Cerrados & Vinhas

Page 1

CERRADOS &

VINHAS

a agricultura familiar

EXPOSIÇÃO

Museu Municipal de Benavente

27 JUN 25 OUT 2014


C ERRADOS CERRADOS &

VVINHAS INHAS a agricultura familiar

Agradecemos a colaboração do Sr. Manuel de Melo Junior, na organização da exposição.


IR PARA A VINHA Após mais uma semana de trabalho à jorna para o patrão, pelo meiodia de sábado havia que preparar a ida para a vinha. Os trabalhos prolongavam-se pelo fim de semana adentro e o obje vo era rar o melhor par do destas horas de sol, havendo mesmo alturas em que o tempo era pouco para conseguir realizar tantas tarefas! A necessidade de garan r abrigo para algumas alfaias levava à construção improvisada de um aposento (barraca), normalmente em madeira, caniço e, por vezes, zinco. Como a vinha estava localizada nas proximidades da vila, o burro era um meio importante que facilitava o transporte das colheitas e, por outro lado, enquanto tração animal, dava um contributo fundamental nos trabalhos agrícolas.

O ESCOAMENTO DOS PRODUTOS Alguns eram para consumo próprio, mas grande parte des nava-se à venda. O trigo, obrigatoriamente, só podia ser vendido nos celeiros da Federação Nacional dos Produtores de Trigo, mas tudo o resto era comercializável com quem es vesse disposto a pagar um preço justo. O fazendeiro colocava muitas vezes à porta de casa um produto agrícola indicando o que nha para venda, parras de uva significando que vendia uvas ou rama de pinheiro quando nha vinho.

CERRADOS E VINHAS Os campos agrícolas de Benavente eram, fundamentalmente, explorados por conta de lavradores e grandes proprietários. Enquanto la fúndio, o cul vo das terras exigia muita mão-deobra pelo que a grande maioria da população a va dedicava-se a esta a vidade. Eram os trabalhadores rurais. Homens, mulheres e jovens que trabalhavam arduamente nestas searas, quase sempre à jorna. Os cerrados e vinhas surgem para muitos destes homens como um complemento ao magro orçamento familiar. Para tal, dispunham-se a cul var terrenos de pequenas dimensões que nunca excediam os 2 hectares, situados nas proximidades da vila e que eram arrendados pelos proprietários por um valor anual em dinheiro e, por vezes, em trigo. A estas pequenas áreas de terra arável chamavam-lhes, então, os cerrados ou as vinhas onde, por oposição às grandes searas, se pra cava uma agricultura tradicional de natureza familiar.


AS PRODUÇÕES AGRÍCOLAS As principais culturas eram a vinha, o trigo, as favas, o milho, o centeio (sempre nas terras mais pobres porque era um cereal “pouco nobre”), as batatas (em duas sementeiras, no inverno e no verão), os nabos, as couves, os alhos, as cebolas, o feijão e as abóboras. Uma vez que as áreas cul vadas eram de pequena dimensão, os terrenos sempre foram

cul vados até ao limite e, não seria raro, que na terra sobrante entre as cepas, se semeasse o trigo, junto ao batatal, plantarem-se couves e mesmo, entre as carreiras do milho, pés de feijão. Depois da preparação da terra, das lavras e das cavas, a sementeira era feita a lanço ou a côvado. Fazer a lanço, quando o fazendeiro trazia o sementeiro ao ombro e debaixo do braço as balizas, canas finas e altas que iam sendo colocadas à medida que ia lançando a semente, permi ndo ir balizando a área semeada. A “covado”, quando abria covas e colocava diretamente as sementes no solo, garan ndo precisão na sementeira. Todo o processo de produção era exclusivamente garan do pelo fazendeiro e, quando o trabalho apertava, pela própria família. A organização destes trabalhos agrícolas obedecia a um calendário anual mas, sobretudo ao trabalho exaus vo depois de toda a semana a andar à jorna. O termo Vinha resulta do facto de exis rem quase sempre nestes terrenos, algumas cepas que garan am a colheita do fruto e, normalmente, a produção de vinho para consumo próprio e o excedente para venda.

A ÁGUA O po de produção intensiva pra cada nestes terrenos estava inteiramente dependente das condições do tempo. Não exis ndo qualquer sistema de rega implementado, eram aliás raros os poços nos cerrados e nas vinhas, as culturas ficavam à mercê da chuva. E, se “Em abril águas mil”, significava que para além da chuva ser frequente neste mês, que as terras estavam preparadas para absorver favoravelmente toda a água e, por esta razão, se dizia até, que abril era a “chave”! Mas seriam muitos os processos u lizados para melhor aproveitar os recursos era, por exemplo, frequente após a ceifa do trigo cobrir a terra com o restolho para a proteger do sol, mantendo a fresquidão e a lentura do solo. Estratégias que iriam favorecer a germinação e o crescimento das plantas.

O SIGNIFICADO DA VINHA A vinha era uma necessidade e também um gosto. U lizando processos inteiramente artesanais, o fazendeiro realizava todas as tarefas com o maior rigor e dedicação. As terras passavam de pais para filhos, assim como os conhecimentos, as experiências e as memórias. Hoje, mudaram-se os hábitos e as prioridades e muitas vinhas estão ao abandono. Quebrou-se o ciclo geracional dos fazendeiros, mas as águas da chuva con nuam a cair como dantes nestes solos sedentos de sementes, plantas e gente.


C ERRADOS CERRADOS &

VVINHAS INHAS a agricultura familiar


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.