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INTERNACIONAL O homem por trás do Music Group
O homem por trás do Music Group
Nesta entrevista com Uli Behringer, CEO do importante núcleo de empresas chamado Music Group, descobriremos dados sobre a história e a vida do empresário — e músico — que dirige esse grande negócio M uitos conhecem Uli Behringer, uma famosa figura do setor que aos poucos foi conquistando espaço na indústria como profissional e empresário, e encabeça atualmente a holding Music Group, proprietária das marcas Behringer, Bugera, Midas, Turbosound e Klark Teknik.
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A empresa já celebrou seu 25º aniversário, marcando um grande marco na sua história. “Estou muito orgulhoso dos nossos logros nos últimos 25 anos, e logicamente também dos nossos incríveis funcionários. Muitos deles têm trabalhado conosco por 20 anos”, reconheceu Uli, que desde seu nascimento, na Suíça, esteve rodeado por música, tecnologia e inspiração.
Em 1982, mudou-se para a Alemanha para estudar engenharia em áudio e piano clássico, e foi durante seus estudos para se tornar engenheiro que percebeu a falta de equipamento para estudantes. Como continua a história? Leia tudo aqui.
Como decidiu fundar a Behringer?
Naquele momento, quando éramos estudantes, o equipamento disponível era escasso, e o custo estava fora do alcance de simples mortais como nós.
Sendo só um estudante, o único dinheiro que tinha era o que ganhava como pianista, então não tinha como adquirir esse caro equipamento. Um dia, um amigo trouxe uma mesa de mixagem para consertar, e quando a abri percebi que o custo de todos os componentes era de apenas US$ 200, mas o console era vendido por US$ 2.000. Isso me deixou louco, pois senti que era muito injusto pedir tanto dinheiro para um músico.
Foi aí que comecei a fazer algumas peças de equipamento. No começo, só para uso pessoal e depois para alguns amigos, cobrando uma pequena quantia por essas unidades. Começaram a circular boatos de que meus aparelhos soavam muito bem e a um preço razoável. De repente, todos os meus colegas queriam ter um e, para minha surpresa, já tinha vendido dez unidades sem sequer começar a construí-las. Como resultado, rapidamente transformei meu apartamento em uma ‘fábrica’.
Soube, naquele momento, que minha missão pessoal seria defender os músicos e criar equipamento de áudio ótimo e com preços acessíveis para que eles pudessem seguir uma carreira musical. Atualmente, nada mudou, exceto que minha missão pessoal virou a filosofia da nossa companhia.
Tendo fundado a empresa na Alemanha, por que decidiu levar a produção para a China?
No começo não tinha muito capital para financiar a produção, então, para poupar dinheiro, sempre estava atento aos componentes restantes. Havia uma loja local na nossa área que comprava estoques restantes da Siemens,
Uli Behringer
Philips e de outras companhias, e os oferecia a preços muito baixos.
Passei a ser um dos seus clientes regulares, e a ‘Lista de Restantes’ desse vendedor virou meu jornal. Era evidente que esses componentes de fato vinham do Extremo Oriente, então decidi pesquisar como ir direto à fonte. Pouco tempo depois, estávamos importando componentes da Ásia, e o passo logístico seguinte foi transferir a produção para onde eram feitos os componentes.
Há quase 25 anos mudamos a produção para a China. Acho que fomos os pioneiros, mas tivemos muitos desafios, começando pela comunicação, a proximidade física e a realidade de uma cultura completamente diferente.
O quanto a China é sustentável?
Há 24 anos, quando mudamos pela primeira vez nossa produção para a China, o país era considerado um lugar de baixo custo. Por ser a Behringer a primeira empresa a fazer isso, tivemos uma enorme vantagem competitiva. Hoje todos estão na China e nossa vantagem inicial sumiu. Com salários aumentando 20% por ano, a China se tornou um lugar de fabricação caro. E agora segue o quê? A Coreia do Norte? Você tem de entender que o custo de fazer negócios depende de vários fatores e a mão de obra é só uma pequena parte.
Há quase 12 anos investimos enormes quantias de dinheiro na criação da ‘Cidade Behringer’, uma planta de fabricação totalmente de nossa propriedade, que inclui quartos e instalações como campo de basquete e até um hospital. O motivo principal para construir nossa própria planta era manter o controle da qualidade dos produtos, o que pode ser um desafio quando você trabalha com um subcontratante.
É por isso que fabricamos quase tudo. Embora não seja sempre mais econômico produzir tudo in house, basicamente resulta em maior qualidade e em um produto mais consistente.
Agora estamos planejando a próxima fase de crescimento, com a planta de fabricação Music Group City, que terá cerca de quatro vezes o tamanho dos nossas instalações na Cidade Behringer. Isso é necessário para acomodar o forte crescimento de vendas que estamos tendo, além do espaço adicional para futuras aquisições do Music Group.
Filosofia de produtos
Todo o lucro do Music Group é reinvestido na visão e no futuro da companhia. Só nos últimos três anos, foram investidos mais de US$ 20 milhões no mais sofisticado equipamento de fabricação — desde máquinas SMT (Surface Mount Technology) de alta velocidade a scanners de inspeção óticos, testes de circuitos internos e de raios X, o que inclui um inventário massivo de aparelhos de teste da Audio Precision.
Conte mais sobre a fabricação…
Controlamos todos os aspectos comerciais e de qualidade, o que compramos e o que usamos. Desse modo, temos controle total sobre as aquisições, sua qualidade, a qualidade dos nossos processos de fabricação e o controle de qualidade final. Segundo a nossa filosofia, todo benefício de custo é reinvestido no negócio, e isso resulta em produtos melhorados a preços ainda mais acessíveis.
Também é uma grande vantagem ter os departamentos de R&D e fabricação integrados. Os engenheiros de R&D adoram ter uma fábrica funcional na porta ao lado. Isso também conta com o apoio de um enorme investimento no controle de qualidade e em procedimentos de teste confiáveis, tudo feito nas nossas instalações por um grande grupo de engenheiros britânicos que moram na Music Group City.
O que você pode dizer sobre o controle de qualidade?
A Behringer produz cerca de 5 milhões de unidades por ano e essa é uma responsabilidade enorme, porque os riscos associados são muito maiores. Existe un velho ditado que diz: “Quanto maior o volume de produção, mais importante é
Embora não sempre seja mais econômico produzir tudo in house, basicamente resulta em maior qualidade A nova Music Group City, construída em um terreno de mais de 900 mil m²
ter a melhor qualidade”.
Imagine que se um só componente tivesse algum problema, e se ele fosse usado em todos os produtos, poderia estragar facilmente a empresa inteira. É por isso que tomamos medidas extremas para garantir o mais alto compromisso com a qualidade. Temos centenas de funcionários cuja tarefa é levar cada componente além dos seus limites. Temos desenvolvido máquinas especiais para girar potenciômetros, ou mover faders e switches, através de milhares de ciclos até o ponto de destruição. Fazemos isso para estabelecer a média de vida operativa máxima de qualquer componente dado, muito antes de ser aprovado para usar em produção.
Criamos e construimos ‘câmaras de tortura’, onde castigamos os componentes e unidades terminadas com água salgada corrosiva, calor extremo e umidade sufocante. Temos mesas que se mexem e vibram, e um aparelho de teste de quedas para executar o máximo teste de força. Isso consome tempo e dinheiro, mas vale a pena.
Como será a Music Group City?
Quando estiver totalmente finalizada, será um centro de R&D e fabricação totalmente automatizado de US$ 100 milhões na Província de Zhongshan, o segundo tipo de comunidade criado pela companhia e o lugar de trabalho projetado para umas 10 mil pessoas.
De fato, a operação asiática do Music Group contém tanto a fabricação quanto o R&D, que se integram uniformemente com os nossos ‘Centros de Excelência’ europeus. Achamos que isso é importante para os nossos clientes, pois eles são o nosso bem mais valioso. Nosso objetivo é fornecer o que há de mais moderno em acessibilidade e visibilidade da nossa organização.
E os centros de R&D?
O R&D é a joia da nossa empresa e eu dirijo esse setor pessoalmente. Com mais de 300 engenheiros no mundo todo, posso dizer que temos a maior equipe de pesquisa na indústria do áudio.
Escolhemos o Reino Unido e a Alemanha para serem os nossos ‘Centros de Excelência’ de R&D. Como berços de muitas marcas de áudio famosas, esses dois territórios oferecem uma grande herança e muito talento surpreendente. Vemos a nossa Divisão Profissional como líder em IP e inovação e, para ser honesto, vanguardista na indústria.
O Music Group já gastou US$ 5 milhões para comprar o edifício de R&D em Manchester e aumentamos a nossa equipe de trabalho dos oito funcionários originais para mais de 70 em menos de três anos (e mais 20 que serão contratados). A operação da Turbosound foi transferida a Kidderminster, junto com a Midas e a Klark Teknik, com o restabelecimento paralelo da Turbosound R&D também em Manchester.
Mercado e marcas
A holding possui várias marcas reconhecidas na indústria do áudio e da música, sendo elas: Midas, de mesas de áudio, adquirida em dezembro de 2009 junto com a Klark Teknik, de produtos de processamento de sinal tanto digital quanto analógico; Turbosound, de sistemas de alto - -falantes profissionais e que entrou no grupo em 2012; amplificadores Bugera para guitarra e baixo e, finalmente, a Behringer (incluindo os produtos Eurocom), com sua ampla variedade em equipamento para áudio profissional, como consoles de mixagem, compressores, amplificadores, processadores de sinal, alto-falantes e muito mais.
Mais recentemente foram adquiridas
Laboratório próprio de Segurança e Certificado FCC na Music Group City Linha de fabricação Máquinas SMT montam até dez componentes por segundo
as marcas do TC Group, somando Tannoy (alto-falantes profissionais), Lab Gruppen (amplificadores de áudio) e Lake (processadores).
Como você se encarrega das diferentes marcas do grupo?
Empregamos mais de 3.500 pessoas e temos escritórios no mundo inteiro. Isso requer sistemas excelentes e uma ajustada infraestrutura de direção. Por muitos anos temos nos focado em construir processos que pudessem ser expandidos para atingir a eficiência correta.
Há alguns anos, quando a nossa organização cresceu, formamos uma organização guarda-chuva chamada ‘Music Group’, que serve como condutor das nossas marcas. Está baseada em duas estruturas operacionais bem separadas. Por um lado, temos o que poderíamos chamar ‘valores operacionais comuns’ ou ‘serviços compartilhados’, tais como sourcing, fabricação, logística, tecnologia de informação, finanças etc.
Por outro lado, temos divisões que se encarregam do cliente com as marcas de áudio profissional e a divisão Prosumer com Behringer e Bugera. São divisões distintas e separadas, com suas próprias identidades e infraestruturas, tais como R&D, vendas, marketing, distribuição de canais — inclusive fabricação de meia escala. Tudo isso se combina para que cada uma seja independente e possa manter o valor da marca. Essa separação é fundamental, pois os valores das marcas são diferentes.
Quais são os maiores mercados para a empresa atualmente?
Honestamente, todos os negócios e as marcas do Music Group estão crescendo. Todos falam sobre os mercados emergentes, e essa é certamente uma grande área de crescimento. A China e a Índia estão se desenvolvendo e estamos experimentando enorme crescimento nesses países. Temos experimentado um crescimento rápido em tempos desafiantes, pois as pessoas escolhem a proposição de melhor valor.
Sem surpresa nenhuma, e apesar dos desafios econômicos em determinados mercados, vemos um crescimento muito forte na América Latina e continuamente investimos nas melhores pessoas, sistemas e processos para garantir a satisfação ou superar as expectativas dos clientes.
O mercado latino é um grande mercado para nós, pois lá existem muitos músicos talentosos e muita música ao vivo. Sempre que tenho a oportunidade de visitar a região, tento tocar e improvisar com os músicos locais.
O Music Group adquiriu companhias famosas como Midas, Klark Teknik e Turbosound — e mais recentemente Tannoy, Lab Gruppen e Lake. Quais foram os motivos?
Há cerca de cinco anos tomei uma decisão consciente de mudar a direção do grupo focando na inovação, em produtos de qualidade superior e na direção de marca. Como resultado, o primeiro passo da nossa estratégia foi estabelecer a Divisão Profissional, além da Divisão Prosumer existente.A aquisição da Midas e da Klark Teknik, e depois da Turbosound, levou à fundação da Divisão Profissional e à execução da nossa estratégia global. Hoje, desenvolver essa divisão é o nosso maior foco e o fazemos com uma determinação implacável.
Uli, personal Falemos de você. Já pensou em um final, como vender o grupo?
Sempre tem um final, e usualmente é definido pela natureza. Mas o que me surpreende é que amo meu trabalho agora mais que nunca e as pessoas ao meu redor sabem que só durmo quatro horas por dia. Sempre observo a minha mãe, que tem 84 anos, nada meia milha por dia e ainda trabalha como intérprete. A idade é apenas um número quando você se mantém ocupado e procura a felicidade na sua vida. No final, sou músico e engenheiro, e isso nunca vai mudar. n