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nº 43 novembro 2015

notícias do Museu Municipal de Palmela A NÃO PERDER...

MUSEUS PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL

PEÇA DO MÊS

A NÃO PERDER 14 NOVEMBRO 10H00 | Visita guiada ao Castelo de Palmela Ponto de encontro - Igreja de Santiago 14H30 | Visita guiada ao Centro Histórico - vila de Palmela Ponto de encontro - Chafariz de D. Maria I Visitas orientadas por voluntário do Museu Municipal de Palmela Frequência gratuita. Duração: 1h30 Limite de inscs.: 15 (até às 12h de 12 novembro) Inscs.: patrimonio.cultural@cm-palmela.pt | 212 336 640 Org.: Câmara Municipal de Palmela e Dr. António Lameira

Castelo de Palmela.


nº 43 novembro 2015

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MUSEUS PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL

PEÇA DO MÊS

Em outubro, aconteceu o VII Encontro sobre Ordens Militares «Entre Deus e o Rei. O mundo das Ordens Militares», organizado pela Câmara Municipal de Palmela. Com um balanço bastante positivo, reuniu no mesmo espaço cerca de setenta conferencistas, de doze países, que partilharam o seu conhecimento sobre esta matéria. Pedimos à arqueóloga Isabel Cristina Ferreira Fernandes que partilhasse connosco as memórias de uma vida dedicada ao estudo da Ordem de Santiago. O seu contributo, na área da investigação, tem sido responsável pela interpretação dos vestígios arqueológicos e pelo aprofundamento do conhecimento de parte da nossa história. Porque é precisamente o conhecimento adquirido que sustenta a construção de uma sociedade sustentável. «Corria o verão de 1997. A Praça de Armas do castelo estava irreconhecível devido aos trabalhos arqueológicos: o solo desventrado mostrava, a quem passava, muros, silos, fossas, sepulturas. A História da fortaleza ia-se fazendo a partir dos restos que a terra escondia. Um grupo de jovens, de pico, pá e pincel na mão, escavava comigo o espaço nobre do castelo, onde há muitos séculos se haviam instalado governadores, comandantes e soldados do tempo dos muçulmanos. Então e os vestígios da Ordem de Santiago? – perguntávamo-nos. Um belo dia, quando estávamos a escavar uma sepultura da primeira época portuguesa, um dos jovens aprendizes de arqueólogo gritou: “Está aqui uma coisa de metal em cima das costelas deste esqueleto!” Acorremos todos, alvoraçados: começava a ficar à vista, por entre a terra e os ossos que enchiam a caixa sepulcral, uma pequena peça em forma de concha de vieira, verde escura, com uma cruz ao centro e caracteres inscritos. O nosso entusiasmo era tão grande como o nosso espanto. Acabávamos de encontrar o enterramento de um freire-cavaleiro da Ordem de Santiago, ali depositado nos finais do século XII ou inícios do XIII com uma insígnia presa ao manto que vestia. A cruz-espada sobre a vieira, símbolos associados ao culto ao santo e à Ordem, eram acompanhados, na orla da insígnia, por uma inscrição em que se lia: “Signum Ordinis Sancti Iacobi” (Insígnia da Ordem de São Tiago). Foram assim os meus primeiros momentos de contacto com os vestígios inequívocos da Ordem de Santiago no castelo. Comprovou-se depois que houve ali um primitivo convento dos freires, com a sua capela e cemitério e a História passou a contar com a certeza de que a Ordem organizou, a partir de Palmela, a defesa da fronteira com os territórios islâmicos a Sul e a preparação da conquista de Alcácer do Sal, em 1217.» Isabel Cristina Ferreira Fernandes, arqueóloga, setembro, 2015

Sepultura do freire-Cavaleiro, com insígnia da Ordem de Santiago (finais do século XII – Inícios do século XIII). Alcáçova do Castelo de Palmela.


nº 43 novembro 2015

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MUSEUS PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL

PEÇA DO MÊS

Designação: São Tiago Apóstolo Portugal; oficina de Coimbra, Diogo Pires o Velho (atrib.) Inventário: Nº 988 Matéria: Pedra Cronologia: Século XV, 2ª metade Dimensões: 113 cm Propriedade: Museu Nacional de Arte Antiga (em depósito no Museu Municipal de Palmela) Peça que integra a Reserva Visitável de Escultura São Tiago, propriedade do Museu Nacional de Arte Antiga, depositada no Museu Municipal de Palmela, onde pode ser visitada através de marcação prévia. São Tiago surge nesta imagem representado com a duplicidade dos seus atributos de Apóstolo, conservando o Livro fechado encostado ao corpo, e de Peregrino, com a cabeça coberta pelo chapéu, a sacola de cabedal a tiracolo e apoiado no bordão, símbolos da sua viagem evocada retoricamente pela presença das vieiras relevadas sobre o centro da aba do chapéu e sobre a bolsa. Com os seus pés descalços traz à memória não só a humildade do peregrinar, como também simboliza o primeiro dos caminhos do Apóstolo da Terra Santa à província da Hispânia, na finis terrae, inaugurado pela viagem do seu próprio corpo até ao local da sepultura (translatio) que veio a ser o mais importante centro de peregrinação do Ocidente da Cristandade. Estática, a imagem transmite uma intensa serenidade introspectiva, apelando à peregrinação interior que os cristãos do final do séc. XV eram chamados a fazer de acordo com as formas espirituais da devotio moderna, contemporâneas da produção desta escultura*. BIBLIOGRAFIA PEREIRA, Fernando António Baptista e outros - A Ordem de Santiago - História e Arte. Catálogo da Exposição “O Castelo e a Ordem de Santiago na História de Palmela”, Palmela: Câmara Municipal, 1990, p. 145 *ANDRADE, Sérgio Guimarães e outros - «S. Thiago Discipulo de Jezus e fêz guerra contra os Mouros» - Catálogo da Exposição, Palmela: Câmara Municipal/ Divisão de Património Cultural, 1998, p.30 SERRÃO, Vítor e MECO; José – Palmela Histórico-Artística. Um inventário do Património concelhio, Palmela/Lisboa: C.M. Palmela/Ed. Colibri, 2007, p.34

Fotografia: Colin Paulson e António Nascimento/ Museu Municipal de Palmela


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