n.º25 fevereiro 2014
notícias do Museu Municipal de Palmela MEMÓRIA + CRIATIVIDADE = PROGRESSO SOCIAL
Arrábida em destaque A Arrábida reveste-se de diferentes cores consoante a estação do ano que a habita. O Inverno, mais sombrio, preenche as serras e vales com o manto de nevoeiro que muitas vezes isola e cobre a vida, que continua a brotar. O balir das ovelhas, ao longe, é disso indício. É sinal de pastagens pujantes que não se vergam ao frio e que teimam em alimentar os rebanhos. Assim tem sido ao longo dos tempos. Assim é em Quinta do Anjo nos dias de hoje. «É assim como hoje… para as sete, sete e pouco começo a ordenhar. Quando é oito horas, oito e pouco, vou levar o leite. Depois venho, solto-as. Se não der muito calor quando for aí dez e meia, prendo-as. Se não é aí perto do meio-dia. Venho almoçar e depois quando for, o mais tardar, cinco horas solto-as outra vez. Até oito, nove horas (…) Agora de inverno é que há mais trabalho. De inverno tem que se fazer as camas todos os dias, dar palha todos os dias. É dar de comer aos borregos se tiver borregos aí presos. (…) Elas são umas cento e quinze. Cento e dezassete, parece-me. (…) Só está aí uma que está batizada, e é aí a chiba pequena. Mas isso foi um rapaz que vem aí, volta e meia, que batizou a chiba de Jagunça. E está aí uma ovelha que anda sempre à frente, que é a Gansa. (…) Não tenho paciência para estar fechado. Tanto que eu nunca estou em casa. Só estou em casa mesmo para almoçar, depois venho-me logo embora. E é jantar e dormir, de resto nunca estou em casa. Estou mais tempo aqui na malhada do que estou em casa. […] Também tenho sempre coisas para fazer aí com fartura.» Jorge Santos, Pastor, 20 anos, Quinta do Anjo, 2013 Entrevista realizada no âmbito da investigação sobre Património Imaterial da Arrábida
Pastor, Quinta do Anjo, Foto de José Artur Leitão Bárcia, primeira metade do século XX.