MATERIAL EDUCATIVO Exposição RONALDO AZEREDO: o mínimo múltiplo (in)comum

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UMA TRAJETÓRIA POÉTICA

MATERIAL EDUCATIVO


Este é o material educativo da exposição RONALDO AZEREDO: o mínimo múltiplo (in)comum, realizada por meio de parceria entre a Secretaria de Estado da Cultura – ES e a Casa das Rosas – SP, com curadoria de Marli Siqueira Leite. A proposta aqui é criar possibilidades de conversa sobre a obra do poeta Ronaldo Azeredo e três poetas contemporâneos que produzem em Vitória, bem como uma serigrafia do artista capixaba Dionísio Del Santo, representando aqui o acervo do MAES. O material é elaborado pelo Educativo do MAES em conjunto à curadora Marli Siqueira, pretende estimular a formação do olhar do público visitante do museu e o contato com novas histórias e campos de conhecimento. Percorreremos o universo poético dos artistas, apresentando alguns trabalhos presentes na exposição, contextualizando sua produção e indicando

caminhos para uma compreensão e diálogo sobre poesia e arte visual. Para um breve panorama, recorra ao Glossário, que indica informações imprescindíveis na história desses artistas. Estritamente sobre os trabalhos, aqui você encontra 07 fichas contendo imagens das obras. No verso indicamos textos que podem nos aproximar, com questionamentos ou identificações, da proposta expositiva. Para você, professor e educador, as fichas e o quebra-cabeça são ferramentas de apoio para o planejamento de aulas e disparadoras de conteúdos e ações relativas ao ensino da arte. E se esse material chegou a você por estar apenas interessado sobre a exposição e seu conteúdo, esperamos contribuir para seu aprofundamento no campo da arte e da poesia, pensando em como as linguagens visuais podem contribuir para outras formas de ver e compreender o mundo. Renan Andrade Silva Núcleo de Ação Cultural e Educativa do MAES


Poesia de pedra bruta, pedra pura, pedra prima? Poesia de ideias? Ou o próprio risco da poesia – um piscar de ouro nos olhos de Greta Garbo? (Augusto de Campos, no artigo “Resiste, Ro”, 1989) Este material pretende apresentar alguns trabalhos de Ronaldo Azeredo, um dos participantes da poesia concreta no Brasil, bem como sugestões de atividades de leitura e de produção de textos a partir de sua obra. O material traz, também, poemas visuais de três autores residentes no Espírito Santo – Caê Guimarães, Douglas Salomão e Lúcio Manga – e uma serigrafia com traços concretistas do artista capixaba Dionísio Del Santo. O conjunto da produção de Ronaldo Azeredo, exposta no Museu de Arte do Espírito Santo, de 21 de janeiro a 23 de março, sucede a primeira montagem realizada na Casa das Rosas, em São Paulo e busca recuperar o percurso do poeta Azeredo, década a década, de 1954 a 2002. Sua trajetória parte de “ro”, produzido pelo autor aos 17 anos, e se encerra com uma obra a ser tateada, “lá bis os dois”, seu último trabalho publicado. Pelo que se pôde investigar até o momento, são 32 poemas finalizados (além de um projeto inacabado, “sinto”), e 6 textos em prosa, pela primeira vez expostos em conjunto. Carioca de Vila Isabel, Ronaldo Pinto de Azeredo nasce em 12 de fevereiro de 1937 e falece em 14 de novembro de 2006, em São Paulo, quando o movimento concretista comemorava, oficialmente, o seu cinquentenário. Fixa-se na capital paulista na década de 1950, juntando-se ao Noigandres – ao lado de Décio Pignatari, Haroldo de Campos e do então futuro cunhado Augusto de Campos. O conjunto de seus poemas, na revista que divulgou os trabalhos do grupo entre 1952 e 1962, recebe o título de “mínimo

múltiplo comum”. Certamente um destaque à concisão extremada, à precisão matemática e à valorização de múltiplas linguagens: aspectos caracterizadores da obra do poeta, embora também característicos do movimento do qual fez parte. Além da influência de seus companheiros do Noigandres, como também da obra de Oswald de Andrade – Oswald foi meu primeiro “pai” intelectual. […] Me levou à “raiva”, à crítica, à devoração antropofágica das coisas – Ronaldo Azeredo aproxima-se, no final do anos 1960, de Alfredo Volpi. O mestre dos concretos estimula o poeta a explorar, ainda mais sistematicamente, o território cinzento entre a poesia e as artes visuais, como afirma Augusto de Campos. Nesse período, produz trabalhos em pranchas, em livros, em forma de cartaz, de quebra-cabeça, de mini-instalação, de vídeo e de escultura, ressaltando os adjetivos “múltiplo” e “incomum” atribuídos ao autor. No conjunto de sua produção, pode-se notar, enfim, um movimento de fuga da palavra, como também de valorização, cada vez mais intensa e clara, da imagem e de outras linguagens, embora, em alguns casos, a palavra habite, paradoxal e ocultamente, inclusive suas obras sem título. Uma trajetória, portanto, muito peculiar, apesar de integrada, em suas origens, aos ideais concretistas. E, assim, como disse certa vez Décio Pignatari, o poeta rexiste.

resisto. resto. ro. Marli Siqueira Leite Curadora da exposição


Glossário Poesia Concreta

Ao trabalhar de forma integrada o som, a visualidade e o sentido das palavras, a poesia concreta propõe novos modos de se fazer poesia, visando a uma “arte geral da palavra”. A expressão joyceana verbivocovisual sintetiza essa proposta que, desde os anos 1950, foi colocada em prática, no Brasil, pelos poetas Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Ronaldo Azeredo, além de, no início, contar com a participação de Ferreira Gullar e Wladmir Dias Pino, e, na década de 1960, com José Lino Grünewald, desdobrando-se até hoje, ao longo de mais de cinco décadas de produção em suportes e meios técnicos diversos – livro, revista, jornal, cartaz, objeto, lp, cd, videotexto, holografia, vídeo, internet. [...] Os poetas concretos estabeleceram, desde o início, ligações entre a sua produção, a música contemporânea, as artes visuais e o design de linhagem construtivista. Reprocessaram elementos dessas artes em seus poemas e mantiveram extensa colaboração com artistas e designers, compositores e intérpretes, seja na esfera da música erudita, seja na da música popular, sem falar de outros poetas e críticos, tanto do Brasil quanto do exterior. Além de sua própria produção e da atividade teórica, empenharam-se ainda na constituição de um amplo repertório de formas poéticas, por meio da revisão crítica de autores e da tradução de uma grande variedade de obras de outros idiomas para o português, sob o parâmetro da invenção estética. fonte: http://www.poesiaconcreta.com/poetas.php

Concretismo

Os princípios do concretismo afastam da arte qualquer conotação lírica ou simbólica. O quadro, construído exclusivamente com elementos plásticos – planos e cores –, não tem outra significação senão ele próprio. A pintura concreta é "não abstrata", afirma Van Doesburg em seu manifesto “Arte Concreta”, "pois nada é mais concreto, mais real, que uma linha, uma cor, uma superfície". Max Bill explora essa concepção de arte concreta defendendo a incorporação de processos matemáticos à composição artística e a autonomia da arte em relação ao mundo natural. A obra de arte não representa a realidade, mas evidencia estruturas, planos e conjuntos relacionados, que falam por si mesmos. Menos que alardear um novo movimento, a noção de arte concreta visa rediscutir a linguagem plástica moderna. [...] fonte: Itaú Cultural

Noigandres

Grupo que reuniu os concretistas e teve como expoente a revista de mesmo nome, através da qual as produções poéticas, assim como as reflexões e as considerações teóricas sobre elas, eram apresentadas aos leitores. O nome da revista e do grupo foi uma iniciativa de Augusto de Campos. A palavra – no original, enoi gandres – é uma expressão provençal de sentido incerto, oriundo de um poema do trovador Arnaut Daniel e referido no canto XX de Ezra Pound. Segundo Augusto de Campos, a expressão enigmática talvez signifique “antídoto do tédio”.

Paideuma

Mínimo múltiplo comum

Termo advindo da matemática que significa o menor múltiplo comum de dois ou mais números. Para designá-lo, usa-se a abreviação m.m.c. No caso de Ronaldo Azeredo, a expressão foi usada para intitular o conjunto de seus poemas na revista Noigandres, publicada de 1952 a 1962. A matemática, a geometria e o minimalismo já estavam nos propósitos de todo o grupo: “A poesia concreta visa ao mínimo múltiplo comum da linguagem”, como afirma o “plano piloto para a poesia concreta”. Azeredo, entretanto, levou esse poder de síntese a se tornar uma constante no seu percurso poético.

O termo foi pinçado pelo poeta norte-americano e estudioso da escrita chinesa, Ezra Pound, para designar o conjunto de referências literárias sob as quais se idealiza um movimento. O paideuma concretista é composto da obra dos franceses Stéphane Mallarmé (Um lance de dados jamais abolirá o acaso, 1897) e Guillaume Apollinaire (Caligramas); de certos ideais dos movimentos da Vanguarda Europeia, sobretudo do Futurismo; das produções dos norte-americanos Ezra Pound e E. E. Cummings; da obra do escritor irlandês James Joyce (principalmente, Finnegans Wake); das influências de Oswald de Andrade e de seus poemas-minuto e de trabalhos dos também brasileiros João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa.



Possibilidades de leitura e sugestões de propostas para produção de texto No verso, os três hits de Ronaldo Azeredo da década de 1950: “velocidade”, “rua sol” e “leste oeste”. O poema “velocidade” sintetiza, exemplarmente, o propósito do grupo Noigandres: é geometrismo, imagem, som, movimento, palavra, coisa, tornando-se, desse modo, um emblema do Concretismo. Com simplicidade de construção e economia linguística (o texto é composto de uma palavra e esta contém “cidade”), o trabalho cumpre à risca os princípios elencados no plano-piloto do movimento, preparado por Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, no qual predominam a forma geométrica e a matemática da composição. O rigor geométrico da obra chama a atenção e exige uma leitura global, em todas as direções. No quadrado (ou na soma de dois triângulos), a palavra “velocidade” se (de)compõe, aos poucos, em um processo de construção-desconstrução que se faz movimento. A primeira linha horizontal (não-verso) é feita da letra/fonema “v”: unidade mínima da palavra. Aos poucos, a repetição da consoante vai constituindo um dos triângulos que, juntos, compõem o todo. Do mesmo modo, a palavra “velocidade” vai se montando e “desenhando” a outra parte da grande figura, formando, assim, a quadrícula: a construção típica dessa fase ortodoxa da poesia concreta. O quadrado, ainda, é cortado na diagonal por uma linha, delineada pela repetição da conjunção aditiva “e”, que coloca em relação os dois planos triangulares: um, constituído pela letra/fonema “v”, que produz uma aliteração própria da sonoridade do vento e da correria da cidade; outro, por fragmentos (“elocidade”) que, aos poucos e no conjunto, vão formando a palavra total. A presença da conjunção estimula a leitura simultânea. A simetria identificada reforça a relação entre o fonema “v” e a palavra “velocidade”, em um processo de resgate do que o signo arbitrário teria de mais motivado: a sua primeira letra. Esse movimento constante e incessante é reforçado pelo “e”, que volta a surgir no canto inferior direito do quadrado verbal,

suscitando o retorno à composição e a continuidade da ação. Tal reverberação/repetição do fonema/letra, como se vê, produz efeitos no campo sonoro, visual e semântico: linguagem verbivocovisual, como chamou o escritor irlandês James Joyce. O poema, paradoxalmente, é a materialização de uma abstração: movimento representado pelo movimento. Sugere-se que, em sala de aula, proponha-se uma leitura vocalizada da obra, em um grande coro de vozes, montando, aos poucos, a palavra “velocidade” e dando destaque a sua sonoridade. O texto “rual sol” mantém o rigor da síntese e da simplicidade observado em “velocidade” e se faz plasticamente. O poema não trata da passagem do sol, o sol é que se movimenta no texto, tendo a rua como horizonte. Já “leste oeste” chega a ser ainda mais simples e de impacto visual: leste a leste; oeste a oeste. Essas obras podem desencadear vários exercícios de produção poética. Pode-se iniciar com a leitura vocalizada dos textos por todo o grupo. Posteriormente, pode-se propor a escrita de palavras selecionadas pelo educador – inicialmente, substantivos concretos –, sugerindo a representação do movimento da palavra na página e buscando revelar o significado da expressão escolhida: “escada”, por exemplo, em forma de escada; “onda”, em forma de onda. Em um segundo momento, pode-se propor o registro de substantivos abstratos, o que certamente tornará a tarefa mais trabalhosa e criativa, como propuseram os concretos: “felicidade”, “alegria”, “passeata” são algumas possibilidades. Pode-se, ainda, propor a utilização de duas palavras, como ocorreu em “rua sol”, e a repetição/fixação de uma delas e o movimento/passagem da outra: “céu” e “pássaros”, “mar” e “peixes”, por exemplo, dariam um bom exercício. Essas são apenas algumas sugestões. Muito ainda podem render esses trabalhos de Azeredo e as produções dos concretos!



Possibilidades de leitura e sugestões de propostas para produção de texto Os poemas do verso desta prancha mantêm os propósitos do grupo, mas trazem à tona uma preocupação mais social e engajada, caracteríticas observada nas produções dos concretos na década de 1960. No caso de “solitário solidário”, exploram-se as palavras parônimas: expressões muito próximas, sonora e visualmente, mas distintas (às vezes opostas, como é o caso de “solitário” e “solidário”) em termos de significado. O preenchimento da terceira coluna, com as letras “t” ou “d”, cabe à nós, leitores. Ser solidário ou preferir a solidão e o isolamento é uma questão de escolha. Pode-se, enfim, propor o levantamento de outros pares de palavras parônimas e sugerir uma “brincadeira” – sonora, visual e semântica – com elas. Em “corpo a corpo”, nota-se um enfrentamento (uma resistência) proposto pelo confronto verbal de “corpo” e “pouco”, sugerindo vários sentidos. Tal jogo de palavras pode ser igualmente explorado pelos alunos a partir de outras expressões próximas, sonora e visualmente. É importante, para isso, aquecê-los com um bom levantamento de palavras semelhantes entre si, alimentando-os para o exercício.



Possibilidades de leitura e sugestões de propostas para produção de texto O poema “céu mar”, de 1978, último trabalho patrocinado pelo pintor Alfredo Volpi, foi idealizado e concretizado por Ronaldo Azeredo, em parceria com o artista plástico Hermelindo Fiaminghi, integrante da I Exposição Nacional de Arte Concreta, ocorrida em 1956, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, e em 1957, no prédio do MEC, no Rio de Janeiro. Na composição, da mesma forma que o céu pode se tornar mar, pela circularidade sugerida pelo texto escrito no alto do cartaz, de cabeça para baixo, o mar pode ser céu; a nuvem pode ser onda ou vice-versa. Tal movimento circular e contínuo sugere o infinito. Ainda, em uma outra perspectiva, o poeta aproxima-se do artista: um não é o outro, mas ambos se identificam, a ponto de se tornar impreciso o limite entre o trabalho do poeta e do artista. Fiaminghi, em 1997, deu um depoimento em relação ao processo de criação do poema: Eu estava no litoral norte de São Paulo, na praia de Baraqueçaba. Ao lado, à direita, tem a praia de Guaecá, e eu percebi que essa praia tinha um infinito maior que o de Baraqueçaba [...] Era um dia de verão e tinha uma luz muito bonita. Teve uma hora em que realmente o mar se fundiu com o céu. Aí eu me inspirei. Contei para o Ronaldo o que eu tinha observado – a fusão de céu e mar – e ele bolou o poema. Isso é um poema visual”. (Informação verbal de Carolina Andrade, à época de 12 anos, cuja família era próxima do artista).

Como representar o infinito? Que outros elementos da natureza podem se aproximar, apesar de suas diferenças, compondo essa circularidade, como propõe “céu mar”? São questionamentos que podem render um bom debate e muitas experimentações nas aulas de português e de artes.

No link, uma animação do poema, criada pelo poeta e amigo de Azeredo, Omar Khouri: http://www.nomuque.net/arteria8/home.html



Possibilidades de leitura e sugestões de propostas para produção de texto Como no caso de “corpo a corpo” e de “o sonho e o escravo”, o poema “portões abrem” também apresenta um apelo político. Produzido em um contexto histórico, o início da década de 1960, no qual despontam conflitos entre patrões e empregados por melhores salários e condições de trabalho, o texto compõe uma passeata verbal. O discurso, o diálogo, as palavras de ordem acabam desencadeando uma abertura por parte dos empregadores: “patrões abrem”. Este poema de Azeredo pode estimular um bom debate nas aulas de português e de história, em um trabalho interdisciplinar bastante rico. Exercícios de produção também são possíveis: os alunos podem fazer um levantamento de outras expressões de ordem, típicas das manifestações, e enfileirá-las em uma grande passeata, explorando a repetição de expressões: a anáfora (recurso estilístico que compreende a repetição de palavras ou de expressões de forma consecutiva). No link, a vocalização da obra pelo autor: http://www.poesiaconcreta.com.br/audio.php?page=9& ordem=asc



Possibilidades de leitura e sugestões de propostas para produção de texto Augusto de Campos, um dos formuladores da poesia concreta, afirma, em seu artigo “Resiste Ro”, que Ronaldo Azeredo (assim como Décio Pignatari) produziu “biopoemas”, ou seja, trabalhos nos quais a vida pulsa. O poema “labirintexto” é uma dessas obras. Trata-se de um mapa afetivo com os lugares por onde o poeta passou desde a infância, unindo, em desejo, as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo e incluindo outros espaços significativos de sua história. A produção foi dedicada a seu “grandioso matriarcado”: mãe, irmãs, esposa e filha. No mapa, podem-se identificar, de cima para baixo (ou da esquerda para a direita), referências à Rua Teodoro da Silva (Vila Isabel, Rio de Janeiro); Rua Mamoré (Jacarepaguá, Rio de Janeiro); Boulevard 28 de Setembro (Vila Isabel); Rua Conde de Bonfim (Tijuca, Rio de Janeiro); Rua Justiniano da Rocha (Vila Isabel); Rua Cândido Espinheira (em Santa Cecília, São Paulo); Paso de Los Libres (Argentina); São João da Boa Vista (município a 229 km de São Paulo); Rodovia Castelo Branco (elo entre Osasco e a capital); Rua Basílio da Cunha (Cambuci, São Paulo); Rua Homem de Melo (Perdizes, São Paulo) e o Oceano Atlântico, banhando a capital paulista. Se os espaços importantes na vida de Azeredo podem, a princípio, dizer respeito exclusivamente a ele e às pessoas que o conheceram, o trabalho que os recupera ganha valor poético ao propor, imaginariamente, além dos três outros locais referidos, a união de duas metrópoles brasileiras – Rio de Janeiro e São Paulo –, em ruas, avenidas, bairros, ligados de maneira ímpar: metonímias de uma história. O percurso traçado pela memória do autor parece suscitar outras geografias: esboçadas pelas lembranças de quem lê. O exercício criativo de elaboração de um mapa, que rebeldemente rompe com o oficial, leva, aí sim, à ampliação das fronteiras do individual. A cartografia delineada passa a não se limitar, pois, à “simples” trajetória do poeta – da rua onde nasceu chegando à Homem de Melo. Passa, enfim, a tocar em questões humanas, comuns a todos: a memória, os

afetos, o espaço-tempo de cada um. Basta alterar as curvas, substituir os nomes, mudar o oceano. Assim, o local torna-se universal; o individual, coletivo. E, do mesmo modo, o mapa, de caráter abstrato, coletivo e geral, abre-se para a significação de cada sujeito, em sua particularidade e concretude. A partir de “labirintexto”, os alunos poderão criar outros mapas sentimentais, recuperando o seu percurso afetivo, encurtando distâncias, concretizando desejos. Basta propor!


Recorte as peรงas do quebra-cabeรงa!


Possibilidades de leitura e sugestões de propostas para produção de texto O quebra-cabeça “armar” é um convite à participação do leitor para a concretização da obra. Assim como Maria e José se unem no jogo do “amar”, poeta e leitor se envolvem no jogo do “armar”. A atividade lúdica da montagem da composição pode, ainda, sugerir novos quebra-cabeças preparados pelos alunos, propondo a união de opostos em outros mosaicos. Brincadeira, diversão e… reflexão!


O QUE O QUE HÁ O QUE HÁ LÁ O QUE HÁ LA VAI O QUE HÁ LA VAI E VOA O QUE HÁ LA VAI E VOA E VOLTA VOLTA E VOA E VAI LÁ HÁ O QUE VOLTA E VOA E VAI LÁ HÁ O VOLTA E VOA E VAI LÁ HÁ VOLTA E VOA E VAI LÁ VOLTA E VOA E VAI VOLTA E VOA VOLTA


Possibilidades de leitura e sugestões de propostas para produção de texto Para a montagem da exposição Ronaldo Azeredo: o mínimo múltiplo (in)comum – uma trajetória poética no Maes, em Vitória, foram convidados três poetas residentes no Espírito Santo que também exploram os aspectos visuais em suas obras e, certamente, revelam alguma influência da poesia concreta produzida a partir da década de 1950: Caê Guimarães, Douglas Salomão e Lúcio Manga. A circularidade, uma constante da produção dos concretos, é apresentada em “partícula”, de Caê Guimarães, em um infinito circular; a exploração da visualidade da letra remetendo a formas da natureza – como acontece com a letra “o” em similaridade com o sol, no poema “rua sol” de Azeredo – aparece na obra “Licantropoiesis”, de Douglas Salomão, em um uivo verbal. A conhecida brincadeira de se retirar as pétalas das flores ao som de “bem me quer / mal me quer”, para se “descobrir” se se é amado ou não, surge no texto de Lúcio Manga, sob uma releitura poética e visual.



Dionísio Del Santo Figura adormecida Serigrafia, 40 x 57 cm 1970

O acervo do MAES é formado, dentre diversos aspectos, por coleções de artistas que estão presentes na história da arte capixaba, tais como Maurício Salgueiro, Raphael Samú, Nice Avanza e Dionísio Del Santo. A coleção de Dionísio, composta por 80 obras, abarca quase toda a abrangência da obra do artista, desde suas xilogravuras figurativas iniciais até sua consolidação na abstração e nos processos serigráficos. Del Santo produziu as primeiras composições de tendência geométrica por volta de 1957. Anos depois se interessou pelas bases teóricas do Concretismo, mas executou pinturas geométricas sem romper definitivamente com a figuração, mencionando ser sua obra menos radical que a dos integrantes do Neoconcretismo. Importante salientar que apesar de o Concretismo na poesia preconizar uma geometrização em conformidade com as disponibilidades gráficas das palavras e de uma composição visual atrelada à semântica, no campo das artes visuais o movimento dialoga sobre os elementos base da abstração: formas, cores e linhas, que discursam sobre si próprios. Ao observar Figura adormecida, serigrafia do artista datada de 1970, percebe-se o estudo e a atenção de

Dionísio na composição de linhas, integrando todo o plano da impressão. As linhas anguladas que envolvem a figura central, “adormecida”, proliferam-se para fora do papel e criam uma vibração que se expande e concentra o olhar no motivo do tema, a mulher deitada. Como se percebe que é uma mulher? A ligeira diferença de tons entre o amarelo e alaranjado a separam do fundo, mas a acomodam numa calmaria que a confortam num sono, aparentemente, profundo. O fundo apenas completa a composição ou seria uma referência para um possível sonho em que a figura estaria imersa? Se mudássemos as cores, criaríamos climas diferentes para a cena? Diversos outros artistas utilizaram, ao longo da história da arte, o tema de uma mulher adormecida. Pesquise em livros ou na internet outras referências, como “O Sonho”, de Pablo Picasso, 1932. Dionísio é reconhecido internacionalmente e compõe importantes acervos públicos do país. Além do MAES, o artista é encontrado nos acervos de arte da Universidade Federal do Espírito Santo, do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, do Museu de Arte Moderna de São Paulo, do Museu de Arte Moderna do Rio, do Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte e de coleções particulares de São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória.




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