Inventário Participativo da celebração do Bom Jesus dos Passos em Oeiras - Piauí.

Inventário Participativo da celebração do Bom Jesus dos Passos em Oeiras - Piauí FRANCISCO STEFANO FERREIRA DOS SANTOS

Inventário Participativo da celebração do Bom Jesus dos Passos em Oeiras - Piauí FRANCISCO STEFANO FERREIRA DOS SANTOS

FRANCISCO STEFANO FERREIRA DOS SANTOS

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INVENTÁRIO PARTICIPATIVO DA CELEBRAÇÃO DO BOM JESUS DOS PASSOS EM OEIRAS - PIAUÍ

Trabalho Final apresentado ao Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, como requisito para obtenção do grau de Mestre.

Edital nº. 04/2018 4ª Turma | 2018-2020 Orientadora Prof.ª. Drª. Áurea da Paz Pinheiro

2020

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2 © Copyright 2020 Francisco Stefano Ferreira dos Santos INVENTÁRIO PARTICIPATIVO DA CELEBRAÇÃO BOM JESUS DOS PASSOS EM OEIRAS - PIAUÍ Créditos: Este é o relatório dos resultados finais da pesquisa-ação sob o título “Inventário Participativo da Celebração do Bom Jesus dos Passos em Oeiras - Piauí”, desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, Mestra-do Profissional da Universidade Federal do Piauí | Universidade Federal do Delta do Parnaíba.

Universidade Federal do Piauí | Universidade Federal do Delta do Parnaíba Reitor da Universidade Federal do Piauí Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes Vice-reitora da Universidade Federal do Piauí Profª. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira Pró-reitor de Ensino de Pós-graduação da Universidade Federal do Piauí Profª. Dra. Regina Lúcia Ferreira Gomes Reitor da Universidade Federal do Delta do Parnaíba Prof. Dr. Alexandro Marinho Oliveira Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia Profª. Drª. Áurea da Paz Pinheiro Orientação Profª. Drª. Áurea da Paz Pinheiro Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica Victor Veríssimo Guimarães

S237i

Santos, Francisco Stefano Ferreira dos Inventário participativo da celebração do Bom Jesus dos Passos em Oeiras Piauí / Francisco Stefano Ferreira dos Santos. – 2020.

120 f.: il. color Trabalho Final de Mestrado – Universidade Federal do Piauí | Universidade Federal do Delta do Parnaíba, Programa de Pós-Graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, Parnaíba, 2020.

Orientação: Prof.ª Dr.ª Áurea da Paz Pinheiro.

1.Patrimônio cultural 2. Inventário Participativo 3. Bom Jesus dos Passos I. Pinheiro, Áurea da Paz II. Título CDD 363.69

3 INVENTÁRIO PARTICIPATIVO DA CELEBRAÇÃO DO BOM JESUS DOS PASSOS EM OEIRAS - PIAUÍ

Trabalho Final apresentado ao Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia, da Universidade Federal do Piauí | Universidade Federal do Delta do Parnaíba, como requisito para a obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Profª. Drª. Áurea da Paz Pinheiro

Trabalho apresentado e aprovado em: 14 de agosto de 2020.

BANCA EXAMINADORA Profª Drª Áurea da Paz Pinheiro (Orientadora | UFPI) Prof. Dr. Fernando António Baptista Pereira - UFPI / LISBOA Avaliador Interno Profª. Drª. Rita de Cássia Moura Carvalho - UFPI/UFDPar Avaliadora Interna - Suplente Profª. Drª. Marta Rosa Borin - UFSM Avaliadora Externa

Luís Correia 2020

5 DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Eu, Francisco Stefano Ferreira dos Santos declaro que este trabalho, intitulado Inventário Participa-tivo da Celebração do Bom Jesus dos Passos em Oeiras - Piauí, é o resultado de meus estudos e intervenções no Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) | Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar). O conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tais como todas citações diretas ou indiretas têm a devida indicação ao longo do trabalho, segundo as normas da Asso-ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Francisco Stefano Ferreira dos Santos

Parnaíba (PI), 14 de agosto de 2020

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A José Alves Ferreira (Cabi), Abdias Viana dos Santos (meu Pai) e José de Helena (jardineiro fiel do Povo de Oeiras).

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Agradecimentos

Ao Bom Jesus dos Passos e a Maria Santíssima, que guiam minha caminhada! Às minhas amadas Mães, Doiô e Roseni, pelo amor e o carinho de sempre. À minha amada família, em especial aos meus irmãos, Vânia, Rossana, Abdias Júnior e Gabriela, pelo apoio e motivação constante, bem como meus tios, sobrinhos, cunhados e primos, pela admiração e respeito.

A Pedro Dias de Freitas Júnior, meu companheiro de todas as horas, que compartilhou comigo dessa intensa imersão, proporcionada pelo Mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia. À minha professora, orientadora e amiga, Áurea da Paz Pinheiro, por me ter proporcionando construir um novo olhar sobre o patrimônio. À professora e amiga, Cássia Moura, pela ajuda sempre presente e as lindas fotografias que ilustram este livro.

Aos meus colegas de Mestrado da Turma quatro, em especial a Danilton Nobrega (In Memoriam), pelo companheirismo.

A comunidade do Bairro Coqueiro em Luís Correia pelo acolhimento.

Aos componentes da Equipe deste Inventário, bem como a todos os atores en-volvidos, cuidadores, floristas, associadas do Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus, nessa rica e complexa manifestação de fé do povo oeirense.

A minhas amigas, Cassandra Barroso e Cineide Pacheco, parceiras na vida e no trabalho.

Aos devotos e devotas do Bom Jesus dos Passos, pelo amor à tradição.

E aos amigos da “Casinha da Praia do Coqueiro” pela convivência e aprendizado que levarei por toda a vida.

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Sede em meu favor, Deus Onipotente.

Vinde, socorrei-nos, Sede diligente.

Ofício do Bom Jesus dos Passos

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Resumo

O objetivo desta pesquisa-ação foi construir um Inventário Participativo da Celebração de Bom Jesus dos Passos, que ocorre no sertão do Piauí, desde o início do século XIX, na cidade de Oeiras, primeira capital do Piauí. Os rituais de celebração fazem parte da liturgia da Semana Santa, iniciam ainda na quinta-feira da semana anterior à Santa, com a Procissão da Fugida, com a saída em Procissão da imagem do Bom Jesus da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória em direção à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, onde permanece por toda a noite.

No dia seguinte, às quatro horas da tarde, em uma via sacra em estilo português, a imagem segue em Procissão. São mais de 30 mil pessoas, em oração, algumas vestidas em roxo ou a carregar ex-votos, a percorrer as ruas estreitas da antiga e bem preservada cidade colonial. Os ritos são atravessados por símbolos, sentidos e significados, tais como a cor roxa das vestes das imagens do Bom Jesus dos Passos, Nossa Senhora, e romeiros, muitos dos quais pagadores de promessas.

Os cantos da liturgia são um híbrido do erudito e popular, os personagens bíblicos são apresentados de forma teatral pelos cuidadores envolvidos na tradição secular, assim como nos objetos sacros em prata e madeira. São mais de vinte e quatro horas de intensos ritos, que incluem orações, penitências, e manifestações de fé que fazem desta celebração uma das mais emblemáticas do Piauí.

Neste trabalho, os procedimentos metodológicos constam de ações teóricas e práticas, na concepção de um Inventário de natureza participativa, como proposto por Hugues de Varine, e também pelo Manual de Aplicação do Inventário Nacional de Referências Culturais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, técnica de pesquisa para produzir conhecimento sobre os domínios da vida social aos quais são atribuídos sentidos e valores e que, portanto, constituem marcos e referências de identidade para determinado grupo social; técnicas que se associam à história oral e etnografia, o que inclui a imersão do pesquisador na Comunidade, coleta de dados, entrevistas temáticas, registros em áudio, vídeo e fotografias. Assim, buscamos, ao logo da pesquisa, documentar para salvaguardar a celebração como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, o reconhecimento desse patrimônio como acervo cultural não apenas local, mas nacional. Como resultados, produtos e serviços, associados a este trabalho, construímos um Livro Inventário, bem como um Documentário sobre o processo participativo que nomeamos de Inventário Doc, que revelam a diversidade de pessoas envolvidas na celebração como cuidadoras das imagens, dos passos, capelas situadas no Centro Histórico, rezadeiras, promesseiros, representantes do clero e jovens de diversos bairros e comunidades rurais da cidade de Oeiras e entorno.

Palavras-chaves: Patrimônio Cultural. Inventário Participativo. Bom Jesus dos Passos. Oeiras. Piauí.

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Abstract

The objective of this action research was to build a participatory inventory of the celebration of Bom Jesus dos Passos, which has been taking place in the hinterland of Piauí since the beginning of the 19th century, in the city of Oeiras, Piauí’s first capital. The rituals of the celebration are part of the liturgy of Holy Week, they begin on the Thursday of the week before the saint, with the Procession of the Fugida, with the departure in procession of the image of Good Jesus from the Mother Church of Nossa Senhora da Vitória towards the Church of Nossa Senhora do Rosário, where it remains all night long. The following day, at four o’clock in the afternoon, in a Portuguese style Way of the Cross, the image continues in procession, there are more than 30 thousand people, in prayer, some dressed in purple or carrying ex-vows, walking through the narrow streets of the old and well preserved colonial city. The rites are crossed by symbols, senses and meanings; the purple colour of the vestments of the images of Bom Jesus dos Passos, Nossa Senhora, romeiros, many of whom are payers of promises. The songs of the liturgy are a hybrid of the erudite and popular, the biblical characters are presented in a theatrical way by the caretakers involved in the secular tradition, as well as the sacred objects in silver and wood. There are more than twenty-four hours of intense rites, which include prayers, penances, and manifestations of faith, making this celebration one of the most emblematic in Piauí. In this work, the methodological procedures consisted of theoretical and practical actions, in the conception of an inventory of a participatory nature as proposed by Hugues de Varine, as well as the Manual of Application of the National Inventory of Cultural References of the Institute of National Historical and Artistic Heritage, a research technique to produce knowledge about the domains of social life to which senses and values are attributed and which, therefore, constitute milestones and references of identity for a given social group; techniques that are associated with oral history and ethnography, which includes the immersion of the researcher in the community, data collection, thematic interviews, audio, video and photographic records. Thus, we seek to document the celebration as an intangible cultural heritage of Brazil, the recognition of this heritage as a cultural collection not only local, but national.

As results, products and services, associated to this work we have built an inventory book, as well as a documentary about the participatory process that we have named InventárioDoc, which reveals the diversity of people involved in the celebration as caretakers of the images, steps, chapels located in the Historical Center, prayer servers, promessors, representatives of the clergy and young people from various neighborhoods and rural communities in the city of Oeiras and surroundings.

Keywords: Cultural Heritage. Participative Inventory. Bom Jesus dos Passos.

Oeiras. Piauí.

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Lista de Ilustrações Figura 1 .

Figura 2 .

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Figura 30 .

Manuscrito de Oeyras do Piauhi. Autoria desconhecida, fins do século XVIII Interior da Igreja de Nossa Senhora do Rosário no dia da Procissão da Fugida Interior da Igreja de Nossa Senhora do Rosário no dia Procissão da Fugida Romeiros tocando a túnica da imagem do Bom Jesus Saída da Procissão pelo Largo do Rosário Flâmula (Guião) com inscrição em latim Canto de lamento de Verônica (Maria Beú) Banda Santa Cecília Encontro das imagens do Bom Jesus dos Passos e Nossa Senhora das Dores Roteiro da Procissão de Bom Jesus dos Passos, no Centro Histórico de Oeiras Chegada da Procissão da Fugida na Igreja do Rosário Membro da Irmandade da Misericórdia de São Roque antes da saída da Procissão do Bom Jesus dos Passos - Lisboa, Portugal Membro da Irmandade da Misericórdia na saída da Procissão da Igreja de São Roque em Lisboa, Portugal Membro da Irmandade da Misericórdia carregando a Imagem do Bom Jesus dos Passos pelo Bairro Alto-Lisboa-Portugal Imagem de Nossa Senhora das Dores. Procissão dos Passos em Lisboa-Portugal Estandarte da Irmandade da Misericórdia da Igreja de São Roque em Lisboa-Portugal Procissão do Bom Jesus dos Passos na Igreja de São Roque em Lisboa - Portugal Procissão do Bom Jesus dos Passos na Igreja de São Roque - Lisboa - Portugal Aula Pública sobre a proposta de Inventário da Celebração dos Passos em Oeiras, PI Aula Pública sobre a proposta de Inventário da Celebração dos Passos em Oeiras, PI Aula Pública sobre a proposta de Inventário da Celebração dos Passos em Oeiras, PI. Pronunciamento da Coordenadora Programa de Mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia (UFPI), Profa. Dra. Áurea da Paz Pinheiro Roda de Conversa Diálogos, Café e Memórias 1. Cuidadoras e Carregadoras da Imagem de Nossa Senhora das Dores Roda de Conversa Diálogos, Café e Memórias 1. Cuidadoras e Carregadoras da Imagem de Nossa Senhora das Dores Cuidadora das Roupas de Nossa Senhora das Dores Cuidadora das Roupas de Nossa Senhora das Dores Cuidadora das Roupas de Nossa Senhora das Dores Cuidadores da Imagem do Bom Jesus dos Passos Resplendor do Bom Jesus dos Passos Guião usado na Procissão dos Passos Lanterna em Prata usada na Procissão dos Passos

20 Figura 31 .

Figura 32 .

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Figura 40 .

Figura 41 .

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Varas do Pálio em prata usada na Procissão dos Passos Cruz em Madeira carregada pela Imagem do Bom Jesus na Procissão Pálio Roxo usado na Procissão do Bom Jesus na Procissão Imagem de Nossa Senhora das Dores Imagem de Nossa Senhora das Dores Imagem de Nossa Senhora das Dores Imagem de Nossa Senhora das Dores Imagem do Bom Jesus dos Passos Detalhe da Imagem do Bom Jesus dos Passos Detalhe da Imagem do Bom Jesus dos Passos Imagem do Bom Jesus dos Passos e Nossa Senhora das Dores no Altar Entrevista com os Representantes do Clero da Diocese de Oeiras

Gráficos Gráfico 1 .

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Gráfico 3 .

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Gráfico 5 .

Gráfico 6 .

Gráfico 7 .

Gráfico 8 .

Gráfico 9 .

Religião Participação da celebração Se já frequentou a Celebração, informe por meio de: Na Celebração dos Passos, sente-se um participante?

Como analisa a participação da população na Procissão?

Identifica a Celebração dos Passos como um importante Patrimônio Cultural de Oeiras e do Piauí?

Pela riqueza cultural da Celebração e sendo importante para a preservação da memória, entende que é necessário seu registro, documentação e comunicação?

Como Comunidade e pertencente a instituições culturais e de salvaguarda, percebe conflitos e mudanças ao longo dos anos que podem modificar a tradição secular na Celebração?

Defender um Inventário Participativo é o melhor instrumento para potencializar o registro dessa Celebração como Patrimônio Cultural do Brasil?

Mapas Mapa 1 .

Mapa 2 .

Mapa 3 .

Mapa 4 .

Mapa 5 .

Rotas de expansão da pecuária no Nordeste e vilas fundadas até meados do século XVIII Nova et accurata brasiliae totius tabula. BLAEU, Joan. 1640 Área territorial de Oeiras no último Censo (2010 População residente de Oeiras (Unidade: pessoas em 2010) Localização do município de Oeiras

Quadros Quadro 1 . Pessoas-referências da Comunidade

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Sumário INTRODUÇÃO [

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PÚBLICO-ALVO [ PROBLEMA [

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OBJETIVOS [ 41 ] 4.1 Objetivo Geral [ 41 ] 4.2 Objetivos Específicos [ EQUIPE [

41 ]

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JUSTIFICATIVA [

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REVISÃO DE LITERATURA [ 51 ] 7.1 Passos: Histórias e Contextos [ 51 ] 7.2 Etnografia dos passos: relatos e imersões [ 55 ] 7.3 Um olhar folkcomunicacional [ 55 ] 7.4 Outras Referências: Portugal, Espanha, Açores e Macau [ 7.5 Os Passos no Brasil [ 66 ]

57 ]

MÉTODOS E TÉCNICAS [ 69 ] 8.1 Tipo de Pesquisa [ 73 ] 8.2 Local de Estudo [ 74 ] 8.3 Coleta de Dados [ 79 ] 8.3.1 Materiais [ 80 ] 8.4 Análise dos Dados / Informações [ 81 ] 8.5 Aspectos Éticos [ 81 ] 8.6 Boas Práticas [ 81 ] 8.6.1 O Inventário do Círio de Nazaré [ 81 ]

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RISCOS [

85 ]

MEMORIAL DESCRITIVO DOS PRODUTOS E SERVIÇOS: CONSIDERAÇÕES PARCIAIS SOBRE O INVENTÁRIO PARTICIPATIVO DA CELEBRAÇÃO DOS PASSOS EM OEIRAS-PIAUÍ [ 87 ]

11

CONCLUSÃO [

REFERÊNCIAS [

115 ]

117 ]

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Introdução Elaborar um Inventário Participativo da Celebração do Bom Jesus dos Passos, que ocorre no Sertão do Piauí, na primeira capital (desde 1852), Oeiras, no século XVIII, foi o objetivo deste trabalho. Esta pesquisa, de natureza ação, nos permitiu documentar para comunicar e propor políticas de salvaguarda da Celebração como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.

O Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro e criou o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial: Art. 1º Fica instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro. § 1º Esse registro se fará em um dos seguintes livros: I - Livro de Registro dos Saberes, onde serão inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades; II - Livro de Registro das Celebrações, onde serão inscritos rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social; III - Livro de Registro das Formas de Expressão, onde serão inscritas manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas; IV - Livro de Registro dos Lugares, onde serão inscritos mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas. § 2º A inscrição num dos livros de registro terá sempre como referência a continuidade histórica do bem e sua relevância nacional para a memória, a identidade e a formação da sociedade brasileira (grifo nosso).

A Celebração é reconhecida pela população local como parte de suas memórias e histórias de vida, de seu patrimônio, portanto, é da Comunidade religiosa de Oeiras que parte esta demanda pelo inventário para sua salvaguarda.

A primeira capital do Piauí, Oeiras, é uma cidade marcada por símbolos do catolicismo, onde os valores culturais estão ligados à presença da Igreja Católica. As igrejas seculares fazem parte da paisagem urbana, são símbolos de fé e religiosidade. Citemos a imagem de Nossa Senhora da Vitória, no Morro do Leme e da Cruz de Pedra, fincada no mirante da cidade.

24 O cenário colonial nos remete ao século XVIII, há um conjunto arquitetônico eclesiástico significativo. A Catedral de Nossa Senhora da Vitória, construída em 1733, guarda valiosas relíquias, a arte barroca com imagens de anjos e santos; altar de tábua de retalhos são zelados com devoção pelas famílias oeirenses. O escritor José Expedito Rêgo, no hino aos 259 anos da Catedral de Oeiras, diz na estrofe inicial que: “Foi aqui ao redor de Teu vulto que a cidade surgiu e cresceu”. A Igreja Matriz é o coração da cidade.

O território que hoje abriga a cidade foi desbravado no século XVII pelo vaqueiro e colonizador Domingos Afonso Sertão, que instalou à margem do riacho Mocha a fazenda Cabrobó, que deu origem ao primeiro povoado do Piauí (Figura 1). Mas seu marco de formação religiosa se deu com a instalação da Freguesia de Nossa Senhora da Vitória do Brejo da Mocha em 1697.

Figura 1 - Manuscrito de Oeyras do Piauhi. Autoria desconhecida, fins do século XVIII.

Fonte: Original Manuscrito da Biblioteca Nacional de Lisboa.

Cópia extraída de Reis (2000, p. 139).

Os padres jesuítas Miguel de Carvalho e Thomé de Carvalho, vindos de Pernambuco, tinham o propósito de marcar as novas terras com o sinal de Cristo, pelas mãos da Virgem, representada pela imagem trazida pelos sacerdotes.

25 A capela foi erguida no mesmo local onde hoje está a Matriz de Oeiras. Era simples, feita de taipa e coberta de palhas, caracterizando o tipo de construção vernacular, tipo de construção em que se usam materiais e recursos do próprio ambiente em que a edificação é feita com técnicas passadas de geração a geração, que marcou o início da colonização católica no Piauí.

Nenhuma cidade é portuguesamente brasileira se não nasce ao derredor de uma igreja. E Oeiras não é diferente, cresceu sob o vulto da velha matriz, criando através do povo, forma de materializar a fé e a crença sertaneja, organizando ciclos de festas religiosas, mesclando o calendário da cidade com a devoção aos santos e santas (CARVALHO JR., 2010, p. 65).

A Semana Santa é uma das emblemáticas celebrações religiosas de Oeiras.

As ruas estreitas e becos históricos ficam repletos de romeiros, pagadores de promessas a cantar e louvar. Representa para os católicos o coração do ano litúrgico, celebram-se a paixão, morte e ressureição de Jesus Cristo.

Antes de iniciar a Semana Santa, na condição de católicos, nos preparamos para o período da Quaresma, quarenta dias da Quarta-feira de Cinzas, quando os fiéis são marcados na testa com uma borra torrada de palha de carnaúba, sinalizando a condição de pecadores que precisam se redimir diante de Jesus e de seu Pai; até a Quinta-feira da última ceia, quando Jesus lavou os pés dos doze apóstolos e fez com eles a ceia final, antes de ser crucificado.

Durante a Quaresma acontecem as vias sacras, repetidas nas quartas e quintas-feiras na Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória, um ritual de condenação, crucificação e ressurreição de Jesus Cristo. Os fiéis lotam a Matriz vestidos de roxo, a cor da penitência, do sofrimento e do luto pela morte do filho de Deus.

Durante esse período de quarenta dias, os fiéis fazem promessas e acreditam que vestindo roxo estão mais próximos de Bom Jesus dos Passos.

Segundo o historiador Dagoberto de Carvalho, a devoção acontece há aproximadamente 300 anos. Contudo, um fato curioso reafirmou a origem remota da Celebração. Na planta da cidade, de 1809, já aparecem pequenas edificações conhecidas como “passos”, em número de cinco, representando cada uma das estações da via sacra. São pequeninas capelas dispostas ao Conjunto Histórico e Paisagístico de Oeiras, lugares por onde passa a Procissão, o cortejo com orações e bênçãos. Os “passos” têm a parte da frente voltada para o poente, demostrando o morrer e o nascer do Sol, num ato que simboliza a ressureição de Jesus Cristo.

A Semana Santa em Oeiras começa na Quinta-feira que antecede a Quinta-feira da Paixão, a Celebração em honra ao Bom Jesus dos Passos. Segundo a professora Espírito Santo Rêgo, no livro Oeiras Tradição e Fé, a partir das quinze horas do mesmo dia, sempre de meia em meia hora, os sinos da Catedral dobram um som solene, específico e preparado para a Quinta e Sexta de Passos.

Os sinos, ao dobrar, parecem chorar, trazendo para a cidade uma atmosfera de tristeza e piedade, perceptível na fisionomia dos fiéis ao verem representa-

26 da a dor vivida por Bom Jesus dos Passos. Os sons dos sinos seculares fazem um chamamento para as pessoas de longe e de perto chegarem diante da velha Igreja. Aos pés do Santo, rogam a Deus uma prece. O badalar dos sinos trazem muitos romeiros, vindos da zona rural em verdadeiras romarias, de outras cidades, do interior do Estado, da Capital, de outros Estados. O cenário urbano se transforma. Às dezenove horas, a Catedral (Igreja Matriz) é tomada pelos romeiros, que assistem atentos à missa da Quinta-feira da Fugida, termo que simboliza a fuga de Jesus Cristo para o Monte das Oliveiras, onde, segundo a tradição bíblica, precisava rezar e preparar o espírito para a via dolorosa e para os momentos de flagelo.

A missa chega ao final. Diante da imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos, em andor datado de 1856, acontece a cerimônia do canto do Miserere, versão musicada à capela do Salmo 50, feita pelo compositor italiano Gregorio Allegri.

Miserere, palavra com a qual começa, na sua tradução latina, a Vulgata. É o Salmo mais conhecido de arrependimento pelo pecado e faz parte do número dos “salmos penitenciais”.

1. Ao director do coro. Salmo de David.

2. Quando o profeta Natan foi ao seu encontro, depois do adultério com Betsabé.

3. Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade, pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado.

4. Lava-me de toda a iniquidade, purifica-me dos meus delitos.

5. Reconheço as minhas culpas e tenho sempre diante de mim os meus pecados.

6. Contra ti pequei, só contra ti, fiz o mal diante dos teus olhos, por isso é justa a tua sentença e recto o teu julgamento.

7. Eis que nasci na culpa e a minha mãe concebeu-me em pecado.

8. Tu aprecias a verdade no íntimo do ser e ensinas-me a sabedoria no íntimo da alma.

9. Purifica-me com o hissope e ficarei puro, lava-me e ficarei mais branco do que a neve.

10. Faz-me ouvir palavras de gozo e alegria e exultem estes ossos que trituraste.

11. Desvia o teu rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas culpas.

12. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, renova e dá firmeza ao meu espírito.

13. Não me afastes da tua presença, nem me prives do teu santo Espírito!

14. Dá-me de novo a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito generoso.

15. Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos e os pecadores hão de voltar para ti.

16. Ó Deus, meu salvador, livra-me do crime de sangue, e a minha língua anunciará a tua justiça.

27 17. Abre, Senhor, os meus lábios, para que a minha boca possa anunciar o teu louvor.

18. Não te comprazes nos sacrifícios nem te agrada qualquer holocausto que eu te ofereça.

19. O sacrifício agradável a Deus é o espírito contrito, ó Deus, não desprezes um coração contrito e arrependido.

20. Pela tua bondade, trata bem a Sião, reconstrói os muros de Jerusalém.

21. Então aceitarás com agrado os sacrifícios devidos, os holocaustos e as ofertas, então serão oferecidos novilhos no teu altar (BÍBLIA AVE MARIA, 2002).

Várias vozes entoam as estrofes lamuriosas e tocantes, que chegam a arrancar lágrimas dos devotos. Mantendo a tradição, a imagem é coberta por um dossel roxo para que não a vejam, representando a fuga, o esconder-se dos centuriões romanos. Após a cerimônia, a imagem sai da Catedral em Procissão, carregada por homens, em direção à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que fica em uma área elevada da cidade, uma espécie de colina, o Bairro do Rosário, habitado por remanescentes de populações escravizadas quando da colonização portuguesa no Piauí. A Igreja representa, na tradição Oeirense, o Monte das Oliveiras. No templo católico, a imagem é venerada durante toda a noite (Figuras 2 e 3).

Figura 2 – Interior da Igreja de Nossa Senhora do Rosário

Fonte: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras, 2017.

28 Figura 3 – Interior da Igreja de Nossa Senhora do Rosário

Fonte: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras, 2017.

A Procissão da Fugida segue até o Rosário em silêncio, rompido apenas pelos sinos da Catedral e da Igreja do Rosário. Até a década de 1960, apenas os homens acompanhavam a Procissão. Hoje, homens e mulheres, em aproximadamente uma hora, acompanham a Procissão de Fugida.

Quando chegam à Igreja do Rosário dos Pretos, o dossel, uma espécie de cortina portátil, quadrilongo de tecido decorado com franjas, sustentado por hastes, é retirado e a imagem é descoberta. Novamente é cantado o Miserere e os sacerdotes incensam a imagem de Bom Jesus dos Passos, como sinônimo de divindade. É feita a aspersão da água benta e a benção sacerdotal. Sobre a cabeça do Bom Jesus está o resplendor de prata, fazendo jus a sua condição de rei. O Horto do Bairro Rosário – já ornado com plantas nativas da região, o Alecrim, planta da espécie Rosmarinus officinalis e flores artesanais de “passo”, feitas de forma artesanal, com papel de seda laminado, colados com cera de abelha e com suporte em talos de buriti ou coco – se transforma no Santuário do Senhor Bom Jesus. O aroma do alecrim torna o ritual místico; essência perfumada do Santo devoto de Oeiras, é o odor da redenção dos devotos.

A túnica roxa do Santo é constantemente tocada pelos fiéis, que aí depositam esmolas, pedidos de cura do corpo e da alma. O olhar expressivo da imagem oitocentista emociona os romeiros, que não cansam de tocar a cruz, nos cabelos e na coroa de espinhos sobre a cabeça de Bom Jesus (Figura 4).

29 Figura 4 - Romeiros tocando a túnica da imagem do Bom Jesus

Fonte: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras, 2017.

Durante a noite da Quinta para a Sexta-Feira dos Passos, as famílias católicas de Oeiras ornam as capelas dos Passos com André-Miúdo, planta nativa da região, com o Alecrim, para perfumar o ambiente sagrado, e com as flores de passos, como são conhecidas em Oeiras.

As flores são, segundo Francisco Rêgo, um dos devotos, responsáveis por preparar a imagem de Bom Jesus, suas origens não são conhecidas, sabe-se apenas que existem em Oeiras e fazem parte da alegoria da Celebração, oferecem alegria e beleza às estações da via-crúcis. Segundo Rêgo, os Passos têm sua frente voltada para o poente, demostrando o morrer e o nascer do Sol, uma metáfora da ressureição.

Quando o Sol nasce na Sexta-Feira, dia do Bom Jesus dos Passos, a igrejinha do Rosário repica o sino das seis horas, despertando a cidade. As ruas, ornadas com flâmulas roxas, acenam para os romeiros que chegam em caravanas para assistirem à primeira missa do dia na Catedral.

Ao meio dia da Sexta-Feira é rezado o Ofício dos Passos na Igreja do Rosário.

Centenas de fiéis participam. O ofício é melodiado por vozes que ora rezam, ora cantam o martírio de Jesus Cristo, e relata nas vozes dos fiéis a paixão e morte de Bom Jesus; a assembleia de participantes faz um ato de contrição, pedindo perdão a Deus pelo sofrimento de redentor. Para os romeiros é um momento de graça e de pedidos ao Santo.

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O ofício dos Passos é constituído de rezas e cantos dos quais o padre não participa: são os devotos que o celebram. Aí a religiosidade ocorre de forma concentrada, com forte conteúdo messiânico e nordestino.

O ofício dos Passos possui mais de 400 versos, divididos em dez partes.

São versos decassílabos e redondilhas, cantados ou declamados sob forma de oração. Sua composição guarda semelhanças com os versos dos romances de feira do Nordeste do Brasil (SOUSA, 1993).

A partir das dezesseis horas, o Largo da Igreja do Rosário é tomado por uma multidão de mais de trinta mil romeiros. É o grande público da Procissão que vê, no sofrimento de Cristo, o seu próprio sofrimento. Olhando do alto da torre da velha Igreja, é possível perceber a imensa cortina roxa que tomou as ruas de Oeiras. São pagadores de promessas, com pedras na cabeça, de pé descalço, carregando cruzes, com flores de Passos na mão e muita fé (Figura 5).

Figura 5 – Saída da Procissão pelo Largo do Rosário

Fonte: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras, 2017.

No interior da Igreja há enorme movimentação. Os sacerdotes cuidam dos paramentos. Os homens que carregam o andor com a imagem do Bom Jesus vestem a roupa roxa, uma espécie de opa para se diferenciarem dos demais fiéis, representando a irmandade desses homens que a receberam dos antepas-sados e que seguem adiante com a tradição. Ainda carregam nas mãos hastes de ferro conhecidas como descanso, que servem para sustentar o andor, quando a imagem para diante dos Passos.

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Os sinos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário repicam outra vez, chamando os romeiros para o interior da Igreja barroca. Os sacerdotes, acompanhados dos ajudantes de cerimônia, se posicionam em frente à imagem, que se encontra na capela-mor, a principal da Igreja. Canta-se novamente o Miserere (Salmo 50) da misericórdia; a imagem é incensada ao som das vozes que cantam: “Tende piedade, Senhor, e sê clemente tua bondade, apague os meus pecados”.

A bênção da imagem é feita pelo bispo diocesano, que segura nas mãos a relíquia da Santa Cruz, um fragmento que se acredita ser da cruz original na qual Jesus Cristo foi crucificado. É um símbolo da fé católica. A relíquia foi trazida para Oeiras pelo terceiro bispo da Diocese, Dom Edilberto Dinkelborg, que geriu a Diocese de 1959-1991. Os restos mortais do sacerdote estão depositados na Capela do Bom Jesus, na Igreja Nossa Senhora da Vitória de Oeiras.

Após a benção, a imagem sai da Igreja, carregada por homens que herdaram dos antepassados a tarefa de carregadores do Bom Jesus.

A imagem do Santo é vestida com uma túnica roxa, cabelos longos e humanos, sobreposta em um andor de madeira, atado por duas cordas e uma coroa de espinhos para designar a condição de rei. A sua fronte está perfurada e as mãos maltratadas, seguram uma cruz como sinal dos pecados da humanidade e ainda sobre sua cabeça uma auréola de prata, mostrando a divindade do Santo (RÊGO, 2006).

Acompanhando a imagem, há quatro lanternas de prata do século XVIII. À frente, estandartes ou flâmulas romanas roxas, que demonstram o poder do Império Romano. Uma das flâmulas traz a seguinte inscrição em latim: S.P.Q.R, que significa Senatus Populusque Romanus, que quer dizer: “O senado e o povo Romano”. Os católicos de Oeiras na sua fé modificam de forma cristã o sentido da inscrição: “Salvai Povo Que Remi”. Pedindo a salvação a Jesus, através das indulgências, do perdão dos pecados.

A imagem é retirada do interior da Igreja e colocada no adro do Rosário. Atrás, os sacerdotes e o bispo que veem debaixo do pálio, uma espécie de toldo coberto com varas de prata, guardando a pessoa do bispo como sagrada.

Antes dos estandartes romanos e logo depois da imagem do Bom Jesus, qua-tro personagens bíblicos participam do ritual. São mulheres, jovens vestidas com trajes típicos da época de Jesus, que representam as santas mulheres que seguiram Cristo até o calvário: Verônica, Maria Madalena, Maria de Cléofas e Salomé. Verônica carrega nas mãos um fragmento de tecido, como se fosse um pergaminho, com uma pintura que representa a face do Bom Jesus. É o Sudário, que é desenrolado por ela em todas as estações ou passos (Figura 6).

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Figura 6 - Flâmula (Guião) com inscrição em latim

Fonte: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras, 2017.

A Procissão somente prossegue depois que Verônica abre o sudário e canta a lamentação do Profeta Jeremias, que diz em latim: “Ó vos ommes, qui transitis per viam, atendite et videte si est dolor sicut dolor, dolor meus, meus, meur”.

Traduzida para o português significa: “Caminheiros que passais por este caminho parai e olhai por favor se neste mundo existe uma dor assim tão grande, como uma dor de minha dor, de minha dor”.

33 Verônica é conhecida em Oeiras como Maria Beú, em razão da estrofe final do canto em latim “meus”. Com o passar dos séculos, as pessoas entendiam “Beú” em vez de “meus”. E assim passaram a chamá-la de Maria Beú (Figura 7).

Figura 7 - Canto de lamento de Verônica (Maria Beú)

Fonte: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras, 2017.

O canto é repetido nos cinco Passos, dispersos pelo Centro Histórico de Oeiras; ora é cantado em latim, ora em português, sempre de forma intercalada.

O cortejo sai em procissão, acompanhado pela Banda de Música Santa Cecília, criada em 1940, e que está sempre presente nos eventos festivos da cidade.

Ao longo da Procissão, executa o “Dobrado” de Bom Jesus dos Passos (Figura 8).

Cada passo (capelas) apresenta duas estações da “via-crucis”. Como só existem cinco passos em Oeiras, o encontro em frente à Casa de Câmara e Cadeia e o final da procissão na Igreja da Vitória são considerados passos para totalizar catorze estações (7x2=14). Em cada passo repete-se o ritual. O coral canta, o sacerdote queima incenso, dá benção do Santo Lenho e Verônica canta de novo as palavras de Jeremias (SOUSA, 1993).

34 Figura 8 - Banda Santa Cecília

Fonte: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura de Oeiras, 2017

Os fiéis acompanham o cortejo com paradas nos Passos até a Praça das Vitórias, em frente ao antigo Palácio da Cidade, hoje Prefeitura de Oeiras ou Paço Municipal. Quando a Procissão chega ao Centro Histórico de Oeiras é quase noite. Os sacerdotes se dirigem às janelas do Sobrado, Prefeitura de Oeiras, e um deles faz o Sermão do Encontro entre Jesus Cristo e sua Mãe.

O teólogo e ex-pároco da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Raimundo Nonato Marques, afirma que esse é o momento mais importante da cerimônia, o “Sermão do Encontro”. A cena representa o encontro de Bom Jesus com Nossa Senhora das Dores, a mãe que vem ao encontro do filho, sinônimo de amor e da piedade. A imagem das Dores data do século XIX, com manto roxo e véu que cobre a cabeça, também roxo. Traz ainda sobre a cabeça um resplendor de prata, para designar a condição de rainha.

O andor de Nossa Senhora é levado por mulheres que fazem parte do Apostolado da Oração – Sagrado Coração de Jesus, irmandade religiosa secular a zelar pelas tradições religiosas da cidade.

Quando as duas imagens se encontram, a Procissão continua e para ainda em dois passos, sendo que um deles o Passo do Engano, quando a imagem dá três rodadas, simbolizando que Jesus desejava enganar os seus malfeitores. Reza a tradição oeirense que, no momento da cerimônia do engano, os fiéis devem fazer pedidos e orações (Figura 9).

35 Figura 9 - Encontro das imagens do Bom Jesus dos Passos e Nossa Senhora das Dores

Fonte: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura de Oeiras, 2017

Ao chegar à Catedral de Nossa Senhora da Vitória, a Procissão segue para o adro da Igreja. São entoados o Miserere e o canto de Maria Beú; as imagens do Bom Jesus e de Nossa Senhora adentram pelo templo, aclamadas por palmas e cantos piedosos. Muitos fiéis, que durante o cortejo pagaram suas promessas, se despedem dos Santos, colocando esmolas e pedindo, que no ano seguinte estejam novamente acompanhando a Procissão.

As imagens permanecem expostas para a visitação até as vinte e duas horas, quando a Igreja é fechada. São cerca de vinte e quatro horas de intensas orações e manifestações de fé, que fazem parte das comemorações em honra a Bom Jesus dos Passos de Oeiras (Figura 10).

36 Figura 10 - Roteiro da Procissão de Bom Jesus dos Passos, no Centro Histórico de Oeiras

Fonte: Elaborado pela 19ª SR/IPHAN.

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Público-alvo Para realizar um trabalho participativo, mobilizamos diversos públicos, que, direta ou indiretamente, estão associados à Celebração do Bom Jesus dos Passos, são esses: o Clero da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, o bispo da Diocese de Oeiras, membros de Associações Religiosas como o Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus, Fundado na Paróquia de Nossa Senhora da Vitória em 22 de janeiro de 1899, antes mesmo da criação da Diocese de Oeiras em 1949, os cuidadores das imagens, famílias cuidadoras dos paços, floristas, devotos, de historiadores locais, professores e alunos da rede pública de ensino, além de representantes de instituições locais de salvaguarda, como o Instituto Histórico de Oeiras, fundado no dia 6 de janeiro de 1972, por intelectuais Oeirenses com o intuito de preservar as tradições seculares e do acervo patrimonial de Oeiras, bem como o Conselho Municipal de Cultura de Oeiras, instância deliberativa que institucionaliza a relação entre a Administração Municipal e os setores da sociedade civil ligados à cultura, contribuindo para a elaboração e fiscalização das políticas culturais do município, criadas pela Lei n. 1.317 de 8 de outubro de 1987, dentro das comemorações dos 270 anos do município de Oeiras.

Ao longo do trabalho, buscamos envolver o maior número de atores, que participam tanto na parte litúrgica da Celebração, quanto no que se refere à cultura ancestral vivenciada e que permanece viva.

No Quadro 1, estão citadas pessoas-referências da Comunidade que concederam entrevistas e participaram de rodas de conversa sobre a memória, tradição e manutenção da Celebração, com uso de história oral.

Quadro 1 - Pessoas-referências da Comunidade Nº PESSOAS-REFERÊNCIAS

PROFISSÃO

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11

Costureira\ Zeladora do A.O. S. C. J.1 Dentista\ Zeladora e Presidente do A.O. S. C. J. Professora\ Zeladora do A. O. S. C. J. Pedagoga\ Zeladora do A. O. S. C. J. Costureira\ Zeladora do A.O. S. C. J. Professora\ Zeladora do A.O. S. C. J. Dona de Casa\ Zeladora do A.O. S. C. J. Acadêmico de Engenharia\Músico Administrador de Empresas Sacristão\Músico Bancário\ Cuidador da Imagem do Bom Jesus dos Passos Bispo Diocesano Pároco da Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário Pároco da Catedral de Nossa Senhora da Vitória

Maria da Guia Dantas Maria Jucilene Cunha Conceição de Mª B Moura de Albuquerque Gabriela Maria Ferreira dos Santos Reis Maria Martins de Oliveira Teresa de Jesus Salvador Célia Maria Oliveira Santos José Alberto Tomaz dos Santos Júnior Rafael Brandão Pereira Rêgo José Alberto Tomaz dos Santos Francisco de Moraes Rêgo

12 Edilson Soares Nobre 13 Benedito Silva de Macedo 14 Possidônio Ferreira Barbosa Júnior 1

Abreviação de Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus.

IDADE/SEXO 51 / F 73 / F 53 / F 44 / F 74 / F 70 / F 63 / F 25 / M 35 / M 51 / M 73 / M 55 / M 43 / M 50 / M

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PROFISSÃO

15 Herbert Vinícius Virgínio de Sousa e Silva Advogado\ Músico\Presidente do Conselho Municipal de Cultura 16 Francisco de Assis Rocha Carvalho Júnior Historiador\ Presidente do Instituto Histórico de Oeiras 17 Maria do Socorro Barbosa Barros Historiadora 18 Maria Anatália dos Santos Nascimento Historiadora | artesã | líder do Grupo Consciência Negra | Quilombo do Rosário 19 Zulene de Holanda Rocha Historiadora 20 Flávio Antônio Mendes da Silva Artesão, Marceneiro e Presidente do Grupo Congos de Oeiras.

IDADE/SEXO 27 / M 34 / M 53 / F 47 / F 45 / M

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

Se faz importante ressaltar que, além do grupo executor da Celebração, levamos em conta um grupo de 727 estudantes da Escola Municipal Juarez Tapety, localizada na Avenida Rui Barbosa, Centro de Oeiras, pertencente à Rede Pública de Ensino, com idade de onze a quatorze anos, residentes em diversos bairros e comunidades rurais da cidade de Oeiras, que não se configura apenas como meros receptores passivos, mas partícipes que revelam a diversidade cultural e hierarquia social existente na Celebração.

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Problema A cidade de Oeiras é detentora de um rico e complexo patrimônio cultural, que expressa a cultura política, histórica e religiosa de seus habitantes. A marca da colonização portuguesa está no casario colonial dos séculos XVII, XVIII e XIX, nas festas e celebrações religiosas, que atravessam a vida social até os dias atuais; o calendário litúrgico católico dita a agenda sociocultural dos residentes. Por conta de seu rico e complexo patrimônio cultural edificado, no dia 27 de novembro de 2013, O Instituto Histórico e Paisagismo Nacional-IPHAN, publicou no Diário Oficial da União o tombamento definitivo do Conjunto Histórico e Paisagístico de Oeiras, no Município de Oeiras, Estado do Piauí, conforme consta no Processo n. 1.602-T-10 (Processo n. 01450.006978/2010-20).

Os referidos bens foram inscritos no Livro do Tombo Histórico, Volume III, fls. 81/86, sob o n. 622; e, no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, Volume II, fls. 93/98, sob o n. 169. Amparo legal: Decreto-Lei n. 25, de 30 de novembro de 1937; Portaria n. 11, de 11 de setembro de 1986; Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999 e Decreto n. 6.844, de 7 de maio de 2009.

Mas existe um patrimônio cultural imaterial, intangível, que carece de ser urgentemente inventariado, registrado, documentado, comunicado e salvaguardado.

Para este trabalho, uma pesquisa-ação, elegemos para estudos e intervenções, pesquisar, documentar, comunicar e propor a salvaguarda, através de um inventário participativo, com e para a Comunidade, de uma das principais manifestações culturais de Oeiras e do Piauí, a Celebração de Bom Jesus dos Passos, parte da vida religiosas e social da maioria dos residentes da cidade de Oeiras e entorno.

Hugues de Varine (2013, p. 46) nos lembra de que “Para a própria população, assim como para cada um de seus membros, o inventário do património não é necessário, ao menos enquanto este permaneça vivo e conserve uma significação para cada um e para todos”.

Salvaguardar o patrimônio cultural imaterial é propor políticas de conhecimento e reconhecimento, sentimento de pertencimento da Comunidade, visto que devemos entender patrimônio cultural como elemento agregador, que emana de um grupo humano diverso e complexo, vivendo em um território e compartilhando memórias e histórias, um presente, um futuro, modos de vida, crises e esperanças.

40 [...] são ricas e complexas as relações entre patrimônio, educação e museus. Frente às crises políticas e econômicas, buscamos viver em um mundo atravessado por antagonismos os mais diversos, sobretudo, aqueles referentes às relações dos seres humanos com o ambiente, com o patrimônio cultural e natural, assim devemos considerar as interfaces entre cultura e economia, mas não perder de vista a importância da consciência social, sensível e cidadã (PINHEIRO, 2015, p. 55).

Diante dessa realidade, elaboramos a seguinte questão-problema: O Inventário Participativo da Celebração de Bom Jesus dos Passos potencializa o seu reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil?

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Objetivos 4.1 Geral _ Construir de forma participativa um Inventário da Celebração de Bom Jesus dos Passos de Oeiras, Piauí, para criar um instrumento que potencialize o reconhecimento dessa Celebração como Patrimônio Cultural Brasil.

4.2 Específicos _ Identificar e analisar fontes históricas, por exemplo, o documento da Irmandade do Bom Jesus dos Passos de Oeiras sobre a Celebração, como um dos documentos relevantes para o Inventário desta cultura religiosa ancestral, símbolo de identidade da maioria da população de Oeiras. _ Inventariar os elementos símbolos da Celebração: flâmulas de tecido, dossel (quadrilongo de tecido veludo decorado com franjas nas bordas), imagens, vestimentas, lanternas em prata, guião (estandarte que vai à frente das procissões, espécie de pendão), cânticos, flores e personagens bíblicas, como forma de garantir o direito à memória e salvaguarda.

- Fortalecer o sentimento de pertencimento por meio da construção participativa do Inventário, por meio de ações de educação para interpretação do patrimônio, que estamos a realizar em Oeiras.

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Equipe Fez parte deste trabalho um conjunto de técnicas que orientam o Inventário do Patrimônio Cultural no Brasil, elaboradas pelo antropólogo Antonio Arantes, da Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, por solicitação do Iphan, hoje, publicadas por aquele órgão de proteção do patrimônio, no Manual de Aplicação do Inventário Nacional de Referências Culturais.

No que se refere ao Inventário, suas técnicas, Arantes (2000, p. 35) nos orienta: [...] nossa recomendação é que elas sejam constituídas por pessoas com conhecimento da temática do patrimônio nas seguintes áreas: ciências sociais (particularmente antropologia), história, arqueologia, letras, museologia, arquitetura e geografia, em número e proporção variáveis de acordo com cada situação considerada. Ao participarem do levantamento preliminar, esses profissionais estarão sendo capacitados para atuar posteriormente como supervisores do trabalho de campo, acompanhando, revendo e sistematizando os dados obtidos pelos demais pesquisadores ao longo de todo o processo de investigação.

Criamos um grupo de trabalho composto por representantes do Clero, Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Diocese de Oeiras, das Famílias cuidadoras dos Passos, Funcionários da Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus, Conselho Municipal de Cultura (CMC), Instituto Histórico de Oeiras (IHO), Museu de Arte Sacra de Oeiras (MAS), Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Diretores, Coordenadores e Professores da Escola Municipal Juarez Tapety, além do Técnico em Rádio e TV, Santiago Francisco Borges Pereira, Artista Visual, documentarista e Mestre em Museologia pela UFPI, Fábio Estefânio Lustosa de Brito Lopes.

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Justificativa A minha identificação com a Celebração de Bom Jesus dos Passos está atravessada pela cultura católica da família presente em minha formação. Além de professar o catolicismo cristão tão fervoroso na cidade de Oeiras, herdei também do meu tio avô José Alves Ferreira, o cabeceira, como era conhecido na cidade, caminhoneiro e contador de histórias. Meu tio trabalhou com o Cônego Antônio Cardoso de Vasconcelos, ex-vigário e um dos construtores da Diocese de Oeiras, fazendo viagens nas suas “desobrigas”, missões da igreja católica a regiões de difícil acesso no município de Oeiras, catequisando e oferecendo os sacramentos. Meu tio recebeu do Cônego a missão de cuidar de um dos lados do andor do Bom Jesus do Passos, ao longo da Procissão. Andor em madeira de carvalho, usado para transporte de imagem nos ombros dos carregadores.

Figura 11 - Chegada da Procissão da Fugida na Igreja do Rosário

Fonte: Inamorato Reis (2018).

Participo ativamente da preparação da Celebração há mais de três décadas, faço parte de um dos grupos da Paróquia Nossa Senhora da Vitória que, divididos por áreas, planejam e realizam ações para que a Celebração aconteça ano a

46 ano. Como profissional da área da Comunicação, colaboro no planejamento do material comunicacional, desde a elaboração das peças de divulgação à transmissão pela TV aberta. Essa experiência comunitária nos proporciona uma vivência diferenciada, pois, ao final da Celebração, somos chamados a fazer uma avaliação, o que nos permite observar sobre o que a Comunidade se identifica, quais as permanências e rupturas nesse patrimônio cultural, como a população e a Igreja estão preocupadas com a sua salvaguarda.

Ao ingressar no Programa de Mestrado em Artes Patrimônio e Museologia da UFPI, o único Mestrado Profissional do gênero no Brasil, tendo como sede Parnaíba, cidade classificada como Patrimônio Nacional e que se revela inovador no campo da Museologia e Inovação Social, por formar profissionais qualificados, para o exercício de prática profissional avançada e transformadora, atendendo demandas culturais, econômicas e sociais do território do Meio Norte do Brasil, tive acesso a uma vasta referência sobre patrimônio cultural imaterial; percebi, na escrita de Hugues de Varine sobre Inventários, em sua obra “As Raízes do Futuro” (2013), a possibilidade de um trabalho de Inventário e Salvaguarda da Celebração, no Livro de Registro das Celebrações: Incluem-se os principais ritos e festividades associados à religião, à civilidade, aos ciclos do calendário etc. São ocasiões diferenciadas de sociabilidade, envolvendo práticas complexas com suas regras específicas de distribuição de papéis, a preparação e o consumo de comidas, bebidas, a produção de um vestuário específico, a ornamentação de determinados lugares, o uso de objetos especiais, a execução de música, orações, danças, etc. São atividades que participam fortemente da produção de sentidos específicos de lugar e de território (IPHAN, 2000).

O processo de construção do Inventário foi realizado sem descurar de uma descrição densa (GEERTZ, 1989) da Celebração, para registrar a riqueza de elementos remanescentes das raízes da colonização portuguesa, repletos de símbolos da cultura popular, que justificam o registro e seu reconhecimento.

Como membro da Comunidade, agente local, com atuação no campo da Cultura e do Turismo, devoto e pesquisador, trouxe para o Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia, da Universidade Federal do Piauí, uma inquietação e contribuição para o território no qual nasci, vivo e produzo: Registrar, documentar, comunicar e, assim, salvaguardar a Celebração do Bom Jesus do Passos de Oeiras.

Propusemos, para este trabalho, as metodologias participativas, a exemplo a pesquisa-ação, a História Oral, a Etnografia, e as Técnicas de Inventário do Manual de Aplicação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pois entendemos que as vivências e as trocas de experiências com as pessoas foram indispensáveis para este trabalho de registro e documentação de narrativas, de histórias de vida, de símbolos, sentidos e significados, associados a um patrimônio cultural imaterial, transmitido de forma oral ao longo de gerações por mais de 300 anos, revelando o valor atribuído à Celebração, marca de religiosidade e espiritualidade dos habitantes de Oeiras.

47 Acreditamos que a participação das pessoas na pesquisa refletiu sua identificação com o patrimônio cultural, nos permitiu envolvê-las e registrar as permanências e rupturas, os atores e as narrativas e ainda os recursos materiais e humanos envolvidos em sua realização ano a ano.

Neste Inventário Participativo, os atores comunitários puderam expressar as principais referências da Celebração, objetos, lugares e símbolos que, em sua opinião, devem ser salvaguardados. Preocupação sempre expressa pela Comunidade local, ao longo desta pesquisa. Desse sentimento de pertencimento comunitário, surgiu nossa inquietação, haja vista que esta Comunidade percebe a Celebração como a mais importante manifestação cultural imaterial secular da cidade de Oeiras e crê que precisa ser documentada para salvaguarda da identidade cultural da cidade.

A manifestação que acontece uma semana antes da tradicional Semana Santa faz parte do calendário cultural do Estado, sendo reconhecida como a principal Romaria do Piauí. É preciso salientar que os inventários participativos são hoje importante ferramenta no processo de educação patrimonial, orientado pelo IPHAN, por estabelecer uma relação comunitária que passa pela mobilização e sensibilização da comunidade para a importância de seu patrimônio cultural, por meio de atividades de formação e imersão na comunidade que envolve reflexão do conhecimento e participação popular.

Esse tipo de ação oferece a população de determinado local uma troca de experiências com base em pesquisa de campo, técnicas básicas de levantamento documental, sistematização e interpretação de dados e difusão de informações.

Além disso, proporciona um processo ético de pesquisa, como o emprego responsável e autorizado de imagens, depoimentos e conhecimentos coletados ao longo do levantamento.

Inventariar é um modo de pesquisar, coletar e organizar informações sobre algo que se quer conhecer melhor. Nessa atividade, é necessário um olhar voltado aos espaços da vida, buscando identificar as referências culturais que formam o patrimônio do local. Por fim, cabe enfatizar que esta iniciativa não tem a pretensão de servir de instrumento de identificação e reconhecimento oficial de patrimônio, nem substituir as atuais ferramentas utilizadas nos processos de proteção dos órgãos de preservação do patrimônio de qualquer esfera de governo. Apresenta-se, de preferência, como um exercício de cidadania (IPHAN, 2016, p. 7).

Assim, por meio do inventário, documenta-se o repertório de referências culturais que constituem o patrimônio da Comunidade, do território em que ela se insere e dos grupos que fazem parte dela, a partir de um olhar lançado por ela própria sobre seu patrimônio.

Referências culturais são edificações e são paisagens naturais. São também as artes, os ofícios, as formas de expressão e os modos de fazer. São as festas e os lugares a que a memória e a vida social atribuem sentido

48 diferenciado: são as consideradas mais belas, são as mais lembradas, as mais queridas. São fatos, atividades e objetos que mobilizam a gente mais próxima e que reaproximam os que estão longe, para que se reviva o sentimento (IPHAN, 2016, p. 8).

Os inventários participativos possibilitam uma experiência patrimonial que valoriza a população envolvida nos rituais e celebrações. Trocas entre saberes tradicionais e acadêmicos ajudam a construir um sentimento de pertencimento da população em relação àquilo que ela própria considera patrimônio cultural.

Portanto, esse tipo de ação ligada ao que costumamos chamar de Educação Patrimonial leva em conta o patrimônio vivo, aquele ressignificado ao longo de anos por um grupo que está inserido em um contexto de paisagem cultural com seus saberes e fazeres.

Segundo Hugues de Varine (2013), a principal dificuldade para a elaboração de um Inventário é a escolha do método, visto que muitos são carregados de academicismos e desconsideram o desenvolvimento local. O autor utiliza-se da expressão Inventários meramente bancários, puramente passivos, como dizia Paulo Freire. No seu livro Raízes do Futuro, Varine critica vários tipos de inventários, classificando-os como Inventário Tecnocrático, Inventário Científico e Inventário Compartilhado, e aponta como solução viável à valorização da comunidade o Inventário Participativo.

A concepção do inventário participativo tem por trás de si o debate sobre o direito de decidir o que é e ou que não é passível de preservação e, portanto, merece todos os esforços do poder público para sua valorização, difusão e preservação, o que evidentemente deve ser de todos (VARINE, 2013, p. 55).

Torna-se evidente a orientação de uma ação participativa e colaborativa, somando esforços de toda a sociedade de forma interativa, que permita uma abordagem do que vem a ser o patrimônio e como esse patrimônio pode ser documentado.

O autor ainda chama a atenção para equívocos cometidos no processo em alguns casos. É preciso construir o método a partir de uma pesquisa-ação que venha contemplar os anseios e inquietações da comunidade em relação ao seu patrimônio.

Fazer um inventário participativo não é, entretanto, um trabalho de etnologia, sobretudo se ele tem realmente por objetivo o desenvolvimento local, pois para o etnólogo, pouco importa que uma tradição esteja morta, contanto que seja conservada sobre um suporte durável e analisada cientificamente em nome do conhecimento. Para o agente de desenvolvimento, o patrimônio imaterial faz parte integrante da cultura viva da população: sua materialização, sob forma escrita ou audiovisual, é secundária.

Não existe um especialista autorizado para tanto, mesmo que as técnicas sejam por vezes as mesmas que as do etnólogo (VARINE, 2013, p. 55).

49 Assim, percebe-se a importância de se escolher um processo que valoriza vozes e diferentes atores na busca por um registro significativo. Por isso, escolhemos o Inventário Participativo, visto que valoriza o patrimônio vivo e, sobretudo, as pessoas, protagonistas centrais da Celebração, o que colabora, de modo efetivo, para reforçar os laços de pertencimento da população em relação à Celebração.

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Revisão de Literatura 7.1 Passos: Histórias e Contextos Existe uma vasta pesquisa histórico-etnográfica sobre a Procissão dos Passos, que ocorre em várias partes do mundo, e consideramos importante referir neste trabalho. A ressignificação das tradições da via sacra cristã é celebrada no velho mundo, e chegou às colônias portuguesas e espanholas, trazendo consigo tradições ressignificadas ao longo do tempo.

O manto roxo, cor que no Império Romano estava associada ao exercício do poder, do escárnio dos soldados quanto à “realeza” de Jesus, passou a significar reconhecimento e representação de sua divindade, de seu papel no Reino de Deus, sendo complemento fundamental às imagens sacras do Cristo que carregam a cruz, ou do Senhor dos Passos.

Simultaneamente, a cor roxa passou a estar associada à Quaresma, indicando recolhimento e reflexão em um tempo de sofrimento, sacrifício e penitência – expresso, pelos fiéis, sobretudo por meio do jejum.

Na Legenda Áurea, coletânea hagiográfica preparada pelo dominicano Jacopo de Varazze no século XIII, que teve grande disseminação na Cristandade, uma das justificativas dadas para o jejum da Quaresma é a seguinte: ´se queremos ressuscitar com Cristo, que sofreu por nós, devemos também sofrer com Cristo na mesma época que Ele (VARAZZE, 2018, p.

234).

O ato de carregar a cruz, atribuído a Jesus, nos evangelhos canônicos, apenas por João, também se tornou fundamental nas representações associadas à Paixão, originadas das peregrinações à Palestina e, em especial, a Jerusalém, geradas pela expansão do Cristianismo ainda na Antiguidade; a intenção dos fiéis de percorrer o caminho derradeiro de Jesus, também conhecido como Via Dolorosa, Via Sacra ou Via Crucis, se intensificou durante o Período Medieval, mesmo em meio às disputas entre cristãos e muçulmanos pela “Terra Santa”.

Para os fiéis, impossibilitados de se deslocarem à região onde vivera e morrera o Cristo, a representação de sua Paixão, do percurso encenado (autos) e procissões, tornou possível não só o conhecimento, mas de certo modo a participação, nesse fato histórico/cristão que até hoje constitui-se base fundamental no universo católico. Fato que sedimentou um itinerário com quatorze paradas, “estações” ou “passos”; em cada parada, há manifestação de uma autoridade eclesiástica, de um cântico coletivo ou, com mais frequência, do canto da Verônica e das três Marias (também conhecidas por Heús ou Beús). Essas figuras femininas têm lugar de destaque nas representações da Paixão, marcadamen-

52 te em duas procissões: a do Enterro (ou do Senhor Morto) e a do Senhor dos Passos; as atuações, até mesmo a indumentária, costumam sofrer alterações expressivas conforme a Procissão.

As personagens são inspiradas na passagem do evangelho de Lucas que se refere às “mulheres que batiam no peito e se lamentavam” por Jesus, bem como nos trechos dos evangelhos relativos à crucificação ou à ressurreição, nos quais são mencionadas as seguidoras de Jesus. Portanto, em relação a esses últimos casos, a presença dessas mulheres no trajeto de Jesus até o Calvário é pressuposta. As Heús ou Beús são também denominadas “três Marias”, porque estariam representando Maria Madalena, Maria de Cleofas (ou Maria mãe de Tiago) e Maria Salomé, seguidoras de Jesus.

A composição das personagens, incluídos seus cânticos, indica o aproveitamento de passagens bíblicas não contidas nos evangelhos canônicos.

Verônica representa a mulher que teria limpado o rosto de Jesus com um lenço ou sudário (no qual sua efígie ficou estampada). Há ao menos duas correntes explicativas para o nome da Verônica: de um lado, seria uma tradução latina para o nome grego Bernike, ou Berenice, personagem de um livro apócrifo (Atos de Pilatos); de outro, seria a própria imagem com a estampa de Jesus (PEREIRA, 2015, p. 193).

Essa personagem canta (e repete) em latim, nas procissões: O vos omnes qui transitis per viam: Attendite et videte si est dolor sicut dolor meus. O vos omnes qui transitis per viam, attendite et videte: Si est dolor similis sicut dolor meus. Attendite, universi populi, et videte dolorem meum. Si est dolor similis sicut dolor meus.

Trata-se de referência a um trecho do livro bíblico das “Lamentações”, que compõe o Antigo Testamento, mais precisamente, um fragmento da Primeira Lamentação.

Já as Heús ou Beús teriam essa denominação em decorrência do cântico em latim que proferem, e que começa com a palavra “heu” (interjeição: “ah” ou “ai”), repetida: Heu, heu, heu, Domine! Há indicação de que a frase é um trecho de outro livro do Antigo Testamento, o livro de Jeremias (32:17) “Heu heu heu Domine Deus ecce tu fecisti caelum et terram in fortitudine tua magna et in brachio tuo extento non erit tibi difficile omne verbum”.

Edilson Pereira (2015, p. 199), ao estudar em Minas Gerais a atuação de Verônicas e Heús (tal como denominadas em Ouro Preto), assinala uma pequena variação: as Heús respondem à personagem da Verônica com o cântico: Heu! Heu! Domine! Salvator Noster!

Nas representações da Paixão, há casos ainda em que as personagens da Verônica e das Beús foram fundidas, resultando na ´Maria Beú´. Câmara Cascudo destacou, no livro Locuções tradicionais do Brasil, publicado em 1970, que a ‘Maria Behú’ (para ele, sinônimo de Verônica) cantava os versos conhecidos das ‘amentações’ bíblicas e, ao final de cada estrofe, o ‘Heu! Heu, Domine!’ (CASCUDO, 2008, p. 109).

53 Outro aspecto a destacar é a língua dos cânticos em questão: o latim. Na perspectiva de Edilson Pereira, com base em entrevistas com moradores locais de Ouro Preto, inclusive intérpretes de Heús, a língua contribui para acentuar o caráter singular da performance e do momento: O latim importa na medida em que é percebido por elas [as intérpretes] e pela sua audiência como uma linguagem não ordinária e que como tal poderia realizar coisas que as palavras do dia-a-dia não seriam capazes (PEREIRA, 2015).

A revisão de literatura – por meio de artigos, dissertações e teses; documentos como os compromissos de irmandades mantenedoras de celebrações dessa natureza, em diversos tempos e espaços, relatos de etnógrafos e outros registros, as narrativas dos cronistas, despretensiosos ou do artista criativo, ou mesmo do olhar científico e analítico de pesquisadores – faz parte desta investigação.

Essa imersão literária, como parte do estudo das celebrações, nos informa que tem sua gênese nos processos de sedimentação das tradições de comunidades. É importante perceber que a apresentação dessas manifestações apenas será possível a partir de uma organização social e comunitária, que irá mantê-las preservadas. Isso mostra a importância de se perceber o papel decisivo das irmandades na organização e manutenção desse patrimônio cultural.

Na Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em História da Universidade Federal do Piauí, intitulada “Por entre rezas e procissões: as celebrações em louvor ao Senhor Bom Jesus dos Passos - Oeiras - PI, a pesquisadora Ariane dos Santos Lima, orientada pela Profa. Dra. Áurea Pinheiro, analisa a cultura e a experiência religiosa, marcadas pela presença de homens, mulheres, idosos e crianças, devotos que, ao longo dos séculos, honram a Paixão de Cristo, elegendo, em sua investigação, o diálogo entre a cultura religiosa e a experiência ritualística da Celebração, referência dos marcos temporais para análise.

A Celebração oitocentista, organizada pela Confraria do Senhor Bom Jesus dos Passos e a Celebração na contemporaneidade do século XXI. O objetivo foi analisar os ritos, as motivações e as manifestações dos devotos. Utilizou-se a escrita histórico-etnográfica e um corpus documental variado, desde documentação de arquivo tradicional, fontes orais, etnográficas e audiovisuais (LIMA, 2013, p. 12).

Esse trabalho nos informa que as irmandades religiosas se hibridizavam entre o sagrado e o profano, o ideal era a comunhão fraternal e o crescimento do culto público, em que as necessidades do espírito misturavam-se às do corpo.

As irmandades se constituíram a partir da necessidade de aliar a religiosidade aos objetivos beneficentes e de ajuda mútua, não havendo distinção entre interesses religiosos ou sociais. Dessa forma, os aspectos profanos e devotos se misturavam, gerando um convívio social marcado pelas vertentes penitencial e festiva do catolicismo, seguindo o compasso do calendário litúrgico (LIMA, 2013, p. 26).

54 Um documento fundamental para a compressão da Celebração do Bom Jesus dos Passos de Oeiras no Piauí é a LEI n. 481, publicada em 10 de setembro de 1859, que aprovou o Compromisso da Confraria do Bom Jesus dos Passos da cidade de Oeiras e que se encontra no Acervo do Arquivo Público do Piauí. Esse compromisso descreve as recomendações para a Celebração, o Compromisso da Confraria, responsável por garantir a devoção ao Senhor Bom Jesus dos Passos por meio de Procissão. Nele são apresentados os procedimentos dos dois dias do rito, a Celebração e a ordem de execução dos ritos.

Caio César Boschi, em seu livro “Os leigos e o poder” (1996), afirma que as Irmandades Religiosas no Brasil, nos períodos Colonial e Imperial, tinham como modelo as organizações fraternais portuguesas, criadas desde o Período Medieval. Grupos institucionalizados que tinham por premissa a solidariedade e a sociabilidade, forjando uma vocação para ajuda mútua, vocação que se adapta às características próprias de acordo com o contexto sociohistórico das regiões em que cada uma delas se estruturava. Lima (2013, p. 26) reforça que a Lei nº 481, publicada em 10 de setembro de 1859, que trata do Compromisso da Confraria do Bom Jesus dos Passos da cidade de Oeiras, mostra que as atividades descritas nos Compromissos giravam em torno dos festejos, da assistência social e da assistência funeral.

Nessas atividades, destaca-se a vantagem de ser associado às confrarias o privilégio de possuir um enterramento cristão. Associar-se a uma irmandade garantiria a “boa-morte”, asseguraria o ritual na hora da morte. A crença concebia que as rezas e todo o ritual fúnebre em memória ao irmão falecido preparava o caminho entre a Terra e o Além, amenizando, assim, as penalidades no Juízo Final.

Esse fato é reforçado por João José Reis na obra “A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX” (1991), quando relata a revolta das irmandades baianas contra o poder público, que proibiria, no início do século XIX, os enterramentos no interior das igrejas.

O discurso médico-higienista atribuía a recorrência das epidemias à proximidade dos espaços de convívio dos vivos com os corpos dos defuntos, que, em muitos casos, eram enterrados em covas rasas no interior e arredor das igrejas que ficavam no centro das cidades.

Os devotos acreditavam que o solo das igrejas eram espaços sagrados e que, quanto mais próximo do altar fossem enterrados, mais chances teriam de se beneficiar com a salvação eterna. Por isso mesmo irmandades atuavam como um poderoso instrumento de segregação étnica e representatividade social e religiosa, as quais obedeciam aos critérios internos estabelecidos por cada instituição através dos compromissos.

55 7.2 Etnografia dos Passos: relatos e imersões Além dos trabalhos historiográficos citados, uma importante pesquisa sobre a Celebração foi realizada pelas investigadoras Áurea Pinheiro e Cássia Moura; dentre o material de pesquisa, podemos citar o documentário etnográfico “Passos de Oeiras” (2008), produzido e editado em vinte e seis minutos. O filme narra essa expressão religiosa intimamente ligada à vida da cidade. Apresenta as crenças e os rituais emblemáticos da religiosidade do Nordeste, do Estado do Piauí e de Oeiras em particular. Percorrem as ruas, as casas e os lugares de memória da velha Oeiras, para capturar crenças, rituais, religiosidade e espiritualidade mutantes, mas marcadas por permanências.

No documentário, há o registro do canto de Verônica - Beú em português, a transladação, Procissão da Fugida, na Quinta-feira Santa, da Catedral para a Igreja do Rosário, com o encontro das imagens do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores, bem como o retorno à Catedral que ocorre na Sexta-feira.

Os preparativos são totalmente assumidos por famílias de devotos, sendo que algumas delas realizam determinadas funções por gerações.

Outro elemento singular registrado nessa pesquisa etnográfica da Procissão dos Passos em Oeiras são as flores de papel, as “flores de passos”, preparadas aos milhares por devotas para serem distribuídas entre os fiéis.

Além do documentário, as investigadoras lançaram o Livro “Celebrações” (2009). A obra é resultado de trabalho etnográfico realizado em Oeiras, em pesquisas sobre a Procissão dos Passos, os congos de Oeiras e a Procissão do Fogaréu. Trata-se de registros importantes, que nos informam dos principais atores dessas manifestações populares, seculares, patrimônios culturais. No texto de introdução, há a seguinte afirmação: Registrar o patrimônio cultural é contribuir para a preservação de saberes, experiências e práticas tradicionais, é permitir a divulgação e o fortalecimento de identidades culturais locais e proporcionar a melhoria das condições de vida cotidiana de uma dada comunidade (PINHEIRO, 2009, p.11).

No capítulo dedicado à Procissão dos Passos de Oeiras, há uma descrição da experiência das pesquisadoras com a manifestação e féis, descrição do ritual com suas peculiaridades, além de treze fotos coloridas que ilustram a grandiosidade da manifestação, bem como seu interior.

7.3 Um olhar folkcomunicacional Existem também pesquisas folkcomunicacionais sobre a Procissão dos Passos de Oeiras. Única teoria brasileira da comunicação, a folkcomunicação tem como objeto de estudo a comunicação, por intermédio de artifícios populares, ou seja, a mistura da tradição popular e dos acontecimentos históricos com o contexto massivo. Data de 1967 a Tese de Doutorado de Luiz Beltrão que foi um dos primeiros a se aventurar no estudo científico da Comunicação no Brasil. In-

56 fluenciado por um Artigo da Revista Comunicações e Problemas, em 1965, sobre artefatos deixados por devotos nas Igrejas.

A folkcomunicação é, por natureza e estrutura, um processo artesanal e horizontal, semelhante em essência aos tipos de comunicação interpessoal já que suas mensagens são elaboradas, codificadas e transmitidas em linguagens e canais familiares à audiência, por sua vez conhecida psicológica e vivencialmente pelo comunicador, ainda que dispersa (BELTRÃO, 1980). Escrevi juntamente com o professor e jornalista Pedro Dias de Freitas Junior, à luz da Folkcomunicação, o Livro Reportagem ‘Passos do Bom Jesus: Narrativas de Fé’ (2008).

O livro não tem pretensões teosóficas, literárias nem mesmo antropológicas sobre a Celebração, visto que trata com linguagem jornalística de narrativas do povo de Oeiras. Dividimos a obra em cinco capítulos-narrativas: de Símbolos, de Dedicação, de Tradição, Populares e de Devoção. Abordamos detalhes que vão desde a escolha e a preparação da Maria Beú, a confecção das flores para os “passos” e cada detalhe da Procissão como os zelosos guardiães da secular tradição religiosa, o transporte de um banquinho de Verônica, experiências dos pagadores de promessas, que revigoram sua fé em atos de doação de si próprios. É importante ressaltar que na nossa escrita o que importa é registrar as falas dos personagens, das personalidades e dos protagonistas da maior Celebração religiosa do Piauí, com páginas ilustradas com fotografias de nosso orientador, o Professor Doutor e Jornalista Orlando Berti, pertencente ao corpo docente do Curso de Comunicação Social da Universidade Estadual do Piauí.

No prólogo do livro, deixamos claro o objetivo do trabalho, afirmamos que narrar histórias de vida e fé dos devotos do Bom Jesus dos Passos é fotografar as micro-histórias que se entrelaçam nesse profundo e enigmático ritual secular de Oeiras.

Histórias de vida que se misturam às tradições populares e religiosas da velha capital do Piauí, levando homens e mulheres a se dedicarem ao apostolado dos Passos. São famílias inteiras unidas pela fé, que durante todo o ano, organizam os preparativos para a Festa do Bom Jesus, comungando do mesmo ideal e da mesma crença. Romeiros de todos os cantos e de todas as partes, chegando a pé, em lombo de animais ou em paus-de-arara, com o desejo profundo de tocar a imagem do Senhor dos Passos.

Momentos de fé e devoção que fazem da folkcomunicação dos Passos a maior romaria religiosa do Piauí, registrada por um olhar jornalístico que busca comunicar através do popular. Assim, as histórias mais profundas de homens e mulheres que constroem essa teia de relações, sustentam simbologias e tradições que contam a história de nosso povo (FREITAS JR.; SANTOS, 2008).

Os agentes comunicacionais expressos nas histórias de vida do povo simples, durante a Celebração do Bom Jesus dos Passos em Oeiras, são carregados de informações acerca de nossa identidade cultural e histórica. E sedimentadas por trabalhos folkcomunicacionais capazes de chamar a atenção para algo tão rico de caráter litúrgico e popular.

57 É importante salientar que já existem estudos e materiais de pesquisa etnográfica, jornalística e historiográfica sobre a manifestação que servirão de suporte para o processo do Inventário.

7.4 Outras Referências: Portugal, Espanha, Açores e Macau Há uma série de relatos e publicações sobre a Celebração dos Passos por outros países, como Portugal, Espanha, sobretudo na Península Ibérica e também na Ásia, como Macau, por exemplo. Essas publicações revelam muito da identidade e da formação dos povos em diversos territórios e suas relações ancestrais ligadas pela fé, pelo culto e agradecimento ao sagrado comum em várias partes do mundo.

São manifestações em honra ao Bom Jesus dos Passos, por diversas povos e comunidades estritamente às suas próprias narrativas, enquanto grupos populacionais que dialogam com a prática da agricultura e colheita, o agradecimento pelas conquistas de territórios, guerras e disputas de poder.

Um exemplo são as celebrações em honra ao Bom Jesus dos Passos, tradição secular ligada às cerimonias em memória a Via Crusius que, a partir da segunda metade do século I d.C, foram objeto de esforços significativos de sistematização.

O tema da Paixão e as representações em torno dela ganharam força na Cristandade durante o Período Medieval, mas considerada a forma com que a devoção ao Senhor dos Passos se espraiou na Península Ibérica e nos então domínios de Espanha e Portugal, na Ásia e na América, durante o Período Moderno, é possível vislumbrar o impulso decisivo das ações da Contrarreforma.

Os elementos programáticos de tais ações foram consolidados entre 1545 e 1563, nas sessões do Concílio de Trento, que envolveram diversos posicionamentos quanto à doutrina católica − entre eles, os relativos ao culto aos santos (SIAT, 2000, p. 63-64; VINCENT, 2009, p. 228-232).

Percebemos uma estratégia da Igreja ao avanço Protestante, sobretudo na Europa, e sua expansão através dos processos de colonização que se estabeleceram e influenciaram as colônias, principalmente na forma de crer.

Frente ao avanço das ideias protestantes, contrárias ao uso de imagens e mais enfaticamente ao seu culto, as disposições tomadas em 1563, na última sessão do Concílio de Trento, legitimaram as representações artísticas de figuras santas e divinas (pois seriam instrutivas e úteis na propagação da fé), alertando, porém, quanto à obrigação de se basearem nos relatos considerados autênticos e evitarem a lascívia (VENARD, 2009, p.

341).

Desde que acomodadas à pudicícia e apoiadas, se não estritamente nos relatos bíblicos, ao menos na tradição narrativa católica, imagens de santos e santas não só poderiam como deveriam proliferar no mundo católico, sendo inseparáveis das devoções.

58 Na Espanha, Sevilha é uma localidade-chave para a ritualização da Via Sacra, certamente não por acaso desde o século XVI: o marco inicial é 1521, quando foi instituída a “Vía Crucis a la Cruz del Campo”, pelo primeiro marquês de Tarifa, ao retornar de uma viagem à Terra Santa. No mesmo século, em Sevilha, aumenta a importância das numerosas irmandades ou confrarias, muitas delas voltadas para a reflexão sobre a Paixão e a prática da penitência (POZO RUIZ, 2016).

Há também uma série de relatos orais em toda a Península Ibérica, relatando a lenda da cultuada imagem de Bom Jesus dos Passos, famosa pelos grandes e numerosos milagres que se lhe atribuem, e pela geral e indelével devoção que lhe consagra todo o reino, em especial os habitantes de Lisboa.

Pelos anos de 1585, vivia em Lisboa um pintor de pouco mérito na sua arte, chamado Luiz Alvares de Andrade (talvez filho ou neto de Fernão Alvares de Andrade). Principiou Luís Alvares a fazer-se conhecido pela sua devoção em colocar retábulos das almas do purgatório, já pintados em madeira, já em azulejos, pelas ruas da cidade, para solicitar as orações dos fiéis em benefício dos que sofriam as penas do Purgatório.

Sabendo que na Espanha se faziam procissões na quaresma, representando os passos da paixão de Jesus Cristo, pediu às autoridades eclesiásticas que entre os portugueses fosse também instituída aquela piedosa e comovente devoção.

Havia no claustro do mosteiro de S. Roque, uma capela da invocação da Santíssima Cruz, e n’ella se juntavam alguns mancebos devotos, na maior parte artistas, que frequentavam muito os sacramentos da confissão e comunhão.

Entre eles se distinguia pelo seu fervor, o nosso Luiz Alvares de Andrade, que persuadiu os mais a formarem uma confraria da Santíssima Cruz; mas os frades (aos quais se deu parte d’esta resolução) responderam que na igreja não havia altar disponível, nem casa para as reuniões dos confrades; pelo que era melhor erigirem a confraria em outra igreja.

Foram os mancebos ter com os religiosos gracianos, que de boa vontade lhes deram a capela do cruzeiro, do lado da Epistola, e ali se estabeleceu a confraria, que ainda existe e progride, com o mesmo fervor dos seus fundadores (PINHO LEAL, 2006).

Esse relato mostra a importância da Festa dos Passos para a sociedade lisboeta e seus reflexos no próprio cotidiano social dos grupos e classes mantenedores das imagens, através de irmandades, dos artistas que também usavam sua arte a serviço de suas devoções.

O culto da Vera Cruz e Passos da Graça, em Lisboa, terá sido iniciado pelo empenho de um pintor de têmpera, não muito dotado na arte, segundo os memorialistas, mas muito considerado pela sua devoção. Luís Álvares de Andrade, grande devoto da Santíssima Trindade, de acordo com Cirilo Volkmar Machado, «pintava painéis deste Mistério fazendo-os expor nas igrejas à veneração dos fiéis.

O pintor, que tivera como mestres os gracianos Frei Francisco de Bobadilha e Frei Luís de Granada (Taborda, 1815: 191-193), tentara, com um grupo de amigos, instituir uma irmandade na Igreja de São Roque, esforço frustrado pela falta de espaço no templo então alegada pelos padres da

59 Companhia de Jesus. Terá sido assim por sugestão dos próprios jesuítas que se dirigiu à igreja do Convento da Graça, onde os frades permitiram a instituição, por volta de 1586, de uma capela no claustro conventual (PIMENTEL & FRANCO, 2014).

Em 1587, realizou-se, pela primeira vez, a Procissão da Via-Sacra que ligava São Roque à Graça, forma perspicaz que os jesuítas encontraram para não eliminar a ligação à iniciativa do popular devoto da Cruz (Figura 12).

Companhia de Jesus. Terá sido assim por sugestão dos próprios jesuítas que se dirigiu à igreja do Convento da Graça, onde os frades permitiram a instituição, por volta de 1586, de uma capela no claustro conventual (PIMENTEL & FRANCO, 2014) Figura 12 - Membro da Irmandade da Misericórdia de São Roque antes da saída da Procissão do Bom Jesus dos Passos - Lisboa - Portugal

Fonte: Cassia Moura (2013).

Destruída a capela pelo terremoto de 1755, salvou-se apenas a imagem do Senhor (ou, como pretendem alguns autores, a cabeça), que, soterrada debaixo dos escombros, foi recuperada após oito dias de empenhados e intensos esforços.

João Batista de Castro relata, em 1763, que «Quasi todas as Capellas do corpo da Igreja padecerão igual ruína com mais ou menos danno. As duas collateraes do cruzeiro ficarão totalmente destruídas; porém as suas sagradas Imagens com felicidade se descobrirão. Erão ellas a sempre venerável do Senhor dos Passos, que ficando dentro da sua tribuna opprimida com o pezo da parede, que sobre ella cahio, 93 foy extrahida pela nobre, e pia diligência de alguns Grandes da Corte, suggeridos do empenho, e devoção do nosso Monarca Fidelíssimo» (CASTRO, 1763, p. 222).

60 Também no século XVI surgiram, em Portugal, as primeiras irmandades dedicadas ao Senhor dos Passos, ou Senhor Bom Jesus dos Passos. A mais antiga ainda em atuação é a Real Irmandade de Santa Cruz e Passos da Graça, que datam de 1586; por consequência, a Procissão de Passos por ela promovida, desde 1587 (a Procissão do Senhor Jesus dos Passos da Graça, em Lisboa), também é tida como a que se realiza há mais tempo naquele país.

Há grande número de procissões do Senhor dos Passos em Portugal e, muito expressivamente, na Ilha da Madeira e no arquipélago dos Açores; entre os antigos domínios portugueses do além-mar, assinala-se uma dessas procissões em Macau (IPHAN, 2015, p. 13; PISTORELLO, 2018 – Apêndice 2).

Desde o século XVI, que se conhecem menções às celebrações em honra ao Bom Jesus dos Passos, realçando-se gastos com a preparação dos rituais. Contudo, foi no início do século XVIII que começaram a surgir lembranças mais explícitas da preparação desta festa, definindo-se o itinerário da Procissão em 1724.

A festa dos Passos celebra-se no domingo que dá início à semana santa.

Todavia, no sábado anterior existiam já algumas cerimónias religiosas.

Uma missa e à noite acendiam-se luminárias. Esta festa era celebrada em todas as Misericórdias, embora nem em todas atingisse o significado e a importância que possuía em Monção.

A mesma exaltação era efetuada na Santa Casa de Melgaço, vila vizinha de Monção, mas desconhece-se, por exemplo, em Valadares, Vila Nova de Cerveira ou Caminha, igualmente sedes de Municípios próximas de Monção.

A importância crescente desta realização festiva ganhou relevo nos livros de atas da Santa Casa de Monção, que através das lembranças deixadas fizeram memória desta cerimónia pública (ARQUIVO DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA, 1724-1783, fl. 40).

Um importante documento sobre a preparação da festa em Portugal que revela detalhes das despesas e manutenção dessa devoção é o Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço.

Sabe-se que em Melgaço, terra igualmente fronteiriça, a festa era celebrada com a ajuda dos crentes, que através de donativos contribuíam para a sua realização. A Misericórdia efetuava um peditório pelas freguesias para poder concretizar esta realização festiva.

Na maioria destas confrarias, os Passos ocupavam um lugar secundário nas festividades da Quaresma, embora constituíssem uma festa com algum significado em termos institucionais.

Porém, em Monção, a festa dos Passos ganhava honras de principal festividade da confraria, ultrapassando todas as solenidades realizadas pela Misericórdia (LOBO ARAÚJO, 2006).

Além das Festas ao Bom Jesus Realizadas em Lisboa, existem relatos da Celebração em Braga, documentadas em Constituições Sinodais do Arcebispado daquele Bispado que mostram a preocupação da Igreja, desde a compostura dos

61 que integravam as procissões, relacionada à pontualidade, à liturgia e aos elementos objetos que saíam na Procissão, até mesmo com o trajeto da solenidade.

A festa dos Passos realizava-se ao ar livre e a localização das capelas era determinada pela Santa Casa. Porém, em 1792, a Mesa alterou a sua postura e quebrou um antigo costume, por considerar “a indecência com que se via pelas ruas indecentemente colocados os painéis pelas ruas no dia dos Santos Paços”, e resolveu que os Passos se fizessem nas igrejas e capelas da vila, ficando obrigado cada par de irmãos a “hum paço” e a Santa Casa arcaria com a responsabilidade de pagar tábuas, alfinetes, pregos e outras miudezas necessárias (ARQUIVO SANTA CASA DE MISERICÓDIA, n. 12, fls. 96, 98).

Uma característica marcante nas celebrações dos Passos, por toda a Península Ibérica, são os Sermões proferidos aos fiéis que sempre buscavam uma reflexão do martírio de Cristo, visto que as celebrações são Vias-Sacras em formato de Procissão.

As pregações tinham como objetivo o incremento da fé e o aumento do conhecimento religioso dos crentes. Através Celebrações, a Igreja procurava passar os dogmas católicos, chamar a si todos os que andavam afastados e desenvolver virtudes nos crentes que os levassem à salvação.

Os fiéis deviam assistir à exposição da palavra e participar em coletivo nesses momentos que tinham uma função pastoral implícita, como eram os sermões A Santa Casa de Monção procurava ser servida com os religiosos que considerava mais competentes para as pregações. Encomendava geralmente este serviço aos religiosos da Vila (MARQUES,1989).

Para além desses aspectos comuns, porém, as procissões se distinguem por suas trajetórias históricas, que, sob a capa das semelhanças, atualizam, agregam e diferenciam ritos, mediante a influência continuada dos agentes da devoção.

Especificamente na América portuguesa, a introdução da devoção ao Senhor dos Passos esteve historicamente associada aos esforços da propagação da fé católica e de dominação do território, com a busca do controle das ações, dos corpos e das almas das populações nele residentes (Figuras 13, 14, 15).

62 Figura 13 - Membro da Irmandade da Misericórdia de São Roque antes da saída da Procissão do Bom Jesus dos Passos - Lisboa - Portugal

Fonte: Cassia Moura (2013).

Figura 14 - Membro da Irmandade da Misericórdia de São Roque antes da saída da Procissão do Bom Jesus dos Passos - Lisboa - Portugal

Fonte: Cassia Moura (2013).

63 Figura 15 - Imagem de Nossa Senhora das Dores. Procissão dos Passos em Lisboa Portugal

Fonte: Cassia Moura (2013).

Laura de Mello e Souza, em Festas Barrocas e Vida Cotidiana em Minas Gerais (2001), nos informa que a preocupação para com a Misericórdia de Monção era tamanha, a ponto de se cuidar do espaço físico por onde o cortejo desfilava, criando condições de dignidade à festa. Contratavam-se trabalhadores, os quais eram pagos para cuidar dos caminhos: limpar as ervas, varrer e alisar o chão. Os percursos eram térreos, sendo necessário estabelecer condições de facilidade de circulação, evitando qualquer percalço. Cuidar do itinerário era tanto mais urgente, quanto se sabia que podia chover, aumentando as dificuldades de circulação. Era ainda ocasião para caiar a frontaria da Igreja, mandar consertar alfaias religiosas e comprar paramentos, em caso de necessidade.

Montavam-se os andores, estendiam-se ervas cheirosas, aformoseava-se a Igreja, colocavam-se os estandartes, limpavam-se os balandraus, contratavam-se os pirotécnicos e os melhores pregadores, músicos eram chamados, e ordens eram dadas para que nas horas certas repicassem os sinos. As ruas por onde passava o cortejo eram engalanadas com colchas às varandas, completando o cenário em que se efetuava o desfile.

São essas práticas, muitas delas seculares, que despertam vários olhares no intuito de registrar, expressar e historicizar essas tradições, sejam elas na Europa, em países da Península Ibérica de tradição Cristã Como Portugal e Espanha, bem como por toda a América portuguesa e Espanhola, herdeiras dessas tradições e responsáveis por suas ressignificações que agregam além da liturgia Ca-

64 tólica Cristã, herdada dos colonizadores e reproduzidas nas colônias, a inserção de elementos da cultura popular e do folclore.

Outra referência da Celebração do Bom Jesus dos Passos está preservada em Macau. Hoje, Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China, ou RAEM; sua história tem pelo menos 600 anos, um território rico e complexo. Macau, desde a chegada dos portugueses no século XVI, foi sempre uma importante porta de acesso para a entrada da civilização ocidental na China, uma região administrativa especial da China.

Macau é uma terra de liberdade religiosa, de respeito mútuo, onde as pessoas vivem e convivem na diferença. O Cristianismo está aqui, bem presente, lado a lado com as festividades da religião popular chinesa, que abarca práticas e crenças do Budismo, Confucionismo e Taoísmo. O catolicismo, seguido por mais de trinta mil crentes, majoritariamente chineses, é mesmo um dos fatores identitários da comunidade macaense. A Diocese de Macau, criada em 1576, foi a primeira do Extremo Oriente. Património de Macau, alargado à própria comunidade não cristã, é a Procissão de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos.

A Procissão do Senhor dos Passos de Macau acontece durante os oito dias que antecedem a festa religiosa, os fiéis preparam-se através das missas e novenas matinais em chinês, ou nas similares vespertinas em língua portuguesa. O dia de sábado – véspera do primeiro Domingo de Quaresma – inicia-se com uma missa em língua chinesa, seguida de outra de oferecimento em chinês e português. Pela tarde tem lugar a via-sacra em chinês, uma missa antecipada nas duas línguas, seguida da via-sacra em português.

Antes que a chamada “Procissão da Cruz” se inicie, tem ainda lugar em Santo Agostinho a leitura do Sermão do Horto em língua chinesa. Parte então, ao som da Banda da Polícia de Segurança Pública de Macau, ao fim da tarde, para a Catedral onde passará a noite, em procissão, a imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos coberta por uma cortina de renda bordada a fios de ouro. Já na Sé há a leitura do Sermão do Horto, agora em português.

No domingo, pela tarde, após o Sermão do Pretório em língua chinesa, seguido do canto de Verónica, parte da Sé para Santo Agostinho a Procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos com a imagem já descoberta, percorrendo o centro histórico de Macau. Vivem-se as sete das 14 estações da via-sacra, que representam o percurso de Jesus Cristo do Pretório ao Calvário.

A procissão termina com o sermão do Calvário, já com a imagem na Igreja de Santo Agostinho. Há uma lenda, com várias versões, para justificar este “passeio” do Senhor dos Passos, contando que, em tempos idos, a imagem era colocada na Sé, mas miraculosamente voltava sempre a Santo Agostinho, daí o estar assegurado o regresso à sua Igreja (LOPES, 2017).

Uma das peculiaridades da Celebração dos Passos em Macau é que, contrariamente ao que é habitual nas outras procissões dos Passos, não se vive o encontro das imagens do Senhor com Nossa Senhora, sua mãe, mesmo sendo bem forte o culto Mariano naquela região.

65 A data em que se realiza a Celebração é outra das diferenças que a tornam, talvez, única. Não há no calendário da Igreja Católica uma data fixa para a realização da Procissão dos Passos; logo, constata-se o que a prática confirma, embora se saiba que entre os séculos XIV e XVIII em Portugal ela se realizava na Quinta-Feira Santa. Contudo, encontramos procissões dos Passos desde a segunda à quinta semana da Quaresma.

A originalidade do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos em Macau é que a procissão tem início no sábado anterior ao primeiro domingo de Quaresma, dia em que termina. Na realidade são duas procissões, sendo propriamente a dos Passos a de domingo, pois é esta que representa o tempo entre a condenação à morte de Jesus no Pretório e o seu sacrifício no Calvário.

Os Agostinhos e o culto da Paixão de Cristo Foram os Agostinhos espanhóis, vindos das Filipinas, que em 1586 terão introduzido em Macau o culto da Paixão de Cristo, nomeadamente a procissão dos Passos.

A procissão do Senhor do Passos em Macau transcende o seu significado religioso católico. Em 1717, com a saída dos Agostinhos para Goa, a procissão deixou de se realizar.

Nos anos seguintes verificou-se carestia e falta de alimentos em Macau, situação atribuída pela comunidade chinesa ao facto do fim da procissão.

Estávamos em 1721 e o Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos continua a sair anualmente pela fé de uns e a crendice de outros.

No século XIX, na sequência da extinção das Ordens Religiosas, a Igreja de Santo Agostinho é entregue à Confraria de Nosso Senhor do Bom Jesus dos Passos, que tinha sido fundada pelos Agostinhos portugueses quando chegaram a Macau (LOPES, 2017).

Em Macau, assim como em Portugal, a Celebração dos Passos é mantida por uma Confraria que toma posse da Igreja e das casas anexas desde 1887. Confraria que é, ainda hoje, responsável pela realização desta Procissão.

Como em Portugal e na Espanha, a Celebração dos Passos em Macau também sofreu modificações, e foi sendo reconfigurada, guardando os principais elementos ligados, sobretudo, à fé das pessoas daquele território. Estas retroalimentam essa tradição e mantêm-na até os dias atuais, identificando-a como um dos rituais mais importantes de sua cultura.

Os macaenses – os Filhos da Terra – descendentes dos primeiros portugueses que arribaram ao Extremo Oriente há cinco séculos, frutos da rica mistura de povos e culturas, são os guardiães de tradições e saberes que estruturam a sua identidade própria, contudo a modernidade globalizada e o ritmo de vida acelerado vão deixando marcas negativas nas culturas levando à extinção de traços fundamentais incorporados nas tradições e hábitos que vão ficando no esquecimento. Também a festividade do Senhor Bom Jesus dos Passos não fica incólume a este processo.

Assinalemos algumas das tradições que se vão perdendo: Costume antigo da comunidade macaense, hoje por poucos praticado, ou esquecido, era o de abrir as portas das casas à passagem da procissão, acendendo velas e queimando incenso num pequeno oratório virado para a rua. Havia também quem espalhasse pela rua pétalas de flores atapetando-a. As “tochas odoríficas”, referidas pelo Padre Manuel Teixeira, “levadas pelos irmãos de opas roxas [que] espalhavam jorros de luz muito mais brilhante que

66 a fraca luz dos candeeiros que iluminaram as ruas”, bem como “algumas famílias de Hong Kong [que] traziam tochas de enxofre que eram acesas em frente e aos lados do andor”.

Também ele se refere ao costume “de certas famílias de Macau colocarem lanternas de petróleo à pressão, em certos locais do percurso na noite de sábado”.

Há referências, ainda, a idosas que costumavam acompanhar a procissão por de baixo do andor descalças.

O simbolismo da Verónica extinguiu-se deixando de ser a sua escolha uma disputa entre famílias.

Também o transporte do andor era legado que passava de geração em geração (LOPES, 2017).

Embora sejam perceptíveis modificações nessa tradição de Macau, assim como em Portugal e Espanha, a manutenção de aspectos básicos e elementos que configuram e caracterizam essas cerimônias, mesmo com o tempo, continua a identificar as cerimônias pelo mundo.

7.5 Os Passos no Brasil Muitas foram as Irmandades Religiosas criadas no Brasil, durante os períodos Colonial e Imperial, que se baseavam em confrarias fraternais ao modelo português. Elas se fundamentavam na caridade e em relações sociais, possibilitando ajuda e assistência que assumiam características próprias, de acordo com o contexto histórico das regiões em que cada uma delas se fixou.

O culto foi praticado nas colônias portuguesas, ampliando o campo religioso da Igreja Católica Romana. Mantido pelo Padroado Régio, os leigos ajudaram na construção de igrejas, para a organização dos cultos e promoção de devoções.

Essa prática existia tanto no Período Colonial quanto no Imperial, as arquiconfrarias foram as responsáveis pela assistência social da população nas mais diversas atividades: atendiam os pedidos dos encarcerados, administravam hospitais e supriam a necessidade de a população pertencer a alguma dessas associações, pois estar de fora de seus quadros poderia significar que nem mesmo no momento de sua morte o indivíduo estivesse incluído nessa sociedade.

Pertencer a uma Irmandade era algo tão importante quanto professar a fé cristã.

Ser aceito como ‘irmão’ constituía-se como um aspecto de aceitação social; pertencer a uma irmandade assegurava ao associado a aquisição automática de uma condição de superioridade perante os demais membros da sociedade (GROSSI, 2002, p. 26).

As irmandades brasileiras mais populares eram as dedicadas ao Santíssimo Sacramento, à Nossa Senhora do Rosário e à Nossa Senhora da Misericórdia – esta responsável pela fundação e manutenção de hospitais, mais conhecidos por Misericórdia ou Santa Casa da Misericórdia. As demais irmandades se dedicavam à vida social e religiosa, na coordenação de festas e procissões – como no caso das Irmandades do Senhor dos Passos – e na organização dos rituais fúnebres de seus associados, manifestando o espírito religioso da população, que

67 abarcava os elementos das mais diversas classes sociais. “É interessante notar que eram homens e mulheres que levavam uma vida comum e que patrocinavam o culto, construíam igrejas, paramentavam-nas, organizando assim a vida católica local” (SCARANO, 1976, p. 36).

O catolicismo implantado no Brasil estava repleto de aspectos pautados na religiosidade popular portuguesa, sendo familiar e voltado para a devoção aos Santos. As manifestações religiosas eram, muitas vezes, vistas como acontecimentos de reunião social e não de vivência religiosa. Era um catolicismo que se caracterizava por elaboradas manifestações externas de fé.

Missas celebradas por dezenas de padres, acompanhadas de corais e orquestras, em templos cuja abundante decoração era uma festa para os olhos e, sobretudo, funerais grandiosos e procissões cheias de alegorias, de que participavam centenas de pessoas (REIS, 1991, p. 49).

Uma das mais antigas Irmandades do Senhor dos Passos é a de Florianópolis, Santo Catarina, no Sul do País, que organiza, desde 1766, a Procissão dos Passos naquela cidade, mas existem em várias regiões do Brasil Irmandades que também organizam suas celebrações.

Vale a pena destacar três Procissões do Senhor dos Passos em cidades da região Nordeste: a de São Cristóvão em Sergipe e a de Lençóis, na Bahia. A primeira surgiu em 1855, e é organizada pela Paróquia Nossa Senhora da Vitória, pelas Irmãs Carmelitas. Sua comemoração é realizada com duas procissões: a primeira é noturna e ocorre com a trasladação da imagem velada do Senhor dos Passos entre a Igreja da Ordem Terceira do Carmo e a Matriz Nossa Senhora da Vitória. A segunda é denominada Procissão do Encontro, com as imagens do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora da Soledade. Além desses dois cortejos, há a entrega de ex-votos, confissões e missa campal no sábado e domingo, marcando o encerramento do evento. Essa Celebração já é reconhecida como patrimônio imaterial daquele Estado, e, da mesma forma como na cidade de Florianópolis, há uma lenda sobre a imagem do Senhor dos Passos que dizem ter sido encontrada por pescadores. Entretanto, muitas pessoas dizem que foi a Imagem quem os encontrou. A procissão reúne milhares de romeiros e turistas.

A outra é a Procissão dos Passos da Cidade de Lençóis, na Chapada Diamantina, que também já é patrimônio imaterial da Bahia. Ainda no Nordeste brasileiro, temos a Procissão do Bom Jesus dos Passos de Oeiras no Piauí, objeto desse Inventário Participativo. No Centro-Oeste, lembramos da Procissão dos Passos de Pirenópolis. No Sudeste, proliferam as Procissões de Passos em Minas Gerais que acontecem em muitas cidades do Estado.

Segundo o Dossiê de Registro da Procissão do Senhor dos Passos em Florianópolis, SC, divulgado pelo IPHAN em 2018, existem claras similaridades entre todas as procissões brasileiras.

68 O apego à narrativa tradicional da Paixão; a caminhada protagonizada por uma imagem sacra do Cristo com a cruz às costas; a necessária transladação da imagem de um local sagrado (um templo católico) para outro; o frequente acompanhamento da imagem do Senhor dos Passos por uma imagem de Nossa Senhora das Dores; a participação de pessoas vestidas como se personificassem figuras bíblicas, ou da tradição católica, associadas à Paixão de Cristo (com ênfase para a Verônica); o recurso a cânticos e orações (e, com frequência, à música executada por bandas); a ênfase no uso da cor púrpura em artefatos e vestimentas; e, se a procissão é promovida por uma irmandade, o aparato com que irmãos se apresentam para o cortejo, carregando guiões, estandartes, pálios, círios e lanternas. Para além de todos esses aspectos comuns, porém, as procissões se distinguem por suas trajetórias históricas, que, sob a capa das semelhanças, atualizam, agregam e diferenciam ritos, mediante a influência continuada dos agentes da devoção (IPHAN, 2018, p. 30).

Esse Dossiê forneceu subsídios para o registro da Procissão do Senhor dos Passos, em Florianópolis, como patrimônio cultural brasileiro. A demanda foi encaminhada ao Iphan, para sua Superintendência em Santa Catarina, pela Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF), em 2005, mas formalizada por meio de processo apenas em 2006 (IPHAN, 2015, p. 52).

A mesma associação, em junho de 2005, fizera solicitação do registro da referida Procissão à Fundação Catarinense de Cultura (FCC), o que veio a ser efetivado em novembro de 2006, resultando no primeiro registro de bem imaterial componente do Patrimônio Cultural de Santa Catarina (FCC, 2005-2006).

A revalidação do registro em nível estadual, pelo período de 2016 a 2026, foi aprovada pela Câmara de Patrimônio do Conselho Estadual de Cultura em 28 de março de 2017 (FCC, 2015-2017). No âmbito do Iphan, a apreciação do pedido de registro da Procissão apresentou três fases, iniciando em 2006, até o reconhecimento da Manifestação como Patrimônio Cultural do Brasil em 2018.

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Metodologia Para alcançar os objetivos propostos, usamos a pesquisa-ação, visto que era preciso estabelecer uma relação entre o conhecimento e ação, entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada e destes com a realidade. É necessário: uma ampla e explícita interação entre os pesquisadores e envolvidos na pesquisa e que esta não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo), mas pretende aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou nível de consciência das pessoas e grupos que participarem do processo, bem como, contribuir para a discussão ou fazer avançar o debate acerca das questões abordadas (THIOLLENT, 1985).

Assim, a pesquisa-ação é necessariamente baseada na autorreflexão e criação coletiva, no diálogo, escuta ativa e potencialização, num processo que se modifica e se retroalimenta continuamente, revelando a própria identidade da comunidade.

As identidades se constroem a partir de visões do passado, que funcionam como pontos de referência para determinados grupos e fornecem coerência, no tempo, a seus quadros de representação simbólica. Desse modo, a memória é um processo de ordenamento, de produção de sentido, que pressupõe enquadramentos, esquecimentos e silêncios. Acontecimentos e aspectos do passado são lembrados e sublinhados a partir de sua relevância para os indivíduos, que recordam por sua contribuição na construção da identidade e das relações pessoais (POLLAK, 1989).

Todo o processo foi perpassado pela metodologia de pesquisa-ação, alinhado ao método etnográfico, visto que, como agente de cultura local, eu já era imerso na Comunidade, vivenciando a Celebração, participando ativamente dos ritos e registrando as impressões dos atores envolvidos, durante e depois da Procissão.

Por isso, a partir dos dados coletados, iniciamos o processo de Inventário Participativo, referenciado pelas reflexões de Hugues de Varine sobre Inventários Participativos, nosso referencial maior.

Portanto, foi preciso bastante cautela e um estabelecimento claro da metodologia, por conta da minha efetiva participação na Celebração, tanto como membro da Igreja, quanto agente de cultura e devoto, o que facilitou a recepção das pessoas a serem entrevistadas e uma abertura para que pudessem responder às perguntas dos questionários aplicados. Porém, o método etnográfico foi crucial para o processo, visto que eu, enquanto pesquisador, precisava me envolver com a lógica dos participantes, mantendo o cuidado para lançar um olhar com distanciamento, mesmo não me esquecendo de minha relação com a manifestação inventariada.

70 Pesquisador deve levar a sério as tagarelices os mexericos os casos as pequenas histórias, pois elas mostram estrutura do meio de interconhecimento e dos universos de referência que constituem o seu campo. De fato, a pesquisa de campo oferece o acesso a interações de face a face, as relações interpessoais (entre as quais as relações entre o pesquisador e pesquisado), e não permite observar práticas ou registrar opiniões fora de contextualização. O pesquisador não pode se fazer esquecer, não deve, pois esquecer de si mesmo na análise a observação etnográfica não se assenta sobre universos dos indivíduos, mas sim sobre universos de relações (BEAUD, 2007).

O Inventário que iniciamos vem permitindo o envolvimento da Comunidade na pesquisa de campo que será utilizada como metodologia da pesquisa através de História Oral, Etnografia, reconstituição de narrativas, pesquisa histórica, rodas de conversa, registro fotográfico, audiovisual e levantamento com aplicação de fichas de Inventário, além de audiências públicas e discussão comunitária que envolverão estudantes, Clero, agentes de desenvolvimento local, cuidadores dos Passos, floristas, devotos e romeiros. É importante ressaltar que as fichas de Inventário foram adaptadas do modelo disponibilizado pelo INRC. No processo, a História Oral foi imprescindível para a interpretação das fontes e avaliação das falas e das narrativas.

História oral é um recurso moderno usado para elaboração de documentos, arquivamento e estudos referentes à experiência social de pessoas e de grupos. Ela é sempre uma história do tempo presente e também reconhecida como história viva (MEIHY, 2002).

A utilização da História Oral não se deu como estratégia metodológica para suprir falta de documentos, mas sim para fazer emergir memórias submersas, narrativas afetivas e detalhes da Celebração dos Passos que, muitas vezes, os documentos oficiais ou religiosos não revelam.

A necessidade de se ativar ou materializar o que existe em estado oral retido na memória ou mesmo o que foi abafado por processos de cerceamento, quase sempre acontece por desafios da própria comunidade que não quer deixar morrer determinadas experiências e que, para isso, produz situações nas quais, no tempo presente, reinventam o passado não resolvido. Nesse sentido, a história oral se mostra fator significativo, meio de manter a experiência passada em estado de presentificação. Mais deve-se lembrar sempre que não é apenas quando não existem documentos necessários que a história oral acontece. Ela é vital também para produzir outras versões promovidas à luz de documentos cartoriais consagrados e oficiais (MEIHY, 2010).

Esse trabalho com história oral foi tecendo uma teia de narrativas que se entrelaçaram ao longo do processo, possibilitando a expressão de uma memória submersa como discute Michael Pollak (1989).

Ao analisar processos e atores que intervêm no trabalho de constituição e de formalização das memórias que se opõem às memórias oficiais, apresentando um processo de “subversão no silêncio e de maneira quase imperceptível afloram em momentos de crise (POLLAK, 1989).

71 Assim, construímos a metodologia, levando sempre em conta que produzir um Inventário merece cuidados, visto que existem muitos tipos e conceitos a esse respeito, necessitando da escolha de critérios claros e eficazes que comprovem a escolha do tipo de Inventário.

Chego com isso a conclusão de que todo tombamento/classificação do patrimônio, mesmo justificado pela pesquisa, pela economia, pela administração, é distorcido porque coloca em primeiro lugar o princípio da conservação (VARINE, 2013, p. 45).

Ainda segundo Varine, a dificuldade principal de se fazer um Inventário consiste em escolher um método, para tanto, é importante conhecer e diferenciar os diversos tipos de Inventário e seus métodos, cujas qualidades e defeitos devem ser analisados em função dos objetos e o que se procura obter com ele. Desta forma, é indispensável sempre saber o que não será jamais exaustivo nem definitivo e que ele deverá, portanto, permanecer evolutivo, subjetivo, condicionado pelo objetivo da pesquisa e pelos saberes do momento.

O Inventário Tecnocrático é um diagnóstico frio como uma tarefa para agentes do serviço público. Esse tipo de Diagnóstico classifica o patrimônio a partir de características utilitárias, vendo o valor econômico, a qualidade da atração turística a beleza e o caráter espetacular. Por isso, define esse tipo de inventário como não dinâmico, uma vez que não envolve ninguém profundamente, tendo a noção de que o patrimônio deve desempenhar um papel no momento presente (VARINE, 2013, p. 47).

Outro tipo de inventário é o Inventário Científico. Feito por pesquisadores e técnicos de Cultura, dos acadêmicos e dos especialistas para a conservação de bens da cultura.

Os proprietários privados são consultados para informação e as populações não e que não há então uma verdadeira enquete pública, apesar das consequências que o tombamento pode trazer para os indivíduos e para a vida local. Além disso, esses inventários são extremamente pesados para se realizar sendo obrigado a se respeitar critérios científicos longamente estudados e debatidos. O resultado é que eles caminham muito lentamente e não podem acompanhar o ritmo das distribuições, alterações e mutações (VARINE, 2013, p.47-48).

É importante perceber as ponderações sobre conceitos como classificação e tombamento.

O topo da pirâmide é a classificação, inscrição em um inventário administrativo dos monumentos dos objetos de arte dos sítios. Esse é um procedimento pontual praticado em qualquer política ou programação que segue a moda iniciativa individual de um funcionário, de um político, de um proprietário privado ou ocorrência de uma ameaça. Esta fórmula bem conhecida e difundida na maior parte dos países desenvolvidos tem efeitos perversos. Como singulariza alguns elementos do patrimônio valorizando-os e dando de alguma forma um status de obra de arte, o que exclui outros elementos e constituem um patrimônio extraordinário (VARINE, 2013, p. 49).

72 Outro tipo de inventário é o Compartilhado. Este já usa outros procedimentos. Para a elaboração e planejamento de nosso trabalho, foi importante diferenciar esse tipo de inventário por nós escolhido. O Inventário Compartilhado se utiliza do compartilhamento das informações, mas é finalizado pelo pesquisador. Assim, foi importante refletir sobre o papel dos envolvidos no processo: Ora, se o desenvolvimento sustentável é uma questão de todos em um território e o conhecimento do patrimônio deve ser compartilhado, um dos métodos mais eficazes é o de fazer um primeiro levantamento com os habitantes, associações, aposentados, estudantes, eruditos locais e proprietários privados (VARINE, 2013, p. 51).

Por todas as fragilidades apontadas nos tipos de inventários discutidos acima, optamos pelo Inventário Participativo, haja vista que nosso problema é comunitário. E para tratar o patrimônio como algo importante para ser preservado, essa documentação deve ser colaborativa, refletindo pertencimento da Comunidade que deseja preservar.

A concepção de inventário participativo tem por trás de ser o debate sobre o direito de decidir o que é e ou que não é passível de preservação e, portanto, merece todos os esforços do poder público para sua valorização e difusão e preservação, o que evidentemente deve ser de todos. Na verdade, o método também tem seus defeitos, ligados em particular à subjetividade dos habitantes e aos fenômenos da moda, de qualquer modo relativizados pela necessidade de consenso para as decisões. Mas o mais difícil nesse tipo de inventário reside nas perspectivas de futuro de tal inventario, feito pela geração ativa hoje, com seus gostos e sua relação com o passado. O Inventário Participativo é, e deve permanecer estritamente complementar ao tombamento dos monumentos e sítios e outros elementos culturais naturais, e pode unicamente agregar uma espécie de“marca”de qualidade nas riquezas de interesse superior, nacional e internacional. Se ainda é o utópico na maior parte das situações, o inventário participativo é a forma mais acabada de inventário local, mais é difícil, metodologicamente exigente, longo. Além do que deve ser repetido em intervalos regulares para dar conta da evolução da cultura e das modas. Assim, a participação no inventário participativo deve em todo caso ser voluntária e livre e deve acontecer em total transparência, no respeito pela vida das pessoas e pela propriedade privada. Deve convencer e não impor (VARINE, 2013, p. 55).

Portanto, utilizando esse tipo de Inventário, queremos relacionar o Patrimônio Imaterial de Oeiras, especificamente, a Celebração dos Passos do Bom Jesus, à realidade socioeducativa, econômica, linguística, religiosa e étnica da Comunidade.

Esse tipo de ação oferece a população de determinado local uma troca de experiências a partir de uma pesquisa de campo, técnicas básicas de levantamento documental, sistematização e interpretação de dados e difusão de informações.

O Inventário Participativo da Procissão dos Passos de Oeiras vai proporcionar um processo ético de pesquisa, como o emprego responsável e autorizado de imagens, depoimentos e conhecimentos coletados ao longo do levantamento.

73 Inventariar é um modo de pesquisar, coletar e organizar informações sobre algo que se quer conhecer melhor. Nessa atividade, é necessário um olhar voltado aos espaços da vida, buscando identificar as referências culturais que formam o patrimônio do local. Por fim, cabe enfatizar que esta iniciativa não tem a pretensão de servir de instrumento de identificação e reconhecimento oficial de patrimônio, nem substituir as atuais ferramentas utilizadas nos processos de proteção dos órgãos de preservação do patrimônio de qualquer esfera de governo. Apresenta-se, de preferência, como um exercício de cidadania (IPHAN, 2016, p. 7).

Ao final do processo de Inventário Participativo da Celebração dos Passos em Oeiras, Piauí, compartilhamos os resultados com apresentação dos produtos e serviços provenientes da pesquisa. É importante lembrar que, na Convenção para a salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, aprovada em Paris, em 17 de outubro de 2003, no seu artigo 12, que trata dos Inventários, percebe-se uma preocupação com os inventários a partir dos territórios. Pode-se observar que: Para assegurar a identificação, com fins de salvaguarda, cada Estado parte estabelecerá um ou mais inventários do patrimônio cultural imaterial presente em seu território, em conformidade com seu próprio sistema de salvaguarda do patrimônio. Os referidos inventários serão atualizados regularmente, o que comprova a importância ativa e voluntária da comunidade no registro e atualização desse instrumento (UNESCO, 2003, art.

12º).

O Art. 15, que trata da Participação das Comunidades, grupos e indivíduos, continua a alertar para o caráter colaborativo e voluntário para esse tipo de registro e comunicação do patrimônio imaterial.

No quadro de suas atividades de salvaguarda do patrimônio cultural imaterial, cada Estado Parte deverá assegurar a participação mais ampla possível das comunidades, dos grupos e, quando cabível, dos indivíduos que criam, mantém e transmitem esse patrimônio e associá-los ativamente à gestão do mesmo (UNESCO, 2003, art. 15º).

Logo, a metodologia da pesquisa-ação está em consonância com a proposta participativa e colaborativa que escolhemos para um Processo de Inventário que valoriza, sobretudo, o desejo comunitário de preservação de uma celebração que a identifica e que desperta o sentimento e a necessidade de salvaguarda para a posteridade.

8.1 Tipo de Pesquisa A partir de uma preocupação comunitária com a preservação das práticas ancestrais religiosas, promovidas secularmente na Celebração do Bom Jesus dos Passos em Oeiras, surge coletivamente uma inquietação que pede o envolvimento de diversos atores sociais.

Para esse tipo de problema, entendemos que somente uma metodologia colaborativa e participativa, além de uma documentação para a posteridade, possibilita um conhecimento do próprio patrimônio pela população, fazendo-a sua

74 guardiã e entendendo seu valor não só para a preservação de sua identidade e memória, mas também para o próprio desenvolvimento local sustentável.

Assim, a pesquisa-ação se concretiza na prática, quando realmente há uma ação por parte das pessoas implicadas no processo investigativo, a partir de um projeto de ação social ou da solução de problemas coletivos. Deve estar centrada no agir participativo e na ideologia de ação coletiva. A pesquisa-ação exige uma estrutura de relação entre os pesquisadores e pessoas envolvidas no estudo da realidade do tipo participativo/coletivo.

A participação dos pesquisadores é explicitada dentro do processo do “conhecer”, com os “cuidados” necessários para que haja reciprocidade/complementaridade por parte das pessoas e grupos implicados, que têm algo a “dizer e a fazer”. Não se trata de um simples levantamento de dados. É necessário definir com precisão, qual ação, quais agentes, seus objetivos e obstáculos, qual exigência de conhecimento a ser produzido em função dos problemas encontrados na ação ou entre os atores da situação (THIOLLENT, 1985, p. 16).

Desse modo, entendendo o Inventário da Procissão dos Passos como um processo coletivo, com o envolvimento de diferentes atores e proveniente de uma necessidade da própria Comunidade é que a Pesquisa-Ação se justifica como tipo de pesquisa adequado.

8.2 Local de Estudo A cidade de Oeiras, Primeira Capital do Estado do Piauí, segundo dados do IBGE, possui Área: 2.720 Km2, limita-se, ao Norte, com o município de Barra d’Alcântara, Tanque do Piauí, Novo Oriente do Piauí e Santa Rosa do Piauí; a Leste, com Inhuma, Ipiranga do Piauí, São João da Varjota e Santa Cruz do Piauí; ao Sul, com São Francisco do Piauí, Colônia do Piauí e Wall Ferraz; a Oeste, com Santa Rosa do Piauí, Nazaré do Piauí, São Francisco do Piauí e Cajazeiras do Piauí. Está na Mesorregião do Sudeste Piauiense e Microrregião de Picos. Sua Posição Geográfica: 07º 01’ 31” latitude sul 42º 07’ 52” longitude Oeste, possuindo distância de Teresina de 317 Km pelas rodovias BR-316 e BR-230.

Com Altitude 166 m e Pluviometria Média de 922 mm / ano (principalmente de fevereiro a maio), com Temperaturas Médias tendo mínimas de 18ºC e máximas – de 40ºC. Sua população, segundo o último censo, realizado em 2010, é de 35.640 habitantes.

Rica por sua história e importância política no passado, possui rico acervo patrimonial, fruto do Período Colonial em que fez parte do famoso Ciclo do Couro.

Muitas expedições tentaram a exploração das terras do atual Estado do Piauí. Dentre elas, a de Domingos Afonso Mafrense, em 1674, penetrou toda a região Centro-Sul, resultando o domínio de vasto sertão até o Parnaíba. Outra

75 expedição, vinda de Pernambuco, por influência da expedição de Mafrense, teria invadido os sertões de Cabrobó, avançando sempre para o Nordeste (Mapa 1).

Mapa 1 - Rotas de expansão da pecuária no Nordeste e vilas fundadas até meados do século XVIII

Fonte: Mapa elaborado pela 19ª SR/IPHAN a partir de informações de Andrade, 1975, p. 23; 39.

Acredita-se que ambas penetraram no território onde mais tarde se instalou a sede do Município de Oeiras. Há registros de pedidos de sesmarias, feitos anteriormente (em 1667) por Mafrense, Julião Afonso Serra e outros, abrangendo a região que vai desde o Parnaíba até a Serra do Araripe. Sabe-se, por outro lado, que Mafrense fundou no local diversas fazendas, entre as quais a “Cabrobó”, onde residiu, e que Serra organizou ali um arraial de índios domesticados.

Dividem-se, por isso, entre os dois desbravadores as opiniões sobre quem se instalou primeiro nas terras do atual Município, embora predominem as versões que indicam a primazia de Mafrense. O fato é que no lugar com o nome de

76 “Mocha”, tomado de um riacho ali situado, formou-se uma povoação, com capela filiada à Freguesia de Cabrobó, da Diocese de Pernambuco. Essa povoação passou ao nível de Freguesia, sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória, em 1696, e foi elevada à categoria de Vila em 1712.

Ao ser criada a Capitania do Piauí, em 1758 (Carta Régia de 29 de julho), a Vila de Mocha, que era a seu maior núcleo, tornou-se sede do Governo. Somente em 1761 ganhou ela foro de cidade, passando, então, a denominar-se Oeiras, em homenagem ao Conde de igual nome, depois Marquês de Pombal.

Oeiras é considerada o núcleo mais antigo do Piauí e berço da história e colonização do Estado. Foi sede da Província até 1852, quando o Conselheiro Saraiva transferiu a capital para a “Chapada do Corisco”, onde hoje se encontra Teresina. Gentílico: oeirense Formação Administrativa elevado à categoria de Vila com a denominação de Mocha, por Carta Régia de 30-06-1712. Sede na atual Vila de Mocha. Instalado em 26-12-1717. Elevado à condição de cidade com a denominação de Mocha, por Carta Régia de 19-06-1761. Pelo ato de 13-11-1761, o Município de Mocha passou a denominar-se Oeiras. Capital da antiga província até ao ano de 1852. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município denominado Oeiras é constituído do distrito sede.

Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31XII-1937. No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município é constituído do distrito sede. Em divisão territorial datada de 01-07-1960, o município é constituído do distrito sede. Permanece em divisão territorial datada de 2007. Alteração toponímica municipal Mocha Para Oeiras, alterado pelo ato de 31-11-1761 (Mapa 2).

Mapa 2 - Nova et accurata Brasiliae totius tabula. BLAEU, Joan. 1640

Fonte: Fundação Biblioteca Nacional.

77 Segundo o último Censo divulgado no site do IBGE (2010), a área da unidade territorial do município de Oeiras é de 2.702,486 Km2. Apresenta 20.3% de domicílios com esgotamento sanitário adequado; 76.1% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização; e 1.3% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). Por sua vez, quando comparado a outros municípios do Estado, fica na posição 69 de 224, 104 de 224 e 32 de 224, respectivamente. Por outro lado, quando comparado a outras cidades do Brasil, sua posição é 3615 de 5570, 2696 de 5570 e 4296 de 5570, respectivamente (Mapa 3).

Mapa 3 - Área territorial de Oeiras no último Censo (2010)

Fonte: IBGE.

Pelo mesmo Censo de 2010, a população de Oeiras foi estimada em 35.640 pessoas; possui densidade demográfica de 13,19 hab/km2.

78 Mapa 4 - População residente de Oeiras (Unidade: pessoas em 2010)

Fonte: IBGE.

Em 2017, o salário médio mensal era de 1.5 salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era de 10.1%. Na comparação com os outros municípios do Estado, ocupava as posições 175 de 224 e 23 de 224, respectivamente. Já na comparação com cidades do País todo, ficava na posição 4770 de 5570 e 3383 de 5570, respectivamente. Considerando domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, tinha 49.1% da população nessas condições, o que o colocava na posição 201 de 224 dentre as cidades do Estado e na posição 1554 de 5570 dentre as cidades do Brasil.

O site do IBGE revela, ainda, que o PIB per capita, em 2017, foi de 11.009,05 R$; o percentual das receitas oriundas de fontes externas em 2015 foi de 92%; o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) em 2010 foi 0,634; o total de receitas realizadas em 2017 somaram 68.917,28 R$ (×1000); e o total de despesas empenhadas em 2017 foi de 64.802,79 R$ (×1000).

A pesquisa aconteceu na cidade de Oeiras e as ações colaborativas aconteceram em diversos espaços da cidade, como, por exemplo, a Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Igreja do Rosário, Câmara de Vereadores, nas casas dos atores envolvidos na Celebração (Mapa 5).

79 Mapa 5 - Localização do município de Oeiras

Fonte: Víctor Veríssimo, 2019

8.3 Coleta de Dados A coleta de dados aconteceu a partir de cinco etapas, quais sejam: o levantamento de documentação, a elaboração e aplicação das fichas de Inventário, levantamento de narrativas por meio de registros com História Oral e Audiovisuais e Análise e Apresentação dos Resultados.

Para executar o processo etnográfico, com base na pesquisa-ação, fizemos uma mobilização baseada em diálogos, Hora do Café e Memórias. Esses encontros foram Rodas de Conversa em horários e locais marcados pelos próprios grupos entrevistados. A cada encontro, lançávamos apenas questões de partida sobre a importância da Celebração dos Passos, a transmissão dessa tradição, e como essa prática ancestral se configura na vida dos atores envolvidos nos dias atuais. De modo descontraído, as narrativas iam se construindo de forma coletiva a partir de relatos de experiências individuais com recursos áudio visuais.

Precisamos de narrativas que contribuam para a compreensão amplificada do que é e do que pode ser a realidade social na qual estamos vivendo, escamoteada e tornada invisível a ‘olho nu’ pelas normas e regulamentos da cientificidade moderna, da hierarquia que esta estabelece entre teoria e prática e dos textos produzidos segundo tais ditames (OLIVEIRA; GERALDI, 2010, p. 23).

80 Para utilizar as orientações do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), a partir dos relatos dos atores envolvidos sobre o que consideram Referência Cultural, adaptamos as fichas propostas pelo IPHAN, e fizemos também o Registro Geral do Inventário, do Território, da Equipe, da Celebração, de objetos, de fontes pesquisadas, de imagens, além das entrevistas.

Referências culturais não se constituem, portanto, em objetos considerados em si mesmos, intrinsicamente valiosos, nem apreender referências significa apenas armazenar bens ou informações. Ao identificarem determinados elementos como particularmente significativos, os grupos sociais operam uma ressemantização desses elementos, relacionando-os a uma representação coletiva, a que cada membro do grupo de algum modo se identifica (IPHAN, 2016, p. 14).

O material documentado, nas rodas de conversas e aplicação de entrevistas e questionários, gerou subsídios para a construção da narrativa do Inventário, bem como nos produtos e serviços finais propostos pelo projeto, que são o Inventário impresso em livro e também o vídeo do Inventário como narrativa do Processo.

8.3.1 Materiais Ao longo deste trabalho, usamos materiais para a coleta e registro, tais como: gravadores e diários de relatos, máquina fotográfica para produção de fotos e filmagem do processo.

O jovem Santiago Francisco Borges Pereira, Técnico em Rádio e TV, formado pelo Instituto Comrádio do Brasil (ICOMRÁDIO), fez parte dos recursos humanos no processo de Inventário, fazendo a parte da coleta dos registros audiovisuais durante as rodas de conversa e aplicação de questionários.

O ICOMRÁDIO do Brasil é a única Escola Técnica privada de Comunicação do Estado do Piauí. Trabalha na formação de comunicadores para atuar como repórter, apresentadores, produtores, editores, fotógrafos, assessores de imprensa, mídias sociais etc., no Rádio, na TV, em agências de Comunicação, empresas e ONGs. Já formou e diplomou mais de 1402 comunicadores profissionais em doze anos de história.

Desenvolve e certifica projetos sociais de impacto internacional, como a formação de pessoas com deficiência para atuar no Rádio, e a formação de jovens agricultores e apicultores em comunicação para desmistificar a visão de imagem de “pobreza” do Semiárido através da mídia. Os alunos produziram mais de setenta e oito documentários e 183 matérias/reportagens de Rádio sobre temas como Inclusão, Tecnologia, Direitos Humanos, Semiárido, Sustentabilidade.

O critério para escolha desse profissional foi sua relação com a Comunidade e com a Celebração inventariada. A adesão ao trabalho aconteceu de forma voluntária, após mobilização por meio de apresentação da proposta de Inventário em aula pública no mês de junho de 2019, em Oeiras, Piauí, Brasil.

81 8.4 Análise dos dados/ informações A análise dos dados obtidos através de pesquisa aplicada com os atores envolvidos se deu por meio de Descrição Densa, que se caracteriza na forma como o pesquisador deve descrever seus estudos, expressando as mais diversas particularidades, levando em conta todos os pequenos fatos que cercam sua vida social. Não bem os fatos em si, mas a ação social destes fatos. Não buscamos nessa análise leis gerais, mas sim significados/significações.

Há três características da descrição etnográfica: ela é interpretativa; o que ela interpreta é o fluxo do discurso social e a interpretação envolvida consiste em tentar salvar o “dito” num tal discurso da sua possibilidade de extinguir-se e fixá-lo em formas pesquisáveis (GEERTZ 1989, p. 31).

Analisamos os dados do Inventário Participativo dos Passos entendendo o conceito de cultura como semiótico, ou seja, interpretando as narrativas e as memórias expressas como teias de significados produzidas pela Comunidade.

8.5 Aspectos Éticos A participação dos atores envolvidos no processo ocorreu de forma voluntária e colaborativa, usamos os Termos de Autorização de Uso de Imagem, para uso das informações, imagens e falas a serem divulgadas ao final da pesquisa.

8.6 Boas Práticas 8.6.1 O Inventário do Círio de Nazaré Há 211 anos, o Estado do Pará, mais particularmente a capital, Belém, literalmente para por ocasião do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. No chamado Dia do Círio, o trânsito é interditado nas ruas centrais da capital, as lojas fecham, as ruas pelas quais a Procissão passa são profusamente decoradas; janelas, portas e sacadas são ocupadas pelos moradores atentos à passagem da imagem da santa. Muitos chegam até a comprar roupa nova para vestir no Dia do Círio.

A origem do Círio e da Festa de Nazaré está envolta em lendas ou mitos, que se misturam a fatos históricos. É difícil separar o mito da história apoiada em documentos. Sabe-se que a devoção à Nossa Senhora de Nazaré começou, no Brasil e no Pará, em uma localidade denominada Vigia (hoje sede de município) e de lá deve ter atingido a capital, Belém.

Por volta de 1700, reza a tradição, caminhava nas matas da então tortuosa estrada do Utinga, hoje Avenida Nazaré, em Belém do Pará, um caboclo agricultor e caçador chamado Plácido José dos Santos. Levado pela sede, acabou descobrindo entre pedras cobertas de trepadeiras, às margens do igarapé Murutucu (localizado atrás da atual Basílica de Nazaré), uma espécie de nicho natural com uma pequena imagem da Virgem de Nazaré (a imagem, hoje tida como a original, tem 38,5 centímetros de altura). Plácido levou-a para casa e, no dia seguinte, ao acordar, viu que havia desaparecido. Assustado, correu até o local onde a encontrara e percebeu que a imagem havia “voltado” para o mesmo lugar.

82 O fenômeno repetiu-se várias vezes, até que o governador, (a lenda não esclarece o seu nome), à época, mandou que a imagem fosse levada para a capela do Palácio do Governo, onde ficou guardada pelos soldados, que passaram a noite em vigília, para impedir que alguém ali penetrasse ou de lá saísse. Contudo, no dia seguinte, a Santa foi de novo encontrada às margens do igarapé, no mesmo lugar para onde sempre retornava, com gotas de orvalho e carrapichos presos a seu manto, numa “prova” da longa caminhada através da estrada: a santa “viva” novamente se locomovera por seus próprios meios.

Para atender aos desejos da Santa, Plácido resolveu então construir uma pequena ermida para abrigar a imagem. A notícia do “milagre” espalhou-se rapidamente, atraindo para a palhoça do caboclo os lenhadores seus vizinhos e os habitantes da cidade, que, de curiosos, passaram a engrossar as fileiras dos devotos da Santa Milagrosa.

A cada ano aumentava o número dos que iam até a cabana do caboclo a fim de ofertarem ex-votos – objetos de cera representando membros do corpo humano, muletas ou retratos, forma utilizada pelos fiéis para demonstrar o reconhecimento por graças alcançadas – aos pés do altar.

Nas peregrinações, sobressaíam-se os círios ou velas de cera que, tal como em Portugal, depois passaram a denominar a própria Procissão feita em homenagem à santa.

O primeiro bispo do Pará, Dom Bartolomeu do Pilar (que esteve à frente do Bispado do Pará, entre 1721 e 1723), visitou a modesta ermida da Santa e incentivou a devoção iniciada pelo caboclo Plácido. Entre 1730 e 1774 construiu-se outra ermida.

Para o antropólogo Raymundo Heraldo Maués, a aproximação das autoridades religiosas da devoção à Virgem de Nazaré em Belém – e também em Vigia – marcaria: O início do controle eclesiástico sobre essa devoção popular, que se acentuou em 1793, quando o quinto bispo do Pará, Dom João Evangelista, que também visitou a imagem de Plácido, oficializou a devoção, colocando Belém sob a proteção de Nossa Senhora de Nazaré.

O Círio de Nazaré é um acontecimento que envolve, direta ou indiretamente, toda a população paraense, estendendo sua influência para além dos limites do Estado do Pará. Apesar da existência de Círios de Nazaré em outros municípios do Pará e mesmo em outros Estados do Brasil, nenhum deles possui a amplitude que o Círio de Nazaré alcança em Belém, configurando-o como um dos fenômenos religiosos mais importantes do Brasil. Logo, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará, é muito mais do que um mero fenômeno religioso, podendo ser observado e compreendido sob diversos pontos de vista: religioso, estético, turístico, cultural, sociológico, antropológico.

83 A devoção pela Santa é parte do cotidiano dos paraenses. Está presente nos pequenos altares domésticos, no movimentado Mercado do Ver-o-Peso, nas bancas de peixe, nos supermercados, em bancos, instituições governamentais e meios de comunicação. Nossa Senhora de Nazaré chega a ser chamada carinhosamente por muitos devotos de “Tia Naza” ou mesmo “Nazica”, o que evidencia a relação direta, estabelecida entre o devoto e a Virgem, fenômeno recorrente nas devoções populares no Brasil. Diante da grandiosidade e importância de uma manifestação de mais de 200 anos, é desnecessário falar em extinção.

Certamente, muitos aspectos do Círio sofreram alterações ao longo dos anos, o que não poderia ser diferente em se tratando de um fenômeno cultural. Mas não é possível afirmar, como o fez Clóvis Meira, que “a tradição desapareceu”. A tradição transformou-se, recriou-se, atualizou-se, acompanhando a dinâmica da história. O reconhecimento de um bem de natureza imaterial como patrimônio cultural brasileiro, por meio do Registro, atribui-lhe valor representativo da cultura e da identidade brasileira.

Ao chancelar determinada manifestação cultural com esse título, a União assume tanto a responsabilidade de acompanhar os possíveis desdobramentos e reflexos desse ato sobre o bem, quanto o compromisso com a sua preservação.

Compromisso este que se traduz na sua divulgação e valorização, e também na recomendação de ações para sua salvaguarda.

Se não há razão para preocupações com o desaparecimento do Círio de Nazaré, há uma série de medidas que podem ser adotadas para sua preservação.

Segundo o Inventário Nacional de Referências Culturais do Círio de Nazaré, delimitar o objeto de registro como patrimônio histórico e cultural do Círio de Nazaré não foi uma tarefa fácil, pois não se pode reduzir uma Celebração de mais de 200 anos a apenas algumas de suas manifestações, já que todas as celebrações e demais bens associados ao evento constituem o Círio de Nazaré em sua completude atual. É possível reconhecer, entretanto, que alguns desses bens vinculados à festividade apresentam características especiais.

Em relação à inserção no tempo da longa duração, encontram-se os elementos que possuem uma continuidade histórica suficiente para que se possa considerá-los essenciais à Festa de Nazaré, como a Procissão do Círio, a imagem da Santa, a trasladação e a corda. Destes alguns acompanham o Círio desde suas origens.

Em segundo lugar, estão aqueles elementos que, muito embora de menor densidade histórica, foram incorporados à tradição de tal forma que é impossível pensar o Círio de Nazaré sem eles. Neste caso estão, por exemplo, o almoço do Círio e os brinquedos de miriti.

O reconhecimento desses bens como patrimônio cultural brasileiro não tem caráter cristalizador, ou seja, não se quer dizer com isto que somente tais bens representam o que há de essencial no Círio de Nazaré e que, por isso, não pode-

84 rão ser alterados. Muito pelo contrário, pela legislação do registro, deverão ser revistos no máximo a cada dez anos para reavaliação e atualização. É possível que não haja unanimidade quanto à inclusão ou exclusão de um ou outro bem no conjunto das celebrações essenciais do Círio de Nazaré, mas é preciso não perder de vista os critérios utilizados nessa caracterização. A dinâmica própria do Círio mostrará, nos anos vindouros, se tais elementos continuarão ou não sendo essenciais ou se serão substituídos por outros.

A dinâmica dessas mudanças não depende unicamente do Iphan, da Diretoria da Festa de Nazaré, do Clero ou dos devotos. Mas as mudanças ocorrem, queiramos ou não, como fruto do embate permanente entre os diversos sujeitos envolvidos na realização do evento, num permanente processo de negociação e conflito, de alianças e rupturas. É essa a lógica das transformações.

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Riscos Por se tratar de um processo espontâneo que surge dos anseios de preservação de seu patrimônio por parte da comunidade Oeirense, a pesquisa não oferece riscos.

As informações decorrentes do inventário não têm qualquer consequência financeira ou fiscal. Contrariamente àquelas que são disponibilizadas publicamente no inventário científico ou na ocasião do tombamento, estas não atraem nenhuma publicidade, e, portanto, não há qualquer risco de especulação, de vandalismo, de expropriação ou de roubo, salvo se os proprietários decidirem especular. Há evidentemente esse risco, mas que se aplica a qualquer tipo de inventário, e uma das tarefas ação comunitária será a de se opor a isso ou de remediar a situação (VARINE, 2013, p.

46).

Porém, como se trata de um patrimônio valioso para a Comunidade, a pesquisa tive bastante cuidado com a abordagem e a coleta da memória afetiva dos participantes. Minha preocupação com a metodologia utilizada se deu no sentido de que não houvesse resistência por parte dos colaboradores, já que se tratava de vivências sagradas, culto, credo e fé, tradições caras à população desse contexto. Assim, ponderei de maneira cautelosa a minha relação enquanto pesquisador com a minha própria Comunidade, sendo eu sujeito ativo na manutenção dessa Celebração. Deste modo, o etnógrafo “deve atentar-se para o comportamento e, com exatidão, pois é através do fluxo do comportamento – ou mais precisamente, da ação social – que as formas culturais encontram articulação” (GEERTZ, 1989, p. 27).

Foi preciso pensar nessa imersão etnográfica tomando alguns cuidados, sobretudo na descrição dos dados coletados, pois se, por um lado, o fato de ser Comunidade, agente de cultura local e partícipe da Celebração, facilitou a interpretação de alguns termos e gestos dos entrevistados, foi preciso durante o processo, por muitas vezes, exercitar o olhar de pesquisador com distanciamento.

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Memorial descritivo dos produtos e serviços:

considerações parciais sobre o

inventário participativo da cele bração dos passos em Oeiras-Piauí Ao buscar estabelecer essa rede comunitária colaborativa, iniciamos o processo de Inventário Participativo com uma mobilização, isso traria de forma mais transparente o esclarecimento do problema já identificado: a preocupação da Comunidade Oeirense com o registro da Celebração dos Passos e, a partir do registro, um reconhecimento desse patrimônio como patrimônio cultural não apenas local, mas nacional.

A principal característica da pesquisa - ação consiste em estabelecer uma rede de comunicação no nível de captação de informação e de divulgação; faz parte de um projeto de ação social ou da resolução de problemas coletivos (THIOLLENT, 1987).

Após imergir em uma vasta literatura sobre a prática das Celebrações dos Passos pelo mundo, fui até as fontes primárias dessa manifestação em Portugal, especificamente em Lisboa, na Igreja de São Roque, no dia 4 de abril de 2019. A Procissão é organizada pela Real Irmandade de Santa Cruz e Passos da Graça, com apoio da Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa.

Desde 1910, a Procissão tinha o seu percurso apenas até a Igreja da Graça, que fica em um conjunto composto pelo Convento da Graça, localizado no Largo da Graça, na Freguesia de São Vicente em Lisboa. Está virada para um miradouro com vista sobre a cidade e o rio. Entretanto, em 2013, retomou o percurso original, que vai da Igreja de S. Roque, no Bairro Alto, percorrendo diversas artérias da cidade entre as colinas de São Roque e da Graça, com paragem junto de sete Passos, sendo eles, a Igreja de São Roque, Igreja da Encarnação, Igreja de São Domingos, Ermida de Nossa Senhora da Saúde, Passo do Terreirinho (Rua dos Cavaleiros), Casa de São João de Brito (a Santo André) e Igreja da Graça.

Por conta da chuva que caía na noite de 4 de abril de 2019, a Irmandade resolveu que a Procissão não faria o percurso entre as duas igrejas. Assim, presenciei o ritual no interior da Igreja de São Roque, que iniciou as 21:00h. Esse fato

88 mostrou que a Irmandade possui certa preocupação com o desgaste e segurança das imagens. Em Oeiras, Piauí, mesmo com a chuva, a Procissão dos Passos percorre as ruas do Centro Histórico com a participação dos fiéis, sendo as imagens cobertas por plástico transparente.

Apesar de ter acontecido dentro da Igreja, pude observar muitos elementos comuns entre a Procissão dos Passos de Lisboa e a Celebração dos Passos em Oeiras.

Dentre a presença de vários elementos comuns na liturgia, chamaram-me a atenção, o uso da cor roxa, tanto nos paramentos do Clero, vestimentas usadas pelos sacerdotes nas celebrações eucarísticas, como também nas roupas dos fiéis e membros da Irmandade.

A utilização das imagens do Bom Jesus dos Passos, carregando a cruz, e de Nossa Senhora das Dores com o semblante de sofrimento e piedade, tendo seus andores estrutura de madeira resistente, em forma de padiola portátil e ornamentada e usadas em cortejos religiosos, assim como em Oeiras, são transportados nos ombros dos carregadores das famílias encarregadas de repassar a tradição para as novas gerações.

Outro elemento importante na Celebração da Igreja de São Roque foi o uso do Sudário, peça em tecido que possui a face de cristo pintada, mostrada pela personagem verônica durante o canto do lamento nas duas procissões (Figura 16).

Figura 16 - Estandarte da Imandade da Misericórdia da Igreja de São Roque em Lisboa - Portugal

Fonte: Cassia Moura (2019)

89 Através dessa observação na Celebração de São Roque, constatei as transformações na Celebração dos Passos em Oeiras no Piauí com o hibridismo de elementos da cultura popular. Outro aspecto importante para confirmar a preservação da tradição em terras lusitanas, mas também para perceber a diminuição da quantidade de fiéis em relação a nossa Celebração (Figuras 17, 18).

Figura 17 - Procissão do Bom Jesus dos Passos na Igreja de São Roque em Lisboa Portugal

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

Figura 18 - Procissão do Bom Jesus dos Passos na Igreja de São Roque em Lisboa Portugal

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

90 A segunda etapa foi a elaboração de um cronograma de ações participativas e colaborativas; estas visavam a coleta de narrativas com diversos atores envolvidos na preparação e manutenção da Celebração que envolveria desde o clero, a cuidadores das imagens e preparadores das figuras bíblicas, personagens que compõem a via-sacra secular.

Antes da aplicação de questionários e gravação dessas entrevistas, intituladas Diálogos, Cafés e Memórias, apresentei em aula pública o Projeto de Pesquisa, proposta de pesquisa-ação para o Inventário Participativo, no Auditório da Biblioteca Municipal de Oeiras, tendo este evento ampla divulgação e participação da Comunidade, professores e estudantes.

Essa ação fez com que outros atores sociais e entidades de salvaguarda, contribuíssem para a construção do Inventário, propondo outras ações. Além disso, a comunicação é elemento basilar do processo de Inventário, visto que se trata de um processo comunitário.

Essa ação fez com que o Processo de Inventário fosse comunicado através das rádios e portais locais como forma de mobilizar um número maior de pessoas envolvidas (Figuras 19, 20, 21).

Figura 19 - Aula Pública sobre a proposta de Inventário da Celebração dos Passos em Oeiras-PI

Fonte: Portal Mais Oeiras (2019).

91 Figura 20 - Aula Pública sobre a proposta de Inventário da Celebração dos Passos em Oeiras-PI

Fonte: Portal Mais Oeiras (2019).

Figura 21 - Aula Pública sobre a proposta de Inventário da Celebração dos Passos em Oeiras - PI. Pronunciamento da Coordenadora Programa de Mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia (UFPI), Professora Doutora Aurea da Paz Pinheiro

Fonte: Portal Mais Oeiras (2019).

92 Com a adesão voluntária dos atores envolvidos na organização da Celebração dos Passos, iniciei as rodas de conversa utilizando pesquisa oral, gravação em áudio e vídeo, além de registro em caderno de campo.

O primeiro encontro foi na residência da Senhora Célia Maria Oliveira Santos, localizada na Rua Zacarias de Góes e Vasconcelos, n. 292, Centro de Oeiras-PI, no dia 23 de julho de 2019.

Na ocasião, reuni sete senhoras, responsáveis pela arrumação, vestimenta e deslocamento da imagem de Nossa Senhora das Dores na Procissão. Todas elas pertencentes ao Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus, quais sejam: •

Maria da Guia Dantas, costureira e zeladora do Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus.

•

Maria Jucilene Cunha, dentista e zeladora do Sagrado Coração de Jesus, atual Presidente do Apostolado da Oração.

•

Conceição de Maria Barroso Moura de Albuquerque, professora e zeladora do Apostolado da Oração.

•

Gabriela Maria Ferreira dos Santos Reis, pedagoga e zeladora do Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus.

•

Maria Martins de Oliveira, costureira e zeladora do Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus.

•

Teresa de Jesus Salvador, professora e zeladora do Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus.

•

Célia Maria Oliveira Santos, dona de casa e zeladora do Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus.

Além de se identificarem, as participantes revelaram há quanto tempo se dedicam a essa tradição e quem transmitiu a elas. Em seus relatos, percebemos que a prática foi repassada, geralmente pelas famílias. Nenhuma delas vê esse trabalho como uma obrigação, mas sim como uma missão.

Outro fator importante é sua preocupação em repassar para as novas gerações algo que para elas é tão raro. Isso nos mostrou a importância de um trabalho de Inventário; temem o repasse da tradição, pois veem aquele momento como sagrado, por isso devotam respeito, é um ritual silencioso e sigiloso.

Em 2015 uma pessoa lá na hora do encontro chegou do meu lado e disse “- Eu posso levar Nossa Senhora?” e eu disse “Não só pode como deve”, aí quando chegou no Passo do Engano ela disse “Eu posso continuar?” aí eu disse que pode e fiquei atrás dela levando o descanso, quando chegou na igreja ela me agradeceu tanto, que o maior desejo que ela tinha na vida era de Nossa Senhora e não tinha coragem de pedir (Gabriela Maria Ferreira dos Santos Reis em Roda de Conversa com Zeladoras do Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus em julho de 2019).

93 Por isso mesmo, todas as participantes expressaram a importância de um registro por meio do Inventário, pois não existe nenhuma referência, nem mesmo fotografias. A roda (Figura 22) revelou a necessidade de registro que significam informações necessárias para que a tradição não desapareça ou mesmo se modifique.

Então o que tá faltando? Informação, Conhecimento. A partir de quando houver registros isso não vai acontecer, porque o conhecimento tá ali arquivado, registrado e isso que é importante porque realmente, vocês tem toda razão, Nossa Senhora é assim como nossos pais. A minha mãe quase não tira a roupa na minha frente e esse respeito de tirar a roupa, é tirar a roupa da imagem de Nossa Senhora, é um gesto sacramental, não deixa de ser, é um gesto sacramental que virou uma tradição é aqui em Oeiras. E eu senti ao primeiro momento que eu entrei lá eu senti, Stefano, eu senti. Olha, alguma sorriu pra mim e disse “não, não se preocupe, eu já tenho noção” e aquilo eu guardei comigo caladinha e continuei minha ajuda que já precisa de gente novo (Conceição Barroso de Moura Albuquerque em Roda de Conversa com Zeladoras do Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus em julho de 2019).

Figura 22 - Roda de Conversa Diálogos, Café e Memórias 1. Cuidadoras e Carregadoras da Imagem de Nossa Senhora das Dores

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

As falas revelaram também a emoção de vestir a imagem e o respeito do ato que antes era realizado na Catedral, a portas fechadas, e que hoje acontece no salão paroquial. Isso mostrou transformações na Celebração e exercitou também as memórias submersas refletidas nas falas das senhoras mais idosas, transcritas em anexo.

94 O grupo possui ainda jovens, porém esse universo relatado é totalmente feminino até hoje. Segundo as participantes das rodas, nunca foi permitida a presença de homens nem no ritual de vestimenta da roupa da Imagem de Nossa Senhora das Dores, nem para carregá-la durante a procissão. Todas acreditam na manutenção dessa tradição (Figura 23), para elas é uma forma de expressar respeito.

Figura 23 - Roda de Conversa Diálogos, Café e Memórias 1. Cuidadoras e Carregadoras da Imagem de Nossa Senhora das Dores

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

Nessa perspectiva, as histórias relatadas me levaram a detalhes dessa missão, antes desconhecidos, como a salvaguarda das roupas e acessórios de Nossa Senhora recomendados à Dona Maria Martins de Oliveira. Em sua casa está a mala com os pertences da santa.

Esse é um ponto importante da pesquisa-ação, os próprios atores, suas vivências e histórias vão conduzindo o processo da pesquisa. A Roda de Conversa nos levou a uma visita à casa de Dona Maria Martins, visto que ela queria relatar sua missão de guardiã das roupas de Nossa Senhora das Dores, além de entender que era preciso registrar todos os pertences que ficam sob sua responsabilidade (Figura 24).

95 Figura 24 - Cuidadora das Roupas de Nossa Senhora das Dores

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

A partir de sua narrativa, marcamos uma visita para, juntos, visualizarmos o acervo. Esse processo me colocou em exercício com conceitos metodológicos da Etnografia, pois vivenciei seu universo domiciliar mais íntimo, o quarto, onde ela conserva as roupas, anáguas, mantilhas e os véus doados por devotos e promesseiros.

Todos os pertences foram mostrados pela devota, que revelou guardar uma folha de papel avulsa, com a lista de pertences da Imagem que recebeu, em 2008, da Sra. Thereza de Jesus e Silva.

Não é uma mala com zíper, Chico Rêgo disse que a mala foi ele que deu. Eu ia para Teresina porque as meninas queriam que eu fosse para Teresina mas eu disse que não aí quando eu tava em Teresina Chico Rêgo recebeu, Teresa entregou e quando eu voltei eu fui pegar (Maria Martins de Oliveira em Roda de Conversa com Zeladoras do Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus em julho de 2019).

96 Durante a entrevista registramos as vestes existentes hoje, sendo elas, três túnicas em tecido, duas combinações, três anáguas e seis mantilhas usadas há vários anos na Celebração. Todas essas vestes estão inventariadas em fichas de objetos que se encontram em anexo, nesta dissertação (Figuras 25, 26).

Figura 25 - Cuidadora das Roupas de Nossa Senhora das Dores

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

Figura 26 - Cuidadora das Roupas de Nossa Senhora das Dores

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

97 O local do segundo encontro de Diálogo, Cafés e Memórias foi escolhido pelos próprios atores que seriam entrevistados, o que os deixou à vontade, transformando o processo tenso, geralmente ocorrido em entrevistas para pesquisas, em agradáveis momentos de descoberta e aprendizado.

A casa do Senhor Francisco de Moraes Rego, localizada na histórica Rua do Fogo, no coração do Centro Histórico de Oeiras, no dia 28 de julho de 2019, foi o cenário para a coleta de narrativas dos homens que cuidam e vestem a Imagem do Bom Jesus dos Passos No desenvolvimento da pesquisa - ação, os pesquisadores recorrem a métodos e técnicas de grupos para lidar com a dimensão coletiva e interativa da investigação o e também de registro, de processamento e de exposição dos resultados (THIOLLENT, 1985, p. 26).

Partindo desse princípio, percebi, através das primeiras falas dos atores, certa resistência a questionário, e aderi a termos que continham a essência das perguntas; desta forma, deixei que cada um narrasse de onde surgiu sua devoção e de como iniciaram esse trabalho.

Essa estratégia os levou a buscar memórias afetivas da Celebração que revelaram não só o trabalho voluntário, mas o status de salvaguardar o que é sagrado para a Comunidade, visto que a imagem é o símbolo mais emblemático para a população oeirense. Esse sentimento de poder sentido na salvaguarda desse patrimônio, tão caro à população, mostrou o porquê da transferência de responsabilidade para os filhos.

Estavam no encontro o Senhor Francisco de Moraes Rêgo e seu filho Rafael Bandão Portela Rêgo, bem como o Senhor José Alberto Tomaz dos Santos e seu filho José Alberto Tomaz dos Santos Júnior (Figura 27).

Figura 27 - Cuidadores da Imagem do Bom Jesus dos Passos

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

98 O processo iniciado que exercita a metodologia experimental da pesquisa-ação, associada à imersão etnográfica, mostra-se rico, tendo-se em vista que também revela uma heterogeneidade de objetos pesquisados sem eleger um como superior ao outro no registro.

Eu comecei como coroinha da Igreja com seis ou sete anos, a partir desse momento eu já tinha interesse e já tinha devoção por Bom Jesus e eu tive interesse em participar com Manoel que era o sacristão da época, era o pai do Beto e eu comecei a ver, assistir, ajudar a trocar, e são poucas pessoas que têm esse privilégio, poucas mesmo, são escolhidas pra quê? É muito sério, a tradição diz que é muito sério, a gente não pode chegar lá com qualquer pessoa pra ver e fotografar, não se faz isso. Então comecei com sete anos e fui crescendo e isso foi, todo mundo sabe que essa parte de tradição da Semana Santa vem de pai pra filho, de família para família e como que isso aconteceu em Oeiras? O padre da época era o José de Freitas, ele tinha vários filhos e ele definiu aqueles pontos para que ajudasse ele nesse trabalho, nessa evangelização, nesse teatro porque quer queira ou não é um teatro que a gente faz e ele colocava pessoa deles, os filhos, e assim foi se passando de pai pra filho. Eu alcancei a filha dele, a tia Maroca fazendo, que era irmã da minha vó, ela fazia esse trabalho e eu ia assistir ela fazer isso e me inteirando e aprendendo com aquilo que ia acontecendo. Quando ela morreu ela deixou pra mãe de Maria Oliveira e eu continuei indo e quando Maria Oliveira não tinha mais condição ela chegou e me perguntou se eu podia ficar já que eu era da mesma descendência então eu que continuaria, porque não tinha mais ninguém próximo então (Francisco de Moraes Rêgo em Roda de Conversa com cuidadores da Imagem do Bom Jesus dos em julho de 2019).

Em todo o Inventário, o conhecimento acadêmico dialogou com causos e saberes, narrativas elaboradas se entrecruzaram com sentimentos expressos pela linguagem simples provenientes de vivências.

Nunca perdi uma Semana Santa, estava lá sempre ajudando, comecei desde pequeno com ele e o meu pai começou a trabalhar com o Cardoso. Eu tinha quase onze anos de idade, daí quando seu Cardoso perguntou pra mãe Vincentinha que era uma parteira antiga que tinha] na cidade, porque naquela época a situação da medicina era um pouco caro e pegou muita gente aqui, não cheguei a conhecê-la mas gente mas as pessoas mais antigas aqui que repassavam. Eram seis filhos e Cardoso foi lá perguntar se ela não queria dar o menino pra morar com ele com onze anos, aí ela disse que dava e ele foi morar com Cardoso daí o papai começou a trabalhar com Cardoso e Vasconcelos se não me engano, vindo de Castelo do Piauí, no tempo não tinha e daí papai trabalhou com Dom Expedito, dom Raimundo, dom Aguilberto e só não chegou a alcançar dom Juarez e dom Adilson que hoje é o berço atual, mas com todos esses bispos e todas essas pessoas. Quando eu comecei esses meus entendimentos, tive vontade do seminário mas não deu certo pois eu era muito novo, dom Gilberto pediu pra meu pai que era pra deixar para ver o que ele queria, aí veio a música. Mas eu era danado, mexia nos vestidos da minha mãe e eu pegava pra celebrar a missa, a gente morava bem aqui nessa casa que Paulo mora que é da diocese da igreja, há muito tempo, a gente morava ali, tinha os colegas, doutor Zé Reis, doutor Darci e eu sempre com os meninos celebrando missa, eu achava bom, achei engraçado, só que deu me botou nessa missão e eu não cheguei a ser sacerdote mas estou lá cantando, louvando, tocando e agradecendo a Deus, tudo que eu faço é com amor. Eu amo (José Alberto Thomaz dos Santos em Roda de Conversa com cuidadores da Imagem do Bom Jesus dos em julho de 2019).

99 As narrativas revelaram também uma preocupação com os objetos cuidados no que se refere a sua segurança, bem como a preocupação em não incorporar novos elementos como forma de manter viva e fiel a tradição secular.

O que acontece, se tivesse a possibilidade de voltar teria que ser estudado e pesquisado, pra ver como é que poderia acontecer. Inclusive você sabe a questão do museu que tem as lanças, são quatro lanças que entram, existiam o centurião fazendo isso lá na frente, tocando o berrante, mas isso há muito tempo desapareceu. E com dois anos voltou, mas de uma maneira aleatória e não é pra ser assim, teria que ser feito um estudo e uma pesquisa para que se fosse necessário voltar (Francisco de Moraes Rêgo em Roda de Conversa com cuidadores da Imagem do Bom Jesus dos em julho de 2019).

A partir do relato dos cuidadores, registramos as peças tradicionalmente usadas na celebração, sendo elas, Imagem do Bom Jesus dos Passos, Imagem de Nossa Senhora das Dores, Resplendor do Bom Jesus dos Passos, Resplendor de Nossa Senhora das Dores, Andor do Bom Jesus dos Passos, Andor de Nossa Senhora das Dores, Guião, Lanternas, Pálio, Dossel, Sudário e a Relíquia do Santo Lênho. Todos esses objetos, suas descrições, registros fotográficos e especificidades litúrgicas estão nas fichas de objetos que seguem no anexo desse trabalho (Figura 28 a 42).

Figura 28 - Resplendor do Bom Jesus dos Passos

Fonte: IPHAN.

100 Figura 29 - Guião usado na Procissão dos Passos

Fonte: IPHAN. Figura 27 - Cuidadores da Imagem do Bom Jesus dos Passos

Fonte: IPHAN.

101 Figura 31- Varas do Pálio em prata usada na Procissão dos Passos

Fonte: IPHAN. Figura 32- Cruz em Madeira carregada pela Imagem do Bom Jesus na Procissão

Fonte: IPHAN.

102 Figura 33 - Pálio Roxo usado na Procissão do Bom Jesus na Procissão

Fonte: IPHAN. Figura 34 - Imagem de Nossa Senhora das Dores

Fonte: IPHAN.

103 Figura 35 - Imagem de Nossa Senhora das Dores

Fonte: IPHAN. Figura 36 - Imagem de Nossa Senhora das Dores

Fonte: IPHAN.

104

105 Figura 39 - Detalhe da Imagem do Bom Jesus dos Passos

Fonte: IPHAN. Figura 40 - Detalhe da Imagem do Bom Jesus dos Passos

Fonte: IPHAN.

106 Figura 41 - Imagem do Bom Jesus dos Passos e Nossa Senhora das Dores no Altar

Fonte: IPHAN. Figura 42 - Entrevista com os Representantes do Clero da Diocese de Oeiras

Fonte: IPHAN.

107 No terceiro encontro, mobilizamos Representantes do Clero da Diocese de Oeiras, quais sejam: o Bispo Dom Edilson Soares Nobre, o Pároco da Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Possidônio Ferreira Barbosa Júnior, e o Padre Benedito Silva de Macedo da Paróquia Nossa Senhora do Rosário.

Ao tratar sobre o processo da pesquisa, buscamos em suas falas a visão da Igreja sobre o Inventário Participativo como instrumento para o registro da Celebração; a visão dos sacerdotes era importante, não para chancelar o processo de inventário, mas para revelar o sentimento voluntário e comunitário como grupo participante que é a Igreja, sendo fundamental para os resultados.

Eu, particularmente dos três, sou o que conhece há menos tempo essa experiência. Estou a pouco mais de dois anos residindo na cidade de Oeiras, já participei de três eventos porque quando cheguei no primeiro ano já estávamos vivência a efervescência desse ato religioso que para mim foi uma grande surpresa, porque eu vejo de fato como um fenômeno que se destaca a nossa diocese e por que não dizer no nosso Piauí onde as celebrações, as atividades realizadas despertam o interesse e motivam a participação de pessoas de vários locais. Eu vejo que isso acontece de forma muito natural, praticamente fazendo ou não fazendo divulgação, é algo que já está estabelecido no calendário das pessoas. Então ter-se um registro disso, reconhecer como um patrimônio nosso, creio eu, é de fundamental importância. No meu entendimento, entre todos os eventos que nós realizamos aqui, daqueles que eu tenho conhecimento e pude participar, de fato é um evento que tem uma maior mobilização de pessoas e que acontece de uma forma quase que natural, onde cada pessoa que tem as suas responsabilidade vão se envolvendo de uma forma muito natural de modo que todo mundo, a cidade toda está envolvida e a cidade toda se transforma com o evento Bom Jesus dos Passos. Então eu particularmente, considero como algo que merece ser dado um grande destaque e ser registrado para que de fato seja reconhecido mundialmente (Dom Edilson Soares Nobre, Bispo da Diocese de Oeiras em Roda de Conversa com representantes do clero em agosto de 2019).

A etnografia está presente em todo o processo pela imersão cotidiana durante a pesquisa. Na vivência com a manifestação, no registro que realizei, ajudado com Equipe de vídeo e áudio, bem como no registro escrito dos relatos transcritos na íntegra, em anexo, transformados em livro e em videoinventário, encontra-se uma amostra áudio visual dos resultados.

Assim, já que focamos o povo de Oeiras e sua cultura e tradição, lembramos Amaral e Neto (2011), ao alertar que: [...] o método etnográfico é baseado na pesquisa de campo, o que implica numa personalização do método de acordo com o objeto de estudo; é indutivo, ao passo que existe a possibilidade de um acúmulo; é dialógico, pois o nativo tomado como objeto pode discutir as interpretações do pesquisador; e finalmente holístico, pois se busca um relato mais completo possível sobre o estudado (AMARAL; NETO, 2011).

O método etnográfico facilitou o exercício dialógico e se transformou em diversas linguagens, fruto de uma abordagem que visou expor fielmente as vivências dos grupos pesquisados, criando um painel de vários espectros sobre uma celebração que é diversa e heterogênea, manifestando-se de maneira simples, porém carregada de significados, onde muitos elementos não podem ser vistos,

108 pois são frutos de vivências da fé dos devotos, do trabalho e da crença, e que somente uma arqueologia da memória poderia registrar em palavras, imagens e sons.

Olha, uma coisa bonita é que esse alecrim por mais que seja tirado, tudo é feito de forma artesanal, não existe uma agressão ecológico, quer dizer, de destruição do próprio alecrim. Pelo contrário, essa união entre a ecologia e a Semana Santa é também promovida, aqui tem um restauro da própria natureza, a natureza ecológica do alecrim e depois a própria natureza, vamos dizer, também exegética, como o Monte das Oliveiras. Vamos dizer, a Semana Santa, a ecologia, a natureza, a história e a vida se tornam um momento dinâmico. O cuidado, uma coisa que também achei interessante, um zelo para evitar a poluição é também um cuidado ecológico, o atendimento para que as pessoas não passem sede, é uma outra manifestação de fé. O cuidado com a água em servir a pessoa, para que as pessoas não desidratam em muitos pontos. E também o cuidado com a própria água, são pequenos selos ecológicos e uma atenção importante. E que essa pesquisa também é, uma coisa muito boa. Um elemento também que vem encontro da ecologia nesse momento, por exemplo, é que a própria manutenção das estruturas elas são feitas com elementos sustentáveis, você vai manter a própria amada catedral da Igreja do Rosário, os passos não são feitos com materiais degenerativos que vai poluir a sociedade. Não, é tudo feito com material ecologicamente correto. Se a gente entende essa questão ecológica também é um modo de conservar, preservar e promover. Eu penso nesses três pontos, por exemplo, nossa amada catedral construída em 1733 e toda a conservação dela é feita ecologicamente correta, ela foi construída com produto, digamos, natural e é mantida durante toda essa época com produto natural que não agride a natureza, que não agride a ecologia. O uso do alecrim, o uso de tantas outras coisas. Não existe uma sujeira depois de uma procissão, talvez um ou outro evento deixe sujar mais as estradas, as vias do que um evento com tanta gente. Nós mesmos temos essa preocupação porque a fé tem que também pactuar com a vida das pessoas, a sociedade, a dignidade humana, o compromisso de todos com o outro, de todos com si, de todos com Deus, de todos com a sociedade, por um mundo melhor. Um compromisso com todos para que a vida seja promovida, a vida seja garantida. A fé vem promover, isso é uma perspectiva de promoção da própria vida (Padre Possidônio Ferreira Barbosa Júnior, Pároco da Catedral de Nossa Senhora da Vitória em Roda de Conversa com representantes do clero em agosto de 2019).

Durante a pesquisa, atentamos para o fato de que, além dos executores, existe um grupo importante que participa ativamente da Celebração e que seus participantes não se configuram apenas como receptores passivos, mas partícipes ativos na manutenção e transmissão dessa tradição. Era preciso investigar de forma mais objetiva esse grupo, sem a visão romântica e estereotipada do romeiro.

Por sua vez, a pesquisa precisava mostrar outros olhares sobre a Celebração dos Passos, visto que nela existe uma diversidade social acentuada, além de hierarquia social visível.

Por outro lado, era preciso ouvir as novas gerações sobre a Celebração, coletar dados de pessoas de diferentes bairros e comunidades rurais. Isso daria uma visão diversificada e plural, inclusive detectando como as novas gerações veem essa Celebração.

109 Deste modo, elaboramos um questionário com perguntas objetivas e subjetivas acerca da manifestação, relacionadas à participação, à tradição, à manutenção, questionando sobre qual a visão desse grupo em relação às relações sociais na manutenção do patrimônio cultural local.

A pesquisa foi aplicada dia 11 de dezembro de 2019, tendo a participação de 725 alunos da Escola Municipal Juarez Tapety, Rede Pública Municipal de Ensino, Escola localizada na Avenida Rui Barbosa, no Centro da Cidade de Oeiras, e que recebe alunos do quinto ao nono ano do Ensino Fundamental, de diferentes bairros da cidade e comunidades rurais. Essa amostra nos daria um reflexo da celebração sob a ótica de jovens de contextos sociais, econômicos e culturais diferentes.

Sobre a religião dos pesquisados, observamos a forte tradição católica da cidade, ainda com a maioria de fiéis no município, mesmo nas faixas etárias mais novas. Observemos, nos Gráficos que se seguem, a comprovação de nosso estudo em relação ao tema em discussão (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Religião

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

Somando todos os pesquisados que se identificaram com outras religiões, os que não possuem religião e os que não responderam a questão não ultrapassam o número de católicos que responderam o questionário, mostrando, assim, a forte presença da prática católica na região até hoje. Uma amostra como essa nos mostrou por que uma celebração como a dos Passos ainda se mantém como a maior manifestação religiosa da cidade (Gráfico 2).

Gráfico 2 - Participação da Celebração

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

110 Uma maioria expressiva dos pesquisados participa da Celebração dos Passos em Oeiras. Mostrando o reconhecimento dessa manifestação como um evento cultural importante já estabelecido no calendário da cidade e da região.

A pesquisa mostrou também que o grupo pesquisado participa da Celebração dos Passos por tradição familiar. Esse dado é importante, visto que a maioria dos pesquisados se disse católica, mostrando, assim, uma manutenção da doutrina católica no hábito de frequentar procissões (Gráfico 3).

Gráfico 3 - Se já frequentou a Celebração, informe por meio de:

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

Nesse quesito, chama a atenção o fato de dos 725 alunos pesquisados, 129 não souberam por que vão à Celebração. Isso mostra também que nem sempre estão na Procissão pessoas incentivadas por suas famílias ou por crença. O que reforça o caráter cultural da Celebração. Essa interpretação se torna ainda mais evidente quando olhamos para o dado de que, dos 725 pesquisados, 271 frequentam a Procissão e a veem como um evento cultural da cidade.

Isso vem mostrar que a maior parte das famílias dos jovens pesquisados não tem a tradição de repassar, nos dias atuais, a prática religiosa da procissão, passando a frequentar como um evento cultural da cidade que desperta curiosidade e movimentação.

Outro fato importante apontado pela pesquisa foi como os entrevistados se veem na Celebração, visto que a maioria se diz apenas observador e a minoria dos entrevistados como ativos (Gráfico 4).

111 Gráfico 4 - Na Celebração dos Passos, sente-se um participante?

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

O fato de a maioria dos pesquisados se sentirem apenas observadores mostra que, se por um lado, algumas famílias da cidade passam a tradição para as novas gerações, sendo guardiãs dessa prática ancestral, isso limita a participação de grande parte da população. Esta, quando não é devota ou promesseira, não se sente ativamente participante na preparação e nas responsabilidades que mantém a tradição viva.

Isso mostra uma concentração de poder nas famílias mais tradicionais católicas, geralmente residentes em volta da Catedral, como mantenedoras de uma tradição que toda a Comunidade a reconhece como patrimônio.

Entretanto, quando a questão formulada se refere à participação da população em geral na Celebração, dos 725 entrevistados, 598 pesquisados admitem que a maioria da população participa ativamente, visto que, já olhando o aspecto geral da participação popular, observam a Comunidade participando não nos bastidores, na preparação da Procissão, mas sim como promesseiros, romeiros e devotos. Por isso, consideram a Celebração aberta a toda a Comunidade, incluindo até mesmo os não féis, mostrando assim, mais uma vez, o reconhecimento da Celebração pelos pesquisados, não apenas como um ritual religioso, mas sobretudo cultural (Gráfico 5).

112 Gráfico 5 - Como analisa a participação da população na Procissão?

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

Na última pergunta do questionário, os alunos poderiam deixar palavras-chaves, frases, poemas ou qualquer tipo de expressão referente ao sentimento que possuem pela Procissão dos Passos.

Nessa questão aberta, a maioria preferiu elencar palavras-chaves para responder à proposição. O resultado da análise desses dados revelou mais uma vez a visão dos entrevistados em relação à Celebração do Bom Jesus. A palavra mais citada foi “Patrimônio”, consolidando a ideia de identidade que liga a população Oeirense à celebração.

Quando tratamos de patrimônio, entendemos que, para uma comunidade manter um sentimento de pertencimento e consequentemente sua preservação, é preciso o conhecimento dessa população em relação a si própria.

Para contrapor a visão dos pesquisados na Escola Juarez Tapety, aplicamos também, via on-line, um questionário com representantes das entidades de Salvaguarda de Oeiras, quais sejam: O Instituto Histórico de Oeiras, o Conselho Municipal de Cultura de Oeiras, A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras, o Grupo de Consciência Negra Quilombo do Rosário, Representantes do Segmento Educacional e do Museu de Arte Sacra de Oeiras.

Foram unânimes os resultados sobre a visão desses atores e agentes culturais em relação à Identificação da Celebração dos Passos como um importante Patrimônio Cultual de Oeiras e do Piauí, a importância de seu registro para a preservação da memória, a percepção de conflitos e mudanças ao longo dos anos, a preocupação com modificações dessa tradição secular e a defesa de um Inventário Participativo como instrumento para potencializar o registro dessa Celebração como Patrimônio Cultural do Brasil (Gráficos 6, 7, 8, 9).

113 Gráfico 6 - Identifica a Celebração dos Passos como um importante Patrimônio Cultural de Oeiras e do Piauí?

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

Gráfico 7 - Pela riqueza cultural da Celebração e sendo importante para a preservação da memória, entende que é necessário seu registro, documentação e comunicação?

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

Gráfico 8 - Como Comunidade e pertencente a instituições culturais e de salvaguarda, percebe conflitos e mudanças ao longo dos anos que podem modificar a tradição secular na Celebração?

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

114 Gráfico 9 - Defender um Inventário Participativo é o melhor instrumento para potencializar o registro dessa Celebração como Patrimônio Cultural do Brasil?

Fonte: Stefano Ferreira (2019).

Mesmo entendendo esse reconhecimento das entidades de salvaguarda locais, tanto públicas, quanto privadas, surgiu também a necessidade de se discutir instrumentos legais do município para o reconhecimento da Celebração como Patrimônio Cultural da Cidade.

Por fim, a partir dessa necessidade, buscamos uma discussão com a Câmara Municipal de Vereadores, no intuito de sensibilizar um reconhecimento do município como forma de chancelar o pertencimento de toda a população em relação à Celebração dos Passos como um de seus principais patrimônios.

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Conclusão O Inventário Participativo da Celebração dos Passos de Oeiras, Piauí resultou em um conjunto normalizado de registros que são frutos de procedimentos, práticas e conceitos. Entretanto, mesmo com uma metodologia prevista, a construção desse documento teve em seu percurso ações que partiram de uma necessidade coletiva, fruto da participação dos atores sociais envolvidos.

Toda a teia de narrativas, resultado da memória do povo Oeirense, os significados atribuídos pelas pessoas e a ressignificação de uma prática ancestral, ligados a fé das pessoas, criaram um grande repertório documental que alinhavou o saber acadêmico, fruto de um referencial teórico que sustenta sua execução, bem como os saberes e vivências das pessoas, o que dá todo o sentido à coleção registrada, visto que o patrimônio só faz sentido quando existe com e para as pessoas.

Assim, o caráter de salvaguarda contido nesse trabalho extrapola não apenas uma questão de registro de uma tradição, mas também interpreta o patrimônio de forma analítica, com reflexões teórico-metodológicas que refletem dicotomias envolvidas na celebração como: Autoridade e poder, cultura e religião popular, tradição e modernidade.

Certamente, muitas questões e detalhes de uma Celebração tão rica quanto a dos Passos de Oeiras não foram esmiuçadas, pois não fora o objetivo de uma pesquisa como esta, visto que, em uma pesquisa colaborativa, as prioridades dos objetos pesquisados são decididas em conjunto. Assim sendo, uma arqueologia etnográfica foi apontando a partir das memórias dos atores construtores desse instrumento o que deveria ser documentado prioritariamente.

Assim, guiados pela Museologia Social, pintamos com as memórias afetivas do povo Oeirense um grande painel da Procissão dos Passos, ressaltando o que de mais raro essa Celebração possui na identidade dessa comunidade. Por isso, além da parte escrita com todas as normas que um registro como esse requer, produzimos também com o material resultante das rodas de conversa, sendo eles, fotografias, vídeos, áudios e anotações, um Videoinventário, intitulado “Inventário da Celebração dos Passos de Oeiras, Piauí: Amostras do Processo”, realçando todo o processo da pesquisa, seu caráter comunitário e sua metodologia construída, revelando que esse registro, por ser comunitário, pode ser revisita-

116 do e alimentado por outras pesquisas, pois a interpretação do patrimônio deve ser dinâmica para que ele esteja vivo.

O Inventário da Celebração de Bom Jesus dos Passos de Oeiras, Piauí vem como um chamamento público para a construção de instrumentos legais de proteção, a partir da mobilização dos agentes públicos e privados, alicerçados na educação para o patrimônio, para a promoção da valorização e preservação de um rico patrimônio cultural intangível presente nos sertões de dentro.

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Para saber mais, acesse o QR CODE abaixo e leia a publicação, sob o título “Os Passos de um Inventário: A Celebração do Bom Jesus dos Passos, Oeiras-Piauí-Brasil” , parte dos resultados da pesquisa-ação sob o título “Inventário Participativo da Celebração do Bom Jesus dos Passos”, de autoria de Francisco Stefano Ferreira dos Santos, desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, Mestrado Profissional, da Universidade Federal do Piauí, sob a orientação da Profª Drª Áurea da Paz Pinheiro.

anexos apêndices

&

Inventário Participativo da celebração do Bom Jesus dos Passos em Oeiras - Piauí FRANCISCO STEFANO FERREIRA DOS SANTOS

anexos apêndices

&

Inventário Participativo da celebração do Bom Jesus dos Passos em Oeiras - Piauí FRANCISCO STEFANO FERREIRA DOS SANTOS

ANEXOS

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ANEXO OFÍCIO DO BOM JESUS DOS PASSOS 1 ORAÇÃO INICIAL – Sinal da cruz Pelo sinal da santa-cruz, livra-nos Deus, nosso Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo – Amém Deus vos salve Virgem Filha de Deus Pai / Deus vos salve Virgem Mãe de Deus Filho / Deus vos salve / Virgem Esposa do Espírito Santo / Deus vos salve Virgem templo e sacrário da Santíssima Trindade.

2 Abre os meus lábios / Divino Senhor Dirá minha boca / O vosso Louvor.

Sede em meu favor / Deus Onipotente Vinde socorrei-nos / Sede diligente.

Glória ao Pai ao Filho / Ao amor também Que é um só Deus / Em pessoas tArês.

Como no principio / Agora e sempre Por todos os séculos / dos séculos. Amém Do Pai esplendor / Dos céus alegria Pelo nosso amor / Mui triste se via.

No Horto suando / Com grande agonia Sangue que em gotas / Na terra corria.

Lavar nossas culpas / Como ele queria Mas temendo a morte / aflito jazia.

Confortando um anjo / Então lhe dizia Que por nós morrendo / Vida nos daria.

Para que gozemos / Os Céus algum dia A Jesus dos Passos / Tomemos por guia.

Bendito sejais / Meu doce Jesus Que o mundo remistes / Pela santa cruz.

Dos fiéis as almas / Divino Senhor Convosco descansem / Em paz e amor.

Ouvi Bom Jesus / Minha oração Cheguem os meus brados / Ao vosso coração ORAÇÃO Senhor meu Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, ponho diante de vossos divinos pés a minha alma, em vossa paixão sagrada e acerba morte da cruz, agora e na hora da minha morte, dignai-vos dai-me os socorros da vossa divina graça, aos vivos e defuntos perdão e descanso,

[1]

1

a vossa igreja, paz e concórdia, a nós pecadores, glória e vida eterna, vós que viveis e reinais na unidade do Pai e do Espírito Santo por todos os séculos e séculos, Amém.

Sede em meu favor / Deus Onipotente Vinde socorrei-nos / sede Diligente.

Glória ao Pai, ao Filho / Ao amor também Que é um só Deus / em pessoas três.

Como no princípio / Agora e sempre Por todos os séculos / Dos séculos amém.

3 Por pagar por nós / Ao pai ofendido Quis o Rei da Glória / Ser preso e vendido.

Entregue por Judas / A Anás levado Como malfeitor / Com cordas atado.

Onde testemunhas / Falsas se achavam E a mesma inocência / De culpa acusaram.

E por Caifás / Blasfemo julgado Logo dos ministros / Foi atormentado.

Falsos testemunhos / Tem Jesus sofrido Testemunhos eram / Dos seus escolhidos.

Bendito sejais / Meu doce Jesus Que o mundo remistes / Pela santa cruz.

Dos fiéis as almas / Divino Senhor Convosco descansem / Em paz e amor.

Ouvi Bom Jesus / Minha oração Cheguem os meus brados / Ao vosso coração.

ORAÇÃO Senhor meu Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, ponho diante de vossos divinos pés a minha alma, em vossa paixão sagrada e acerba morte da cruz, agora e na hora da minha morte, dignai-vos dai-me os socorros da vossa divina graça, aos vivos e defuntos perdão e descanso, a vossa igreja, paz e concórdia, a nós pecadores, glória e vida eterna, vós que viveis e reinais na unidade do Pai e do Espírito Santo por todos os séculos e séculos, Amém.

Sede em meu favor / Deus Onipotente Vinde socorrei-nos / sede Diligente.

Glória ao Pai, ao Filho...

Como no principio/...

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4 As garras lançaram / Quais lobos sinistros Do manso cordeiro / Os ímpios ministros.

Cruéis bofetadas / Em seu rosto deram Outros Filipêndios / Muitos lhes fizeram.

Para que com vida / Não lhe escapasse A Pilatos foram / Que o condenassem.

Pilatos querendo / De sangue os fartar Com cruéis açoites / O fez derramar.

Sangue de Jesus / Por nós derramado Precioso óleo / É contra o pecado.

Bendito sejais ;/ Meu doce Jesus Que o mundo remiste / Pela santa cruz.

Dos fiéis as almas / Divino Senhor Convosco descansem / Em paz e amor.

Ouvi Bom Jesus / Minha oração Cheguem os meus brados / Ao vosso coração.

ORAÇÃO Senhor meu Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, ponho diante de vossos divinos...

Sede em meu favor / Deus Onipotente Vinde socorrei-nos / sede Diligente.

Glória ao Pai, ao Filho/...

Como no principio/...

5 De açoitar cansados / Os cruéis verdugos Lhes assentaram coroa / De espinhos agudos.

Na mão uma lança / Por cetro lhes deram e mofando Dele / Rei falso o fizerem.

Temendo Pilatos / Que assim o matasse Ao povo mostrou / Para que se abrandasse.

Mas o cruel povo / Não bem saciado Clama que na cruz / Morresse cravado. Ó povo tão feroz / Ó ódio tão forte Que a mesma vida / Condenas a morte.

Bendito sejais / Meu doce Jesus Que o mundo remistes / Pela santa cruz.

Dos fiéis as almas / Divino Senhor Convosco descansem / Em paz e amor.

Ouvi Bom Jesus / Minha oração Cheguem os meus brados / Ao vosso coração

[3]

ORAÇÃO Senhor meu Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, ponho diante de vossos divinos...

Sede em meu favor / Deus Onipotente Vinde socorrei-nos / sede Diligente.

Glória ao Pai, ao Filho/...

Como no principio/...

6 Corações tão duros / Nas vozes que deram Conheceu Pilatos / Que ferinos eram.

Então mais temendo / Na morte entregou E as mãos lavando / Limpas não ficou.

Entregue aos algozes / O manso cordeiro Tomou em seus ombros / Da cruz o madeiro.

Com qual ao monte / |Débil e cansado Subir para ser / Por nós imolado.

Subir com Jesus / Ao monte é preciso Para entrar com Ele / No seu paraíso.

Bendito sejais / Meu doce Jesus Que o mundo remistes / Pela Santa cruz.

Dos fiéis as almas / Divino Senhor Convosco descansem / Em paz e amor.

Ouvi Bom Jesus / Minha oração Cheguem os meus brados / Ao vosso coração.

ORAÇÃO Senhor meu Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, ponho diante de vossos divinos...

Sede em meu favor / Deus Onipotente Vinde socorrei-nos / sede Diligente.

Glória ao Pai, ao Filho/...

Como no principio/...

7 Da sagrada roupa / Ao monte subido Por cruéis algozes / Foi Jesus despido.

E com fortes cravos / Em a cruz pregado Entre dois ladrões / Nela levantado.

Por mais padecer / Estamos sequiosos Vinagre lhes deram / E fel amargoso.

Assim padecendo / Ao Pai orava Pelo povo / Que o crucificava.

[4]

Pelos inimigos / Devemos orar Para de Jesus / A glória alcançar.

Bendito sejais / Meu doce Jesus Que o mundo remistes / Pela santa cruz.

Dos fiéis as almas / divino Senhor Convosco descansem / Em paz e amor.

Ouvi Bom Jesus / Minha oração Cheguem os meus brados / Ao nos vosso coração.

ORAÇÃO Senhor meu Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, ponho diante de vossos divinos...

8 Jesus convertei-vos / Pois sois salvador/ Afastai de nós / A ira e o furor.

Sede em meu favor / Deus Onipotente Vinde socorrei-nos / Sede diligente.

Já eram três horas / Que na cruz pendente Padecia o Filho / Do onipotente.

Ferido de dores / De sangue exaurido De forças estava / Já destituído.

Porque a vontade / Do pai se cumpria Expirando acaba / com grande agonia.

Eclipsou-se o sol / A terra tremeu Mas o duro povo / Não se arrependeu.

Dos nossos pecados / Já arrependidos De Jesus seremos / Mui bem recebido.

Em seu coração / Pela lança aberto Acharemos porta / E o perdão certo.

Bendito sejais / Meu doce Jesus Que o mundo remistes / pela Santa Cruz .

Dos fiéis as almas / Divino Senhor Convosco descansem / Em paz e amor.

Ouvi Bom Jesus / Minha oração Cheguem os meus brados / Ao vosso coração.

OFERECIMENTO A vós Bom Jesus / Com toda atenção Dedico a memória / Da vossa paixão Para que por ela / Como bom ladrão Mereçam as culpas / Plena remissão.

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9 SALVE RAINHA...

10 O que será de mim meu Deus, O que será de mim sem vós/ Não permitais meu Jesus, Que eu me aparte de vós.

Jesus é meu de todo o meu coração Por vos ter ofendido, eu vos peço perdão: - Senhor Deus, misericórdia, - Senhor Deus, pequei, senhor, misericórdia.

- Senhor Deus, pelo amor de vossa Mãe Maria.

Santíssima Imaculada, perdão e misericórdia.

- Senhor Deus, pelo Sagrado Coração de Jesus e de Maria, perdão e misericórdia.

- Senhor Deus, pela vossa Sagrada Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, perdão e misericórdia. Ó gloriosa, Senhora Santana, São José e São Joaquim intercedei por nós miseráveis pecadores. Amém!

[6]

ANEXO LADAINHA DA PAIXÃO E MORTE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO Jesus, meu Deus, Tende piedade de nós Jesus, meu criador, “ “ “ “ Jesus, meu Senhor, “ “ “ “ Jesus, Filho de Deus vivo, “ “ “ “ Jesus, redentor do mundo, “ “ “ “ Jesus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, “ “ “ “ Jesus, feito Homem por obra do Espírito Santo, “ “ “ “ Jesus, nascido de S. Maria Virgem, “ “ “ “ Jesus, reclinado num presépio, “ “ “ “ Jesus, adorado pelos pastores, “ “ “ “ Jesus, ferido e atormentado na circuncisão, Jesus, adorado pelos magos, Jesus, apresentado no templo, Jesus, perseguido pelo rei Herodes, Jesus, desterrado para o Egito, Jesus, obediente a Maria e José, Jesus, perdido em Jerusalém, Jesus, achado no templo entre os doutores, Jesus, batizado por São João, Jesus, jejuando no deserto, Jesus, tentado pelo demônio, Jesus, pobre e em toda a vida mortificado, ~ 10 ~ Jesus, nosso caminho, vida e verdade, Jesus, ensinando os homens/Sêde bendito e louvado Jesus, curando os enfermos, Jesus, ressuscitando os mortos, Jesus, convertendo os pecadores, Jesus, afugentando os demônios, Jesus, reprimindo os ventos e tempestades, Jesus, lavando os pés aos discípulos, Jesus, instituindo o S. S. Sacramento, Jesus, vendido por trinta dinheiros, Jesus, orando no Monte das Oliveiras, Jesus, na oração aflito e angustiado, Jesus, prostrado em terra e suando, Sangue/Eu vos peço perdão graça e boa morte

[7]

2

Jesus, aflitíssimo e confortado pelo anjo, Jesus, entregue aos judeus por um discípulo, Jesus, preso e atado por duas cordas, Jesus, acusado falsamente a Annás, Jesus, conduzido à Casa de Caifás, Jesus, na presença deste juiz, confundido e esbofeteado, Jesus, no pretório de Pilatos, Jesus, mandado ir à presença de Herodes, Jesus, desprezado como louco pelo rei e seus soldados, Jesus, segunda vez conduzido à Pilatos, Jesus, cruelmente açoitado, Jesus, coroado de espinhos, Jesus, escarnecido e injuriado como falso rei, Jesus, reclamado e pelo povo morrer crucificado, Jesus, condenado à morte, Jesus, atormentado com a cruz aos ombros, Jesus, nos vossos passos ajudado pelo Cirineu, Jesus, compadecido por Vossa Mãe, Jesus, lamentado por Verônica e pelas santas mulheres, Jesus, despido injuriosamente no Calvário, Jesus, pregado na Cruz, Jesus, com os martelos ferido e pisado, Jesus, blasfemado no alto da cruz pelo povo, Jesus, com sede e desamparado, Jesus encomendado a Vossa Mãe ao discípulo João Jesus, encomendando Vosso Espírito ao Eterno Pai, Jesus, ferido no peito com a lança, Jesus, depositado nos braços de Vossa Mãe/ Tende piedade de nós Jesus, pobremente sepultado, Cordeiro de Deus, que viestes ao mundo satisfazer os nossos pecados, perdoai-nos Senhor.

Cordeiro de Deus, que viestes mercer-nos os dons da graça, Ouvi e entendei-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que viestes livrar-nos da eterna condenação, Tende piedade de nós.

ORAÇÃO Meu Senhor Jesus Cristo que, pelo excesso do vosso amor para com os homens, sendo enviado ao mundo por vosso Eterno Pai, quisestes padecer e morrer pela salvação de todos, peço-vos, Senhor, que aceitais a memória que tenho feito da vossa Santíssima Vida, Paixão e Morte, e concedei-me quanto por tudo isto vos tenho pedido e nos vieste merecer.

Amém.

[8]

ANEXO

3

HINO EM HONRA AO SENHOR DOS PASSOS A vós eu venho Bom Jesus / buscar conforto e minha dor / A dor que mais meu peito sente / É ter-vos eu tão pouco amor.

Senhor, Bom Jesus dos Passos / Senhor eterno e sem fim / por vossa sagrada cruz / compadecei-vos de mim.

Se foram as minhas culpas / a causa do mau fim / Senhor, esquecei-vos delas / compadecei-vos de mim.

Não morrestes pelos anjos / Nem por nenhum Serafim / Sim por mim foi que morrestes / Compadecei-vos de mim.

No dia em que eu for julgado / Não terei ninguém por mim / Nesse dia então meu Deus / Compadecei-vos de mim. Ó meu Bom Jesus dos Passos / Dai-me na morte um bom fim / Naquela hora mais terrível / compadecei-vos de mim.

ANEXO ROSÁRIO DE BOM JESUS DOS PÁSSOS Nos Pais Nossos: Meu Bom Jesus dos Passos, meu espelho, minha luz, vós sozinho andastes com o peso da Santa Cruz.

Eu vos chamo com tão grande piedade: Meu Bom Jesus dos Passos, valei-me nas minhas aflições e necessidades (pede-se a graça).

Meu Bom Jesus dos Passos, mandai-me um filho vosso que seja irmão, que me socorra pelo amor de Deus.

Nas Ave Marias: Pela vossa Mãe, pelos vosso Passos, livra-me meu Bom Jesus dos Passos de todos os perigos e de qualquer embaraço.

Oferecimento: Cordeiro de Deus, meu Pai, meu Redentor, eu vos peço e eis que venho contrita e humilhada; recebei-me entre os vossos braços que o Horto das Oliveiras ergueste ao vosso Pai pela nossa salvação.

Ouve-me, meu Bom Jesus dos Passos e valei-me pelo amor de Deus.

Amém

[9]

4

ANEXO

5 (Cartaz e Outdoor da Procissão dos Passos -2014)

Arte para Outdoor

[ 10 ]

ANEXO (Partitura da Marcha Tradicional e Afetiva do Bom Jesus dos Passos Arranjo do Maestro Joaquim da Silva Copeiro)

[ 11 ]

6

ANEXO

7

[ 12 ]

[ 13 ]

ANEXO

8

[ 14 ]

[ 15 ]

[ 16 ]

[ 17 ]

[ 18 ]

ANEXO

9

Dom Edilson Soares Nobre Bispo diocesano de Oeiras – Piauí POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA

DECRETO Aos que virem Nosso Decreto saudações, graça, paz e bênçãos no Senhor!

Fazemos saber que, Considerando os documentos oficiais acerca das medidas públicas preventivas contra a pandemia do Convid-19 (Corona Vírus); Considerando que o Bispo Diocesano, a teor do Cânon 87 § 1 do Código de Direito Canônico, pode dispensar os fiéis do cumprimento das leis disciplinares em seu território; Considerando o grave perigo de contaminação em se tratando de aglomeração de pessoas e colaborando com as autoridades públicas governamentais, Considerando o nosso empenho e compromisso com a vida diante do apelo do evangelho “viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34) dispomos o seguinte, até que disponhamos o contrário: 1. Todos os fiéis estão dispensados da obrigação prevista no cânon 1247 do Código de Direito Canônico de participar das Missas Dominicais e nos demais dias de preceitos; 2. Aqueles que optarem por não participar da celebração da Missa, recomenda-se vivamente de acompanha-las pelos meios de comunicação como rádios, TV e redes sociais; 3. Os fiéis que participarem da Missa devem manter uma distância prudente uns dos outros, segundo orientações das autoridades sanitárias, como prevenção contra o contágio; 4. As Celebrações da Eucaristia não podem reunir mais de 100 pessoas em ambientes fechados ou 200 pessoas em ambiente aberto;

[ 19 ]

5. Durante as celebrações evita-se o abraço da paz, dar as mãos e, a Sagrada Comunhão seja recebida na mão; 6. Durante as Celebrações, a Igreja e lugares celebrativos permaneçam com portas e janelas abertas, facilitando a circulação de ventilação; 7. Redobrar a atenção com a higienização dos lugares de celebração, tomando os seguintes cuidados: oferecer água para lavagem das mãos e/ou sempre que possível, disponibilizar álcool em gel para os fiéis e manter com rigor a limpeza do ambiente celebrativo; 8. A partir desta data, estão suspensas todas as atividades que reúnam grande número de fiéis, a saber: encontros (catequese, círculos de estudos, reuniões pastorais, etc), assembleias, Vias-Sacras públicas, procissões, festas de padroeiro e aglomerações acima de 100 pessoas em ambiente fechado e 200 pessoas em ambiente aberto; 9. Em vista da defesa da saúde e do bem-estar dos idosos e das pessoas que se enquadram nos grupos de riscos, estão suspensas as confissões nesse período de risco de pandemia; 10. Ao clero recomenda-se aumentar o número de Missas visando diminuir a quantidade de pessoas nas celebrações, e o cuidado com a própria saúde e a dos fiéis; 11. À comunidade dos féis, às autoridades públicas e à sociedade em geral recomenda-se o compromisso com a defesa de vida em plenitude para todos com aplicação de políticas públicas justas e eficazes no combate de tal epidemia; 12. Recomenda-se, ainda nesse tempo, a oração pessoal ou em família, como a Leitura Orante da Bíblia, o Santo Rosário e a Oração pedida pelo Santo Padre.

Estas orientações têm vigência de 15 dias a partir da data de sua publicação. E para os dias seguintes, reavaliaremos o quadro de risco dessa pandemia e tomaremos novas medidas.

Que a Virgem Mãe da Vitória, que nos acompanhou e nos acompanha em tantas vitórias, nos assista no empenho pela superação dessa situação de risco de pandemia. E todos, mantenhamos comprometidos, vigilantes e esperançosos pois, em Cristo, “a esperança não decepciona porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações” (Rm 5,5).

Deus recompense a todos os que estão trabalhando para amenizar as dores dos que padecem e abençoe os que buscam a solução para essa grave situação.

Dado e passado em Nossa Cúria Diocesana, aos 16 dias do mês de março de 2020, sob o Nosso Sinal e Selo de Nossa Chancelaria. + Edilson Soares Nobre Bispo de Oeiras Pe Kleyton Vieira Chanceler da Cúria

[ 20 ]

ANEXO

10

Dom Edilson Soares Nobre Bispo diocesano de Oeiras – Piauí POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA

DECRETO Aos que virem Nosso Decreto saudações, graça, paz e bênçãos no Senhor!

Fazemos saber que, Considerando o grave perigo de contaminação do COVID-19 (Corona Vírus) em se tratando de aglomeração de pessoas; Considerando os documentos oficiais acerca das medidas públicas preventivas contra a pandemia do Covid-19 e colaborando com as autoridades públicas governamentais e entidades civis; Considerando o Decreto da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos em tempo da Covid-19; Considerando que a Diocese de Oeiras, em comunhão com a Igreja em todo o mundo, está comprometida com a defesa da vida e com o bem-estar de cada pessoa, determina-se: 1. As medidas tomadas no decreto anterior na data de 16 de março do corrente ano se estendam por tempo indeterminado, até mandarmos o contrário, e revoga-se o que for contrário a este; 2. Os fiéis estão dispensados da obrigação prevista no cânon 1247 do Código de Direito Canônico de participar das Missas Dominicais e demais dias de preceitos. Os fiéis podem se unir em oração nas respectivas habitações e acompanhar as celebrações através dos meios de comunicação; 3. A Secretaria da Cúria Diocesana e das Paróquias atendam ao público apenas por telefone ou por redes sociais;

[ 21 ]

4. As atividades alusivas aos Ano Jubilar dos 75 anos da Diocese estão suspensas. O sentimento de ação de graças permanecerá em nossos corações e em nossas orações. No tempo oportuno, haveremos de realizar coletivamente a nossa Ação de Graças; Bom Jesus dos Passos e Semana Santa 5. Os atos paralitúrgicos que são realizados da sexta-feira do Bom Jesus dos Passos até o Domingo da Ressurreição estão todos cancelados, a saber: Procissão da Fugida, Procissão do Bom Jesus dos Passos, Procissão dos Ramos, Procissão do Fogaréu, Descimento da Cruz, Procissão do Senhor Morto; Procissão do Cristo Ressuscitado; 6. As Celebrações Eucarísticas e Orações reservadas para o dia do Bom Jesus dos Passos serão realizados sem a presença do povo, mas acompanhadas através dos meios de comunicação para que a comunidade não deixe de vivenciar a mística deste dia. Recomendo ainda às famílias responsáveis pelos Passos que neste dia os mantenham abertos e arrumados, como fazem anualmente; 7. O Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor seja celebrado na Catedral, na Matriz de cada Paróquia e sede de municípios, sem o povo, seguindo a segunda forma do Missal Romano (pag 229). As famílias, com os ramos em suas casas podem acompanhar e rezar através dos veículos de comunicação; 8. A Coleta Nacional da Solidariedade (Campanha da Fraternidade) seja adiada para uma data posterior, a ser definida pelo bispo; 9. A Missa do Crisma (Santos Óleos) acontecerá na Catedral na segunda-feira, às 10 horas da manhã, com a presença dos sacerdotes apenas e obedecendo todas as orientações de prevenção do contágio do covid-19. Os fiéis vão poder acompanhar pelos meios de comunicação.

10. A celebração do Tríduo Pascal, Coração do ano litúrgico, não pode ser transferida de data. Porém, estes atos serão celebrados sem a presença física dos fiéis, que estarão participando pelos veículos de comunicação. Celebra-se apenas na Catedral, na Igreja Matriz de cada Paróquia ou na Igreja sede de cada município.

11. Na Quinta-Feira Santa, uma vez que a Celebração da Ceia será sem a participação do povo, o lava-pés seja omitido. No término da Missa da Ceia do Senhor, omite-se também a procissão e a adoração comunitária, e o Santíssimo Sacramento seja conservado no Sacrário. Para substituir a Procissão do Fogaréu, cada família acenderá a sua lanterna e a colocará em frente à sua casa, às 20 horas; 12. Na Sexta-Feira Santa celebra-se a Paixão do Senhor, omitindo-se o beijo da cruz. Na Oração Universal será acrescentada uma prece especial pelos vitimados da pandemia covid-19; 13. Na Vigília Pascal, omite-se o ascender do fogo, acende-se o Círio Pascal, omite-se a procissão com o Círio e segue-se o precônio Pascal (Exsultate). Segue-se a Liturgia da Palavra. Para a “Liturgia batismal”, apenas se renovam as promessas batismais. Segue-se a “Liturgia eucarística”; 14. A Missa da Páscoa do Senhor não deixará de acontecer, mas também com as mesmas orientações em relação à participação dos fiéis. Sintonizem nos rádios ou nas redes sociais;

[ 22 ]

15. As imagens e os símbolos litúrgicos não sejam tocados pelos fiéis, ao serem expostos durante a Semana Santa e por todo esse período de risco de pandemia de corona vírus; 16. Os atos de fé como expressão de gratidão a Deus ou de reconhecimento por graças alcançadas (promessas, procissões e outros) e demais expressões da devoção popular que enriquecem os dias da Semana Santa e a vida de fé da comunidade poderão ser transferidos para outros dias convenientes fora do período de risco da pandemia de Covid-19; Estas disposições têm vigência a partir da data de sua publicação e seguem-se por tempo indeterminado até que determinemos o contrário.

Que a Virgem Mãe da Vitória nos assista no empenho pela superação dessa situação de risco de pandemia e que todos nos mantenhamos comprometidos, vigilantes com a vida diante do apelo do evangelho “viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34).

Deus recompense a todos os que estão trabalhando para amenizar as dores dos que padecem e abençoe os que buscam a solução para essa grave situação.

Dado e passado em Nossa Cúria Diocesana, aos 25 dias do mês de março de 2020, Solenidade da Anunciação do Senhor, sob o Nosso Sinal e Selo de Nossa Chancelaria. + Edilson Soares Nobre Bispo de Oeiras Pe Kleyton Vieira Chanceler da Cúria

[ 23 ]

[ 24 ]

APÊNDICES

[ 25 ]

[ 26 ]

APÊNDICE

01

FICHA GERAL DE INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL

Data de preenchimento: 01/10/2019 Identificação do(s) responsável (is) pelo preenchimento: Pesquisador: Francisco Stefano Ferreira dos Santos Orientadora: Áurea da Paz Pinheiro

Como essa referência patrimonial é conhecida? (todos os nomes)

_

Celebração dos Passos de Oeiras Procissão dos Passos de Oeiras Festa dos Passos de Oeiras Passos de Oeiras

Origem dessa informação (entrevista, vivência pessoal, pesquisa, etc.): Vivencia pessoal, visto que sou devoto e participo ativamente da celebração tanto como um dos atores responsáveis pela manutenção dessa tradição, bem como agente cultural local. Além disso, este inventário é fruto de uma Pesquisa Ação e Etnográfica, produzida por meio do Programa de Mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí. _ ZONA RURAL [ X ] | ZONA URBANA [ ] _ Coordenadas (quando associado a local fixo): LATITUDE

7° 1’ 14’’ Sul 42° 7’ 54’’ Oeste LONGITUDE

42° 7’ 54’’ Oeste _ Está inserida em qual localidade? (Endereço, quando for local fixo) Oeiras esta situada no estado do Piauí, mais precisamente na segunda menor região do sudeste piauiense, na microrregião de Picos. Por ter sido a primeira capital sua localização é estratégica, no centro do estado. _

[ 27 ]

Classificação: ( ) Lugares: Espaços onde se concentram atividades coletivas que são importantes para o grupo ou comunidade, como por exemplo, lugares onde se realizam mutirões, centros comunitários, espaços onde são realizadas feiras, praças, cacimbas, açudes, cruzeiros, igrejas e cemitérios, assim como as comunidades de uma forma mais ampla. E também, construções que não tem necessariamente valor histórico, mas que são importantes para o grupo ou comunidade devido à função que tiveram ou tem no cotidiano das pessoas, como por exemplo, moradia de pessoas importantes para o grupo/comunidade, edificações com função produtiva e/ou comercial, com função religiosa, muros ou cercas utilizados como divisórias ou proteção, entre outros.

Por que é um lugar importante?

Relação com outra manifestação? Qual?

Data da construção: Quem é o proprietário?

Função/utilização: _

( x ) Celebrações: Festas e encontros que são importantes para a união do grupo ou comunidade, envolvendo produção e uso de roupas, ornamentação de lugares, preparo e consumo de bebidas e comidas, objetos, músicas, orações, danças, entre outras manifestações, por exemplo: reisado, leilões, festas populares, etc.

Datas de realização: Uma semana antes da Semana Santa (Data Móvel).

Local onde se realiza: Centro Histórico de Oeiras, envolvendo a Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Primeiro Templo Regular do Estado do Piauí, a Catedral de Nossa Senhora do Rosário, além de Ruas e Praças do Centro Histórico de Oeiras.

Quem pratica? Devotos, Promesseiros, o clero, a comunidade em geral, turistas, pesquisadores e comunicadores.

Quantas pessoas participam? Aproximadamente 40 mil pessoas. _

( ) Formas de Expressão: Manifestações artísticas e culturais envolvendo música, teatro, literatura, dança, escultura, pintura, gravuras, tradições orais, contação de histórias, entre outros.

Quem pratica?

Local onde se pratica: _ ( ) Saberes, Modos de Fazer e Ofícios: Atividades desenvolvidas por pessoas que conhecem técnicas e matérias-primas que identificam a comunidade, o lugar ou o grupo. Os modos de fazer são estudados através da prática de dessas pessoas, como, por exemplo: artesãos, benzedeiras, rezadeiras, lavadeiras, cozinheiras, professores, fiandeiras, tecelãs e agricultores ou lavradoras.

Quem pratica?__ Local onde se pratica: Objetos utilizados:

[ 28 ]

( ) Bens Naturais: Aspectos da paisagem - que não tenham sido construídos pelo homem, que são importantes para a comunidade, como, por exemplo: serras, rios, lajedos, caldeirões, animais e plantas. O conjunto desses aspectos importantes também pode compor uma paisagem específica, como, por exemplo, o cerrado, a caatinga e os sistemas marinhos.

Onde se localiza?

Por que é importante? _ ( ) Mestre: Pessoa que detém um saber, modo de fazer e ofício importantes para o grupo ou comunidade.

Quem é?

O que faz? _ ( ) Objeto: Objetos produzidos pelo homem ou da natureza importantes para o grupo ou comunidade.

O que é?

Por que este objeto é importante?

Relação com outra manifestação? Qual?

Quem é o proprietário?

Detalhamento de Referência Patrimonial A Celebração do Bom Jesus dos Passos acontece há 300 anos na cidade de Oeiras, localizada a 317 km de Teresina, atual capital do Estado; faz parte da liturgia da Semana Santa, que se inicia na Quinta-Feira da Fugida do Bom Jesus, anterior à Quinta-Feira Santa, com celebrações em honra ao Bom Jesus dos Passos.

A Procissão reúne mais de 30 mil pessoas por ano, dentre as quais pagadores de promessas, vestidos de roxo, cor predominante, símbolo de penitência. Acompanham a via dolorosa do Bom Jesus pelas ruas históricas da primeira Capital.

As cerimonias são ricas em símbolos, a cor das vestimentas das imagens de origem portuguesa e dos romeiros, aos cantos litúrgicos, que permitem um diálogo entre erudito e populares, as narrativas bíblicas, o papel dos personagens, os cuidadores, os objetos sacros em prata e madeira do século XVIII e os ex-votos, presentes dados pelos fiéis ao seu santo de devoção em consagração, renovação ou agradecimento de uma promessa. Hoje, a Celebração dos Passos de Oeiras é considerada a maior manifestação religiosa do Piauí.

São aproximadamente vinte e quatro horas de intensas orações e de manifestações de fé. _ Qual o atual estado de preservação? [ X ] Bom [ ] Médio [ ] Ruim

[ 29 ]

Riscos atividades que podem afetá-lo ou destruí-lo: [ ] Ações de animais [ ] Fenômenos naturais [ ] Abandono [ ] Vandalismo [ ] Esquecimento [ ] Atividades agrícolas [ ] Obras e construções [ ] Desuso [ ] Interrupção [ X ] Outros _ O que poderia fazer para preservá-lo?

Registrar, documentar e comunicar a celebração, criando assim um instrumento legal que a identifique como Patrimônio Cultural do Brasil. _

Fichas Preenchidas Fichas Gerais: [ X ] Ficha Geral de Inventário do Patrimônio Cultural e Natural (esta ficha) [ X ] Ficha de Território [ X ] Ficha de Equipe Fichas Específicas: [ X ] Ficha de Lugares [ X ] Ficha de Celebrações [ X ] Ficha de Fontes Pesquisadas [ X ] Ficha do Relatório de Imagens

[ 30 ]

APÊNDICE

02

FICHA DE TERRITÓRIO

Pesquisador: Francisco Stefano Ferreira dos Santos Orientadora: Áurea da Paz Pinheiro

Denominação do Território:

_

Oeiras, Estado do Paiuí Território do Vale do Canindé

Onde se localiza?

A cidade de Oeiras, Primeira Capital do Estado do Piauí. Segundo dados do IBGE, possui Área: 2.720 Km2, Está na Mesorregião do Sudeste Piauiense e Microrregião de Picos. Possui Distância de Teresina de 317 Km pelas rodovias BR-316 e BR-230. Com Altitude 166 m e Pluviometria Média de 922 mm / ano (principalmente de fevereiro a maio), com Temperaturas Médias tendo Mínimas de 18ºC e Máximas – de 40ºC. Sua população segundo o último censo, realizado em 2010, é de 35.640 habitantes. _ ZONA RURAL [ ] | ZONA URBANA [ X ] _ Coordenadas (delimitando uma região): Limita-se ao Norte com o município de Barra d’Alcântara, Tanque do Piauí, Novo Oriente do Piauí e Santa Rosa do Piauí; ao Leste Inhuma, Ipiranga do Piauí, São João da Varjota e Santa Cruz do Piauí; ao Sul São Francisco do Piauí, Colônia do Piauí e Wall Ferraz; ao Oeste Santa Rosa do Piauí, Nazaré do Piauí, São Francisco do Piauí e Cajazeiras do Piauí.

LATITUDE

07º 01’ 31” latitude sul LONGITUDE

42º 07’ 52” longitude oeste _

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História: Rica pela sua história e importância política no passado, possui rico acervo patrimonial, fruto do período colonial em que fez parte do famoso Ciclo do couro.

Diversas expedições tentaram a exploração das terras do atual Estado do Piauí. Dentre elas, a de Domingos Afonso Mafrense, em 1674, penetrou toda a região centro-sul, resultando o domínio de vasto sertão até o Parnaíba. Outra, vinda de Pernambuco, por influência da expedição de Mafrense, teria invadido os sertões de Cabrobó, avançando sempre para o nordeste Acredita-se que ambas penetraram no território onde mais tarde se instalou a sede do Município de Oeiras. Há registros de pedidos de sesmarias, feitos anteriormente (em 1667) por Mafrense, Julião Afonso Serra e outros, abrangendo a região que vai desde o Parnaíba até a Serra do Araripe. Sabe-se, por outro lado, que Mafrense fundou no local diversas fazendas, entre as quais a “Cabrobó”, onde residiu, e que Serra organizou ali um arraial de índios domesticados.

Dividem-se, por isso, entre os dois desbravadores as opiniões sobre quem se instalou primeiramente nas terras do atual Município, embora predominem as versões que indicam a primazia de Mafrense. O fato é que no lugar com o nome de “Mocha”, tomado de um riacho ali situado, formou-se uma povoação, com capela filiada à freguesia de Cabrobó, da Diocese de Pernambuco. Essa povoação passou ao nível de freguesia, sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória, em 1696, e foi elevada à categoria de vila em 1712.

Ao ser criada a Capitania do Piauí, em 1758 (Carta Régia de 29 de julho), a vila de Mocha, que era a seu maior núcleo, tornou-se sede do Governo. Somente em 1761 ganhou ela foros de cidades, passando, então, a denominar-se Oeiras, em homenagem ao Conde de igual nome, depois Marquês de Pombal.

Oeiras é considerada o núcleo mais antigo do Piauí e berço da história e colonização do Estado. Foi sede da Província até 1852, quando o Conselheiro Saraiva transferiu a capital para a “Chapada do Corisco”, onde hoje se encontra Teresina. Gentílico: oeirense Formação Administrativa Elevado à categoria de vila com a denominação de Mocha, por carta régia, de 30-06-1712. Sede na atual vila de Mocha. Instalado em 26-12-1717. Elevado à condição de cidade com a denominação de Mocha, por carta régia de 19-06-1761.

Pelo ato de 13-11-1761, o município de Mocha passou a denominar-se Oeiras. Capital da antiga província até ao ano de 1852. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município denominado Oeiras é constituído do distrito sede.

Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937. No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município é constituído do distrito sede. Em divisão territorial datada de 01-07-1960, o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007. Alteração toponímica municipal Mocha Para Oeiras, alterado pelo ato de 31-111761. _

Descrição: O conjunto urbano de Oeiras - tombado pelo Iphan, em 2012 - apresenta elementos de várias correntes arqnuitetônicas (luso-brasileira, arquitetura do imigrante e eclética) que pela sua escala e volumetria configura um conjunto harmonioso e de grande qualidade. A área tombada é composta por 14 quarteirões com 235 imóveis. Apresenta, do ponto de vista urbanístico, aspectos comuns às cidades implantadas ao longo do Caminho das Tropas: conformação linear com ruas estruturadas paralelamente ao Caminho das Tropas, interligadas por travessas de largura reduzida.

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A estrutura urbana identificada na área é caracterizada pela sucessão de quadras criadas a partir do núcleo original, a Praça Nossa Sra. das Vitórias, e por ruas estreitas entre as quais não existe hierarquia.

Além desta praça, destacam-se outras como principais logradouros públicos. A cidade guardou um patrimônio histórico dos mais valiosos, com seus casarões coloniais monumentos dos séculos XVIII e XIX. A maioria dessas edificações se concentra em uma área de raio não superior a 400 metros circundando a praça.

Nessa paisagem, com o alinhamento das edificações e a impressão de ordem estabelecida, se inserem a Igreja Matriz de Nossa Senhora das Vitórias e o Sobrado Nepomuceno (Paço Episcopal) - os mais importantes bens do patrimônio tombado. O centro histórico permanece como centro administrativo e econômico da cidade. A partir dele, a malha urbana se ampliou, em todas as direções, principalmente ao longo das rodovias de acesso aos municípios vizinhos. É a mais antiga cidade do Piauí e foi criada pela Carta Régia de 1761 (primeiro de uma série documentos a tratar do controle do processo de crescimento urbano no Brasil Colônia).

Embora não prescrevesse dimensões definidas para a praça central e largura das ruas (como ficou estabelecido em legislações posteriores), a instrução insistia na demarcação em linha reta (ou à régua) dos lotes destinados às residências, garantindo disposição ordenada e um alinhamento das moradias e fachadas das casas, buscando impressão de uniformidade e uma vista harmoniosa do conjunto. A casa antiga tinha função basicamente residencial. Em pequena escala, são encontradas casas de residência e comércio, com loja na esquina. Atualmente, é frequente a função comercial nessas casas, mas trata-se de incorporações recentes. A área mais densamente ocupada abrange o centro comercial e encerra a maior concentração de serviços, infraestrutura e equipamentos urbanos da cidade.

Oeiras foi a primeira capital do Piauí, entre 1939 e 1940. A partir da segunda metade do século XX, acompanhando o fenômeno de urbanização experimentado pelo Brasil inteiro, a cidade viu sua malha urbana ampliada, seguindo no sentido oeste, em uma configuração de linhas retas e quarteirões regulares. Em menor grau de crescimento e de forma bastante irregular, as ocupações ao longo das rodovias que ligam Oeiras às outras cidades, em aglomerações pontuais entremeadas por grandes vazios, também contribuíram para a ampliação da malha urbana. _

Dados Socioeconômicos: Segundo o ultimo Censo divulgado no site do IBGE (2010), A área da unidade territorial do município de Oeiras é de 2.702,486 km2, Apresentando 20.3% de domicílios com esgotamento sanitário adequado, 76.1% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização e 1.3% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). Quando comparado com os outros municípios do estado, fica na posição 69 de 224, 104 de 224 e 32 de 224, respectivamente. Já quando comparado a outras cidades do Brasil, sua posição é 3615 de 5570, 2696 de 5570 e 4296 de 5570, respectivamente.

Pelo mesmo Censo de 2010, a população de Oeiras foi estimada 35.640 pessoas, possuindo densidade demográfica de 13,19 hab/km2.

Em 2017, o salário médio mensal era de 1.5 salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era de 10.1%. Na comparação com os outros municípios do estado, ocupava as

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posições 175 de 224 e 23 de 224, respectivamente. Já na comparação com cidades do país todo, ficava na posição 4770 de 5570 e 3383 de 5570, respectivamente. Considerando domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, tinha 49.1% da população nessas condições, o que o colocava na posição 201 de 224 dentre as cidades do estado e na posição 1554 de 5570 dentre as cidades do Brasil.

O site do IBGE ainda revela que o PIB per capita em 2017 foi de 11.009,05 R$, o percentual das receitas oriundas de fontes externas em 2015 foi de 92 %, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) em 2010 foi 0,634 , o total de receitas realizadas em 2017 somaram 68.917,28 R$ (×1000) e o total de despesas empenhadas em 2017 foi de 64.802,79 R$ (×1000). _

Mapa do território:

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Documentação fotográfica:

Oeiras-Piauí-Brasil, 04/03/2015 Arquivo JPG, Dimensão 6016 x 4000, tamanho 7,25 MB Fonte: Arquivo Pessoal de Stefano Ferreira

Centro Histórico de Oeiras-Piauí, 04/03/2015 Arquivo JPG, Dimensão 1024 x 681, tamanho 240 KB Fonte: Arquivo Pessoal de Stefano Ferreira

APÊNDICE

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FICHA DE EQUIPE Quem são as pessoas que estão participando deste projeto de inventário?

Essa ficha tem como objetivo registrar a equipe que participou do projeto de inventário, assim como o total de referências patrimoniais identificadas e correspondente documentação.

Data de preenchimento: 10/10/2019 Nome e idade dos integrantes da equipe: Francisco Stefano Ferreira dos Santos Pesquisador do Programa em Artes Patrimônio e Museologia-Ufpi. Áurea da Paz Pinheiro Coordenadora do Programa em Artes, Patrimônio e Museologia e Orientadora da Pesquisa.

Santiago Francisco Borges Pereira Técnico em Rádio e TV pelo Instituto ComRádio do Brasil.

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Faulkner Raynner de Sousa Sá Graduado em Sistema de Informação e fotógrafo.

Fábio Estefanio Lustosa de Brito Lopes Mestre em Artes, Patrimônio e Museologia –UFPI, Professor do IFPI-Oeiras e Documentarista.

Marília Saraiva de Alexandria Acadêmica do Curso de Ciências Sociais –UFPI, Fotógrafa e Social Mídia.

Período de realização da pesquisa: De março de 2019 a janeiro de 2020.

Instituições que participaram do trabalho: Criamos um grupo de trabalho composto por representantes do clero, Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Diocese de Oeiras, das Famílias cuidadoras dos Passos, Funcionários da Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus, Conselho Municipal de Cultura-CMC, Instituto Histórico de Oeiras-IHO, Museu de Arte Sacra de Oeiras- MAS, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Diretores, Coordenadores e Professores da Escola Municipal Juarez Tapety, além do Tecnico em Rádio e TV, Santiago Francisco Borges Pereira o Artista Visual, documentarista e Mestre em Museologia pela UFPI, Fábio Estefanio Lustosa de Brito Lopes.

Pessoas-Referências: Nº PESSOAS-REFERÊNCIAS 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 1

PROFISSÃO

IDADE/SEXO

Costureira\ Zeladora do A.O. S. C. J.1 Dentista\ Zeladora e Presidente do A.O. S. C. J. Professora\ Zeladora do A. O. S. C. J. Pedagoga\ Zeladora do A. O. S. C. J. Costureira\ Zeladora do A.O. S. C. J. Professora\ Zeladora do A.O. S. C. J. Dona de Casa\ Zeladora do A.O. S. C. J. Acadêmico de Engenharia\Músico Administrador de Empresas Sacristão\Músico Bancário\ Cuidador da Imagem do Bom Jesus dos Passos Edilson Soares Nobre Bispo Diocesano Benedito Silva de Macedo Pároco da Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário Possidônio Ferreira Barbosa Júnior Pároco da Catedral de Nossa Senhora da Vitória Herbert Vinícius Virgínio de Sousa e Silva Advogado\ Músico\Presidente do Conselho Municipal de Cultura Francisco de Assis Rocha Carvalho Júnior Historiador\ Presidente do Instituto Histórico de Oeiras Maria do Socorro Barbosa Barros Historiadora Maria Anatália dos Santos Nascimento Historiadora | artesã | líder do Grupo Consciência Negra | Quilombo do Rosário Zulene de Holanda Rocha Historiadora Flávio Antônio Mendes da Silva Artesão, Marceneiro e Presidente do Grupo Congos de Oeiras.

Maria da Guia Dantas Maria Jucilene Cunha Conceição de Mª B Moura de Albuquerque Gabriela Maria Ferreira dos Santos Reis Maria Martins de Oliveira Teresa de Jesus Salvador Célia Maria Oliveira Santos José Alberto Tomaz dos Santos Júnior Rafael Brandão Pereira Rêgo José Alberto Tomaz dos Santos Francisco de Moraes Rêgo

Abreviação de Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus.

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51 / F 73 / F 53 / F 44 / F 74 / F 70 / F 63 / F 25 / M 35 / M 51 / M 73 / M 55 / M 43 / M 50 / M 27 / M 34 / M 53 / F /F 47 / F 45 / M

Observações: Todos os componentes da equipe trabalharam de forma voluntária, tendo ligação com a Celebração dos Passos de Oeiras, motivados pela necessidade de se criar um instrumento para potencializar o reconhecimento dessa manifestação como Patrimônio Cultural do Brasil.

APÊNDICE FICHA DA CELEBRAÇÃO Identificação: Pesquisador: Francisco Stefano Ferreira dos Santos | Orientadora: Áurea da Paz Pinheiro

Localização:

SÍTIO: PIAUÍ LOCALIDADE: OEIRAS MUNICÍPIO/UF: OEIRAS/PIAUÍ

Identificação do Bem Cultural: Denominação: Celebração de Bom Jesus Passos Outras Denominações: Procissão Do Bom Jesus Dos Passos

Festa Do Bom Jesus Dos Passos

Passos Condição Atual: [ X ] Vigente/Íntegro [ X ] Memória [ X ] Ruína

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Fotografia:

Oeiras-Piauí-Brasil, 2018, Arquivo JPG, Dimensão 800 x 600, tamanho 97,75 KB Fonte: Arquivo Pessoal de Stefano Ferreira

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Descrição da Celebração Época: A data é indeterminada, segundo relatos orais e documentos históricos, a Celebração de Bom Jesus dos passos de Oeiras remotam ao século XIX. _ Data: [ X ] Data Fixa [ X ] Data Móvel _ Duração: São 26 horas somando a Fugida do Bom Jesus, as oraçoes durante a madrugada, a missa, o Ofício dos Passos e a Procissão com o Sermão do Encontro e a chegada à Catedral. _ Periodicidade [ X ] Anual Celebrações Associadas: Não existem celebrações associadas.

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Motivação da Celebração: [ X ] Invocação Religiosa. Qual (ais?)

A Celebração dos Passos não só em Oeiras, mas em várias cidades do mundo está ligada a ao período da Quaresma, antes do Domingo de Ramos, e representava o último encontro entre Nossa Senhora e Jesus, antes da crucificação.

Os motivos para essas celebrações eram a devoção e agradecimento dos membros das Irmandades dedicadas ao Senhor Bom Jesus dos Passos, compostas somente por homens de cor branca e abastados. Essas associações tinham a responsabilidade de organizar as cerimônias e procissões durante o período da Semana Santa e de realizar obras caritativas.

As Irmandades dos Passos, junto às Irmandades da Misericórdia e as do Santíssimo Sacramento, no Brasil, eram compostas por membros da elite imperial. À Irmandade dos Passos cabia organizar a maior festa do Cristianismo, a festa da Páscoa, bem como o período que a antecede, a Quaresma, ou seja, relembrar os momentos finais da vida de Cristo, antes de sua imolação pela humanidade; a Irmandade da Misericórdia tinha como principal função praticar o dever cristão da caridade e de servir aos necessitados, no sentido de encarar, como Cristo, todos aqueles que, na pobreza, necessitassem de ajuda.

Em Oeiras, primeiro núcleo populacional do Piauí, a procissão de Bom Jesus dos Passos era organizada desde no século XIX, pela irmandade denominada Confraria do Senhor Bom Jesus dos Passos da Cidade de Oeiras.

Hoje, além da tradição herdada dos colonizadores portugueses em realizar vias sacras pelas ruas das cidades refletindo os últimos momentos do calvário de Cristo, a Celebração tem também um ritual motivado pela piedade gratidão, visto que a maioria dos promesseiros, preparadores da festa e devotos, buscam pagar promessas através de esmolas, ex-votos como pedras e potes de agua na cabeça diante o percurso, bem como vestindo túnicas roxas e acompanhando a imagem descalços pelas ruas do centro histórico da cidade, o que prova uma motivação ligada à penitência, própria da liturgia católica para a época quaresmal. _

Origens da Celebração: Em todo o Brasil eram as Irmandades Religiosas, durante os períodos Colonial e Imperial que se baseavam em confrarias fraternais ao modelo português. Elas baseavam-se na caridade e em relações sociais, possibilitando ajuda e assistência que assumia características próprias de acordo com o contexto histórico das regiões em que cada uma delas se fixou.

O culto foi praticado nas colônias portuguesas, ampliando o campo religioso da Igreja Católica Romana.

Mantido pelo Padroado Régio, os leigos ajudaram na construção de igrejas, para a organização dos cultos e para a promoção de devoções. Essa prática existia tanto no período colonial como no Império, as arquiconfrarias foram as responsáveis pela assistência social da população nas mais diversas atividades: atendiam aos pedidos dos encarcerados, administravam hospitais e supriam a necessidade que a população sentia em pertencer a alguma dessas associações, pois estar de fora de seus quadros poderia significar que

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nem mesmo no momento de sua morte o indivíduo estivesse incluído nessa sociedade. Pertencer a uma irmandade era algo tão importante quanto professar a fé cristã.

As Irmandades dedicadas ao Senhor Bom Jesus dos Passos, eram compostas somente por homens de cor branca e abastados. Essas associações tinham a responsabilidade de organizar as cerimônias e procissões durante o período da Semana Santa e de realizar obras caritativas. À Irmandade dos Passos cabia organizar a maior festa do Cristianismo, a festa da Páscoa, bem como o período que a antecede, a Quaresma, ou seja, relembrar os momentos finais da vida de Cristo, antes de sua imolação pela humanidade; a Irmandade da Misericórdia tinha como principal função praticar o dever cristão da caridade e de servir aos necessitados, no sentido de encarar, como Cristo, todos aqueles que, na pobreza, necessitassem de ajuda.

Em Oeiras, primeiro núcleo populacional do Piauí, a procissão de Bom Jesus dos Passos foi criada e mantida e organizada, desde no século XIX, pela irmandade denominada Confraria do Senhor Bom Jesus dos Passos da Cidade de Oeiras. Segundo a Revista do Instituto Histórico de Oeiras, número 04, a capelinhas espalhadas pelo centro histórico que representam as 14 estações da via sacra, aparecem numa planta baixa da cidade, encomendada pelo Governador Carlos César Burlamarqui, em 1908.

Assim, a origem da Celebração dos Passos em Oiras está ligada a Confraria do Senhor Bom Jesus dos Passos da Cidade de Oeiras, desde o século XIX, como herança do catolicismo português, remanescentes do século XVI, transferidos para o Brasil ao longo da colonização, tendo desde sua origem uma ritualística que têm caráter emotivo e penitencial. _

Preparação: A Celebração é toda preparada pela comunidade, através de equipes coordenadas pela Diocese de Oiras, através da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória. Dede o inicio do ano é feito um planejamento com leigos e participantes que preparam a celebração.

As Equipes são de Infraestrutura, que se responsabiliza pela logística, Equipe de Comunicação, através da Pastoral da Comunicação da Paroquia, que faz todo o plano de mídia como a arte para cartazes, outdoor, spots para radio e carros de som, camisetas e leques, leigos que preparam as roupas das imagens, famílias encarregadas do andor do Bom Jesus, Apostolado da Oração, encarregado do andor de Nossa Senhora das Dores e também da alimentação do Clero, Terço dos Homens que fazem a coleta de esmolas durante o Sermão do encontro, hoje utilizam placas para identificar esses coletores na Praça das Vitórias, Equipe de acolhimento ao romeiro, responsável por pontos de apoio como a Unidade Escolar Nogueira Tapety e a Escola Municipal Francisco Quirino, localizadas no Bairro Rosário, que ficam abertas para receber os promesseiros com espaço para descanso, banho e também com água a disposição, a Prefeitura de Oeiras, através da Secretaria Municipal de Cultura, responsável pela decoração do centro histórico, preparação do Paço Municipal para o Sermão do Encontro, pelo Som utilizado durante o sermão e pela transmissão ao vivo da procissão. Também dão suporte, a Secretaria Municipal de Obras, responsável pela logística durante o trajeto da procissão e a limpeza das ruas, tanto antes, quanto depois da romaria, Secretaria Municipal de Saúde que também disponibiliza profissionais cem tendas prontas para prestar socorro e a Secretaria Municipal de Educação, que disponibiliza escolas para apoio dos romeiros que vêm em caravanas de outras cidades e também da zona rural do município.

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A segurança é reforçada pela Policia Militar do Piauí. Um grupo importante na preparação é a equipe que organiza a igreja do rosário para a chegada da imagem na quinta feira da fugida, Durante dois meses eles confeccionam sacos com alecrim, planta da espécie Rosmarinus officinalis, tradicionalmente usada no altar da igreja e que é levada pelos devotos. Além de organizarem a igreja, montam tendas ao redor para abrigar os romeiros durante o oficio dos passos que acontece na sexta-feira e os pontos de apoio aos romeiros nas escolas dos bairros. _

Realização: Principais etapas e participantes da atividade I. Procissão da Fugida Denominação: Procissão da Fugida _ Descrição da atividade e suas metas: A Semana Santa em Oeiras começa na Quinta-feira, que antecede a Quinta-feira da Paixão, a celebração em honra ao Bom Jesus dos Passos. Segundo a professora Espírito Santo Rêgo no livro “Oeiras Tradição e Fé”, a partir das 15:00 do mesmo dia, sempre de meia em meia hora, os sinos da Catedral dobram um som solene, específico e preparado para a Quinta e Sexta de Passos. .

Os sinos ao dobrarem parecem chorar, trazendo para a cidade uma atmosfera de tristeza e piedade. É perceptível na fisionomia dos fiéis ao verem representada a dor vivida por Bom Jesus dos Passos. Os sons dos sinos seculares fazem um chamamento para as pessoas de longe e de perto chegarem diante da velha Igreja. Aos pés do Santo rogaram a Deus uma prece. O badalar dos sinos trazem inúmeros romeiros, vindos da zona rural em verdadeiras romarias, de outras cidades, do interior do Estado, da Capital, de outros estados. O cenário urbano se transforma. Às dezenove horas, a Catedral (Igreja Matriz) é tomada pelos romeiros, que assistem atentos à missa da Quinta-feira da Fugida, termo que simboliza a fuga de Jesus Cristo para o Monte das Oliveiras, onde segundo a tradição bíblica, precisava rezar e preparar o espírito para a via dolorosa e para os momentos de flagelo.

A missa chega ao final, em frente à imagem do Senhor Bom dos Passos em andor datado de 1856, acontece a cerimônia do canto do Miserere, versão musicada a cappella do Salmo 50, feita pelo compositor italiano Gregorio Allegri. Miserere, palavra com a qual começa, na sua tradução latina, a Vulgata. É o Salmo mais conhecido de arrependimento pelo pecado e faz parte do número dos “salmos penitenciais”.

Várias vozes entoam as estrofes lamuriosas e tocantes, que chegam a arrancar lágrimas dos devotos. Mantendo a tradição, a imagem é coberta por um dossel roxo para não a vejam, representando a fuga, o esconder-se dos centuriões romanos. Após a cerimônia, a imagem sai em procissão da Catedral, carregada por homens, em direção à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que fica numa espécie de colina, o Bairro do Rosário, habitado por remanescentes de populações escravizadas quando da colonização portuguesa no Piauí. A Igreja representa, na tradição Oeirense, o Monte das Oliveiras. No templo a imagem é venerada durante toda a noite.

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A Procissão da Fugida segue até o Rosário em silêncio, rompido apenas pelos sinos da Catedral e da Igreja do Rosário. Até a década de 1960, apenas os homens acompanhavam a Procissão. Hoje Homens e mulheres, em aproximadamente uma hora acompanham a Procissão de Fugida.

Quando chegam à igreja do Rosário dos Pretos, o dossel, que trata-se de uma espécie de cortina portátil, quadrilongo de tecido decorado franjas, sustentado por hastes é retirado e a imagem é descoberta. Novamente é cantado o miserere e os sacerdotes incensam a imagem de Bom Jesus dos Passos, como sinônimo de divindade. É feita a aspersão da água benta e a benção sacerdotal. Sobre a cabeça do Bom Jesus está o resplendor de prata, fazendo jus a sua condição de rei. O Horto do Bairro Rosário já ornado com plantas nativas da região, como o alecrim, planta da espécie Rosmarinus officinalis e flores artesanais de “passos”, feitas de forma artesanal, com papel de seda laminado, colados com cera de abelha e com suporte em talos de buriti ou coco, se transforma no santuário do Senhor Bom Jesus. O aroma do alecrim torna o ritual místico; essência perfumada do Santo devoto de Oeiras, é o odor da redenção dos devotos.

A túnica roxa do Santo é constantemente tocada pelos fiéis, que aí depositam esmolas, pedidos de cura do corpo e da alma. O olhar expressivo da imagem oitocentista emociona os romeiros, que não cansam de tocar a cruz, de pegar nos cabelos e na coroa de espinhos sobre a cabeça de Bom Jesus.

Durante a noite da Quinta para a Sexta-Feira dos Passos, as famílias católicas de Oeiras ornam as capelas dos Passos com André-Miúdo, planta nativa da região, com o alecrim, para perfumar o ambiente sagrado, e com as flores de passos, como são conhecidas em Oeiras. _ Particpantes/Função: Diocese de Oeiras, Paroquianos da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Paroquianos da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Devotos, Promesseiros e Agentes Pastorais. _ II. Missa dos Romeiros Denominação: Missa dos Romeiros _ Descrição da atividade e suas metas: Quando o sol nasce na Sexta-Feira, dia do Bom Jesus dos Passos, a igrejinha do Rosário repica o sino das seis horas, despertando a cidade. As ruas ornadas com flâmulas roxas, acenam para os romeiros que chegam em caravanas para assistirem à primeira missa do dia na Igreja de Nossa Senhora do Rosário. _ Particpantes/Função: Diocese de Oeiras, Paroquianos da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Paroquianos da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Devotos, Promesseiros e Pastorais. _ III. Ofício dos Passos Denominação: Ofício dos Passos

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Descrição da atividade e suas metas: Ao meio dia da Sexta-Feira é rezado o ofício dos Passos na igreja do Rosário. Centenas de fiéis participam.

O ofício é melodiado por vozes que ora rezam, ora cantam o martírio de Jesus Cristo. O ofício relata nas vozes dos fiéis a paixão e morte de Bom Jesus; a assembleia de participantes faz um ato de contrição, pedindo perdão a Deus pelo sofrimento de redentor. Para os romeiros é um momento de graça e de pedidos ao Santo.

Segundo o Cronista Rogério Newton em artigo publicado na Revista número 13 do Instituto Histórico de Oeiras, O ofício dos Passos é constituído de rezas e cantos dos quais o padre não participa: são os devotos que o celebram. Aí a religiosidade ocorre de forma concentrada, com forte conteúdo messiânico e nordestino.

O ofício dos Passos possui mais de 400 versos, divididos em dez partes. São versos decassílabos e redondilhas, cantados ou declamados sob forma de oração. Sua composição guarda semelhanças com os versos dos romances de feira do Nordeste do Brasil. _ Particpantes/Função: Senhoras Onezinda Serra , Maria do Espirito Santo Rêgo e Isnara Rêgo Guimarães(Rezam do Oficio), Clero (Diocese de Oeiras), Paroquianos da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Paroquianos da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Devotos, Promesseiros e agentes pastorais. _ IV. Procissão do Bom Jesus dos Passos Denominação: Procissão do Bom Jesus dos Passos _ Descrição da atividade e suas metas: A partir das dezesseis horas, o Largo da Igreja do Rosário é tomado por uma multidão de mais de trinta mil romeiros. É o grande público da Procissão que veem no sofrimento de Cristo o seu próprio sofrimento.

Olhando do alto da torre da velha igreja é possível perceber a imensa cortina roxa que tomou as ruas de Oeiras. São pagadores de promessas, com pedras na cabeça, de pé descalço, carregando cruzes, com flores de Passos na mão e muita fé.

No interior da Igreja há enorme movimentação. Os sacerdotes cuidam dos paramentos. Os homens que carregam o andor com a imagem do Bom Jesus vestem a roupa roxa, uma espécie de camisola para diferenciar dos demais fiéis, demostrando a irmandade daqueles homens que a receberam dos antepassados e que seguem adiante a tradição. Ainda carregam nas mãos hastes de ferro conhecidas como descanso, que servem para sustentar o andor, quando a imagem pára diante dos Passos.

Os sinos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário repicam novamente, chamando os romeiros para o interior da igreja barroca. Os sacerdotes acompanhados dos ajudantes de cerimônia se posicionam em frente à imagem, que se encontra na capela-mor, a principal da igreja. Canta-se novamente o miserere (Salmo 50) da misericórdia; a imagem é incensada ao som das vozes que cantam: “Tem de piedade Senhor e sê clemente tua bondade, apague os meus pecados”.

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A bênção da imagem é feita pelo bispo diocesano, que segura nas mãos a relíquia da Santa Cruz, um fragmento que se acredita ser da cruz original na qual Jesus Cristo foi crucificado. É um símbolo da fé católica. A relíquia foi trazida para Oeiras pelo terceiro bispo da diocese, Dom Edilberto Dinkelborg, que geriu a diocese de mil novecentos e cinquenta e nove a mil novecentos e noventa e um. Os restos mortais do sacerdote estão depositados na capela do Bom Jesus, na Igreja Nossa Senhora da Vitória de Oeiras.

Após a benção, a imagem sai da Igreja, carregada por homens que herdaram dos antepassados a tarefa de carregadores do Bom Jesus.

Acompanhando a imagem, quatro lanternas de prata do século XVIII. À frente estandartes ou flâmulas romanas roxas, demostrando o poder do Império Romano. Uma das flâmulas traz a seguinte inscrição em latim: S.P.Q.R, que significa Senatus Populusque Romanus, que quer dizer: “O senado e o povo Romano”.

Os católicos de Oeiras na sua fé modificam de forma cristã o sentido da inscrição: “Salvai Povo Que Remi”.

Pedindo a salvação a Jesus, através das indulgências, do perdão dos pecados.

A imagem é retirada do interior da Igreja e é colocada no adro do Rosário. Atrás, os sacerdotes e o bispo que vêm debaixo do palio dossel, uma espécie de toldo coberto com varas de prata, guardando a pessoa do bispo como sagrada.

Antes dos estandartes romanos e logo depois da imagem do Bom Jesus quatro personagens bíblicos participam do ritual. São mulheres, geralmente jovens vestidas com trajes típicos da época de Jesus, que representam as santas mulheres que seguiram Cristo até o calvário: Verônica, Maria Madalena, Maria de Cléofas e Salomé. A Verônica carrega nas mãos um fragmento de tecido, como se fosse um pergaminho, com uma pintura que representa a face do Bom Jesus. É o Sudário, que é desenrolado por ela em todas as estações ou passos.

A Procissão apenas segue após Verônica abrir o sudário e cantar a lamentação do Profeta Jeremias que em latim diz” “Ó vos ommes, qui transitis per viam, atendite et videte si est dolor sicut dolor, dolor meus, meus, meur.”. Traduzida para português significa “Caminheiros que passais por este caminho parai e olhai por favor se neste mundo existe uma dor assim tão grande, como uma dor de minha dor, de minha dor”.

Verônica é conhecida em Oeiras como Maria Beú, em virtude da estrofe final do canto em latim “meus”.

Com o passar dos séculos, as pessoas entendiam “Beú” em vez de “meus” e assim passaram a chamá-la de Maria Beú.

O canto é repetido nos cinco Passos dispersos pelo centro histórico de Oeiras; ora é cantado em latim, ora em português, sempre de forma intercalada.

O cortejo sai em procissão, acompanhado pela banda de música Santa Cecília criada em 1940 e está sempre presente nos eventos festivos da cidade. Ao longo da Procissão, executa o “Dobrado” de Bom Jesus dos Passos.

Os fiéis acompanham o cortejo que segue fazendo as paradas nos Passos, até chegar à Praça das Vitórias, em frente ao antigo Palácio da Cidade, hoje Prefeitura de Oeiras ou Paço Municipal. Quando a Procissão chega ao centro de Oeiras é quase noite. Os sacerdotes se dirigem para as janelas do Sobrado, Prefeitura de Oeiras, e um deles faz o Sermão do Encontro entre Jesus Cristo e sua Mãe.

Segundo o teólogo e ex-pároco da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Raimundo Nonato Marques, esse é o momento mais importante da cerimônia, o “Sermão do Encontro”. A cena representa o encontro de Bom Jesus com Nossa Senhora das Dores, a mãe que vem ao encontro do filho, sinônimo de amor e da piedade. A imagem das Dores data do século XIX, com manto roxo e véu que cobre a cabeça, também roxo. Trás ainda sobre a cabeça um resplendor de prata, para designar a condição de rainha.

[ 44 ]

O andor de Nossa Senhora é levado por mulheres que fazem parte do Apostolado da Oração – Sagrado Coração de Jesus, irmandade religiosa secular a cuidar pelas tradições religiosas da cidade.

Quando as duas imagens se encontram, a procissão continua, parando ainda em dois passos, sendo que um deles é chamado Passo do Engano, onde a imagem dá três rodadas, simbolizando que Jesus desejava enganar os seus malfeitores. Reza a tradição Oeirense que no momento da cerimônia do engano, os fiéis devem fazer pedidos e orações.

Ao chegar à Catedral de Nossa Senhora da Vitória, a Procissão segue para o adro da Igreja. São entoados o Miserere e o canto da Maria Beú, as imagens do Bom Jesus e de Nossa Senhora adentram o templo, aclamadas por palmas e cantos piedosos. Muitos fiéis, que durante o cortejo pagaram suas promessas se despedem dos Santos, colocando esmolas e pedindo, que no ano seguinte estejam novamente acompanhando a Procissão.

As imagens ficam expostas para a visitação até as vinte de duas horas, quando a igreja é fechada. São cerca de vinte e quatro horas de intensas orações e manifestações de fé, que fazem parte das comemorações em honra a Bom Jesus dos Passos de Oeiras. _ Particpantes/Função: Diocese de Oeiras, Paroquianos da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Paroquianos da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Devotos, Promesseiros e Pastorais _ Observação: Particpantes comuns a todas as atividades: Diocese de Oeiras, Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Prefeitura Municipal de Oeiras, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Secretaria Municipal de Saúde, Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus, Arquiconfraria do Sagrado Coração de Maria, Polícia Militar, Terço dos Homens, Pastoral da Comunicação da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Pastoral da Comunicação da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Grupo de Escoteiros Domingos Afonso Mafrense, Coral Madrigal, Banda Santa Cecilia, Devotos, Promesseiros e Agentes de Pastorais. _ Comidas e bebidas próprias desta celebração Tipos Consumo de outros tipos de comidas e bebidas Existe um prato típico da Semana Santa de Oeiras que é consumido na cidade de Oeiras no dia da Celebração dos Passos na maioria das casas, o tradicional quibebe.

Segue abaixo a receita do prato a base de abóbora: Ingredientes 01 Abobora média 01 tomate 01 Cebola

[ 45 ]

01 Pimentão 01 Dente de Alho Uma porção de Cheiro Verde Uma porção de Pimenta do Reino Dois copos de água Uma xícara pequena de nata da quilhada de leite (Hoje há quem use creme de leite no lugar da nata) Modo de Fazer Coloque numa panela, a abóbora em cubos com a agua e os demais ingredientes.

Deixe cozinhar para que a abobora também solte agua.

Quando a abobora já estiver cozida, acrescente a nata e mexa.

Depois sirva quente.

Instrumentos e objetos rituais próprios desta celebração Tipos Outros tipos de instrumentos e objetos

[ 46 ]

Recursos finaceiros, capital e recursos utilizados

Denominação/ Descrição

Denominação

Quem provê/ como obtêm

Recurso Financeiro

Capital das próprias paróquias arrecadado durante as intenções, as ofertas, venda de camisetas, livros de cânticos e ofícios, patrocínio de Empresas e /ou Instituições que são devotas.

Paroquianos Devotos Promesseiros Empresas locais

Recurso Financeiro

Patrocínio da Prefeitura Municipal de Oeiras, através de apoio cultural que cobre as despesas com o som, decoração do centro histórico com flamulas, limpeza de todo o percurso da procissão, além de promoção da Celebração com cobertura ao vivo em veículos de comunicação regional.

Prefeitura Municipal de Oeiras

[ 47 ]

Trajes e adereços próprios desta celebração Tipos Outros trajes e adereços Denominação/ Descrição

Denominação

Quem provê/ como obtêm

Opa

Espécie de capa em seda ou tecido de algodão púrpura, sem mangas, com abertura por onde se enfiam os braços, usadas pelos membros das famílias encarregados de carregar o andor do Bom Jesus dos Passos.

Produzida pelas famílias detentoras da tradição com tecido comprado em lojas especializadas.

Túnica roxa

É uma espécie vestido na cor púrpura, que cobre É produzida pelos promestodo o corpo. Lembra a túnica que Jesus usava, seiros com tecido comprado ´sem costura de alto a baixo´, sobre a qual os sol- em lojas especializadas. dados romanos tiraram a sorte para decidir quem ficaria com ela. Essa túnica geralmente é usada por promesseiros que a usam como forma de pagar promessas acompanhando a procissão de pés descalços.

Músicas e orações próprias desta celebração Tipos Outros músicas e orações Denominação/ Descrição

Denominação

Quem provê/ como obtêm

Ofício dos Passos

Constituído de rezas e cantos dos quais o padre não participa: são os devotos que o celebram. Aí a religiosidade ocorre de forma concentrada, com forte conteúdo messiânico e nordestino.

O ofício dos Passos possui mais de 400 versos, divididos em dez partes. São versos decassílabos e redondilhas, cantados ou declamados sob forma de oração. Sua composição guarda semelhanças com os versos dos romances de feira do Nordeste do Brasil.

Autor Desconhecido/ Conduzido pelas Senhoras Onezinda Portela Serra, Maria do Espirito Santo Rêgo e Isnara Rêgo Guimaraes.

Canto da Maria Beú

Lamentação do Profeta Jeremias que é cantado Bíblia Sagrada/ Melodia de pela Verônica alternadamente nas paradas nos pas- autor desconhecido. so, ora em Português, ora em latim.

[ 48 ]

Miserere

(Salmo 50) da misericórdia.

Bíblia Sagrada/ Cantado pelo Coral Madrigal da Catedral de Nossa Senhora da Vitória

Marcha Tradicional e Afetiva Lamentação do Profeta Jeremias que é cantado Autor Desconhecido dos Passos (Executada pela pela Verônica alternadamente nas paradas nos Banda Santa Cecilia) passo, ora em Português, ora em latim.

Instrumentos musicais próprios desta celebração Tipos Outros instrumentos musicais Denominação/ Descrição

Denominação

Quem provê/ como obtêm

Clarineta

Animar e harmonizar a celebração

Banda Santa Cecília

Trombone

Animar e harmonizar a celebração

Banda Santa Cecília

Saxofone Alto

Animar e harmonizar a celebração

Banda Santa Cecília

Saxofone Tenor

Animar e harmonizar a celebração

Banda Santa Cecília

Bombardino

Animar e harmonizar a celebração

Banda Santa Cecília

Trompetes Tuba

Animar e harmonizar a celebração

Banda Santa Cecília

Bumbo

Animar e harmonizar a celebração

Banda Santa Cecília

Caixa

Animar e harmonizar a celebração

Banda Santa Cecília

Pratos

Animar e harmonizar a celebração

Banda Santa Cecília

Tarefas executadas após a Celebração Quem as executa Quem executa / Atividade Prefeitura Municipal de Oeiras: Limpeza do centro histórico Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus: Coleta de esmolas e ofertas Paróquia de Nossa Senhora da Vitória: Prestação de Contas das coletas à Comunidade Paróquia de Nossa Senhora da Vitória (Todos os grupos e pastorais): Seresta ao Bom Jesus (Apresentações culturais preparadas pelos grupos e pastorais. Acontece no sábado de Passos, às 20:00h).

[ 49 ]

Público da celebração Diocese de Oeiras, Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Prefeitura Municipal de Oeiras, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Secretaria Municipal de Saúde, Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus, Arquiconfraria do Sagrado Coração de Maria, Polícia Militar, Terço dos Homens, Pastoral da Comunicação da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Pastoral da Comunicação da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Grupo de Escoteiros Domingos Afonso Mafrense, Coral Madrigal, Banda Santa Cecilia, Devotos, Promesseiros e Agentes de Pastorais.

Mudanças na organização e no programa desta celebração Época: 2018

Ocorrência: Foi incorporado no cortejo, jovens vestindo roupas de Soldados Romanos. Após manifestação contrária do Conselho Municipal de Cultura e ampla indignação da comunidade, a Diocese de Oeiras e a Paróquia de Nossa Senhora da Vitória proibiram a participação dessas personagens. _

Lugar da Celebração Onde ocorre: Igreja de Nossa Senhora da Vitória Igreja de Nossa Senhora do Rosário Centro Histórico de Oeiras Responsável ou proprietário do lugar em que ocorre a celebração Prefeitura Municipal de Oeiras Diocese de Oeiras Paróquia de Nossa Senhora da Vitória Paróquia de Nossa Senhora do Rosário Desenho do lugar da celebração Cf. Registros Audiovisuais _

[ 50 ]

Identificação de outros bens e informantes Mais informantes sobre a Celebração Toda a comunidade católica devota e praticante, o pároco atual e os párocos antigos e os promesseiros.

Outras celebrações nesta localidade Celebração

Onde / Quando?

Contato

Festa do Divino Espírito Santo

Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Oeiras-PI. Secretaria da Paroquia NosCinquenta dias após a Semana Santa (Pentecostes). sa Senhora da Conceição

Festa de Nossa Senhora da Vitória

Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Oeiras-PI. Secretaria da Paroquia Nossa Senhora da Conceição Acontece dia 15 de Agosto.

Festa de Nossa Senhora do Rosário

Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, Oeiras-PI.

Secretaria da Paroquia Nossa Senhora da Conceição

Festa de Nossa Senhora da Conceição

Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Oeiras-PI. Secretaria da Paroquia Nossa Senhora da Conceição Acontece dia 08 de dezembro.

Procissão do Fogaréu

Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Oeiras-PI. Secretaria da Paroquia Nossa Senhora da Conceição Acontece Quinta-Feira Santa (Semana Santa).

Procissão do Senhor Morto

Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Oeiras-PI. Secretaria da Paroquia Nossa Senhora da Conceição Acontece Sexta-feira da Paixão (Semana Santa).

Procissão do Senhor Ressuscitado

Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Oeiras-PI. Secretaria da Paroquia NosAcontece no domingo da ressurreição (Semana sa Senhora da Conceição Santa).

Materiais impressos e outros localizados durante a entrevista Referência

Assunto

Onde encontrar

Conferir relação de referências bibliográficas identificadas, catalogadas e disponibilizadas neste inventário [Anexo 1 – Bibliografia].

História, História Oral, Celebrações, Religiosidade

Apêndice V – Bibliografia.

Ovservações / Recomendações de aprofundamento das entrevistas As entrevistas foram consideradas satisfatórias

[ 51 ]

APÊNDICE

05 BIBLIOGRAFIA

Referência

Assunto

Onde encontrar

nº

ARQUIVO DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE MONÇÃO (doravante ASCMM), Livro que ha de servir para os acordãos e enlleiçoens desta Santa Cazza 1710-1774, nº11 in: As Misericórdias em festa: os Passos na Santa Casa de Monção (século XVIII) Dra. Maria Marta Lobo de Araújo.

Festa dos Passos da Graça.

http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/11771

1

ALBERTI, Verena. Manual de história oral. 2. ed.

Rio de Janeiro, Ed. FGV, 2005.

História Oral

Livraria Saraiva

2

ALVES; JUNQUEIRA. As Festas e as Tradições Religiosas. Revista de Educação da AEC, ano 2006, n. 138, p. 74 a 78

Celebrações

Livraria Saraiva

3

AMARAL, Polyanny; NETO, Arlindo. Os Imponderáveis da Etnografia Religiosa: Uma Análise sobre o Trabalho Etnográfico no Campo Religioso.

MNEME – Revista de Humanidades, v.12, n. 29, p.496, 2001.

Etnografia

https://periodicos.ufrn.br/ mneme/article/view/975

4

ARANTES, Antônio Augusto. “Patrimônio Imaterial e Referências Culturais”. Revista Tempo Brasileiro. Patrimônio Imaterial, n. 147, Rio de Janeiro: ed. Tempo Brasileiro, out.-dez., 2001.

Referências Culturais

Livraria Saraiva

5

BELTRÃO, Luiz - Folkcomunicação, a comunicação dos marginalizados, São Paulo, Cortez, 1980.

Folkcomunicação

Livraria Estante Virtual

6

BÍBLIA SAGRADA. 153.ed. São Paulo: Editora Ave-Maria, Edição Claretiana, 2002.

Religião

Livraria Paulinas

7

CARVALHO JR, Dagoberto Ferreira de, 1948- Passeio a Oeiras/ Dagoberto de Carvalho Jr. 6 ed. Teresina: Fundação Cultural do Piauí, 2010.

Oeirensidade e Patrimônio

Museu de Arte Sacra de Oeiras-MAS

8

Catálogo Splendor at Gloria: Cinco Jóias Cetencentístas de Exceção, Museu Nacional de Arte Antiga 2014. Disponível em

Arte Sacra

http://www.museudearteantiga. pt/investigacao/publicacoes

9

CASCUDO, Luís da Câmara. Locuções tradicionais do Brasil. São Paulo: Global, 2008.

Celebrações

Editora Saraiva

CHAGAS, Mario; GOUVEIA, Inês. Museologia Social: reflexões e práticas – À guisa de apresentação.

Cadernos do CEOM, v.27, n. 41. S/d.

Museologia Social

https://bell.unochapeco.edu.br/ revistas/index.php/rcc/article/ view/2592

Círio de Nazaré. – Rio de Janeiro: Iphan, 2006.

101 p.: color., plantas; 25cm. – (Dossiê Iphan; 1) FREITAS JR, Pedro Dias de & SANTOS, Francisco Stefano Ferreira dos. Passos do Bom Jesus, Narrativas de Fé. Gráfica Expansão. Teresina. 2008.

10

Celebração

http://portal.iphan.gov.br/uploads/ publicacao/PatImDos_Cirio_m.pdf

11

Folkcomunicação

Livraria Universitária

12

[ 52 ]

Referência

Assunto

Onde encontrar

nº

GEERTZ, Clifford. Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura. In: A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989.

Descrição Densa

Livraria Saraiva

13

GROSSI, Ramon Fernandes. A religiosidade nas Minas setecentistas. In: Varia História UFMG. Belo Horizonte, nº 24, 2001, p. 90-106.

Religiosidade

https://static1.squarespace. com/static/561937b1e4b0ae8c3b97a702/t/572b511ff699bb2283a2d3f2/1462456608001/04_Grossi%2C+Ramon+Fernandes.pdf

14

IPHAN. Cidades do Piauí testemunhas da ocupação do interior do Brasil durante o século XVIII. Conjunto Histórico e Paisagístico de Oeiras: dossiê de tombamento.Coordenação: Murilo Cunha Ferreira. Teresina (PI),2009.

Dossiê de Tombamento

Arquivo Secretaria Municipal de Cultura de Oeiras-PI

15

_____Dossiê Procissão dos Passos (Florianópolis-SC).

Dossiê de Celebração

_____Educação Patrimonial: Inventários Participativos. Brasília: Disponível em: Acesso em 06 de agosto de 2019.

Educação Patrimonial

<http://portal.iphan.gov.br/ uploads/publicacao/inventariodopatrimonio_15x21web.pdf>.

17

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Dados Estatísticos

http://www.ibge.gov.br. Acesso em 22 de julho de 2019.

18

______. Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC: Manual de Aplicação. Brasília, 2000.

LIMA, Ariane dos Santos. Por entre rezas e procissões: Celebração em louvor ao Bom Jesus dos Passos / Ariane dos Santos Lima. – 2013.

Referencias Culturais

http://portal.iphan.gov.br/ uploads/ckfinder/arquivos/Manual_do_INRC.pdf

19

OLIVEIRA, I. B.; GERALDI, J. W. Narrativas: outros conhecimentos, outras formas de expressão. ______. (Org.) Narrativas: outros conhecimentos, outras formas de expressão. Petrópolis: DP&A, 2010.

Celebrações

Repositório UFPI

20

PINHO LEAL, Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno Lisboa, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006

Rodas de Conversa

Livraria Virtual zoo.com

21

PASSOS, Mauro (org.). A festa na vida: significado e imagens. Petrópolis: Vozes, 2002.

Celebrações Lusitanas

Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão

22

PINHEIRO, Áurea. Celebrações. Teresina: Educar: artes e ofícios, 2009.

Celebrações

Vozes

23

[ 53 ]

http://portal.iphan.gov.br/ uploads/ckfinder/arquivos/ dossie_procissao_sr_dos_passos_flp_2018(1).pdf

16

Referência

Assunto

Onde encontrar

nº

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, v.2, n.3, 1989.

Memória

Livraria Estante Virtual

24

POZO RUIZ, Alberto. Las cofradías sevillanas en el siglo XVI. Taurologia.com, 18 mar. 2016.

Celebrações

<https://www.taurologia.com/imagenes/ fotosdeldia/5890_ ensayo__las_cofradias_ sevillanas_en_el_siglo_xvi.pdf>.

25

RÊGO, Maria do Espírito Santo. Oeiras fé e tradição, Teresina: Gráfica e Editora Júnior LTDA, 2006.

Tradição e Fé

Biblioteca Municipal de Oeiras

26

Revista Macau nº 14. fevereiro de 2017. Delta Edições.

Celebrações

h t t p s : // w w w . r e v i s t a m a c a u . com/2017/02/07/senhor-bom-jesus-dos-passos/

27

SCARANO, Julita. Devoção e Escravidão: a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos do Distrito Diamantino no Século XVIII. São Paulo: Editora Nacional, 1976. (Brasiliana, 357).

Devoção

Livraria Brasiliana

28

SIAT, JEANNINE. Religiões Monoteístas: Uma Brevíssima Introdução. Rio De Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000.

Religiões

Livraria Jorge Zahar

29

SOUSA, Rogério Newton de Carvalho. Passos, Passos. Revista do Instituto Histórico de Oeiras. Nº 13. Oeiras, 1993.

Passos de Oeiras

Biblioteca Municipal de Oeiras

30

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação.

São Paulo: Cortez, 1985.

Pesquisa-Ação

Livraria Saraiva

31

VARAZZE, Jacopo de. Legenda Áurea: vidas de santos. 6 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

Celebração

Livraria Saraiva

32

VARINE, Hugues de. As raízes do futuro: o patrimônio a serviço do desenvolvimento local. Trad.

Maria de Lourdes Parreiras Horta. Porto Alegre: Medianiz, 2013.

Museologia Social

Livraria Saraiva

33

VENARD, Marc. A imagem tridentina: ordem e beleza. In: CORBIN, Alain (dir.). História do cristianismo: para compreender melhor nosso tempo.

São Paulo: Martins Fontes, 2009.

Cristianismo

Livraria Estante Virtual

34

VINCENT, Catherine. Culto dos santos, relíquias e peregrinações. In: CORBIN, Alain (dir.). História do cristianismo: para compreender melhor nosso tempo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

Cultura Popular

Livraria Estante Virtual

35

[ 54 ]

APÊNDICE REGISTROS AUDIO VISUAIS Ficha do Relatório de Imagens

Dados da Imagem: Título/Assunto: “Oeyras do Piauhi, fins do século XVIII”.

Autor: Autoria desconhecida Data: Fins do século XVIII. Local: Biblioteca Nacional de Lisboa

[ 55 ]

06

Dados da Imagem: Título/Assunto: Interior da igreja de Nossa Senhora do Rosário.

Autor: Arquivo Prefeitura Municipal de Oeiras Data: 2018 Local: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras

[ 56 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Interior da igreja de Nossa Senhora do Rosário.

Autor: Prefeitura Municipal de Oeiras Data: 2018 Local: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras

[ 57 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Romeiros tocando a túnica da imagem do Bom Jesus Autor: Arquivo Prefeitura Municipal de Oeiras Data: 2018 Local: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras de Oeiras

[ 58 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Saída da Procissão pelo Largo do Rosário Autor: Arquivo Prefeitura Municipal de Oeiras Data: 2018 Local: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras de Oeiras

[ 59 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Flâmula (Guião) com inscrição em latim.

Autor: Arquivo Prefeitura Municipal de Oeiras Data: 2018 Local: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras de Oeiras

[ 60 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Canto de lamento da Verônica (Maria Beú).

Autor: Arquivo Prefeitura Municipal de Oeiras Data: 2018 Local: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras de Oeiras

[ 61 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Banda Santa Cecília.

Autor: Arquivo Prefeitura Municipal de Oeiras Data: 2018 Local: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras de Oeiras

[ 62 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Encontro das imagens do Bom Jesus dos Passos e Nossa Senhora das Dores.

Autor: Arquivo Prefeitura Municipal de Oeiras Data: 2018 Local: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras de Oeiras

[ 63 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Roteiro da Procissão de Bom Jesus dos Passos, no centro histórico de Oeiras.

Autor: Elaborado pela 19ª SR/IPHAN. Data: 2009 Local: Conjunto Histórico e Paisagístico de Oeiras: Dossiê de tombamento

[ 64 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Chegada da Procissão da fugida na Igreja do Rosário.

Autor: Inamorato Reis Data: 2018 Local: Arquivo Pessoal

[ 65 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Membro da Irmandade da Misericórdia de São Roque antes da saída da procissão do Bom Jesus dos Passos– Lisboa, Portugal.

Autor: Cássia Moura Data: 2013 Local: Arquivo da Autora

[ 66 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Membro da Irmandade da Misericórdia de São Roque antes da saída da procissão do Bom Jesus dos Passos– Lisboa, Portugal.

Autor: Cássia Moura Data: 2013 Local: Arquivo da Autora

[ 67 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Membro da Irmandade da Misericórdia carregando a Imagem do Bom Jesus dos Passos pelo Bairro Alto- Lisboa-Portugal.

Autor: Cássia Moura Data: 2013 Local: Arquivo da Autora

[ 68 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Imagem de Nossa Senhora das Dores. Procissão dos Passos em Lisboa-Portugal.

Autor: Cássia Moura Data: 2013 Local: Arquivo da Autora

[ 69 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Rotas de expansão da pecuária no Nordeste e vilas fundadas até meados do século XVIII. Autor: Elaborado pela 19ª SR/IPHAN a partir de informações de Andrade, 1975, pág.23 e 39.

Data: 2009 Local: Conjunto Histórico e Paisagístico de Oeiras: Dossiê de tombamento

[ 70 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: “Nova et accurata Brasiliae totius tabula”..

Autor: BLAEU, Joan.

Data: 1940.

Local: Fundação da Biblioteca Nacional.

[ 71 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Área territorial de Oeiras no último Censo(2010).

Autor: IBGE Data: 2017 Local: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pi/oeiras/panorama

[ 72 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: População residente de Oeiras ( Unidade: pessoas em 2010).

Autor: IBGE Data: 2017 Local: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pi/oeiras/panorama

[ 73 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Localização do município de Oeiras.

Autor: Elaborado pela 19ª SR/IPHAN sobre base cartográfica da CPRM Data: 2009 Local: Conjunto Histórico e Paisagístico de Oeiras: Dossiê de tombamento

[ 74 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Estandarte da Irmandade da Misericórdia da Igreja de São Roque Lisboa-Portugal Autor: Stefano Ferreira Data: Abril de 2019 Local: Arquivo Pessoal do Autor

[ 75 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Procissão do Bom Jesus dos Passos na igreja de São Roque em Lisboa, Portugal Autor: Stefano Ferreira Data: Abril de 2019 Local: Arquivo Pessoal do Autor

[ 76 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Procissão do Bom Jesus dos Passos na igreja de São Roque – Lisboa, Portugal.

Autor: Stefano Ferreira Data: Abril de 2019 Local: Arquivo Pessoal do Autor

[ 77 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Aula Pública sobre a proposta de Inventário da Celebração dos Passos em Oeiras - PI Autor: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras Data: Junho de 2019 Local: Arquivo Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Oeiras

[ 78 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Aula Pública sobre a proposta de Inventário da Celebração dos Passos em Oeiras - PI Autor: Jadson Osório Data: Junho de 2019 Local: https://maisoeiras.com.br/noticias/mestrado-em-artes-patrimonio-e-museologia-da-ufpi-realiza-aula-publica-em-oeiras/

[ 79 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Aula Pública sobre a proposta de Inventário da Celebração dos Passos em Oeiras - PI. Pronunciamento da Coordenadora Programa de Mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia (UFPI), Professora Doutora Aurea da Paz Pinheiro Autor: Jadson Osório Data: Junho de 2019 Local: https://maisoeiras.com.br/noticias/mestrado-em-artes-patrimonio-e-museologia-da-ufpi-realiza-aula-publica-em-oeiras/

[ 80 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Roda de Conversa Diálogos, Café e Memórias 1.

Cuidadoras e Carregadoras da Imagem de Nossa Senhora das Dores.

Autor: Stefano Ferreira Data: Julho de 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração do Bom Jesus dos Passos

[ 81 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Roda de Conversa Diálogos, Café e Memórias 1.

Cuidadoras e Carregadoras da Imagem de Nossa Senhora das Dores Autor: Stefano Ferreira Data: Julho de 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração do Bom Jesus dos Passos

[ 82 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Cuidadora das Roupas de Nossa Senhora das Dores Autor: Stefano Ferreira Data: Julho de 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração do Bom Jesus dos Passos

[ 83 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Cuidadora das Roupas de Nossa Senhora das Dores Autor: Stefano Ferreira Data: Julho de 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração do Bom Jesus dos Passos

[ 84 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Cuidadora das Roupas de Nossa Senhora das Dores Autor: Stefano Ferreira Data: Julho de 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração do Bom Jesus dos Passos

[ 85 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Cuidadores da Imagem do Bom Jesus dos Passos Autor: Stefano Ferreira Data: Julho de 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração do Bom Jesus dos Passos

[ 86 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Resplendor do Bom Jesus dos Passos Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 87 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Guião usado na Procissão dos Passos Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 88 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Lanterna em Prata usada na Procissão dos Passos Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 89 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Varas do Pálio em prata usada na Procissão dos Passos Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 90 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Cruz em Madeira carregada pela Imagem do Bom Jesus na Procissão Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 91 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Pálio Roxo usado na Procissão do Bom Jesus na Procissão Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 92 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Imagem de Nossa Senhora das Dores Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 93 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Imagem de Nossa Senhora das Dores Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 94 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Imagem de Nossa Senhora das Dores Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 95 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Imagem de Nossa Senhora das Dores Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 96 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Imagem do Bom Jesus dos Passos Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 97 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Detalhe da Imagem do Bom Jesus dos Passos Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 98 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Detalhe da Imagem do Bom Jesus dos Passos Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 99 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Imagem do Bom Jesus dos Passos e Nossa Senhora das Dores no Altar Autor: IPHAN Data: 2005 Local: Arquivo IPHAN-PI

[ 100 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Entrevista com os representantes do Clero da Diocese de Oeiras.

Autor: Santiago Francisco Borges Pereira Data: Agosto 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração dos Passos

[ 101 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Gráfico 1 Autor: Stefano Ferreira Data: Dezembro de 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração dos Passos

Dados da Imagem: Título/Assunto: Gráfico 2.

Autor: Stefano Ferreira Data: Dezembro de 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração dos Passos

[ 102 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Gráfico 3 Autor: Stefano Ferreira Data: Dezembro de 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração dos Passos

[ 103 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Gráfico 2.

Autor: Stefano Ferreira Data: Dezembro de 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração dos Passos

[ 104 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Gráfico 3 Autor: Stefano Ferreira Data: Dezembro de 2019 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração dos Passos

[ 105 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Gráfico 6 Autor: Stefano Ferreira Data: Janeiro de 2020 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração dos Passos

Dados da Imagem: Título/Assunto: Gráfico 7 Autor: Stefano Ferreira Data: Janeiro de 2020 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração dos Passos

[ 106 ]

Dados da Imagem: Título/Assunto: Gráfico 8 Autor: Stefano Ferreira Data: Janeiro de 2020 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração dos Passos

Dados da Imagem: Título/Assunto: Gráfico 9 Autor: Stefano Ferreira Data: Janeiro de 2020 Local: Arquivo do Inventário Participativo da Celebração dos Passos

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APÊNDICE

07 CONTATOS

01

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Maria da Guia Dantas Como é conhecido (a): Daguia Endereço: Praça do Canela, nº 23, Bairro Canela, Centro.

Telefone: 89 99475-2005 Ocupação: Costureira\ Zeladora do Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus Onde nasceu: Fazenda Frade- Oeiras-PI Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras.

Bem cultural: Procissão do Bom Jesus dos Passos Observação: Participa ativamente da preparação da Imagem de Nossa Senhora das Dores.

Data de Nascimento / Fundação: 07/10/1962 Sexo: Feminino E-mail:

02

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Conceição de Maria Barroso Moura de Albuquerque Como é conhecido (a): Ceiça Moura Endereço: Avenida José Tapety, 522, Oeiras Nova.

Telefone: 89 99905-8803 Ocupação: Professora Onde nasceu: Pedreiras-MA Desde quando mora na localidade: Desde os 08 meses de vida.

Bem cultural: Observação: Participa ativamente da preparação da Imagem de Nossa Senhora das Dores Data de Nascimento / Fundação: 28/10/1965 Sexo: Feminino E-mail: phetdora@outlook.com

03

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Maria Martins de Oliveira Como é conhecido (a): Marrinha de Zeca Lopes Endereço: Rua Nogueira Tapety, 208, Centro.

Telefone: 89 99412-9886 Ocupação: Costureira Onde nasceu: Oeiras Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras.

Bem cultural: Procissão do Bom Jesus dos Passos.

Observação: Participa ativamente da preparação da Imagem de Nossa Senhora das Dores.

Data de Nascimento / Fundação: Sexo: Feminino E-mail:

[ 108 ]

04

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Célia Maria Oliveira Santos Como é conhecido (a): Célia de Anchietinha Endereço: Rua Zacarias de Góes e Vasconcelos, 292, Centro.

Telefone: 89 3462-1480 Ocupação: Costureira\ Zeladora do Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus Onde nasceu: Oeiras Desde quando mora na localidade: Bem cultural: Procissão do Bom Jesus dos Passos Observação: Participa ativamente da preparação da Imagem de Nossa Senhora das Dores.

Data de Nascimento / Fundação: Sexo: Feminino E-mail:

05

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Gabriela Maria Ferreira dos Santos Reis Como é conhecido (a): Gabriela Reis Endereço: Praça das Vitórias,22, Centro.

Telefone: 89 99413-8686 Ocupação: Pedagoga Onde nasceu: Oeiras Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras.

Bem cultural: Procissão de Bom Jesus dos Passos de Oeiras-PI. Observação: Participa ativamente da preparação da Imagem de Nossa Senhora das Dores Data de Nascimento / Fundação: 14/11/1974 Sexo: Feminino E-mail: gabrieladeoeiras@gmail.com

06

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Maria Jucilene Cunha de Sousa e Silva Como é conhecido (a): Jucilene Endereço: Avenida José Tapety, 416, Oeiras Nova.

Telefone: 89 99946-6661 Ocupação: Dentista Onde nasceu: Teresina-PI Desde quando mora na localidade: Há 50 anos Bem cultural: Procissão de Bom Jesus dos Passos de Oeiras-PI. Observação: Participa ativamente da preparação da Imagem de Nossa Senhora das Dores.

Data de Nascimento / Fundação: Sexo: Feminino E-mail: jucilenecunha@hotmail.com

[ 109 ]

07

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Teresa de Jesus Martins Salvador Como é conhecido (a): Teresinha Salvador Endereço: Praça do Canela, 207, Bairro Canela.

Telefone: 89 99432- 7498 Ocupação: Professora Onde nasceu: Oeiras Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras.

Bem cultural: Procissão do Bom Jesus dos Passos Observação: Participa ativamente da preparação da Imagem de Nossa Senhora das Dores.

Data de Nascimento / Fundação: 07/10/1962 Sexo: Feminino E-mail: tsalvador@yahoo.com.br

08

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Benedito Silva de Macedo Como é conhecido (a): Padre Benedito Endereço: Travessa Santa Luzia, 28, Bairro Rosário.

Telefone: 89 99410-7827 Ocupação: Padre Onde nasceu: Oeiras-PI Desde quando mora na localidade: Sempre morou aqui com intervalos para estudos.

Bem cultural: Procissão de Bom Jesus dos Passos de Oeiras-PI. Observação: Atual Pároco da Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

Data de Nascimento / Fundação: 19/09/1977 Sexo: Masculino E-mail: Masculino

09

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Possidônio Ferreira Barbosa Júnior Como é conhecido (a): Padre Possidônio Endereço: Avenida Cônego Acelino Portela, 72, Centro.

Telefone: 89 9426-5784 Ocupação: Padre Onde nasceu: Oeiras Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras.

Bem cultural: Procissão de Bom Jesus dos Passos de Oeiras-PI. Observação: Atual Pároco da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória.

Data de Nascimento / Fundação: Maria Sexo: Masculino E-mail: zumbibarbosa@hotmail.com

[ 110 ]

10

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Edilson Soares Nobre Como é conhecido (a): Dom Edilson Endereço: Rua Professor Rafael Farias, 534, Centro.

Telefone: Ocupação: Bispo Diocesano Onde nasceu: Touros-RN Desde quando mora na localidade: 01/04/2017 Bem cultural: Procissão do Bom Jesus dos Passos Observação: Bispo da Diocese de Oeiras.

Data de Nascimento / Fundação: 09/05/1965 Sexo: Maculino E-mail: edilsonnobre@yahoo.com.br

11

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: José Alberto Tomás dos Santos Como é conhecido (a): Beto Endereço: Conjunto Oeiras, Quadra B, Casa 19.

Telefone: 89 99414-8436 Ocupação: Sacristão e Músico.

Onde nasceu: Oeiras Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras.

Bem cultural: Procissão de Bom Jesus dos Passos de Oeiras-PI. Observação: Recebeu o oficio de Sacristão e Sineiro do pai, conhecido na cidade como Manuel do Padre. Hoje é Sacristão responsável pelos sinais do sino da catedral, também toca no Coral Madrigal e na Banda Santa Cecília.

Data de Nascimento / Fundação: 01/05/1967 Sexo: Masculino | E-mail:

12

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: José Alberto Tomáz dos Santos Júnior Como é conhecido (a): Juninho de Beto Endereço: Conjunto Oeiras, Quadra B, Casa 19.

Telefone: 89 9408-2000 Ocupação: Engenheiro Civil Onde nasceu: Oeiras Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras, se ausentando apenas para estudo.

Bem cultural: Procissão de Bom Jesus dos Passos de Oeiras-PI. Observação: Neto e filho de Sacristão, mesmo tendo formação superior, participa ativamente das atividades da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória, dando continuidade a tradição familiar.

Data de Nascimento / Fundação: 19/10/1993 Sexo: Masculino | E-mail: engenheirojasr@gmail.com

[ 111 ]

13

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Rafael Brandão Portela Rêgo Como é conhecido (a): Rafael Endereço: Rua Coronel Luiz Rêgo, 49. Centro.

Telefone: 89 99458-4408 Ocupação: Administrador de Empresas Onde nasceu: Oeiras-PI Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras.

Bem cultural: Procissão do Bom Jesus dos Passos Observação: Data de Nascimento / Fundação: 04/01/1984 Sexo: Masculino E-mail: rafaelcarego@hotmail.com

14

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Francisco de Moraes Rêgo Como é conhecido (a): Chico Rêgo Endereço: Rua Coronel Luiz Rêgo, 49, Centro.

Telefone: 89 3462-1647 Ocupação: Bancário Aposentado Onde nasceu: Oeiras-PI Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras Bem cultural: Procissão de Bom Jesus dos Passos de Oeiras-PI. Observação: Cuidador da Imagem e das roupas do Bom Jesus, dedica-se a esse ofício há mais de 30 anos.

Data de Nascimento / Fundação: 17/08/1944 Sexo: Masculino E-mail: chicorego.oeiras@hotmail.com

15

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Herbert Vinícius Virgínio de Sousa e Silva Como é conhecido (a): Vinícius Endereço: Avenida Duque de Caxias, 1236, Rodagem de Picos.

Telefone: Ocupação: Advogado e Músico.

Onde nasceu: Oeiras-PI Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras Bem cultural: Procissão de Bom Jesus dos Passos de Oeiras-PI. Observação: Atual Presidente do Conselho Municipal de Cultura de Oeiras. Maestro da Orquestra de Bandolins de Oeiras da Escola Dona Petinha.

Data de Nascimento / Fundação: 1993 Sexo: Masculino | E-mail: herberthviny@gmail.com

[ 112 ]

16

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Francisco de Assis Rocha Carvalho Júnior Como é conhecido (a): Junior Viana Endereço: Avenida Floriano Peixoto, 450, Rodagem de Floriano.

Telefone: 89 99441-8395 Ocupação: Historiador Onde nasceu: Oeiras-PI Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras.

Bem cultural: Procissão do Bom Jesus dos Passos Observação: Atual Presidente do Instituto Histórico de Oeiras.

Data de Nascimento / Fundação: 22/09/1985 Sexo: Masculino E-mail: viannaoeiresne@hotmail.com

17

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Maria do Socorro Barbosa Barros Como é conhecido (a): Socorro Barros Endereço: Rua Zacarias de Góes e Vasconcelos Telefone: Ocupação: Historiadora Onde nasceu: Oeiras Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras Bem cultural: Procissão de Bom Jesus dos Passos de Oeiras-PI. Observação: Já foi Maria Béu.

Data de Nascimento / Fundação: Maria Sexo: Feminino E-mail: socorrodebarro@yahoo.com.br

18

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Maria Anatália dos Santos Nascimento Como é conhecido (a): Anatália Santos Endereço: Bairro Rosário Telefone: 89 99435-2018 Ocupação: Historiadora e Presidente do Grupo de Consciência Negra Quilombo do Rosário Onde nasceu: Oeiras Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras Bem cultural: Procissão de Bom Jesus dos Passos de Oeiras-PI. Observação: Participa do Grupo que organiza a Igreja do Rosário para a chegada do Bom Jesus e para o ofício.

Data de Nascimento / Fundação: 1947 Sexo: Feminino E-mail: anataliasantos@gmail.com

[ 113 ]

19

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Zulene de Holanda Rocha Como é conhecido (a): Zulene Endereço: Bairro Rosário Telefone: 89 99402-3981 Ocupação: Historiadora Onde nasceu: Oeiras-PI Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras.

Bem cultural: Procissão do Bom Jesus dos Passos Observação: Atual Diretora do Museu de Arte Sacra de Oeiras.

Data de Nascimento / Fundação: 1973 Sexo: Feminino E-mail: zulene_07@yahoo.com.br

20

[ X ] Entrevistado | [ X ] Não entrevistado

Nome: Flávio Antônio Mendes da Silva Como é conhecido (a): Flávio Antônio Mendes da Silva Endereço: Rua 7 de setembro, 79, Bairro Rosário.

Telefone: 89 99402-6898 Ocupação: Marceneiro Onde nasceu: Oeiras-PI Desde quando mora na localidade: Sempre morou em Oeiras Bem cultural: Procissão de Bom Jesus dos Passos de Oeiras-PI. Observação: Presidente do Grupo Congos de Oeiras.

Data de Nascimento / Fundação: 05/04/1972 Sexo: Masculino E-mail:

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APÊNDICE

08

TRANCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS/RODAS DE CONVERSAS RODA DE CONVERSA 1 DATA: 23 de Julho de 2019 PARTICIPANTES: Vozes femininas identificadas: Ceiça, Gabriela, Jucelina, Teresinha, Maria Martins Vozes masculina: Professor Stefano TEMPO DE GRAVAÇÃO: 1 hora e 12 minutos e 07 segundos _ Prof.Stefano: Boa noite, antes da gente começar eu vou explicar pra vocês o que a gente vai realizar nessa noite de hoje. Eu estou aqui a Universidade Federal do Piauí, o Programa de Mestrado em “Artes, Patrimônio e Museologia”, faço parte de um grupo de 14 pesquisadores e cada um de nós tem um projeto de pesquisa, a maior parte deles estão pesquisando o patrimônio na área de proteção do Delta do Parnaíba, mas dois pesquisadores são aqui dessa região do sul do piauí e os nossos projetos são relacionados a Oeiras.

Hoje nós vamos começar um trabalho que é a aplicação da minha pesquisa que trata sobre o Inventário Participativo da Procissão dos Passos, da celebração dos Passos. Antes da gente começar a conversar eu vou explicar pra vocês do que se trata isso. Nós temos várias tradições e manifestações culturais e religiosas e muitas dessas tradições não existem nenhum tipo de registro. Existe um texto que fala, um artigo, uma crônica, um livro no campo da reportagem mas não existe um registro, só uma coisa vaga. Então, o que são os inventários? oS inventários, como o próprio nome já diz, eles buscam registrar, deixar de forma documentada todos os aspectos dessa manifestação e o que o meu trabalho vai fazer? Vai pegar a memória dessa manifestação e vai documentar isso através de um registro. Eu vou preencher várias fichas, trabalhar com o texto dissertativo escrito e todos os atores envolvidos nessa celebração vão ser inventariados.

No caso, vocês podem perguntar: nós vamos ser inventariadas? Na verdade quem vai ser inventariado serão as narrativas que vocês constroem dentro dessa celebração, então por que esse trabalho é participativo? Porque se eu fizer isso sozinho eu não vou conseguir, então eu preciso de uma demanda voluntária da comunidade, quer dizer, eu sou a comunidade, eu não estou só como um pesquisador, não é como alguém que vem de fora, vem, pesquisa e volta. Eu sou parte dessa comunidade, eu sou devoto de Bom Jesus e através desse problema que eu levantei, qual é o meu problema? Nós criarmos através deste inventário, a possibilidade de pedir depois para que a Procissão do Bom Jesus dos Passos seja transformada em patrimônio cultural do Brasil. E eu estou me baseando em que? Existem várias experiências, por exemplo, lá no Pará o Círio de Nazaré, que é a maior manifestação religiosa de lá aconteceu a mesma coisa, eles inventariavam a manifestação e levaram esse inventário para o IPHAN e o IPHAN reconheceu ela como um patrimônio cultural do Brasil. Nós vamos percorrer um longo caminho, eu vou trabalhar em grupos porque a manifestação é muito vasta, são muitos detalhes que vou precisar para fazer esse inventário então a metodologia é uma pesquisa-ação baseada em trabalho com grupo. Hoje vocês são o primeiro grupo, eu fiz uma mobilização e vocês atenderam, então vocês são voluntárias, vocês fazem parte atores dessa celebração, isso quer dizer que aquilo não é só a Igreja que mantém. Imagina só uma manifestação dessas só com a Igreja? Ela também não aconteceria, é um processo da comunidade, da pessoa que veste Nossa Senhora, a quem coloca no andô, carrega o andô, o sacristão que bate o sino, as pessoas que fazem os pacotes dos alecrins, as pessoas que escolhem a Maria B.u, que guardam as roupas, que cuidam dos personagens bíblicos, os padres também que são responsáveis parte litúrgica. Toda esses atores vão ser envolvidos e vocês são

[ 115 ]

o primeiro grupo que estamos aplicando, eu denominei essa metodologia de “Diálogos, café e memória’’.

Não é o café em si, é esse ato que nós estamos aqui como se a gente estivesse em uma roda de conversa, não é uma entrevista formal, eu vou mediar e vocês vão falar o máximo que vocês puderem, vocês vão ficar a vontade, é uma coisa bem comunitária como nós estamos aqui e isso vai resultar nesse inventário. Então hoje eu tô reunindo pessoas que são cuidadoras da imagem da Nossa Senhora das Dores, alguém cuida da roupa, alguém ajuda a vestir e também pessoas que ajudam também a carregar. Como é um processo de pesquisa-ação é dessa forma bem voluntária, eu faço uma mobilização. Por exemplo, ontem eu fui pra casa de Dona Célia, conversei com ela, ela abriu a casa dela e eu fui te convidando, levantando e à medida que eu ia falando com pessoas os nomes iam surgindo, a Dona Juscilene. Porque um dos grupos que estão envolvidos nessa pesquisa também são as arquiconfrarias, no caso o coração de Jesus faz parte da equipe que eu coloco no meu projeto da minha pesquisa, a comunidade também está presente. É uma forma bem voluntária, tipo: eu liguei para uma pessoa e ela disse “Não, eu estou em Teresina”, então a pesquisa não se esgota aqui, a mobilização é feita e com o número das pessoas que vem a gente aplica a pesquisa no dia.

Desde já quero agradecer a presença de vocês e nós vamos começar essa conversa, vocês vão ficar bem à vontade como se a gente estivesse conversando numa roda de conversa, batendo um papo. Pra começar eu gostaria que cada uma se apresentasse, falasse apenas o nome e se puder falar a profissão, todo mundo aqui é devoto de Bom Jesus a gente já sabe e há quanto tempo cada uma de vocês participam dessa tradição e quem levou vocês até lá.

Maria Martins: Quem me fez o convite foi Dona Alina, agora a época que eu comecei eu não lembro, mas eu entrei junto com Célia, Dona Célia também não lembra. Quando eu comecei era eu, Teresa Silvia, Chicona, Célia, Conceição Pereira, Josefina e Cacá que ficava orientando a gente, Cacá era quem ficava guardando maior parte [inaudível 11min00s-11min02s]. A época que eu comecei eu não lembro.

Prof.Stefano: Pro registro sair melhor, o que é na verdade que a senhora faz quando a senhora Lina chamou a senhora?

Maria Martins: Ela disse assim, que tava na hora da gente que era associado ao Coração de Jesus se aproximar para ajudar a arrumar Nossa Senhora porque as pessoas que cuidavam dela estavam envelhecendo e a gente mais nova tinha que começar. Eu entrei no Coração de Jesus em 83 e logo que eu entrei ela me fez o convite.

Prof.Stefano: E nesse momento dessa arrumação, o que acontece?

Maria Martins: A gente tira a roupa que ela passa o ano vestida e coloca a roupa da festa. Todas as roupas dela, só a última peça de roupa que a gente não tira, mas a que ela passa o ano no altar a gente tira pra lavar pro ano seguinte e bota a roupa da festa.

Ceiça: E é uma roupa linda, riquíssima. Toda bordada de renda e assim, o carinho com que eu cheguei, eu sou Ceiça, sou professora e administradora pública. Foi um convite de Jucilene de forma geral lá na igreja que me tocou. Eu já sou devota de Bom Jesus há muito tempo, mas fervorosamente desde que meu filho com 9 meses de idade eu nunca mais, de lá pra cá, deixei de usar meu roxo e de ir a procissão dos Passos de roxo e de pé descalço. Nesse momento eu me distancio de Nossa Senhora por ficar mais próxima de Bom Jesus.

Maria Martins: Se distancia entre aspas né.

[ 116 ]

Ceiça: Não, da imagem. Mas durante o convite da Jucilene aquilo me contou e eu até quero contar uma história interessante que houve. Eu procurei essas meninas na igreja e gritava “- Ju! Jucilene!” e nada, [inaudível 13min17s-13min18s] “- Não pode entrar aí Ceiça que os homens tão arrumando Bom Jesus”, “E onde é que eu vou entrar? Cadê a Jucilene?” e nada. quando elas vestiram a santinha aí elas deixaram eu entrar, aí em segredo elas me disseram assim, “- Não a gente tava preocupada de você não saber realmente o que tem por baixo dessas roupas.”, “- Não mas eu já sabia”, ”- Não mas a gente ficou com medo de você se assustar.”, lembra Ju? E eu fui, de lá pra cá eu faltei um ano só, mas vou sempre aprendendo. O zelo de Célia passando o óleo e o perfume na imagem, coisa mais linda do mundo. Daqui pra acolá, envolve todo mundo.

Teresinha: É uma coisa assim, formosa como a gente diz, é uma coisa que chama atenção da gente. Só a gente mesmo que faz esse trabalho que acredita, porque quando a gente vê pela primeira vez a gente..

Ceiça: Nunca esquece!

Teresinha: A gente pensa assim disso aí “É assim é?” e fica com a gente mesmo. Mas aí a gente diz “É assim!” como uma coisa que é fora do comum.

Prof.Stefano: Então todas vocês foram através do Coração do Jesus, não foi uma tradição de família mas através do Coração de Jesus que é uma arquiconfraria.

Gabriela: Porque a responsabilidade é do Coração do Jesus, mas eu nunca participei da arrumação. Já fui convidada mas nunca deu certo, eu já participo da outra parte de carregar. Muito nova, já está com muitos anos, já tem mais de 20 anos e como Ceiça disse, a procissão pra mim se resume em duas parte, a primeira parte da procissão eu também vou ao lado da imagem de Bom Jesus que a minha devoção começou com ele e eu não participo da parte que elas carregam ela do beco do circo para o encontro e eu não participo daquela parte, nunca participei porque eu realmente venho com a imagem do Bom Jesus. A minha parte é a segunda parte da procissão, geralmente eu entro ali na frente lá de casa e de lá eu costumo carregar até a igreja. Me aproximei pela devoção, eu era muito nova tinha umas que não aguentavam, era muito peso principalmente na hora da ladeira que elas sempre chamam, a gente bota muita força no andor que é muito pesado e tem que ter todo o cuidado porque não é só carregar, tem que ter o equilíbrio, ela tem que ficar atrás da imagem do santo. Por isso que a gente fica gritando “Olha, tá torta”, muitas vezes acontece isso, então a minha parte é nessa parte de carregar a imagem.

Prof.Stefano: Vocês todas, encaram isso como uma missão ou como uma tradição? Vocês vão por uma tradição porque isso foi uma coisa que já entrou na vida de vocês e que a cada ano vocês vão reproduzir ou aquilo tem um sentido de missão? Do servir a Igreja?

Todas: É a missão.

Ceiça: Eu já não sei mais o que mistura tanto, sabe?

Gabriela: Tem a questão da devoção também.

Ceiça: Exatamente. É um misto de uma devoção e missão.

[ 117 ]

Gabriela: Tanto é também a questão da farda, do Coração, quando você fala que é do grupo da confraria do Coração de Jesus mas algumas vão de azul. Eu não visto azul porque já tenho a promessa de ir de roxo, a tradição. Algumas do grupo se vestem de azul marinho, não vestem de roxo, é a farda mesmo.

Ceiça: Tem um detalhe que acho importante Jucilene, a mãozinha de Nossa Senhora. Já por duas vezes acontecem coisas engraçadas. Nesse dia da mãozinha o Welliston (dúvida) não estava, ele já tem um jeito.

Depois que a gente veste ele sabe a hora, não sei quem é que chama. Naquele dia nós estávamos aperriadas a arrumar a mãozinha dela Dona Teresinha: Mas sempre dá certo, Ceiça.

Ceiça: Dá certo, já pegou a prática.

Teresinha: [inaudível 17min54s-17min57s] também sabe fazer aquela arrumação. É porque a gente fica sempre naquela, não deu certo, será que dá certo mesmo?

Prof.Stefano: Pronto, Dona Teresinha tocou num ponto. Esse universo da vestimenta, desse momento, vocês duram quanto tempo? Vocês ficam dentro da Igreja ou na Casa Paroquial?

Maria Martins, Ceiça e Teresinha: Na Casa Paroquial.

Teresinha: Agora tem um detalhe, Stefano, por muito tempo era como se fosse um segredo. A gente passava aquele tempo guardado ali dentro Ceiça: No silêncio, né.

Teresinha: É, era ali na esquina.

Prof.Stefano: Onde hoje é o museu.

Teresinha: É, Rosinha deixava a gente lá dentro e ninguém entrava.

Prof.Stefano: E hoje, a senhora acha que mudou?

Teresinha: Não, hoje está uma coisa diferente, entra todo mundo e a gente fica com receio.

Prof.Stefano: Existe a presença masculina no espaço, ou só feminina?

Teresinha, Ceiça, Maria Martins: Só feminina.

Teresinha: O padre, que de vez em quando ele entra.

Ceiça: Até porque hoje a porta é de vidro, tira toda a privacidade.

Teresinha: É, aquela porta ali né.

Prof.Stefano: Se a gente fosse traçar um paralelo de como era esse momento antes, vocês acham que modificou por causa do espaço?

[ 118 ]

Jucilene: Eu tava pensando isso bem daí.

Ceiça: Você esqueceu de se apresentar.

Jucilene: Ah, eu sou Jucilene, associada do apóstolo Sagrado Coração de Jesus, atualmente ainda estou como presidente e quase já pensando em que alguém se habilite a tomar o cargo porque a gente tem que ir passando pra outro porque ninguém é eterno, eterno é só é Deus. A gente se divide nessa questão dos preparativos, Marinha é quem se encarrega da roupa, fica com ela e ela leva toda passadinha, dobradinha no ponto de ser colocada em Nossa Senhora. O outro momento é o deslocamento de lá até no ponto de encontro, ali fica as zeladoras e outras pessoas devotas, as pessoas já questionaram se poderiam ficar e pode sim, Nossa Senhora é de todo mundo aqui é só uma identificação do nosso grupo porque nós somos responsáveis, mas qualquer pessoa pode ficar no grupo e participar. Então tem outras mais como a Gabriela que ajuda a carregar e as que ficam ali. Eu pelo menos não arredo o pé, pra mim o importante é ficar desde aquela hora ali, tá com uns nove anos, depois que eu passei como presidente eu fiquei participando mais dali daquele momento da arrumação até o encontro, porque é uma parte muito emocionante.

Gabriela: E esse ato de carregar, quando a gente leva a Santa é rico em detalhes também. Muitas vezes o turista que vem e que pede pra levar a sempre deixa, a gente entrega o andor. Agora tem momentos que é obrigado a gente tomar porque a pessoa não sabe conduzir, por exemplo a questão dos descansos que é um detalhe muito importante, às vezes a pessoa que não tem a prática não sabe botar. Tem a questão das paradas, quando para ali no Passo do Engano ela tem que ficar de uma posição e a gente dá a volta, outro detalhe importante é que na hora de chegada na igreja a imagem entrar de costas. Tudo isso são detalhes que muitas vezes o turista a gente pede que nós vamos entrar por conta disso que são detalhes, tem gente que pode até não entender. A gente baixa a imagem, umas entram por dentro, outras por fora, são detalhes na hora da procissão.

Jucilene: mais um detalhe é na chegada, porque é um momento de adoração né. Quando a gente está aguardando o encontro com Jesus eles colocam muita esmola, aquelas pessoas devotas colocam na cestinha. E esse ano passado foi uma coisa tão engraçada, esquecemos de levar a cestinha não foi? [Inaudível 22min41s-22min44s] a gente quase morria, meu Deus, fiquei quase louca. Botaram uma coisa de propaganda, uma caixa que tinha sapato, eu fiquei agoniada, eu nem vi direito quando a caixa quando [inaudível 23min00-23min02s] de sapato, “- Que história é essa?” Achei doido e puxei de uma vez. “- Cadê Mariana?’’, pois ela foi atrás da cestinha. Acontecem essas coisinhas engraçadas. E aí, quando chega, eu só fico até ali, é um pouco escuro, aí eu já vou pra igreja arrumar a mesa.

Gabriela: Tem todo um detalhe, quando a gente entra com a imagem Célia já está posicionada com as outras já esperando, elas entram pela lateral pra esperar [inaudível 24:51] não tem condição de esperar.

Jucilene: Eles vem com tanta fé, com tanta devoção que se a gente observar bem você sente aquilo ali.

Prof.Stefano: Eu queria que a dona Maria Martins falasse um pouco sobre o ato de lavar essas peças.

Como é, quantas peças são, onde é que a senhora guarda e qual é o dia que a senhora leva pra igreja?

Maria Martins: A mala de Nossa Senhora Teresa Silva me passou em 2009, eu fiquei tão emocionada que eu disse “Eu não mereço tanto!” aí ela “Mas eu escolhi você, já estou velha não tenho mais condição de tá com ela e eu escolhi você e é você que vai ficar.’’, inclusive nesse dia ela me deu uma foto minha com ela que eu nem sei que dia foi tirado essa foto com a farda de Coração de Jesus, então ali ela me deu um papel escrito dentro da mala com todas as peças, quantas mantilhas tinha porque vai ficando velha e vai guar-

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dando e fazendo novas e ficando tudo lá acumulando dentro da mala. Quantas mantilhas tinha, quantas combinações, quantas anáguas, quantas roupas que já não usava mais que ficava dentro da mala e quando é na quinta feira a gente leva pra na hora de arrumar. Quanto precisa lavar eu me apego a Chico Rego que é lavado a seco em Teresina, aí quando troca eu trago a roupa que ela passou o ano vestida pra casa e lavo e quando termina a festa a gente veste de novo, tira a roupa da festa.

Jucilene: Qual é o dia que troca Maria? A roupa dela da nova?

Maria Martins: Quando passa, que ela só sobe pro altar no Domingo da Ressurreição, do sábado pro domingo daí qualquer dia ali pode trocar. Só que eu tive que viajar no domingo e não deixaram a Célia trocar.

Jucilene: Teve um detalhe também, um ano que a coroa caiu.

Maria Martins: Foi na descida do patamar, ela caiu.

Ceiça: Teve um ano, não sei se vocês recordam, que mandaram ajustar a colocação dela no encaixe.

Maria Martins: Foi na procissão, quando ela tava vindo, quando ela desceu do patamar Beatriz chegou bem do meu lado, na Sexta feira Santa. Aí Beatriz “Meu Deus!” [inaudível 26min48s-26min50s] foi na procissão, aí quando chegou bem na descida ali atrás do Café Oeiras, ela foi lá e veio cá aí eu disse “Meu Deus do céu!” ai Beatriz “Madrinha pelo amor de Deus!” aí eu “Alguma coisa errada tem.”. Quando terminou que eu que eu fiz Conceição Pereira trocar ela tinha uma peça gasta e o parafuso entrava e quando [inaudível] o parafuso saía. Aí levei pro Daniel fazer uma peça nova, [inaudível] aí na hora a gente não conseguia porque tem um quadrado em baixo pra encaixar o andor e não encaixava direito.

Ceiça: E quando encaixava a santa ficava torta, lembra? Ficava toda tensa. Nós fomos atrás do rapaz que mexeu na peça e ele entrou, todo aquele cuidado pra não entrar ninguém, o Marcinho o marceneiro aqui do Rosário veio aqui na maior alegria, na maior felicidade, já próximo a procissão.

Maria Martins: Porque são três peças, ela tem a peça que pega a saia, outra peça do busto e a peça em cima e estava desgastada a que pega no meio.

Ceiça: São quantas peças?

Maria Martins: Duas combinações porque já tem a combinação que já fica nela, então tem a combinação que tira e coloca a combinação nova, duas anáguas, aquela toda rendada.

Ceiça: Rendada que fica por fora. São quatro peças.

Prof.Stefano: Eu quero que me fale das peças que compõem o vestuário de Nossa Senhora das Dores.

Maria Martins: Sim, quantas peças?

Prof.Stefano: Quais são.

Maria Martins: Sim. Nós botamos a combinação

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Ceiça: Porque antigamente as mulheres usavam combinação.

Maria Martins: Ela tem uma peça nela que já tá bem.. Está da cor desse chão, já está se desmanchando, mas a gente não pode tirar. Então a gente tira até chegar nela, aí ela tem a combinação, são duas anáguas mais outra anágua de filó que são aquelas saias muito bonitas pra ficar armada aí tem a roupa de fora.

Prof.Stefano: A roupa então é composta por um vestido e um manto e uma faixa. Agora eu queria ouvir de cada uma de vocês, de Gabriela de Dona Célia, nesse sentido. Todo mundo já disse que participa disso há um bom tempo e vocês acham que há um interesse de novas gerações, de pessoas novas ou vocês acham pouca procura pra que essa tradição seja levada adiante? Cada uma vai falar porque cada pessoa aqui tem uma função. Então com o passar do tempo, vocês acham que está havendo uma renovação ou que não está havendo a chegada de pessoas novas pra entrar nessa missão que vocês desenvolvem?

Gabriela: Eu já fui convidada pra ir como eu já falei, não deu certo eu ir mas eu pretendo no próximo ano participar porque eu já participo do grupo e eu não sei até que ponto tem essa procura mas eu acho que sim porque ela tem muito devoto. Já tem um grupo mais jovem que já está muito ligado na procissão, mas esse grupo já é de outra função, não é de arrumar. Agora eu já fui chamada e eu pretendo participar agora, daqui pra frente desse grupo de arrumação.

Jucilene: Mas esse grupo não é de arrumar.

Maria Martins: Mas esse grupo já é de outra função, não é de arrumar é de carregar. Agora eu já fui chamada e eu pretendo participar agora, daqui pra frente desse grupo de arrumação.

Jucilene: É porque na verdade não precisa de muita gente, talvez seja por isso mesmo. A quantidade na arrumação é suficientes, são poucas pessoas, é pouco trabalho.

Prof.Stefano: São quantas pessoas que ficam ali pra arrumar?

Jucilene: Praticamente essas aqui.

Maria Martins: Quatro.

Teresinha: Mas nós temos duas novas que entraram a pouco tempo que é a Luciana e a Érica.

Ceiça: Eu tenho um retrato de 2016 que tinha Luciana, então em 2016 já tinha a Luciana.

Teresinha: Érica esse ano nos ajudou. No meio dos nossos é assim Stefanio, da pessoa ir e não ir naquele sentido do sigilo. De manter o sigilo.

Gabriela: De manter essa tradição, antigamente, pelo o que eu sei era uma coisa muito fechada.

Prof.Stefano: Vocês acham então que essa tradição está muito ligada ao respeito?

Todas: É, ao respeito, exatamente.

Teresinha: Você não pode sair de lá e conversar, dizer.

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Jucilene: Quando umas vão ficando mais velha, vão convidando as outras.

Prof.Stefano: E a partir disso aqui que eu to perguntando a vocês é que eu quero chegar. Vocês acham que é importante a gente fazer um registro disso que estamos fazendo hoje pra que essa memória, essa missão de vocês fique documentada para que as futuras gerações possam ter a acesso a isso? Vocês acham?

Todas: Sim Ceiça: É importante, você viu aqui a Maria Martins falou que teve que viajar no domingo e apesar de Célia estar s envolvida até mais tempo do que ela, não pôde tirar a roupa.

Maria Martins: É porque assim, a gente nunca passou de oito dias, no domingo da Ressurreição a gente ia trocar, aí eu viajei e trouxe a roupa lavadinha.

Ceiça: Então o que tá faltando? Informação, Conhecimento. A partir de quando houver registros isso não vai acontecer, porque o conhecimento tá ali arquivado, registrado e isso que é importante porque realmente, vocês tem toda razão, Nossa Senhora é assim como nossos pais. A minha mãe quase não tira a roupa na minha frente e esse respeito de tirar a roupa, é tirar a roupa da imagem de Nossa Senhora, é um gesto sacramental, não deixa de ser, é um gesto sacramental que virou uma tradição é aqui em Oeiras. E eu senti ao primeiro momento que eu entrei lá eu senti, Stefania, eu senti. Olha, alguma sorriu pra mim e disse “não, não se preocupe, eu já tenho noção” e aquilo eu guardei comigo caladinha e continuei minha ajuda que já precisa de gente novo. Não como eu que tenho problema de coluna, porque tem um negócio lá em baixo que precisa encaixar, né?

Maria Martins: A menina de Luis Henrique foi maravilhosa esse ano, chegou no momento certo.

Ceiça: Na hora do encaixe! Não to dizendo?

Maria Martins: Foi esse ano, ela chegou mas o bebê tava chorando aí ela foi embora.

Gabriela: E essa roupa dela? Como é que é a questão da roupa nova? São doações? Quem quer doar, por exemplo, se alguém tiver promessa e quiser dar roupa esse ano ou não pode? Tem que ter uma pessoa encarregada?

Maria Martins: Aquela roupa dela, foi eu que fiz. Célia e Gracinha, tá com dois anos que quem quiser dar uma roupa pra ela porque tem dois anos que não encontra o roxo da cor que tem que ser. Não tem uma loja em Teresina que Gracinha pediu que eu não procurei. Aquela roupa dela eu não sei quem foi que deu só sei que foi por intermédio de Cacá que chegou nas minhas mãos e que foi doado.

Gabriela: Você sabe quantos metros é para fazer a roupa?

Maria Martins: Gabriela eu não sei mas é tecido e muito. Porque tem o pano do andor, a roupa dela e o manto.

Ceiça: Pois deve ser de dez metros, por aí.

Gabriela: É, porque a de Bom Jesus é dez metros.

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Maria Martins: O manto que passa passando da cabeça pra outra ponta é dois metros e oitenta.

Ceiça: Olha só, isso é só o manto, ainda tem que cobrir o andor. Agora aquelas saias de renda?

Maria Martins: Tem também que fazer outros panos, porque tem uns panos que é pra encher o caixão do andor, eu já fiz dois. Um foi Célia e [inaudível 36min51s] ]que me deu, eu entrei com a mão de obra e elas me deram o tecido e o bico e depois eu fiz outro sozinha porque os que ela já tinha tavam muito velhinhos, rasgando.

Ceiça: E quando você usa o termo “mala”, não é uma mala não?

Maria Martins: É uma mala.

Ceiça: Eu não vi a mala.

Maria Martins: Está lá em casa.

Ceiça: Não, lá.

Gabriela: Maria é tipo aquelas malas antigas, baú é?

Maria Martins: Não é uma mala com zíper, Chico Rêgo disse que a mala foi ele que deu. Eu ia para Teresina porque as meninas queriam que eu fosse para Teresina mas eu disse que não ía [inaudível 37min34s] aí quando eu tava em Teresina Chico Rêgo recebeu, Teresa entregou e quando eu voltei eu fui pegar.

Vozes misturadas e Prof. Stefanio: E a questão do perfume?

Ceiça: Tem o óleo e o desodorante.

Teresinha: É o perfume, o óleo que a gente passa e o algodão depois pra ficar direitinho, não ficar brilhando demais e tem o perfume também que acompanha ele.

Jucelina: Aquela sensação de vida né?

[Voz irreconhecível]: Quando a Cacá passou ela passou um vidro de [inaudível 38min14s] Prof.Stefano: Então não tem uma essência própria?

Vozes misturadas: É. Tem cheiro de óleo essencial.

Teresinha: Mas pode aparecer um mistral também. Teve uma mulher na procissão, acho que ela tinha uma promessa, não sei, de botar aquele perfume em Nossa Senhora.

Ceiça: Foi Mistral.

Teresinha: Manchou a roupa todinha.

Jucilene: Também agora foi feita uma capa porque nesse período chove, e aí apareceu uma capa né Maria?

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Gabriele: No ano passado mesmo a gente andou com ela junto com a capa não foi Jucilene?

Maria Martins: Mas graças a Deus não viveu.

Jucilene: Aí apareceu uma chuva de repente aí nós invadimos a casa de Dona Socorro.

Maria Martins: Agora aquela mantilha dela, tem várias em casa, umas peças tem bem cinco ou seis, é uma renda feia, eu achei muito antiga.

Prof.Stefano: Mantilha?

Maria Martins: Mantilha é aquela que bota no rosto, que fica no rosto.

Prof.Stefano: Então acho que era isso que a gente precisava pegar, foi muito bom os registro. A gente trabalhou com quatro eixos que foi a tradição, a missão, as mudanças de antigamente pra hoje, aquilo que vocês identificam que vem acontecendo de mudança, o grupo que tá introduzido na equipe desse trabalho que no caso todas vocês são do Sagrado Coração de Jesus não é isso? E o repasse dessa tradição. Então foi isso que vocês detalharam hoje, vocês são o primeiro grupo de aplicação desse inventário e eu queria só ouvir de vocês estão dando essa informações de forma voluntária, se vocês se sentem a vontade pra falar disso, porque isso faz parte da vida de vocês.

Vozes misturadas: Não, com certeza, eu estou morta de cansada e vim correndo pra falar. Eu adorei. Eu acho muito valioso esses registros.

Maria Martins: Uma vez quando a gente tava no museu e estávamos arrumando, tinha um pessoal de fora pra entrar e Rosinha bateu na porta botou só o rosto de fora e falou “Já pode entrar?” porque era muito sigiloso a arrumação de Nossa Senhora, era o pessoal de fora pra filmar. Ela já estava toda arrumadinha, ninguém entrava antes.

Ceiça: Isso serve até de um alerta por conta daquela porta de vidro. Porque ninguém mais tem controle sobre aquela porta.

Prof.Stefano: Olha como é importante um inventário desses. Vocês detectam um problema que acontece que dá risco a preservação dessa tradição e que a partir de um inventário como esse, a própria igreja pode rever o local e retornar a um ambiente mais fechado, mais reservado, por conta do sentido que existe.

Ceiça: Antes que aconteça uma má presença. Porque como Tetê disse, não vai falar “saia porque não pode”.

Teresinha: O horário que acontece é 15h né?

Vozes misturadas: 14h.

Prof.Stefano: Na quinta feira?

Vozes misturadas: Na quinta feira.

Maria Martins: A gente segurava na mão dela com o broche pregado na roupa. Pegava a combinação

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puxava manga do vestido da roupa e com a combinação a gente pegava com o broche, pegava na roupa.

Mas aí quando os devotos chegavam, pegava na mão, puxava. A gente queria amarrar o barbante que nem a gente amarra hoje e Teresa Silvia não aceitava porque dizia que ia quebrar o pescoço da santa. Teresa Silva não aceitava de jeito nenhum aí depois ela deixou de participar que a gente botou amarrado, segura bem com o barbante.

Jucilene: Deixa eu só colocar isso aqui, quando a gente fica esperando aquele momento do encontro tem umas associadas, zeladoras, que ficam naquela questão de que “- É meu lugar” e eu digo “- Minha gente, não tem lugar aqui não, vamos deixar essa questão de lugar”, porque tem que respeitar quem quer ficar, quem quer ficar pode ficar. Agora, eu não arredo o pé, fico por ali.

Gabriela: Em 2015 uma pessoa lá na hora do encontro chegou do meu lado e disse “- Eu posso levar Nossa Senhora?” e eu disse “Não só pode como deve”, aí quando chegou no Passo do Engano ela disse “Eu posso continuar?” aí eu disse que pode e fiquei atrás dela levando o descanso, quando chegou na igreja ela me agradeceu tanto, que o maior desejo que ela tinha na vida era de Nossa Senhora e não tinha coragem de pedir.

Ceiça: É porque existem pessoas e pessoas. Tem pessoas que não encostam porque acham que vocês não deixam pegar e existem outras que tem aquela educação de chegar e encostar.

Vozes misturadas: Às vezes a gente faz é chamar.

Gabriela: A coisa as vezes fica séria porque começa a incomodar e o Bom Jesus eu já soube que tem muita gente botando a capa e conversa demais, não é só mulher é homem. Conversa, mas na hora do sermão não é focado no que deve ser, já existe essa preocupação. Eu quero lhe desejar sucesso e dizer que fico muito feliz de você estar fazendo esse trabalho e desejo que seja de muito sucesso e que alcance o objetivo porque quem ganha com isso somos nós, somos os Oeirenses porque isso de fato envolve missão, devoção, arrepia. Na verdade os olhos lacrimejam quando a gente trata dos assuntos da nossa cidade quando trata de Bom Jesus e de Nossa Senhora da Cruz.

Maria Martins: Vou dizer uma coisa pra vocês, quando eu morava no interior eu sempre vinha na festa de Páscoa e eu desejava tanto me aproximar da imagem de Nossa Senhora, eu vinha do interior e hoje eu to arrumando Nossa Senhora. Quando eu arrumei pela primeira vez, meu Deus, isso está acontecendo comigo? Porque eu morava no interior.

Ceiça: Olha aí, Deus é lindo. E agora você está dando o seu testemunho aqui que não precisa nem registrar seu nome, só o seu registro já é fundamental até dizer chega pra história da procissão de Nossa Senhora.

Prof.Stefano: Pois ótimo, muito obrigado. Pessoal, eu vou pedir a atenção de vocês pra uma coisa porque é uma pesquisa de mestrado e é muito criterioso então aqui eu vou entregar para cada uma de vocês um termo de autorização de uso da imagem e da voz, pra ficar registrado que vocês vieram de livre e espontânea vontade, pra não ter nenhum problema. Então primeiro, vocês vão assinar e aí quando eu der essa pastinha pra eu preencher isso daí vocês assinam a frequência. Porque a frequência é só uma e esses aí é de vocês, e nessa daqui é o nome, a idade, a profissão e o grupo que vocês fazem parte.

[00:47:24s]

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RODA DE CONVERSA 2 DATA: 28 de julho de 2019 PARTICIPANTES: Vozes masculinas identificadas: Chico Rêgo, Beto, João Alberto, Rafael.

Professor Stefano TEMPO DE GRAVAÇÃO 55 minutos e 47 segundo _ (INÍCIO) [00:00:56] Prof. Stefano: Boa noite, antes de começar eu vou explicar pra vocês do que se trata esse trabalho. Eu estou aqui em nome da Universidade Federal do Piauí, programa em “Artes, Patrimônio e Museologia” que é um programa de mestrado que tem a sede em em Parnaíba no Campus Ministro Reis Velloso e eu estou fazendo um trabalho que é um inventário participativo da celebração dos Passos, na verdade o programa de mestrado quer ter um instrumento para que depois desse inventário a gente possa solicitar do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) que a Procissão dos Passos na categoria de celebração possa se tornar patrimônio cultural do Brasil. Isso já aconteceu em outra atividades religiosas, existe um livro de registros e esse problema dessa pesquisa surgiu disso, é uma manifestação muito rica, muito vasta em simbologias, há uma participação popular muito grande porque se a gente for observar, a manifestação é praticamente toda feita pela própria comunidade, ela só existe por isso, se perpassa pelo tempo por isso, e a gente tem registro disso como? Nós temos fotos, nós temos documentários, nós temos livros de reportagem, artigos, reportagens em jornal e revistas e até mesmo na TV, mas não existe um registro adequado que a gente chama, em termo de patrimônio de “inventário”. Assim como se faz um inventário do património edificado, das casas e casarões, existe também um modelo de inventário para o patrimônio intangível, imaterial e é justamente isso que o trabalho está propondo. Só que hoje esses inventários não são mais feitos por um técnico, não é mais assim que um técnico vem e começa a inventariar, não se trabalha mais dessa forma. A gente usa uma metodologia nova que se chama “inventário participativo”, a gente vai realizar uma mobilização na comunidade e a partir dessa mobilização, aquelas pessoas que se sentem motivadas e se a comunidade se sentir motivada ela passa também a compor para ajudar a fazer o inventário. Então ao final desse trabalho todo que nós vamos inventariar todas as narrativas de todos os envolvidos na celebração, os saberes e fazeres como por exemplo o inventário das floristas, a técnica de fazer as flores, o inventário da banda de quais são as músicas que são tocadas e executadas.

Tudo isso vai ser registrado e no final das contas esse não é um trabalho apenas meu, é um trabalho participativo, porque por exemplo, essa etapa que é a segunda que estou aplicando nós vamos falar com os cuidadores, os responsáveis pela imagem e pela arrumação da imagem e pelo andor do Bom Jesus. Nós vamos captar as narrativas que vocês tem e o mais importante é que, uma das prerrogativas que a minha orientadora, a Professora Doutora Áurea Paz colocou é que eu precisava pegar diferentes gerações para nós termos uma comparação de como era antes e como é que está sendo hoje, porque o inventário vem justamente mostrar isso, as modificações que essas celebrações vem sofrendo para que outras modificações não aconteçam, para que ela não se modifique. E as boas práticas que estamos nos baseando em um outro inventário que foi feito no Brasil, que é do Círio de Nazaré, que aconteceu essa mesma coisa, eles

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passaram por um processo de inventário participativo, depois que inventariaram com tudo registrado entraram no IPHAN com esse registro e o IPHAN tornou aquela manifestação um patrimônio cultural do Brasil. Então isso daqui não é uma entrevista, a metodologia que estou usando chamamos de “pesquisa-ação”, quer dizer, eu sou dessa comunidade, vocês também são, eu sou devoto e vocês, identificamos um problema juntos e então organizamos uma mobilização. Seu Chico é um dos atores principais dessa festa, então eu faço a mobilização e ele diz atores, que o neto ajuda, seu filho Rafael ajuda, Júnior que é filho de Beto também ajuda, então vocês todos são mobilizados e assim a gente vai coletar essas narrativas. São perguntas muito práticas, podem ficar a vontade pois é mais uma pergunta, queremos saber apenas uns detalhes desse momento. Por exemplo, ontem fizemos a aplicação desse questionário com as senhoras que vestem Nossa Senhora, que cuidam do andor de Nossa Senhora com detalhes importantes que não podem se perder. Elas colocaram esse problema do medo que nós temos que isso tudo se perca, então sem esse registro uma pessoa pode chegar amanhã e falar que pode colocar uma coroa de flores de jasmin na cabeça dele por exemplo. Com o registro nós vamos saber que não, que de acordo com seu Chico que já faz isso há tantos anos, que já recebeu essa tradição vai dizer que se veste dessa forma, que a coroa é a tal, que o dia de colocar e retirar é esse etc. Então esses registros que a cidade não possui e assim com o tempos nós podemos acabar perdendo, o inventário é para isso, ele irá ficar guardado em um repositório na Universidade Federal do Piauí e as pessoas podem acessar ou não, a cidade e todas pessoas podem ter acesso e aquilo vai ficar registrado no livro para que isso possa manter a tradição da maneira como ela é, porque a gente já percebe alguns elementos novos que são introduzidos sem um critério e que vão modificando e isso chamou atenção da gente, e da professora porque ela viu um documentário há um tempo atrás e quando viu as imagens de dois anos atrás ela justamente levantou esse problema que está começando a ter as interferências sem critério e as modificações, então vamos inventariar para mostrar a verdade guardada.

Chico: Você se referiu aí, por exemplo, aqueles soldados romanos?

Prof.Stefano: É uma modificação que há muito tempo não existia, não existe nenhum registro a não ser pessoas que dizem que já existiu, outras que nunca viram. Como passou grande tempo sem ter, então…

Chico: O que acontece, se tivesse a possibilidade de voltar teria que ser estudado e pesquisado, pra ver como é que poderia acontecer. Inclusive você sabe a questão do museu que tem as lanças, são quatro lanças que entram, existiam o cinturião fazendo isso lá na frente, tocando o berrante, mas isso há muito tempo desapareceu. E com dois anos voltou, mas de uma maneira aleatória e não é pra ser assim, teria que ser feito um estudo e uma pesquisa para que se fosse necessário voltar.

Prof.Stefano: Então a gente vai começar falando desse momento do ritual das vestimentas que vocês participam, eu vou começar com seu Chico e vamos seguindo nessa ordem. Eu quero que o senhor se apresente, dia o nome, o que faz e vamos falar primeiro da tradição. A tradição é o que você recebe e repete, leva adiante. Eu queria saber quando o senhor começou a fazer isso de vestir o Bom Jesus e cuidar do andor e quem foi que repassou isso pro senhor, a primeira vez que foi.

Chico: Eu comecei como coroinha da Igreja com seis ou sete anos, a partir desse momento eu já tinha interesse e já tinha devoção por Bom Jesus e eu tive interesse em participar com Manel que era o sacristão da época, era o pai do Beto e eu comecei a ver, assistir, ajudar a trocar, e são poucas pessoas que têm esse privilégio, poucas mesmo, são escolhidas pra que? É muito sério, a tradição diz que é muito sério, a gente não pode chegar lá com qualquer pessoa pra ver e fotografar, não se faz isso. Então comecei com sete anos e fui crescendo e isso foi, todo mundo sabe que essa parte de tradição da Semana Santa vem de

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pai pra filho, de família para família e como que isso aconteceu em Oeiras? O padre da época era o José de Freitas, ele tinha vários filhos e ele definiu aqueles pontos para que ajudasse ele nesse trabalho, nessa evangelização, nesse teatro porque quer queira ou não é um teatro que a gente faz e ele colocava pessoa deles, os filhos, e assim foi se passando de pai pra filho. Eu alcancei a filha dele, a tia Maroca fazendo, que era irmã da minha vó, ela fazia esse trabalho e eu ia assistir ela fazer isso e me inteirando e aprendendo com aquilo que ia acontecendo. Quando ela morreu ela deixou pra mãe de Maria Oliveira e eu continuei indo e quando Maria Oliveira não tinha mais condição ela chegou e me perguntou se eu podia ficar já que eu era da mesma descendência então eu que continuaria, porque não tinha mais ninguém próximo então eu aceitei. Então eu passei a ser responsável por tudo que era dele, eu já gostava realmente.

Prof. Stefano: O que é que é dele? Ao que o senhor se refere que é tudo dele?

Chico: As coisas que são dele. Roupa que tudo somos nós que guarda.

Prof. Stefano: São quantas roupas?

Chico: São três roupas, ele passa o ano com uma e as outras são pra festa que eu fico alternando, um ano coloco uma e outro ano a outra. E quando o povo vê que a roupa tá feia e velha o próprio povo aparece dizendo que vai dar uma roupa nova pra Bom Jesus, a pessoa dá o pano e a gente manda fazer tudo, os acessórios.

Prof. Stefano: Além da roupa, o que tem mais?

Chico: Tem o sudário que é da Verônica e é guardado com a gente, a coroa dele que ele usava durante o ano inteiro mas aí deu problema e o padre pediu que nós tirássemos. Eu mandei fazer outra e tirei a que estava. Todos os parafusos, pregos todos do andor é guardado comigo, os panos do andor, pano que o povo antigamente cazique e hoje chama de dorcel também é guardado comigo, e o restante que é a madeira do andor fica na igreja guardado no quarto de depósito que também é só as coisas dele, a gente conseguiu por um tempo colocar lá só as coisas dele, hoje já não tá assim, foi colocado outras coisas junto com as deles e por sinal estava pensando em até alugar uma casa só para pôr as coisas dele.

Prof. Stefano: No dia que vocês vão na igreja para começar a arrumar a imagem, vocês tem isso como uma tradição ou como uma missão?

Chico: Nossa Senhora, nós temos como uma missão porque a gente gosta e quer fazer. A tradição está ali mas a gente gosta de fazer, prova disso é que o grupo que vem depois da gente já vão encostando pra aprender porque também gosta. Normalmente a gente faz isso na quarta feira de Passos, deixei de fazer na quinta feira pela manhã, porque nesse momento muita gente queria entrar na igreja pra ver a gente fazer.

Para ser franco, mudamos para quarta feira a noite, depois da missa a gente fecha a igreja umas 21:30 ou 22h a gente começa a fazer esse trabalho que já está tudo calmo. A imagem é um homem perfeito, ela é perfeita, tem as articulações se você pega na cintura e coloca ela fica em pé, ela mexe com os braços, mexe com a cabeça, tudo isso ela faz, mas a gente quando vai trocar a roupa a gente não tira a roupa total, a gente vai colocando a roupa nova que vai usar naquele dia e vai tirando a outra que está por baixo. Nem nós que fazemos isso evitamos de fazer isso, é respeito que a gente tem. Não tem nada, mas é um respeito que a gente aprendeu de outros que a gente não quer desfazer, tem respeito.

Prof. Stefano: Seu Beto, o senhor começou a fazer isso quando? Quem convidou o senhor pro senhor poder ir e o senhor lembra há quantos anos que o senhor ajuda nisso?

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Beto: Boa noite, me chamo Beto, sou filho da dona Amparo, eu comecei muito novo, desde pequeno meu pai já trabalhava lá e comecei meus primeiros passos com ele e foi com ele que aprendi muita coisa. Teve um pequeno espaço de tempo que tive que ir embora pra trabalhar fora mas nunca abandonei a igreja.

Sempre na Semana Santa, que é algo pra mim de grande importância como seu Chico acabou de falar, não é uma simples tradição e sim uma missão que Deus nos confiou essa missão e quando ele nos chama a gente tem que assumir essa missão. Nunca perdi uma Semana Santa, estava lá sempre ajudando, comecei desde pequeno com ele e o meu pai começou a trabalhar com o [inaudível 19min04s] Cardoso eu tinha quase 11 anos de idade, daí quando seu Cardoso perguntou pra mãe Vincentinha que era uma parteira antiga que tinha [inaudível 19min15s] na cidade, porque naquela época a situação da medicina era um pouco caro e pegou muita gente aqui, não cheguei a conhecê-la mas gente mas as pessoas mais antigas aqui que repassavam. Eram seis filhos e Cardoso foi lá perguntar se ela não queria dar o menino pra morar com ele com 11 anos, aí ela disse que dava e ele foi morar com Cardoso daí o papai começou a trabalhar com Cardoso e Vasconcelos se não me engano, vindo de Castelo do Piauí, no tempo não tinha [inaudível 20min04s] e daí papai trabalhou com dom Espedito, dom Raimundo, dom Aguilberto e só não chegou a alcançar dom Juarez e dom Adilson que hoje é o berço atual, mas com todos esses bispos e todas essas pessoas. Quando eu comecei esses meus entendimentos, tive vontade do seminário mas não deu certo pois eu era muito novo, dom Gilberto pediu pra meu pai que era pra deixar [inaudível 20min48s] para ver o que ele queria, aí veio a música. Mas eu era danado, mexia nos vestidos da minha mãe e eu pegava pra celebrar a missa [inaudível 21min00s] , a gente morava bem aqui nessa casa que Paulo mora que é da diocese da igreja, há muito tempo, a gente morava ali, tinha os colegas, doutor Zé Reis, doutor Dacir e eu sempre com os meninos celebrando missa, eu achava bom, achei engraçado, só que deu me botou nessa missão e eu não cheguei a ser sacerdote mas estou lá cantando, louvando, tocando e agradecendo a Deus, tudo que eu faço é com amor. Eu amo.

Prof.Stefano: Então veio também de uma tradição da sua família, do seu pai. Hoje nós temos os José Alberto que é seu filho, com quantos anos tem que você passou a ajudar nesse grupo?

José Alberto: Boa noite, meu nome é José Alberto. Stefanio, tenho 25 anos de idade hoje e sim, já é uma tradição e uma missão do meu avô que passou pro papai, e desde os meus 5 anos que eu já me entendi que frequento. A gente tem uma foto lá em casa do ano de 2002 em uma Procissão de Ramos, eu já lembrava, tinha uns 10 ou 11 anos de idade. Essa missão pra mim eu não tenho palavras porque já é ato que faço com amor, com carinho, quando chega o mês de Semana Santa já fico ansioso, nunca tinha perdido uma semana santa na minha vida, perdi quando estava estudando fora e eu enlouqueci do juízo, chorava. Ficava assistindo pela TV Meio Norte transmissão, 24 horas no telefone chorando porque faltou uma parte de dentro de mim naquele momento, não pude ir arrumar, não pude ajudar. Ligava pro pai e perguntava “- Pai, já arrumou?”, é uma missão que vou levar pro resto da minha vida e vou repassar pros meus filhos.

Aprendi e se Deus quiser vou continuar nessa missão até meus últimos dias de vida.

Prof. Stefano: E quem foi que lhe convidou? Você foi ou foi uma provocação como que tem que ir porque seu pai faz e você tem que levar isso ou você voluntariamente quis ir pra levar essa missão adiante?

Rafael: Boa noite, me chamo Rafael e sou filho de Francisco Rêgo. Stefanio, sempre vi dentro de casa, quando era menor não participava tanto mas sempre vi a dedicação do meu pai com Bom Jesus, organizando e guardando as coisinhas dele, tudo direitinho. De Oeiras eu fui morar fora, quando eu voltei em 2012 foi que eu tomei gosto e comecei a participar mais intensamente com ele. De 2012 pra cá todo ano estamos juntos arrumando, organizando para fazer a festa bonita. Minha mãe pedia pra acompanhar, ele também pedia e eu comecei a acompanhar e gostei e quero continuar, vou passar pros meus filhos. Enquanto eu puder ajudar, enquanto eu puder estar lá fazendo eu estarei indo com ele.

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Prof. Stefano: No Círio de Nazaré uma das coisas que inventário detectou é que existia uma configuração de Círio há 20 anos atrás e hoje existe uma outra celebração. Porque as celebrações aqui no Brasil tem muito dessas misturas do litúrgico com o profano, isso é uma verdade lá. Hoje existe uma parte litúrgica, a parte dos promesseiros e existe toda uma programação turística com uma parte profana, com festivais de gastronomia. É uma celebração muito vasta. Os inventários mostram muito isso, como essas manifestações vão se reconfigurando, vão se modificando também, então algo que a gente sempre vai perguntar pros atores é se vocês percebem alguma diferença nesse caso específico no qual vocês participam. Por exemplo, as senhoras que vestem Nossa Senhora, elas já detectaram isso, foi um dos problemas levantados por elas, existia uma troca imagem em um local fechado, reservado e hoje esse local foi mudado. Elas vestem ela sozinhas mas com muito receio porque entram muitas pessoas, é um local com porta de vidro, essa foi uma mudança detectada que a comunidade, no caso elas que são a parte da comunidade envolvida, que não identificam como algo positivo. Elas acham que isso altera a tradição na questão do respeito. No caso do Bom Jesus, vocês continuam arrumando no mesmo lugar, vocês acham que na mesma forma como era que você recebeu, você recebeu do seu pai e os meninos já estão entrando, vocês acham que estão reproduzindo esse mesmo ritual com as mesmas características de antes? Ou vocês acham que já mudou alguma coisa? Tem algumas mudanças nesse momento?

Chico: Não, Stefanio. Bom Jesus continua sendo arrumado dentro da capela dele, então a Igreja é toda fechada nesse momento, quando eu entro ninguém entra então continua do mesmo jeitinho. Eu não vi mudança, não percebi mudança nenhuma.

Stefanio: Outra coisa, nessa parte tanto das mulheres quanto na vestimenta, é algo que a gente vai mostrar bastante, a presença do leigo realizando, como realizador. Quem mantém a tradição? Porque a priori é uma tradição da igreja mas é uma tradição mantida pela comunidade, pelo povo, é comunitário. Não há presença do ritual de vestimenta de Nossa Senhora de figuras da igreja digamos, religiosa. No caso do Bom Jesus, aqui nós estamos vendo que também são leigos, então é um momento mesmo do leigo, os padres não participam desse momento?

Chico: Não, inclusive Stefano, quando dom Juarez chegou, não sei se você estava presente nessa reunião, em um momento ele querendo saber da Semana Santa eu falei o seguinte, que a Semana Santa em Oeiras era feita pelo próprio povo, a não ser os atos litúrgicos e isso feriu muito a ele. Ele achou que não, e eu disse que não quis falar que a igreja não participa, eu quis falar que o povo em si, cada um faz uma coisa e no momento exato, do ato litúrgico, está tudo pronto. Por exemplo, as mulheres com os estandartes, que guardam os estandartes no momento exato elas chegam lá com eles lavados, gomados para que a gente possa [inaudível 28min41s-28min43s], é isso que eu quis dizer. As pessoas responsáveis pelos Passos, no momento que Bom Jesus chega está tudo pronto pra ele deputar o ato litúrgico, isso que quis dizer, mas ele não gostou. É isso que acontece, é o povo que participa e eu acho que é essa a tradição e ainda continua firme porque é realmente o povo daqui que é muito católico que segura isso. Se fosse só a igreja não dava porque é muita coisa.

Prof. Stefano: Vamos aos elementos agora, já foi falado das roupas que existe a coroa que é colocada na cabeça, de prata, no dia da festa.

Chico: Só que ela é camuflada com tinta verde.

Prof. Stefano: As perucas, ele usa uma peruca durante o ano, daí vocês retiram no dia e colocam a peruca nova ou é a mesma que fica no lugar?

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Chico: É uma tradição também, tem três perucas. Uma é a mais antiga, ele usa durante o ano inteiro.

Quando eu troco no dia da festa eu coloco uma arrumada, retiro e coloco a outra, é sempre assim. Quando eu tiro aquela que também já é uma tradição, vai para Teresina pra Zoraimi, que Dona Socorro já fazia isso, que a mãe de Abdias já fazia isso, ela prepara aquela coroa lavam, enrolam todinha e me devolve, e passa o ano ali. Quando chega eu coloco a do ano anterior que estava enrolada e a outra fica pro ano seguinte. Então eu deixo até a festa do divino que aí eu tiro e faço esse mesmo trabalho, pois eu já recebe isso também dos antepassados.

Prof. Stefano: Então a peruca vai pra Teresina para uma preparação desse cabelo?

Chico: Uma preparação, todo o material exclusivo de fazer aquilo. Ela não usa qualquer material, é exclusivo dele, daquele momento. Terminou ela limpa tudo e guarda pro próximo ano.

Prof. Stefano: Então é algo sagrado, tradição.

Chico: É sim, e quantos anos ela já mora em Teresina né? Mas ela continua a fazer isso. Quando chega a época ela diz “Cadê o cabelo do menino?”, hoje mesmo ela disse isso.

Prof. Stefano: Além das perucas tem também a corda, uma corda no pescoço. Ou é na cintura?

Chico: É, na cintura ele tem uma corda, por sinal fiquei muito chateado porque em uma época fui fazer com uma corda antiga, ninguém nem sabe a idade dela, tanto do pescoço, ela era de “cauáca”, sei nem como se chama isso, não sei. Era grossa mas era macia, muito antiga, essa corda foi fazer um ritual da igreja e precisava puxar o cofre no museu e precisava de uma corda e pegaram essa de Bom Jesus e lassaram a corda e quebrou. Tive que providenciar uma outra corda dura que não acho macio e depois uma louca subiu lá e tirou do pescoço e desapareceu. Fui até o no lixão para ver se achava essa corda e tive que colocar outra que não tem nada de macia, mas com o tempo vai amaciar ou encontrar outra.

Prof. Stefano: Então são duas cordar?

Chico: Uma no pescoço e outra na cintura. A do pescoço é mais fina do que a da cintura, por sinal uma vez eles queriam, já que a gente está nesse assunto eu vou falar… Me chamaram pra ir na Igreja porque tinha uma escultura de uma moça de Teresina que precisava ver Bom Jesus sem roupa pra ela poder fazer, e eu protestei, não deixei fazer. Disse que ela não ia levantar, porque nenhuma mulher pode ver ele sem roupa e disse “- Não vai ser a senhora que vai ver”, aí eu subi no altar, sentei na frente dele ela e ela subiu também, pegava na roupa pra levantar e eu disse que ela não ia subir. Pra você ver quanta gente tem essa fé, esse amor.

Prof. Stefano: Ele usa um camisolão por baixo daquela roupa?

Chico: Não, fica outra roupa. Deixamos duas pra deixar ele mais gordo, porque tem vezes que ele fica muito magro, mas se não ele fica só com aquela que ali tem forro, é um vestido grosso, de veludo, então ela fica bem forrada, bem cheia.

Prof. Stefano: O andor pra quem vai na procissão percebe uns elementos verdes de madeira que vão contornando o andor, o que são aquilo?

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Chico: Aqueles elementos são pinheiros, representando os pinheiros de lá da Palestina. Eles no andor iam enfiados em pé, depois começou a balançar o andor que tem uma parte de ferro para prender e folgou e ficava caindo, daí colocaram deitado. Um ano eu mandei arrumar o andor todinho e mandei refazer aquilo tudo e botei e pessoas disseram que no andor não existia pinho e tirou e botou deitado. Representam os pinheiros de lá de onde ele andou.

Prof. Stefano: A cruz também é colocada nessa noite que vocês vão arrumar?

Chico: É, nessa noite. E na cruz, pra o peso não ficar só em cima dele tem um ferro que a gente chama de “cirineu” apoiado na cruz que ajuda a levar, porque a cruz é apoiada no ombro dele com um parafuso e tem um detalhe, se você apertar demais o parafuso no braço dele não levanta porque prende o braço por dentro, então tem que deixar um pouco. É por isso que faz [inaudível 36min41s-36min44s] é a cruz e o andor que faz aquilo.

Prof. Stefano: Então se a gente fosse dividir os elementos seria a imagem, o andor que é posto com a parte de madeira em baixo, o cirineu, tem a cruz e tem os descansos né. Aqueles descansos ficam com o senhor ou ficam com as famílias?

Chico: Não, os descansos não ficavam comigo ficavam com as coisas dele.

Prof. Stefano: Na igreja.

Chico: Hoje as famílias vão lá e pegam, outros ficam com ele em casa o tempo inteirinho e no tempo levam. O Beto até veio perguntar que tá faltando descanso. Não tá porque estão com eles. Nossa Senhora não tinha descanso e eu mandei fazer quatro pra ela, Nosso Senhor Ressuscitado não tem descanso, por essa razão eu mandei fazer pra ele mas mandei primeiro fazer pra Nossa Senhora porque ela fica muito tempo parada, é levada no ombro, fica muito pesada.

Prof. Stefano: A metodologia que a gente usa é uma metodologia voluntária gente, a gente faz uma mobilização e as pessoas ficam a vontade pra ver a importância ou não de um inventário. Todos vocês que estão participando, vocês acham que um inventário como esse, que vai ser um instrumento que pode vir a conseguir que essa manifestação se torne um patrimônio cultural do Brasil, acham que isso é importante pra nossa comunidade?

Vozes misturadas: Sim. Com certeza.

José Alberto: Porque como já é uma tradição, Stefanio, vai ficar um legado para a história de Oeiras.

Como nossa cultura, como nosso patrimônio histórico, é algo que já é de muitos anos e vai ficar registrado pra história.

Rafael: Com o tempo não se perde.

José Alberto: Justamente, tanto do Piauí, como para Oeiras, como para o Brasil. Já é uma missão dada, acontece todos os anos e aquilo vai ficar pro resto da vida, é algo que vai ser pros nossos famíla, netos, enfim de geração em geração.

Prof. Stefano: E vale de instrumentalizar, por exemplo, se tivesse um registro dos soldados não existiria

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a polêmica então a função do inventário é justamente essa porque a corda por exemplo, vai que uma pessoa daqui 20 anos diga que a corda dele é só na cintura, mas aí vamos ter um registro da pessoa da época, Chico Rego por exemplo, que na página tal do inventário está que ele usava a corda no pescoço fina no pescoço e uma corda mais grossa na cintura. Estão entendendo a dinâmica?

José Alberto: Para o povo será muito importante.

Beto: Fica algo diferente, se você chegar e ver Bom Jesus sem uma das cordas você já percebe, poxa cadê a corda do pescoço?

Rafael: Você já vê logo o que está faltando.

Beto: A da cintura se você ver sem corda, fica diferente.

José Alberto: No descanso, como Chico Rego citou, eu já acho uma diferença. Quando a gente termina de arrumar eu coloco os dois descansos da frente e de trás não fica aí eu já digo “- Pai, cadê o descanso?”. É algo que fica faltando, como eu falei pro seu Chico Rego, pro pai, pro Rafael, não existe isso. Não sabe que é uma tradição? Deveria continuar e deixar porque como já é uma tradição, muda e a gente sente algo.

Prof. Stefano: E as roupas? Ele está falando do descanso e das pessoas que levam, nós também vamos fazer um inventário com cada família dessa, um questionário, aplicação pra saber de onde eles receberam, se foi de um pai, de um avô, as pessoas novas que estão falando. Já que estamos falando desses pertences todos, desses descansos, aquelas roupas ficam também com cada família?

Chicos: Os jalecos? Você fala de Jesus?

Prof. Stefano: Dos carregadores.

Chico: Os jalecos cada pano feito, eram dez jalecos, seis pra Bom Jesus e quatro [inaudível 41min12s], por essa razão que esse registro é muito bom. Porque você bota de na procissão de Bom Jesus que hoje centenas de pessoas estão com o mesmo jaleco fazendo aquele jaleco, que não pode.

Prof. Stefano: Faz diferente, a pessoa vai numa loja, compra um pano e faz.

Chico: E não é pra ser assim. A dele, a de Bom Jesus é guardada por mim também junto com os pertences todos dele, essa é guardada comigo. Uma coisa que não falei pra mim foi em relação ao esplendor, que ele tem um esplendor. Esse esplendor também é guardado comigo, as coisas de Bom Jesus são guardadas comigo, porque na hora de pegar e fazer está tudo junto e esse esplendor teve uma época que ficou na igreja e roubaram, na época roubaram muita coisa na igreja e o esplendor foi junto. Quando eu tava na secretaria de cultura eu tentei fazer uma arrecadação para mandar fazer outro e eu saí pedindo ao povo mesmo, tinha uma fotografia do antiga, mandei pra Isabel Cristina de Salvador e lá ela mandou fazer outro de prata e tem uma coisa interessante, sempre gosto de passar essa história porque eu achei que foi a mão Dele que esteve ali. Ela deu um cheque, eu não tinha o dinheiro arrecadado ainda, ela me deu 30 dias e o vencimento era na Sexta feira de Passos e quando foi na quinta feira eu não tinha o dinheiro completo e chegou um rapaz da prefeitura quando eu estava arrumando Bom Jesus e disse que o prefeito estava me chamando. Quando cheguei lá ele perguntou se eu tinha mandado fazer um esplendor pra Bom Jesus e eu falei que sim, ele perguntou se eu estava com dificuldade de pagar e eu disse que estou. Me perguntou

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quanto foi e chamou o chefe de gabinete e mandou preencher um chequei. Foi algo interessante. Hoje ele usa um esplendor, não é antigo, tem uns 10 ou 11 anos já.

Prof. Stefano: É uma réplica?

Chico: É, de uma fotografia que mandei pra ela.

Beto: Você não falou do pé de ferro, esqueceu também.

Chico: É porque o joelho esquerdo dele é fixo no andor, o direito ainda levanta, agora quando coloca ele em pé a perna direita dele mas o joelho fica levantado, é o que apoia no chão e o outro lado que o joelho fica levantado é o esquerdo. Ele fica sem apoio aqui né, e ele tem um ferro que prende ele e que prende o andor, como se diz, uma perna falsa. É um parafuso pequeno. da cabeça quadrada e a porca também é quadrada e as gente aperta no andor pra ficar fixo. O pai dele tinha maior ciúme desse parafuso, com medo desse parafuso perder e Bom Jesus não segurar no andor, então quando chegava e botava no altar já pegava o parafuso e ficava na mão, quando voltava tornava a pegar o parafuso, é uma peça antiga.

Prof. Stefano: Uma peça chave né?

Chico: É, é o que segura. Agora, se você forçar a cruz demais ele levanta na frente, não levanta total porque o ferro prende, segura. Uma vez aconteceu, puxaram na cruz. Por isso que a gente pede pra não pegar na cruz, forçaram a cruz e levantou. É isso que acontece.

Prof. Stefano: Então ótimo, acho que era isso, focamos em todos os pontos. Isso tudo vai ser registrado em texto. Na verdade são dois produtos, eu vou entregar o inventário mesmo que é o texto com todas as fichas antigas, todos os termos assinados e vai resultar também em um pequeno documentário, não é sobre a procissão mas sobre o inventário, sobre esse processo que todos estamos realizando porque não é só meu, é um processo de todos os envolvidos, pois é uma gama muito grande de pessoas. Agradeço a presença de vocês, vou pedir só que assinem os termos de autorização porque a Universidade tem uma série de documentos, tudo precisa ser legal e cada um vai ter que assinar aqui.

[00:47:46]

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RODA DE CONVERSA 3 DATA: 01 de agosto de 2019 PARTICIPANTES Vozes masculinas identificadas: Dom Edilson, Padre Benedito, Padre Possidônio.

Professor Stefano TEMPO DE GRAVAÇÃO 46 minutos e 17 segundos _ (INÍCIO) [0:00:24] Prof.Stefano: Então pessoal, boa tarde. Eu represento aqui hoje a Universidade Federal do Piauí através do Mestrado Profissional em “Artes, Patrimônio e Museologia’’, faço parte de um grupo de 14 pesquisadores que seus trabalhos de mestrado são realizados ao patrimônio do Estado do Piauí. Então cada pessoa dessa, cada pesquisador, está imerso em uma pesquisa e vai ao final apresentar um produto e um serviço relacionado a esse patrimônio. Na verdade, a maioria das pesquisas estão mesmo na área de proteção ambiental do Delta do Parnaíba, que é a sede do Mestrado, mas pela vivência de dois pesquisadores que são desse programa, que sou eu e o Prof. Pedro Júnior, a coordenação do mestrado abriu para que nós fizéssemos nossas pesquisas aqui pois já temos uma relação com a cidade e é um dos principais pólos de patrimônio material e imaterial do Estado. Então, a minha pesquisa é um inventário participativo da celebração do Bom Jesus dos Passos. Na verdade, nós vamos inventariar essa manifestação dentro dos moldes que é orientado pelo Instituto Patrimônio Artístico Nacional e também de outros documentos mundiais.

A Espanha já faz há algum tempo isso, eles tem essa expertise em fazer inventários do patrimônio imaterial e o Brasil ainda está começando isso porque é um patrimônio muito grande com pouca gente fazendo e nós detectamos esse problema. Quer dizer, nós temos uma manifestação secular em formato Português e Lusitano, é uma manifestação que carrega uma importância simbólica para a cidade de Oeiras, para o Estado do Piauí, para o Brasil e a gente se baseia em alguma boa prática que já tenha sido feita nesse sentido. Então, a boa prática que estamos nos baseando é o inventário participativo do Círio de Nazaré, por que qual é a intenção desse trabalho? É que ao final desse inventário a própria Universidade encaminhe um pedido de registro dessa celebração no livro de Patrimônio Cultural do Brasil. A intenção é essa, que depois a gente possa conseguir através desse registro que essa manifestação seja registrada como patrimônio cultural brasileiro como foi lá no Círio de Nazaré, que eles hoje conseguiram isso. Então nesse processo a metodologia é participativa, por isso que hoje eu tô hoje aqui. Esse é o terceiro grupo, eu estou trabalhando com grupos: já fiz um registro com as senhoras que cuidam da imagem de Nossa Senhora das Dores, que tratam sobre o ritual das vestimentas, já fiz com os homens que cuidam da imagem do Bom Jesus, que vestem e que tem esse cuidado durante o ano todo e hoje a gente está reunindo os representantes do Clero que é o padre Possidônio, padre da Catedral da Nossa Senhora da Vitória que é a realizadora dessa celebração enquanto Igreja com Diocese de Oeiras tendo aqui o representante do Edilson Nobre que o é bispo diocesano e o padre Benedito que é da Paróquia da Nossa Senhora do Rosário porque essa paróquia tem uma relação com essa celebração. Então nessa etapa nós estamos trabalhamos com o registro dessas narrativas, vai ter o registro de tudo. Vamos registrar as narrativas, os saberes e os fazeres, as floristas vão ser registradas, a própria prática de fazer as flores vão ser registradas e as narrativas que eu acredito que

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é o que mantenha a tradição viva, o alecrim.. Tudo isso vai ser registrado, além da parte material da celebração que são os elementos, os andores, as imagens que isso já tem uma parte registrada. A gente vai usar pra não levar mais tempo. Nessa parte das narrativas a gente precisa ouvir dos sujeitos envolvidos, dos atores todos, o clero, os leigos a importância que isso tem pra cidade mas também pra Igreja, por que qual é o problema dessa pesquisa, o que foi que nós levantamos de problema? A gente precisa criar um instrumento, um registro que é um instrumento, para tornar essa celebração um patrimônio cultural do Brasil, então sem esse instrumento a gente não vai conseguir isso. Um outro problema é a questão da modificação dessa celebração ao longo do tempo, isso acontece no Brasil inteiro, então a gente precisa ter esse registro. Tenho até conversado isso na casa de Chico Rêgo e falava-se muito sobre isso, que as pessoas que não tem uma vivência buscam introduzir coisas novas, elas querem a introdução e com o passar do tempo essas pessoas vão começar a sumir, a gente não vai ficar aqui pra sempre. Então ele, Chico Rêgo, que tem muito conhecimento sobre a celebração, no caso do [inaudível: 5min47-5min50s], dos próprio padres que tiveram essa vivência que são daqui, o padre Possidônio, o Nonato Marques que foi padre, eles tiveram muita essa relação na época de [inaudível: 6min-6min02s] que realizou muitos e muitos anos essa manifestação. Se essas narrativas não forem registradas vão acabar se perdendo, fica mais difícil você manter.

Então, na verdade, o que a gente quer perguntar aqui, primeiro enquanto vocês enquanto Clero acham que é importante fazer o registro de uma celebração como essa, talvez seja a mais importante do Estado do Piauí, eu agora to fazendo também uma pesquisa na Assembleia Legislativa pra ver se tem alguma lei estadual referente a essa celebração. Nós não temos um feriado como lá no Pará que estão mais avançados já é feriado. Isso pode avançar para várias questões, e saber, para o Clero, para a Igreja, um instrumento, um registro como esse. A gente começa com o Edilson, depois com o padre Possidônio e com o Padre Benedito. É uma fala voluntária, vocês vão poder opinar e dar a posição pessoal de cada um.

Bispo Dom Edilson: Eu, particularmente dos três, sou o que conhece há menos tempo essa experiência.

Estou a pouco mais de dois anos residindo na cidade de Oeiras, já participei de três eventos porque quando cheguei no primeiro ano já estávamos vivência a efervescência desse ato religioso que para mim foi uma grande surpresa, porque eu vejo de fato como um fenômeno que se destaca a nossa diocese e por que não dizer no nosso Piauí onde as celebrações, as atividades realizadas despertam o interesse e motivam a participação de pessoas de vários locais. Eu vejo que isso acontece de forma muito natural, praticamente fazendo ou não fazendo divulgação, é algo que já está estabelecido no calendário das pessoas. Então ter-se um registro disso, reconhecer como um patrimônio nosso, creio eu, é de fundamental importância. No meu entendimento, entre todos os eventos que nós realizamos aqui, daqueles que eu tenho conhecimento e pude participar, de fato é um evento que tem uma maior mobilização de pessoas e que acontece de uma forma quase que natural, onde cada pessoa que tem as suas responsabilidade vão se envolvendo de uma forma muito natural de modo que todo mundo, a cidade toda está envolvida e a cidade toda se transforma com o evento Bom Jesus dos Passos. Então eu particularmente, considero como algo que merece ser dado um grande destaque e ser registrado para que de fato seja reconhecido mundialmente.

Padre Possidônio: Eu quero parabenizar o Professor Estefânio, o Prof. Pedro Júnior e toda a equipe de pesquisa por essa iniciativa. A Ciência é uma grande construtora da própria história, da própria sociedade, dos conhecimentos compartilhados e construídos a partir da base. Penso em uma outra perspectiva de fazer ciência que é muito louvável no dia de hoje, que não se faz apenas fechada em livros mas se faz com comunicação, com participação, onde o objeto de estudo é vivo e não apenas algo que está ali para se ler, para se pesquisar, então parabenizo também pela metodologia de pesquisa. Eu nasci em Oeiras, próximo ano eu completo 50 anos então eu vivi na minha pele, minha família viveu, meus parentes todos viveram essa experiência dos Passos, meu povo viveu - as pessoas que eu conheço mais perto, conhecem essa experiência. Registrar se torna, digamos, até um legado para a própria sociedade, para própria história porque

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a Semana Santa, a sexta-feira de Passos é um evento religioso mas que é também cultural, é histórico porque as pessoas que vão nascendo, vão vivendo e vão assumindo uma característica social, antropológica e histórica e encontrando no religioso o seu grande assento. O registro vem justamente como modo de conservar, de propagar, de manter e de responsabilizar as instituições no sentido de conservar e de promover então a corresponsabilidade do registro é o chamamento da pesquisa, das instituições das sociedades para promover aquilo que é da história, que é da cultura, que é antropológico, que é da sociedade. Agora, nesse sentido o registro se torna necessário e importante, agora uma coisa do registro que a gente não pode perder de vista é que a Sexta-feira de Passos é uma “paraliturgia’’. Como sendo uma “paraliturgia”, é um patrimônio da Igreja, então a própria Igreja que tem o cuidado com a própria liturgia dela. Por mais que isso esteja entranhado na vida, na cultura, na história, é também uma paraliturgia, é uma expressão de fé. Nós não podemos materializar uma expressão de fé que vai além de um evento, celebrar Sexta-feira de Passos é uma manifestação da vida da pessoa, onde a fé, o espírito o afeto, a vida se encontram juntos. Então o registro não vem para engessar, não vem para um outro dizer que não seja a própria liturgia da Igreja, então nesse sentido o registro vem como suporte, como um elemento de pesquisa, como um elemento de projeção e como um elemento de corresponsabilidade e não de apropriação de como, onde e quem vive a Igreja perder seu próprios caracteres. Digo isso para que a gente não engesse a liturgia, para que a liturgia não seja uma coisa muito mais formal do que uma celebração. Sexta-feira de Passos é uma celebração de fé, não é apenas um cumprimento de rito muito embora tenha seu rito, o seu zelo da imagem, tem seu rito das flores, tem seu rito dos passos, mas esse rito vai ter que expressar uma vida, tem que expressar uma fé, uma celebração e não apenas um mero rito de repetição de uma tradição, Sexta-Feira de Passos é uma celebração de vida, é uma celebração de fé.

Prof.Stefano: Viva.

Padre Possidônio: Viva.

Padre Benedito: É louvável essa ideia de registrar essa Semana Santa da nossa cidade de Oeiras. E olhando a Semana Santa, esse momento de preparação para celebrar a Páscoa, a Sexta-feira de Passos na cidade de Oeiras é tão santa que olhando algumas pessoas mais antigas no bairro do Rosário, a dona Luíza que ano passado fez 100 anos de idade, tem dona Sebastiana que também é de idade. Essas senhoras falando da Semana Santa você vê uma coisa tão bela, elas expressando um sentimento, como é realizado, de como se vive essa Semana Santa e é bom se deixar registrado porque o tempo vai passando e essas pessoas também vão indo, mesmo sabendo que a nova geração que vai surgindo, vai nascendo e sendo introduzida nessa Semana Santa mas as algumas coisas vão mudando também, com o tempo ela vai se aperfeiçoando.

A própria Semana Santa vai se aperfeiçoando, as pessoas que vem até Semana Santa trazem alguma coisa de novidade que termina se modificando um pouco, mas é importante registrar.

Bispo Dom Edilson: Porque trata-se, desculpa entrar, mas só pra completar, de manifestações de fé, então tem coisas que fazem parte de um rito que não são vazios, mas que dão sentido a uma manifestação de fé, mas em meio a essas expressões existem aquelas expressões pessoais. Cada um que está ali está colocando a sua motivação própria e o seu modo próprio de externar seu sentimento de fé. Aparecem pessoas com uma pedra na cabeça, pessoas descalças, o que também já é comum que é a cidade que se transforma, a cor, o roxo que caracteriza o tempo da quaresma. Essa cor se evidencia e as pessoas passam a usar aquela cor não simplesmente porque tem uma onda de pessoas usando mas porque parece que pra elas, pelo menos é a leitura que eu faço, parece que pra elas vestir-se daquela cor é como se estivesse entrando e mergulhando nesse mistério de fé. Isso tem me chamado muito atenção.

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Prof.Stefano: Padre, eu quero perguntar uma coisa. Só pegando esse gancho [inaudível 0h17min26s-0h17min27s] padre Possidônio, durante o processo de inventário do Círio de Nazaré eles identificaram que houve, com o passar dos anos, uma projeção dessa celebração de uma forma grandiosa no país e no mundo. Com a abertura pro turismo existe um círio paralelo, que eles chamam de Círio Profano que é de programações cultural, festiva, de venda, festivais gastronômicos do Pará, música, enfim. Isso para algumas pessoas que estão mais ligadas ao Círio por conta da fé conotam um aspecto negativo lá, mas no inventário teve que mostrar isso também porque ao longo do tempo a projeção da manifestação, a projeção midiática, comunicacional levou também à produção de um outro tipo de atividade ligada, usando o apelo do círio na época. Isso está registrado no Círio como uma fragilidade. Como o senhor avalia, porque hoje a celebração aqui no Passos já tem uma projeção nacional e até internacional. Quase todos os anos ela é transmitida ao vivo e agora com a internet há uma transmissão que é aberta pro mundo inteiro, virou um veículo de comunicação. Existe também apelo turístico, a gente percebe muito isso, agências de turismo que montam suas programações para que o turista venha ver. Então, hoje nos convivemos com [inaudível 0h19min21s-0h19min22s] registro também tem que focar nisso que era isso que o senhor acabou de dizer, pessoas que essa celebração faz parte da vida delas, da fé delas e vem a pessoa que vem olhar. Como o senhor avalia isso?

Padre Possidônio: O que vem ao encontro do registro é justamente esse firmado específico da Semana Santa, sem deixar ou pelo menos no sentido de proteger para evitar que seja descaracterizado. Eu penso que nós não podemos abrir mão do específico da Semana Santa, nós não podemos abrir mão, nem a cidade, nem o governo, nem as Igrejas, nem as instituições e nem as pessoas, não se pode abrir mão do específico dela. É claro que a sociedade tem que agregar valores mas existe um outro momento, por exemplo, eu fico muito preocupado em momento de grande espiritualidade se promove atitudes que não se unem, que não vai ao encontro, pelo contrário são atividades que dispersam. Então quando se promove atividades, quando se promove gestos, quando se promove qualquer realizações por mais importantes que sejam mas que não vai ao encontro, irá descaracterizar, desconfigura, deprecia aquilo. Por mais que um evento, vamos dizer gastronômico, que seja importante, a gastronomia de Oeiras é gostosa mas não precisa ser na sexta-feira de Passos, se pode promover na Semana Cultural que aqui é um resgaste também da Semana Cultural.

Prof.Stefano: Que não tire o foco.

Padre Possidônio: Que não tire o foco. Por exemplo, estou dizendo isso mas também outras realizações.

O foco é a fé, é a vida da pessoa na Semana Santa, então isso tem que ser protegido e promovida, tem que ser conservada dentro de uma dinâmica de fé. Digo dentro de uma dinâmica de fé porque por exemplo, hoje vivemos a fé pós-conciliar depois do Concílio Vaticano II então a Semana Santa de Oeiras foi inicialmente formatada dentro do Concílio de Trento, depois vem Concílio Vaticano II que aí ela assumiu um novo jeito então isso aqui tem que acompanhar um pouco a história da própria Igreja. Possivelmente, não sei dizer quando, com o caminhar da história, com a adequação da fé, o atendimento espiritual, a salvação das almas, acho que se houver necessidade temos que mudar a dinâmica. Até porque a Semana Santa é viva, e essa vida uma das formas de manter e conservar é também dinamizar sem que perca aquilo que lhe é específico. E o que é específico? É a fé, é a vida, é a história, é a cultura, aquilo que realça o espírito da pessoa, aquilo que realça a dignidade da pessoa, é aquilo que vai promover a própria fé. Por exemplo, você já imaginou uma Semana Santa como essa, chamar os grandes artistas? Não vai ao encontro, não casa.

Você imaginou numa Sexta-feira de Páscoa, como diz o nosso bispo, onde tem uma grande expressão de fé, [inaudível 0h22min05s] padre Benedito uma história aglomerada, você vai promover um carnaval fora de época, pelo amor de Deus, é um contrasenso. Então, quer dizer, esse registro vem chamando todos à

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responsabilidade, a Igreja, o Estado, a instituição, as sociedades. Tem que ser promovido a Semana Santa, a liturgia tem sua dinâmica, isso sim tem que ser respeitado, mas o centro da Semana Santa, o foco, tem que ser conservado.

Bispo Dom Edilson: A espiritualidade desse momento, do Bom jesus dos Passos não está desconectado de uma outra realidade que é a Semana Santa, está dentro de uma preparação para a Semana Santa e por isso a Semana de Passos é celebrado dentro de uma perspectiva da celebração do Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. E toda essa tradição é mantida mas perde a essência então ela perde o seu significado.

Padre Benedito: É, a sua configuração.

Bispo Dom Edilson: Exato, perde a sua configuração. Então qualquer coisa, qualquer atividade que se agregue, se ajuda dentro dessa perspectiva de fortalecer, de até proporcionar do ponto de vista econômico melhorias para as pessoas, tudo pode ser muito bom. Desde que não disperse as pessoas dentro desse mistério que se celebra e que vai ajudar de fato as pessoas a vivenciar, a fazer uma experiência de fé, porque quem vê não pode vir para assistir um espetáculo. Se a gente vem para assistir um espetáculo a gente não vivencia a Semana Santa e não vivencia esses dias da realização do Bom Jesus dos Passos.

Prof.Stefano: Aquilo não é um teatro, é uma experiência de fé.

Padre Possidônio: É, de fé, de vida, de história. É claro que não podemos isolar a sociedade, a Igreja com a Semana Santa. Mas vamos dizer, é possível acolher bem o turista? É possível. É possível promover o que se tem específico? É possível agregar e dinamizar? É possível.

Padre Possidônio: É, de fé, de vida, de história. É claro que não podemos isolar a sociedade, a Igreja com a Semana Santa. Mas vamos dizer, é possível acolher bem o turista? É possível. É possível promover o que se tem específico? É possível agregar e dinamizar? É possível, o que a gente tem que ter cuidado é aquilo que dispersa, que descaracteriza, que tira forma.

Prof.Stefano: Sustentabilidade. Padre Benedito, eu queria que o senhor falasse, já que o senhor é da Paróquia da Nossa Senhora do Rosário. Existe uma grande preparação quanto da fugida, essa imagem que dorme ali na Igreja e aquela comunidade é que prepara tudo isso. Então queria que o senhor falasse desse sentido comunitário, dessa preparação, como isso acontece porque uma das coisas interessantes dessa celebração é que há uma união entre a igreja e a própria comunidade que realiza e mantém essa tradição.

Então como é feito esse trabalho comunitário que é feito especificamente no Bairro do Rosário Padre Benedito: Esse trabalho é algo que acontece ao longo dos anos, falando de pessoas no início que começaram nesse trabalho de preparar a [inaudível 0h27min00s-27min01s] para a chegada do Bom Jesus na quinta-feira. É um trabalho que é feito com muita harmonia, com muito amor, as pessoas se dedicam, crianças, jovens e adultos que fazem toda aquela preparação de preparar a Igreja, deixar o ambiente preparado, preparar as flores de Bom Jesus, preparar os saquinhos dos alecrins, ir até a mata buscar o alecrim e confeccionar os saquinhos. Então é um trabalho que é feito com muito amor e com muita harmonia da comunidade junto com a catedral que é a igreja mãe, onde é o foco da Semana Santa toda, mas nesse dia da quinta feira na fugida para sexta feira toda a cidade de Oeiras se volta para a Paróquia de Nossa Senhora dos Rosários.

Padre Possidônio: Eu costumo dizer que a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário é porta de acolhida dos romeiros. É nem onde acolhe os romeiros, os romeiros eles chegam lá, está lá o Bom Jesus para aco-

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lher os romeiros na serenidade, na contrição, no espírito humano, de história. É lá onde os romeiros dão o primeiro passo para seguir os Passos de Bom Jesus, é a porta de acolhida dos romeiros. A paróquia do Rosário e toda a comunidade da Igreja Do Rosário se prepara um tempo antes, dois, três, quatro meses antes, os meninos sobem o morro para buscar os alecrins, as mulheres que às vezes não lêem mas querem participar, eu quero preparar a água pros romeiros, eu quero limpar o chão, eu quero pernoitar, o meu Bom Jesus não vai dormir só na Igreja, passa a noite lá em oração. Então vai se criando todo o clima, a sociedade se encontra, vai criando na pessoa esse espírito desde quando é criança. A criança vai buscar o alecrim, a criança corta o alecrim, os jovens vão preparar os saquinhos juntamente com as mulheres, é uma delícia.

Inclusive, prof. Stefanio, tem o chá do alecrim que todos bebem do Bom Jesus que todos bebem, é uma delícia, na preparação é um segredo que eles têm. Meu Deus, eu to contando o segredo do chá do alecrim de Bom Jesus na preparação.

Bispo Dom Edilson: Eu queria saber se o padre Benedito consegue mensurar, não sei se tem o alcance, quantas pessoas chegam a se envolver nessa preparação? Eu estive lá, você me chamou pra dar a benção dos alecrins sobre as pessoas que estavam lá, os voluntários e a gente vê que é um monte de alecrim e quantas igrejas já estavam cheias e tudo mais. Quantas pessoas se envolvem nisso?

Padre Benedito: É difícil saber mas é um grupo enorme, considerável de jovens e crianças. O bairro todo se mobiliza para preparar todo esse ambiente.

Prof. Stefânio: Há uma mobilização de quase todo o bairro.

Padre Possidônio: Além do chá do alecrim tem também o bolo frito, do lado do Bom Jesus.

Padre Benedito: Na quinta feira já bem tarde da noite faz aquele bolo frito para quem está trabalhando e também para aquelas pessoas que estão na Igreja.

Bispo Dom Edilson: Como potencializar que esse bolo frito seja algo que marque, que as pessoas falam vínculo? ‘’Eu fui a Oeiras, fui ao evento da procissão Bom Jesus e to levando pra casa o bolo frito pra minha família.’’

Padre Possidônio: O alecrim, a flor do passo.

Prof. Stefânio: Botar isso não tem nenhum problema, isso é positivo, você projeta, você faz é fomenta a tradição.

Padre Possidônio: Exatamente, é positivo. Eu acho que inclusive nisso aqui, depois poderia ter outras coisas por exemplo, na produção de material para atender o turista. Se pensasse na produção artístico-cultural por exemplo, o turista vem e vai levar de suvenir isso sim vem ao encontro, vem na promoção.

Prof. Stefano e Padre Possidônio: Um livro de orações, um cd com os cantos.

Bispo Dom Edilson: De certo modo o mercado começa a reagir. A gente percebe que nessa época chegam, pessoas que vem de fora trazendo material, disponibilizando camisa mesmo que a paróquia confeccione e disponibilize mas a gente percebe que outras pessoas também começam a ganhar seu dinheirinho dentro dessa programação.

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Padre Possidônio: E é possível porque nós não temos como atender toda a demanda.

Padre Benedito: Foi confeccionado mais de 3 mil saquinhos, lembrancinhas de alecrim. É algo que todo romeiro que vem quer levar. É impossível cada um levar mas eles querem levar.

Prof.Stefânio: Esse é um ponto que eu queria tocar, porque já é uma melhora que vem de uma demanda.

Antes o alecrim era colocado só no altar para enfeitar por conta da tradição. As pessoas começaram a carregar e gerava aquela confusão, então a comunidade se preparou para já preparar aqueles saquinhos e fazer a distribuição e cada ano vem aumentando.

Padre Benedito: Aumenta também aquelas pessoas que vão trabalhar, ajudar na confecção dos saquinhos junto com o grupo maior que vão até o morro pegar os alecrins.

Padre Possidônio ou Padre Benedito (DÚVIDA DE QUEM É): Olha, uma coisa bonita é que esse alecrim por mais que seja tirado, tudo é feito de forma artesanal, não existe uma agressão ecológico, quer dizer, de destruição do próprio alecrim. Pelo contrário, essa união entre a ecologia e a Semana Santa é também promovida, aqui tem um restauro da própria natureza, a natureza ecológica do alecrim e depois a própria natureza, vamos dizer, também exegética, como o Monte das Oliveiras. Vamos dizer, a Semana Santa, a ecologia, a natureza, a história e a vida se tornam um momento dinâmico. O cuidado, uma coisa que também achei interessante, um zelo para evitar a poluição é também um cuidado ecológico, o atendimento para que as pessoas não passem sede, é uma outra manifestação de fé. O cuidado com a água em servir a pessoa, para que as pessoas não desidratam em muitos pontos. E também o cuidado com a própria água, são pequenos selos ecológicos e uma atenção importante. E que essa pesquisa também é, uma coisa muito boa. Um elemento também que vem encontro da ecologia nesse momento, por exemplo, é que a própria manutenção das estruturas elas são feitas com elementos sustentáveis, você vai manter a própria amada catedral da Igreja do Rosário, os passos não são feitos com materiais degenerativos que vai poluir a sociedade. Não, é tudo feito com material ecologicamente correto. Se a gente entende essa questão ecológica também é um modo de conservar, preservar e promover. Eu penso nesses três pontos, por exemplo, nossa amada catedral construída em 1733 e toda a conservação dela é feita ecologicamente correta, ela foi construída com produto, digamos, natural e é mantida durante toda essa época com produto natural que não agride a natureza, que não agride a ecologia. O uso do alecrim, o uso de tantas outras coisas. Não existe uma sujeira depois de uma procissão, talvez um ou outro evento deixe sujar mais as estradas, as vias do que um evento com tanta gente. Nós mesmos temos essa preocupação porque a fé tem que também pactuar com a vida das pessoas, a sociedade, a dignidade humana, o compromisso de todos com o outro, de todos com si, de todos com Deus, de todos com a sociedade, por um mundo melhor. Um compromisso com todos para que a vida seja promovida, a vida seja garantida. A fé vem promover, isso é uma perspectiva de promoção da própria vida.

Prof.Stefano: Pra encerrar eu queria uma fala de Dom Edilson, porque ele hoje faz parte dessa comunidade mas vem de fora, então é um olhar que hoje é comunitário mas quando chegou, justamente na época da Semana Santa, era um olhar estrangeiro. É muito oportuno porque hoje ele é o bispo da diocese de Oeiras e eu queria finalizar perguntando pro senhor qual foi a impressão primeira que o senhor teve dessa celebração ao chegar aqui, se o senhor imaginava que era daquela forma, qual foi a sua impressão?

Bispo Dom Edilson: Na verdade quando comecei a me preparar eu já sabia que ia chegar dentro da realização deste evento, eu já vim preparado com discurso pronto, o sermão já estava pronto que foi realizado

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lá na praça porque eu sabia que ao chegar as demandas seriam tantas que eu não ia ter um tempo necessário para isto. Eu também fiz pesquisas, hoje com as redes sociais a gente também tem a oportunidade de conhecer um pouco, então eu ja tinha visto também nas redes sociais algumas imagens que me ajudaram a ter uma certa noção de como a o ato se realizava. Mas tudo é muito diferente, daquilo que a gente experimenta, porque primeiro eu olhava de fora e queiramos ou não as imagens que a gente faz são recortes, a gente não tem condições de apresentar tudo numa produção de vídeo a respeito do evento Bom Jesus dos Passos por exemplo ou Semana Santa. Foi vivenciando que eu fui ver de fato, sentir, experimentar o fenômeno, então pra mim foi bonito, foi algo impactante ao mesmo tempo que me atraiu. Não foi algo que eu tenha visto com estranheza porque não era uma prática, em Natal por exemplo existe a Procissão dos Passos mas que nós chamamos de Procissão do Encontro mas é a mesma coisa, a mesma espiritualidade e é sempre na sexta feira que antecede o Domingo de Ramos para seguir a Semana Santa, mas o modo como se vivencia é outro. E lá, uma grande cidade, ao invés de ter sido preservado, pelo contrário eu acho que diminuiu a participação. Aqui é algo que se preserva e que a gente percebe que existe uma mística que é natural, as pessoas que vem e que participam, por mais que no meio tenham alguns que estejam como pesquisadores, que queiram observar e compreender essa mística, a grande maioria vem porque entendem, já são mobilizadas e já vivenciaram, passaram por experiências e querem renovar a cada ano tal experiência. Hoje, para mim, o período da Semana Santa eu tiro como se fosse um tempo de retiro que me ajuda a rezar a partir dos pequenos gestos que as pessoas realizam como demonstração e sentimento de fé e claro, nos faz perceber coisas que a gente precisa ir trabalhando. Sabendo que a gente lida com gente, às vezes surgem problemas e alguns desentendimentos, conflitos por coisas que não deveriam existir, então as pessoas às vezes por aquilo que não existe motivo. Isso não tira de nada o brilho e a importância do evento, mas a gente vai percebendo essas coisas e que são coisas que precisam ser trabalhadas para que de fato a gente não se perca em detalhes que não são essenciais e deixe de lado aquilo que é a essência.

Isso compete aos líderes, ao padre que está na catedral, ao padre que está na Igreja do Rosário, ao bispo, os padres que vem e nos ajudam. Outra coisa bonita que eu percebo nesse momento, existe um espírito de colaboração muito bom entre os padres da Diocese porque vem muitos romeiros, vem as pessoas porque sabem que também vão poder se confessar e os padres que atendem as duas paróquias são insuficientes então os demais sacerdotes vem espontaneamente e colaboram na confissão, é algo maravilhoso. Então pra mim foi algo impactante no sentido mais positivo, para mim hoje a procissão dos Passos, a Semana Santa em geral, é uma experiência para mim enriquecedora.

Prof.Stefano: Que bom. Então agradeço ao padre Possidônio, ao bispo Dom Edilson, ao padre Benedito e nós temos aqui três termos de autorização que fazem parte da pesquisa. Só posso usar essa descrição com essa autorização dos três, ela é individual e vocês preencher e assinar.

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