Crónicas de um Acervo: Santo António de Lisboa, Cónego Regrante de Santa Cruz

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Crónicas de um Acervo

Museu de Santa Maria de Lamas

Santo António de Lisboa

Cónego Regrante de Santa Cruz

Escultura de Imaginária Inventariação analítica

2015 © Museu de Santa Maria de Lamas


Crónicas de um acervo - “Santo António de Lisboa, Cónego Regrante de Santa Cruz” Autoria Museu de Santa Maria de Lamas Texto José Carlos de Castro Amorim Projecto gráfico Ricardo Matos Fotografia Susana Ferreira - Arquivo imagético do Museu de Santa Maria de Lamas Junho de 2015 © Museu de Santa Maria de Lamas


Santo António de Lisboa, Cónego Regrante de Santa Cruz Escultura de Imaginária - Inventariação analítica

José Carlos de Castro Amorim - 2015


Cr贸nicas de um Acervo

Museu de Santa Maria de Lamas


Índice Abreviaturas e Siglas

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Santo António de Lisboa, Cónego Regrante de Santa Cruz Escultura de Imaginária - Inventariação analítica Santo António de Lisboa , Cónego Regrante de Santa Cruz Santo António de Lisboa , Cónego Regrante de Santa Cruz - Estrutura e Iconografia

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Fontes e Bibliografia

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Recursos Electrónicos

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Abreviaturas e siglas Cf. - Confira MSML - Museu de Santa Maria de Lamas N.º - Número Ob. cit. - Obra citada p. - Página pp. - Páginas Séc. - Século s/l. - Sem local s/p. - Sem página Vd. - Vide, veja Vol. - Volume 6


Santo António de Lisboa, Cónego Regrante de Santa Cruz

Escultura de vulto, madeira policromada, Oficina / Produção Erudita Séc. XVII. 1957. 0252 – Museu de Santa Maria de Lamas: Núcleo de reservas 7


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Museu de Santa Maria de Lamas


Santo António de Lisboa, Cónego Regrante de Santa Cruz Escultura de Imaginária - Inventariação analítica


Santo António de Lisboa, Cónego Regrante de Santa Cruz

Material e Técnica Escultura de vulto, madeira policromada. Autoria Oficina / Produção Erudita. Cronologia Séc. XVII. Estrutura e Iconografia Com tonsura fechada1, um pouco densa e marcada por linhas ligeiramente onduladas, nesta escultura de vulto, em madeira policromada, António de Lisboa - também conhecido como António de Pádua2 - de rosto jovem e imberbe, surge representado pela variante iconográfica de “Cónego Regrante de Santa Cruz”. Deste modo, seguindo a “iconografia crúzia”, com grande parte da anatomia e dos membros ocultados pelo volume das suas vestes percebendo-se apenas a flexão dos seus braços e consequentemente a respectiva colocação da mão direita junto ao peito e a elevação da esquerda, para hipotética exibição de um atributo iconográfico (actualmente perdido) - António de Lisboa possui uma túnica interior, uma sobrepeliz que se estende até aos joelhos (ambas com pregueados lineares verticais). E, sobre os ombros, peito, parte dos braços e tardoz, uma murça abotoada (com linha de botões no seu anverso3). Consideradas escassas/raras as representações de António de Lisboa fora do contexto franciscano, como “Menino do Coro” ou “Cónego Regrante de Santa Cruz”4, segundo o estudo de Carlos A. Moreira de Azevedo, obras como esta do MSML resultam de encomendas, ou possuem relação com os antigos “Mosteiros crúzios” portugueses5. Em virtude dessa ligação, pressupõe-se o termino da produção de obras deste género com a extinção das Ordens Religiosas regulares em Portugal6 - iniciada em 1834, com o Decreto de Maio, da autoria de Joaquim António de Aguiar (1792-1874)7.

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Distanciando-se da tonsura interrompida, frequentemente associada à Iconografia antoniana como uma reminiscência do Renascimento e integrada sobretudo nas mais antigas representações artísticas do Santo. Todavia, mesmo nos sécs. XVII, XVIII e XIX, apesar da predominância da tonsura fechada, o “modelo interrompido” obteve alguma difusão. 2 Pela sua vivência e morte na cidade italiana de Pádua. 3 Pela cromia da túnica interior e da Murça, e pela sua linha de botões (totalmente abotoados), esta escultura poderá conter algumas interpretações erradas da indumentária integrada na “iconografia crúzia” de Santo António de Lisboa. Segundo o estudo de Carlos A. Moreira de Azevedo, no âmbito da sua “iconografia crúzia” (como “Cónego Regrante de Santa Cruz”), “Santo António veste quase sempre túnica branca, sobrepeliz de linho, redonda e ampla, que pode ser, no máximo até aos joelhos, e murça preta apertada apenas por um botão” - cf. AZEVEDO, Carlos A. Moreira - “Variantes iconográficas nas representações antonianas” in Cultura. Vol. 27. (s/l): 2010, (s/p). Deste modo, ao observar esta escultura antoniana do MSML, percebemos que esta obra poderá enquadrar-se com o teor de uma afirmação de Nogueira Gonçalves, citada por Carlos A. Moreira de Azevedo, e indicativa de que existem, na produção artística de Santo António de Lisboa como “Cónego Regrante de Santa Cruz” , sobretudo na composição e abotoamento da murça, algumas interpretações erradas dessa veste vd. GONÇALVES, A. Nogueira – “Certos aspectos do hábito dos cónegos regrantes da Congregação de Santa Cruz” in Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. N.º 24. Porto: 1961, pp. 328-337. 4 Nascido em 1195, Santo António de Lisboa, cujo nome de baptismo seria Fernando Martim de Bulhões e Taveira Azevedo, cresceu em Lisboa, onde residiu até aos seus quinze anos. Após completar quinze anos, Fernando entrou para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, dos “Cónegos Regrantes de Santo Agostinho”, onde conheceu os frades franciscanos, posteriormente martirizados em Marrocos. Sensibilizado e impressionado, aos vinte e cinco anos ingressou na “Ordem dos Frades Menores de São Francisco”, passando a denominar-se António . Após um ano de estadia em Marrocos, assistiu ao Capítulo Geral dos Franciscanos na Sicília, onde se revelou como Pregador e Teólogo. Considerado o orador mais conhecido do seu tempo, leccionou teologia em várias universidades europeias e ficou conhecido pelos seus milagres, pela forma rápida como convertia hereges e pela sua devoção e dedicação aos pobres. Invocado como um dos santos franciscanos mais importantes, após São Francisco de Assis, António de Lisboa faleceu em Pádua, no dia 13 de Junho de 1231. Canonizado em Maio de 1232, é designado como “Doutor da Igreja”, padroeiro dos pobres, de Pádua, segundo padroeiro de Portugal ; e é também invocado para o matrimónio e para o aparecimento de objectos perdidos - vd. DAIX, Georges - Dicionário dos Santos no Calendário Romano e dos beatos portugueses. Lisboa: Terramar, 2000, p.37. ; RÉAU, Louis – Iconografia del arte Cristiano. Iconografia de los Santos. Tomo II, vol. III. Barcelona: Ediciones del Serbal, 1998, p. 126.; ROIG, Juan Fernando - Iconografia de los Santos. Barcelona: Ediciones Omega, 1950, p. 47.; TAVARES, Jorge Campos - Dicionário de Santos. Lisboa: Lello Editores, 2001, pp. 22 e 23. 5 Carlos A. Moreira de Azevedo, cita alguns dos Mosteiros crúzios da Diocese do Porto: “(…) Os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, na diocese do Porto, tiveram os seguintes mosteiros: São Salvador de Lordelo (Paredes), Santa Eulália de Vandoma (Paredes), São Vicente de Tougues (Vila do Conde), São Salvador de Tabuado (Marco de Canaveses). São Pedro de Ferreira (Paços de Ferreira) foi extinto e unido à Catedral do Porto. Santo André de Ancede (Baião), até 1559, e São Martinho de Mancelos (Amarante) foram entregues à Ordem dos Dominicanos. Em 1770 foram extintos São Salvador de Grijó (Vila Nova de Gaia), Vila Boa do Bispo (Marco de Canaveses) e São Martinho de Caramos (Felgueiras), onde até 1834, no entanto, continuam a assegurar como pároco um monge. Permaneceram, até à extinção das Ordens, Santo Agostinho da Serra do Pilar (Vila Nova de Gaia), Santo Estêvão de Vilela (Paredes) e São Miguel de Vilarinho (Santo Tirso) (…)” - cf. AZEVEDO, Carlos A. Moreira - “Variantes iconográficas nas representações antonianas” in Cultura. Vol. 27. (s/l): 2010, (s/p). 6 “(…) Estas figurações têm sempre relação com antigos mosteiros crúzios e deixam de ser executadas com a extinção das Ordens Religiosas, ocorrida em 1834 (…)” - cf. AZEVEDO, Carlos A. Moreira - Ob. cit. (2010), (s/p). 7 “(…) Decreto de 30 de Maio de 1834, da autoria de Joaquim António de Aguiar, determinou a imediata extinção de todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e quaisquer outras casas das ordens religiosas regulares , e a incorporação na fazenda nacional, à excepção dos vasos sagrados e paramentos (…)” - cf. http://digitarq.dgarq. gov.pt/details?id=4224345 - 01/03/2015; 14 h 43 m. 1

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Santo António de Lisboa, Cónego Regrante de Santa Cruz Estrutura e Iconografia

Murça abotoada (com linha de botões), posicionada sobre os ombros, peito e parte do tardoz da figura.

Rosto jovem e imberbe (sem barba), “coroado” pelo formato do seu cabelo em tonsura fechada, um pouco densa e marcada por linhas ligeiramente onduladas.

Mão esquerda elevada, incompleta (faltando-lhe o dedo mínimo), e estruturada para hipotética exibição de um atributo iconográfico (actualmente perdido).

Mão direita semiaberta, completa e colocada junto ao peito.

Sobrepeliz que se estende até aos joelhos, modelada com pregueados lineares e verticais.

Túnica interior com pregueados de cariz vertical.

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Fontes e Bibliografia AZEVEDO, Carlos A. Moreira - “Variantes iconográficas nas representações antonianas” in Cultura. Vol. 27. (s/l): 2010. DAIX, Georges - Dicionário dos Santos no Calendário Romano e dos beatos portugueses. Lisboa: Terramar, 2000. GONÇALVES, A. Nogueira – “Certos aspectos do hábito dos cónegos regrantes da Congregação de Santa Cruz” in Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto. N.º 24. Porto: 1961, pp. 328-337. RÉAU, Louis – Iconografia del arte Cristiano. Iconografia de los Santos. Tomo II, vol. III. Barcelona: Ediciones del Serbal, 1998. ROIG, Juan Fernando - Iconografia de los Santos. Barcelona: Ediciones Omega, 1950. TAVARES, Jorge Campos - Dicionário de Santos. Lisboa: Lello Editores, 2001.

Recursos Electrónicos Arquivo Nacional Torre do Tombo (http://digitarq.dgarq.gov.pt) http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=4224345 - 01/03/2015; 14 h 43 m.

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