Espaço Cidadão: Fragmento a Fragmento, o que a Arqueologia nos diz!

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Espaço Cidadão: A Evolução Histórica e Arquitectónica do Edificado Os resultados das intervenções arqueológicas, realizadas entre 2011 e 2015, forneceram informação relevante sobre a sequência ocupacional do edifício e área adjacente, revelando vários elementos arquitectónicos do edifício original e das fases subsequentes. Os mais significativos foram preservados e musealizados, mantendo-se como testemunhos das sequências e técnicas construtivas dos séculos XIV a XX.

A Diacronia Ocupacional do Espaço Cidadão. Os Três Momentos Históricos. Os séculos XIII/XIV-XV - Período Tardo-Medieval e Moderno

Os séculos XV-XVIII - Período Moderno

Os vestígios mais antigos surgem associados ao silo, identificado na base desta sala, e às estruturas existentes na parede entre a sala 1 e 2, que reunia o melhor conjunto de informação deste período.

Momento histórico melhor representado, tanto a nível estrutural como de contextos arqueológicos, com inúmeras portas e janelas, que se multiplicavam nas paredes da casa, apresentando negativos de trancas, mesmo nas salas internas. Seleccionaram-se os exemplares mais relevantes, para ficarem visíveis no interior e exterior do edifício.

O edifício original foi parcialmente escavado no arenito, como evidenciava o arco escavado na rocha, associado a um motivo cruciforme gravado. Durante a Época Moderna, esta abertura foi entaipada em duas fases distintas, dando lugar a uma janela quadrangular, depois totalmente encerrada. Este arco serviu de suporte a um novo arco de maiores dimensões, composto por blocos de arenito. Este primeiro arco evidenciava ainda o nível de piso do primitivo edifício.

Propomos que complemente a sua visita explorando, com um olhar mais atento, a exposição permanente «Fecha-se uma porta, abre-se uma janela. Espaço Cidadão – evolução histórica do edificado». Textos e imagens da exposição: João Nunes, Eduardo Porfírio e Michelle Santos. Os autores dos textos escrevem ao abrigo do antigo acordo ortográfico.

Na parede Este, no exterior do edifício (junto ao Mercado Municipal) é visível a sua porta de entrada original, em arco quebrado executado em tijolo de arestas biseladas. No interior, no andar superior, preserva-se outra porta com as mesmas características arquitectónicas (porta de arco quebrado). As estruturas arquitectónicas que compunham a sala 5 (1.º andar) distinguiam-se do restante conjunto. Neste compartimento, assinalamos a pequena porta ou passagem, moldurada com o topo a apresentar uma protuberância ao centro, próximo das janelas manuelinas, sem qualquer outro motivo decorativo associado. Curiosamente, esta porta/passagem vai estreitando da base até ao topo, e a pedra de soleira, intensamente gasta, a par das várias camadas de cal que a revestiam, denunciam uma longa utilização. Paralelamente, no canto Oeste existia outra porta similar, mas de maiores dimensões. Terão servido para distinguir quem entrava e por onde, nesta sala?

As estruturas e os materiais arqueológicos subsistiram ocultos nas paredes e no subsolo, desde o período Tardo-Medieval, sofrendo profundas alterações arquitectónicas no período Moderno e no período pós-terramoto de 1755. Estes vestígios combinados com documentação histórica permitem, reconstruir passo a passo a evolução da estrutura urbana e social da Palmela Medieval e Moderna. Alguns dos elementos arquitectónicos identificados no edifício, parecem relacionar-se com a presença da comunidade cristã-nova de Palmela e as suas práticas religiosas, referida no século XII no Foral dos Mouros Forros, que determina os direitos e deveres das comunidades muçulmana, cristã e judaica. Em Época Moderna, a permanência da comunidade judaica – possível comuna - é também confirmada pelos processos da Inquisição do Santo Ofício.

No lado oposto da mesma parede, documentou-se um pequeno nicho de formato rectangular alongado, dividido em duas secções assimétricas. A sua base irregular surge enegrecida e queimada, e as suas paredes estão revestidas por inúmeras folhas de cal, denunciando a sua longevidade. Numa das paredes junto à base, observa-se um motivo epigráfico esboçado a carvão.

Centrado entre as duas portas, encontrava-se um possível «armário de parede»(?), também moldurado e seccionado em duas partes. Apresenta uma configuração trapezoidal, semelhante à janela que se mantém na fachada, com paralelo próximo, no Convento de Jesus, em Setúbal, datada do século XV.

Pequeno nicho votivo

Motivo a carvão registado no interior do nicho

Pós-terramoto de 1755 (final do século XVIII ao século XX) Todos os contextos arqueológicos pré-existentes são profundamente afectados pelas reformulações deste período. Os pisos das salas 1 e 2 são rebaixados e alteradas as altimetrias do espaço habitacional, erguendo-se um novo arco em tijolo, na mesma parede, onde já existiam os dois anteriores. No sótão, existia gravado e inserido num medalhão, o dia 29 de Maio de 1867. Esta parede das salas 1 e 2 permite assim uma leitura sequencial do edifício, desde a Baixa Idade Média, culminando no último quartel do século XIX.

Silo

Na casa do grande produtor e armazenista de vinho e azeitona, o Sr. Manuel Joaquim Oliveira Parrantónio existiam praticamente, em todas as salas do piso térreo buracos de poste e pequenos encaixes, relacionados com o funcionamento da Adega, para suporte/assentamento dos tonéis de vinho. Destacavam-se ainda, no interior da casa, os vestígios da Oficina do Flávio, subsistindo no piso da sala a gravação «FLAVIO 19 (…)». Porta/passagem moldurada e «armário de parede»

Parede dos arcos e cruciforme

Detalhe do «armário de parede».

A picagem das fachadas do edifício revelou a uniformização arquitectónica que o mesmo sofreu, possivelmente no séc. XIX, com a abertura de novos vãos que invalidavam, total ou parcialmente, as janelas e portas anteriores.

*Os elementos musealizados em áreas de acesso reservado podem ser observados através de visitas orientadas pelo Museu Municipal mediante marcação prévia. Informações: património.cultural@cm-palmela.pt | contacto telefónico: 212 336 640


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