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WORKSHOPS

Sonoridade: prática e aplicação I

Quando recebi o convite para escrever este work para  auta transversal, o primeiro tema que me veio à cabeça foi a sonoridade desse instrumento. Lembrei que foi ouvindo um lindo som de  auta transversal que me apaixonei por ela e resolvi estudá-la.

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Fui percebendo, aos poucos, que a  auta tem uma variedade enorme de timbres, independente da marca do instrumento. Porém, completamente dependente do instrumentista que toca e desenvolve a habilidade de criar vários tipos diferentes de sons.

Sendo, dos instrumentos de sopro, o único que não possui uma embocadura já construída, seja com palhetas (simples ou dupla), como no caso do saxofone, da clarineta, do oboé ou do fagote, seja diretamente encostada à boca com bocais, como no caso do trompete, trompa, trombone, tuba, eufônio etc., a  auta tem uma característica também única: uma vez que o  autista não tem resistência já pronta na forma de palheta ou bocal, ele cria nos próprios lábios essa resistência para moldar e direcionar a coluna de ar que se transformará em som.

Dessa forma, os exercícios para sonoridade contribuem fortemente para o domínio do instrumento, possibilitando o controle de uma extensa gama de dinâmica e coloridos,  exibilidade e a nação.

Existem vários métodos de  auta que trabalham a questão da sonoridade na  auta e um dos mais conhecidos e estudados é De la Sonorite – Art et Technique, do  autista francês Marcel Moyse, que aborda a sonoridade sob três aspectos principais: notas longas, extremos de dinâmica (do pianíssimo ao fortíssimo e vice-versa) e  exibilidade labial (do grave ao agudo e vice-versa) com grandes ligaduras.

Durante esse período de estudo, descobri que estudar  cava mais interessante e grati cante quando eu criava meus próprios exercícios baseados na proposta do autor. Assim, após estudar um método, o aluno pode aplicá-lo em cima de frases escolhidas do seu repertório de estudo ou criar suas próprias frases.

Na primeira parte deste workshop, vamos trabalhar notas longas. Costumo utilizar esses exercícios de sonoridade para aquecimento diário, lembrando sempre de tocar em toda a tessitura do instrumento, ou seja, regiões média, grave e aguda.

NOTAS LONGAS

1. O exercício proposto por Marcel Moyse é de notas longas em escala cromática. Um exercício simples que, com alguns detalhes, pode surtir um grande efeito para ajustar a sonoridade. Pratique descendente e ascendentemente.

Exercício 1

Exercício 2

É sempre bom aproveitar esse tipo de exercício para respirar ao máximo com a garganta aberta, como se fosse bocejar, e soltar o ar de forma regular, mantendo sempre a garganta aberta, pois o som começa antes do instrumento, no próprio corpo. Se o tubo de ar dentro do corpo for grande, o som também terá essa característica, ampli cado pelo instrumento. É quase como tocar bocejando. Bem aberto!

Para manter a regularidade do ar, não podemos nos esquecer da pressão constante que o diafragma exerce na produção do som, a coluna de ar.

Exercício 3

Um professor, uma vez, sugeriu a seguinte imagem de que gostei e adoto sempre: “Observe uma mangueira aberta derramando água. Se você colocar um pouco de pressão com o dedo, fechando suavemente a saída da mangueira, a água ganha pressão e direção. É dessa direção que precisamos para manter uma nota longa a nada”.

Após tocar o exercício 1 com semitons, experimente aumentar os intervalos para um tom (segunda maior), um tom e meio (terça menor) e assim sucessivamente até intervalos de oitava. Crie variações rítmicas diferentes e pratique também na terceira oitava.

Exercício 4

Solte a imaginação e crie outros padrões intervalares para tocar de cor e repetir o mesmo padrão subindo de meio em meio tom em toda a tessitura do instrumento.

Exercício 5

Aproveite para escolher trechos musicais que se apliquem a esse fundamento, como é o exemplo do clássico solo de  auta do prelúdio para orquestra de Claude Debussy – Á l’après Midi d’un Faune.

Exercício 6

Prelúdio para Á l’après Midi d’un Faune – Claude Debussy

Gabriela Machado é flautista formada pela Fundação das Artes de São Caetano e Universidade Estadual Paulista (Unesp). Desde 1995 é solista do grupo Choronas que tem três CDs lançados.

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