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1994 – Côtes – D’Armor

Capital Saint-Brieuc, Região da Bretanha, França

Calendário de “Musiques Aimées en Mai”. De 7 a 31 de Maio de 1994. Um Festival que assume “ sensibilizer le public à l’art d’aujourd’hui”

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13 de Maio, às 21 horas. Convite para uma noite de Fado em que “Manuel D el Almeida” deixa “Un parfum du Fado”

Interior evento. Informa sobre o local e hora das actuações de Manuel del(!) Almeida e no texto pode ler-se: ” Este artista é um dos últimos representantes do fado tradicional (…)”. Desconhecemos quem assina o texto mas vale a pena ler”

Conheci o Manuel de Almeida em 1973, no restaurante típico “Lisboa à Noite”, propriedade da fadista Fernanda Maria, e a partir daí ficámos muito amigos. Quis o destino que, em 1979, o Manuel integrasse o elenco da casa de fados “Forte D. Rodrigo”, onde eu era o guitarrista e, desde então, até à sua partida a 3 de Dezembro de 1995, nunca mais nos separámos.

Dono de uma cultura vastíssima, recordo-o com uma enorme saudade, pelas suas qualidades enquanto fadista, poeta, compositor, estilista e intérprete multifacetado (gravou um disco de tangos!) mas, acima de tudo, pela sua personalidade: era um homem genuinamente bom, humilde, de uma honestidade ímpar e com um sentido de humor invulgar. Prova disso era quando eu precisava de um guitarrista para me substituir no “Forte D. Rodrigo” durante um par de horas – algo que, naquele tempo era dificílimo de arranjar – o Manuel prontificava-se a fazê-lo, apesar de só saber tocar os Fados Menor, Mouraria e Corrido. O fadista Rodrigo, proprietário da casa e um cultivador do fado, achando piada a esse facto, pegava amiúde noutra guitarra e, apesar dos poucos conhecimentos, acompanhava-o na brincadeira, para gáudio da clientela que delirava com o espectáculo.

O Manuel de Almeida era, por natureza, bem-disposto e não me recordo de o ver triste ou zangado. Desarmava-nos por completo com o seu humor, legado esse herdado por sua filha, Edite de Almeida.

Em 1993, participou no Festival Internacional de Music Croisée em Saint Sever, ao lado do meu filho mais velho, Paulo, guitarrista que ele mais gostava que o acompanhasse, e pelo violista Guilherme Carvalhais, onde ganhou um prémio de interpretação e a Medalha da Cidade. Até o meu filho mais novo, Ricardo, na altura com dez anos de idade, fez dois espectáculos com ele!

Durante dezoito anos, acompanhei o Manuel não só no “Forte D. Rodrigo”, como noutros espectáculos em Portugal e no estrangeiro. Era um fadista querido por toda a comunidade do Fado e pelo público. Em 1994, a CML prestou-lhe uma homenagem pelos seus 50 anos de carreira, onde eu tive o prazer de ser o guitarrista residente e onde todos os fadistas estiveram presentes a prestar tributo.

Tantas coisas mais poderiam ser ditas por mim sobre o Manuel. Durante vinte e dois anos de amizade, houve sempre tempo para trocas de impressões sobre o Fado, aprendemos um com o outro, rimos, emocionámo-nos e construímos um laço tão forte que nem o fado da morte poderia alguma vez quebrar. Mas. Não era só o Fado que nos unia… duas vezes por semana fazíamos “tour” de ciclismo Cascais/ Sta. Iria da Azóia/ Colares/ Sintra/ Cascais. No Estádio Nacional (Cruz Quebrada/Vale do Jamor) todos os domingos – o Sr. Domingos – permitia que utilizássemos a pista de tartan para fazermos 6 kms de corrida.

O Manuel de Almeida deixou-nos há 22 anos, mas o seu legado perdurará na História do Fado e de Portugal. Até sempre, meu amigo!

António Parreira

Guitarrista

Lisboa, 2016

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