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Editorial
Escrever sobre o “parto” do que hoje tão, naturalmente, chamamos e identificamos como Museu do Douro é um exercício que me leva ao início do nosso século, mais propriamente ao ano 2000.
Recordo desse tempo as muitas reuniões e conversas que tive com os atores locais que iam desde as Autarquias aos agentes culturais e até mesmo à sociedade civil da Região sobre a importância da criação do Museu do Douro e, como passaríamos das palavras aos atos pois era preciso atentar à singularidade do equipamento ou equipamentos que estávamos a “construir”.
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Um Museu do Território!
Não posso, no entanto, deixar de mencionar a reunião do dia 12 de dezembro de 2000. Foi aí que demos, e reforço demos porque foram vários os agentes locais, regionais e nacionais presentes, o verdadeiro início dos trabalhos. Foi nesse dia que ficou decidido lançar o que viria a ser, pela sua natureza e âmbito de museu de território, o local por excelência de acolhimento e representação da memória, cultura e identidade da região vinhateira - Douro Património da Humanidade.
Dezembro, poderei afirmar, é o mês mais importante na vida institucional do Museu do Douro! Assim a 2 de dezembro de 1997 com a publicação da Lei nº 125/97 que cria o “Museu da Região do Douro”; Em 12 de dezembro de 2000 tem lugar a 1ª reunião no Peso da Régua;
A 14 de dezembro de 2001, ou seja um ano depois, o Alto Douro Vinhateiro recebe a distinção pela UNESCO, de Património da Humanidade, na categoria de paisagem cultural, edificada e viva.
Ao falar e recordar este período riquíssimo que muitos de nós então vivemos, importa referir e relembrar que o “Museu da Região do Douro” criado pela Lei n.º 125/97 de 2 de dezembro, como estrutura polinuclear distribuída pela região, assegurava ao Douro “um território-museu”, instituía o desafio da possibilidade de um processo museológico sobre um património evolutivo e vivo, em constante mutação.
As suas atribuições estão listadas no art.6º que passo a elencar:
a) Reunir, identificar, documentar, investigar, preservar, conservar e exibir ao público todas as fontes históricas e antropológicas, espirituais e materiais de todo o património cultural e natural da Região do Douro, em particular o ligado à produção, promoção e comercialização dos vinhos da Região do Douro […];
b) Promover e apoiar, em qualquer tipo de suporte, no País e no estrangeiro, a publicação, edição, realização e exibição de materiais e de estudos de carácter científico e ou divulgativo da Região, do seu património, do Museu e das suas coleções;
c) Promover exposições, congressos, conferências, seminários e outras atividades de carácter semelhante.
Mas o Museu do Douro não podia ser só isso. E não foi, ou melhor, não é!
Recordo-me das palavras que proferi na altura, e que ao longo de muito tempo fui dizendo, pondo a tónica que aquele projeto não era um projeto mas sim um processo de envolvências locais, regionais e nacionais. A responsabilidade que se ganhou com o galardão da UNESCO obrigava-nos a estabelecer redes de cooperação que iam desde os agentes institucionais aos cidadãos que vivem e usam o território fazendo dele uma entidade viva da qual se orgulham e se reconhecem como agentes ativos. E isso aconteceu.
Hoje, no ano de 2021, com o Museu do Douro a celebrar os seus 20 anos muito me orgulho de ver que o projeto se transformou, verdadeiramente, em processo, constituindo uma reserva estratégica da Região Vinhateira com os 14 Municípios envolvidos tornando-se um pólo de dinamização cultural que vai muito para além da esfera regional. Parabéns ao Museu e principalmente, parabéns às gentes durienses que souberam ganhar o seu Museu porque cuidaram e preservaram o seu território!
RICARDO MAGALHÃES
junho de 2021