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nº 53 outubro 2016

notícias do Museu Municipal de Palmela A NÃO PERDER...

MUSEUS E PAISAGENS CULTURAIS

PEÇA DO MÊS

29 OUTUBRO - VISITA GUIADA 10H00 - Castelo de Palmela (Ponto de encontro – Igreja de Santiago) 14H30 - Centro Histórico - Vila de Palmela (Ponto de encontro – Chafariz de D. Maria I) Visitas orientadas por Voluntário do Museu Municipal de Palmela. Frequência gratuita. Duração: 1h30 Insc.: patrimonio.cultural@cm-palmela.pt | 212 336 640 (limite: 15 inscrições até às 12h de 27 outubro) Org.: Câmara Municipal de Palmela

8 OUTUBRO COMEMORAÇÃO DO DIA NACIONAL DOS CASTELOS 15H00 | CASTELO DE PALMELA Visita encenada ao Castelo (Ponto de encontro - Igreja de Santa Maria, Castelo) Frequência gratuita. Duração: 1h30 Insc.: patrimonio.cultural@cm-palmela.pt | 212 336 640 (limite: 30 inscrições até às 12h de 7 outubro) Org.: Câmara Municipal de Palmela

17H00 | AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE PALMELA Conferência do Dr. Joaquim Boiça Arte, Estratégia e Natureza - A Fortificação da Barra do Tejo (sécs. XVI e XVII) Frequência gratuita Org. Câmara Municipal de Palmela

Castelo de Palmela - Encosta Sul


nº 53 outubro 2016

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A crise dos refugiados de guerra marca a agenda política1. Vem isto a propósito dos 80 anos da guerra civil de Espanha. Foram três sangrentos anos [1936.1939] que abalaram a Espanha, tomaram a Europa e ensombraram Portugal. Tinha começado a II Grande Guerra! À época, muitos foram os que procuraram refúgio neste lado Atlântico, estando ainda por quantificar os milhares que por aqui ficaram2. É desta presença que o Museu nos convoca para, num breve testemunho, recuperar a memória dos que escaparam à geografia nacionalista de Franco. 1936. O Monte de Algeruz, lugar seguro O episódio passa-se em 1936, ano terrífico do conflito3. Após o massacre de Badajoz e o cerco a Madrid (agosto), milhares de republicanos desesperados furaram a fronteira raiana fugindo ao terror4 da coluna de morte do movimento nacionalista. À época, a Herdade de Algeruz pertencia a uma senhora espanhola, Maria Briz Garcia, que confiou a gestão da propriedade ao filho mais velho, Gregório Gonzalez Briz5. Maria Briz Garcia residia em Sevilha com o marido e o seu outro filho mais novo, Fermin Gonzalez Briz6, advogado. «O Fermin foi surpreendido em Madrid pela guerra civil. Não se sabe como …; sabe-se lá o que passou até chegar cá [a Portugal]»7. «D. Fermino chegou aqui [Monte de Algeruz] esfarrapado e em muito mau estado. Estava-se em Agosto, numa daquelas tardes de estio, de muito calor»8. Aqui acolhido pelo irmão, a mãe integrou-o na Sociedade de exploração da Herdade9. Com os múltiplos desafios que a sociedade enfrenta, também a guerra fez disparar o número de refugiados que procuram lugar seguro. Neste Ano Internacional dedicado ao Entendimento Global (IYGU) www.peaunesco.com.br e www.globalunderstanding.info/pt, é tempo de compromissos para uma Cidadania à escala planetária e da construção da sustentabilidade mundial. Do alerta para as questões ambientais e sob a ameaça das alterações climáticas, o enfoque centra-se agora na questão da desertificação, marca associada aos deslocados que, aos milhares, abandonam a sua terra estéril devastada pela guerra. | 2 Pouco documentada, a presença de refugiados da Guerra Civil está por escrever, forçados que foram à mordaça da ditadura de Salazar que se aliou ao regime franquista silenciando esta página da história. | 3 Iniciado com a sublevação militar contra a II República espanhola (da qual o fuzilamento do poeta Garcia Lorca é provavelmente o episódio mais conhecido), o conflito contou com o apoio político de Portugal, da sua elite financeira e do grande empresariato, que assim procurou inverter a ameaça de contaminação dos ideais republicanos e comunistas. | 4 Remetidos ao silêncio durante a ditadura do Estado Novo, são poucos os registos de resistentes publicados em vida. Sobre o assunto, consultar a recente obra documentada de José Ángel Sánchez Asiain, autor da monumental obra sobre o financiamento da Guerra: www.jornalmapa.pt/2014/09/16/ portugal-e-a-guerra-civil-espanhola. | 5 Especializado em enologia em Bordéus (1922 e 1925), Gregório Gonzalez Briz foi o fundador do modelo agro-industrial instalado no Monte de Algeruz, em Palmela. Em 1936, geria a Herdade, através de um contrato de exploração celebrado por sua mãe, em Sevilha (1934). Cf. Arquivo particular da Família Gonzalez Briz, a quem expressamos o nosso agradecimento por nos ter facultado a sua consulta. | 6 Nascido em Portugal, com dupla nacionalidade, Fermin Gonzalez Briz [1907. 1988] estava à época, domiciliado em Sevilha. Idem, Ibidem. | 7 Maria Manuela Gonzalez Alvarez Briz [1925]. Entrevista a Maria Leonor Campos/Museu Municipal-NMVV, 2004. | 8 Fernando Loureiro [1945]. Antigo trabalhador da Herdade, refere ter ouvido contar esta história aos mais velhos que ali trabalhavam. Entrevista a Maria Leonor Campos/Museu Municipal-NMVV, 2004. | 9 O Setubalense, Diário Republicano da Noite, 12.5.1937, p. 2-4. 1

Fermin Gonzalez Briz (Cartão de filiado na Acção Republicana. Madrid, 13 de Janeiro de 1933) Fotografia: Adelino Chapa, 2005


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Designação: Planta da Herdade de Algerus e Outras Propriedades Pertencentes à Exma Sra D. Maria Briz Garcia Proveniência: Herdade de Algeruz (Palmela) Inventário: MMP/NMVV 2005.04.130 Matéria: Suporte papel, de cor amarelada, tipo velino, com desenho a tinta-dachina e pintura com aguada colorida Cronologia: s.d. [anos 50 do século XX] Dimensões: 1950x1500 mm. Escala: 1/5000 A «Planta da Herdade de Algerus e Outras Propriedades Pertencentes à Exma Sra D. Maria Briz Garcia»10 é uma representação cartográfica, único documento que perdurou do antigo arquivo empresarial do Monte de Algeruz. Foi oferecida ao Museu por João Filipe Vinhas Barroso, atual proprietário do antigo Monte de Algeruz. Mapa temático de notação com características específicas, mapeia e referencia os limites e usos do solo, identificando as manchas de ocupação, as parcelas de cultivo e o tipo de culturas, assinalando ainda os dois colonatos, o «antigo» e o «moderno». BIBLIOGRAFIA Arquivo Particular da Família Gonzalez Briz, 2005. CAMPOS, Maria Leonor (2005), A Herdade de Algeruz- História e Património [1846.1986]. Palmela: Câmara Municipal (policopiado). Diário de Lisboa, Ano 16.º 1936 (16, 17, e 18 de agosto). Crónicas de Mário Neves (jornalista) LOFF, Manuel (2006), «A memória da Guerra de Espanha em Portugal através da historiografia portuguesa», in Ler História, 51, pp. 77-131. SIMÕES, Maria Dulce Antunes, «Os Refugiados da Guerra Civil de Espanha em Barrancos. A acção e o tempo do acontecimento», consultado em: www.academia.edu/1615354/ (junho de 2016) //lerhistoria.revues.org/609 (julho de 2016) //entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2012/08/o-massacre-de-badajoz (julho 2016) 10 Presume-se, na ausência de outra informação, que a encomenda da Planta tenha surgido da necessidade de documentar o património da Herdade no âmbito da reformulação do contrato da Sociedade Agrícola de Algeruz (1947). O documento, encontrado em avançado estado de degradação, foi sujeito, no âmbito de uma ação de conservação preventiva desenvolvida pelo Museu Municipal, a uma intervenção de limpeza e restauro (2005) da responsabilidade da Oficina Mão-de-Papel – Conservação e Restauro de Obras de Arte, Lda., e, posteriormente, em 2006, novamente sujeito a uma intervenção de consolidação.


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