam pelas trilhas (são três!), observam a fauna e a flora, e confirmam o apelo ecológico do espaço. Além da estrutura de lazer, o parque abriga projetos ambientais que viabilizam visitas agendadas e guiadas por monitores, oficinas de papietagem, de papel artesanal, produção de mudas e compostagem, além de produção de sabão com óleo de cozinha. Aliás, desde o início da pandemia, a coleta de óleo usado não foi interrompida. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) também atuam no espaço, por meio do Projeto de Insetos do local, implantado pelo setor de biologia da UFSC, e A Hora do Conto, do segmento de Pedagogia da Udesc, que estreitam a relação das instituições com a comunidade.


Este ano, uma nova mobilização da sociedade ajudou a escrever um novo capítulo da história do Parque Ecológico do Córrego Grande. Administração municipal, políticos de diferentes esferas, entidades públicas e privadas se uniram à população para garantir que o parque permanecesse público. A movimentação reuniu mais de 50 mil assinaturas em um documento que se contrapunha ao anúncio do Governo Federal de vender inúmeras áreas em todo o País, consideradas pelo Ibama como desnecessárias às suas atividades institucionais. Entre elas estava o nosso parque.

A #oparqueénosso viralizou nas redes sociais e após a mobilização local, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou a parlamentares catarinenses do Congresso Nacional que a área não seria alienada. Enfim, em junho, o próprio ministro esteve na Capital, em uma solenidade no ambiente do parque, durante a qual assinou a renovação da cessão da área para o município pelo período de cinco anos e assumiu o compromisso de cessão definitiva, o que acontece após a elaboração e aprovação de um Projeto de Lei Federal. Foi uma vitória da comunidade, que encampou uma batalha pelo meio ambiente da Capital. Alguém tem dúvidas de que o Parque é nosso? foto CARLOS BORTOLOTTI

Novo capítulo da história

foto AYRTON CRUZ

foto AYRTON CRUZ

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foto AYRTON CRUZ

• Também há um parque infantil, uma academia de ginástica ao ar livre e duas quadras de vôlei de areia. • Há um estacionamento com apenas 20 vagas, destinado preferencialmente aos portadores de necessidades especiais; • Entre os projetos de educação ambiental desenvolvidos no Parque está o Família Casca, que compreende a entrega voluntaria de resíduos orgânicos domésticos, que são encaminhados para um pátio de compostagem. Lá, esses resíduos são tratados e transformados em composto orgânico, que é cedido às famílias. Hoje, são cerca de 300 famílias cadastradas. • Entre as principais árvores encontradas no parque estão o Garapuvu, o Ipê Amarelo e as Palmeiras Jussara. Já os animais mais vistos são as saracuras, lagartos, canários, patos, jacaré-de-papo-amarelo e saguis. • O acesso é gratuito, das 7 às 18 horas, e a entrada fica na João Pio Duarte Silva, no Córrego Grande. Atualmente, por conta dos protocolos relacionados à pandemia, o Parque do Córrego Grande está aberto apenas para realização de caminhadas, respeitando-se o distanciamento social. foto CARLOS BORTOLOTTI

• O Parque Ecológico do Córrego Grande abrange uma área de cerca de 21 hectares; • É um ponto de visitação para contemplar a natureza e uma opção de lazer e atividades físicas; • Dentro do parque existem dois lagos, três trilhas (Palmiteiro, Pau-Jacaré e Garapuvu) e uma pista de caminhada de 1,1 km; foto CARLOS BORTOLOTTI

SAIBA MAIS

foto AYRTON CRUZ

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ARTE URBANA

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Produzid o durante a pandem ia assinado e pe artista plá lo sti Rodrigo R co izo mural Na , o tur Desterro eza do foi à cidade entregue no de julho e dia 30 de mais bela ixou a central d região a Capital

MURAL HOMENAGEIA FAUNA E FLORA DA ILHA


foto CARLOS BORTOLOTTI

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texto LU ZUÊ fotos TUNAI AROZI

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utor de mais de 200 grafites espalhados pela cidade, Rodrigo Rizo já deixou seu traço registrado em muros, paredes, pontes e viadutos nas mais diversas regiões da Ilha, mas com a obra no paredão lateral do Hotel Zip, no alto da rua Felipe Schmidt, bem no coração da cidade, ele se superou. Seja pela dimensão do mural, pelas dificuldades impostas pela natureza, pelas técnicas utilizadas e variedade de elementos apresentados, ou pela surpresa que desperta nas pessoas... tudo no “Natureza do Desterro” é grandioso.

metros Na superfície, que mede 10 ra, estão altu de tros de largura e 33,5 me etem rem que s retratados 18 elemento A . Ilha da za à identidade e à nature nas ape r usa foi não ideia, segundo Rizo, s ela aqu a, sej ou – espécies endêmicas s ma –, i aqu nte me encontradas exclusiva ca, cer nos que eza bel sim valorizar toda a foi antecedido e o trabalho na plataforma sobre a sa qui pes por uma minuciosa udos de est de m alé natureza da cidade, final. jeto pro ao desenhos para chegar -do aré jac , eia Assim, tainha, bal ra, uei raq -bu papo-amarelo, coruja com a Ponte tartatuga e garças, convivem purata e pur lia Lae Hercílio Luz, com a o de bol sím ore com o guarapuvu, árv s são nto me ele os Florianópolis. Todos às io me em e a, interligados pela águ ra figu a um ge plantas e animais sur Natureza feminina que personifica a estral anc írito do Desterro, um esp do equilíbrio ão enç nut responsável pela ma sonagem per da ção da natureza. A colora rosto, às do os fism gra remete à terra, e os como forma inscrições rupestres, também dade dos de homenagem à ancestrali lis. ópo rian povos nativos de Flo


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Na empreitada, que demandou 43 dias de trabalho – Rizo contou com a parceria dos artistas assistentes Tuane Ferreira e Rodrigo “Pasmo”, e juntos enfrentaram todo tipo de dificuldades, daquelas provocadas pela pandemia a fenômenos da natureza (entre 30 de junho e 1º de julho, um ciclone-bomba passou por Santa Catarina, e a região da Grande Florianópolis foi castigada por ventos de até 100 Km/h). Se ficar suspenso no jaú (plataforma utilizada para a execução da pintura) em dias normais já não é lá para qualquer um, que tal em dia de ventania? “Uma das maiores dificuldades foi, sem dúvida, trabalhar nas alturas, presos a equipamentos de segurança que limitam os movimentos e exigem esforço físico extra. E no meio disso tudo, tivemos que lidar com a natureza. Mas é sempre uma superação”, disse Rizo.

bém E a superação prosseguiu tam as o com – as nas técnicas empregad tido sen er faz não m texturas, que parece a com que s ma to, para quem olha de per o lism rea um a obr à distância imprimem artista define quase fotográfico. O próprio o trabalho o com rro o Natureza do Deste número ior ma o mais detalhado e com lizou, rea já que as de elementos realist inina fem ra figu da destacando o olhar olhar no ção pira ins (para o qual buscou ndes gra dos um o da esposa, Tuane) com to ros um o feit a tinh desafios. “Eu nunca o anh tam com , frontal, nessa escala trabalho que realismo. Esse é um tipo de cos. A pou aos ido vai sendo desenvolv passo no do san gente sempre fica pen o para feit ser e pod a mais, naquilo que dei esse que o ach E melhorar o resultado. ei a textura passo a mais quando trabalh lembrando , sta arti o da pele”, destacou izou a util que que foi a primeira vez algo tão em ser de técnica, e que o fato riscos. os u plio am e grande e impactant


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Pandemia interferiu no processo Fruto de um movimento – Street Art Tour –, que desde 2019 busca fomentar a arte urbana na Capital, o mural foi idealizado para homenagear Florianópolis, e o plano era que estivesse pronto em março, no aniversário da cidade. Mas aí veio a pandemia e tudo mudou. Da captação de recursos – o projeto é coordenado pelo Studio de Ideias e viabilizado por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – às formas de interação com o público e divulgação do projeto, adaptação foi a ordem. “Executamos o projeto tomando todos os cuidados necessários para correr e causar o mínimo risco possível, e com a missão também de trazer um alívio e uma forma até de esperança para as pessoas”, conta Rodrigo Rizo. Um dos maiores desafios, então, foi mobilizar e tocar a população com a manifestação artística, porém, sem estimulá-las a sair de casa. Lives e divulgação de imagens pelas redes sociais foram a saída encontrada pela equipe para chegar até o público, interagir e passar a mensagem. “Quando propus o “Natureza do Desterro”, essa foi minha primeira preocupação: pintar algo bonito, com certeza, mas também levar a ideia da preservação adiante, e fazer com que as pessoas se conectassem com o tema. E conseguimos”, finaliza Rizo.


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Projetos futuros Embora o que chame mais a atenção do público e deixe marcas pela cidade sejam os murais, esta não é a única ação do movimento Street Art Tour para fomentar e valorizar a arte urbana na cidade. Há, sim, intervenções planejadas para este segundo semestre de 2020 – inclusive com um mural previsto no Estreito, bairro de origem de Rodrigo Rizo –, mas o grupo trabalha também nos incrementos do aplicativo lançado em 2019, buscando uma maior interação com a comunidade. A ideia é servir como um guia do “tour” pelas intervenções artísticas realizadas na cidade, mas também deixar tudo guardado, eternizado pelas imagens. “A característica da arte urbana é a efemeridade, e o que queremos é registrar e valorizar os artistas e suas manifestações, e nesse sentido, além de catalogar o que já foi feito e ainda será produzido, o aplicativo vai estabelecer uma linha do tempo da arte nas “paredes” da cidade e preservar a arte urbana desenvolvida em Florianópolis”, explica Rizo. O artista destaca que a palavra valorização engloba uma série de fatores, e um deles é a durabilidade da obra. Ele cita como exemplo a passarela das pontes que fazem a ligação entre a Ilha e o Continente – um verdadeiro “berço” para os grafites em Florianópolis, transformada em uma extensa tela que já abrigou trabalhos de inúmeros artistas locais, e que será “apagada” com a reforma prevista no local.

reunir “Com o aplicativo, além de tória e his a var ser pre os artistas, vamos as im, Ass os. tod de e colocar ao alcanc obter a, obr a um ar aliz loc pessoas poderão s e conhecer informações sobre os artista criação”, os motivos que levaram à sua resume Rizo. ações do E um recado final: todas as as por meio Street Art Tour são viabilizad à Cultura, da Lei Municipal de Incentivo pessoas por ção tina que permite a des imposto do % 20 de físicas ou jurídicas cultura. de s jeto pro devido para apoiar olvimento env des de so “Todo esse proces se mecanismo só foi possível por meio des ração é de incentivo à arte, e a colabo is coisas”, ma da ain r liza essencial para rea conclui.



A “COSQUINHA” DOS PNEUS VOLTOU Depois de décadas olhando de longe, é normal que cada nova etapa na reconquista do direito de ir e vir passando sobre a Ponte Hercílio Luz seja – muito – comemorada

fotos EDUARDO VALENTE/[I]SHOOT

PONTE HERCÍLIO LUZ

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foto DIVULGAÇÃO

foto JULIO CAVALHEIRO/SECON

foto EDUARDO VALENTE/[I]SHOOT

PONTE HERCÍLIO LUZ

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texto LU ZUÊ fotos EDUARDO VALENTE/[I]SHOOT

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não poderia ser diferente. Afinal, foram 28 anos de interdição total, e 38 anos sem que veículos particulares pudessem trafegar sobre ela, que foi a primeira ligação entre a Ilha e o Continente e pode ser considerada o principal cartão-postal de Santa Catarina. O fascínio que exerce sobre as pessoas pode até ter ficado amortecido, mas com a reabertura à população no dia 30 de dezembro de 2019, a Ponte Hercílio Luz não se fez de rogada e mostrou a força da atração que exerce, seja naqueles que sentiam saudade, ou em quem nunca havia tido a oportunidade de passar sobre ela. Agora, com a reabertura (regrada) do tráfego para veículos particulares, ficou mais fácil estar pertinho da Hercílio Luz. Em dezembro, quando a ponte foi “devolvida” para a população, em um evento programado pelo Governo do Estado, ela serviu primeiramente de passarela para um desfile com quase 200 carros antigos, vindos de diferentes cidades catarinenses e até de outros estados. Depois disso, como parte das comemorações, ficou disponível apenas para pedestres e ciclistas, e no final de janeiro, foi aberta para o tráfego das primeiras linhas de ônibus e veículos oficiais de emergência. Como tudo o que cerca a história da Hercílio Luz, o trajeto inaugural da linha gratuita “1119 – Viva a Ponte” (que teve a exclusividade da travessia por dois dias) atraiu muita atenção, e seguindo o processo normal dos eventos na atualidade, foi registrado por celulares. Em minutos, as redes sociais estavam repletas de fotos e vídeos do trajeto. Os dois primeiros ônibus a realizar a viagem – que já havia sido feita em dezembro, na fase de testes e festividades – estavam lotados com passageiros que aplaudiram já os primeiros movimentos dos coletivos, saindo do Terminal.


foto RICARDO WOLFFENBUTTEL/SECON foto EDUARDO VALENTE/[I]SHOOT

foto JOHN VENTURA

PONTE HERCÍLIO LUZ

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e de emergência, que já tinham autorização de tráfego, seguem liberados. Entre 11 horas e 19 horas, veículos particulares, com pelo menos dois passageiros, podem trafegar. A passagem de motos e de caminhões continua proibida. Pedestres e ciclistas podem fazer a travessia pelas passarelas, e nos finais de semana, o tráfego na estrutura segue fechado para veículos. Na primeira semana, o movimento registrado foi considerado de moderado a leve, mas constante ao longo de todo o dia. Não houve a formação de filas nem intercorrências mais graves ou incidentes e foram necessárias poucas orientações, no caso de pessoas que estavam em veículos com menos de duas pessoas. Todas as decisões e programações sobre a liberação de tráfego vêm sendo feitas em conjunto pela Secretaria de Estado da Infraestrutura e Mobilidade, Prefeitura de Florianópolis, Polícia Militar e Guarda Municipal de Florianópolis. As avaliações oficiais dos resultados também cabem aos órgãos governamentais, e é com base nelas que serão decididos os passos subsequentes para a utilização da estrutura. Mas para a população da Capital e visitantes, nem é preciso perguntar. Basta conferir os sorrisos! foto DIVULGAÇÃO

Dois dias depois foi liberado o acesso para o transporte escolar e para as linhas 630 – Corredor Continente, 3001 – Executivo Jardim Atlântico/UFSC, 3002 – Executivo Abraão/UFSC e 6220 – Executivo Abraão. Mas era pouco, e uma pandemia limitou ainda mais os processos! Já na edição 51 da Mural, o fotógrafo Tarcísio Mattos – organizador do livro “Hercílio Luz: uma Ponte”, da Tempo Editorial, deixava registrada a saudade que, em sua opinião, a estrutura também deveria estar sentindo do contato com o público. Enfático, Tarcísio disse que todos os cálculos da reforma foram feitos para que os veículos voltassem a circular sobre ela. “Ela deve voltar a ser um elo rodoviário entre a Ilha e Continente, e ela está segura. Deixá-la como um bibelô chega a ser um desrespeito para com sua história. Ela não nasceu para isso: nasceu para ser bonita e ter uma função social. Ela quer receber a “cosquinha” dos pneus passando sobre ela”, defendeu. E agora, neste novo capítulo da história da Hercílio Luz, a “cosquinha” passou a ser frequente. Com base numa programação que realiza sucessivos testes de viabilidade e resultados alcançados, durante a semana, os ônibus, táxis e veículos oficiais



fotos CAIO GRAÇA

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A ROMÂNTICA NOSTALGIA DOS DRIVE-INS

Espaços de entreterimento estão se reiventando para “sobreviver” à pandemia

texto LU ZUÊ fotos ADRIEL DOUGLAS, CAIO GRAÇA E FELIPE CARNEIRO

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té bem pouco tempo os drive-ins faziam parte apenas das memórias de uma geração, ou das agendas das nostálgicas comunidades “retrô”, onde há espaço para pessoas que tanto curtem ouvir músicas com os chiados característicos dos discos de vinil, ou assistir filmes em grandes espaços abertos, acomodados dentro de automóveis. Mas a busca por diferentes formas de sair de casa em tempos de pandemia, sem quebrar o isolamento social e comprometer a segurança, trouxe de volta essa diferente forma de acompanhar programações artísticas, em que as poltronas dos cinemas são substituídas pelos assentos dos carros, que por sua vez ocupam vagas e cumprem o papel de pistas e camarotes dos teatros e arenas para os shows. Por todo o mundo pipocaram espaços para assistir filmes, shows e até mesmo visitar exposições de arte – em São Paulo, na Vila Leopoldina, um galpão de oito mil m², onde em uma época funcionou uma indústria metalúrgica, foi convertido em espaço para contemplar obras de arte incríveis, sem sair do carro. Não há mesmo limites para a capacidade de adaptação do ser humano, e Santa Catarina, é claro, não fugiu à regra.


fotos ADRIEL DOUGLAS

ENTRETERIMENTO

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Programação e modelo de entretenimento ditados pela pandemia Inaugurada em dezembro de 2018, a Arena Petry é um grandioso centro de eventos localizado no bairro Sertão do Maruim, em São José. O espaço tem capacidade para cerca de 17 mil pessoas, e com a chegada da pandemia e suas restrições de aglomeração, os administradores viram, de uma hora para outra, a ociosidade tomar conta do empreendimento. De acordo com o empresário Roberto Petry, diretor comercial da Arena, o retorno às atividades começou com um projeto de lives com artistas locais, mas na onda dos drive-ins como alternativa de entretenimento não virtual durante o período, a administração optou pela inovação, e passou a oferecer shows e espetáculos nesse formato na região da Grande Florianópolis. Especializado em marketing e produção de eventos, Petry conta que foi necessário montar toda uma nova estrutura no estacionamento da Arena, com palco, telões e novos equipamentos de som e iluminação. A capacidade é de 900 veículos e são autorizadas até quatro pessoas no mesmo carro (que devem permanecer de máscara durante todo o evento), com a recomendação de que sejam, preferencialmente, moradores da mesma casa. A resposta do público tem sido muito compensadora, em todos os sentidos. “As pessoas estavam carentes de opções de entretenimento. Mesmo dentro dos carros, todos se mostram entusiasmados com essa nova experiência, e isso é muito gratificante para nós”, afirma.

O primeiro evento aconteceu dia 13 de junho, e novamente a pandemia ditou as regras. A primeira atração seria o Dazaranha, mas o diagnóstico positivo para Covid-19 de um dos integrantes provocou uma mudança de planos, e a estreia ficou com a Camerata Florianópolis, que tocou para um “público” de 300 automóveis. Ao final de cada música, no lugar das palmas, um emocionante buzinaço acompanhado de um show dos faróis. “O sucesso foi tanto que a orquestra já se apresentou duas vezes na Arena Drive-In”, explica Roberto Petry. Em junho e julho aconteceram sete edições de shows e apresentações, sempre com um público animado e participativo, e para os próximos meses (enquanto permanecerem as restrições relacionadas à pandemia), a Arena Petry vai continuar com o projeto, mas a agenda ainda está em negociação. Todos os trabalhadores, incluindo equipe da Arena e os membros das produções das bandas, usam equipamento de segurança, como máscara e álcool em gel, além de respeitarem o distanciamento social. E aqueles que atuam na área de comida e bebida nos eventos usam também toucas e luvas. “São cuidados necessários para garantir a segurança de todos os envolvidos”, lembra Petry. E assim, as pessoas vão revivendo velhas práticas e se acostumando a novos hábitos. Alguém precisa usar o banheiro? É só acionar a equipe da Arena Petry por meio do pisca-alerta para receberem todas as orientações necessárias. Bateu a fome? Tem aplicativo específico para pedir o que comer. De acordo com Roberto Petry, o objetivo da Arena (que está em processo para se tornar o primeiro Hard Rock Live – casa de shows e eventos do Hard Rock International – do Brasil) é voltar a realizar eventos dentro do empreendimento, seguindo todos os protocolos de segurança, mas enquanto isso não é possível, o formato drive-in segue firme. “É uma opção segura para toda a família”, conclui.


fotos CAIO GRAÇA

ENTRETERIMENTO

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Programação para todos os públicos e gostos As determinações de isolamento social e proibição de aglomeração de pessoas que chegaram com o início da pandemia, o setor de entretenimento foi um dos primeiros a sentir os efeitos de uma crise que se anunciava. Conhecido por receber uma grande variedade de eventos nacionais e internacionais, o Music Park – complexo administrado pelo Grupo All, localizado no Norte da Ilha e que reúne casas como Stage, Posh, Terraza, Indoor e Garden – também teve que se reinventar frente à nova realidade imposta pelas restrições decorrentes do novo coronavírus, e buscar alternativas para “sobreviver”. Com a agilidade e pioneirismo que caracterizam as ações do Grupo, o empresário Doreni Caramori Junior vislumbrou a possibilidade de aderir ao novo modelo que ganhava espaço ao redor do mundo. “Estamos entre os primeiros em Santa Catarina e no Brasil a lançar um local para esse tipo de entretenimento. E trabalhamos para criar um espaço onde as pessoas pudessem sair de casa para se divertir sem se incomodar com o conforto e a saúde. Nossa preocupação principal foi criar um ambiente seguro para todos”, explica Caramori, diretor do Grupo All. Batizado como “Drive Park”, o drive-in do Music Park foi estrategicamente instalado em parte do estacionamento do complexo, que possui mais de 120 mil m², e demandou investimentos especiais para instalação de um telão com alta qualidade de projeção, palco para shows, equipamentos de led, rádio FM para transmissão do som das atrações e equipe técnica capacitada para fazer tudo funcionar muito bem. São 225 vagas para automóveis nas exibições de filmes e 260

em dias de apresentação ao vivo, sempre respeitando o espaçamento recomendado para evitar o contato entre as pessoas. A programação acontece de quinta a domingo, e começou com a exibição de filmes, mas a diversificação tomou conta da agenda para alcançar um público cada vez mais amplo, de gostos e idades variadas. Assim, já passaram pelo palco a Banda Eva, o cantor Vitão, musicais e até um stand-up com o humorista Diogo Portugal. Pelo telão, além dos filmes, até jogos de futebol já foram transmitidos. A proposta é variar... Segundo Caramori, são tomadas todas as medidas de segurança que permitem controlar o comportamento de 100% das pessoas que passarem pelo complexo, sejam elas trabalhadores, fornecedores, clientes ou artistas e suas equipes. “Seguimos todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde, e de acordo com as determinações das autoridades locais, as pessoas têm a temperatura do corpo checada na entrada do evento, precisam utilizar máscara durante o tempo em que permanecem no espaço e não podem sair do veículo – exceto em caso de necessidade de uso do banheiro, o que acontece de acordo com as normas estabelecidas. Mais de 20 medidas fazem parte do protocolo de segurança”, afirma o diretor do Grupo All, acrescentando que o contato com as pessoas que trabalham na estrutura é mínimo, e também elas utilizam máscaras, luvas e fazem a constante utilização do álcool gel. Para Doreni Caramori, os drive-ins são um antigo modelo de entretenimento, renovado pela situação e incrementado com inovações tecnológicas, como os aplicativos para compra de ingressos e lanches, que agilizam e mantém a segurança no processo. “E muito bem aceito pelo público”, acrescenta. Não se sabe ao certo como e quando as coisas retornarão à “normalidade”, mas a administração do grupo acredita que a experiência tem sido muito válida, e será necessário avaliar os próximos acontecimentos para decidir se será um modelo que vai permanecer vivo ou retornar para a história.


fotos FELIPE CARNEIRO

ENTRETERIMENTO

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Floripa Airport e Cinesystem entram na onda dos drive-ins Depois das experiências da Arena Petry, do Drive Park e até do Shopping Itaguaçu (que apresentou um cineminha especial no Dia dos Namorados), no final de julho, a Capital ganhou mais um espaço de cinema drive-in. Pioneira ao lançar cinemas ao ar livre do Brasil no período de distanciamento social, a Cinesystem associou-se ao Floripa Airport e lançou o projeto “Cine Drive-In”, que vai oferecer três sessões diárias em um espaço para 110 carros. É uma parceria valiosa, que atende as expectativas dos dois parceiros. Se por um lado a Cinesytem trabalha com a retomada das atividades das distribuidoras, que estão ajustando os calendários de filmes que devem chegar ao público no segundo semestre, por outro, o projeto fortalece a proposta da administração do aeroporto, que sempre pensou em adotar no Aeroporto Internacional de Florianópolis um conceito que não o limitasse a ser apenas um lugar de passagem, mas também um lugar para se estar, uma opção de passeio para toda a família da região da Grande Florianópolis. “Nosso estacionamento tem 2,5 mil vagas e toda a infraestrutura para receber os visitantes com segurança e conforto”, observa Ricardo Gesse, diretor-geral do Floripa Airport. Na área contígua ao estacionamento foi instalada a tela com 135 m² e demarcadas as vagas para que os veículos mantenham a distância mínima de 2 metros, sem perder o ângulo de visão da tela. A programação dá prioridade aos longas recém lançados, que estavam em cartaz no período de fechamento das salas de cinema tradicionais, e aos clássicos modernos, mas há também expectativa de estreias. “Estamos atentos a este movimento e caso aconteçam lançamentos no mercado, eles entrarão na

grade do Cine Drive-In para que os espectadores possam conferir tudo em primeira mão”, explica Sherlon Adley, diretor comercial e de marketing da Cinesytem, que já trabalha com exibições de filmes há mais de 17 anos. “A ideia é atender as expectativas dos cinéfilos da cidade”, complementa. O “Cine Drive-In” coloca para o público as mesmas exigências das demais iniciativas, como uso de máscara, limitação no número de pessoas e permanência no interior do veículo durante a exibição do filme. Cinema combina com pipocas e guloseimas, certo? As versões doces e salgadas, além de chocolates e refrigerantes podem ser pedidas pelo Whatsapp e entregues em embalagens especiais, acompanhados de um sachê de álcool gel. Para redobrar a segurança, a equipe de atendimento recebeu um treinamento especial e utiliza máscaras, luvas e protetor facial.




PERSONAGEM

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A arte de Elias Andrade, de Florianรณpolis para o mundo


PERSONAGEM

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texto LU ZUÊ fotos MARCO CEZAR

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partir da década de 1970, Florianópolis foi gradativamente se tornando uma metrópole, deixando para trás um estilo de vida mais comunitário, quando era possível conhecer as pessoas pelo nome, caminhar descalço pelas estradas sem movimento, pescar e colher no “quintal” de casa o que se precisasse, e até tomar banho de mar pelado, protegido pelos costões e pela privacidade das prainhas onde ninguém chegava. Elias Andrade, popularmente conhecido como Índio (apelido de infância), acompanhou de perto todas essas transformações, mas, manezinho em sua essência, faz questão de preservar este lado tradicional em suas pinturas. “As festividades e o folclore da Ilha são o carro chefe da minha produção. Trabalhos sobre a brincadeira do boi de mamão, a Festa do Divino Espírito Santo, a procissão da Nossa Senhora de Navegantes ganham destaque, mas também produzo materiais com temas contemporâneos”, explica o artista em seu ateliê, instalado no mesmo no terreno onde nasceu, criou os filhos e vive até hoje, na companhia da mulher, Susane Krischnegg que cuida da parte prática da vida enquanto Índio se dedica à arte, lá no bairro Sambaqui.

Desde criança, a inclinação para arte era evidente. Já a partir dos nove anos de idade, as professoras pediam que o garoto inquieto desenhasse capas para os trabalhos escolares. O interesse tanto pela pintura quanto pelo hábito de ler jornais foi motivado pelo pai professor: “Meu pai recebia muitas revistas e jornais de todo o país. Acho que li alguma coisa que me fez despertar e insistir nas artes. Além disso, não parei de ler jornais. Sempre acompanho o noticiário impresso e, quando, estou trabalhando, deixo a televisão ligada nos telejornais”, conta, com uma pitada de tristeza pelo pouco espaço que os jornais impressos têm hoje. Ainda na infância, a mãe de Elias trabalhava como rendeira e também fazia roscas de polvilho que o garoto saía para vender nas ruas do bairro, com aquele jeito feliz que as crianças colocam em tudo que fazem – quando gostam. E lá ia ele, que com a mesma facilidade com que retratava suas ideias no papel, viajava nas ideias enquanto acompanhava as aulas de história e geografia. E tudo sempre pareceu ter ligação: aquela simples experiência de vendas lhe seria de grande ajuda, quando mais tarde teve de comercializar os próprios trabalhos artísticos.


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A arte, por gosto e como ofício O ano de 1978 marcou o início de sua fase artística profissional, e passeou por diversas áreas. Com o incentivo de colegas numa empresa de cerâmica, utilizou da facilidade com que conseguia bons materiais (“a tinta era francesa, o papel espanhol, o pincel de pelo de Malta”, conta) e se dedicou às artes plásticas, nos mais variados suportes. Ao sair daquele emprego, ganhou de presente um tear manual e investiu na produção de cachecóis – com dois outros profissionais, chegava a finalizar trinta unidades por dia. Assim, trabalhou por doze anos produzindo os cachecóis, abastecendo as “boutiques” da moda em Florianópolis. Somente a partir da segunda metade da década de 1980 pôde se dedicar exclusivamente às telas, esculturas e afins com um traço espontâneo, marcado pelas pinceladas livres e as cores vibrantes. “Quando saí para vender meus quadros, nunca bati à porta de desconhecidos. Sempre tive muita sorte com a indicação de amigos e conhecidos. Por meio destes contatos, continuo a vender para fora do país, principalmente para a Europa e os Estados Unidos”, explica o artista, com uma simplicidade encantadora e envolvente. Pouco antes do início da pandemia da Covid-19, enviou uma obra com a temática do Carnaval para

Miami, na Flórida (EUA). As encomendas para o exterior chegaram a ocupar quase 50% de tudo o que produzia, mas a burocracia neste tipo de exportação o fez diminuir o ritmo. Uma obra sua também está em exposição na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em Paris. Ao longo da carreira, passou por diversas fases e experimentou diferentes materiais: da aquarela e guache, do bico-de-pena à pintura a óleo, suas obras já ganharam destaque em revistas nacionais, como a Veja e, mesmo, internacionais, como a Vogue francesa. Seus trabalhos já excursionaram pelas capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo, além de países do Oriente Médio. Parece longe para um nativo da Ilha? Nada, se o foco for o talento espontâneo de Índio e a evolução ao mesmo tempo sutil e marcante que suas obras apresentaram ao longo dos anos. “Quando estou pintando, a obra é minha, mas quando fica pronta, passa a ser das pessoas, e é natural que vá embora”, conta, com a simplicidade de sempre. Uma característica muito peculiar em suas exposições é a predileção por locais abertos, inspirado pelo cotidiano tranquilo que leva no Sambaqui. Mas também isso já rendeu fatos marcantes: em 1985, durante um destes eventos ao ar livre, um sujeito intitulandose “O Salvador” destruiu 17 dos 23 quadros presente na exposição. Posteriormente, como protesto, o artista exibiu novamente os quadros danificados na exposição Rever 86, promovida pela Associação Catarinense dos Artistas Plásticos (ACAP).


PERSONAGEM

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O ritmo de trabalho segue intenso e lhe ocupa as manhãs. “Minha pintura é, em geral, bastante rápida: finalizo um quadro por dia. Trabalho de manhã, e agora estou pintando em casa porque, com essa pandemia, eu também passei a cozinhar minhas refeições. Assim, deixo a televisão ligada no noticiário, e faço o que é preciso”, revela. Nos períodos de folga, curte a pescaria com tarrafas, e faz questão de deixar para os outros praticamente tudo o que retira do mar.

Sobre as mudanças no país e na cidade, nestes mais de quarenta anos dedicados às artes, lembra com nostalgia: “Está tudo muito diferente. Para se ter uma ideia, das 80 famílias que moravam aqui quando nasci, só eu permaneci. Além disso, viver de arte no Brasil não é uma tarefa fácil. Mesmo enfrentando algumas dificuldades, consegui criar um público fiel ao meu trabalho. Hoje, tenho dois filhos formados na faculdade e sinto orgulho por ter tido a oportunidade de dar a eles uma educação de qualidade graças ao meu trabalho”. Os filhos chegaram a se interessar pela arte quando crianças, inclusive com alguns trabalhos vendidos. No entanto, ambos se formaram em engenharia florestal. Atualmente, Andrade continua abrindo seu ateliê para os visitantes e recebe muitos pais que acreditam no talento artístico de seus filhos esperando alguma orientação. “Sempre procuro alertar que trabalhar com arte exige bastante dedicação e persistência. Ainda assim, atendo muitas crianças. É um jeito de conservar um pouco das tradições que aprendi e deixar um legado às próximas gerações”, conclui o Índio de todas as tribos.

SAIBA MAIS

Tranquilo sim, mas sempre disposto para a pintura

ELIAS ANDRADE (ÍNDIO) W (48) 3335-0035 / (48) 99986-4988 E indioeliasandrade@hotmail.com I @indioeliasandrade D http://elias-andrade.blogspot.com/


COLETIVO SOLIDÁRIO

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Fotógrafos catarinenses lançam galeria solidária

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stá no ar a galeria virtual Viva Fotografia – Coletivo Catarinense Solidário. Formada por um grupo diverso que tem a arte da fotografia em comum. Que vivem da imagem projetada, idealizada, artística, paisagística, realista, jornalística... Ela é uma iniciativa de fotógrafos reconhecidos e premiados, e também de novos talentos com trabalhos extraordinários. Lado a lado formando a galeria virtual vivafotografia.ishoot.com.br. As fotos expostas na galeria são vendidas com o objetivo de obter recursos para apoiar profissionais que se encontram em dificuldades com a situação provocada pela crise sanitária da Covid-19. Muitos

não estão conseguindo realizar trabalhos devido à paralisação de várias atividades econômicas, perderam emprego, freelas, ou sequer conseguiram acesso ao auxílio emergencial. A exemplo de outros projetos pelo Brasil afora, reuniram-se nessa rede. “Acreditamos que a arte é uma grande aliada da vida. A arte nos faz refletir, eleva nossos pensamentos, nos acalenta e deixa nossa vibração mais elevada. Nesses tempos de isolamento estamos todos abraçando um livro, assistindo a filmes e séries, ouvindo muita música, até teatro virtual já temos. Queremos ganhar lugar na sua vida através da fotografia”, diz o coletivo.


“Há uma coisa que a fotografia deve conter, a humanidade do momento.” Robert Frank

As obras estão disponíveis nos tamanhos 20x30cm, no valor de R$ 250,00; 30x45cm, no valor de R$ 300,00; e 40x60cm, no valor de R$ 350,00 (sem moldura). Cada fotografia tem a tiragem máxima de dez ampliações, numeradas e assinadas pelos fotógrafos, e são acompanhadas de um certificado de autenticidade, também assinado pelo autor. As ampliações são feitas pela Multicor – que apoia o projeto – no papel Hahnemühle Photo Luster 260 m/g2 (fine art). A entrega está incluída no preço somente para o Brasil. “Esperamos que essa corrente transmita muita arte, provocando ações e esforços para fortalecer os nossos laços e nos manter fortes e juntos!”

SAIBA MAIS

São 90 participantes de várias cidades de Santa Catarina, com 268 imagens à venda no site. O projeto também está nas redes sociais, Facebook e Instagram, onde você pode acompanhar as novidades sobre as obras e ações. A galeria é eclética, com uma variedade de estilos para a escolha de uma obra sintonizada com sua personalidade e modo de vida, podendo decorar paredes da casa, escritório, ou ainda se tornar um lindo presente.

Compras exclusivamente pelo site: D http://vivafotografia.ishoot.com.br/ F vivafotografiacoletivo I viva_fotografia_coletivo

COLETIVO SOLIDÁRIO

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FLORIANÓPOLIS DO “JÁ TEVE” Conheça a história de uma fábrica de brinquedos que existiu aqui na Ilha

texto MARCOS HEISE fotos MARCOS HEISE, ACERVO FAMILIAR E MUSEU DO SÍLVIO

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ecorrente é ler depoimentos, consistentes em exemplos bem claros, de que Florianópolis é a terra do “já teve”. Dentro desse balaio cabe de tudo, desde grupos empresariais portentosos, costumes, programas, lugares-referência, modismos e gente, sobretudo gente, que foi e deixou saudade, mais ainda quando foi antes da hora. Cabe inclusive curiosidades e coisas inusitadas. Por exemplo, pouca gente sabe e lembra que Florianópolis já teve uma fábrica de brinquedos. E que onde ela funcionou hoje ergue-se um dos principais empreendimentos hoteleiros da Capital.

ROBERTO CÚNEO, DENTISTA APOSENTADO, GENRO DE OSWY, PINTOU A SEDE DA IBOS


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O PIANINHO DE BRINQUEDO IBOS FAZ PARTE DO ACERVO DO MUSEU DE UTILIDADES MECÂNICAS MANUAIS ANTIGAS (MUMMA), MUSEU DO SÍLVIO. FONTE: HTTPS://MUSEUDOSILVIO.WORDPRESS.COM/CATEGORY/BRINQUEDOSTOYS/

Indústria de Brinquedos Oswy de Souza (IBOS), era o nome da fábrica que deu muitas alegrias a crianças nas décadas de 50/60. Brinquedos para meninas e meninos eram entregues em lojas desde Itajaí até Tubarão, onde a estrada permitia ir com alguma condição, passando por Tijucas, Florianópolis e Laguna. A fábrica começou pelas mãos de José Renato de Souza, que tinha apelido de Cazuza. Casado com Benta, teve apenas um filho, nascido em 1911, batizado de Oswy Nemésio de Souza. A atividade do Vô Cazuza era uma loja de tecidos na rua Conselheiro Mafra enquanto a moradia ficava na rua Esteves Júnior. O filho único Oswy foi crescendo e desenvolveu grande habilidade em tarefas manuais, tendo se formado artesão pela Escola Politécnica que funcionou instalada no imóvel onde hoje está a sede do Badesc. Sua atividade na fabricação de brinquedos começou de forma bem artesanal e rudimentar, seguindo moldes publicados pela revista Mecânica Popular. Isso começou no porão de uma casa, na rua Esteves Júnior, recorda Celia de Souza da Rocha, a terceira filha da união entre Oswy e Haymée, cujos irmãos são Adalgiza, Stela (falecida) e José Renato Neto. Pai e filho se deram bem com a fábrica, instalada num galpão que o Vô Cazuza comprou na rua Bocaiúva, 121, depois que a família se mudou para uma casa ao lado da fábrica, deixando de morar na Esteves Júnior. O filho tinha o tino da criação, da habilidade em bolar os brinquedos e o avô tinha a visão empresarial do negócio, recorda José Renato, o caçula. No seu auge, a IBOS empregava cerca de 30 pessoas, tudo mão de obra trazida de Camboriú. Era fácil atrair os operários, todos queriam morar em Florianópolis, a Capital, acrescenta José Renato. Os brinquedos eram basicamente carrinhos e caminhõezinhos para os meninos e móveis em miniaturas para que as meninas brincassem com as bonecas. A variedade feminina era maior: jogos de quarto, de quintal e de quartinho de bebê. Tudo era feito de madeira, ferragens e daí vinha o arremate com pinturas, tudo bem colorido. Havia também cadeiras de balanço e o tradicional cavalinho, também de madeira, para instalar no quintal. Destaca-se no mostruário uma réplica de um carro Ford 1934, carro que Oswy teve. A maior parte da produção mirava o Natal, data comemorativa mais aguardada do ano pelas crianças. A atividade de produção era intensa para entregar as encomendas, que iam de caminhão para as outras cidades, ou então os lojistas as retiravam na fábrica. O caminhão era um Ford Inglês comprado em leilão e que Oswy consertou sozinho em casa. Ele comprou e teve vários carros desta maneira: comprava-os inservíveis e consertava, colocando em uso, um modelo Perfect (inglês), um Ford V8, de 1948, igual ao que era pilotado pela dupla Bonnie & Clyde e também um modelo

Armstrong Sid tração dianteira. Em Florianópolis, as lojas Sul América, Miscelânea e Livraria Record eram as principais revendas dos brinquedos IBOS. Tudo ia muito bem, até o primeiro grande baque na família e na fábrica, por consequência, que tem data precisa: 20 de dezembro de 1955, quase chegando o Natal, a IBOS a mil e ocorre o falecimento do Vô Cazuza. O segundo grande baque foi a chegada dos brinquedos de plástico. Era uma grande novidade, mais leves, mais coloridos e mais baratos, o que mudou completamente o foco da clientela. Ninguém mais queria saber de brinquedos de madeira e ferro. Oswy passou a trabalhar mais com ferragens, grades e portões, a renda da empresa caiu e metade do imóvel da Bocaiúva já havia sido negociado. Ele viveu até 1982, quando teve um infarto e faleceu.

UMA REPRODUÇÃO DE ANÚNCIO DE UM MODELO DA FORD QUE A IBOS PRODUZIU EM RÉPLICA


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ADALGISA, JOSÉ RENATO E CELIA, IRMÃOS DESCENDENTES DA FAMÍLIA SOUZA

Saborosas historinhas dessas trajetórias de vidas FÁBRICA RENDE CASAMENTO Um dos artesãos que trabalhava na IBOS chamava-se Manoel Pereira, o Maneca. Bido, seu irmão, também trabalhava lá. Maneca acabou casando com Hercília, a Ciloca, que trabalhava na casa fazendo arranjos chamados arminhos. Vô Cazuza foi padrinho deste casamento. Os dois são os pais de Moacir Pereira, o consagrado jornalista.

balanço. Tinha de 4 a 5 anos. Futuramente se formou cirurgião dentista e casou com Adalgiza de Souza, que vinha a ser filha do seu Oswy e neta do Vô Cazuza, os fabricantes daquele brinquedo.

VIAGENS CALORENTAS Para a filha Célia, na infância, os meses de janeiro eram um tormento. A fábrica tinha férias coletivas e sempre na primeira semana de janeiro ela tinha que acompanhar o pai nas viagens até Blumenau, onde ele fazia a reposição de estoque de artigos para fabricar os brinquedos na casa Willy Sievert. O calor era infernal e disso ela não esquece até hoje.

13 VOTOS Nos idos de 1951/53, Oswy foi lançado candidato a vereador, totalmente contra a vontade, pelo partido Democrata Cristão. Seus dirigentes achavam que o prestígio do pai dele, Vô Cazuza, então um líder eclesiástico de muito conceito na cidade, reverteria em votos. Oswy nem fez campanha e proibiu a mãe de votar nele. Somou 13 votos.

O TALENTO DE DONA BENTA A matriarca da família, dona Benta era quem fazia com muita habilidade os arranjos com penas de pato, adereços de fantasias de Carnaval, os chamados enfeites de arminhos. Os produtos eram enviados para São Paulo e comercializados nas Lojas Brasileiras.

O DOMINGO DE FAMÍLIA NOS ANOS 50 E como era um domingo de família naquela época? Depois do café tinha a missa das 9 horas na catedral Metropolitana, a família inteira ia, enquanto as empregadas ficavam em casa para preparar o almoço, que invariavelmente tinha galinha ensopada, macarrão e maionese. Logo depois tinha a primeira sessão de cinema no cine São José. À noite, após o jantar, os adultos escutavam rádio na sala.

PRESENTE PROFÉTICO Na sua infância, Roberto Cuneo ganhou de presente de Natal um cavalinho de madeira em forma de

ANÚNCIO NO JORNAL O ESTADO, EM 23/12/1950

Obs.: As fontes dessa matéria foram os filhos de Oswy, que moram em Florianópolis, Adalgiza, Celia, e José Renato. Stela é falecida.



foto CARLOS BORTOLOTTI

TURISMO

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Seja pelos gigantes e luxuosos empreendimentos, pela atração que exercem sobre os turistas ou pelas belezas naturais, guardadas as devidas proporções, Dubai e Balneário Camboriú são parecidas, sim!

A DUBAI (BEM) BRASILEIRA C

hegando a Balneário Camboriú, seja por terra, por ar ou por mar, qualquer pessoa fica encantada pela beleza do lugar, que tem ao seu redor uma extensa e viva área verde da Mata Atlântica, perfeito contraste para as águas cristalinas de um mar verde e inigualável. E se durante anos as belezas naturais foram o principal atrativo da cidade – jovem ainda, afinal foi emancipada há apenas 56 anos –, atualmente os altos e extremamente luxuosos edifícios erguidos em sua orla estão entre os itens que a destacam nacional e internacionalmente. Tanto assim, que conferiram a Balneário Camboriú o título de “Dubai Brasileira”. Maior cidade dos Emirados Árabes Unidos, Dubai é a “casa” do maior prédio do mundo, o Burj Khalifa, que tem 160 andares e 868 metros de altura, e foi inaugurado em 2010. É impressionante sob todos os aspectos, e o custo de sua construção ultrapassou 1 bilhão de dólares, chamando ainda mais atenção para as obras grandiosas construídas no mais rico e luxuoso país do mundo. E Balneário Camboriú está nesse patamar? Ainda não... entre os mais altos edifícios da cidade, nenhum ultrapassa os 300 metros, mas com certeza, todos se destacam na paisagem. E

não são poucos. A exemplo do que acontece em Dubai, o ritmo da construção civil é intenso também em Balneário Camboriú, ampliando o número de empreendimentos em construção e na linha de projetos, e também os andares propostos. Tanto assim, que entre os dez mais altos edifícios do Brasil, oito estão na cidade catarinense, que é também conhecida como um dos mais luxuosos e bem frequentados destinos turísticos do País. foto LÚCIO RILA / [I]SHOOT

texto LU ZUÊ fotos CARLOS BORTOLOTTI E LÚCIO RILA


foto CARLOS BORTOLOTTI

TURISMO

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Os gigantes de Balneário Camboriú

Aqui e lá, os atrativos não estão apenas nas alturas

Entregue em 2014, o Millenium Palace foi, até 2017, o prédio mais alto do Brasil, com 46 andares distribuídos em 177,3 metros de altura. Mas isso é passado, e o Millenium foi – e será – ultrapassado por empreendimentos prontos, em construção e com projetos em elaboração. As torres gêmeas do Yachthouse Residence Club (da Construtora Pasqualotto & GT), que têm entrega programada para este ano, contam com 81 andares e ficam pertinho dos 300 metros. Nelas estarão instalados dez dos 22 elevadores mais rápidos do País. E as meninas chamaram atenção de compradores de peso, entre eles o jogador Neymar e o cantor Luan Santana, que desembolsaram alguns milhões de reais pelo endereço de luxo, que fica na Barra Sul de Balneário Camboriú, entre o rio e o mar. O One Tower, que deve ser entregue em 2022, será o maior edifício da cidade de frente para o mar. Com 77 andares e 280 metros, deixa no ar a questão de que irá ultrapassar as torres do Yachthouse, porque terá uma cúpula de acabamento no topo. Localizado na Avenida Atlântica, o empreendimento (da FG Construtora) terá um curioso diferencial: diferente do que tradicionalmente acontece, a área de lazer vai ficar nos pavimentos 57 e 58. Junte a essa lista o Infinity Coast (70 andares e 234 metros), Boreal Tower (62 andares e 230 metros), Torre Vitra (64 andares e 208 metros), Phoenix Tower (48 andares e 215 metros), Epic Tower (55 andares e 190 metros), e o Copenhaue (51 andares e 190 metros) e aí estão oito dos dez mais altos edifícios em território brasileiro. Há quem reclame da sombra que alguns deles provocam nas areias da praia, mas essa é uma outra história! Daqui de baixo, a gente só pode elevar os olhos e admirar.

Mas não só de arranha-céus vive a Dubai de lá, e esta é outra semelhança com a Dubai daqui. Afinal de contas, dá para contar nos dedos as pessoas que viajam para um lugar e decidem ficar trancadas dentro de um apartamento. A famosa cidade dos Emirados Árabes Unidos também chama atenção pelas praias (o emirado é voltado para o golfo pérsico, com aquele marzão azul que enche os olhos e uma convidativa a contrastante areia branca. Em Camboriú, os altos prédios se alinham nas proximidades da Avenida Atlântica, que margeia a Praia Central, um trecho com quase sete quilômetros de extensão, frequentada (em tempos normais) por moradores e turistas, e palco da famosa queima de fogos nas viradas de ano. Dubai atrai turistas? Balneário Camboriú recebe visitantes de todo o Brasil e do exterior (os argentinos amam a cidade catarinense!), e há uma grande estrutura para (bem) receber esses turistas. São milhares de leitos em hotéis, restaurantes, comércio variado com lojas para gostos e bolsos bem diferenciados. E há ainda (vamos voltar lá ao início) o impulso atrativo das belezas ímpares e naturais, que colocam pertinho dos visitantes parques e praias lindas. Só para começar dá para citar seis na ponta Sul – Laranjeiras, Taquaras, Estaleiro, Estaleirinho e Pinho são encantadoras, e esta última, aliás, é conhecida como a primeira praia de naturismo do país – e outras duas na Barra Norte: as Praias do Canto e do Buraco. É lá, também, que fica o Morro do Careca, de onde se tem uma linda e incrível vista da cidade e um excelente ponto para os praticantes de voo livre.


PELO MUNDO

foto VENELIN DIMITROV

Tour pelos aromรกticos campos de lavanda

foto WOLFGANG BERNARD

foto SAMIR BELHAMRA

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foto @ONMETLESVOILES

PELO MUNDO

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foto DANIELE MAIA

o mês de julho, logo após o desconfinamento aqui na França, tive a oportunidade de fazer uma experiência inesquecível em uma das regiões mais bonitas da França nesta época do ano, a Provence. Com seu cartão-postal dos campos de lavandas, Provence oferece uma imersão no despertar dos “seis sentidos”, promovendo uma experiência exclusiva. O despertar dos “seis sentidos” já virou a assinatura do meu DMHLuxury VIP durante minhas consultorias, e trago aqui mais essa enriquecedora experiência em terras francesas. Os campos de lavanda na Provence oferecem paisagens naturais de tirar o fôlego, com aromas inconfundíveis, cores vivas e um clima maravilhoso. Sem falar na culinária da região, hotelaria de alto nível, cidades e vilarejos charmosos espalhados pelas lindas rotas.

foto SAMIR BELHAMRA

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Existem muitas curiosidades sobre as lavandas, principalmente sobre qual a melhor época de visitar a região da Provence para encontrá-las floridas. As flores da lavanda não florescem na primavera, mas sim no começo do verão europeu, mais especificamente nos últimos dias de junho até, no máximo, meados de julho. A colheita começa por volta da metade do mês de julho, então a melhor época para aproveitar este cartão-postal exclusivo são os últimos dias de junho até a primeira semana de julho, pois a colheita é feita geralmente nos meados do mês de julho. O clima também impacta a data da colheita: se tiver muito sol durante o mês a colheita pode ser adiantada e se tiver chuvas frequentes (geralmente isso não ocorre nessa época) a colheita é prorrogada. A lavanda, além de linda para se admirar, tem múltiplo uso e benefícios – é utilizada em perfumes e produtos domésticos. Na área de bem-estar, como aromaterapia, ela funciona maravilhosamente devido a suas várias propriedades. Acalma, suaviza dores de cabeça, feridas, queimaduras solares, picadas de insetos, dores de garganta etc. E também é muito utilizada no tratamento de insônia. foto DANIELE MAIA

texto DANIELE MAIA fotos DANIELE MAIA, SAMIR BELHAMRA, VENELIN DIMITROV E WOLFGANG BERNARD


fotos DANIELE MAIA

PELO MUNDO

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Um dos pontos mais altos dessa viagem foi uma visita exclusiva a um produtor com um campo de lavanda na sua propriedade totalmente biológica, onde ele produz óleos essenciais. Além de lindas fotos para registrar esse momento mágico, fiz uma imersão profunda no universo das lavandas, sua cultura e propriedades com o próprio produtor. A hotelaria e gastronomia também foram escolhidas a dedo, o Hotel Saint Ange fica numa luxuosa propriedade que data de 1789, onde era um convento e uma capela. O hotel foi totalmente

reformado por grandes artesãos franceses que deixaram intacto seu charme, história e alma. Suítes confortáveis com altíssimo requinte proporcionam uma vista deslumbrante para os jardins do hotel, um verdadeiro oásis a 10 minutos a pé do centro da charmosa cidade de Aix-en-Provence. A gastronomia do hotel é assinada pela renomada chef da região, Nadège Serret, com pratos românticos e produtos bio da região. O restaurante traz a elegância da table à la francesa com assinatura Christofle.


fotos DANIELE MAIA

PELO MUNDO

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O oásis desse luxuoso hotel se estende na piscina de 28 metros de comprimento, aquecida durante o ano todo, onde dias ensolarados existem quase o ano todo nesta região da Provence. Depois desses dias inesquecíveis nessa região, não poderia deixar de anunciar um novo projeto para 2021: uma imersão completa no universo das lavandas, despertando os seis sentidos,

com a minha assinatura DMHLuxury VIP! Como o nome diz – VIP –, o grupo será pequeno e exclusivo (máximo seis pessoas), e as informações serão fornecidas via e-mail: dmaia@dmhluxury.com. A diversidade das regiões da França sempre me surpreendem, mas essa experiência com as lavandas na Provence foi realmente, sem dúvida, um sentimento único e inesquecível! Que venha 2021!

DMHLUXURY – Daniele Maia 0 dmaia@dmhluxury.com | C @dmhluxury


fotos DIVULGAÇÃO

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Christian Louboutin e a alta feminilidade de suas criações

texto DANIELE MAIA fotos DANIELE MAIA E DIVULGAÇÃO

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ais do que apenas sapatos, os calcanhares vertiginosos de Christian Louboutin com sola vermelha não são apenas sinônimo de luxo e tapete vermelho, mas um verdadeiro desejo de mulheres que querem ser excêntricas e emancipadas. É sem dúvida este vermelho tão brilhante e sedutor que faz com que os sapatos de Christian Louboutin nunca passem despercebidos, e são também os desenhos arrojados do sapateiro francês – incluindo o icônico Pigalle em uma plataforma de 12 centímetros de altura –, que fizeram de sua marca um sucesso desde sua estreia, em Paris, nos anos 90.

Caso de amor: os escarpins Christian Louboutin se apaixonou pelos saltos altos enquanto observava as mulheres andando pelas ruas de Paris. A lenda diz que ele passou seu tempo desenhando sapatos em vez de estudar, o que o levou a ser expulso da escola três vezes. Embora não tenha sido treinado em sapataria ou costura, o designer ainda frequentou a Academia de Arte Roederer onde estudou desenho, assim como também Arts Decoratifs, de Paris.


Mas seu primeiro amor pelos saltos femininos nasceu muito antes de seus estudos: em 1976, aos 13 anos, Christian Louboutin foi ao Museu Nacional de Artes da África e Oceania (hoje Museu Palais de La Porte Dorée, onde Louboutin está expondo em Paris). Lá, durante uma visita a uma exposição, ele descobriu um desenho de um escarpin listrado – uma placa proibia o uso de saltos altos para proteger os pisos do museu. A partir daquele momento, o calcanhar feminino tornou-se não apenas uma obsessão para o designer em ascensão, mas também seu legado ao qual ele dedicaria toda sua vida. Um verdadeiro aventureiro, ele deixou a França com apenas 16 anos de idade para o Egito, depois continuou sua viagem para a Índia e, finalmente, retornou a Paris no início dos anos 80, com um portfólio cheio de esboços de saltos inusitados. fotos DIVULGAÇÃO

Mulheres, eu as amo! Influenciado pelas mulheres desde quando era criança, ele cresceu entre sua mãe e suas três irmãs. O estilista era antes de tudo apaixonado pelos pés dos bailarinos, muito antes de dedicar-se às atrizes de Hollywood e ao estabelecimento de moda parisiense. De acordo com Éric Reinhardt, autor do livro Christian Louboutin, a história conta que, quando adolescente, Louboutin frequentava o Folies Bergère (antigo teatro parisiense) e durante os intervalos ele admirava os dançarinos de music-hall. Com imagens de suas silhuetas esbeltas e pés curvos para sempre gravadas em sua memória, Christian Louboutin acabou desenhando e produzindo seu primeiro par de escarpins. Assim, suas primeiras criações tiveram o objetivo de dar mais feminilidade aos passos das bailarinas. Na época, ele recebeu até uma oferta de emprego como aprendiz de figurinista no Folies Bergères. Depois de abordar todas as principais casas de moda parisienses com seu portfólio, Christian Louboutin finalmente começou sua carreira na Charles Jourdan, depois como designer freelancer, trabalhando para Chanel, Yves Saint Laurent e Roger Vivier.

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O império das solas vermelhas Saltos vertiginosos, desenho teatral e feminilidade assumida, estes três elementos definem a própria alma de cada coleção que surgiu desde o início da marca, nos anos 90. Christian Louboutin vende agora mais de um milhão de pares de sapatos por ano. A pequena marca parisiense tornou-se uma empresa de renome internacional desde os anos 2000, e possui mais de 150 pontos de venda e boutiques em mais de 35 países. Em 2014, a Louboutin até expandiu sua oferta, lançando uma gama de produtos de beleza e eventualmente juntou forças com o grupo espanhol Puig para um acordo de licenciamento em 2018. Mas o sapateiro francês não quer subir um patamar confiando sua marca a um conglomerado industrial de luxo. Christian Louboutin diz estar determinado a continuar sendo a força motriz por trás de sua casa independente, tanto em termos de design quanto de produção. Fiel a si mesmo e à sua paixão inabalável por sapatos de sola vermelha, o designer diz que vai continuar independente. O famoso escarpin Pigalle se tornou inegavelmente um símbolo de feminilidade. Desde sua criação, em 2004, o modelo icônico da etiqueta com sola vermelha alimentou todas as fantasias de volta ao nascimento de um objeto de desejo absoluto. É na imaginação de Christian Louboutin, quando criança, que o escarpin encontra suas origens. Um dia, enquanto caminhava num bairro parisiense, ficou intrigado com um sapato nos pés de uma mulher estilo anos 50. Hipnotizado por seu andar singular, ele seguiu a mulher com olhos fascinados ao seu estilo, e somente depois percebeu que ela era uma prostituta. Um momento que ficaria gravado em sua memória. Anos mais tarde, o jovem menino que se tornou designer mergulhou de volta nessa memória de infância e projetou o escarpin Pigalle. Um modelo de extrema feminilidade em homenagem ao bairro parisiense do seu souvenir do passado. Um sinal distintivo das criações Louboutin, a sola vermelha, tornou-se a assinatura da marca francesa. Um golpe de gênio do designer que veio até ele enquanto observava sua assistente pintar suas unhas com um vermelho brilhante. Desde seu aparecimento na coleção outono-inverno 20042005, o escarpin Pigalle nunca deixou de seduzir as mulheres. Popular entre estrelas em todo o mundo, desde Dita Von Teese até Kate Moss, ele embeleza os pés daquelas que ousam subir até o topo desses saltos vertiginosos. E para manter vivo o desejo, Christian Louboutin gosta de revisitar este mítico modelo ao longo das estações do ano em cada coleção.


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MANUELA MORITZ, CHRISTIAN LOUBOUTIN E DANIELE MAIA

L’eXhibitioniste, sua primeira exposição Olivier Gabet, curador da exposição “Christian Louboutin, l’Exhibition [niste]” e diretor do Museu de Artes Decorativas de Paris, descreve as etapas e algumas curiosidades desta exposição excepcional do “soulier” que é o desejo das mulheres (soulier significa sapateiro em francês). Esta é a história de um jovem que cresceu no 12.o bairro da capital francesa. Apaixonado pelas artes aplicadas, ele vem ao Musée de la Porte Dorée para admirar as diversas imagens e exposições. As esculturas africanas e oceânicas, o aquário tropical, são tantas formas e cores que complementam sua imaginação. Um dia, ele vê uma placa proibindo o uso de saltos agulhas... este sapato é o começo de um fascínio. “Christian cresceu à sombra deste museu, desta joia da art déco, que ele tem apoiado nos últimos anos financiando grandes restaurações”, explica Olivier Gabet. “Com 30 anos de carreira, era o momento certo para uma retrospectiva de seu trabalho, especialmente porque ele não queria fazer isso em um museu de moda. É uma forma de prestar homenagem ao que tem sido uma fonte fundamental de inspiração em toda sua vida. Ele me pediu que o acompanhasse neste projeto. Foi um diálogo muito minucioso para que se tornasse uma realidade.”

Através de um itinerário que mistura diferentes temporalidades, lembrando períodos importantes na carreira do criador, o visitante compreende os temas que o fascinam. “Há momentos mais calmos nesta rota, com a apresentação de criações sobre um modelo mais clássico, e outras passagens mais teatrais, na imagem de sua obra. Ela gira em torno de grandes marcos do seu começo, suas fontes de inspiração, sua relação com o mundo do show business e da noite interpretada em um cenário teatral.” Durante a exposição ha um setor dedicado inteiramente a projeções sobre o fato de que a indústria de calçados exige o verdadeiro savor-faire (know-how). Assim, mergulhamos nos segredos da confecção de sapatos, uma verdadeira imersão no seu atelier. “Descobrimos o designer itinerante que sempre foi alimentado pelo que viu.” Parte da exposição é dedicada a seu museu imaginário, no qual ele quis colecionar objetos que marcaram sua carreira, em particular as criações de Roger Vivier, o pai dos grandes sapateiros contemporâneos, objetos da antiguidade, Egito... David Lynch também está presente através de sua colaboração na parte do fetichismo, o sapato e a relação com o corpo. “Não é uma exposição que desperta nostalgia, pelo contrário, está cheia de vida, por causa do seu próprio caráter.” Ele também convocou outros artistas que participaram do trabalho. Lisa Reihana, que veio da Nova Zelândia, e imaginou uma biografia sob a forma de um panorama. Todas estas colaborações deram uma cor particular a esta inusitada exposição de moda. “Levou dois anos para montar esta retrospectiva, o tempo necessário para resolver as coisas, para voltar atrás em certas escolhas, para esclarecer outras, porque o primeiro esboço nem sempre é o certo. Quando você tem a chance de mostrar um criador vivo, você pode fazer a ele todas as perguntas que quiser. Eu passei muito tempo com ele.” O contato é diretamente com aquele que desenha, se inspira e decide. Estamos falando aqui de sapatos, este acessório curioso que desperta toda cobiça, todas as paixões, uma única peça de criação. “O sapato é um enorme assunto antropológico, cultural e artístico.” Há duas coleções por ano, pedidos especiais e projetos excepcionais. Em algum momento, quando você percebe que basta dizer “um par de Louboutin” sem ter que mencionar que é um sapato, faz todo sentido para uma época. Um sapato Louboutin tem muito mais a oferecer do que simplesmente servir para caminhar! Essa exposição fascinante foi inaugurada em fevereiro, bem antes do confinamento da França. Dani Maia teve a honra de estar presente neste evento exclusivo e vivenciar momentos únicos ao lado do designer Christian Louboutin. A exposição foi reaberta em julho com uma prorrogação até dia 3 de janeiro de 2021.


ENCOMENDAS W +55 48 99936-2122 Rua Professsor Clementino de Brito, 104 – Capoeiras Florianópolis – Santa Catarina SEGUNDA A SEXTA • 9 ÀS 17 HORAS

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fotos MARCO CEZAR

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VAREJO DE ORGÂNICOS texto TARCÍSIO MATTOS fotos CAIO CEZAR, EDUARDO MARQUES, MARCO CEZAR, SÉRGIO VIGNES e TARCÍSIO MATTOS

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esolveu mudar de vida, comprou um sítio, tornou-se agricultor e plantou 400 mudas de Clemenules, “a melhor tangerina do mundo”, segundo os especialistas na área. Esperou quatro anos e com as frutas lindas e prontas para o consumo, ligou para o comprador do supermercado que ele considerou digno de receber os frutos de seu trabalho. Levou uma sacola como amostra e voltou com o pedido de “toda a safra”. “O processo de certificação está bem avançado. Ano que vem será orgânica”, disse ao sair. “Te pagarei melhor pelas frutas”, respondeu o negociante.

O crescimento do mercado de orgânicos aliado ao consumo responsável de alimentos

Na safra seguinte, com a Clemenules numa mão e o certificado na outra, entrou confiante na loja. O comprador chamou o dono da rede, os colegas de sessão, apresentou o agricultor e distribuiu frutas aos colegas, que responderam com rasgados elogios. Feliz e orgulhoso, envaidecido mesmo, perguntou: “Com quantas caixas começamos?” “Três! Vamos começar com 60 quilos por semana.” “Três? Ano passado eram 20, 30 caixas por semana...”, replicou o agricultor. O comprador o levou até a ampla janela de vidro que permitia visão do salão do supermercado e mostrou: “Esta parte grande aqui é a nossa área de hortifrúti. Aquelas prateleiras, lá no fundo, coladas à parede, é onde ficam os orgânicos. Não tem comprador!”


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foto CAIO CEZAR

foto MARCO CEZAR

Naquele ano, 2016, Florianópolis contava com uma loja especializada em produtos orgânicos de médio porte, umas dez ou doze de pequeno porte e “paredes” de orgânicos em algumas lojas de alguns supermercados. Passados cinco anos, quase nada mudou. Em dez anos, entre 2007 e 2017, o Brasil viu crescer a área cultivada com produtos orgânicos a média de 2% ao ano, índice superior apenas aos dos Estados Unidos e da Áustria, considerando os 20 países onde mais se planta sem venenos no mundo. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), apresentado em fevereiro deste ano, ocupamos a 12.a posição entre os top 20. São inexistentes os dados comparativos sobre o consumo de orgânicos no Brasil, o que impossibilita uma informação segura sobre quanto o mercado cresce no país a cada ano. A mesma pesquisa do IPEA diz que, em 2017, o volume total de vendas no varejo brasileiro foi de 780 milhões de euros. Parece bom, mas o valor é um pouco inferior ao que foi movimentado no Canadá no ano 2000. Já os dados internacionais disponíveis mostram que nestes dez anos as vendas em varejo, lá fora, crescem à média de 11,3% ao ano. Parte do crescimento das vendas no hemisfério Norte pode ser creditada à entrada de gigantes do varejo online, como a Amazon, por exemplo, no negócio de produtos orgânicos. E do lado de baixo do Equador, em São Paulo, já existem iniciativas de comercialização de orgânicos levadas a afeito por profissionais de tecnologia da informação, que se apropriam do discurso social que acompanha a produção de alimentação saudável, mas aplicam em suas lojas online a mesma lógica de quem vende parafusos pela internet, onde volume e preço é o que importa. Em Florianópolis, ainda bem, a ponta da corrente que une o produtor ao consumidor ainda não é vista como um simples nicho de mercado. É justamente o contrário. Praticamente todos os que colocam os produtos nas mãos de quem os vai consumir, conhece pessoalmente quem os produz, trabalham para fortalecer seus fornecedores, estão compromissados com o consumo responsável de alimentos, entendem e defendem as boas práticas em relação ao meio-ambiente, ao bom manejo do solo e respeitam as sazonalidades. Alguns ainda colocam a mão na terra mesmo se tornando comerciantes, como é o caso de Maria Aparecida Pinho, dona do Quintal da Ilha, loja aberta em 1999 como a primeira casa a vender exclusivamente produtos orgânicos em Florianópolis. O sonho era criar um entreposto para receber a produção orgânica que iniciava nas redondezas, mas a iniciativa não deu certo e a Maria Aparecida pode ser encontrada, todo dia, à frente de seu comércio às margens da rodovia Admar Gonzaga, no Itacorubi.

Caso o sonho maior da Cida tivesse se concretizado, hoje, possivelmente, ela receberia produtos cultivados pelo Héliton de Andrade, jovem de 23 anos, de Alfredo Wagner, que deixa cestas de alimentos para serem recolhidas pelos seus clientes na Célula de Consumo Responsável (CCR) tocada pelo Fabiano Gregório, em Rio Tavares. E o Fabiano Gregório é um cara legal. Aos 39 anos, trabalha muito para fortalecer os laços que unem quem pratica a agroecologia com quem quer consumir os frutos da terra produzidos dentro da ética agroecológica. Participou da criação de um box no Ceasa que comercializava produtos dos agricultores orgânicos da Rede Ecovida, lidera o movimento slow food em Santa Catarina e fez de sua cozinha, a Bijagica, em Rio Tavares, o entreposto sonhado pela Cida. Com os pés muito mais firmes no chão do que com sonhos foi que Carolina Araújo Teixeira, a Carol, consolidou a maior loja de orgânicos da Capital, o Mercado São Jorge. Nascida praticamente dentro da cozinha do restaurante da família, logo procurou saber de onde vinha e como era produzida a matéria prima que era usada na preparação das refeições servidas aos clientes. E para garantir a qualidade que queria, precisou fazer muito mais do que ir à feira. Isso faz tempo, foi bem antes da administradora de empresas Luana Kriguer Pauli e do engenheiro agrônomo Thiago Rios Pauli montarem a Barraca Santa Bárbara em feiras da Capital e de São José, onde comercializam apenas produtos orgânicos. Para saber bem mais do o necessário para o seu negócio, o casal passou três anos participando das reuniões mensais do Grupo Harmonia da Terra, que reúne agricultores certificados pela Rede Ecovida de Agroecologia. Não restam dúvidas que o varejo de orgânicos está em ascensão. Não tanto se medido pela régua que mostra o tamanho e a quantidade de lojas, mas muito mais pelos diversos movimentos que visam criar pontes diretas entre quem produz e quem opta por consumir alimentos livres de venenos. Ah, o cara da historinha que abre a matéria sou eu, Tarcísio Mattos, o que assina esta reportagem e também o que trata da produção de orgânicos ao redor de Florianópolis, que está na edição 81 da Revista Mural. Aprendi, a partir daquele dia, com o comprador do supermercado, que o mercado de orgânicos segue uma lógica diferente, mais humana, mais justa, honesta e saudável do que qualquer outra em que já estive envolvido. E que, tão importante como escoar a produção das frutas que cultivo, é trabalhar para fazer com que o consumidor se sinta um dos elos da cadeia produtiva de comida sem venenos. E é isso que todos os exemplos mostrados aqui nesta reportagem fazem. Naturalmente.


fotos TARCÍSIO MATTOS

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Héliton A pandemia não tirou o Héliton apenas da sala de aula improvisada no segundo piso do prédio da Secretaria Municipal de Educação de Alfredo Wagner, onde cursa a última fase de licenciatura em Educação no Campo, extensão que a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) levou para o município no começo de 2017. Os riscos de contágios pelo novo coronavírus acabaram também com a feira semanal na praça da cidade, para onde ele levava os queijos e molhos orgânicos preparados pela mãe, a Janinha, e as foliáceas, os tubérculos, as frutas e os grãos que ele colhe com a ajuda dos irmãos e da companheira, a Clarisse, no sítio da família. A doença também fez suspender o contrato com o Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PNAE), por onde escoava boa parte da produção para as merendas escolares da região, e ainda ficou sem as entregas regulares para as cozinhas de

restaurantes da Grande Florianópolis que optam por alimentos livres de agroquímicos. Com a responsabilidade de quem assumiu os destinos da família após o baque provocado pelo AVC sofrido pelo pai, o Fabiano, uma liderança entre os produtores orgânicos daqui e de acolá, o jovem de 23 anos encontrou na “Célula de Consumo Responsável”, programa de extensão do Laboratório de Comercialização da Agricultura Familiar (LACAF), ligado ao Departamento de Nutrição da UFSC, o meio para fazer com que as cestas com seus produtos cheguem às mãos de quase meia centena de clientes, que as retiram no começo das manhãs de quarta-feira na cozinha Bijagica, no Rio Tavares. Agora ele torce para que tudo isso passe rápido para voltar a fazer o que mais gosta, que é receber escolares e visitantes no sítio para ensinar e difundir as qualidades da agricultura limpa, como prática de seus estudos de Educação no Campo. Para saber se o Héliton pode entregar mais cestas: (48) 99997-8377.


fotos SÉRGIO VIGNES

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Fabiano Gregório Foi em Coimbra, Portugal, preparando as refeições para os colegas da república de estudantes onde morava enquanto fazia pós-graduação em Direito Ambiental, que o advogado Fabiano Gregório colocou os dois pés na culinária. De volta ao Brasil, em 2005, veio para Balneário Camboriú se preparar para os concursos que empregavam na área do direito que ele queria atuar. Mas acontece que no térreo do edifício onde morava havia um restaurante e ele trocou os calhamaços de leis, códigos e jurisprudências pelo avental de assistente de cozinha. Entre defender uma pequena causa e preparar um prato, cursou a Faculdade de Gastronomia da Univale e foi para a Amazônia conhecer a única cozinha verdadeiramente brasileira, a dos índios e ribeirinhos, que até hoje está livre das influências europeias e africanas. Na volta, em 2008, montou um convívio slow food em Balneário e ficou sócio de um restaurante vegetariano na Lagoa da Conceição, ambos com base no alimento de origem agroecológica e local. Sentiu na pele que o grande gargalo da agroecologia é a logística que envolve a comercialização e a distribuição. Ajudou na consolidação de um box no Ceasa para receber e revender a produção dos agricultores ligados à Rede Ecovida e agora está empenhado em fortalecer as Células de Consumo Responsável, cedendo seu espaço para que sirva de entreposto entre quem planta e quem come. Seu espaço é a cozinha Bijagica, no Rio Tavares, um catering onde, até março, preparava os alimentos que servia em eventos que optam por comida orgânica. Como a pandemia acabou com as festas, prepara e congela delícias livres de agroquímicos, que são oferecidas em cardápios semanais que respeitam a sazonalidade agrícola. Para entrar na lista de entrega dos congelados: (48) 99963-1600. Para saber o que tem no cardápio: <https://bijajicaeco.com.br> ou acesse o QR Code ao lado.


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Maria Aparecida Foi em São Ludgero, Sul de Santa Catarina, que a formanda em agronomia pela UFSC, Maria Aparecida Pinho passou um bom tempo vivendo com uma família de agricultores para preparar a sua tese de final de curso. O tema era “Sistemas Sustentáveis de Pequenas Propriedades” e, desde 1995, quando terminou o curso, até agora, sua vida gira em torno da comida produzida de forma orgânica e sustentável. Com o canudo na mão, partiu, em companhia do seu marido à época, o Guilherme, para Bajé, trabalharem por um ano para a prefeitura local na implantação de agrovilas. O projeto foi abortado na mudança de governo e foram trabalhar junto com a mesma família de São Ludgero, antes de se mandaram para Gaspar, onde arrendaram uma parte de uma propriedade rural e, junto com os donos do terreno, tinham planos de abrir uma loja para atender a região de Blumenau, mas um acidente vitimou os sócios e amigos. Voltaram para Florianópolis e implantaram o “Quintal da Ilha”, em Ratones, que naquela época era o verdadeiro quintal da Ilha. Além de plantar e distribuir cestas de alimentos, o sítio foi sala de aula para cursos de educação ambiental que era frequentado, indistintamente, por crianças de três anos e por quem estava defendendo mestrado. A espera do primeiro filho, o Francisco, em 1999, os levou a colocar em prática aquela loja que não vingou em Blumenau, e levaram o “Quintal da Ilha” para a beira do asfalto, no Itacurubi, onde está até hoje. Maria ainda tem um chalé no sítio do interior da Ilha e traz de lá para a loja, parte da produção do filho, que hoje planta, colhe e estuda o que os pais estudaram, ao mesmo tempo em que se especializa em manejos agroflorestais e bioconstrução. Para pedir produtos para a Maria Aparecida por Whatsapp: (48) 99998-0310.


fotos MARCO CEZAR

fotos TARCÍSIO MATTOS

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Carol Assim que batia o sinal de saída do Colégio Catarinense, a menina de 14 anos caminhava da Esteves Júnior até a esquina da Vidal Ramos com a Othon Gama D’Éça e pegava no batente de recolher as bandejas nas mesas do restaurante de seus pais, o Central, seu primeiro emprego com carteira assinada. Passou por todas as áreas do negócio de restaurante, inclusive a financeira e burocrática e, aos 20 anos, ainda cursando Administração de Empresas na UFSC, descobriu que a cozinha era a sua praia. No finalzinho do século passado abriu um Central para chamar de seu, na Esteves Júnior, e em 2005 mais um, na Bocaiúva. Foi ali que encasquetou que precisava saber de onde vinham as coisas que ela usava na preparação dos pratos. Foi para a estrada, selecionou fornecedores, incentivou a mudança de hábitos de plantio para impor mais qualidade nos pratos dos clientes e ajudou a fomentar a produção orgânica certificada. Como cada vez precisava de mais frutas, legumes, verduras e os produtores precisam de segurança para o escoamento da produção, montou um mercado, o São Jorge, no Itacorubi, e entrou no negócio do varejo de orgânicos. E foi para mais longe, foi ver como os países mais avançados na agricultura orgânica trabalhavam e viu que estávamos muito atrasados pelos lados de cá. Ampliou o mercado para um espaço com restaurante, feira e muitas pequenas lojas locadas, que agregam diversas vertentes voltadas para a vida saudável e abriu mais um São Jorge, na Bocaiúva, também com restaurante. Com o que comercializa nos mercados e com o que é consumido pelos restaurantes Central garante a produção de 20 famílias com exclusividade, mais 30 grupos prioritários, que reúnem uma série de outras famílias e mais dezenas de produtores sazonais, como eu, que só produzo citros e que só tem no inverno. Para saber das novidades dos empreendimentos da Carol: F restaurantecentralfloripa | I central_floripa F saojorgeorganicos | I mercadosaojorge


fotos EDUARDO MARQUES

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Luana e Thiago No começo deste ano o Thiago e a Luana mudaram para um sítio de 5,4 hectares que compraram na comunidade de Rio Pequeno, distrito de Taquaras, interior de Rancho Queimado. Três vezes por semana, alta madrugada, eles partem para a estrada e percorrem uns 70 km para montarem a Barraca Santa Bárbara, tenda de produtos orgânicos que, bem cedinho, na terça-feira, está montada na Pedra Branca, na sexta-feira na Praça Celso Ramos, em Florianópolis, e no sábado na Beira-mar de São José. Thiago, 31 anos, abriu os olhos para os orgânicos ainda quando cursava agronomia na UFSC. Como queria plantar, não tinha terra, foi ser feirante. Agora tem, e vai colocar no seu cardápio de produtos, o que eles mesmo começaram a plantar. O casamento com a Luana, 30 anos, levou a segurança de uma administradora de empresas para os negócios. Ela cuida do estoque, de parte dos

pedidos, dos pagamentos, mas faz questão também de conhecer cada produtor e ainda adora contar para seus clientes de onde vem cada produto, como é plantado, quem os planta, prepara ou fabrica. E sabem muito bem o que estão fazendo. Para vender orgânicos não precisa de certificação. Esta é uma exigência apenas para quem produz. Mas para entenderem ainda mais com o que estão lidando, fizeram parte do Grupo Harmonia da Terra, e por três anos participaram de suas reuniões mensais. Na ponta do lápis, Luana diz que não é dos negócios mais lucrativos, mas saber que está levando para a feira alimentos que foram cultivados sem prejudicar a saúde de quem os produz, é suficiente para dormir tranquila. “A feira é uma cachaça”, diz Thiago, que não foi feliz fazendo entregas domiciliares para suprir os dias em que a pandemia os deixou sem a possibilidade de montarem a Barraca Santa Bárbara. Para saber onde a Luana e o Thiago montaram a Barraca: (48) 99688-3255.



COMER & BEBER

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O verdadeiro curinga, o aipim aqui de novo, em forma de creme textos e foto MARCOS HEISE

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á falamos sobre o aipim aqui neste espaço de gastronomia da Mural. Trata-se de um dos vegetais mais versáteis e consumidos na dieta do brasileiro, sob as mais diversas formas. É uma raiz que surgiu no Brasil pelas mãos dos indígenas, mas foi levada para outros países e se deu muito bem na África. Hoje em dia, o maior produtor mundial de mandioca é a Nigéria. Aqui no Sul do Brasil, mais especificamente nas nossas terras catarinenses, ele ganhou espaço muito rápido nas dietas, isso desde o tempo da imigração, por um motivo muito simples. Alemães e italianos queriam plantar aqui o trigo, mas ele não deu certo e aí, a saída foi consumir a mandioca, aipim ou macaxeira (Nordeste).

Tipos 1) A mandioca-mansa – ou mandioca doce ou aipim – apresenta teores muito baixos de ácido cianídrico, pelo que pode ser consumida cozida, frita ou assada. É uma excelente alternativa à batata: tem um sabor mais leve e a vantagem de ser mais proteica e ter maior quantidade de vitaminas A, B1, B2 e C. 2) A mandioca-brava ou mandioca amarga é rica em ácido cianídrico, por isso nunca pode ser consumida crua. Para perder a sua toxicidade tem que passar pelo processo de cozimento. Com ela são produzidas a farinha, o polvilho doce, o polvilho azedo e a tapioca.


Nossa receita A grande questão do aipim é que nunca sabemos na hora da compra, de certeza, se ele será realmente macio e rápido no cozimento, se virá branco ou amarelo. Essa surpresa fica para a hora do preparo. O candidato a preparar esta receita poderá optar pelo aipim cru com casca das feiras livres, ou aquele já descascado e resfriado nas gôndolas de supermercados. É claro que a segunda opção será muito mais cômoda e prática. Seu formato é de uma entrada quente, mas que vale até como prato principal, porque o aipim tem essa qualidade de satisfazer bem o comensal.

Ingredientes Um quilo de aipim, um vidro de 200 ml de leite de coco, linguiça calabresa em rodelas, cebolinha verde para decorar, queijo (prato, gouda, suíço) em cubos.

Preparo 1) Cozinhe o aipim em caldo de legumes (se tiver paciência de fazer) ou só em água com sal e algum aromático, como uma folha de louro. A parte líquida deve cobrir com sobra o aipim. Faça o cozimento em panela com tampa e vá monitorando a maciez. Se ele ficar amarelo, ótimo, vai cozinhar bem rápido. Vá até o ponto de quase desmanchando. Reserve tudo e deixe esfriar um pouco. Não descarte o caldo.

2) Poderão aparecer umas placas duras no entorno dos toletes de aipim, a gente costuma chamar isso de “lenha”. Devem ser descartadas. 3) Coloque o aipim num liquidificador ou processador, acrescente uma colher de manteiga e o leite de coco, e misture. Se não “virar” (muito espesso), acrescente o caldo do cozimento até chegar ao ponto de creme solto. Prove e ajuste o ponto de sal desejado. Pimenta moída na hora também pode rolar, a gosto. 4) Se o aipim der todo branco, é possível usar açafrão da terra junto com o leite de coco na etapa anterior, para se ganhar a cor amarelada. 5) Aqueça a linguiça calabresa em rodelas, sem pele, na água quente, sem necessidade de chegar ao ponto de ferver, apenas para retirar o excesso de tempero e aquele leve amargor da defumação química. 6) Prepare 4 potes com queijo em cubo no fundo. Aqueça o creme numa panela inox ou antiaderente mexendo sempre para não grudar. Aquecido, o creme é distribuído nos potes. Sobre ele, guarneça a calabresa e a decoração pode ser com hastes de cebolinha verde ou ciboulette. Ps.: O creme é a base (com ou sem o queijo). Pode ser guarnecido com carne seca desfiada, torresmo macio, linguiça Blumenau picadinha e refogada, camarões grelhados, siri refogado, algum peixe de carne firme em cubos, polvo a provençal, bacon picadinho, lombinho de porco frito em cubos. A proteína é da escolha de cada um. Ou não. Veganos podem aplicar cenouras em cubos refogadas, aipos em cubos, couve manteiga ou mineira. A criatividade é de cada um. MARCOS HEISE é jornalista e cozinheiro. Nos finais de semana faz atendimentos gastronômicos em espaços gourmet de condomínios, salões de festas e residências. Sua comida segue a linha autoral e artesanal. 0 heise@unetvale.com.br

COMER & BEBER

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NUTRIÇÃO

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INFERTILIDADE Como a nutrição pode ajudar

textos ANA CAROLINA ABREU fotos DIVULGAÇÃO

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infertilidade é um assunto cada vez mais recorrente no consultório. Queria dividir um pouquinho da minha prática e dos estudos que demonstram o quanto a nutrição pode ter um papel fundamental nesse processo. Para começar, acho importante entendermos que apesar da medicina ter evoluído muito, nosso organismo ainda tem uma idade fisiológica, e hoje, com as mudanças de estilo de vida e colocação no mercado de trabalho, os casais estão se programando para ter filhos cada vez mais tarde. O número de mulheres que tem o primeiro filho após os 35 anos é 5 vezes maior nos últimos anos. Primeiro fato que devemos entender: as chances de engravidar em um ciclo normal, considerando um casal saudável em idade fértil (menos de 25 anos) é de 20-25%. A taxa de fertilidade tem um declínio significativo (em torno de 12%) a partir dos 35 anos, e este fator também deve ser considerado para os homens. Segundo fato: as causa de infertilidade se igualam entre homens e mulheres. De acordo com a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, 40% das causas de infertilidade se atribuem aos homens e 40% às mulheres, 15% ao casal e 5% sem explicação. Inúmeros fatores podem influenciar na fertilidade, e aqui temos que considerar o peso, consumo de álcool, cafeína, exposição a toxinas ambientais, aditivos alimentares, uso de medicamentos, estresse e estilo de vida. Tudo que atua aumentando a produção de radicais livres pode influenciar diretamente na contagem e qualidade de espermatozoides nos homens, e na taxa de implantação, qualidade de folículos e chances de aborto nas mulheres. O que muita gente não sabe, é que modificando a alimentação, em alguns casos os tratamentos podem, inclusive, ser evitados. E nos casos em que isso não é possível, a alimentação e suplementação podem aumentar consideravelmente as chances de um tratamento bem sucedido. Realizar exames para avaliar trombofilias, envelhecimento ovariano, alterações hormonais, carências nutricionais e alergias é fundamental para identificar as possíveis causas de infertilidade. Lembrando que a nutrição pode modificar e melhorar os marcadores e favorecer a fertilidade e gestação.

Mas por que a nutrição é tão importante? A produção e qualidade de folículos, espessura do endométrio, regularidade do ciclo, chances de nidação, qualidade e motilidade dos espermatozoides são todos dependentes de nutrientes, e quando identificamos os problemas e incluímos os nutrientes necessários, podemos recuperar o potencial de fertilidade. O excesso de peso é um dos fatores que mais atrapalha a concepção. Temos um aumento das citocinas inflamatórias, especialmente a leptina, que podem alterar o processo de ovulação. Estudos demonstram que resistência à insulina, muito comum em indivíduos obesos, pode aumentar a homocisteína, hoje já associada à ocorrência de abortos espontâneos quando em níveis elevados. As vitaminas B6 e B12 são indispensáveis para manter os níveis de homocisteína adequados e para garantir a proliferação celular, metilação de DNA e uma gestação adequada. Uma homocisteína elevada pode influenciar até nos níveis de progesterona. O folato é fundamental em várias etapas anteriores à formação do tubo neural, e também é necessário na função ovulatória, processo de implantação e formação do embrião. Parto prematuro e abortos espontâneos podem ter relação com deficiência de folato. O zinco é um mineral importantíssimo desde a produção hormonal, qualidade e motilidade dos espermatozoides e até na absorção do ácido fólico. A vitamina D também é um nutriente importante e deve ser avaliada, já que os níveis estão reduzidos na maioria dos pacientes, e ela contribui para melhorar a ação e secreção da insulina. Carboidratos: os refinados atrapalham a fecundação e dificultam a ovulação. Melhor optar pelas versões integrais e com poucos aditivos químicos. Os grãos integrais são ricos em complexo B e minerais como o zinco e magnésio, importantes para melhorar a qualidade do óvulo e motilidade do espermatozoide. Gorduras: são fundamentais para uma produção hormonal adequada. Nada de cortar todo tipo de gordura porque está tentando engravidar, mas atenção ao tipo de gordura consumida, enquanto gorduras mono e poliinsaturadas (provindas de oleaginosas, peixes de água fria, cereais integrais) são benéficas e auxiliam na formação do óvulo e espermatozoides. As gorduras trans atrapalham, e muito. Engana-se quem pensa que um pouquinho pode.


Estudos mostram que consumir biscoitos recheados, fast food e comidas congeladas frequentemente já dificulta a fecundação e implantação do embrião. Proteínas: preferir as proteínas vegetais e magras, ricas em nutrientes como ácido fólico, determinante para a renovação celular, fecundação e formação do sistema nervoso do bebê. Além disso, as proteínas também são fonte de ferro, mineral indispensável para a ovulação. Aminoácidos como a L-arginina e NAC podem favorecer as chances de implantação. Contaminantes ambientais: o contato com agrotóxicos e BPA (bisfenol A) também dificulta este processo. O bisfenol é apenas um dos inúmeros disruptores endócrinos. Encontrado em embalagens plásticas, afeta o equilíbrio de glândulas e hormônios, interfere na atividade estrogênica, tireoidiana e predispõe à obesidade, além de interferir na qualidade do folículo e do espermatozoide.

Cofatores antioxidantes Alimentos que melhoram a produção de glutationa, um poderoso antioxidante, são fundamentais. Alimentos fontes de cisteína como o brócolis, couve-flor, repolho e rabanete devem ser incluídos na dieta. Alimentos e suplementos com nutrientes como as vitaminas C e E, selênio, Ácido alfa-lipóico, CoQ10, N-acetilcisteína (NAC), Ômega 3 e Resveratrol devem ser incluídos sempre!

Além da alimentação A prescrição de fitoterápicos também pode contribuir para melhorar a fertilidade. Dependendo da situação, os fitoterápicos podem auxiliar na produção hormonal (progesterona e testosterona), recuperação do processo inflamatório e reequilíbrio do organismo em processos como baixa produção e contagem de espermatozoides, SOP e endometriose.

Outros fatores que podem afetar a fertilidade SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO (SOP) Nas mulheres que apresentam a síndrome do ovário policístico as desordens como menstruação irregular, ausência de ovulação, infertilidade e abortos são mais comuns. A principal orientação é modificar principalmente a carga glicêmica das refeições e regulação dos níveis de insulina. Alimentos ricos em açúcar, carboidratos refinados e leite de vaca interferem no metabolismo de insulina, aumentando a produção de hormônios masculinos e dificultando as chances de ovulação.

ALTERAÇÕES NA TIREOIDE Tanto o hipertireoidismo quanto o hipotireoidismo estão relacionados com a diminuição da capacidade reprodutiva. Mulheres com valores de TSH adequados mas com anticorpos contra tireoide positivo, também podem ter a fertilidade comprometida. ALERGIAS ALIMENTARES Muitas vezes os alimentos que consumimos regularmente podem gerar processos inflamatórios, impedindo que o organismo funcione de forma plena. A permeabilidade intestinal é um dos fatores que contribuem para as alergias alimentares, e recuperar o intestino é fundamental para garantir um tratamento bem sucedido. As alergias também podem atrapalhar o processo de implantação e aumentar as chances de abortos. Identificar os possíveis alimentos alergênicos pode facilitar as chances de gestação. Muitos dos casos, considerados ISCA (infertilidade sem causa aparente) estão relacionados com a alimentação. QUALIDADE E CONTAGEM DOS ESPERMATOZOIDES A suplementação de zinco é fundamental para a produção de hormônios sexuais, melhora da qualidade (motilidade) e quantidade dos espermatozoides. Selênio, licopeno, coenzima Q10 também não podem faltar. ENDOMETRIOSE Estudos demonstram que há um aumento de radicais livres nas mulheres com endometriose. Nutrientes antioxidantes são importantes para evitar a progressão. As vitamina C e E, além da CoQ10, podem ajudar. Diminuir a alimentos industrializados, alergênicos e a carne vermelha pode melhorar o quadro. ENVELHECIMENTO OVARIANO E BAIXA RESERVA OVARIANA Cada vez mais mulheres, mesmo antes dos 35 anos, tem sido diagnosticadas com baixa reserva ovariana. Avaliar o estilo de vida, identificar possíveis processos alérgicos, retirar a exposição aos disruptores endócrinos, suplementar nutrientes antioxidantes e implementar a dieta com geleia real, frutas ricas em fitoquímicos, pode inclusive melhorar os níveis do Hormônio Anti-Mulleriano (um dos marcadores utilizados para avaliar a reserva ovariana). A jornada em busca do sonho de formar uma família é muito mais complexa do que imaginamos. O que queria deixar de recado é que a nutrição influencia desde o equilíbrio emocional até a saúde do feto e, no meio do caminho, podemos encurtar o sofrimento se soubermos com quais problemas estamos lidando. Procurar profissionais capacitados pode tornar todo o processo mais curto e prazeroso. Pense nisso!

NUTRIÇÃO

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NUTRIÇÃO

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ÁGUA É ÁGUA Você sabe que água está bebendo?

texto ANA CAROLINA ABREU fotos BANCO DE IMAGENS

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que você inclui no seu check list diário para uma rotina saudável? Quando pensamos em como cuidar do corpo para ter uma vida saudável e longeva ou até para ter uma pele e cabelo bonitos, logo vem à cabeça horas de malhação, cosméticos de última geração, dieta e, de quebra, alguns tratamentos da moda. Mas e a hidratação? Você já parou para pensar em como a água é fundamental para manter uma aparência e um corpo saudáveis? Vamos aos fatos: nosso corpo é formado principalmente de água, nossas células precisam de água para que todas as trocas de nutrientes ocorram, na retenção de líquido a água é essencial para diminuir edemas. A desidratação pode causar dores de cabeça, fadiga e pele seca, ou seja, rugas! Então, de nada adianta passar horas na academia, abusar de cremes e tratamentos estéticos se a hidratação e nutrição celular não estiverem adequadas. As maiores polêmicas ficam por conta do quanto e o que beber. A quantidade é variável e nem todo mundo precisa de 2 litros ou mais ao dia. A primeira regra fundamental é: como é a sua alimentação? Se na sua rotina diária você inclui frutas e vegetais, que já possuem água naturalmente e alcalinizam o organismo, a necessidade de água vai ser menor. Agora, se você costuma consumir muitos produtos industrializados ricos em sódio, bebidas alcoólicas e laticínios, saiba que estes alimentos acabam “exigindo” do corpo uma quantidade maior de água, e por isso, a sua necessidade diária vai ser aumentada. Uma forma mais prática de avaliar é contar quantas vezes você vai ao banheiro fazer xixi. Já parou para pensar? No Ayurveda, uma das formas utilizadas para explicar a ingestão de água adequada é justamente observar, pois você deve ir ao banheiro no mínimo 6 vezes ao dia. E para quem vai muito quando bebe água, especialmente à noite, vale checar os níveis de magnésio. E se você acha que já entendeu tudo, já parou para pensar em qual água você toma? Hoje, infelizmente muitos mananciais estão contaminados e as águas tratadas que chegam na nossa casa, seja no filtro ou na torneira, geralmente têm níveis de alumínio muito

elevados (pois é utilizado para “limpar” a água), outros metais pesados e também hormônios. E estes componentes podem ser responsáveis por diversas carências nutricionais, desequilíbrios hormonais e até câncer. Escolher o filtro correto ou o tipo de água mineral pode contribuir muito para reequilibrar seu organismo. Precisamos ser mais críticos com o que colocamos no nosso organismo. Ah, e carregar a garrafinha é fundamental. Na correria atual precisamos sempre estar abastecidos. E mais um cuidado é com o tipo de garrafinha. Um ponto importante é o material. Garrafas plásticas contêm bisfenol A, componente cancerígeno que é liberado principalmente no calor, então nada de deixar a garrafa no sol ou dentro do carro e depois beber. E nada de achar que qualquer líquido substitui. Água é água! Refrigerantes, águas saborizadas e sucos de caixinha não hidratam e ainda “roubam” água do nosso corpo, já que contêm fosfatos, sódio e aditivos que dificultam a desintoxicação do organismo. Você pode incluir chás e sucos naturais na sua rotina, mas como bebidas extras. A água de coco é uma alternativa saudável, desde que seja a natural. As industrializadas contêm conservantes, aditivos e, algumas, até açúcar. Uma dica é mudar o gostinho da água, aromatize com ervas e frutas naturais, torne-a atraente e saborosa. Lembre-se que beber água é um hábito que deve ser adquirido e cultivado. Não espere sentir sede. A hidratação começa de dentro para fora!



TERAPIA

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O ACESSO ÀS ENERGIAS DO CORPO E DA MENTE

É possível ser livre de medos, crenças e conceitos preestabelecidos, insegurança e dúvidas?


“As respostas surgem de várias maneiras, mas só chegam se as perguntas forem repetidas sempre que sentir que os bloqueios estão se apresentando.”

texto LU ZUÊ fotos MARCO CEZAR

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er uma vida mais leve, canalizando as escolhas, energias e decisões para aquilo que realmente importa. Essa necessidade tão característica do mundo contemporâneo, objetivo de muitos e conquista de nem tantos, se dá por caminhos individuais, descobertos por meio de estímulos externos e gatilhos de consciência, que nos ajudam a sustentar mudanças a partir de nosso próprio comportamento. É claro que cada pessoa tem seu ritmo e suas necessidades, e não existe mágica ou regra, mas sim diferentes formas de se executar essa busca e chegar ao êxito – que fique claro, é totalmente pessoal e distinto. Um dos canais a partir dos quais é possível buscar – e encontrar – as respostas são as Barras de Access Consciousness (do inglês, “acesso à consciência”). Trata-se de uma técnica de expansão da consciência, desenvolvida pelo norte-americano Gary Douglas há mais ou menos três décadas, e que recentemente vem ganhando popularidade também no Brasil. Explicando de forma simples e resumida, a atividade funciona da seguinte maneira: por meio de toques em 32 pontos (ou barras) de energia em torno da cabeça, com cada um deles ligados a aspectos variados da vida, os praticantes que utilizam essa ferramenta estimulam a reprogramação do pensamento, alterando atitudes prejudiciais e restritivas que as pessoas possam ter frente a diferentes aspectos da vida, relacionados a inúmeros temas, como dinheiro, sexualidade, corpo, criatividade, sonhos e muito mais. Especialista e entusiasta do procedimento, a terapeuta Soraia Leal explica que qualquer ser humano que queira evoluir pode utilizá-lo sem contraindicações: “Ao fazer o curso de Barras de Access, você aprende diversas ferramentas energéticas para usar no dia a dia. Cada um tem sua própria maneira de alcançar essa expansão da consciência, e os resultados aparecem tanto física quanto emocionalmente”, explica.

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A expansão da consciência pode ser traduzida por uma clareza de sentido em determinada questão. Ansiedade, fadiga mental, depressão, dificuldades nos estudos ou no trabalho, entre outros problemas, ganham um choque de vitalidade com a técnica que “te tira da zona de conforto e, ao mesmo tempo, traz o empoderamento sobre o próprio corpo”, nas palavras de Soraia. Assim, os toques têm a proposta de desprogramar crenças, pontos de vista e juízos de valor que criam limitações, e a “limpeza energética” faz com que se abra mais espaço para receber novas informações e operar mudanças na rotina. A experiência de fazer uso das Barras de Access ocorre de modo particular para cada pessoa. Ainda assim, há algumas situações comuns a todos, incluindo um profundo estado de relaxamento. A partir dos toques do praticante, julgamentos e condicionamentos que limitam a existência são liberados espontaneamente. Segundo Soraia, há pessoas que percebem e comunicam mudanças no humor e na forma de encarar a vida já na primeira sessão: clareza na visão dos efeitos das decisões pessoais nas situações, relaxamento e tranquilidade e até melhora nas condições físicas. Outros, entretanto, só percebem ou identificam a transformação depois alguns encontros. Ela explica que tudo depende realmente da forma e “quantidade” da entrega individual para as possibilidades. Em seu site oficial, Gary Douglas ressalta que o objetivo do Access Consciousness é criar um mundo de consciência e unicidade, sendo que a consciência inclui tudo e não julga nada. Soraia complementa: “É um acesso para você saber o que já traz consigo, mas que por uma série de fatores fica limitado, restrito. Acredito que tudo é energia e, por isso, precisamos justamente conhecer os meios de canalizá-la”, esclarece.

“A ideia é driblar a mente, focar na pergunta, perceber o caos que ela gera e sentir o que é possível fazer para melhorar.”

Soraia Leal é Facilitadora do Caminho do Autoconhecimento e atua com as Barras de Access há aproximadamente um ano. A melhora de vida que proporciona aos seus clientes também é sentida na própria pele. “Ao longo dos anos, sofri muito com enxaquecas frequentes. Hoje, felizmente, não acontecem porque ao menor sinal de dor já utilizo as técnicas das barras. É até difícil descrever com palavras o nível descanso mental que a gente sente”, avalia. Segundo Soraia, que trabalha com diferentes terapias, sempre que quando nos deparamos com uma “crise”, a situação exige que tomemos decisões, e as primeiras deveriam ser “parar” e perguntar a nós mesmos: “Eu preciso disso?”, “A quem pertence isso?”. Essas questões estimulam a consciência e nos conduzem pelo caminho de liberar o peso que estamos carregando. As Barras de Acces ajudam a identificar e também estar aberto à conscientização e à(s) resposta(s) que precisamos. A terapeuta explica que apesar da disseminação de informações sobre a técnica, ela ainda recebe muitos questionamentos sobre sua eficiência e formas de aplicação, e várias pessoas chegam movidas pelos relatos de quem já fez uma ou mais sessões, ou mesmo pela curiosidade. E Soraia é enfática: hoje, as Barras de Acces encontram suporte e comprovação a partir da neurociência, e o que toma corpo é um movimento global de expansão de consciência.

SAIBA MAIS

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SORAIA LEAL é Terapeuta Ayurvedica – trabalha voltada ao diagnóstico, prevenção e também cura, baseada nos estudos do corpo, alma e mente. Terapeuta ThetaHealing, uma das mais poderosas técnicas de cura energética. Facilitadora do Curso de Barras de Access e praticante de Facelifit Energético, vários Processos Corporais de Access Consciousness e também Manifestadora da Energia do Presente criação dos Meninos da Consciência. Profissional apta a atendimentos presenciais e online. Para conhecer mais sobre a técnica e agendar sessões, entre em contato com a facilitadora: W (48) 99693-7525 I @soraialeal.oficial


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SAÚDE BUCAL

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DOR NO DENTE, E AGORA?

Quem já teve dor de dente sabe o quanto isso incomoda, e logo já associa a tratamento de canal. Mas será sempre necessário? texto LAURA SACCHETTI (CRO-SC 12391) fotos BANCO DE IMAGENS

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resposta é não. Pode se tratar de uma pulpite, ou seja, inflamação na polpa do dente, podendo ser Pulpite Reversível ou Irreversível. E como saber quando se trata de uma ou de outra? Quando for pulpite reversível a dor, geralmente, é localizada e de curta duração. As causas podem estar associadas a trauma oclusal, restaurações amplas ou cáries. Já a pulpite irreversível pode causar dores extremante fortes, como se houvesse um “coração” pulsando dentro do dente. Essas dores podem ser difusas e muitas vezes associadas a estímulos térmicos. Nesses casos a cárie já está num estágio mais avançado, expondo a polpa do dente, podendo haver fístulas na gengiva (bolinha com pus). Para isso é necessário o tratamento endodôntico (tratamento de canal). Mas isso não quer dizer que se o dente não dói está livre do tratamento de canal. Quando realizadas consultas de rotina com exames radiográficos periódicos, pode ser observado a necessidade do tratamento antes que haja dor, tornando o tratamento mais tranquilo para o paciente.

Mas por que tratar o canal? Para que não seja necessária a extração do dente e para que as bactérias presentes na polpa sejam eliminadas, evitando que a lesão aumente e atinja o osso ao redor do dente, causando cistos e perda óssea e, num pior cenário, evitar que as bactérias entrem na corrente sanguínea, podendo atingir outros órgãos do corpo. Temos a antiga ideia de que o tratamento de canal é necessariamente dolorido e sofrido, com várias sessões longas. Mas hoje em dia, dependendo do caso, conseguimos realizar em até uma sessão, com ajuda da tecnologia que não para de evoluir na área. O tratamento é realizado sob anestesia local, permitindo uma recuperação rápida e possibilitando o retorno às atividades normais logo após o tratamento. LAURA SACCHETTI

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SAÚDE

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SPA EM CASA

Cuidados com a pele durante a quarentena

texto DR.A MARIANA TREMEL BARBATO (CRM/SC: 10877/RQE: 6741) fotos BANCO DE IMAGENS

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esse momento de pandemia, enquanto estamos em casa apreensivos, devemos tentar deixar a rotina um pouco mais leve e agradável. A pele é um órgão que reflete muito nossas emoções e, em períodos de estresse e tensão, costuma ficar opaca e sem vida; mais propensa a dermatites e alergias. Separei uma rotina de autocuidados para você fazer em casa, elevar sua autoestima e ter um momento bem relaxante e especial.

seis Passos para seu spa 1. Limpe a pele, remova todos os resíduos (maquiagem). Nessa etapa pode ser utilizada uma espuma esfoliante, ou se você não tiver nenhum esfoliante em casa, uma dica caseira é misturar mel e açúcar para esfoliar o rosto. Faça movimentos leves e circulares em toda a face, cuidando com a área dos olhos, e em seguida lave bem o rosto com um sabonete de limpeza facial que você goste. Nessa etapa, você remove todas as impurezas e deixa a pele fininha para receber a hidratação.

2. Aplique uma camada generosa da máscara facial da sua preferência. Uma dica caseira e fácil para a máscara é utilizar iogurte natural gelado (pode ser acrescido de mamão ou abacate para melhorar o poder hidratante). Essa máscara deve permanecer por no mínimo 10 minutos. Depois, remova a máscara facial com água fria. 3. Enquanto você cuida do rosto, coloque água quente em um recipiente para o escalda pés. Coloque na água sais com óleo essencial de lavanda, que é bem relaxante, ou você pode colocar sal grosso e um óleo essencial da sua preferência. 4. As mãos também merecem ser cuidadas: álcool gel e a lavagem excessiva, provavelmente, deixaram as mãos ressecadas e envelhecidas. Coloque um creme próprio para as mãos ou um hidratante bem grosso, de preferência um creme à base de ureia. Em seguida, coloque uma luva plástica ou filme plástico e deixe agir nas mãos por uma hora. Você sentirá as mãos mais macias e tratadas. 5. Seque os pés e hidrate-os. Uma dica é aproveitar o hidratante que restou das mãos. 6. Para finalizar, aplique um produto com efeito anti-idade no rosto e pescoço em movimentos “para cima”, de preferência um produto para seu tipo de pele e indicado pelo seu dermatologista. Pacientes alérgicos, com rosácea, gestantes e lactantes devem consultar seu médico para que ele receite os produtos bem apropriados para o tipo de pele. Aproveite, enquanto você cuida da pele, para ler um bom livro, assistir um filme, meditar ou ouvir uma música. Você merece este carinho. Desfrute desse momento único. Você vai sentir a pele macia e firme, as mãos bem hidratadas e sedosas e os pés relaxados. MARIANA TREMEL BARBATO Rua Ferreira Lima, 238, 6.o andar, Florianópolis Z (48) 3223-6891 e 99933-7000 I dramarianabarbato


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FISIOTERAPIA

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VAGINISMO Precisamos falar sobre ele

texto ROBERTA RUIZ foto DIVULGAÇÃO

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em assuntos que todo mundo deixa para lá, tenta jogar para debaixo do tapete e tocar a vida. Sofre quem tem, sofre quem convive com quem tem. Sofre todo mundo. Por muito tempo, o vaginismo foi ignorado, ou pior, negligenciado. Arrisco dizer que ainda é, mas graças ao maior acesso à informação, muitas mulheres – e por que não dizer, muitos casais – estão encontrando ajuda. Mas o que é esse tal de vaginismo? Vaginismo é descrito como um espasmo involuntário recorrente e persistente dos músculos perineais, que dificulta ou impossibilita a penetração. Por ser um assunto que ainda é tabu, muitas mulheres se sentem sozinhas, e a maioria delas passa por uma peregrinação em busca de profissionais para terem seu diagnóstico correto. O vaginismo é classificado em graus que vão de zero a cinco e, em alguns casos, a mulher não consegue nem fazer os exames preventivos, colocando em risco a sua saúde. É uma disfunção que deve ser abordada por diversos profissionais, como psicólogo, fisioterapeuta, médico e nutricionista, pois se trata de uma disfunção que requer esse olhar multidisciplinar e sistêmico para conseguir devolver a qualidade de vida à mulher. A fisioterapia pélvica tem um importante papel, pois vai trabalhar a parte cinético-funcional dessas estruturas. Como dissemos acima, ocorre uma contração involuntária da musculatura, e isso acaba por alterar toda a mecânica e a funcionalidade dessa região. Quero deixar claro aqui, que não adianta olhar apenas para o assoalho pélvico: devemos olhar o corpo como um todo, pois o mesmo também sofre alterações. Mas é claro que os músculos do assoalho pélvico acabam sendo a “estrela principal” desse enredo, e vamos dar uma atenção especial a ele. Existem muitas técnicas no tratamento de vaginismo e temos que avaliar qual a mais indicada para cada caso. Via de regra,

a paciente passa por uma avaliação, e esse primeiro contato é extremamente importante. Deve-se estabelecer o vínculo de confiança entre paciente e terapeuta, a coleta de toda a história, bem como a apresentação para a paciente de sua disfunção e suas alterações funcionais e morfológicas, pois entendendo seu problema ela irá colaborar muito mais com a terapia. As técnicas utilizadas para atendimento do vaginismo incluem exercícios respiratórios e relaxamento, exercícios corporais globais, terapia manual, termoterapia (uso do calor superficial), exercícios de assoalho pélvico, biofeedback pressórico e eletromiográfico, dilatadores vaginais, radiofrequência intra e extracavitária e laser. Costumo dizer que o fisioterapeuta deve ter uma caixa de ferramentas bem completa, e usar cada ferramenta no momento mais adequado. Então, se você tem ou conhece alguém que tenha essa disfunção, mostre para ela que existe tratamento, que ela pode ter uma vida normal e, o mais importante, que ela não está sozinha! No caso dessa disfunção, sofre a mulher e sofre o parceiro, e juntos, com as abordagens terapêuticas adequadas, iremos vencer o vaginismo! ROBERTA RUIZ Fisioterapeuta – Crefito 38.482 Pós-graduada pela USP em Fisioterapia Respiratória Instrutora de Pilates pela Physio Pilates Polestar (USA) Pós-graduada em Fisioterapia Pélvica – Uroginecológica Funcional (Inspirar). Formação em RPG e Terapias Manuais-Maitland (AUS) Formação em podoposturologia (palmilhas posturais). Proprietária do Espaço Integrata – www.integratafisio.com.br Integrata Pilates e Fisioterapia pélvica F Rua Gravata, 75 – Campeche – Florianópolis/SC C @integratafisio 1 (48) 99140-1810 0 roruizfisio@gmail.com


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Eu perguntei a várias personalidades de Floripa, de gerações e atividades variadas, as mesmas coisas sobre sua vida pessoal no período inédito de quarentena global, e elas compartilharam com a coluna. Imperdíveis! Nem a Segunda Guerra Mundial parou o planeta em todos os seus quadrantes e longitudes. Esta pandemia entra para a história como um dos seus momentos mais trágicos e dramáticos. Um inimigo invisível que mata, e não se sabe onde pode estar, de quem poderá vir o vírus altamente contagioso e seus efeitos imprevisíveis. Para muitos, felizmente não deixa maiores sequelas. E até que estejamos todos vacinados, mesmo que como cobaias, vamos nos adaptando ao novo normal. Novas palavras entrando em nosso vocabulário, novos hábitos incorporados ao cotidiano. Isso para quem tem a sorte de uma estrutura que dê suporte à turbulência financeira decorrente da parada global. Muito se perdeu, em vidas e possibilidades de subsistência. Profissões e negócios acabaram, outros nasceram em poucos meses. E aqui neste time de pessoas com competência e visibilidade, muitas dicas de sobrevivência, de distração e diversão, mesmo de quem pegou e superou a covid, porque sempre podemos dar leveza às situações mais pesadas e incertas da vida. Abaixo as perguntas feitas para todos: Como você tem passado a quarentena? Começou a fazer algo novo ou resgatou algum hábito ou hobby? Como mantém a saúde mental e qual o maior aprendizado que está tendo com esta fase? E o que vai levar desta quarentena para o resto da vida?

E eu? Senti que nos últimos anos vinha ensaiando esse recolhimento, mas ele era voluntário. Agora sinto falta das amigas aqui em casa, outras que eu e a Lua, minha cachorrinha companheira inseparável, visitávamos. A vida mudou pouco, mas ficou mais corrida. Mais afazeres, então que sejam feitos com gratidão e prazer. Voltei a tocar piano, cozinho, arrumo a casa, caminho com minha Lua, há mais de oito anos pinto e corto meus cabelos, então também nisso nada mudou. Compras há muito só faço online, trabalho em home office desde 2012, e nos últimos quase três anos em ritmo muito mais saudável, me debruço por alguns dias trabalhando na coluna aqui da Mural, depois vem o tempo suficiente pra dar saudade da adrenalina. A conexão com a natureza, o parar pra observar hábitos dos pássaros, formigas, pra ver uma plantinha. Aprendi com minha vira-lata que fareja cada folhinha do caminho. E isso tudo me ajudou nos últimos anos, ajuda durante a pandemia e ajudará para sempre. O simples e impagável é o que temos de mais precioso. Bem como família e amigos. Precisamos uns dos outros. Mas é fundamental ser auto suficiente, se bastar, e não precisar de tantas coisas pra sentir prazer. A pandemia está mostrando isto também.


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JULIANA WOSGRAUS

Annalisa Dal Zotto PLANEJADORA FINANCEIRA, SÓCIA E CEO DA PARMAIS Como é que a gente está passando a quarentena? Até que bem. Penso que o fato de morar em casa ajuda. E a casa está alegre. O Enzo, que é produtor musical e DJ, estava com um amigo aqui que tem o mesmo empresário e vários projetos juntos. Quando começou a quarentena a gente convidou o Pedrinho SKuel pra ficar conosco. Então são dois jovens de 21 anos, alegres, cheios de projetos. Eu estou trabalhando muito. A Parmais é uma gestora de recursos. No início foi super difícil, é uma correria porque a bolsa despencou, os ativos de renda fixa também caíram. A gente teve que trabalhar muito para recuperar e conseguimos. E para atender os clientes, dar amparo, acalmar. Eu venho trabalhando muito desde então. Estou com muitos projetos do Mulheres do Brasil. E agora trabalho mais, porque não perco tempo viajando, me deslocando. Eu acrescentei mais reuniões. O Renan, que era técnico (de vôlei) do time do Taubaté, durante o Campeonato Nacional, teve todas as atividades cessadas. Não foi para a Olimpíada, não teve Seleção esse ano. (Renan é o técnico da Seleção Brasileira de Vôlei). Ele virou o comprador da casa. Faz mercado, vai na padaria (risos), farmácia, não podemos tirar isso dele. Todo mundo estava fazendo bastante atividade física. O Gian tem namorada, a Geórgia Toniolo, e a gente convidou ela e sua cachorrinha para ficarem aqui também, então a casa é alegre porque tem os jovens. Eu peguei o covid dois meses atrás. Logo no começo eu chamei a diarista, que tinha perdido os trabalhos, e ela veio morar aqui em casa. Contratamos ela, mas tem namorado e nos finais de semana vai encontrar com ele. E aí ela pegou covid e eu peguei dela. Ninguém mais pegou aqui em casa. A gente fez bastante distanciamento, muita mão lavada, isolamento e deu tudo certo. Jogamos muita canastra, então o meu hobby agora é cozinhar e jogar muita canastra (risos). Cozinhar eu já gostava. Vamos levando com muita paciência. É claro que a gente queria que já tivesse passado, uma vez por semana vamos a um restaurante, porque isso dá uma leveza. Também estive no shopping para comprar coisas de cozinha, panelas; com todos os cuidados.

ANNALISA E RENAN DAL ZOTTO CERCADOS PELOS FILHOS GIANLUCA E SUA NAMORADA, GEÓRGIA TONIOLO, E ENZO À DIREITA; À ESQUERDA A IRMÃ DO RENAN, MAGDA, MAIS A SOBRINHA DELES, DANIELA

E os meninos são muito bonzinhos, não saem para nada. Então a gente se diverte. Põe música e dança em família. O que eu vou levar? Que nunca vou esquecer é que quando o Gianluca (26 anos hoje) ficou doente (teve leucemia na infância), e por isso eu acho que a gente se adaptou tão rápido à epidemia, eu e o Renan entendemos o quanto somos impotentes diante da vida, da natureza. O quanto somos vulneráveis. E que a gente não comanda nada, né? É um futuro incerto e sombrio, viver isso – eu vivia isso com o Gian –, é muito horrível. Na época, eu e o Renan trabalhamos muito esta questão de viver o presente. Viver o aqui e agora sem se preocupar tanto com o futuro. E tínhamos esquecido um pouco isso. Eu acho que a gente tem de tratar de resgatar logo. Então a gente resgatou rápido isso. Acho também que fortaleceu demais os laços familiares, a valorização da família nesse momento. O que é prioritário. A gente sai melhor. Pelos menos isso. Não está fácil. Também do ponto de vista corporativo, o home office é ótimo, funciona super bem, mas tem de ter um equilíbrio. Outra coisa que eu também aprendi, já sabia, e mais agora, é colocar em prática em encontros virtuais, é que mulheres precisam de amigas.

Rico Mendonça ARQUITETO

RICO E SEU PAI, JOEL MENDONÇA. DESENHO DA COLEÇÃO SENHORA Z, QUE ELE COMEÇOU A PRODUZIR NA PANDEMIA, EM HOMENAGEM À SUA MÃE

Tive momentos de angústia, tristeza, desânimo, mas com a terapia, fui mudando a forma de pensar e agir, voltei a pensar positivo e vivendo um dia de cada vez. Voltei a desenhar, pintar, e a cozinhar, já que sou alérgico a lactose e glúten, estou me reinventando na cozinha. O maior aprendizado é acreditar que é uma fase, e com muita empatia, se colocar no lugar do outro. Que a vida é um sopro. Estou vivendo com meu pai desde que minha mãe faleceu há um ano. Cuido dele como um presente, e estamos nos reconhecendo como pai e filho. Essa afinidade não tínhamos antes. E o que levo desta quarentena é pensar mais antes de agir. Tudo tem um porquê, sem atropelar etapas. Fazer tudo com mais calma, e realmente viver o momento, não se lamentar do que passou e não sofrer pelo futuro incerto. Focar no agora e agradecer cada micro-conquista.


Gabriela Padaratz

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JULIANA WOSGRAUS

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EMPRESÁRIA, CASADA COM O TECO PADARATZ Estou passando a quarentena bem, mas com muita saudade de abraçar. Para manter a saúde mental me alimento bem, faço yoga, trilha, e quando não está muito frio dou um mergulho no mar ou em uma cachoeira. Tenho feito alguns cursos online também. Super indico Jornada de Volta ao Mundo e Treinamento A Nova Medicina. O novo hábito é meditar. Nessa fase aprendi mais ainda que precisamos estar bem de dentro pra fora. Não esperar que o outro resolva seus problemas, seus conflitos. Sim, você pode e deve pedir ajuda quando for preciso, mas acredite, você pode mudar a sua vida. Tenha compaixão por você e por todos que estão à sua volta. Lembre-se: tudo o que vai, volta.

Teco Padaratz SURFISTA Até agora tudo bem. Ao menos tenho surfado bastante, e aproveitei para fazer aqueles projetos guardados há muito tempo. Para manter a saúde mental? O surfe tem feito excelente trabalho nisso. Me mantém buscando meu limite sempre. A música sempre foi meu passatempo predileto, então ela está ajudando muito. Novo hábito? Bom, acho que estou transformando meu hábito em falar bastante num trabalho novo. Estarei lançando um livro em breve, e também um treino online, que dou nome de “Método Teco Padaratz”. Uma mistura de yoga, equilíbrio e força. Como maior aprendizado, acho que estou muito mais concentrado nos meus trabalhos pessoais, e dando muito mais atenção à família, o que me resgatou uma raiz com minha terra que havia perdido ao longo dos anos no tour.

Fernanda Lago JORNALISTA Passando bem, um dia de cada vez. Ambiguamente também, porque apesar de saber dos meus privilégios e agradecer por eles, sofrendo por todos os demais seres humanos que estão doentes ou sem emprego, moradia e auxílio. Tenho mais tempo, ando lendo bastante literatura e agora evitando o excesso de notícias, ocupo meu tempo com coisas construtivas: participo de grupos de estudos, costuro, pinto, cuido do jardim, medito, ocupo os minutos com atividades múltiplas e criativas. Não tenho problemas em não ter o que fazer, sempre invento algo, ou relaxo, pois também adoro assistir um filme ou uma série na TV. Minha saúde mental também depende de fazer exercícios, assim como tenho de sair para ir a farmácia ou mercado, saio de casa para pedalar, caminhar ou correr – de máscara sempre. Mas com a certeza que quando isso acabar pelo menos meu fôlego estará muito melhor. Novos hábitos de cuidados de higiene que são realmente novos, como passar 599 vezes por dia álcool 70º nas mãos e usar máscaras para tudo, inclusive os exercícios na rua. Pessoalmente, a dinâmica familiar mudou muito, afinal nunca ficamos tanto tempo juntos, somente os três – eu, marido (Paulinho

Rossato) e filha (Olívia Muniz) – na mesma casa. Está sendo desafiador. Intenso, mas muito bom. Mas penso que o maior aprendizado da pandemia foi dar mais valor ao que realmente importa, porque o futuro não nos pertence. Nada de planejar e perder tempo projetando desejos. A vida pede para ser vivida agora e de forma muito mais simples e materialmente muito mais leve e sustentável, sem excessos.


Ju Furtado ADVOGADA E EMPRESÁRIA Se eu disser que estou ótima estarei mentindo, mas se disser que estou péssima também não é verdade. Impossível assistir a tudo que está acontecendo e não se entristecer em muitos momentos. De maneira geral procuro ter pensamentos otimistas, mas confesso que teve momentos que senti todos os sentimentos num dia só. Minha maior motivação para seguir em frente e ter esperança é crer que tudo isto vai passar. Não poder abraçar quem eu amo, principalmente, meus pais e meus amigos tem sido um constante desafio para mim, mas ter a oportunidade de abraçar minha filha e netos que moram fora do país foi meu maior presente nos últimos tempos. Para manter a sanidade, procurei ter uma rotina saudável de sono e continuarei, via internet, as atividades que praticava antes da pandemia: leitura, aula de inglês e pilates. Além destas atividades passei a meditar, orar, ouvir música e exercitar quase que diariamente. Procuro manter o contato com minha família e meus amigos e, talvez, o grande segredo de eu não ter adoecido mental e fisicamente até agora tenha sido o de me manter ocupada. Também participei de várias campanhas de doação e continuarei apoiando e investindo nos profissionais que prestam serviços para mim. Estou resgatado um hobby antigo que é a pintura em óleo sobre tela, já separei as tintas e rabisquei a tela. Também voltei a cozinhar com mais frequência. Levarei comigo para sempre o olhar que desenvolvi para enxergar o outro e a mim mesma. A vontade de servir através do amor. A gratidão pelo alimento, pela natureza e pelo Criador. A certeza que não podemos e nem devemos deixar para amanhã o que podemos viver hoje.

CRIS E A NOVA INTEGRANTE DA FAMÍLIA, NALA

Cris Di Vicenzi ADMINISTRADORA Estou me realizando morando na praia, vendo e ouvindo o mar, vendo a dança dos pássaros, me reconectando comigo e com a natureza. E estou fazendo um curso online de fitoterapia, terapia com a energia das plantas e vários outros cursos sobre conexão espiritual, meditação e autoconhecimento. Gosto de me exercitar com yoga, caminhadas e bike. Estamos com uma cachorrinha cheia de energia, a Nala, nossa maior alegria. O maior aprendizado é que o planeta Terra precisava parar para respirar e se curar e que temos de vibrar no amor e ter esperança que sairemos dessa com um mundo melhor. O que vou levar dessa quarentena é a importância dos nossos relacionamentos, de viver com o que é essencial para nós, de sentir o que o nosso coração pede, de que tudo é meu e nada é meu, e que temos que criar uma realidade próspera fluindo num caminho de evolução e luz.

JULIANA WOSGRAUS

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Ricardo Pereira

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JULIANA WOSGRAUS

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EMPRESÁRIO A primeira semana foi difícil, acho que ninguém, tanto no Brasil quanto no exterior, estava preparado para ficar trancado em casa sem saber até quando e nem a gravidade que motivou as paralisações. Gosto de cozinhar como hobby, cozinhei bastante nas horas vagas da quarentena. Aproveitei também o tempo livre para ler, ouvir audio books, e estudar sobre minha área de atuação profissional. O maior aprendizado foi encontrar e manter o equilíbrio, mesmo com uma situação quase incontrolável do lado de fora das nossas casas, sem perder o bom humor. E para o resto da vida ficam as amizades, já anteriormente verdadeiras, mas que se fortaleceram no período de isolamento, mesmo que apenas com contato virtual.

RICARDO PEREIRA E A ESPOSA, CAMILA FRAGA, ESTILISTA

Luciano Martins ARTISTA PLÁSTICO A quarentena está sendo um momento de transformação, tanto pessoal como profissional. Me aproximei mais ainda da minha família, tive mais tempo para fazer coisas que não fazia com as minhas filhas e minha esposa. Profissionalmente fizemos uma mudança de 360 graus. Depois de quase 15 anos com a Galeria na Lagoa, levamos ela para o Shopping Iguatemi, onde estamos muito felizes. Além das pinturas, fomos atrás de empresas que estavam com a gente, buscando novas oportunidades para empreender e fechamos quase 10 contratos neste período de pandemia. Sempre fui um cara muito tranquilo, mas confesso que fiquei assustado nas primeiras semanas de quarentena e até com dificuldade para dormir. Com o passar dos dias fui tentando compreender que a vida precisa continuar e retomei a minha rotina da maneira que foi possível. Atividades físicas em casa com a família foi algo novo e muito prazeroso. Além, é claro, da pintura. A arte tem sido uma grande companhia para todos neste momento, não? Não sei se posso chamar de hobby, mas passei a cozinhar todos os dias em casa, então fui atrás de novas receitas. Neste quesito, acho que evolui bastante (risos). Outra coisa que eu não tinha o hábito foram as visitas virtuais a museus, fiz várias delas neste mês. Espero que quando tudo isso acabar, eu saia um ser humano melhor. Acredito que nestes quatro meses de restrições, o sentido da palavra resiliência tenha feito muito sentido na minha vida. Estou tentando agir rápido com as adversidades, agindo positivamente para superar as pressões impostas. Fora isso, talvez o mais importante, dando mais valor à vida, à família, ao próximo, à natureza. Espero que a sociedade como um todo evolua junto e que a gente possa compartilhar amor entre nós.


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JULIANA WOSGRAUS

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Marilina Búrigo PEDAGOGA Inicialmente adorei. Pratiquei o desapego, cuidei do jardim, atualizei minhas leituras, fui à praia nos dias possíveis... até adquirir uma herpes zoster, que me paralisou por 15 dias. Estresse? O contato com a natureza, aulas de dança, de ginástica e de cinema, tudo online, me mantiveram mentalmente normal. Voltei a caminhar, a fazer palavras cruzadas e colorir no livro encantado. Mas agora estou com vontade de passear, encontrar e conversar com amigas, praticar meus exercícios na academia. Sinto que já deu. Como resultado destes dias de quarentena reforcei minha vontade de agregar, confraternizar, ter compaixão, tolerar e principalmente agradecer.

Marcelo Salum ARQUITETO

Witti Wittinrinch EMPRESÁRIA

Estou passando bem a quarentena, aproveitando para rever muita coisa, principalmente minha relação com o tempo e com o que é mais essencial. Acredito que o que acontece em nossas vidas sempre é para nos ensinar algo. Estamos passando por um momento histórico e se soubermos aproveitar bem sairemos mais íntegros. Para a saúde mental, dentro do possível, estou tentando manter minha rotina, cuido bem da minha alimentação, faço exercícios físicos, pratico meditação, tento relaxar com as coisas que me dão prazer. Estou tentando colocar minha leitura em dia. Estudando proporção áurea que é um assunto que eu aprecio muito. Descobri um autor bem propício para o momento, Amit Goswani, que explica física quântica. No momento estou lendo o livro “Deus Não está Morto”, de sua autoria. Como hobby voltei a praticar violão, pois me ajuda a relaxar. No começo da pandemia li o livro “Em busca do sentido da vida”, de Viktor Frankl, um psicólogo que ficou preso em campo de concentração em Auschwitz. Foi uma grande lição para os dias que estavam por vir. Ele relata que a maioria dos que sobreviviam naquelas terríveis condições eram os que tinham um propósito de vida. Precisamos de um propósito e perceber acima de tudo, que nosso mundo interior é vasto.

Aprendi três coisas: paciência, paciência e paciência. Foi a única coisa que aprendi de verdade. Nem sei se aprendi ainda.

WITTI E SEU COMPANHEIRO DE 15 ANOS, JOÃO MARTINS DA COSTA, QUE MORREU DE COVID EM 30 DE MARÇO, NO RIO DE JANEIRO


114 OCULTO

As reações divergentes entre negros e brancos sobre a cultura negra

fotos FOTOMONTAGEM AYRTON CRUZ alve, família Oculto! Li e pesquisei muito esse assunto que está incomodando muita gente sobre brancos no hip hop. Assunto delicado com muitos pontos de vista, onde não engloba somente a música. Uma pessoa branca pode ou não usar turbantes? E dreads? O hip hop e o rap estão ficando brancos? Vestimentas e símbolos tradicionais das culturas africanas estão sendo desrespeitados? Essas são algumas das perguntas que circulam nas redes sociais no Brasil quando o debate sobre apropriação cultural ganha força. O tópico gera discussões acaloradas e posturas bem polarizadas sobre o modo como a cultura negra é usada por

tranças nos cabelos ou vestimentas que remetem às culturas negras. Justin Bieber, Kylie Jenner e uma festa inteira da Vogue, entre outros, já foram criticados por mudarem o visual dessa forma. Recentemente o debate voltou à tona após as primeiras imagens de um novo videoclipe de Anitta mostrarem a cantora usando tranças enquanto anda pelo Vidigal, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O direito de Anitta aparece de tranças levantou questões até que ponto ela seria branca ou negra o suficiente para usar o cabelo daquela forma entre internautas nas redes sociais. No mês passado, o rapper do Racionais, Ice Blue, por 60 minutos julgou rappers brancos que estão fazendo músicas, no seu entender, modernas à base de letras sem verdades e usando palavrões onde não representam a cultura musical hip hop; muitas

brancos e, até mesmo, pelos próprios negros em uma interminável fila de textos enormes e vídeos que percorrem na internet. Em fevereiro deste ano, a jovem branca Thuane Cordeiro reacendeu o debate ao postar uma foto e um texto em que diz ter sido abordada por uma mulher negra por usar um turbante em uma estação do metrô de São Paulo. A jovem sofre de leucemia e usava o pano para cobrir a cabeça careca em decorrência do tratamento quimioterápico. O caso levou a discussão sobre apropriação cultural no Brasil até aos noticiários nacionais e suscitou reações divergentes entre negros e brancos. Debate semelhante aconteceu em março de 2016, nos Estados Unidos. Uma mulher negra, funcionária da San Francisco State University confrontou um estudante branco por estar usando dreads enquanto andava na universidade. A situação filmada e postada na internet por um dos estudantes da instituição criou debates na web norte-americana, também com grande repercussão. Na imprensa em geral, as controvérsias sempre retornam toda vez que um famoso texto LEO COMIN ou famosa branca reaparece com um visual diferente, quase sempre usando dreads,

ofensas e apelidos às novas bandas que ganham notoriedade na cena musical, é necessário isso? Com muitas coisas ditas por ele eu concordo e algumas coisas não. O rap nacional também se debruça sobre a questão a partir do recente debate em torno do embranquecimento do gênero musical, em que artistas brancos começam a chamar mais atenção e receber mais prêmios do que os rappers negros que sempre estiveram nas cenas do hip-hop. Música para todos, ainda não há consenso sobre o que é de fato apropriar-se de uma outra cultura e por que isso tem a ver com racismo. Afinal, qual a importância desses debates e de quem é, de fato, a culpa pela apropriação cultural? Compreender essas questões vai muito além de saber quem usa ou deixa de usar símbolos negros ou heranças culturais africanas. O contexto em que esses usos acontecem é o que dá o tom para perceber o que é e o que não é apropriação intimamente ligados a hierarquias de cultura, raça e poder. Essas hierarquias estabeleceram o contexto e as interações moldadas entre o colonizador e colonizado notáveis em muitos contextos do século XIX na África, por exemplo. Falar da atual herança africana no Brasil é falar da cultura negra como algo único e homogêneo, sem considerar suas peculiaridades ao tratarmos de outros povos presentes na história do País.

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Vejam o rock‘n’roll, é um dos casos mais marcantes. Nasceu nos anos 50, nos EUA, segregado, dentro das comunidades negras e evoluiu do blues afro-americano, aglutinando elementos do jazz (também afro-americano) e do country. Artistas como Sister Rosetta Tharpe, Chuck Berry, Little Richards e Bo Didley obtiveram grande sucesso em meados dos anos 50 ao popularizar os chamados race records, denominação aplicada às canções escritas e interpretadas por negros nos EUA durante o período de segregação racial. Por algum tempo, o gênero viveu marginalizado na sociedade americana segregacionista associado à população negra, supostamente por incentivar “danças muito sensuais” e ter proximidade com o consumo de álcool e outras drogas. Algo semelhante ao que acontece com o funk no Brasil.

na indústria são representados por mulheres brancas: “A gente sabe que a Bahia, Salvador, o Estado e uma cidade que uma de suas sínteses é a cultura negra. Ora, como um Estado que tem uma cultura negra tão pujante não são os personagens negros que aparecem na cena globalizada? Porque eu sempre costumo insistir que o problema não é existir a Cláudia Leite nem a Ivete Sangalo. [O problema] é só elas serem as representativas da música baiana”, afirma. Mais recentemente, o caso do rap veio à tona no Brasil e nos Estados Unidos. Desde seu surgimento e consolidação nos EUA, nos anos 70 e 80, até à chegada ao Brasil nos anos 90, o estilo manteve-se hegemonicamente negro. A lista de artistas americanos e brasileiros que fizeram história no rap é interminável. No entanto, o crescimento do rap e do hip hop na indústria da cultura tem feito o jogo mudar. Segundo a RIAA

No entanto, os jovens das classes médias foram conquistados pelo novo ritmo oriundo das comunidades negras, em um período de ampliação de um mercado de consumidores que mirava a juventude branca. Elvis Presley, Beach Boys, Bill Haley and His Comets e Jerry Lee Lewis são alguns exemplos. Pouco a pouco, o mercado foi tomado pela popularidade de bandas e cantores brancos; Elvis tornou-se Rei do Rock. Em 10 anos, o rock‘n’roll havia sido assimilado pela lógica de produção cultural capitalista da época. E nos anos 60, os maiores artistas do gênero eram todos brancos, influenciados pela cultura

(Associação das Indústrias Fonográficas da América na sigla em inglês), o gênero movimenta cerca de 1,5 bilhões de dólares por ano. Parte da consequência é o surgimento de artistas brancos com cada vez mais evidência. Em 2014, os rappers brancos Macklemore e Ryan Lewis levaram as premiações de melhor música, melhor álbum e melhor performance de rap do ano contra artistas como Drake, Kanye West, A$AP Rocky e Kendrick Lamar no Grammy Awards daquele ano. Convivi por 20 anos com todos rappers possíveis, nacionais e internacionais, todos tratados com respeito sem exceções, respeito pela música e pelo trabalho de cada um, independente da cor.

negra passada. Como exemplo, pode-se citar as bandas inglesas Beatles, os Rolling Stones e o Cream, além das americanas The Doors e Jefferson Airplane. Entre os negros, no mainstream, apenas Jimi Hendrix e a banda multirracial Sly and the Family Stone. Ao longo do tempo de hegemonia musical do rock, poucas bandas negras chegaram aos holofotes do mainstream. Destacamse aqui o grupo de hard rock/funk metal Living Colour, o hardcore do Bad Brains e as múltiplas influências de Lenny Kravitz. O mesmo processo atinge gêneros musicais mais recentes na discussão sobre apropriação cultural. Em que a origem negra não é suficiente para manter o protagonismo negro de forma justa. A professora da Universidade Estadual de Londrina, Rosane Borges, cita o caso do axé baiano, em que os nomes mais conhecidos

Em entrevista recente, o rapper Emicida declarou que, como produtor cultural, ninguém tem o direito de dizer o que ele pode ou não usar em seu trabalho. Sua declaração traz a tona um processo constante na humanidade: as trocas e os empréstimos entre indivíduos e culturas são incessantes e, segundo a especialista em comunicação, Rosane Borges, inevitáveis. São tantos assuntos de pode e não pode, deve ou não deve, que isso cansa no nosso dia a dia, vamos todos nos unir para fazermos música, seja ela rap, jazz, samba, rock... Seja por brancos ou por negros, unidos sempre pelo bem da música. Use a roupa que você quiser. Faça seu estilo sem se preocupar. Se você se sente bem, use, faça, abuse e siga, ninguém paga suas contas para achar ou falar o que você deve fazer ou escrever. O rap é para todos, independente de raça, cor, credo e crença.

OCULTO

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MURAL DA MORAL

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QUE SAUDADE!

Uma seleção de momentos especiais fotos MARCO CEZAR

E

nquanto os dias passam e aguardamos com ansiedade o momento em que a vida voltará ao normal – que ainda não sabemos ao certo como será – nos vemos repetindo com cada vez mais frequência uma expressão que se encaixa perfeitamente nesse momento: “Que saudade!”... dá saudade da cervejinha no final de tarde, de abraçar amigos e até de apertar as mãos de desconhecidos. E das festas e baladas, então? A Mural 81 chegou às mãos de nossos leitores com o mesmo carinho e capricho, mas sem a tradicional festa. Nós acreditamos que é apenas uma fase, e queremos mostrar a vocês que as coisas vão ficar bem e que estaremos sempre juntos. Para isso, nada como uma seleção de momentos especiais, que mostram quanta felicidade já compartilhamos ao longo de 80 edições. Elas servem como estímulo e aviso: logo, logo tudo volta ao normal, e sempre com a Mural!

BAHIA E MARINA

DANIEL ARAÚJO E CAROL

RAFA COSTA, LEO COMIN E JÉSSICA MUELLER


MURAL DA MORAL

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BRUNA, JÉSSICA E FLÁVIA DIEGO ARAGÃO E STEFANIA NASCIMENTO

FORMIGA E CAROL ROSA

SEU JORGE

TURMA DO NEGRÃO COSTELARIA

LARISSA VASCONCELOS E AMAURI JÚNIOR

SABRINA BENTO

FAMÍLIA MENEZES

LUIZ TEDESCO E GISELA

LEO, ANGÉLICA, LAURA, CARLA E CESAR

DJ HENRIQUE FERNANDES

KADU ALMEIDA E ÂNGELA

THAMI BITENCOURT

CAIO CEZAR

TURMA DA VANESSA

MIRIAM ÁVILA JULIANA E TCHELLO DIPIETRO BRANDÃO

GIBÃO

JUSSARA DEMAJU

RODRIGO, ALOÍSIO, JOÃO, TONIOLO E CLAUDINHO SABONETE


MURAL DA MORAL

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ELIANE KOERICH E MÁRCIA KOERICH

DOUGLAS E CINTHIA

CARLA

MARCO MEDEIROS

NATHALIA COSTA E RODRIGO GREGO

ROMÁRIO

KARINA ELISA E DJALMA SOARES

JULINHO E JOÃO PEDRO

RICARDO SAPORITI E DENISE

FABIOLA BORTOLUZZI E ÁLVARO BERTOLI

THAYLA, JU, ANA PAULA E BRUNA

GANGAN RICHETER

GUSTAVO E LUCIANO SAPORITI

CRIS E CLAUDIO GASTÃO DA ROSA FILHO

NANY MACHADO

CRISITINHA, LUCINHA, TUTU, JÚLIA, BETINA E CINARA

PAULO TONIETTO E MARISOL

LOUISUIANE E TULLO CAVALLAZZI

EGÍDIO MARTORANO E RÔ CAMPOS

RENATO SÁ E FERNANDA BORNHAUSEN

CAROL E RODRIGO BECKER


SC-401

PEDRA BRANCA

RIO TAVARES

ALVES DE BRITO

0 costelariasc401@gmail.com Rodovia SC-401, 7626 Santo Antônio de Lisboa Florianópolis/SC | CEP: 88050-000

0 costelariapedrabranca@gmail.com Rua da Pedra, 241 Pedra Branca Palhoça/SC | CEP: 88137-086

0 costelariariotavares@gmail.com Rod. Dr. Antônio Luiz Moura Gonzaga, 3339 – Rio Tavares Florianópolis/SC | CEP: 88048-301

0 costelariaalvesdebrito@gmail.com Rua Alves de Brito, 161 Centro Florianópolis/SC | CEP : 88015-440

1 48 3338-2850

1 48 3283-0164

1 48 3207-5015

1 48 3085-0655

TER-SEX: 11h30 às 23h SÁB-DOM: 11h30 às 17h

TODOS OS DIAS: 11h30 às 16h30

TER-SÁB: 11h30 às 22h DOM: 11h30 às 20h

TODOS OS DIAS: 11h30 às 16h30


MURAL DA MURAL

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TURMA DO ZAMBON

THAUANY BRANDÃO

FLAVINHO, BADECO, SALUM E ZECO

MARCELO LEAL E RAFAELA GAIDZINSKI

DANI E O PEDRO QUEIROZ

FERNANDA MOTTA

BRUNA SOUZA

THAIS OLIVEIRA

VALENTINA BECKER

LUIZA FREYLESBEN

ALESSANDRA AMBROSIO

CLARISSE E IKE GEAVAERD

BIBI SOUZA

TURMA DA FRANCINE MENDES SOUZA

SHIRLEI ALBUQUERQUE

BEATRIZ HALSPAZ E JOANNA MELLO

PARIS BECKER

LUCIANA MARQUES

RONALDINHO GAÚCHO

JÉSSICA MUELLER

MARINHO MARCONDES


Avenida dos Búzios . 1136 . Jurerê Internacional . Florianópolis . SC 48 3364.5997 . jaybistro@hotmail.com . www.jaybistro.com.br


MURAL DA TOCA

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TOCA PRA TOCA

Venha para uma experiência única em gastronomia, onde o sabor marcará sua vida fotos DIVULGAÇÃO

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os últimos meses tivemos o prazer de receber personalidades da Ilha, da música, do esporte e da cultura brasileira. Venha você também conferir as delícias da Toca da Garoupa. Com uma cozinha especializada em frutos do mar, com ingredientes frescos e de qualidade para você sentir um sabor inesquecível. Confira as fotos na Mural.


MURAL DA TOCA

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MURAL GNB

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REABRINDO COM CONFORTO E SEGURANÇA A reabertura das casas do Grupo Novo Brasil com todo o sabor da gastronomia exclusiva

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NAYARA SILVEIRA JACOBINA

ANE KAROL, MIRELLA AGUIAR E MANOELA SIQUEIRA

s casas do Grupo Novo Brasil reabriram trazendo todo sabor da gastronomia exclusiva para Jurerê Internacional com o Acqua, Ammo Beach e Donna, além de uma nova estrutura na areia da praia para atendimento à beira-mar, e no centro da Capital com o Art’s Gastronomia e Música. Os menus são assinados pelos chefs peruanos Hugo Olaechea e Sara Sanchez que desenvolvem cardápios especiais para cada restaurante, inspirando-se nas tendências e lifestyle de cada um. A culinária descomplicada e sofisticada aguça os mais requintados paladares e abraça muitos sabores e culturas. Os restaurantes estão recebendo o público seguindo todas as recomendações obrigatórias para oferecer uma experiência gastronômica com todo conforto e segurança, permitindo aproveitar todos os momentos em família e com os amigos.

ENI DELA JUSTINA

AMAURY SILVA JR E LARISSA HEINECK DE VASCONCELLOS


MURAL GNB

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ELYESER, DANIELE KRELING E NICOLLE CASAGRANDE

FLÁVIO HIPÓLITO, CARLINHOS SILVA, VICTOR GUERREIRO E IVAN BEDNARSKI

ARTHUR MAGALHÃES

VERIDIANA FREITAS E WILLIAN DEGENHARDT

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NOELE BORGES E VALENTINA DAL PAI ALMEIDA

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MARIA EDUARDA, MARILESE CONTE, VALENTINA CONTE GRIPA E VALMIR GRIPA

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