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nº 41 agosto 2015

notícias do Museu Municipal de Palmela A NÃO PERDER...

MUSEUS PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL

PEÇA DO MÊS

A NÃO PERDER 1 AGOSTO 10H00 | Visita guiada ao Castelo de Palmela Ponto de encontro - Igreja de Santiago 14H30 | Visita guiada ao Centro Histórico - vila de Palmela Ponto de encontro - Chafariz de D. Maria I Visitas orientadas por voluntário do Museu Municipal de Palmela Frequência gratuita. Duração: 1h30. Limite de inscs.: 15 (até às 12h de 30 julho) Inscs.: patrimonio.cultural@cm-palmela.pt | 212 336 640 Org.: Câmara Municipal de Palmela e Dr. António Lameira

Se não puder comparecer na visita programada para dia 1, sugerimos, mesmo assim, que aproveite os dias mais compridos para uma visita ao Castelo de Palmela. Entre nas galerias que narram parte da história do concelho através da leitura dos achados arqueológicos; visite o Espaço de Transmissões Militares; contemple a Igreja de Santiago – identifique, por exemplo, as marcas de canteiro inscritas nas colunas e observe a réplica das tábuas renascentistas do antigo retábulo-mor que evocam a Vida e Obra de Santiago; suba à Torre de Menagem. Deixe-se contagiar pela paisagem. Sinta a imensidão do que vê! No Posto de Turismo poderá solicitar o apoio dos Audioguias cuja informação se estende, também, ao Centro Histórico da vila. Se tiver oportunidade, não deixe de explorar um dos vários trilhos que temos disponíveis. Boas Férias! Paisagem do Castelo de Palmela para Sul: a costa alentejana a perder de vista, a península de Tróia, cidade de Setúbal, o Parque Natural da Arrábida


nº 41 agosto 2015

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Os blocos de adobe [barro cozido ao sol] formavam, outrora, as paredes que abrigavam as famílias que neste território se fixavam, desenhando a ocupação humana de parte do concelho de Palmela. Pelos caminhos que percorremos, não é difícil distinguir uma destas habitações, mencionadas no Inquérito à Arquitetura Popular em Portugal, editado pelo Sindicato Nacional dos Arquitectos, em 1961. Algumas destas casas, que definimos como de tipologia «caramela» por terem sido construídas pelos Caramelos – ranchos de migrantes que se deslocavam para a região para trabalhar nas várias culturas agrícolas - foram adaptadas e acolhem, ainda, quem as habita. Outras resistem, sós, como memórias de tempos e de vivências que se esgotaram. Contudo, assistimos nas últimas décadas ao resgate da Arquitetura de Terra crua. Estamos, hoje, conscientes de que o benefício da sua utilização faz a diferença no impacto do Homem no planeta (http://www.arquitecturadeterra.com). A recuperação desta técnica de construção, especificamente no concelho de Palmela, traduz-se, ainda, numa evocação de parte da nossa identidade e da nossa história. «Havia por exemplo, numa fazenda uma nódia [parcela de terreno de barro], como há em quase todas as fazendas - um bocado de terreno diferente dos outros. E aquilo havia um quadrado de terreno que era barro. Esse barro era cavado para um monte com uma enxada e depois, no fim de estar cavado, era carregado com carretas (…) e depois plantava-se no sítio mais ou menos indicado onde é que a gente podia estender os adobes. (…) Punha-se com água. Era amassado com os pés. Com os pés, a gente a pisar, duas ou três pessoas, quatro, a pisar o barro. Até havia uma altura que os miúdos, vá lá, de sete ou oito anos que haviam de andar na escola, andavam a fazer aquele trabalho. (…) E depois, no fim do barro estar amassado, tinha-se uma adobela - chamava-se uma adobela, que é um retângulo em madeira (…) Alisava-se o chão direito para não ficar aos altos e aos baixos, colocava-se a adobela cheia de barro, era pisada para não ficar rota. (…) no fim daquilo estar amassado levantava-se a adobela, ficava o quadradozinho do barro que era o adobe. Depois estava ali oito dias naquela posição e enxugava. No fim de estar seco, ia-se lá, levantava-se ao alto o adobe. Raspava-se a terra (…) ficava tudo assim direitinho, os adobes todos pegados uns nos outros. E depois iam as carroças e carretas, carregava-se isso para o local onde é que a gente queria fazer as casas, punha-se tudo em pilha à mesma, direitinhos, e depois ali formavam-se os ditos caboucos. (…) Tornava-se a pôr aquela camada de adobe, subia para cima, levava uma camada de barro outra vez por cima daquele adobe, tornava-se a pôr outro adobe em cima e assim se construía a casa.» Joaquim Cavaleiro, 72 anos, Arraiados, Palmela, 2003

Aspeto do interior da recriação de uma casa caramela, no núcleo museológico dedicado a esta temática, na Quinta Caramela da Fundação COI, Palhota.


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Designação: Porta de uma casa de tipologia caramela Proveniência: Palmela Inventário: (MATRIZ) MMP.2005.04.164 Matéria: Madeira, metal Cronologia: início do século XX Dimensões: altura 1860 mm; largura 635 mm; espessura 18 mm Estrutura que faculta o acesso a uma divisão no interior da habitação. Painel retangular com duas listas verticais, que aparentam dividi-lo simetricamente. A frente, de cor amarela, tem duas listas longitudinais verdes. A traseira, de madeira tratada. Tem um puxador de ferro fundido, no lado esquerdo, em forma de onda, próprio para entrelaçar dos dedos aquando do movimento de rotação do mesmo. No verso, três travessas horizontais que recebem o mesmo número de dobradiças. A travessa central é mais curta para dar lugar ao ferrolho de metal, que se move por meio de um movimento ascendente/descendente. O travamento do ferrolho é feito por meio de uma anilha quadrada, inserida num parafuso quadrangular, com rosca, sem cabeça. Peça recolhida de um complexo de habitações rurais (fazenda) que, já não estando habitada, corria o risco de ruir com todo o mobiliário no seu interior. O receio de que não resistisse ao inverno seguinte levou a que o proprietário doasse o acervo ao Museu Municipal. Bibliografia ANDRADE, Paula Maria Cruz - Pinhal Novo: movimentos migratórios dos “caramelos”, povoamento e construção de uma identidade cultural. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa, 2006. Dissertação de Mestrado em Estudos Portugueses – Culturas Regionais Portuguesas. CABRITA, José António - Entre a gândara e a terra galega. Pinhal Novo: Junta de Freguesia de Pinhal Novo, Colecção Origens e Destinos, n.º 2, 1998. IDEM - José Maria dos Santos. E antes de grande agricultor?. Pinhal Novo: Junta de Freguesia de Pinhal Novo, Colecção Origens e Destinos n.º 3, 1999. CABRITA, José António; SOUSA, Aníbal - Rio Frio, retrato de uma grande casa agrícola. Pinhal Novo: Junta de Freguesia de Pinhal Novo, Colecção Origens e Destinos, n.º 8, 2006. DIAS, Mário Balseiro - Círios de Caramelos. Pinhal Novo: Junta de Freguesia de Pinhal Novo, Colecção Origens e Destinos, n.º4, 2000. FARINHA, Tiago, et all. – As Casas Caramelas. Arquitectura e História da Construção. Junho, 2004. FORTUNA, António Matos (1930-2008) – Memórias da Agricultura e Ruralidade do Concelho de Palmela. Palmela: Câmara Municipal, 1997. RIBEIRO, Orlando; LISBOA, J. Ribeiro – As transformações do povoamento e das culturas na área de Pinhal Novo. Pinhal Novo: Junta de Freguesia de Pinhal Novo, Colecção Origens e Destinos, n.º 1, 1998. SAMPAIO, Teresa - «Memórias do habitar – Arquitectura e Vivência Caramela», in Boletim +Museu,n.º(s) 4 e 5, 2005. Palmela: Câmara Municipal, Museu Municipal, 2005. SAMPAIO, Teresa – A apropriação do apelativo Caramelo na Construção Identitária do Pinhal Novo. Lisboa: ISCTE, 2009. Tese de mestrado. Disponível em: https://repositorio.iscteiul.pt/handle/10071/1467 SOUSA, Aníbal de (1988) - «Pinhal Novo - um breve retrato», in História de Palmela ou Palmela na História. Palmela: Câmara Municipal, 1988. p. 169 - 183.

Fotografia: Bruno Damas, 2014


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