Lynne graham herança da paixão ok!

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Herança da Paixão (The Greek-Tycoon's Blackmailed Mistress)

Lynne Graham

Aristandros Xenakis é como um leopardo pronto para o bote. Moreno, elegante e poderoso, ele logo provará do doce sabor da vingança... Ella quer desesperadamente ver sua sobrinha crescer, mas a guarda da criança pertence a Aristandros... seu ex-noivo! Ela não tem escolha, a não ser se submeter a seus desejos... e se tornar sua amante! Ingênua e sem malícia, Ella não é como as alpinistas sociais que já esquentaram a cama de Aristandros. Seria apenas questão de tempo até que ele se cansasse dela... ou não?... Digitalização: Simone R. Revisão: Crysty


Lynne Graham - Herança da Paixão (Paixão 159)

Querida leitora, Tudo que Ella Smithson queria era sua filha. No entanto, as circunstâncias estavam a favor de Aristandros Xenakis, um bilionário grego, detentor da guarda da pequena Callie. Sem esperança de vencer uma batalha legal, sua única saída era se aproximar dele pessoalmente... e lidar com as farpas remanescentes do passado dos dois. Não imaginava, contudo, que seu reencontro fosse reviver mais do que as mágoas... ou que a impiedosa proposta de Aristandros fosse forçá-la a lidar novamente com a paixão. Equipe Editorial Harlequin Books

PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: THE GREEK TYCOON'S BLACKMAILED MISTRESS Copyright © 2009 by Lynne Graham Originalmente publicado em 2009 por Mills & Boon Modern Romance Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração Eletrônica: ABREU'S SYSTEM Tel: (55 XX 21) 2220-3654 / 2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: (55 XX 11) 2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Para solicitar edições antigas, entre em contato com o DISK BANCAS: (55 XX 11)2195-3186/2195-3185/2195-3182. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4o andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-910 Aos cuidados de Virgínia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

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PRÓLOGO

— Uma criança encantadora — comentou Drakon Xenakis parado junto à janela, observando a pequena garotinha brincando no jardim exuberante da propriedade de seu neto. — Ela me lembra alguém. Não sei quem... Aristandros velou seus brilhantes olhos escuros, seu rosto bonito inescrutável. Não disse nada, embora tivesse feito a conexão genética na primeira olhada. Na sua opinião, impossível não fazê-la: aqueles cabelos loiros, tão claros que ficavam entre brancos e prateados, os olhos azuis brilhantes e a boquinha rosada eram como uma miniatura de outra pessoa. Sim, o destino tinha colocado uma arma imensamente potente em suas mãos, e ele não hesitaria em usá-la para obter o que queria. Fracassos ou prêmios de consolação não eram aceitáveis para Aristandros. Sem sombra de dúvida, triunfaria... e vencer frequentemente significava violar regras. — Mas as garotinhas precisam de mães — continuou Drakon, sua postura impressionantemente ereta, apesar de seus 82 anos. — E você é especializado em... — Lindas modelos — complementou Aristandros, consciente de que o homem mais velho poderia ter um ponto de vista mais moralista e um termo mais crítico para as mulheres que entretinham seu neto no quarto. — Timon, todavia, deixou-me a filha dele para que eu a criasse, e tenho a firme intenção de enfrentar esse desafio. — Timon era um amigo de infância e um primo, não seu irmão — apontou seu avô numa voz perturbada. — Você está disposto a desistir das lindas mulheres e das festas infindáveis pelo bem de uma criança que não é sua? — Tenho um staff grande, bem-treinado e confiável. Não acho que o impacto de Calliope na minha vida irá ser tão catastrófico. — Aristandros nunca tinha sacrificado nada por ninguém, nem podia se imaginar fazendo isso. Todavia, mesmo que não concordasse com o ponto de vista de seu avô, respeitava-o e permitiria que Drakon desse uma opinião. De qualquer forma, poucos homens tinham mais direito de falar francamente sobre responsabilidade familiar do que Drakon Xenakis. O nome da família era, há muito tempo, sinônimo de disfunção e escândalos explosivos. Drakon se culpava porque todos os seus filhos haviam se tornado adultos fracassados, com casamentos destruídos, vícios e casos extraconjugais. O pai de Aristandros provara ser o pior de todos, e sua mãe, a herdeira de uma empresa de navegação, possuíra as mesmas características de irresponsabilidade e 3


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amor à boa vida do marido. — Se você pensa assim, entende a responsabilidade que está assumindo. Uma criança que já perdeu ambos os pais precisará muito da sua atenção para se sentir segura. Você é viciado em trabalho, exatamente como eu fui, Aristandros. É brilhante em fazer dinheiro, mas não somos bons pais — pronunciou Drakon, sua preocupação evidente. — Você precisa encontrar uma esposa disposta a ser mãe de Callie. — Casamento realmente não é meu estilo — replicou Aristandros. — O incidente ao qual se refere aconteceu 25 anos atrás — apontou Drakon, observando as expressões bronzeadas do neto se fecharem com aquele lembrete. Aristandros deu de ombros. — Foi apenas uma breve paixão da qual logo me recuperei. Mas ele foi tomado por uma onda familiar de raiva. Ella. Tinha apenas de pensar naquele nome para sentir raiva. Sete anos atrás, Aristandros havia oferecido um prêmio para a única mulher que quisera, a única mulher que ainda não podia esquecer. Jurara na ocasião que um dia se vingaria pelo que ela lhe fizera. O noivado que nunca foi... uma rejeição impensada. Entretanto, de algumas maneiras, Ella não tinha lhe feito um favor? A decepção precoce e o senso de humilhação que ela infligira tinha assegurado que Ari nunca mais baixasse a guarda com outra mulher. Em vez disso, concentrara-se em apreciar os frutos de sua fabulosa riqueza, enquanto se tornava cada vez mais duro e mais ambicioso. Seu sucesso meteórico o transformara num bilionário, e alvo de muito medo e inveja no mundo dos negócios. O discurso franco de Drakon era uma experiência rara para Aristandros, cujos instintos agressivos haviam lhe trazido superioridade e influências sobre outras pessoas. Logo Ella também teria de destruir todos os princípios nobres e preconceitos e obedecer a seus comandos. Ele estava ansioso por isso. Na verdade, mal podia esperar pelo momento que Ella percebesse que ele estava em poder do que essa mulher mais queria. Aquele primeiro gosto da vingança prometia ser muito doce.

CAPÍTULO UM

Ella estava sentada como uma estátua na bonita sala de espera. Envolvida em seus pensamentos estressantes, não notou os olhares de admiração que recebeu dos homens que passavam. De qualquer forma, estava acostumada a ignorar 4


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a atenção que sua beleza física chamava. Seus cabelos muito loiros, naquela tonalidade rara que era vista mais frequentemente em crianças, provocava que cabeças se virassem, assim como seus olhos azuis brilhantes e sua figura delgada e esbelta. Suas mãos se torciam no colo, traindo sua tensão. — Dra. Smithson? — chamou a recepcionista. — O sr. Barnes vai recebê-la agora. Ella se levantou. Sob seu exterior calmo, um senso de injustiça lhe contraía o estômago. Suas preces não tinham sido atendidas, e o bom-senso ainda estava sendo ignorado. Podia apenas se admirar que pessoas de seu próprio sangue a tivessem colocado numa posição tão cruel. Quando aquilo acabaria? Quando sua família decidiria que ela já pagara um preço bem alto pela decisão que tomara sete anos atrás? Começava a acreditar que somente a morte acertaria aquela conta pendente. Sr. Barnes, o advogado que consultara duas semanas atrás... um homem alto e magro com cerca de 40 anos, e a reputação de ser o melhor em assuntos relacionados à custódia de crianças... apertou-lhe a mão agora e a convidou a se sentar. — Consultei os especialistas desta área da lei, e lamento não poder lhe dar a resposta que quer — disse ele com precisão. — Quando você doou óvulos para sua irmã ser capaz de ter uma criança, assinou um contrato no qual abria mão de todos os direitos maternais sobre o bebê, consequentemente... — Sim. Mas o fato de minha irmã e o marido dela estarem mortos agora certamente muda esta situação? — Ella interrompeu, tentando manter o controle. — Mas não necessariamente em seu favor — replicou Simon Barnes. — Como mencionei antes, a mulher que carrega o bebê até o nascimento é a mãe legal. Então, apesar de você ser a mãe biológica, não pode alegar ser a mãe da criança. Ademais, não teve nenhum contato com a garotinha desde que ela nasceu, o que não ajuda seu caso. — Eu sei. — Ella ainda achava difícil acreditar que sua irmã, Susie, a cortara de sua vida assim que a filha tinha chegado ao mundo, não permitindo a Ella nem mesmo ter uma fotografia, muito menos fazer uma visita pessoal. — Mas ainda sou legalmente a tia de Callie. — Sim, mas o fato de não ter sido nomeada como guardiã nos testamentos de seu cunhado e de sua irmã prejudica o seu caso — o advogado a relembrou. — O advogado deles irá testemunhar que a única pessoa que os pais falecidos de Callie estavam preparados para nomear era Aristandros Xenakis. Não esqueça que ele também tem um laço sanguíneo com a criança. — Pelo amor de Deus. Aristandros era apenas primo do pai dela, não um tio ou nada assim! — Primo e amigo de uma vida inteira, que aceitou a responsabilidade pela criança antes do acidente que matou sua irmã e seu cunhado. Não preciso acrescentar que você 5


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não pode ter esperança de lutar pela custódia com Aristandros. Ele é um homem extremamente rico e poderoso. A criança também é grega, como ele. — Mas ele também é um homem solteiro com uma péssima reputação de mulherengo! — protestou Ella ferozmente. — Não é a figura do pai ideal para uma garotinha! — Devo apontar que você também é solteira, e que qualquer juiz questionaria por que sua família não está preparada para apoiá-la. Ella enrubesceu com o lembrete humilhante de que estava sozinha e sem apoio. — Lamento que minha família não fará nada que possa ofender Aristandros Xenakis. Meu padrasto e meus dois meio-irmãos têm conexões profissionais com ele. O advogado suspirou. — Meu palpite é que a lei irá, no máximo, permitir que você visite a criança, e uma tentativa de lutar pela custódia destruirá qualquer boa vontade em relação a tais visitas. Ella lutou para conter as lágrimas que queimavam nos seus olhos em face das más notícias. — Está me dizendo que não há nada que eu possa fazer? — Acredito que, nas suas circunstâncias, o melhor seria tentar uma aproximação pessoal com Aristandros Xenakis. Explicar a situação e perguntar se ele lhe permitirá ter contato com a criança. Ella tremeu com o conselho de Simon Barnes. Aristandros tinha Callie. Aristandros, que desprezava Ella. Que possível esperança poderia ter de que ele a ouvisse? — Algum dia você pagará por isso — Aristandros jurara sete anos atrás, quando Ella tinha apenas 21 anos, e estava no meio da faculdade de medicina. — Não leve para este lado — ela lhe suplicara. — Tente entender. — Não. Você entenda o que fez comigo — dissera Aristandros, os olhos escuros e gelados. — Eu a tratei com honra e respeito. E, em retorno, você me insultou, embaraçando a mim e à minha família. Arrasada, Ella deixou o escritório do advogado e foi para o espaçoso apartamento que havia comprado juntamente com sua amiga, Lily. Sua amiga, que era cirurgiã, ainda estava trabalhando quando Ella chegou. As duas tinham se conhecido na faculdade de medicina e se tornado amigas, inicialmente reunindo recursos, como o apartamento e um carro, enquanto ofereciam apoio uma à outra nos momentos estressantes. Ella trabalhava muitas horas e lhe restava pouca energia para imprimir sua personalidade em seu lar. Ainda não escolhera a decoração para seu quarto. Uma pilha de livros perto da cama e um piano em um canto da saleta de estar testemunhavam como ela gostava de passar seu tempo livre. Antes que pudesse perder a coragem, telefonou para a matriz de Xenakis Shipping, 6


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no Reino Unido, para marcar um horário com Aristandros. Um funcionário prometeu lhe retornar a ligação, e Ella sabia que seria investigada, uma vez que não era cliente. Imaginou se ele a receberia. Talvez por curiosidade? Seu estômago se contraiu com a perspectiva de revê-lo. Mal podia recordar-se da garota que tinha sido sete anos atrás, quando partira o coração por causa de Aristandros Xenakis. Jovem, inexperiente e ingênua, sentira-se muito mais vulnerável do que gostaria. Sua forte convicção do que queria havia assegurado que se agarrasse à sua crença, mas viver com aquela decisão provara-se muito mais difícil do que antecipara. Além disso, nunca mais conhecera outro homem, e começava a acreditar que nunca conheceria alguém com quem quisesse se casar. Esta era outra razão pela qual tinha concordado em doar óvulos para sua irmã infértil? Susie, dois anos mais velha, havia sofrido uma menopausa prematura com menos de 30 anos, e sua única esperança de maternidade seria através de óvulos doados. Susie voara da Grécia para Londres, onde Ella trabalhava como médica num pronto-socorro movimentado, para pedir ajuda da irmã. Ella ficara tocada quando Susie lhe fizera o pedido. Na verdade, antes daquele encontro, Susie fora uma irmã tão distante e tão crítica quanto o restante da família. Era bom sentir-se necessária, melhor ainda ouvir que um bebê nascido de seus óvulos seria muito mais precioso para Susie do que um bebê nascido com a ajuda de um doador anônimo. É claro, também era muito mais provável que a criança se parecesse com Susie se os óvulos fossem de sua irmã. Ella não hesitara em concordar com o pedido da irmã. Susie tinha se casado com o primo de Ari, Timon, e tinha um casamento sólido. Ella acreditara que uma criança nascida do jovem casal teria uma vida feliz e segura. Enquanto se submetia aos exames e tratamento para doação de óvulos, também havia participado de sessões de aconselhamento e assinado um acordo alegando que nunca poderia reivindicar a criança. — Você não está raciocinando com clareza — Lily tinha argumentado na época. — Este não é um processo tão racional. E quanto às repercussões emocionais? Como vai se sentir quando a criança nascer? Será a mãe biológica, mas não terá nenhum direito sobre a criança. Sua irmã invejosa vai sentir que a criança é mais sua do que dela? Ella recusara-se a aceitar qualquer resultado negativo daquilo. Susie costumava falar da tia maravilhosa que Ella seria para a criança. Todavia, Susie tinha rejeitado a irmã desde o dia que Callie nascera. Na verdade, lhe telefonara para pedir que ela não fosse visitar no hospital, enquanto também exigia que Ella deixasse sua família em paz. Ella ficara muito magoada, mas tentara entender que Susie se sentia ameaçada pelo fato de o recém-nascido ser muito parecido com a mãe biológica. Escrevera para a irmã num esforço de tranquilizá-la, mas as cartas tinham sido ignoradas. Desesperada, havia 7


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procurado Timon quando ele estava em Londres, a negócios. Timon admitiu que a esposa sentia-se insegura sobre o papel de Ella na concepção da filha deles. Ella rezara para que a passagem do tempo suavizasse as preocupações de Susie, mas, 17 meses após o nascimento de Callie, Timon e Susie tinham morrido num horrível acidente de carro. E, pior, isso acontecera quase duas semanas antes que alguém desse a notícia a Ella, de modo que nem mesmo pôde comparecer ao funeral. Quando Ella finalmente descobrira que sua irmã estava morta, sentira-se terrivelmente sozinha... e não pela primeira vez nos anos recentes. Seu pai havia falecido logo após seu nascimento, portanto, ela nunca o conhecera, e Jane, sua mãe, se casara com Theo Sardelos seis anos depois. Ella nunca se dera bem com o padrasto, que era um homem de negócios grego. Theo gostava de mulheres para serem vistas, não ouvidas, e ficara furioso com a enteada, quando Ella se recusara a casar com Aristandros Xenakis. Jane era emocionalmente fraca, e não se opunha ao marido ditador, de modo que não fizera sentido buscar o apoio da mãe. Os meio-irmãos de Ella tinham ficado do lado do pai, e Susie recusara-se a se envolver. Ella sentou-se ao piano e ergueu a tampa. Frequentemente se refugiava na música quando estava à mercê de suas emoções, e começou a tocar uma música quando o telefone soou. Levantando-se para atender, parou no meio do quarto ao perceber que estava falando com um dos funcionários pessoais de Aristandros. Não tentou protestar quando foi requisitada a viajar para Southampton na semana seguinte, a fim de encontrá-lo a bordo de seu novo iate Hellenic Lady. Estava simplesmente aliviada por ele ter concordado com um encontro. Todavia, Ella não podia imaginar ver Aristandros Xenakis novamente, e quando Lily retornou do trabalho, aconselhou-a: — Que sentido faz aborrecer-se mais com isso? — perguntou Lily, seu rosto vivaz estranhamente sério sob os cabelos castanhos encaracolados. — Eu gostaria apenas de ver Callie. — Pare de mentir para si mesma. Você quer muito mais do que isso. Quer ser mãe, e quais são suas chances de Aristandros concordar? Uma expressão sofrida estampou-se nas feições delicadas de Ella. — Bem, por que não? Como ele planeja continuar seus exageros em divertimentos com um bebê de 18 meses? — Ele pagará pessoas para cuidar da menina. É um homem muito rico — Lily a relembrou. — E a primeira pergunta que provavelmente vai lhe fazer é o que você tem a ver com os assuntos dele. Ella empalideceu. Seu usual otimismo a persuadira a negligenciar certas realidades, como as atitudes inflexíveis e provável hostilidade de Ari em relação a ela. 8


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— Alguém precisa cuidar dos interesses de Callie. — Quem tinha mais direito do que os pais dela? Mas você está questionando a decisão deles de que a criança deveria ir para Aristandros. Desculpe, estou representando o papel do oponente aqui — murmurou Lily. — Susie estava impressionada pela riqueza de Xenakis — confidenciou Ella. — Mas dinheiro não deveria ser o único fator importante quando se trata de uma criança. — É do tamanho de um navio! — exclamou o motorista de táxi, enquanto se inclinava sobre a janela aberta do veículo para olhar a imensa extensão e os deques elevados do espetacular iate branco Hellenic Lady. — Realmente gigantesco — concordou Ella ofegante, pagando a corrida e descendo no cais. Então secou as mãos úmidas na calça do conjunto marrom elegante que normalmente usava para entrevistas. Um jovem de terno se aproximou. — Dra. Smithson? — perguntou ele, a expressão curiosa. — Sou Philip. Trabalho para o sr. Xenakis. Por favor, acompanhe-me. Philip agiu como um guia turístico, contando-lhe que, Hellenic Lady era uma embarcação nova, construída da Alemanha conforme as especificações exatas de Aristandros, e prestes a fazer sua primeira viagem para o Caribe. Enquanto andavam, vários membros da tripulação os cumprimentaram. Philip a conduziu para um elevador enquanto lhe contava sobre submarinos e helicópteros a bordo. Ella não se mostrou deslumbrada até que as portas se abriram no saguão do andar de cima, e ficou boquiaberta ao ver a opulência do espaço e a vista panorâmica espetacular das janelas. — Sr. Xenakis estará com você em alguns minutos — Philip informou, conduzindoa para um deque sombreado, mobiliado com assentos lindamente estofados. Ella sentou-se e tentou relaxar. Um comissário de bordo lhe ofereceu refrescos, e ela pediu uma xícara de chá, porque queria ocupar as mãos com alguma coisa para disfarçar seu nervosismo. Sua mente estava rebelde, resgatando lembranças perturbadoras. Naquele momento, a última coisa que queria era recordar-se de como se apaixonara loucamente por Aristandros quando o conhecera. Havia passado o Natal na Grécia com sua mãe e o padrasto, e no espaço de um mês frenético, perdera seu coração. Mas o que era tão surpreendente?, perguntou-se agora, tentando desconectar aquele evento com qualquer mística perigosa. Afinal, Aristandros tinha tudo: uma aparência espetacular, uma inteligência afiada e todos os privilégios da riqueza. Ella era uma estudante dedicada na época, sempre absorta em livros, enquanto as outras garotas apreciavam uma vida social e experimentavam os altos e baixos das relações com o sexo oposto. No espaço de um mês, Ella jogara seu bom-senso pela janela e vivera para o som 9


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da voz de Ari, para a visão magnífica dele. Nada mais importava: não os avisos de sua família sobre a reputação de Aristandros de amar e abandonar as mulheres, nem mesmo seus estudos ou a carreira para a qual existira até aquele ponto. E então, no pior momento possível, seu cérebro tinha voltado a funcionar, fazendo-a ver que loucura era visualizar um futuro com um homem que supunha que o mundo girava ao seu redor. Quando seu chá foi servido, Ella olhou para cima e viu Aristandros parado a alguns metros de distância. Sua garganta se fechou. O chá caiu no pires com o tremor de sua mão. Ella não conseguia engolir, não conseguia respirar. Num terno preto, perfeito para seu corpo esbelto e poderoso, cabelos cor de ébano ondulando com a brisa, e olhos escuros brilhando como ouro no sol, Aristandros era um homem devastadoramente bonito. No momento que ele andou ao longo do deque na sua direção... o epítome da graça masculina, combinada com a energia sexual... ela tornou-se imediatamente consciente de uma reação mais vergonhosa. Um calor pulsou em sua pélvis, e seu rosto enrubesceu. — Ella — murmurou Aristandros quando a moça levantou-se para cumprimentálo, observando as feições delicadas perfeitas... os olhos muito azuis, a boca rosada e convidativa. Mesmo usando uma maquiagem leve e com os espetaculares cabelos loiros presos para trás, estava deslumbrante. Ella era uma mulher naturalmente linda, que passava por espelhos sem uma única olhadinha. A falta de vaidade fora a primeira coisa que ele tinha notado sobre ela e admirado. Aristandros capturou uma das mãos na sua. O súbito contato a pegou de surpresa, e ela ergueu a cabeça, encontrando seus olhos dourados penetrantes. Subitamente seu coração estava disparado, interferindo com seu desejo de exibir um exterior composto e confiante. Sentia-se perturbada, o aroma almiscarado de Ari familiar o bastante para deixar seus sentidos em turbilhão. Seus seios incharam dentro do sutiã, os mamilos enrijecendo. Vergonha e desprezo por sua fraqueza a envolveram. — Obrigada por ter concordado em me ver — disse Ella apressadamente. — Humildade não combina com você, Ella. — Eu só estava tentando ser educada! — Você está muito tensa — observou Aristandros, o tom de voz sedoso. Estudou a boca gloriosa de Ella, desceu os olhos para a doce curva dos seios cobertos por um tecido de algodão branco. Ele a vestiria com rendas e sedas mais finas. Seu sexo pulsou quando essa imagem foi despertada em sua mente. Confrontando o brilho perceptivo nos olhos dourados dele, Ella tremeu interiormente. Numa tentativa de distraí-lo, removeu a mão e murmurou: — Gosto de seu iate. Aristandros deu um sorriso sardônico. — Não, você não gosta. Acredita que é outro exemplo de meus hábitos de consumo excessivo, e acha que eu deveria ter gastado o dinheiro escavando em algum lugar na 10


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África. Ella enrubesceu. — Eu era terrivelmente meticulosa aos 21 anos, não era? Hoje em dia, não tenho a mente tão estreita. — O fundo financeiro Xenakis, o qual estabeleci, contribui muito para quem merece caridade — confirmou ele. — Você me aprovaria agora. Ella empalideceu, porque o encontro não estava progredindo como esperava. Cada palavra de Aristandros parecia fazer alusão ao passado que ela queria deixar enterrado. — Nenhum de nós é a mesma pessoa que naquela época. Aristandros inclinou a cabeça arrogante, nem concordando nem discordando, e convidou-a a sentar-se novamente. Café foi servido para ele. — Fiquei surpreso por você não ter comparecido ao funeral de sua irmã — ele admitiu. Ella pôs seu chá sobre a mesa. — Eu não soube do acidente até algum tempo depois que aconteceu. Ele arqueou as sobrancelhas. — Ninguém na sua família a contatou? — De minha família imediata, não. Minha tia, irmã da minha mãe, me contou depois do evento. Foi estranho, porque ela presumiu que eu já soubesse — explicou Ella. — Obviamente a notícia foi um choque para mim. Timon e Susie eram tão jovens. Foi uma perda devastadora para a filha deles. — E você está preocupada com Calliope? — Tenho certeza que todos em ambas as famílias estão preocupados com ela. Aristandros a estudou friamente, então riu. — Lidar com pacientes finalmente lhe ensinou a arte do tato? — zombou. — Duvido que alguém esteja tão preocupado quanto você parece estar. — Há algo que preciso lhe explicar sobre Callie... — Acha que não sei que você é a mãe biológica dela? — O sotaque grego era carregado agora. — É claro que sei disso. Ella ergueu o queixo. — Suponho que Timon lhe contou. — Naturalmente. Fiquei surpreso. Afinal, você um dia me disse que não queria filhos. — Aos 21 anos eu não queria, e quando doei meus óvulos não considerei Callie minha filha quando ela nasceu. Era filha de Susie e Timon. — Quanto altruísmo de sua parte — ironizou ele. — Apesar desta declaração, você está aqui. 11


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— Sim — reconheceu Ella. — Eu gostaria muito de ver minha sobrinha. — Você veio de tão longe para me pedir isso? Uma única visita a Callie, então vai partir sem olhar para trás? — perguntou Aristandros com um olhar de descrença. Ella não sabia como responder àquilo. Temia ser honesta e revelar a profundidade de seu desejo de tornar-se uma parte mais importante da vida de Callie. — Se isso for a única coisa que está preparado para me permitir. Alguma coisa é melhor que nada. Olhos brilhantes a encararam. — Você quer tão pouco? Capturada pelo poder dos olhos inteligentes de Aristandros, Ella descobriu que não ousaria mentir-lhe e sabia que qualquer forma de evasão seria usada contra ela. — Acho que você sabe que quero mais. — Quão desesperadamente você quer ter acesso a Callie? — perguntou ele. — Muito desesperadamente — admitiu ela. — Não creio que algum dia quis tanto alguma coisa. Aristandros deu uma gargalhada que a deixou perplexa. — Entretanto, ela poderia ter sido nossa filha. Em vez disso, você possibilitou que meu primo e melhor amigo fosse o pai, e deixou sua irmã dar à luz uma menina que é geneticamente metade sua. Já lhe ocorreu que posso achar, em particular, esse arranjo ofensivo? Ella sentiu a cor esvair-se de seu rosto. — Não, lamento que essa possibilidade não me tenha ocorrido, e apenas espero que você não se sinta dessa forma, agora que é o guardião de Callie. — Eu superei. Não sou do tipo sentimental, e nunca colocaria os pais de uma criança contra ela — declarou ele. — O que preciso saber agora é quão longe você está preparada para ir a fim de obter o que quer? O quanto vai se sacrificar? — Está dizendo que tenho a possibilidade de manter um relacionamento com minha sobrinha? — pressionou Ella, perguntando-se por que ele estava falando em sacrifícios. Um sorriso lento curvou os lábios da boca esculpida. — Se você me der prazer, o céu é o limite, glikia mou.

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CAPITULO DOIS

Ella não tinha se esquecido do termo carinhoso que ele costumava usar para chamála. Não esquecera com quem estava lidando: um homem muito rico e perigoso, cujo ego ela ferira uma vez. — Não tenho certeza se entendo o que você quer dizer. — Inteligência nunca lhe faltou — replicou Aristandros friamente. — Se você quer ver Callie, só poderá fazer isso nos meus termos. Ella se levantou e andou rapidamente para o parapeito do iate, querendo que a brisa do mar esfriasse seu rosto. — Eu sei... se eu não aceitasse isso, não estaria aqui. — Meus termos são rígidos — declarou Aristandros. — Você quer Callie. Eu quero você, e Callie precisa de uma mulher para cuidar dela. Se somarmos tais necessidades, chegaremos a um acordo que servirá a nós três. Eu quero você. Essa era quase a única frase que ela absorveu no início. Estava chocada. Ele ainda a achava atraente... depois de sete anos? No primeiro instante, Ella ficou tentada a lhe dizer que nunca o esquecera. Mas então lembrou que ser desejada por Aristandros não a tornava especial. Sabia sobre a vida amorosa cheia de energia dele. Sabia que, enquanto podia ser famoso por seu vigor na cama, de acordo com a imprensa, fora da mesma, os relacionamentos de Aristandros eram de curta duração. Desde a última vez que tinham se encontrado, inúmeras modelos, atrizes e socialites haviam compartilhado o estilo de vida sofisticado de Ari Xenakis antes que fossem dispensadas e substituídas. Ele se entediava muito facilmente. Na verdade, nada que Ella havia lido sobre a reputação de mulherengo de Aristandros já lhe dera razão para se arrepender por não ter se casado com ele, que teria partido seu coração, exatamente como seu padrasto infiel destruíra sua mãe com suas diversões extraconjugais. Após vinte anos de casamento, não restava um pingo de autoestima em Jane Sardelos. — Está sugerindo que, se eu fizer sexo com você, irá permitir que eu veja Callie? — ela perguntou num tom incrédulo. — Não sou tão rude assim, glikia mou — respondeu»-ele. — Nem tão facilmente satisfeito. Estou até mesmo preparado para lhe oferecer algo que nunca ofereci para uma mulher antes. Quero que você vá morar comigo... — Morar com você? — ecoou Ella, atônita. 13


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— Morar e viajar comigo como minha amante. De que outra maneira poderia cuidar de sua sobrinha? É claro, haveria condições — continuou ele suavemente. — Você não poderia trabalhar fora. Viver comigo e cuidar de Callie seriam ocupações de período integral. — Você não mudou nada — disse Ella, mesmo enquanto seu coração se alegrava com a ideia de poder cuidar de Callie. — Continua esperando ter prioridade em tudo que faz. Aristandros lançou um olhar de desafio. — Por que não? Conheço muitas mulheres que ficariam encantadas em fazer de meus interesses suas prioridades na vida. Por que eu consideraria aceitar um compromisso menor de sua parte? — Mas você não pode envolver uma criança num acordo como este! — exclamou Ella, furiosa. — Seria imoral e inescrupuloso. — Não sofro de escrúpulos morais. Sou um homem prático, que não planeja casarse para dar uma mãe a Callie. Portanto, se você quer ser mãe substituta dela, tem de fazer como eu quero. Ele estava lhe oferecendo o que ela mais queria ao preço de abandonar tudo pelo que lutara tão arduamente para conseguir. Era uma chantagem e uma vingança com o uso de uma arma potente. — Após sete anos, como podemos não ter nenhum relacionamento se vamos morar juntos? E eu... uma amante? Isso é loucura. Aristandros ergueu o corpo grande e poderoso do assento e andou em direção a ela como uma pantera prestes a atacar. Seus olhos intensos e brilhantes se fixaram na boca rosada de Ella. — Isso não é um problema para mim. Eu a acho incrivelmente atraente. — E isso é tudo que você precisa? Luxúria? — Ella falou entre dentes cerrados, a expressão de desgosto. — Luxúria é tudo com que precisamos nos preocupar, glikia mou. — Ele ergueu uma das mãos e deixou os dedos lhe traçarem a curva do decote. Com olhos azuis lançando chamas de raiva, ela virou a cabeça numa rejeição violenta ao toque. — Vamos manter isso de um jeito simples. Eu quero você em minha cama todas as noites. — Nunca! — exclamou Ella, furiosa. — É claro, não posso forçá-la a aceitar o acordo — concedeu ele, parando à frente dela e encarando-a com firme resolução. — Mas sou um homem teimoso e determinado. Esperei muito tempo por este dia. Muitas mulheres ficariam lisonjeadas pelo meu interesse contínuo. — Luxúria não é um interesse! — Ella praticamente gritou. — Isso tudo é porque o 14


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rejeitei sete anos atrás, porque nunca dormi com você. Intimidando-a com sua proximidade, Aristandros ficou imóvel, os olhos duros como granito. — Permiti que me rejeitasse porque estava preparado para esperar por você. Desta vez, não estou preparado para isso. Com o coração loucamente disparado no peito, Ella cerrou os punhos. — Não acredito que você tem a coragem de tentar isso comigo. Ele fechou as mãos sobre os punhos delicados para prendê-la. Então abaixou a cabeça arrogante, a respiração quente na testa de Ella enquanto murmurava com voz rouca: — Mas sempre tive coragem numa luta, koukla mou. Lutar pelo que quero é um traço natural da minha personalidade. Se o prêmio é alto o bastante, arriscarei tudo para vencer. Eu não seria um verdadeiro Xenakis se ocasionalmente não navegasse muito perto do sol. Ele estava tão perto, que ela nem podia respirar. Aristandros abaixou a cabeça para clamar seus lábios, então a beijou com irresistível paixão. Extraordinariamente familiar, aquele beijo era tudo que ela se empenhara em esquecer. Por um momento infinito, perdeu-se no calor da boca sedenta de Ari, tremendo pelo incrível erotismo com que a língua dele brincava com a sua. Subitamente, seu corpo parecia queimar de desejo. Mas as lembranças a fizeram negar aquelas sensações vergonhosas, enquanto se afastava de modo tão abrupto e defensivo que o pegou de surpresa. — Não — disse Ella, jogando a cabeça para trás, algumas mechas dos cabelos claros soltando-se do penteado para roçar-lhe as faces. Um sorriso estampou-se no rosto bonito de Aristandros. Ele não tentou esconder seu triunfo. — Este "não" está muito perto de se tornar um convite de seus lábios. — Você não pode me comprar com Callie. Não estou à venda, e não posso me sentir tentada. — Mesmo enquanto falava, Ella rezou para que tivesse forças para manter aquelas declarações. — Então todos sairemos perdendo, e talvez a criança mais ainda. Duvido que qualquer outra mulher ofereça a Callie toda a afeição genuína que você poderia dar — pronunciou Aristandros. — Embora muitas delas, sem dúvida, tentarão me convencer do contrário. A última colocação foi como uma facada diretamente no coração de Ella. O mero pensamento de mulheres interesseiras querendo o papel de mãe de Callie apenas para impressionar o guardião bilionário a feria imensuravelmente. — Você está sendo cruel — disse ela. — Eu não teria acreditado que pudesse ser 15


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tanto. Impassível, Aristandros a estudou. — A escolha é sua. — Não há uma escolha! — É uma escolha que você não gosta. Mas sinta-se grata por ter uma escolha a fazer. Eu poderia ter lhe negado ver Callie e fechado a porta diante de seu rosto. Um calafrio a percorreu. Era como um golpe frio de realidade se fazendo presente, uma vez que o que ele dizia era verdade. Nas circunstâncias, qualquer escolha era um luxo. Além disso, o que acontecesse a seguir seria decisão sua. Ella o estudou por um momento. Ele era poderoso. Com as opções e ofertas que cruzavam o caminho de Aristandros todos os dias, por que ainda estava interessado nela? Seria pelo fato de que não entregara seu corpo a ele? E uma vez que fizesse isso, perderia seu poder de atraí-lo? — Suponhamos que eu diga sim — murmurou ela baixinho. — Seu interesse não duraria mais do que cinco minutos. O que acontece com Callie então? Passo uma semana ao lado da menina, então desapareço novamente? — Não será assim. Era sempre assim com Aristandros. Seus casos amorosos duravam muito pouco. — O que sei sobre ser amante? Mal posso ser considerada do tipo decorativo. Um sorriso divertido curvou os lábios esculpidos dele. — Existe um tipo? Sou flexível e muito aberto a novas experiências. Irritada, Ella voltou para sua cadeira e sentou-se com as costas rigidamente eretas. — Caso eu concordasse, quais seriam as regras? — Seu objetivo principal seria me dar prazer — declarou ele. — É claro, não haveria nenhum outro homem em sua vida. Você sempre estaria disponível para mim. — O tipo de mulher para qualquer hora e qualquer lugar? Esta é uma fantasia masculina, Aristandros, não um objetivo alcançável para uma mulher normal nos dias atuais — protestou Ella. — Você é esperta o bastante para realizar esta minha fantasia. Foque todo o entusiasmo que tem pela sua carreira em mim e descobrirá que não sou ingrato. Dê-me o que quero e terá tudo o que quiser — ele prometeu com segurança. — Callie — ela murmurou o nome com fraqueza, porque englobava muita coisa e mexia profundamente com suas emoções. A criança que nunca vira, mas que queria amar como filha, não como sobrinha. Aristandros podia exercer um poder quase ilimitado sobre ambas, mas Ella precisava lembrar que também tinha o poder de fazer uma grande diferença na vida de Callie. E ansiava por amar a garotinha, que perdera os pais tão cedo. — Quanto tempo tenho para decidir? Aristandros lhe deu um olhar punitivo. — É agora ou nunca. O acordo tem de ser feito hoje. 16


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— Mas isso é absurdo! Você está me pedindo para desistir de minha carreira em medicina. Tem ideia do que ser médica significa para mim? — Uma ideia muito boa. Afinal, você uma vez escolheu sua carreira acima de mim — replicou ele, os olhos perigosos. — Essa não foi a única razão pela qual o rejeitei. Fiz isso por nós dois... teríamos sido infelizes! — Ella declarou, perdendo o controle de suas emoções. — E deixe-me informá-lo de algo que não é negociável sob nenhuma circunstância... se eu concordar, não vou tolerar infidelidade. Emoções fortes levaram cor ao rosto de Ella e um brilho intenso aos olhos. Era um vislumbre da jovem apaixonada de quem ele se lembrava, que costumava colocar muita energia em tudo que era importante, mas que o dispensara sem olhar para trás. — Não estou lhe pedindo em casamento desta vez. Portanto, não vou fazer nenhuma promessa — Aristandros respondeu ao desafio. — Também devo avisá-la de que, independentemente do que acontecer entre nós, eu não abrirei mão da custódia de Callie. Timon confiou em mim para criar a filha dele, e cumprirei este dever. Diversas respostas vieram à mente de Ella, mas conteve-as, percebendo que não seria sábio desafiá-lo naquele momento. Podia apostar que Aristandros não sabia nada sobre crianças, uma vez que era filho único, criado como um miniadulto por pais que não tinham tempo ou interesse por ele. Entretanto, sabia que ele não faria nada para prejudicar a criança sob seus cuidados. Para sua própria paz mental, precisava acreditar que se criasse elos fortes com Callie, Aristandros reconheceria o perigo de uma separação de tais elos e faria concessões. — Ella, é hora da decisão, glikia mou — murmurou ele, impaciente. Ella visualizou a criança imaginária e estudou as feições determinadas de Aristandros. Apesar de desgostar daqueles métodos arrogantes, ainda o achava maravilhoso, e isso era uma vantagem, não? Mas como seria ter um relacionamento sexual sem emoção com ele, particularmente quando era inexperiente nesse aspecto? Forçou-se a se concentrar em Callie, e reprimiu todos os sentimentos egoístas, como orgulho ferido, fúria e humilhação. Se ganhasse o direito de cuidar de Callie, aprenderia a lidar com o resto? — Tudo bem — disse ela, erguendo o queixo. — Mas você terá de me dar tempo para cumprir aviso prévio no trabalho. — Terminou? — o Dr. Marlow perguntou da porta do consultório, enquanto Ella erguia uma caixa de papelão da mesa. A sala parecia vazia. — Sim. Tirei a maior parte das minhas coisas ontem. — Quando seu colega estendeu as mãos, Ella lhe entregou a caixa, então aproveitou a oportunidade para fazer 17


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uma última checagem nas gavetas. Finalmente, endireitou o corpo. — Pode pedir para a faxineira procurar uma pequena fotografia? Era de meu pai, e eu gostava muito. Quebrei o porta-retratos o mês passado e removi a fotografia, e agora parece ter desaparecido. — Tentaremos encontrar — prometeu o homem alto e loiro, os olhos azuis preocupados. — Você parece exausta. — Tive tantas coisas para organizar. — Ella não comentou sobre o estresse emocional por ter se demitido do emprego que amava. Todos os seus longos anos de trabalho tinham sido invalidados. Sentiria muita falta de seus colegas e de seu trabalho. Não veria mais o progresso físico de seus pacientes, ou os benefícios da clínica de prevenção ao câncer de seios que ajudara a montar. Já se sentia perdida sem a estrutura de sua rotina agitada e exigente. Tudo havia acontecido tão rapidamente, uma vez que usara as férias acumuladas para diminuir o tempo de aviso prévio. — Não posso dizer que aprovo o que está fazendo, porque você era muito valiosa em nossa equipe — observou Alister enquanto a acompanhava até o carro. — Mas admiro seu comprometimento com sua sobrinha, e sei que sua perda será o ganho dela. Mantenha contato, Ella. Ella dirigiu para casa, pensando que o apartamento espaçoso logo não seria mais seu lar. Lily ia comprar sua parte do apartamento. Ella teria preferido não vender, mas sentiu que era injusto com Lily, que estava relutante em arriscar uma nova pessoa para dividir a casa. É claro que Lily lhe ofereceria uma cama se ela precisasse, mas não seria o mesmo que ser dona do apartamento. Quanto tempo levaria até que Aristandros se cansasse dela? Provavelmente poucas semanas. A novidade para ele não duraria. Então, o que Ella faria sem emprego e sem um lar para onde retornar? O dinheiro que receberia pela metade do apartamento não seria suficiente para comprar outra propriedade, e teria de voltar para o aluguel. Mas quando Aristandros a dispensasse, sua maior preocupação seria Callie, e se teria ou não permissão de manter um relacionamento com a garotinha. Não contara a ninguém sobre o relacionamento íntimo que manteria com o magnata grego. Apenas dissera que ia ajudar a cuidar da sobrinha órfã, que atualmente estava vivendo na Grécia. Lily, todavia, desconfiou da explicação. — Você realmente quer tanto Callie a ponto de desistir de tudo que lhe importa? — perguntou mais tarde, quando jantavam num restaurante para uma noite de despedida. — Se quer tanto uma criança, poderia ter um filho. — Mas quero estar com Callie... — E com o bilionário sexy? Enrubescendo, Ella afastou o prato. — Aristandros é o guardião de Callie e uma parte não negociável da vida da menina. 18


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— Mas você sente algo por ele, não é? — insistiu sua amiga. — Não sei de onde você tirou essa ideia. — Oh, talvez quando notei que você só comprava jornais e revistas para poder ler notícias sobre ele. —Eu estava curiosa, porque o conheci anos atrás, e Susie era casada com o primo dele — defendeu-se Ella. Sua amiga ainda a estudava. — Foi naquele Natal que passou na Grécia, antes que seus pais começassem a tratála com desprezo, que você conheceu Aristandros Xenakis, não foi? Mais defensiva do que nunca, Ella deu de ombros. — Meu padrasto nunca permitiu que perdêssemos a chance de nos socializar com a família bilionária dos Xenakis. Suspeito que nos conhecemos quando crianças, mas não me recordo. Aristandros é quatro anos mais velho que eu. — Sinto que há uma história aí que você não está me contando — confessou Lily. — Na época, achei que seu coração estava partido. Ella fez uma careta enquanto tentava reprimir as memórias das noites que passara em claro e dos dias em que somente o trabalho aliviava sua sensação de solidão e perda. Mas tinha aceitado tais consequências ao perceber que não poderia se casar com o homem por quem se apaixonara. De qualquer forma, ele não se esforçara nem um pouco para que ela mudasse de ideia. Na verdade, seu coração se partia mais cada vez que uma mulher nova entrava na vida de Ari. Mas tudo isso era passado agora, lembrou-se agradecida. Seus piores temores em relação a Aristandros haviam sido confirmados. Ela tomara a decisão certa e nunca duvidara disso. Na manhã seguinte, todavia, seria apanhada às 9h, e não tinha ideia do que aconteceria a seguir. Eles ficariam em Londres por muito tempo? Ela encontraria Callie amanhã? Deitada na cama aquela noite, observando as sombras brincarem nas paredes vazias, recordou-se no Natal em Atenas, quando estava de férias da faculdade de medicina. O tempo pareceu voltar enquanto era levada para o passado... Susie a apanhara no aeroporto. Sua irmã era solteira na época, e parecia muito bemhumorada enquanto contava sobre a boate exclusiva a que levaria Ella naquela noite. — Acabei as provas finais, e estou realmente cansada — disse Ella. — Prefiro ir para a cama. — Não pode fazer isso — protestou Susie. — Consegui um convite especialmente para você. Ari Xenakis e todos os amigos dele estarão lá. Susie, com sua determinação em se socializar com os ricos e famosos e aparecer nas colunas de fofoca, era a favorita do padrasto delas. Theo Sardelos gostava de mulheres 19


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ornamentadas e frívolas. A natureza séria de Ella, seu desgosto por pretensão o deixavam desconfortável. Pela segurança da paz noturna, Ella acompanhou Susie. A boate estava barulhenta e congestionada, deixando-a entediada. Tinha ouvido histórias terríveis sobre Ari Xenakis. Ele dispensara a última namorada por mensagem de texto, e os pais da garota tiveram de viajar ao exterior a fim de impedir que a filha o seguisse. Enquanto as histórias dele eram comentadas ao redor da mesa, Ella registrou, perplexa, que todas as garotas ansiavam por sair com Ari, apesar da evidente rudeza dele. Quando ele foi apontado na pista de dança, ela descobriu outra razão pela qual Ari Xenakis era tão popular, além da riqueza. Era maravilhoso, com cabelos pretos, grandes olhos dourados e um corpo de atleta. Se uma das pessoas que estava à mesa de Ella não tivesse desmaiado, provavelmente ele nunca a teria notado. Lethia, conhecida de uma das amigas de Susie, teve uma convulsão. Ella ficou chocada pela maneira como todos abandonaram a garota se debatendo na lateral da pista de dança. Quando Ella foi ajudá-la, Susie ficou furiosa. — Não se envolva! — disse, tentando arrastar a irmã de volta para mesa. — Nós mal a conhecemos. Ignorando-a, Ella ajeitou a posição de Lethia, deixando-a o mais confortável possível enquanto a convulsão seguia seu curso. As outras garotas alegaram não saber nada sobre a saúde de Lethia. Ella teve de mexer na bolsa da garota para descobrir que Lethia parecia ser epilética, e estava tomando um remédio para isso. — Você precisa de ajuda com ela? — perguntou alguém em inglês. Virando a cabeça, Ella encontrou Aristandros agachado ao seu lado, as feições bonitas surpreendentemente sérias. — Ela é epilética e precisa ir para um hospital, porque está inconsciente por mais de cinco minutos. Aristandros chamou uma ambulância, sua frieza se provando útil naquele momento de crise. Também contatou a família de Lethia, que confirmou que a garota era mesmo epilética. — Por que ninguém mais quis ajudar? — questionou Ella, enquanto eles esperavam a ambulância. — Suponho que a maioria das pessoas assumiu que o ataque era relacionado a drogas, e não quis nenhum envolvimento — explicou Aristandros. — Ninguém parecia saber que Lethia sofre de epilepsia. Suponho que ela não queria que as pessoas descobrissem — murmurou Ella, os olhos azuis compassivos. — Você falou em inglês comigo. Como sabia que eu era inglesa? Com um brilho divertido nos olhos escuros, Aristandros lhe deu um sorriso que tirou o fôlego de Ella. 20


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— Eu já tinha perguntado quem você era antes que Lethia desmaiasse. Ella enrubesceu, porque estivera convencida de que ele não a notaria. As outras garotas estavam exóticas em suas roupas sensuais e sofisticadas, enquanto ela vestia uma simples saia preta com blusa azul. — Por que você se aproximou? — Eu não podia tirar os olhos de você — confessou Ari. — Lethia foi apenas uma desculpa. — Você dispensa mulheres por mensagem de texto, então as chama de perseguidoras. Não estou interessada. — Ella trocou para o idioma grego, que falava fluentemente. — Não há nada mais excitante do que um desafio, glikia mou — respondeu Aristandros com voz rouca, os cílios pretos muito longos baixando...

CAPÍTULO TRÊS

As 9h da manhã seguinte, Ella entrou numa limusine prateada e observou suas malas sendo carregadas. Com os cabelos presos num nó na nuca, estava vestida numa saia cinza e blusa de riscas finas. Tinha consciência de que não parecia uma amante e orgulhava-se desse fato. Se Aristandros queria desperdiçar seu tempo tentando transformá-la numa mulher sedutora que se vestia para impressionar na hora de ir para a cama, então tinha nas mãos um daqueles desafios que alegava adorar. Ella apertou a bolsa no colo. Sexo era apenas sexo, e é claro que lidaria com aquilo. Tecnicamente, sabia muito sobre os homens. Com certeza, não era a mulher mais sexy do mundo... afinal, vivera anos como se o sexo não existisse. Celibato somente a perturbara uma vez, e isso quando tinha namorado Aristandros. Sentiu o rosto esquentando ao recordar-se dos beijos ardentes dele no iate. Sempre detestara a sensação de não estar no controle. Aristandros, por outro lado, adoraria colocá-la naquela condição e alimentar seu ego ainda mais. Quando a limusine parou no meio-fio, Ella desceu e observou o prédio diante de si surpresa, vendo o logotipo dos escritórios de advocacia. Andou para a recepção, onde foi imediatamente conduzida até uma sala. Aristandros virou-se da janela para estudá-la. — O que estou fazendo aqui? — questionou Ella antes que ele pudesse falar. Como sempre, ele estava magnífico, a figura grande e poderosa vestindo um terno elegante. Mas 21


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muito mais que isso, exalava uma aura de poder e autoconfiança. Olhos dourados se estreitaram focando o rosto dela, então desceram para os seios numa apreciação que era ousada e muito masculina. — Tenho um acordo legal aqui, redigido por meu advogado — Aristandros a informou. — Quero que você assine para que não haja mal-entendidos entre nós no futuro. Ella irritou-se. — Por que só estou sabendo disso agora? Pelo amor de Deus, já me demiti do emprego e concordei em vender meu apartamento! — Sim — concordou ele, sem se desculpar. — Você planejou isso dessa forma? Esperou que eu ficasse sem nada, de modo que tivesse menor probabilidade de argumentar seus termos? — O que adoro sobre você é sua falta de ilusão a meu respeito, glikia mou — replicou ele com ironia. — Espera que eu seja o patife que sou. Ella lutou para controlar sua raiva crescente. Sem dúvida, tinha sido ingênua em não se preparar para as táticas que ele poderia usar a seu favor. Na verdade, não lhe ocorrera que Aristandros considerasse necessário fazê-la assinar um documento legal, principalmente porque o acordo deles era de natureza íntima. — Você realmente discutiu nosso futuro relacionamento com seu advogado? — Sempre tento antecipar a possibilidade de problemas. E uma mulher tão determinada quanto você pode muito bem me causar problemas se quiser — disse Aristandros. — Mas você discutiu o fato de que quer que eu seja sua amante! — exclamou ela em tom condenatório. — Não será um segredo quando morar comigo e for vista constantemente a meu lado. Não vou fingir que você é apenas uma babá. A indiferença de Aristandros em relação aos sentimentos dela a enfurecia. — Você realmente não se importa sobre como me sinto com tudo isso, não é? — Eu deveria? — Ele arqueou uma sobrancelha cor de ébano. — O quanto se importou quando tive de contar aos meus amigos e à minha família que você não ia, afinal de contas, se tornar minha esposa? A resposta foi como um golpe físico para Ella, fazendo-a empalidecer ao recordar-se da culpa que sofrera naquela noite, sete anos atrás. — Fiquei muito chateada com aquilo. Mas não tive culpa se você decidiu presumir que o fato de que eu o amava significava que eu desistiria da medicina e me casaria com você! — acusou ela. — Não houve malícia da minha parte. Embora eu não quisesse me casar, gostava muito de você, e a última coisa que queria era magoá-lo de qualquer maneira. 22


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Os olhos de Aristandros se tornaram quase pretos de desprezo, e o maxilar enrijeceu. — Você não me magoou. Não sou tão sensível, glikia mou. Contudo, a raiva e o desejo de vingança, sete anos depois, davam a Ella uma mensagem muito diferente. Aristandros sempre gostava de exibir uma força indomável, sugerindo que não se tornava vulnerável facilmente. Todavia, agora parecia que a rejeição dela o ferira mais do que queria admitir. — Tanto faz — replicou Ella. — Isso ainda não é desculpa para contar ao advogado sobre possíveis problemas de um relacionamento íntimo! Nada é sagrado? — Certamente não sexo — disse ele. — Precisa entender que este não é um acordo de concubinato, e você não será minha parceira nesse sentido, portanto, não poderá exigir nada de mim no futuro. — Oh, estou entendendo agora! — exclamou ela furiosa. — Você está protegendo sua riqueza, mesmo sabendo muito bem que não tenho interesse no seu dinheiro! Meu Deus, se dinheiro fosse importante para mim, eu teria me casado com você quando tive a chance! — Aqui. — Sem mais discussão, Aristandros pegou o documento de cima da mesa e o estendeu. — Leia e assine. Sentindo as pernas trêmulas, Ella se sentou na poltrona mais próxima. Era um contrato longo e complexo. Tentando se acalmar, digeriu os termos. Logo estava tão horrorizada, que uma onda de náusea a assolou. Aristandros tinha reduzido o relacionamento iminente deles num acordo frio, repleto de exigências e impedimentos. Em retorno pelo privilégio de cuidar de Callie e ser totalmente sustentada por ele, Ella deveria dar-lhe prazer na cama todas as vezes que ele desejasse, esforçando-se para corresponder às suas expectativas em tudo que viesse a fazer. Deveria morar, se vestir e viajar de acordo com as vontades dele. Em adição, tinha de aceitar que a "vida privada" de Aristandros não era de sua conta, e qualquer interferência nesta questão seria considerada quebra do contrato. Ella teve de cerrar os dentes para conter uma explosão de raiva. As condições do que somente poderia ser chamado "serviço" dela eram inacreditavelmente detalhadas e humilhantes. Como qualquer homem ousaria discutir assuntos tão confidenciais com seu advogado? Como ele tivera coragem de ditar termos tão cruéis e desavergonhados? — Isso... é ultrajante! — disse Ella. — Por que não me põe numa coleira e se refere a mim como um bichinho de estimação? — Quero que a descrição do trabalho fique clara antes que você assuma o papel. Sou honesto sobre o que quero e espero de você. Não poderá dizer que não foi avisada. 23


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Enquanto continuava lendo, Ella ficou cada vez mais tensa. Ele estava até mesmo pondo restrições no seu contato com Callie... ela não teria direito de sair com Callie sem permissão e a companhia de um segurança. Deveria sempre respeitar a posição de Aristandros como único guardião legal da menina e obedecer às suas instruções. Qualquer tentativa de luta pela custódia ou de exercer direitos sobre a criança, resultaria em acesso negado a Callie. Ella tremeu com a ameaça brutal e olhou para Aristandros, estudando-lhe a expressão. Aquilo era sério. Ele não queria uma amante, e certamente não uma parceira... queria uma escrava, com a missão de agradá-lo. — Até este momento — murmurou Ella tremendo —, eu não tinha percebido o quanto você me odeia. — Não seja ridícula. — Se eu não puder nem mesmo discutir com você, não serei capaz de respirar! — Espero desacordos ocasionais — disse Aristandros. — Mas não aceitarei contínua hostilidade, que possa diminuir meu conforto. Ella não respondeu. O acordo redigido era um pesadelo humilhante. Sentia-se como se suas asas estivessem sendo cortadas e jamais seria livre novamente. Aristandros estava determinado a possuir seu corpo e sua alma, e controlar cada passo seu. — Perdemos tempo o bastante discutindo isso. Assine — ordenou ele friamente. — Não tenho direito a falar com meu advogado antes de assinar? Nem mesmo terminei de ler. — E claro que pode consultar seu advogado, mas isso levará mais algumas semanas, e você terá de esperar mais tempo para conhecer Callie — apontou ele. — Estou começando a entender por que você é tão rico. Sabe que botões apertar, como pressionar. —É claro. — Aristandros abriu as mãos bronzeadas num movimento flexível. — Eu a quero, e estou programado para lutar por você. — Você joga muito baixo — sussurrou Ella, abaixando a cabeça para ler, ainda chocada pela extensão de controle que ele pretendia exercer. Passou os olhos pelos detalhes financeiros, vendo o valor exorbitante da mesada que Aristandros estava lhe oferecendo, e o "pacote de benefícios" ainda mais generoso como prêmio de consolação no fim do relacionamento. Como poderia lutar contra ele? Tudo que lhe importava naquele momento era a promessa de ver Callie e assegurar que a menina recebesse o amor e a segurança que precisava para crescer. Não poderia perder esta oportunidade. — Você vai assinar? — Se eu assinar agora, quando verei Callie? — Amanhã. Ella suspirou e levantou-se para pôr o documento sobre a mesa. 24


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— Vou assinar. Aristandros chamou dois advogados e suas assinaturas foram testemunhadas. Ela não conseguiu olhar para nenhum dos homens, tamanha sua humilhação. Era difícil acreditar que o mesmo homem um dia a tratara com respeito e cortesia. O fato de Ella tê-lo rejeitado obviamente o fizera odiá-la. — E agora? — perguntou Ella quando estavam sozinhos de novo. — Isto... — Longos dedos seguraram seu rosto, inclinando-lhe a boca, e subitamente Aristandros a estava beijando, enviando uma reação explosiva ao corpo dela. Sem poder conter um tremor, Ella pressionou-se contra o peito sólido, impelida pela sensibilidade de seus seios e pela pulsação entre as pernas. Queria, precisava mais daquela conexão. Ele fechou uma mão sobre o seu quadril, puxando-a para si, e Ella deixou escapar um gemido baixo quando sentiu a força da ereção masculina mesmo através das roupas. Aristandros ergueu a cabeça e sorriu como um verdadeiro predador. — Congelada por fora, ardente por dentro, koukla mou. Quantos outros homens houve? — Alguns — mentiu Ella com hesitação, determinada a esconder o fato que somente ele era capaz de lhe extrair aquela resposta louca. — Sou uma mulher apaixonada. Um músculo saltou do maxilar dele. Os olhos se tornaram gelados. — Evidentemente. Mas, de agora em diante, toda essa paixão é minha. Entendeu? Brincando de mulher fatal, Ella ergueu cílios longos e sedosos e deu-lhe um olhar significativo. — É claro. Houve um momento de silêncio, enquanto Ella reunia coragem. — Vai me contar como Callie é? Aristandros pareceu surpreso com o pedido. — Ela é um bebê. O que se pode dizer sobre um bebê? Callie é bonita. — Ele hesitou. — É uma criança tranquila, boa... você mal percebe a presença dela na casa. Ella baixou os cílios para esconder sua preocupação com aquela descrição. Um bebê de um ano e meio deveria ser ativo e extrovertido, e não tranquilo e invisível. Evidentemente, sua sobrinha ainda estava sofrendo os efeitos de perder os pais. — Você tem um relacionamento próximo com ela? — É claro que sim. — Aristandros franziu o cenho. — Agora, se isso é tudo, a limusine está esperando. Você tem um compromisso. — Onde? — Vou levá-la à inauguração de uma galeria esta noite. Você vai precisar de roupas. — Eu tenho roupas. — Não que combinem com meu estilo de vida — contradisse ele. — Vejo você mais 25


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tarde. Pegando sua cópia do contrato, Ella voltou para o carro, ainda abalada pelo encontro. O chofer a levou para uma loja de grife. Sua chegada tinha sido claramente préarranjada. Foi recebida à porta e conduzida ao vestuário, onde alguém tirou todas as suas medidas. Dentro de minutos, uma seleção de trajes foi levada para que experimentasse. — E para o evento desta noite — murmurou a vendedora, balançando um elegante vestido preto diante de Ella —, o sr. Xenakis gosta deste em particular. Ella respirou fundo para não falar que aquele não era seu estilo. Na verdade, era difícil acreditar que Aristandros estivesse tão interessado nos seus trajes. Abandonara o trabalho por algumas horas, a fim de considerar a aparência dela? Um homem que se excitava tanto com o corpo feminino que até mesmo escolher roupas se tornava um prelúdio para o sexo? Ella focou seus pensamentos ansiosos em Callie e experimentou as roupas sem comentários, sendo tolerante até com a absurda coleção de lingerie de seda e renda. O novo guarda-roupa era apenas um suporte para capacitá-la a representar um papel, disse a si mesma. Infelizmente, a perspectiva de vestir uma lingerie provocante para beneficiar Aristandros quase a deixou em pânico. De súbito, desejou que não tivesse alegado ter um nível de experiência que não possuía. Em seguida, o chofer a levou a um salão de beleza. Ella não fez objeções. Na verdade, era bom ter alguém cuidando de seus cabelos e de suas unhas, e o processo de ser maquiada por um profissional a intrigou. Cores e técnicas que nunca sonhara em experimentar foram aplicadas. Não era de admirar que Aristandros a chamara de koukla mou... minha boneca. Ella agora era a boneca dele, para ser manipulada da forma que lhe proporcionasse prazer. Num estacionamento subsolo, ela desceu da limusine e foi conduzida a um elevador. Aristandros morava numa cobertura de três níveis, que dava vista para o Hyde Park. Uma grande extensão de espaço luxuoso parecia sair de todas as direções do imponente hall de entrada. Ela e suas sacolas foram levadas diretamente para o quarto principal. Uma piscina brilhava além das portas do pátio, ao lado de um terraço ensolarado e de um magnífico jardim coberto. Uma criada, que lhe falou em grego, mostrou-lhe o closet onde as roupas deveriam ser guardadas, antes de levá-la ao opulenta banheiro de mármore. Ella descobriu que não podia tirar a atenção da cama gigantesca que ocupava um lugar central no quarto. Sexo com Aristandros, pensou com o coração disparado... algo com que sonhara sete anos atrás, agora era uma ameaça. Todavia, se a prática levava à perfeição, ele devia ser melhor na cama do que a maioria dos homens. A criada pendurou o vestido preto, enquanto Ella selecionava um conjunto de lingerie azul-turquesa e foi para o chuveiro. Quando vestiu aqueles itens, parou diante do 26


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espelho, notando que as roupas de baixo se colavam aos seus seios e às curvas de seus quadris, sem mencionar partes mais pessoais. Naquele exato momento, a porta se abriu sem aviso. Arfando, ela pegou uma toalha para cobrir o corpo e arregalou os olhos azuis. Aristandros estava parado à porta, parecendo mais másculo do que nunca. Já tendo descartado paletó, gravata e sapatos, e com a camisa parcialmente aberta, revelando o peito poderoso, exalava sensualidade. — Deveria ter trancado a porta se não queria companhia — provocou ele, vendo-a agarrar a toalha contra os seios. — Para uma mulher que esteve com alguns homens, você é muito tímida. O orgulho a fez erguer a cabeça, os cabelos quase brancos de tão loiros emoldurando-lhe o rosto. — Não sou nem um pouco tímida! — Derrube essa toalha e prove isso — aconselhou ele preguiçosamente. Ella não hesitou. Soltou a toalha, deixando-a cair aos seus pés. Sabia que era tolice, mas se sentia mais nua e ciente na lingerie sofisticada do que teria se sentido em suas próprias roupas de baixo. Aristandros olhou, não tentando esconder sua apreciação. — Vale a pena despi-la, glikia mou. Ella arfou, sabendo que seus mamilos tinham se arrepiado e estavam visíveis sob a renda. Sua boca secou quando ele deu um passo à frente e segurou-a pelos quadris, erguendo-a sobre a pedra de mármore da pia, como se ela não pesasse nada. — O que você está fazendo? — demandou Ella. — Apreciando você — respondeu Aristandros com voz rouca, inalando-lhe o aroma da pele quando se inclinou. Seu sabonete, sua mulher, no lugar onde ela pertencia. Pressionou a língua quente no pescoço delicado, onde uma pequena pulsação batia freneticamente. Com a ponta da língua, provocou-a. Deslizou as mãos dos ombros delgados para descer o sutiã e liberar os seios do confinamento. — Você é perfeita. — Ele moldou um dos seios na mão e provocou-o com os lábios. Surpresa, Ella sentiu-se indefesa, mentalmente despreparada para um desafio sexual antes que a noite caísse. Seus mamilos estavam insuportavelmente sensíveis. Inclinou a cabeça para trás e gemeu em resposta às carícias. Estava em chamas antes que Aristandros abaixasse a cabeça para explorar o centro da feminilidade. Seu corpo traidor quase delirava de desejo. Ele entreabriu os lábios internos e tocou-a com os dedos, enquanto beijava a boca ardentemente. Ella tremia inteira. Num ritmo vagaroso, ele circulou o ponto mais sensível, brincando com a pele delicada. Sem forças para impedir aquilo, Ella entregou-se à maestria erótica. Logo chegou ao estágio onde poderia ter chorado de frustração e lhe suplicado de joelhos por satisfação. 27


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Uma risada divertida saiu dos lábios da Aristandros quando ela o puxou para mais perto com mãos frenéticas, procurando pelo consolo temporário de contato físico que a posição deles lhe negava. — Respire fundo, khriso mou — disse Aristandros. — Temos a inauguração de uma galeria para ir, e preciso de um banho... — Inauguração de uma galeria? — Com grande dificuldade, Ella controlou o desejo sexual que ele lhe despertara e retornou à razão. Era como sair do coma e entrar num mundo novo. Não podia acreditar que Aristandros a seduzira no banheiro, e agora queria ir para o banho, enquanto ela ainda o abraçava. Tirou as mãos dele como se tivesse sido queimada. — É claro. — Não temos tempo. — Aristandros a desceu da pedra de mármore. — Não quero que você seja como um prato rápido. Quero saboreá-la como uma festa e apreciar cada nuance. — Um prato rápido — repetiu Ella com desprezo. Ele a estudou longamente. — Você me quer. Chegará um momento que nem mesmo se importará como eu a tomo... apenas querendo que eu faça isso. — Nunca — jurou ela. — Prefiro morrer! Um sorriso presunçoso brincou na boca linda. — Conheço as mulheres. Nunca me engano. — Você se enganou uma vez — Ella o relembrou antes que pudesse pensar. Os olhos escuros esfriaram no rosto de Aristandros. — Não ouse. Um nó se formou no estômago de Ella. Arrependida das palavras impulsivas, ela voltou para o quarto. Por um segundo, recordou-se do momento alegre quando ele lhe pedira em casamento. Sua felicidade havia se transformado em horror um instante depois, quando Aristandros anunciara publicamente os planos deles, dizendo que ela desistiria da medicina a fim de ser esposa e mãe. Minutos depois, eles estavam engajados numa disputa na qual se tornara claro o quanto Aristandros podia ser inflexível. Não havia meio termo para ele. Era tudo ou nada. O rompimento da relação parecera cruel e injusto para Ella. Pelo menos desta vez, pensou, sabia o que esperar se o contrariasse. Não haveria uma segunda chance para acertara situação...

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CAPÍTULO QUATRO

— Eu quase esqueci — observou Aristandros, entrando numa sala imponente que saía do hall e deixando Ella à porta. Ella observou-o erguer uma pequena caixa da mesa, e franziu o cenho. — Venha aqui — chamou ele com sua impaciência usual. — Você não pode ir sem jóias. — Não tenho nenhuma. — Vou iniciar a sua coleção, glikia mou. — Aristandros tirou um colar de diamantes de sua cama de veludo quando ela se aproximou, com as pernas rígidas. — Vire-se. — Não quero isso! — Apesar de tolerar as roupas, um rio de diamantes ia bastante contra seus princípios. — Mas é meu desejo que você o use — declarou ele, dedos determinados se curvando sobre os ombros dela para virá-la. Ella tremeu quando as pontas dos dedos de Aristandros roçaram sua nuca. Ele a girou de frente e, com satisfação, estudou a jóia circulando o pescoço dela. Ella ficou surpresa pela multidão na inauguração da galeria. Nunca sonhara que pudesse ver tantas pessoas bem-vestidas e celebridades reunidas num só lugar. Assim como nunca tinha recebido tanta atenção pessoal. No momento em que entrou no salão ao lado de Aristandros, todas as mulheres pareceram olhar na direção deles, sussurrando comentários. Enquanto Ari discutia uma escultura com seu criador, Ella percorreu o longo espaço. Admirava uma pintura encantadora de uma praia, quando foi abordada por uma ruiva alta, cujo corpo perfeito era adornado por um minúsculo vestido de seda branca. — Então, você é a minha substituta! — disse a mulher, os olhos verdes acusadores e furiosos. — Quem é você? Quando exatamente Aristandros a conheceu? Ella sabia quem era a linda ruiva. Chamava-se Milly, uma modelo famosa, e provavelmente a amante mais recente de Aristandros. Ella não disse nada, uma vez que viu lágrimas nos olhos da outra mulher. — Você não vai receber nenhum aviso de que acabou. Um dia está com ele e o mundo lhe pertence, e no dia seguinte está sozinha, e não há nada que possa fazer sobre isso. Ele não atenderá mais seus telefonemas — disse Milly. — Todas as portas se fecharão na sua cara. — Deve haver opções muito mais seguras e recompensadoras para uma mulher tão 29


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jovem e linda como você — murmurou Ella. — Não dê a ele a satisfação de saber que você se importa. Milly a estudou em confusão. — Está sendo gentil comigo? Você não tem ciúme? — Não — declarou Ella com inata dignidade. — Não sou do tipo ciumenta. Tarde demais, ela viu a atenção da ruiva ser desviada. — Milly — Aristandros cumprimentou a outra mulher educadamente, vindo por trás de Ella. — Você não tem ciúme? — perguntou ele quando Milly desapareceu rapidamente no meio da multidão, enervada pelo olhar gelado do ex-namorado. — É claro que não — replicou Ella, pensando nos sete anos que passara lendo sobre as incontáveis mulheres na vida de Aristandros. Familiaridade, estava convencida, tinha trazido tolerância e bom-senso ao seu modo de encarar as coisas. Para todo lugar que Aristandros ia, era alvo da ambição das mulheres. Aquele era um fato da vida, e enquanto ele permanecesse rico e lindo, essa situação não mudaria. Fitando-a com ironia, Aristandros a conduziu de volta para a paisagem da praia. — Isso me lembra Lykos... a praia abaixo da casa — comentou ele, inclinando a cabeça imperiosa para o dono da galeria a poucos metros de distância. — Nós vamos levar este. Aristandros tinha herdado a ilha grega de Lykos do lado materno de sua família. Uma vez Ella fizera um piquenique lá com ele, e de repente, os anos voltaram em sua cabeça, fazendo-a lembrar-se de como a brisa bagunçara seus cabelos enquanto eles comiam. Agasalhada para a temperatura de inverno, ouvira com interesse enquanto Aristandros falava sobre os planos de revitalizar a economia precária da ilha e impedir que a população empobrecesse ainda mais. O senso de responsabilidade dele pela pequena comunidade de Lykos a impressionara muito. — Onde você vai pendurar a paisagem da praia? — Aristandros perguntou quando eles saíram da galeria. — Onde eu vou pendurá-la? — murmurou ela, confusa. — Está dizendo que comprou o quadro para mim? — Por que não? — Porque não quero que me compre presentes. Você está gastando dinheiro comigo de um modo absurdo! — Ella falou irritada enquanto eles atravessavam a rua até a limusine prateada. Barreiras de seguranças impediam que os membros da imprensa se aproximassem demais. Com a coluna rígida, Ella piscou enquanto fotos eram tiradas e faziam perguntas a Aristandros. A maior curiosidade era sobre a identidade da nova companheira dele. Todavia, Aristandros os ignorou gloriosamente, entrando na limusine a seu lado. 30


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— É claro que vou lhe comprar coisas. Acostume-se com isso. — Só estou aqui por causa de Callie. Contato com ela é a única recompensa que quero — proclamou Ella, mexendo nervosamente no colar de diamantes para dar ênfase a seu ponto. Ele estreitou os olhos. — Nenhum homem quer ouvir que seu único atrativo é um bebê de 18 meses, khriso mou. Ella ergueu a cabeça. — Mesmo se isso for verdade? — Mas não é verdade. É uma mentira da qual deveria se envergonhar — disse Aristandros com um sorriso zombeteiro. — Você me quer tanto agora quanto me queria sete anos atrás. Não faça dessa criança sua desculpa. Ella perdeu a cor. — Não é uma desculpa. Posso ocasionalmente achá-lo... atraente, mas eu não teria feito nada a esse respeito. — Então o fato de que nós nos gostamos e nos desejamos no passado não significou nada para você? — Não seja ridículo... é claro que significou! — protestou Ella. — Mas você queria que eu fosse alguém que eu não poderia ser. Aristandros fechou uma mão sobre a dela para forçá-la a virar-se e encará-lo. — Eu só queria que você fosse uma mulher, não uma feminista fanática. — Eu nunca fui fanática — retrucou ela com raiva. — Fui sensata. Queríamos coisas totalmente diferentes da vida. Não poderia ter dado certo. — Sem dúvida, o tempo dirá. — Ele liberou-lhe a mão. O silêncio que se seguiu durante o retorno deles para a cobertura a deixou nervosa. Compartilhar uma cama em breve com Aristandros já seria difícil o bastante sem aquele clima tenso entre os dois. — Se o quadro será meu, vou pendurá-lo aqui em algum lugar — disse Ella abruptamente, tentando amenizar a atmosfera. — Porque não tenho outro lugar para morar no momento. Aristandros lhe deu pequeno sorriso, como se estivesse satisfeito pela obediência. — Você mora onde moro agora. Um tremor involuntário a percorreu com a ideia de ter sua alma independente destruída. O grego alto e poderoso fechou as mãos sobre seus ombros para virá-la de frente para ele, os olhos dourados encarando-a. — Não lute com o inevitável, glikia mou. Abrace estas mudanças em sua vida. Você 31


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pode até mesmo descobrir que as aprecia. — Nunca — jurou ela veementemente. — Ouço palavras de sua boca com as quais nenhuma outra mulher jamais ousou me confrontar — murmurou ele em tom sedoso. — Você é verdadeiramente única. Reconhecendo o triunfo de Aristandros na posição em que ele a colocara, Ella fechou os olhos com força. Então, quando ele lhe cobriu a boca com um beijo ardente, sua única arma foi a raiva. Mas mesmo enquanto usava ambas as mãos para empurrar o peito sólido, pensou melhor na sua ação. Tinha feito um acordo com o demônio, e agora era a hora do pagamento. Enquanto Aristandros a beijava, Ella permaneceu imóvel como uma estátua, sem corresponder. Mas ele brincou com sua boca, suavemente no começo, então de modo ardente e sedento, até que conseguiu derreter sua resistência, e a resposta sensual fez seu corpo traidor tremer numa onda poderosa de desejo. Com um gemido de aprovação, Aristandros a ergueu nos braços e carregou-a para o quarto principal. O coração dela batia violentamente, tornando-a ofegante. Quando ele a colocou no chão, Ella tirou os sapatos. Um gemido baixinho escapou de sua garganta no momento que o zíper de seu vestido foi aberto. A boca sensual era como fogo em sua pele. O deslizar da língua entre seus lábios entreabertos era um afrodisíaco indescritível. Por um instante, foi abalada pela consciência que o desejava tanto quanto precisava de ar para respirar. A culpa a dominou por um momento, enquanto entendia que era mais fraca do que acreditara ser. — Pare com isso — disse Aristandros, observando-lhe a expressão perturbada. — Parar o quê? — De nutrir os pensamentos que estão transformando-a numa múmia egípcia. Ella enrubesceu. — Na verdade, não pense em nada — continuou ele. — Isso é sexo. Você não precisa estudar o ato sob um microscópio. Seja espontânea... natural. — Natural? — exclamou Ella. — Esta é a coisa menos natural que já fiz! — Somente porque você está lutando contra tudo que a faço sentir. O fato de ele reconhecer sua luta interna a surpreendeu, porque não lhe ocorrera que Aristandros poderia entendê-la. Impaciente, ele a impulsionou para a cama. — Isto é sexo — repetiu com um desprendimento que ia contra todos os instintos de Ella. Mas se quisesse que o acordo deles funcionasse, refletiu, teria de parar de julgá-lo e esperar mais do que ele provavelmente jamais lhe daria. — Quantos homens você disse que foram? — perguntou Aristandros, observando-a cobrir-se com o lençol até que somente os ombros pudessem ser vistos. 32


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Ella sentou-se, as feições delicadas se tornando defensivas. — Eu não disse! Um silêncio se estendeu. Com um sorriso sardônico, Aristandros se despiu devagar, com movimentos graciosos, atraindo a atenção de Ella, independentemente do quanto tentasse evitar aquele lado do quarto. Desde os ombros muito largos até o lindo torso definido, era a perfeição masculina esculpida. Ela também não pôde evitar notar que ele estava excitado, e seu coração disparou com a visão. — Menos de cinquenta? — perguntou Aristandros casualmente. Ella lhe enviou um olhar perplexo. — Definitivamente menos que cinquenta — decidiu ele por si mesmo. — Não é da sua conta! Pare de fazer um drama disso. — Saia daí de baixo do lençol. Numa série de movimentos violentos, Ella jogou o lençol de lado, e reclinou-se contra os travesseiros numa pose exagerada, com a coluna arqueada e o peito aberto. — Satisfeito? Aristandros fixou o olhar nos seios volumosos cobertos pelo sutiã azul-turquesa. — Ainda não. Tire tudo, glikia mou. Os olhos azuis se arregalaram. — Tudo? Ele assentiu com uma inclinação da cabeça. Por um segundo, Ella ficou rígida em rejeição, então se levantou. Com uma postura desafiadora, removeu as peças íntimas. Olhos escuros percorreram sua pele clara e suas curvas delgadas. Aristandros aproximou-se e envolveu-a nos braços. — Já sinto como se tivesse esperado uma vida inteira por você! — murmurou ele, clamando-lhe a boca de maneira possessiva, mesmo enquanto as mãos fortes lhe moldavam os seios arredondados e provocavam os mamilos rijos. O corpo de Ella ganhou vida quase imediatamente. Ondas de desejo lhe percorreram os seios e a pélvis, acordando cada célula de seu ser. Beijá-lo subitamente se tornou uma necessidade feroz, enquanto os lábios másculos e a língua de Aristandros executavam uma exploração erótica na sua boca. Mãos fortes tocando seu corpo sensível a fizeram pressionar o corpo contra o torso musculoso. Ele a deitou na cama e cobriu-a com o corpo poderoso. Em segundos, Ella estava tomada por um desejo ardente que somente conhecera uma vez. Como se por vontade própria, seus quadris se ergueram e suas pernas se abriram, pedindo um contato ainda mais íntimo. Aristandros ergueu a cabeça para fitá-la. — Você vai aproveitar muito mais quando abrir mão do seu autocontrole rígido. — Não zombe de mim. — Não estou fazendo isso. Quero que esta seja uma noite inesquecível. 33


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O corpo de Ella estava em chamas, agindo por vontade própria, incapaz de obedecer aos comandos da mente. Tremia, tomada por um desejo avassalador e indescritível. Num gesto instintivo, entrelaçou as mãos nos cabelos de Ari, puxando-lhe a cabeça para que pudesse encontrar-lhe a boca novamente. Ele lhe deu um olhar de surpresa. — Você fala muito — disse Ella. Com uma risada rouca deliciosa, Aristandros a beijou com pura paixão. O desejo crescente e desesperado acabou com quaisquer defesas de Ella. — Se thelo... eu a quero — sussurrou ele, estudando-a com apreciação. — Quando você responde assim, me enlouquece, khriso mou. Ela contorceu-se e gemeu quando ele explorou o centro íntimo entre as suas pernas. Ondas poderosas de prazer a percorreram quando Ari provocou o pequeno botão abaixo de seus pelos claros. Toda resistência desapareceu. Seu ser inteiro estava centrado no desejo pulsante que ele lhe despertava... um desejo que se tornou cada vez mais forte, até que o corpo de Ella explodiu num clímax espetacular... uma explosão que começou no baixo-ventre e, de modo lento e maravilhoso, espalhou-se por todo o seu corpo. Ainda estava inundada pela sensação abençoada e pela intensidade da experiência quando Aristandros deslizou entre suas pernas e posicionou as mãos sob seus quadris para erguê-los. O pênis ereto e poderoso provocou a abertura úmida, fazendo-a arfar. Ele tentou penetrá-la, mas por um instante, o corpo delicado pareceu resistir à invasão. Com um gemido estrangulado, Aristandros posicionou-se de joelhos a fim de facilitar sua entrada, e a pele úmida finalmente cedeu para acomodá-lo. Ella gritou com o súbito prazer da penetração. Seu coração estava bombeando violentamente enquanto ele se movia, renovando-lhe a excitação e enlouquecendo-a mais uma vez. Nunca tinha sentido nada tão incrível. Impressionada pela intensidade explosiva de prazer que a envolvera minutos atrás, estava mais preparada quando aconteceu de novo, antes que Ari alcançasse a própria liberação. Depois da experiência magnífica, Ella sentiu-se chocada quando uma fraqueza física drenou suas respostas extravagantes. — Meu sonho antigo tornou-se realidade — murmurou Aristandros, estendido na cama como um gato no calor do sol. Então, virou-se para ela e beijou-lhe a testa, estudando-a com satisfação. — Uma mulher de múltiplos orgasmos que deixa minha cama em chamas, khriso mou. Ella estava envergonhada por ter sido tão responsiva. Não podia negar que sexo com Aristandros provara ser uma atividade extremamente prazerosa. Todavia, justo ou não, detestava-o pelo fato de ele ter lhe proporcionado tanto prazer. Afinal de contas, havia planejado apenas tolerar o sexo com ele, não deixá-lo com a impressão de que era 34


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um amante maravilhoso. — É tão linda — Aristandros observou, acariciando-lhe os cabelos loiros que cascateavam sobre os ombros. — Mas muito imaginativa com relação à verdade. Ela enrubesceu. Afastando-se um pouco, perguntou: — Isso significa...? — Você me disse que já teve diversos amantes. Mas não acho que houve nem mesmo um. — Bem, você está errado — replicou ela, furiosa. Aristandros capturou-lhe a mão quando ela tentou escapar para o outro lado da cama. — Nunca dormi com uma virgem antes, mas você parecia uma. Afrontada pela intimidade daquele comentário, Ella retirou sua mão da dele. — Bem que você gostaria, não? — provocou, o rosto corado. — Você é grego até a alma. Dorme com inúmeras mulheres, mas não quer uma que aprecie a mesma liberdade. Na verdade, sua maior fantasia hipócrita é uma virgem! — Não fale assim comigo — avisou ele, o tom de voz sério e gelado. — Se miso... odeio você — retrucou Ella. Levantando-se, refugiou-se no banheiro. Tremia inteira, e seus olhos estavam marejados com lágrimas contidas. Aristandros se tornara seu primeiro amante, mas ela preferia cortar a própria língua a admitir tal fato para ele. Não queria lhe dar essa satisfação... o conhecimento de que não tivera intimidade com nenhum homem desde que ele tinha saído de sua vida sete anos atrás, dizendo-lhe que ela se arrependeria por rejeitálo enquanto vivesse. Ella conhecera outros homens, mas infelizmente nenhum deles lhe causara o mesmo efeito que Aristandros Xenakis. Tendo amado Ari e o perdido, estivera determinada a não se contentar com menos. E suas expectativas altas asseguraram que permanecesse solteira e sozinha. Reconhecer o quanto havia traído seus próprios ideais doía. Ari a fazia sentir-se vulnerável e ameaçada. Ela tomou um banho, ainda abalada pelo fato de ele ter notado sua inexperiência. Após anos de atividades atléticas e o processo de doação de óvulos que resultara na gravidez de sua irmã, estivera confiante de que ele não teria razão para adivinhar a verdade. Seu orgulho lhe negava qualquer direito à verdade. Estava enrolada numa toalha quando uma batida soou à porta. Ella abriu. — O que foi agora? — Qual é o problema com você? — demandou Aristandros. — Somos bons juntos. Amanhã você vai conhecer Callie. O que há de errado? O som do nome de sua sobrinha, o lembrete do acordo deles, à acalmou. — Nada errado. Foi um longo dia, e acho que estou cansada — murmurou ela, passando por ele e indo para o quarto. 35


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No closet, selecionou uma camisola de alcinhas e voltou para a cama, censurandose pela perda de controle. Estava sendo tola. Ser antagônica em relação a Aristandros era pura insanidade. Ofendido, ele se vingaria, e Ella teria mais a perder. Não era necessária a ele e muito menos insubstituível. Diversas mulheres ficariam felizes em assumir o papel de amante, e nenhuma delas o insultaria. Aristandros não estava acostumado com esse tipo de tratamento e não toleraria. Muito cedo na manhã seguinte, ainda meio adormecida, ela o ouviu tomando banho e deixando o quarto. Uma criada a acordou algumas horas depois, e disse que Aristandros a esperava para o café da manhã. Ciente de que encontraria Callie em algumas horas, Ella saltou da cama com entusiasmo e aprontou-se. Ofegante e tensa, entrou na elegante e moderna sala de jantar. — Bom dia — sussurrou, cada célula do seu ser pulsando quando Aristandros largou o jornal e levantou-se em toda sua altura e postura de comando. Ter feito sexo com ele aumentara incrivelmente sua consciência do poder daquele corpo másculo. Podia sentir um calor a envolvendo mesmo antes de encontrar os olhos dourados brilhantes. Ele a estudou com expressão inescrutável. Por alguma razão, Ella recordou-se do primeiro encontro amoroso deles, sete anos atrás, quando Aristandros chegara a sua casa, sem aviso, numa manhã, acordando a família inteira, porque queria levá-la para passear de iate. O padrasto de Ella tinha demonstrado exagerada alegria, enquanto seus meio-irmãos gêmeos haviam ficado divididos entre aprovar ou desaprovar que o bilionário Xenakis, com uma má reputação, tivesse interesse em uma das irmãs deles. Apenas sua mãe tivera reservas. Ella não se dera conta de quão rico, poderoso e famoso Aristandros era, até que viu o modo como outras pessoas o tratavam. Estava surpresa por seu apetite agora, e tomou um bom café da manhã antes de perguntar: — Callie está vindo para cá? — Não. Ela estará nos esperando na Hellenic Lady, com a babá. Vamos navegar para a Grécia — Aristandros a informou. Como o resto de sua família, Aristandros sentia-se o homem mais feliz do mundo quando estava num barco. Susie costumava reclamar muito sobre o amor de Timon pela água, uma opinião que Ella não compartilhara. — Espero que ela goste de mim — murmurou Ella antes que pudesse evitar a admissão de sua insegurança. — E claro que vai gostar. — Ele lhe deu um olhar demorado, repleto de apreciação masculina. Ella enrubesceu e mexeu seu café. 36


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— Callie também teve muita sorte por eu deixá-la sair da cama esta manhã — murmurou Aristandros com voz rouca. Então descansou uma mão bronzeada na coxa dela, convidando-a a encará-lo. — Eu queria mantê-la acordada a noite inteira. Moderação não é meu estilo, koukla mou. Muito consciente do desejo intenso nos olhos dourados, Ella se descobriu inclinando-se para a frente a fim de encontrar-lhe os lábios. Não poderia ter explicado o que a impulsionou a fazer aquele movimento corajoso. Mas o beijo espontâneo foi indescritivelmente doce e inebriante, enviando energia vibrante para todas as suas terminações nervosas. Um momento depois, as mãos de Aristandros estavam em seus cabelos, puxando-a para si, antes que ele a tirasse da cadeira diretamente para seus braços. Excitação a percorreu como fogo enquanto ele a carregava de volta para o quarto.

CAPÍTULO CINCO

Ella estava tão nervosa que seu coração parecia querer saltar do peito no momento que viu Callie no salão de recepção do iate Xenakis. No primeiro olhar, reconheceu o quanto sua filha biológica se parecia com ela, com os cabelos loiros prateados e olhos azuis em formato amendoado. Perguntou-se com tristeza se, ironicamente, aquela semelhança pronunciada, tinha despertado a insegurança em Susie sobre seu papel como mãe de Callie. A menininha virou-se do brinquedo com o qual estava entretida e focou a atenção não em Ella, mas em Aristandros. Todavia, em vez de correr para cumprimentar o grego alto, como seria esperado, Callie acenou-lhe e sorriu. Aristandros acenou de volta. — Ela sempre sorri quando me vê — comentou Aristandros, evidentemente contente com o estilo de seu cumprimento. Ella aproximou-se de sua sobrinha e ajoelhou-se, o coração batendo descompassado enquanto estudava a criança, cujos olhos muito azuis revelavam curiosidade. Uma mãozinha tímida foi estendida para tocar os cabelos igualmente loiros de Ella, então a menina removeu a mão rapidamente. Reconhecendo o medo de Callie pelo desconhecido, Ella começou a conversar para se apresentar, e, dentro de minutos, tinha esquecido totalmente a presença de Aristandros e da babá grega parada do outro lado do vasto salão. Quando se recordou da presença deles, olhou para trás, mas Aristandros havia desaparecido. Logo descobriu que Callie se animava quando ouvia música e 37


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adorava dançar. A garotinha riu encantada quando Ella participou da dança infantil, e a atmosfera tornou-se mais relaxada. Quando refrescos foram servidos, Ella sentou-se para conhecer a jovem babá de sua sobrinha, Kasma, e descobriu mais sobre a rotina da criança. Enquanto as duas mulheres conversavam, Ella fez um chapéu de guardanapo para divertir Callie, que estava ficando entediada. Callie finalmente concordou em se sentar no colo de Ella para comer uma fruta. O peso quente e sólido da criança em seu colo momentaneamente levou lágrimas de felicidade a seus olhos. Aquele era um momento que nunca imaginara que experimentaria. Naquele instante, todos os sacrifícios que fizera pareceram ter valido a pena. Kasma tinha muitas coisas interessantes para lhe contar. A jovem respeitava muito Aristandros para criticar seu empregador. Mesmo assim, o que Ella descobriu, através de questões sutis, logo a convenceu de que Aristandros não possuía habilidades parentais e, provavelmente, não tinha interesse em admitir tal deficiência. Mas então, Callie logo adormeceu em seus braços, e Ella seguiu Kasma para uma cabine no deque inferior, decorada como um quarto de bebê, e colocou sua sobrinha no berço para uma soneca. Desejosa por se refrescar... algo que não tivera a chance de fazer mais cedo naquele dia, depois da partida apressada deles da cobertura de Londres... Ella retornou para a cabine principal, onde tomou uma ducha no fabuloso banheiro de mármore da suite. Não pôde deixar de sorrir ao reviver a tarde que acabara de passar. As horas pareciam ter voado enquanto estivera com Callie. Uma comissária de bordo apareceu para lhe dizer que Aristandros a esperava no salão. Ella terminou de secar os cabelos, o corpo formigando em sintonia com seus pensamentos, porque não podia esquecer-se do amor erótico e excitante com Aristandros no início do dia, ou da liberação abençoada que experimentara mais uma vez nos braços dele. — Uma mudança de planos... voaremos para Paris em uma hora — anunciou Aristandros quando ela se juntou a ele. — Paris? — Involuntariamente, ela estudou-lhe as feições bonitas. Mesmo num terno formal e gravata de seda escura, Ari emanava tanta sexualidade que sua boca se secou completamente. — Alguns amigos estão dando uma festa, e estou ansioso para exibi-la. — Mas Callie está na cama e exausta. Acabou de voar da Grécia — Ella o relembrou desconfortavelmente. — Ela pode dormir durante o voo. — Aristandros deu de ombros, ignorando o protesto. — Crianças são muito resistentes. Devo ter viajado ao redor do mundo com meus pais na idade dela. Como você se deu com Callie? — Nós nos demos muito bem, mas levará tempo para que ela se apegue a mim. — Ainda assim, você será uma mãe melhor do que Susie foi — previu Aristandros 38


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com ironia. Perplexidade e irritação com a crítica a fizeram defender sua irmã falecida. — Por que está dizendo isso, pelo amor de Deus? Manuseando um arquivo de negócios, Aristandros ergueu uma sobrancelha cor de ébano e olhou para cima novamente. — Não tenho medo da verdade, e morte não compra santidade. Você nunca deveria ter doado óvulos à sua irmã para que ela engravidasse. Susie não foi capaz de lidar com isso. Uma doadora anônima teria sido uma opção muito mais segura. — Sobre o que está falando? — Ella exigiu saber. Aristandros lhe enviou um olhar impaciente. — Não me diga que nunca percebeu que, na opinião de Susie, você era a irmãzinha inimiga? Brilhava mais do que ela em beleza e inteligência, e aumentou seus pecados atraindo meu interesse. — Isso é completamente absurdo! — Não é. Susie tentou me conquistar muito antes de olhar para Timon, mas não mordi a isca. Ella estava abalada por uma informação que nunca lhe passara pela cabeça antes. Susie se sentira atraída por Aristandros? Tal possibilidade jamais lhe ocorrera. — Isso é verdade? Aristandros franziu o cenho. — Por que eu mentiria sobre isso? Não fiquei satisfeito quando Susie começou a namorar Timon, mas ele se apaixonou perdidamente por sua irmã. Ella empalideceu, as maçãs do rosto tornando-se mais proeminentes sob a pele clara. Subitamente, coisas que não havia compreendido, mas que lhe deram uma sensação de desconforto, estavam sendo explicadas... as constantes reclamações de sua irmã sobre a inabilidade de Ari ser fiel durante o período que Ella o namorara, as acusações contínuas de que Ella não apreciava sua sorte o bastante. — Independentemente do que sua irmã fez, Timon a perdoou, porque a amava. Mas quando você possibilitou que eles tivessem um bebê juntos, e Susie rejeitou a criança, Timon não pôde aceitar. Ella arfou em perplexidade. — Susie rejeitou Callie? Como? — Deixou a filha na mão de empregados. Mesmo insistindo que não poderia viver sem o bebê, rejeitou Callie após o nascimento. Timon estava arrasado. Consultou médicos e psicólogos para a esposa, mas Susie se recusou a ir às consultas. E finalmente, Timon começou a falar sobre divorciar-se e pedir a custódia de Callie. O casamento estava no fim quando eles faleceram. 39


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Triste e abalada pela nova descoberta, Ella sentou-se pesadamente numa cadeira. — Eu não tinha ideia de que a situação era tão séria. Se eu soubesse, se Susie tivesse me recebido depois do nascimento de Callie, talvez eu pudesse... — Você era a última pessoa que poderia tê-la ajudado. Susie tinha inveja de você. — É perfeitamente possível que Susie estivesse sofrendo de severa depressão pósparto. Minha família não tentou ajudá-la? — perguntou Ella. — Não acho que eles reconheceram a extensão do problema, ou que queriam se envolver, uma vez que viram que o casamento de Susie estava em grave crise — replicou Aristandros, sem rodeios. Ella sabia que em tais circunstâncias seu padrasto ditador teria dito à esposa que cuidasse da própria vida, e sua mãe não teria coragem de desafiá-lo, mesmo se discordasse. Ella sentia-se insuportavelmente triste. Susie sofrera de depressão? Todavia, nem mesmo Timon tinha sido capaz de persuadi-la a procurar ajuda profissional. A pobre Callie experimentara uma vida insegura desde o momento que havia nascido. Ella agora entendia por que a garotinha era muito quieta e pouco ativa para sua idade. — Quanto tempo você passa com Callie? — perguntou para Aristandros. Ele arqueou as sobrancelhas, como se estivesse surpreso pela pergunta. — Eu a vejo todos os dias que estamos sob o mesmo teto. — Mas você brinca com ela? Conversa? Segura-a? Aristandros retraiu-se com as perguntas diretas. — Não sou o tipo de homem que sabe demonstrar afeição. É por isso que você está aqui. Com um suspiro, Ella se levantou. — Não quero ofendê-lo, mas preciso ser franca. No momento, tudo que você parece fazer é acenar para Callie da porta do quarto dela uma ou duas vezes ao dia. Aristandros ergueu as mãos em objeção ao tom de censura. — É um pequeno jogo que fazemos. Que mal há nisso? Ella estava prestes a perder a paciência. Ele não era tão obtuso. Não podia acreditar que era um ótimo pai com um aceno de longa distância. — Callie precisa ser tocada. Precisa que conversem com ela e brinquem em sua companhia. A razão pela qual não correu para cumprimentá-lo hoje é porque se acostumou a vê-lo a distância. E é assim que você gosta disso, não é? Ser pai sem tocar. Mas Callie precisa de contato real com você... — O que devo fazer com um bebê? — questionou ele, claramente ofendido pela crítica. — Sou um homem muito ocupado, e estou dando o melhor de mim. — Sei que está. Você só precisa de certo direcionamento — murmurou Ella, de repente imaginando se o relacionamento dele com os pais disfuncionais também tinha 40


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sido baseado em acenos a partir da porta do quarto. — E então você seria brilhante, porque sempre faz muito bem tudo a que se determina. Os olhos escuros brilharam, enquanto um sorriso lento e charmoso curvava a boca esculpida. — Me elogiar não vai adiantar, glikia mou. — Vai pensar melhor sobre voar para Paris... pelo bem de Callie? — pressionou Ella suavemente. — Você não faz bem o papel da mulher doce e submissa. Mortificada pelo tom irrisório que a informava de que ele entendera perfeitamente sua tentativa de impor seu modo de pensar, Ella endireitou a coluna, mesmo enquanto enrubescia. — Eu estava tentando ser cuidadosa. — Não gosto disso. Não combina com você — declarou Aristandros sem rodeios. — No primeiro dia que encontrou Callie, preciso lembrá-la de que tomo todas as decisões em relação à criança? Ella empalideceu com o lembrete. Encontrou olhos frios avisando que ele não tinha intenção de permitir que sua autoridade fosse contestada, fazendo-a lembrar quem estava no controle, e que ela entrava num território perigoso do qual talvez não conseguisse sair. Era óbvio que Aristandros pretendia fazê-la cumprir, ao pé da letra, o contrato que assinara. Ella havia prometido não interferir na criação de Callie. Subitamente percebia o quanto seria difícil cuidar da filha enquanto seguia as regras. — Primeiro nós nesta questão, não a criança. Não permita que Callie se coloque no nosso caminho e cause discórdia — ordenou Aristandros com ênfase. Ella queria lhe dizer o quão egoísta e irracional ele estava sendo, mas acabara de ser avisada que não ousasse. Aristandros Xenakis tinha passado 32 anos de sua vida fazendo exatamente o que queria, o tempo todo. Poderia tentar guiá-lo, mas ele nunca lhe daria a liderança. Quem era ela para pensar que poderia mudá-lo? O clima tenso e gelado fez os pelos dos braços se arrepiarem, então, virou-se para partir. — Aonde você vai? Ela parou, apreensiva. — Eu... preciso decidir o que vou vestir esta noite. — Não há necessidade, uma vez que você ainda não tem um guarda-roupa apropriado. Meu staff irá organizar uma seleção de vestidos e enviar para minha casa de Paris, e sua criada fará sua mala. Há muito pouco que você precisa fazer agora. Ella virou-se. — Às vezes, você me assusta... — E no instante que vociferou essa admissão, arrependeu-se, mas lá estava: a mais completa verdade. Aristandros pôs o arquivo de lado e levantou-se. 41


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— Eu não quero isso. Ella comprimiu os lábios trêmulos. — Não posso evitar a maneira como me sinto. — Você é uma das mulheres mais fortes que já conheci. Mas ele a estava transformando numa covarde, porque se ela falasse o que pensava perderia muito, pensou amargamente. Aristandros fechou uma mão sobre a sua e puxou-a mais perto. Com um movimento imperioso da cabeça, entrelaçou os dedos de ambos. — Se isso é tão importante, tentarei me esforçar mais com Callie. — Estranhamente, ele hesitou, a boca generosa e sensual se comprimindo. — Mas não sei como fazer isso. Não tive uma infância convencional. Ella estava ciente que mesmo aquela pequena admissão de ignorância era um grande passo para ele, e que qualquer tipo de mudança sincera da parte de Aristandros deveria ser apreciado e encorajado, mas ainda se sentia tão tensa e abalada que sua mão tremia na dele. — Eu sei — disse com sentimento, o coração apertado pela infância cruelmente problemática de Aristandros, a qual, graças aos pais dele, tinha sido muito bem documentada pela mídia. — Minha primeira lembrança é de meu pai gritando com minha mãe quando eu quase me afoguei numa piscina. Eles estavam bêbados ou drogados... — Os ombros largos se movimentaram, as feições fortes endureceram. — Estavam tão ocupados com a briga que me deixaram no terraço e se esqueceram de mim. Eu sei o que não se deve fazer se você tem um filho. — Sim, é claro que sabe — concordou Ella. — Quando você é criança, é assustador ver adultos brigando e descontrolados. A primeira vez que vi Theo bater na minha mãe, pensei que o mundo fosse acabar... — Ao perceber o que revelara sem querer, Ella ficou apavorada por seu descuido e silenciou. — Repita isso — pediu Aristandros, os olhos se estreitando, revelando sua perplexidade. — A primeira vez que você viu seu padrasto bater na sua mãe? Como pudera deixar aquilo escapar? — Não quero falar sobre o assunto. Eu realmente não pretendia lhe contar isso! Aristandros levou uma mão ao queixo dela e ergueu-o, forçando-a a encará-lo. — Mas agora que contou, não há como voltar atrás ou negar. Theo Sardelos tem o hábito de bater em sua mãe? Ella estava muito pálida e repleta de vergonha, uma vez que nunca fora capaz de superar aquela sórdida realidade. — Não acho que violência acontece tanto agora quanto no passado... pelo menos, espero que não — confessou, tremendo. — Mas faz tanto tempo que não os contato que 42


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realmente não tenho ideia. — Ele alguma vez bateu em você? — perguntou Aristandros. — Não, somente em minha mãe. Foi pena que ele não tivesse um tipo de acordo legal redigido previamente, como o seu, antes que eles se casassem, embora não tenho certeza se minha mãe teria assinado se soubesse o que a esperava! — Sobre o que está falando? — questionou Aristandros. — Bem, era por isso que ela apanhava... porque protestava quando ele não passava a noite em casa. Theo estava sempre com outra mulher — explicou Ella com rancor. — Acho que teve casos com todas as secretárias, assim como com as melhores amigas de mamãe. Como você, Theo é fortemente atraído pelo sexo oposto e é um mulherengo incorrigível. Olhos brilhantes a fitaram com frieza e hostilidade. — Nunca machuquei uma mulher na minha vida, ou jamais machucaria. — Não insinuei que machucaria. Não é por isso que você me assusta — confessou Ella. — Assusta-me por que é tão frio, tão duro e determinado a vencer cada batalha. E tudo do seu jeito e somente do seu jeito. E tentar não temer as consequências disso é um constante desafio. — Não quero que você se sinta dessa maneira, mas não posso mudar quem sou. — Aristandros deu um suspiro exasperado. — O fato de você me comparar a Theo Sardelos é revelador. Enxerga-nos como personalidades parecidas, uma comparação que rejeito completamente. Mas estou chocado pelo que acabei de descobrir. Mal posso acreditar que não me disse uma palavra do que estava acontecendo em sua casa, sete anos atrás. — Era um assunto particular. Cresci com uma mãe que fez a mim e aos meus irmãos jurarmos silêncio. Crescemos sentindo vergonha e escondendo essa situação. Essa violência jamais era discutida. Todos tentavam fingir que não acontecia. — Mesmo seus irmãos? — perguntou Aristandros com incredulidade crescente. — Susie também nunca mencionou isso para Timon. — Susie ignorava a situação, e os gêmeos ainda eram muito jovens quando saí de casa para ir à faculdade. Não sei como estão as coisas agora. Sempre desejei que aquilo parasse, mas suspeito que o pensamento desejoso fosse em vão — murmurou ela com sofrimento. — Agora, podemos mudar de assunto, por favor? Indiferente ao apelo, Aristandros fixou os olhos nela. — Você acha que posso ser como seu padrasto, não é? Esta foi uma das razões pelas quais não quis se casar comigo. — Não quero mais discutir isso — disse Ella baixinho, então se virou e simplesmente saiu do salão. Estava tremendo muito e amaldiçoando a si mesma. De jeito nenhum lhe contaria a verdade. É claro que vira similaridades entre ele e o padrasto. Mas, 43


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com Aristandros, não tinha sido violência que temera, mas sim viver com um parceiro infiel. Amara-o muito para encarar essa perspectiva. Ella estava supervisionando a criada fazer sua mala quando Aristandros entrou na cabine. Com o movimento casual de uma das mãos, ele dispensou a criada, enquanto tirava a gravata com a outra. — Você guarda muitos segredos de mim, moli mou — murmurou ele friamente. — Não gosto da ideia. Vou lhe dizer agora... isso tem de mudar. Ella arqueou a sobrancelha. — Simplesmente assim? Olhos dourados inflexíveis a desafiaram. — Simplesmente assim. Não tente me manter fora de sua vida. — Ari... ameaças não criam o tipo de atmosfera que encoraja confiança e confidências — apontou ela, o rubor no rosto acentuando o brilho nos olhos cor de safira. Aristandros removeu o paletó. — Quando você pretendia me contar que não tem contato com sua família há anos? Ella ficou tensa. — Eu já lhe contei isso quando admiti que ninguém me avisou sobre a morte de Susie e Timon. Houve uma briga horrível na noite que falei que não me casaria com você. Não os vejo desde então. Aristandros franziu o cenho. — A separação começou naquela época? — Sim. Na opinião de Theo, era meu dever me casar com você pelo bem da família. Ele ficou furioso. Meus irmãos também acharam que eu era insana por dizer não. Ficaram do seu lado, não do meu, porque você é muito rico e uma conexão que proporciona lucros — continuou ela amargamente. — Se isso tivesse acontecido alguns séculos atrás, eles teriam me trancado num convento e me deixado lá pelo resto da vida! — Eu não sabia que sua família tinha reagido assim. Timon mencionou que você não voltou mais para casa, mas presumi que isso se devia ao fato de estar muito ocupada com sua formação em medicina — admitiu ele. — Agora que está comigo e com Callie, eles não podem continuar se comportando como se você não existisse. — Não acredite nisso. Não me dou bem com Theo, nunca me dei. — Você não precisa se relacionar com ele ou com ninguém que desgoste agora— Aristandros a informou preguiçosamente. — Meu círculo social é muito seletivo. Ella tentou não pensar na raiva de seu padrasto se ele subitamente se descobrisse excluído do círculo social de Xenakis, e reprimiu um tremor. Observou Ari remover a camisa para revelar a musculatura poderosa do peito e o estômago reto e firme. Ele realmente tinha um corpo magnífico, teve de reconhecer, enquanto seus mamilos enrije44


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ciam sob o sutiã. Uma pulsação entre as coxas a deixou tensa. Estava recordando-se do calor da pele dele quando o tocara, do tormento que aquela língua lhe provocava, aquele corpo sólido contra o seu. As palmas de suas mãos formigavam. O coração batia descompassado. Aristandros a estudou com expressão sardônica, obviamente percebendo sua reação. — Não — sussurrou ele. — Não temos tempo. O prazer é muito mais doce quando adiado, glikia mou. Envergonhada por ter demonstrado sua reação tão abertamente, ela censurou a si mesma em silêncio. Achava-o tão irresistível assim? Como seu corpo poderia traí-la a ponto de ferir-lhe o orgulho? Era tão desesperada por sexo que mal podia esperar que Ari a tocasse novamente? A experiência de seu prazer físico poderia tê-la mudado tanto, deixando-a tão desejosa? Reprimiu um tremor interno de desgosto. O que estava lhe acontecendo? De repente, sentia-se como uma adolescente sofrendo de uma paixão embaraçosa que tinha saído do controle. Callie começou a chorar no aeroporto. Cansada e acordada rudemente de seu sono, a garotinha não estava no humor de encontrar-se em lugares estranhos, cercada por rostos e vozes desconhecidos. No momento que o avião particular Xenakis decolou, Callie chorava com toda força de seus pulmões. Sem uma palavra, Ella foi ajudar Kasma, que parecia esgotada, uma vez que Callie continuava soluçando, apesar de seus esforços para acalmá-la. — Que pesadelo! O sr. Xenakis está sendo perturbado — a jovem babá falou para Ella, parecendo se sentir culpada. — Isso nunca deveria acontecer. Ella logo descobriu que não havia uma solução mágica capaz de acalmar uma criança exausta e muito nervosa, que estava apenas expressando seu desgosto por ter sua rotina destruída. Embora Callie pudesse ser distraída por alguns minutos, logo começava a chorar de novo. Ella levou-a para o compartimento interno, sentou-se na cama e embalou-a, enquanto cantava para a menininha. Miraculosamente, aquilo pareceu acalmála, mas então Callie protestava ferozmente cada vez que Ella tentava deitá-la na cama. Ella passou a viagem toda com a criança nos braços. — Devolva-a para a babá — instruiu Aristandros quando eles estavam prestes a ir para as limusines que os aguardavam em Paris. Callie foi tirada de seus braços, enquanto tentava agarrá-la, um processo que causou o retorno dos soluços. Ella achou muito difícil partir. — Bem, não acho que precisamos nos preocupar com o processo de criar elos — observou Aristandros com total falta de compaixão. — Você claramente tem grandes 45


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habilidades maternais. Só faz um dia, e Callie já está apegada a você. — Ela está triste. — Uma das lições de vida é que Callie não pode ter você sempre que quiser — declarou ele. — Pelo restante da tarde, você estará completamente ocupada. Na verdade, Ella mal teve tempo de respirar na magnífica casa de Paris antes que uma seleção de vestidos espetaculares chegasse para que escolhesse um. Um grupo de pessoas de um salão de beleza veio a seguir, a fim de aprontá-la para a festa. Desta vez, Ella foi menos tolerante, enquanto suportava o "banho de beleza". Talvez, porque preferisse passar seu tempo com Callie, agitou-se e reclamou o tempo todo enquanto faziam suas unhas, seus cabelos e sua maquiagem, deixando-a num nível de perfeição que ela jamais teria alcançado sozinha. Uma criada ajudou-a com o maravilhoso vestido azul, e Ella estudou seu reflexo. Seus cabelos loiros prateados cascateavam sedosamente ao redor dos ombros, o vestido perfeito para uma figura alta e delgada. Reconhecer que nunca estivera tão bonita antes não teve impacto sobre sua frustração pela perspectiva de ter de passar por aquela longa rotina toda vez que aparecesse em público. Aristandros entrou no quarto. — Quero que você use este conjunto. Muito ciente da avaliação dele, Ella abriu a tampa da caixa de jóias que Ari pôs sobre a cama. Ao olhar para o conjunto de colar e brincos de diamantes com safiras, arfou. — Meu Deus... estou impressionada. — Assim deveria estar. É um conjunto da família. Ella ficou tensa. — Então eu não deveria usar. — As jóias estão apodrecendo no cofre há décadas. Alguém deve usá-las — decretou Aristandros num tom de voz que não dava espaço para protesto. Sentindo-se mais como uma boneca ornada por outros, Ella colocou as jóias. — Quero dar uma olhada em Callie antes de irmos — disse ela, mal se olhando no espelho para ver o incrível efeito do colar e brincos. — Você tem cinco minutos. Ella ficou arrasada ao descobrir que Callie ainda estava acordada e chorando sem parar. Também havia rejeitado a comida que Kasma tentara lhe dar. Ella ergueu a garotinha do berço e examinou-a. Logo descobriu que Callie estava com febre e que tinha dois glânglios linfáticos no pescoço. — O que houve? — Aristandros perguntou de trás dela, alguns minutos depois. — Acho que Callie está com amidalite. É provavelmente viral, portanto antibióticos não vão resolver. Aristandros virou-se para seu assistente, que o acompanhara até lá, e instruiu-o a chamar um médico. Ella mordiscou o lábio. Não queria deixar Callie naquele estado. 46


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Aristandros lhe deu um olhar sardônico, fazendo-a erguer o queixo ao reconhecer um desafio direto. Rapidamente, Ella anotou o número de seu celular e entregou a Kasma, pedindo-lhe que lhe telefonasse para mantê-la informada. Então apertou a mãozinha de Callie e partiu com lágrimas nos olhos. — Ela não está seriamente doente, está? — perguntou Aristandros. — Não, é claro que não. Callie ficará boa. — Então, lembre-se de que você é médica e pare de reagir exageradamente — disse ele. — Estamos indo a uma festa. — Eu preferia ficar aqui — admitiu Ella, imaginando como ele estava planejando fazê-la se sentir culpada também. Seu desejo de confortar Callie não tinha nada a ver com o fato de ser médica. — Mas outro médico irá examiná-la. Ela estará nas mãos de profissionais competentes. Se houver alguma causa para preocupação, seremos informados — apontou Aristandros. Sentindo

que

estava

criando

um

estresse

desnecessário,

Ella

respirou

profundamente e viu seu reflexo num espelho gigante, enquanto desciam a escadaria em espiral até o hall. Mal reconhecia a si mesma com aquelas jóias brilhando no pescoço e nas orelhas, e no vestido glorioso reluzindo nas luzes suaves. Aristandros fechou uma mão sobre a sua. — Você está deslumbrante, moli mou.

CAPÍTULO SEIS

A festa era no apartamento de Thierry Ferrand, um banqueiro internacional e um dos melhores amigos de Aristandros. Thierry e sua esposa, Gabrielle, moravam na exclusiva avenida Montaigne, perto de Champs-Elysées, onde uma multidão de paparazzi esperava na rua, para tirar fotos dos convidados que chegavam. Desta vez, Ella imitou Aristandros, mantendo a cabeça alta e agindo como se a imprensa fosse invisível. O apartamento dos Ferrand tinha sido transformado, com incrível extravagância, num cenário marroquino para a festa. As paredes coloridas de tendas, lanternas penduradas e a fonte do hall coberta com pétalas de rosas aromáticas fizeram os olhos de Ella se arregalarem. Aristandros ancorou-a a seu lado e apresentou-a aos anfitriões. Ela gostou imediatamente de Gabrielle, uma morena vibrante, com um sorriso contagioso. 47


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— Acredito que você é médica? — observou Thierry Ferrand. — Sim, porém não pratico mais — replicou Ella sem maiores explicações. Gabrielle a estudou surpresa. — Mas por que não? — Ella planeja se devotar à minha casa e à sobrinha, Callie — adiantou-se Aristandros. — Não é fácil ficar ociosa — observou Gabrielle. — Sou advogada, Ella e, depois que minha licença maternidade acabou, eu estava pronta para voltar ao trabalho correndo! — Você tem filhos? — perguntou Ella. Gabrielle não precisou de mais encorajamento para separar Ella de Aristandros e levá-la ao andar de cima, a fim de mostrar-lhe sua adorável filha de dez meses, que dormia tranquilamente no berço. As duas mulheres conversaram. — Você é tão natural, não o estilo usual das companhias de Ari — comentou Gabrielle com curiosidade evidente. — Diversas ex-namoradas dele estão aqui hoje, e são todas gananciosas. Eu não deveria ter roubado você. Não se pode deixar Ari sozinho por um momento. As mulheres realmente enlouquecem por ele. Ella deu de ombros, ainda furiosa com Ari e sua insensibilidade pela doença de Callie, forçando-a a vir àquela festa. Naquele momento, não se importava com as mulheres que o rodeavam. — Ari sabe muito bem cuidar de si mesmo — respondeu suavemente. Seu celular tocou antes que ela se juntasse a Aristandros, e Ella permaneceu no hall, onde era mais silencioso para poder falar com Kasma. Callie ainda estava chorando, com sede, mas se recusando a beber líquido por causa da dor de garganta. Além disso, a febre alta permanecia uma fonte de preocupação. Quando Ella guardou o telefone, percebeu que Aristandros a observava. Ele a chamou com um gesto imperioso que não aceitava recusa. Com os lábios comprimidos, ela sentiu-se como um cãozinho obediente tendo sua coleira puxada. Indiferente ao seu humor, Aristandros traçou-lhe o lábio inferior. — Você parece uma rainha esta noite. Os olhos azuis brilharam. — Digna de seu investimento? — Somente o tempo dirá — respondeu ele. — Mas você é definitivamente um troféu. Todos os homens na sala a notaram. — Estou radiante — zombou Ella num tom entediado. Um brilho de apreciação iluminou os olhos escuros de Ari, e um sorriso sensual curvou-lhe a boca. — Não agora, porém, ficará mais tarde. Pretendo aproveitar o máximo do fato de que você é minha, khriso mou. Com a equipe de segurança dele agindo como um filtro protetor, um constante 48


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fluxo de pessoas tentava se aproximar de Aristandros. Alguns eram amigos, outros estavam interessados em discutir oportunidades de negócios, mas a maioria queria tirar vantagem da oportunidade de conhecer um dos homens mais ricos do mundo. Ella, observando a reação das outras mulheres em relação a ele, ficou impressionada ao perceber como elas flertavam abertamente. Aristandros apresentou-a para várias pessoas. — Vamos dançar — disse ele, pegando-lhe a mão, enquanto a conduzia para a pista de dança. Aquela era a primeira vez em mais de uma hora que Aristandros reconhecia sua existência. Estavam chegando à pista quando o celular de Ella vibrou em sua bolsa de mão. Pegando-o, apesar do olhar de censura de Aristandros, ela o deixou e retornou para o hall, a fim de falar com Kasma. Descobriu que o médico tinha ido lá, confirmado o diagnóstico de amidalite e prescrito o tratamento. A medicação estava finalmente baixando a temperatura de Callie e aliviando a dor de garganta. Com o coração mais leve, Ella foi à procura de Aristandros, debatendo se ele merecia ou não saber da boa notícia. Gabrielle a parou para conversar, e Ella estava finalmente seguindo para a pista de dança quando seu celular tocou novamente. Ficou perplexa quando pôs o telefone na orelha e ouviu uma vez que teria jurado que nunca mais ouviria. — Ella... é você? — Jane Sardelos estava exigindo saber. — Sua amiga, Lily, deu-me seu número. — Mamãe? — murmurou Ella, a boca seca pelo choque, andando para a janela e olhando para as luzes de Paris. — Onde você está? — Em Paris. — Com ele? Soube que há uma foto sua num jornal britânico com Aristandros Xenakis. Não pude acreditar que era você, até que foi confirmado. — O que está fazendo com ele? — perguntou sua mãe fervorosamente. — Estou morando com ele e ajudando-o a cuidar de Callie — admitiu Ella com relutância. — Você enlouqueceu? Não se casou com ele quando recebeu a proposta, mas sete anos depois está feliz em ser a prostituta de Ari? Com aquela palavra horrível, Ella começou a transpirar. — Não é assim, mãe... — É claro que é. Não poderia ser de outra maneira com um Xenakis no papel de líder. Estamos todos desgostosos e embaraçados por seu comportamento. O que acha que isso faz com nossa posição aos olhos da família e dos amigos? Como pôde ser tão egoísta? Como foi capaz de nos envergonhar dessa maneira? 49


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— A moral não é a mesma para as mulheres desde a Idade Média — protestou Ella. — Estou vivendo um relacionamento com Aristandros. Isso não significa que me tornei prostituta. — Seu padrasto diz que, por sua causa, não poderemos mais visitar Callie agora! — reclamou Jane Sardelos com um soluço. — Ele fala que se fizermos isso, parecerá que concordamos com essa situação. Ella estava pálida. — Isso é mentira e irracional. Você é avó de Callie, e seu direito de vê-la não deve ser influenciado por meu relacionamento com Ari. — Uma imagem vale mil palavras, Ella — disse sua mãe amargamente. — No mês passado, Ari Xenakis estava com outra mulher, uma de uma lista muito longa de mulheres. Agora, com certeza, você está usando um vestido caríssimo e uma fortuna em diamantes ao redor do pescoço, que jamais teria condições de comprar. Então, diga-me... se isso não faz de você uma prostituta, o que faz? O telefone ficou mudo, negando a Ella a chance de se defender. Uma pequena voz em sua mente questionou o que mais poderia ter dito quando era claro que sua mãe não estava preparada para ouvir. Atordoada, com as acusações zangadas de sua mãe ainda soando em seus ouvidos, Ella guardou o celular na bolsa. Uma prostituta... uma palavra que nunca ouvira sair da boca de sua mãe antes. Mas sabia quem teria vociferado a palavra horrível primeiro: seu padrasto. Theo teria gritado e esbravejado até que a esposa estivesse aborrecida o bastante para ligar para a filha e passar a opinião da família pessoalmente. Não seria a primeira vez que Theo usava a esposa como porta-voz. Gabrielle Ferrand a abordou com uma expressão preocupada no rosto adorável. — Acho melhor você ir resgatar Ari, antes que aconteça uma briga por causa dele. Distraída depois do telefonema perturbador, Ella a seguiu e viu Aristandros sentado preguiçosamente num sofá. Três lindas mulheres o cercavam. Estavam todas em cima dele, rindo, dando-lhe olhares insinuantes e leves toques, sinalizando convites sexuais. Ella se sentiu nauseada com a cena, e esperou que Aristandros se defendesse sozinho. Se existisse um homem nascido para cuidar de si mesmo, sem ajuda de ninguém, era Aristandros. Mas ele não fez nenhum movimento para rejeitar os avanços das mulheres, e quando uma delas se levantou, ele a acompanhou para a pista de dança. — Ele ficou sozinho quase a noite inteira — murmurou Gabrielle freneticamente. — Não está acostumado a ser negligenciado. — Está dizendo que eu o negligenciei? — questionou Ella, enquanto observava Aristandros e uma ruiva sexy dançarem salsa com considerável destreza e prazer. Vê-lo sorrir e conectar-se tão intimamente a outra mulher causou-lhe uma dor imensurável. Havia uma enorme quantidade de flertes acontecendo. Ela permaneceu ali, olhando a 50


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cena, atormentada por mais dor do que imaginava ser possível. — Eu não pretendia ser crítica — disse Gabrielle sem graça. — Não se preocupe com isso. Ari tem mais carisma do que merece. As mulheres sempre o desculpam quando ele se comporta mal — comentou Ella, tendo visto aquilo acontecer em muitas ocasiões sete anos antes. — Mas eu não. Infelizmente, Aristandros estava apenas sendo ele mesmo... um mulherengo assumido se divertindo. Ella, todavia, não podia suportar ver aquela cena acontecendo diante de seus olhos, particularmente quando a condenação de sua mãe não lhe saía da cabeça. Certamente uma mulher com o rótulo de "prostituta" ficaria parada ali e aceitaria o comportamento de Ari? — Não posso ficar, Gabrielle. Você avisa Ari que fui embora? Mas não se apresse para fazer isso — aconselhou, virando-se e indo em direção à porta da frente. — Não faça isso, Ella. Gosto muito de você, e ele ficará furioso com sua partida — protestou a outra mulher. — Ari está apenas flertando, isso não significa nada para ele. Mulheres desse tipo o abordam todos os dias. Mas você é diferente. Está usando as safiras Xenakis e tem um cérebro. Ella olhou para trás, vendo Aristandros e a ruiva. Sentiu-se doente de raiva e mágoa, e a profundidade de sua reação a assustou. A mão que afastou os cabelos úmidos da testa estava tremendo. Desceu o elevador para o saguão do edifício e pediu que o porteiro lhe chamasse um táxi. Câmeras piscaram quando ela partiu sozinha, sem a mesma elegância da chegada. Mas então reconhecia que estava fugindo de seus próprios sentimentos tanto quanto estava dando as costas a uma cena de humilhação pública. Sentia-se apavorada por sua sensibilidade exacerbada e emoções poderosas que a dominavam. Por que deveria lhe importar tanto o que Aristandros fazia? Não era capaz de desligar suas respostas emocionais a ele? Naquele momento, não se, importava com o acordo que havia assinado. Recusava-se a agir como uma prostituta comprada, que era obrigada a aceitar qualquer comportamento imoral da parte de Ari. Uma partida digna da festa era a única opção com a qual podia lidar. De volta à casa, foi para o quarto do bebê. Callie estava dormindo pacificamente, enquanto Kasma também dormia no quarto ao lado, com a porta aberta. Ella olhou para a garotinha com um misto de alívio, amor e sofrimento. Lembrou que Callie tinha se virado bem antes de conhecê-la, e que não sentiria sua falta. Além disso, com Ella longe, a menina poderia receber a visita da avó. Sua criada ajudou-a a remover o vestido e as safiras. Ella vestiu jeans e camiseta e guardou na mala os poucos itens pessoais que havia levado de Londres. Então uma batida forte à porta reverberou na casa inteira, e ela enrijeceu. — Ella! 51


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Ella tremeu ao ouvir o som áspero de seu nome nos lábios de Aristandros. — Estou no quarto... Aristandros preencheu a entrada da porta, as feições fortes desafiando-a. — O que pensa que está fazendo? Ella ergueu o queixo e o encarou. — O que você estava fazendo? Se acha que vou ficar de braços cruzados enquanto você flerta com outras mulheres na minha frente, está muito enganado! — Você não pode me abandonar num lugar público! — exclamou ele em tom de condenação. — Nunca. — Rasgue o acordo. Estou indo embora, portanto, suas regras não têm mais valor. Aristandros a olhou com zombaria. — Está cheia de si agora. Não tem permissão para fugir quando as coisas esquentam para você. — Nunca fugi de nada na vida! — gritou ela, perdendo o controle de seu temperamento, normalmente calmo. — Você foge de tudo que a aborrece. — Não estou aborrecida! — Ella praticamente gritou. — Esta não é a Ella calma e sensata que conheço. — Mas você não me conhece. Uma sobrancelha cor de ébano se arqueou. — Não? — Não, você não me conhece — repetiu ela. Aristandros a estudou. — Tenho de confessar que eu não esperava uma reação tão histérica. — Quem você está chamando de histérica? — demandou Ella, furiosa. — E por que o uso desta palavra, "esperar"? Está sugerindo que deliberadamente escolheu flertar com outra mulher para provocar uma reação minha? Olhando-a fixamente, Aristandros abriu as mãos num gesto gracioso que nem confirmava nem negava. — Eu faria algo tão calculado? — Sim! — acusou ela. — Faria se isso o divertisse, porque é cruel e gosta de manipular as pessoas. — Eu poderia simplesmente ter lhe dito que você estava se comportando mal — murmurou ele. — Não é educado ficar atendendo telefonemas quando se está acompanhada. Ultrajada pela censura de seu próprio comportamento, Ella o olhou com incredulidade. — Como ousa me dizer que eu estava me comportando mal? — É a verdade. Seu comportamento foi horrível esta noite. Entrou num estado de 52


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mau humor e nunca saiu dele. — Isso é ridículo! — É? Você não queria deixar Callie. — E daí se sou humana e cuidadosa? O que é mais do que qualquer um poderia dizer de sua atitude esta noite. Não deu a mínima para Callie estar doente — condenou Ella com fervor. — Então por que me certifiquei de falar com o médico que a atendeu? Por que liguei para Kasma a fim de saber notícias depois disso? Ella cerrou os dentes, enquanto lhe dava um olhar que teria feito um homem mais fraco tremer. — Eu não sabia que você tinha falado com o médico... não mencionou isso. — Posso não ter agido de modo dramático e emotivo como você, mas isso não significa que também não me preocupei com Callie esta noite. Ella respirou profundamente. — Peço desculpas se o julguei erroneamente nesta questão. — Julgou — replicou ele, esfregando sal numa ferida já aberta. — Mas eu não estava de mau humor mais cedo. Estava irritada com você — admitiu com raiva. — Não sou tão insensível para não entender sua mensagem, mas foi infantilidade sua demonstrar seu humor em público. — Aristandros lhe ofereceu um olhar zangado. — Sou um homem que valoriza a discrição, mas esta noite você fez uma cena para as colunas de fofoca. Faça isso mais uma vez e a mandarei de volta para Londres. Ella o encarou com puro ódio. — Não precisa fazer isso. Estou indo embora. Mas você é bom em virar o jogo. Não disse uma palavra sobre seu comportamento inadequado, exceto implicando que estava dando sinais encorajadores para outras mulheres apenas para me irritar. Aristandros deu uma gargalhada, o som inesperado quebrando a atmosfera tensa do cômodo. — Não para irritar você. — Não me importo nem um pouco com o que você faz — declarou Ella, fechando a mala. — Mentirosa — ele a desafiou. — Para uma mulher que alega não ser ciumenta, você ficou louca de ciúme esta noite. Ella enrijeceu, enviou-lhe um olhar fulminante e pôs a mala no chão. Estava tão furiosa que queria atirar objetos nele. Como Aristandros ousava acusá-la de sentir ciúme? Como ousava ter o poder de adivinhar sentimentos que ela não admitia nem para si mesma? Enquanto saía do quarto de maneira intempestiva, ele a seguiu e tirou-lhe a mala 53


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da mão. — O que pensa que está fazendo? — protestou ela. — Impedindo-a de fazer algo muito estúpido, moli mou — disse Aristandros, abrindo a porta do closet e jogando a mala lá dentro. — Não sou nenhuma prostituta que vai aceitar qualquer coisa de você! — exclamou ela, adrenalina correndo por suas veias e impossibilitando-a de raciocinar com clareza. — Não estou interessada no seu dinheiro ou no que você pode comprar para mim. Isso não me impressiona. Nada que me ofereça poderia me persuadir a tolerar como você me tratou esta noite! — Mesmo se eu admitir que a única mulher que quero é você? — murmurou ele, inclinando-se elegantemente contra a porta para fechá-la. — Sim, fiz uma experiência esta noite, eu queria uma reação. — Uma experiência? — repetiu Ella com total incredulidade. — Uma experiência inofensiva. Somente uma mulher muito possessiva ficaria tão inflamada de me ver dançando com outra mulher. As mãos delgadas de Ella se fecharam com força. Tantas emoções borbulhavam em seu interior que se sentia quase violenta, e incrivelmente vulnerável ao mesmo tempo. — Mas isso foi tudo que fiz — continuou Aristandros com firmeza. — Nada mais. A crua verdade da declaração a abalou até o âmago. Então ele tinha dançado com outra mulher, sorriso e rido... Grande coisa! Interações sociais desse tipo eram normais em festas. O que a fizera reagir de forma tão exagerada? Por que sentia como se a raiva estivesse prestes a explodir, e incapaz de contê-la? Ari quisera uma reação e ela lhe dera. Somente uma mulher muito possessiva... E apesar de todas as suas negações, Ella era possessiva, não? Violentamente possessiva, com sentimentos e respostas nascidos de anos vendo fotografias de Ari com outras mulheres e lendo sobre os casos dele. Lily havia sugerido que aquela obsessão não era saudável, e tinha razão, pois aquilo desencadeara um ciúme que Ella nem mesmo reconhecera. — Talvez eu tenha reagido de modo exagerado — admitiu com dificuldade, porque não era fácil abrir mão de seu orgulho. Por um momento, analisou o sentimento que a consumira e quase a persuadira a desistir do que mais queria. Tinha verdadeiramente pensado em sacrificar Callie por causa de um ciúme tolo? Estava apavorada com seu comportamento. Um silêncio tenso se estendeu. Ella estudou o perfil clássico de Ari, seu nível de nervosismo muito alto. Ele flertará de propósito para ver-lhe a reação, e a teria torturado para conseguir um pedido de desculpas. Ela o detestava, não apenas pela atitude de Aristandros, mas pelo fato de ele ter apreciado causar-lhe uma sensação de medo. De súbito, não queria mais analisar os motivos que a tinham feito perder seu bom-senso. 54


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— Os últimos dias... todas as mudanças em minha vida... têm sido muito estressantes — admitiu ela, a voz baixa e tensa, porque seu orgulho estava ferido. — É claro — Aristandros concordou tão instantaneamente com a falsa desculpa que a pegou de surpresa. Ela estava parada ao lado de um espelho, e olhou para o reflexo. A ilusão de perfeição havia desaparecido agora, substituída por cabelos emaranhados, rímel borrado, batom e camiseta comprados num concerto de rock. — Às vezes, vou longe demais — admitiu Aristandros, o rosto totalmente inexpressivo. — Mas nunca mais me deixe sozinho num lugar público. Ella assentiu em concordância, sentindo um nó na garganta. Temia começar a chorar e dar vazão às suas emoções a qualquer momento. Lutava para restabelecer sua inteligência e controle. Ari se aproximou antes que ela pudesse erguer qualquer barreira. A sensualidade inebriante da boca sensual encontrou a sua num beijo ardente. Ella mergulhou no beijo como alguém que estava se afogando e precisava de ar. Desejo espalhou-se por todo o seu corpo numa corrente de reação. Entrelaçou as mãos nos cabelos pretos. Podia sentir a paixão do corpo poderoso contra o seu, e nem mesmo as roupas entre eles disfarçavam a rigidez da ereção masculina. O conhecimento do desejo de Ari impossibilitou-a de resistir ao próprio desejo potente. O gosto único de Aristandros a deixou zonza e ofegante. Ele segurou-a pelos quadris e a sentou na beira da cama, onde lhe removeu o jeans. — Não sei dançar salsa daquele jeito — Ella se ouviu dizendo abruptamente. — Como a ruiva... — Posso cuidar disso — declarou Aristandros, erguendo-lhe a camiseta e enterrando o rosto no vale entre os seios, enquanto a livrava das pequenas peças de renda e seda que ainda o separavam das curvas delgadas. O peito de Ella movimentava-se rapidamente com a respiração ofegante. Estava muito ciente de cada movimento dele. Os pelos despontando no maxilar roçando contra seus seios a fizeram tremer. — Eu quero você — admitiu ela num sussurro rouco. Cílios pretos exuberantes se ergueram dos olhos dourados. — Eu morri e fui para o paraíso — disse Aristandros suavemente. — Pensei que nunca ouviria essas palavras de seus lábios. — Nós só estamos juntos há dois dias! — protestou Ella. — Desde quando tive paciência? — Longos dedos deslizaram entre suas pernas delgadas com movimentos tão eróticos, que Ella não pôde conter um pequeno grito. 55


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Inclinou a cabeça contra os travesseiros e arqueou a coluna, entregando-se às carícias torturantes. Gemeu alto quando Ari usou a boca para provocar-lhe os mamilos sensíveis. Havia uma dor doce se construindo em seu baixo-ventre enquanto seus músculos internos ficavam tensos e seus quadris se contorciam num padrão rítmico contra o lençol. Queria, precisava dele. Aristandros a virou de bruços, e então, ergueu-a sobre os joelhos. Por um breve segundo, Ella não entendeu o que ele pretendia, mas um instante depois, Ari a penetrou. Choque e excitação selvagem a envolveram numa onda gigantesca. Cada investida poderosa parecia enviar uma nova carga de eletricidade ao seu corpo. O prazer erótico do domínio viril a deixou em chamas, enquanto ela flexionava os quadris, encorajando-o. A tensão crescente que Ella vinha controlando há horas explodiu num orgasmo que inundou seu corpo em êxtase e drenou sua energia. — Melhor? — perguntou Aristandros com voz rouca, aninhando-a nos braços fortes após o ato de amor, quando ela honestamente sentiu que nunca mais poderia se mover. — Ainda flutuando — sussurrou Ella antes que pudesse pensar. Ele inclinou-se sobre ela, estudando-a. — Então, por que lutar contra mim? Ella descansou a cabeça contra o ombro largo, deleitando-se na conexão íntima dos corpos e no glorioso aroma familiar da pele dele. — Gosto de um desafio? Com as feições incrivelmente bonitas tensas, Aristandros fechou os braços ao seu redor e olhou-a com ironia. — Pare com isso agora, hara mou. Deixar-me zangado é uma ideia muito ruim. Ella trilhou os dedos na linda boca esculpida. — Isso o torna mais humano. Independentemente de quanto eu tentasse, jamais poderia ser dócil e submissa. — Não é isso que quero também. Seja natural, seja você mesma... o jeito que costumava ser, sem ao menos tentar. Ella empalideceu e virou a cabeça de lado, sabendo que não havia como voltar a ser a mulher de quem ele se lembrava. Era isso que Ari queria dela... o impossível? Que o tempo voltasse? Como poderia ter 21 anos novamente, e estar apaixonada pela primeira vez na vida? Só de pensar em sentir-se tão vulnerável de novo a fez tremer de medo por dentro. Amar Ari mais uma vez seria um ingresso para o sofrimento. — Se você parar de procurar problemas, logo descobrirá que pode apreciar o que temos — entoou Aristandros com convicção. — Iremos navegar de volta para a Grécia amanhã. Mas Ella já estava se recordando das semanas quando tinha 21 anos e estava 56


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loucamente apaixonada. Na época, todos a avisaram que Ari Xenakis logo perderia o interesse nela. O apetite de Ari por mulheres bonitas assegurava-lhe a reputação de partir corações. Ella, todavia, estivera ridiculamente feliz durante aquele período. O fato de que ele pudesse estar considerando um futuro ao seu lado não lhe ocorrera. Simplesmente adorara estar com Ari e tinha vivido o presente. Ele costumava levá-la para passear de barco, para jantar fora, raramente convidando outras pessoas para acompanhá-los. Não iam a muitas festas juntos, e quando iam, não permaneciam muito tempo. Conversavam muito e apreciavam a companhia um do outro em todos os momentos. Apesar de ser difícil acreditar nisso agora, ela pensara que havia encontrado sua alma gêmea. Na segunda vez que eles quase tinham feito amor e Ella pusera um fim nas carícias antes que fosse tarde demais, ele rira e não tentara mais persuadi-la a completar o ato. Quando Ari a convidara para o aniversário de 65 anos do avô ela ficara radiante, porque sabia como Drakon era próximo do neto, e se sentira honrada em ser convidada para conhecê-lo. Agora, mais velha e mais sábia, permanecia deitada na escuridão, revivendo a última noite com tristeza. — Eu amo você — Aristandros declarara, e ela respondera com as mesmas palavras. E, embora ele a tivesse acusado de mentirosa mais tarde, Ella realmente havia sido sincera. — Quero estar com você. Vai se casar comigo? — perguntou ele. E o coração de Ella disparou violentamente, uma vez que nunca lhe ocorrera que ele pudesse propor casamento naquele momento. De qualquer forma, tinha presumido que eles ficariam noivos, e que Ari a visitaria em Londres, e que se casariam quando ela tivesse completado seu treinamento em medicina. Mas então ele se levantou para fazer um discurso em honra do aniversário do avô, e anunciou o noivado deles... juntamente com a notícia de que Ella abandonaria a medicina. A súbita realidade havia destruído a felicidade de Ella. Após uma discussão violenta, Ari terminara o relacionamento, e minutos depois, retirara o anúncio que acabara de fazer. Sua família, totalmente envergonhada, a levara para casa, incapaz de acreditar ou de aceitar que recusara se casar com um Xenakis. Aristandros a levou de volta para o presente aninhando-a contra o corpo forte e musculoso. Ella o fitou, estudando os olhos dourados ardentes. Aquele homem, reconheceu com o coração se acelerando, já tivera o poder de causar-lhe um ciúme amargo e fazê-la agir de maneira irracional. Ele era perigoso, uma verdadeira ameaça à sua paz mental. — Uma vez não é o bastante — sussurrou Ari com voz sexy. — Ainda quero você, moli mou. 57


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E alguma parte muito primitiva de Ella exultou-se com o conhecimento de que exercia tanta atração sexual sobre ele. Naquele instante, com o coração bombeando e seu corpo traidor tremendo em antecipação, uma escrava da promessa de prazer que ele lhe fazia e não tinha tempo para agonizar sobre como outras pessoas rotulariam sua posição na vida de Ari Xenakis.

CAPITULO SETE

Dez dias depois, Hellenic Lady chegou à Atenas. Ella ainda estava na cama da cabine principal do iate, lendo jornais britânicos, e descobrindo que era citada em diversos deles. Era uma experiência extraordinária vêr-se aparecer pela primeira vez na coluna de celebridades. No seu caso, todavia, a fama era emprestada por sua associação com Aristandros. Era descrita como "A nova companheira deslumbrante de Aristandros Xenakis", "A tia sexy de Calliope", e "A ovelha negra da família". Sua fascinação somente desapareceu quando chegou a ler um parágrafo sugerindo que, por ser uma criança promíscua, sua família tinha fechado as portas para ela. Aristandros entrou na cabine, vestido num terno escuro que realçava o corpo alto e poderoso. Diziam que ele eletrificava um cômodo quando entrava, e Ella certamente não era imune a tal efeito. Enrijeceu contra os travesseiros, os olhos azuis arregalados no seu rosto delicado. — Estive trabalhando por quatro horas. Basta uma olhada para você — Aristandros andou até a lateral da cama, desviando de brinquedos no chão, que revelavam a visita de Callie mais cedo naquela manhã — e quero ir direto para esta cama. O corpo dela formigou, o coração disparou no ato. Era apenas sexo, e repetia isso a si mesma regularmente. Mas ainda quase não podia resistir à vontade de despi-lo cada vez que o via. Com um som impaciente, Ari lhe tirou a pilha de jornais do colo. — Não aprendeu ainda? Você nunca deve ler sua publicidade — disse ele, jogando os jornais do chão. — Apreciei a linha sobre minha nova companheira deslumbrante, mas não aquela que fala da criança promíscua. Alguém a confundiu com sua irmã Susie, e um pedido de desculpas oficial vai sair impresso esta semana. Ella arqueou a sobrancelha. 58


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— Está dizendo que você reclamou? Aristandros deu de ombros e removeu o paletó, colocando-o sobre a poltrona perto da parede e tirando os sapatos. Olhos ardentes a fitaram quando ele endireitou o corpo alto. — Ainda estou convencido de que você só foi uma criança promíscua comigo. — Bem, você está errado. — Você fala muito e age pouco. Na cama, não sabe como fazer nada até que eu faça primeiro. Enrubescendo violentamente, Ella lhe enviou um olhar furioso. — Suponho que você acha isso engraçado? — Não, acho muito interessante. Enquanto a maioria das mulheres prefere minimizar o número de amantes que tiveram, você quer aumentar — murmurou ele sedosamente. — Por que você está se despindo? — perguntou Ella de modo abrupto, finalmente notando o fato. — E, apesar de seu passado, você ainda tem a mente pura como neve. Eu não a corrompi de nenhuma maneira? — zombou Aristandros, removendo a cueca numa manobra que logo deixou óbvio o motivo pelo qual estava se despindo. — Oh... — Com um calor sensual percorrendo seu corpo delgado, Ella recostou-se contra os travesseiros de uma maneira quase convidativa. — Oh — provocou Ari, inclinando o corpo para a frente com clara intenção. Quando os dedos delicados encontraram a excitação rígida, ele emitiu um gemido rouco de prazer. — Oh, sim, você é o melhor intervalo do mundo, khriso mou. Por um instante, aquilo a fez hesitar, mas na verdade, achou a espontaneidade sexual de Ari tão poderosa e irresistível quanto o considerava. A boca sensual na sua era como fogo, criando uma chama que nunca fora extinta. A dança erótica de línguas fez seu corpo tremer. Aristandros removeu-lhe a camisola e tomou um de seus mamilos nos lábios. Ella deleitou-se de prazer enquanto aquela boca experiente viajava de um seio ao outro, provocando-a até fazê-la gemer. Com uma massagem impaciente do indicador, ele sondou o doce centro da feminilidade, até posicioná-la embaixo de si com uma urgência que a excitou ainda mais. Então a preencheu e começou os movimentos num ritmo deliciosamente frenético, pressionando-lhe os joelhos contra o colchão para ganhar uma penetração ainda mais profunda. Ella sentiu como se tivesse subido às estrelas, e um prazer mágico a consumiu. Ouviu seu próprio grito no momento em que as ondas de êxtase convulsionaram seu corpo inteiro. No poder daquele fogo sensual, era indefesa e impotente em sua resposta. Ari investiu uma última vez com um grito desinibido de satisfação. 59


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Por incontáveis minutos, ela permaneceu deitada sob ele, saboreando o peso do corpo másculo, as batidas fortes do coração e a respiração ofegante de Aristandros. Naquele instante, sentiu-se, como sempre se sentia, dominada pelo nível de prazer que lhe embotava a mente. Mas não tão dominada ao ponto de não apreciar o roçar dos lábios dele contra sua testa, e os braços poderosos ao seu redor no que quase parecia um abraço carinhoso. Adorava o que Ari fazia na cama com ela, mas adorava ainda mais a proximidade após o ato, e nunca mexia um único músculo para não quebrar a conexão antes que ele fizesse isso. Foi um choque quando Aristandros ficou tenso, praguejou em grego e afastou-se num movimento violento que falava mais de rejeição do que de qualquer outra coisa. Olhos duros encontraram a expressão interrogativa no rosto de Ella, antes que ele socasse a cabeceira de madeira com o punho cerrado, fazendo-a recuar em pura consternação. — O que houve? — perguntou ela, atordoada. — Esqueci de usar um preservativo — respondeu ele, furioso. — Oh, meu Deus — foi tudo que Ella pôde murmurar naquele momento insuportavelmente tenso. Não tinha começado a tomar pílulas anticoncepcionais ainda, e avisara-lhe que outras precauções deveriam ser tomadas durante as primeiras semanas que eles estivessem juntos. Até agora, ele havia seguido a regra com cuidado, sem deixar margem para erro. Aristandros saiu da cama como um tigre furioso e virou-se para olhá-la. — Isso é tudo que você tem a dizer? — demandou friamente. — Eu não quero uma criança. Um arrepio gelado a percorreu, e ela perguntou-se por que aquela declaração lhe causava tanta dor, quando também queria evitar o trauma de uma concepção não planejada. Estava freneticamente calculando as datas na cabeça, o que era difícil, uma vez que as mudanças recentes em sua rotina tinham desregulado seu ciclo menstrual. — Lamento, mas provavelmente não foi o melhor momento para negligenciar as precauções — admitiu com tristeza. — Posso estar no meu período mais fértil agora. — Não posso acreditar que esqueci! — continuou ele, como se ela não tivesse falado. — Nunca sou descuidado. — Talvez um de nós seja infértil — observou Ella. — Você ficaria surpreso o quanto isso é comum. Aristandros lhe deu um olhar ultrajado e comprimiu os lábios, como se a sugestão de que ele pudesse não ser capaz de engravidar uma mulher fosse um insulto à sua masculinidade. Ella permaneceu onde estava até que ele tomou banho e partiu. Estava chocada, 60


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mas também sentia que acabara de receber um aviso muito necessário. Pelos últimos dez dias, estava com Aristandros quase de maneira ininterrupta. Ele acordava antes das 6h da manhã para trabalhar com seu staff pessoal. Às 8h, juntava-se a Ella e Callie para o café da manhã. Se Ari ainda não tinha alcançado o estágio de ficar totalmente relaxado e brincar com a garotinha, pelo menos não estava mais tão rígido na presença da criança e desenvolvera a habilidade de conversar com ela e conhecê-la melhor. A vida no iate luxuoso era excessivamente confortável e fácil. A tripulação atendia a cada necessidade deles, e, com frequência, até mesmo antes que Ella requisitasse alguma coisa. Era servida, mimada e encorajada a não fazer nada mais importante do que ir ao salão de beleza, no deque inferior. Um estilo de vida que não lhe parecia natural, mas dava-lhe a oportunidade de passar um tempo de qualidade com Callie. O elo entre Ella e sua filha biológica já era profundo e forte. Embora nunca tivesse escolhido fazer travessuras numa piscina por si mesma, estava feliz em fazer isso quando o propósito era ensinar Callie a nadar, e nas ocasiões que Aristandros se juntava a elas, se provaram ser as mais divertidas. "Navegar de volta para Grécia", como Aristandros colocara, era mais um cruzeiro de lazer do que uma viagem somente para alcançar um destino. O Hellenic Lady havia atracado em diversas ilhas. Aristandros a levara para passear em Creta e jantar em Corfu. Depois disso, tinham andado por ruas estreitas da velha cidade de mãos dadas. E quem pegara as mãos dele? Ella levou as palmas frias contra o rosto, sentindo-se mortificada. Como pudera iniciar um gesto tão tolo? Romance não tinha nada a ver com o relacionamento deles. Era amante de Ari... a mulher que atualmente satisfazia sua libido exacerbada... não sua namorada, sua noiva ou sua esposa. E, exatamente como ele quisera, ela estava sempre disponível sexualmente, e não porque temia as consequências de violar o contrato que assinara! Na verdade, o desejo constante que a atormentava não tinha nada a ver com obrigações contratuais. Não podia manter as mãos longe de Ari, na cama ou fora dela. A necessidade de tocar, de fazer contato, era como uma febre, uma terrível tentação contra a qual lutava dia e noite. Estava apavorada pelo quanto já se tornara apegada a Aristandros. Todavia, nada poderia ter delineado mais claramente o abismo entre os dois do que a reação dele à possibilidade de uma gravidez de Ella. De alguma maneira, Aristandros a fizera sentir-se como um caso de uma única noite, uma estranha que mal conhecia, um corpo feminino no qual não tinha mais interesse uma vez que saciasse seu desejo sexual. Se ela concebesse, ele veria isso como um desastre, e Ella só podia esperar que aquilo não acontecesse. Saindo do banho com uma toalha ao seu redor, estava voltando para a cabine quando Aristandros entrou. 61


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— Mencionei que vai acontecer uma reunião social na minha casa de Atenas esta noite? Não? — continuou ele preguiçosamente quando ela lançou um olhar confuso. —Tenho alguns negócios para fechar com investidores e você agirá como minha anfitriã. — Obrigada pelo aviso de última hora! — murmurou Ella. — Pelo menos você não precisa se preocupar em marcar hora num salão de beleza — disse Aristandros com ironia. Eles saíram do iate e pegaram um avião direto para a propriedade. A mansão na Grécia era cercada por campos de oliva e vinhedos, com uma vista magnífica das montanhas. Ella ficou surpresa pelo cenário rural, uma vez que quando o conhecera, Aristandros e o avô moravam numa grande casa urbana em Atenas. — Drakon ainda prefere viver na cidade, mas eu gosto de escapar dos arranha-céus e do trânsito no fim do dia, e aqui estou a menos de meia hora do aeroporto — explicou Aristandros. — Passo muito tempo na ilha agora. Posso trabalhar em casa, e é um lugar muito privado. — Aqui é muito lindo também — comentou Ella, perguntando-se quantas diferentes propriedades Ari possuía ao redor do mundo, e se até mesmo ele saberia a resposta sem ter de pensar sobre isso. — As pérolas ficam bonitas em você. Com a observação, Ella tocou o magnífico colar em seu pescoço com os dedos trêmulos. Combinava com os brincos de pérola que usava, e provavelmente valiam uma fortuna. Um relógio adornado com diamantes também circulava seu pulso. Não tinha ideia de quanto valeria sua coleção crescente de jóias, uma vez que nada tão vulgar como preço era mencionado quando Aristandros insistia em lhe comprar um presente. Na semana anterior, um joalheiro imponente havia voado para o iate com uma seleção magnífica de pedras preciosas para a avaliação privada de Ari. Ele se decidira pelas pérolas, as quais pareciam ter pertencido a um marajá italiano. Ella já tinha resolvido que quando se separasse de Aristandros, deixaria todos os presentes não solicitados para trás. Presumivelmente, Aristandros estava acostumado a recompensar as mulheres de sua cama com presentes generosos. Mas as jóias gloriosas a faziam se sentir mais uma peça de troféu do que nunca, e temerosa de merecer o rótulo ofensivo que sua mãe mencionara: prostituta. Eram assim que as outras pessoas a enxergavam também? Como uma prostituta cara, ganhando uma rica recompensa por dar prazer ao amante magnata na cama? Ela encolheu-se com a suspeita de que houvesse descido tão baixo. Ironicamente, nos momentos em que estava vestida como rainha, adornada com jóias fabulosas, sua autoestima, um dia saudável, tornava-se a mais baixa possível. Temia ser apenas um 62


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acessório de Ari, como um carro novo... e, assim como ele dirigia os carros mais caros do mundo, não sonharia em exibir uma mulher sem uma aparência espetacular, coberta dê jóias, para combinar com sua riqueza. O serviço de bufe organizara comidas e drinques para a recepção. A casa era imaculada, com design bem moderno, e era perfeita para promover grandes entretenimentos. Com um vestido de seda cor de ameixa até a altura dos joelhos, Ella juntou-se a Aristandros no terraço externo, onde drinques estavam sendo servidos enquanto os primeiros convidados chegavam. Não demorou muito para que ela sentisse seu rosto vermelho. Apesar de todos serem educados, estava brutalmente óbvio que era o foco de grande curiosidade. Ironicamente, a chegada do avô de Ari, Drakon, causou-lhe o maior embaraço de todos. — Ella — murmurou o homem mais velho, beijando-lhe o rosto num cumprimento charmoso. — É rude admitir que, enquanto estou encantado em revê-la, lamento que nosso encontro seja nestas circunstâncias? Aristandros respondeu por ela: — Sim, é rude, além de desnecessário, Drakon. Que circunstâncias? Os olhos perspicazes do grego mais velho fitaram o neto com desafio. — Não finja ser obtuso, Ari — aconselhou ele secamente. Sentindo-se mortificada e ansiosa para escapar de mais discussões, Ella apressou-se em direção a Callie, que estava correndo ao longo da sala para cumprimentá-la. Sorrindo quando a garotinha se atirou contra seu corpo, Ella a abraçou. Callie, adorável num pequeno vestido azul, estava uma linda figura, e já era notavelmente mais confiante e comunicativa do que quando Ella a conhecera. Callie expressou um desejo pelo coelhinho de pelúcia que carregava para todo lugar, e Ella a levava de volta para Kasma, a fim de perguntar onde estava o coelho, quando ouviu vozes em tom alto vindo de uma sala que saía do hall. Comportando-se como se nada desagradável estivesse acontecendo, a jovem babá pegou Callie no colo e carregou-a para o andar de cima, a fim de procurar o coelhinho. — Se Callie é de Ella como você diz — Drakon Xenakis estava falando em grego —, dê-lhe a criança e deixe as duas partirem! — Não estou preparado para deixar nenhuma das duas partir — respondeu Aristandros baixinho, sua calma um contraste marcante com a raiva do avô. — Redigi um acordo muito compreensível que beneficia a Ella e a mim... — Um acordo legal? Foi para isso que eu o criei? Para corromper uma jovem que somente quer acesso à própria filha? E disso que você precisa para satisfazer seus apetites agora, Ari? Se tivesse um pingo de decência, se casaria com ela, uma vez que lhe destruiu a reputação! 63


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— A época em que as mulheres precisavam ser puras como a neve já passou há muito tempo, Drakon. Felizmente, vivo num mundo com práticas sexuais muito mais modernas — retorquiu Aristandros com ironia. — Acredite ou não, Ella está feliz comigo... — Ela merece mais do que as vadias interesseiras com as quais você costuma se associar, e você a está tratando pior do que todas elas! A única coisa que vejo neste cenário é vingança, Ari... algo feio e indigno de sua pessoa. Com uma onda de náusea e o sangue correndo frio, Ella afastou-se da porta aberta antes que fosse pega ouvindo escondida. A opinião de Drakon a atingiu como um golpe físico, porque ele conhecia muito bem o neto. Ela havia sido muito rápida em descartar a ideia de que Aristandros estava agindo por vingança. Certamente preferira acreditar ser a femme fatale que ele nunca esquecera. Mas quão provável era esta interpretação? Não era mais provável que Ari estivesse se vingando por sua rejeição todos aqueles anos atrás? Ele a fizera desistir de sua carreira, de seu lar e de seus princípios, obrigando a mulher a apreciar ser sua prisioneira de luxo. Não, Aristandros não a obrigara a nada... ela havia feito as escolhas necessárias para estar com Callie, a filha de seu coração, e para ser justa, Ari cumprira suas promessas. Mesmo assim, vingança parecia a melhor explicação para o interesse contínuo de Ari. Por que outro motivo um homem que possuía as mulheres mais lindas do mundo se acomodaria com uma médica não sofisticada e inexperiente, que não se sentia à vontade naquele estilo de vida festivo? Ele não teria sacrificado seus desejos e preferências pelo bem de Callie. Na verdade, o mais provável era que Callie tivesse sido usada como uma arma para pressionar a mãe biológica. Tendo adquirido a criança, também adquirira os meios perfeitos de fazer Ella obedecer a ele, exatamente o que fizera. No estado abalado em que se encontrava agora, era o momento errado para Ella rever a família pela primeira vez em sete anos. Seu padrasto, um homem grande de cabelos grisalhos, estava em pé no terraço com um drinque na mão. Sua mãe, uma mulher magra de cabelos lisos, estava ao lado dele. Atrás do casal, dois jovens altos de pele bronzeada, seus meio-irmãos, tinham se tornado adultos. Ella empalideceu quando Theo Sardelos a olhou diretamente, enquanto sua mãe, o rosto repleto de sofrimento, virava a cabeça para evitar ver sua única filha sobrevivente. Seus meio-irmãos gêmeos a fitaram com total hostilidade, Ella estava furiosa por Aristandros convidar sua família sem lhe contar nada. Ciente de que não era a única pessoa a notar que eles a tratavam com indiferença, forçouse a cumprimentar seu padrasto com um gesto de cabeça, antes de voltar-se para sua mãe. — Gostaria de vir comigo para ver Callie? — Não, ela não gostaria. — Theo Sardelos olhou para a enteada com profundo desgosto enquanto respondia pela esposa, um hábito controlador que Ella lembrava-se 64


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com repugnância. — Sua presença aqui torna isso impossível. Ella não respondeu. Conhecia Theo o bastante para saber que ele saborearia cada oportunidade para embaraçá-la diante da audiência. Embora fosse necessária uma boa dose de coragem, sorriu e continuou andando, chamando um garçom para pedir-lhe que servisse os convidados que tinham acabado de chegar. Kasma levou Callie novamente para baixo, que, agora com seu coelhinho debaixo do braço, correu para colocar-se ao lado de Ella. Foi preciso grande esforço para que Ella continuasse agindo como anfitriã, conversando e sorrindo como se nada tivesse acontecido. De vez em quando, abaixava-se para tocar os cabelos de Callie, para se lembrar do que havia ganhado e do motivo pelo qual fizera um acordo com o inimigo. Seus pensamentos eram tumultuados. Aristandros apenas dissera a verdade para o avô: ela estava feliz com ele. Isso significava que ainda era prostituta de coração? Compartilhar a cama de Ari era mais um prazer do que uma punição. O que isso dizia sobre sua pessoa? Vergonha e confusão a assolaram, preenchendo-a com remorso. Lily lhe enviara uma mensagem de texto naquele dia: Você é a nova companheira dele por acidente ou intencionalmente? Ella ainda não sabia como responder àquela pergunta. Enquanto a ideia original tinha sido de Ari, era como se ela, de alguma maneira, tivesse se rendido, usando Callie como uma desculpa para fazer isso. Quando Aristandros a tocava, seu corpo ficava em chamas. O que havia começado com o propósito de ser um sacrifício, tornara-se um prazer. Se fosse uma vítima da vingança, era uma vítima disposta, e tal realidade a chocava. Com as feições frias e a postura elegante, Aristandros se aproximou. Nada em sua expressão revelava aborrecimento pela recente discussão que tivera com o avô. O coração de Ella disparou, a boca secando quando ele descansou uma das mãos na base de sua coluna e sussurrou: — Por que você não está com sua família?

CAPITULO OITO

Ella o fitou com incredulidade. — Por que os convidou quando sabe que existe um desentendimento entre nós todos? — perguntou ela baixinho, furiosa por Ari ter lhe armado um confronto como 65


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aquele, sabendo que a família a vinha rejeitando por anos. — Pensei que o convite ajudaria! até mesmo pensei que você pudesse ficar feliz em vê-los — respondeu Aristandros, o semblante sério. — Foi um erro grave. Você não devia ter interferido. Minha família não quer proximidade comigo — confidenciou Ella amargamente. — Na verdade, Theo proíbe todos de se aproximarem de Callie enquanto eu estiver aqui. Aristandros a olhou com perplexidade, então praguejou. — Isso é um absurdo, khriso mou. Ele não pode insultá-la debaixo do meu teto. Qualquer um que fizer isso não é bem-vindo aqui. — Não há muito que você possa fazer sobre isso. Theo é um homem muito teimoso. Ignore-o, como estou fazendo, e talvez com o tempo, ele supere sua ira. Você não deveria tê-los convidado. — Ella mordiscou o lábio inferior, enquanto absorvia a expressão raivosa brilhando nos olhos dourados. Naquele momento, Callie puxou o vestido de Ella e descansou contra sua perna, enquanto o cansaço a dominava. — Sardelos aborreceu você — reclamou Aristandros. — Não vou tolerar essa ofensa. — Fique fora disso, não é problema seu. — Ella sussurrou em tom frenético, e abaixou-se para erguer Callie nos braços. — Se você interferir mais, vai causar problemas infinitos e ressentimentos. Vou levar Callie para dormir. Prometa-me que vai cuidar de seus assuntos? Aristandros lhe enviou um olhar sardônico. — Você é assunto meu. Se eles a insultam, insultam a mim, uma vez que você está aqui porque desejo, e não vou tolerar nenhum tipo de desrespeito. Ancorando Callie em um de seus quadris e mantendo-a ali com um braço firme, Ella colocou a outra mão sobre o peito de Ari. — Ninguém está desrespeitando você — tentou tranquilizá-lo. — Por favor, não se envolva... por favor. Não brinque com fogo. Com esse apelo final, partiu com Callie. Kasma se ofereceu para subir com o bebê, mas Ella recusou. No humor que estava, sentir os bracinhos de Callie a seu redor era confortante. A última coisa que precisava era que Aristandros piorasse uma situação já delicada. Sabia como sua mãe sofria calada cada vez que Theo perdia o controle. Quando estava no corredor e olhou para baixo, viu os convidados do sexo masculino reunidos no hall, entrando no escritório de Ari, onde aconteceria a reunião dos investidores. A visão a preencheu de alívio. Com negócios em jogo, Aristandros certamente não desperdiçaria sua energia pensando em qualquer outra coisa. — Sapatos — murmurou Callie se sentindo importante enquanto Ella removia as sandálias. — Meias. 66


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—Muito bem. — Ella aplaudiu, virando o rostinho de Callie para beijá-lo. — Meu Deus, ela está falando agora... Ella quase desmaiou de susto e virou-se para ver a outra mulher à porta. — Mamãe? — Theo foi para a reunião, e pedi que uma criada me trouxesse para cima — explicou Jane Sardelos num tom apressado. — Ele ficaria furioso se soubesse que estou aqui com você. — Ele fica furioso com muita facilidade. Por que não o deixa? — perguntou Ella, revelando sua incompreensão quanto àquilo. — Ele é meu marido e me ama. Tem sido um bom pai e provedor. Você não entende — disse sua mãe, exatamente como costumava falar durante a adolescência de Ella. — Deixe-me ver minha neta... É a sua imagem perfeita. Ella notou que Callie não mostrou sinal de reconhecer a avó. — Você não a visita muito, verdade? — Susie foi muito difícil após o nascimento do bebê — murmurou Jane, sentandose ao lado do berço e olhando para garotinha com expressão suave. — Ela não queria meu conselho, nem de ninguém, e era óbvio que o casamento com Timon estava se dissolvendo e Susie não se importava. Vi Calliope algumas vezes quando ela era muito pequena, mas Susie não queria ser perturbada com visitas. — Acho que Susie teve depressão pós-parto — comentou Ella gentilmente. — Mas se recusou a consultar um médico. — Jane meneou a cabeça com tristeza. — Eu fiz o que pude, mas sua irmã sempre foi muito teimosa, e infelizmente acabou pagando o preço por isso. Mas não quero que você pague também. — Não vamos falar sobre mim — interrompeu Ella rapidamente. — Metade do mundo está falando de você desde que veio morar com Ari Xenakis. Ele pode querê-la hoje, Ella, mas não há garantias do dia seguinte, muito menos de um futuro mais distante. Eu não devia ter insultado você com aquela palavra, mas fiquei muito aborrecida ao descobrir que estava vivendo com Ari. — Não posso discutir Aristandros com você. Sou adulta e fiz uma escolha. Não espero que concorde com isso, mas não faz sentido discutir o assunto também, porque nada vai mudar. Mamãe, faz sete anos que não nos vemos — Ella a relembrou com sofrimento. — Não vamos desperdiçar este momento. — Um momento é realmente tudo que temos — reconheceu Jane, envolvendo a filha num abraço, as mãos trêmulas traindo seu estado de nervos. — Senti tanto sua falta, particularmente depois que Susie faleceu. Mas Theo está ultrajado pela situação. Diz que por causa do seu caso muito público, ele está ridicularizado. Ella retribuiu o abraço da mãe com afeição. 67


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— Pelo amor de Deus, ele sempre exagera... é apenas meu padrasto. — Você embaraçou a família inteira — veio uma outra voz condenatória da porta. Ella focou no seu meio-irmão, Dmitri, enquanto sua mãe se afastava. — Pare de criar desculpas para seu pai — disse Ella. — Ele sempre encontrou defeito em tudo que fiz, porque eu o enfrentava. Não gosta de mim e nunca vai gostar. — Mamãe... em alguns minutos papai irá procurá-la. Você precisa descer. — Tendo dado o aviso, Dmitri virou-se de costas para Ella, que estava furiosa pelo comportamento ridículo dele. — Você ainda mora em casa? — perguntou para seu irmão. Observando sua mãe empalidecer de medo que o marido descobrisse a desobediência a seus comandos, Ella voltou aos anos que não queria recordar. Anos marcados por violência e discórdia, e pelas tentativas patéticas de Jane para fazer a família parecer normal. — Não. Há muitos anos. Stavros e eu temos um apartamento. — Então não posso lhe pedir que cuide de mamãe esta noite — observou Ella. Imediatamente entendendo o significado daquilo, Dmitri enrubesceu e apressou-se para tirar a mãe do quarto. Estava desesperado para evitar conflito com o pai, como Ella estivera um dia. Ela jamais esqueceria a tensão de viver na casa de Sardelos, onde todos tinham de se reprimir o tempo todo para evitar aborrecer Theo. Enquanto o conflito inicial no casamento havia começado por causa da infidelidade de seu padrasto, ele logo encontrara diversas razões para perder o controle. — Vou tentar telefonar para você — Jane prometeu sobre o ombro. — A qualquer hora, por qualquer razão. Sempre estarei aqui para você — respondeu Ella com a voz embargada pela emoção. Até que visse sua mãe novamente, não se permitirá reconhecer o quanto sentira falta da presença dela em sua vida. Ella esperou que Callie dormisse, então desceu e voltou para a espaçosa sala de estar. Descobriu que era o centro das atenções, e lembrou-se de como as pessoas eram curiosas sobre Aristandros... seu estilo de vida, suas posses, suas mulheres, sua família... tudo material para as colunas de fofocas de jornais e revistas. Tentando esquivar-se, com tato, das perguntas mais íntimas, conversou com diversas mulheres. Os homens voltaram em pequenos grupos para suas parceiras, e os convidados começaram a partir. Drakon Xenakis fez questão de se despedir de Ella com carinho. Seu padrasto, encostado contra uma parede, simplesmente inclinou a cabeça na direção da esposa num sinal categórico de que queria ir embora. Mesmo com uma única olhada, ela pôde dizer que Theo estava incendiado de raiva, o rosto vermelho, a boca comprimida numa linha agressiva. Então sua família inteira partiu sem uma palavra para ninguém. Ella seguiu Aristandros para o escritório que conectava com a sala de conferências. — O que você falou para meu padrasto? — exigiu saber. 68


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Os assistentes pessoais de Ari pararam incrédulos, e ela enrubesceu, desejando que tivesse exercido mais autocontrole e esperado até que eles estivessem a sós. Com o semblante impassível, Aristandros inclinou-se contra a mesa atrás de si e estreitou os olhos. — Não se dirija a mim neste tom — disse com firmeza. Ella ficou mortificada quando, somente então, ele dispensou seu staff com um gesto autoritário significativo de mão. — Desculpe — murmurou ela. — Eu devia ter esperado um momento. — Tudo que peço é que se lembre de suas boas maneiras. — Eu estava preocupada... Vi Theo saindo em completa fúria. O que aconteceu? — pressionou, andando ansiosamente na frente dele. — Informei Sardelos e seus irmãos que eles não são bem-vindos aqui se não podem tratá-la com respeito. Ella lhe atirou um olhar apavorado. — Não preciso que você lute minhas batalhas por mim! — Eu os convidei, e esta é minha casa. O comportamento deles foi inaceitável — declarou Aristandros. — Nunca vi meu padrasto tão irado, e não é de admirar. Você o humilhou na frente dos filhos, e ele vai me culpar por isso também — lamentou-se Ella. — Eu poderia matá-lo por interferir em algo que não lhe diz respeito. — Defendo você e comporta-se como se eu tivesse agido errado? — questionou ele, com expressão de raiva. — Deixou seu padrasto intimidá-la por tanto tempo que perdeu a noção das coisas. Ele precisa reconhecer seus limites através de alguém que não pode influenciar ou controlar. Ella virou-se de costas para Aristandros, preocupada com as consequências da reprimenda merecida que Theo recebera. Seu padrasto beneficiava-se grandemente de sua associação com a família Xenakis. A súbita perda de tal conexão não somente o humilharia, mas também prejudicaria seus negócios. Queria gritar com Aristandros por ter agido assim, mas sabia que ele não poderia compreender que Jane Sardelos pagaria pelos pecados do marido. — Você interferiu, convidando-os para vir aqui quando sabia da séria discórdia entre nós — acusou ela. — Pelo amor de Deus, minha mãe me ligou em Paris para me dizer que eles achavam que eu estava agindo como sua prostituta! Aristandros ficou rígido. — Prostituta? — Ninguém tem a ilusão que sou eu quem paga pelas roupas caras e jóias! — disse Ella amargamente. — Como espera que as pessoas me vejam? 69


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Com olhos brilhantes parcialmente ocultados por cílios longos e sedosos, Aristandros a estudou. — Esta não é uma questão que parei para considerar. Ella arqueou uma sobrancelha. — Não? Bem, você considerou tudo o mais relacionado à imagem. Por que outro motivo fui arrumada como uma boneca elegante? Mas Aristandros não estava ouvindo. Franzia o cenho numa expressão interrogativa. — Então foi por isso que você me deixou sozinho na festa em Paris... Ella inclinou a cabeça, afastando os cabelos claros do rosto com a mão impaciente. — Aquele telefonema pode ter me deixado mais sensível do que eu já estava. — Porém, mais uma vez isso enfatiza o quão pouco você me ouve, khriso mou. A tensão intimidadora na atmosfera fez soar alarmes dentro da cabeça de Ella. Ciente da raiva renovada de Ari, mas sem entender por que, piscou confusa. — Não sei se estou entendendo. — Você deveria ter me contado sobre o telefonema que a perturbou — explicou Aristandros. — E não ouse dizer que não era da minha conta, porque seu comportamento naquela noite falou por você! Não gosto que guarde segredos de mim. Isso é desonesto. Ella deu um suspiro exasperado. Não podia acreditar no que estava ouvindo. — Como tem coragem de dizer isso? — retrucou. — Talvez haja muitas coisas a seu respeito de que não gosto: um homem que usa advogados para me chantagear em um acordo indefensável onde ele faça o que quiser, enquanto eu faço apenas o que ele quiser. É isso que está chamando de relacionamento? Não é de admirar que nenhum deles tenha durado mais de cinco minutos! Em que bases você acha que eu lhe daria minha confiança? — Pare agora, antes que esta discussão saia de proporção — avisou Aristandros duramente. Mas Ella estava tremendo de emoção, e não poderia conter o que sentia. Seus olhos azuis fuzilavam. — Acha que posso confiar num homem que uma vez disse que me amava e queria se casar comigo, mas que me dispensou menos de uma hora depois? E por quê? Porque eu não podia ser a esposa perfeita que tinha em mente. Porque tive a audácia de querer mais do que seu amor e seu dinheiro. Você teria desistido de seu trabalho e da arte de ganhar dinheiro para se casar comigo? Aristandros perdeu a cor sob a pele bronzeada. Todavia, olhou-a com firmeza, previsivelmente não cedendo em nada. — Não iremos ter esta conversa — declarou. — Não estou pedindo permissão, e não estou tendo uma conversa. Talvez não 70


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tenha notado ainda, mas estou gritando com você! — exclamou ela, inflamada pela resistência dele ao seu ataque verbal. — Stamates... Basta! — disse Aristandros friamente. — Eu o detesto. Até mesmo seu avô acha que você está me tratando mal. Sim, além de não ter bons modos, ouço atrás das portas também! — confessou ela furiosa, lágrimas queimando seus olhos, sentindo a raiva a consumindo. — Definitivamente não sou a mulher perfeita que você pensa. É melhor rezar para que eu não seja fértil! E com aquela declaração final, Ella saiu e passou pelo staff de Ari, que evitou olhála e tentou fingir que estava tudo normal. Ela subiu a escada quase correndo, contendo o nó na garganta, e foi para a suite principal... a quarta desde que tinha ido viver com ele. Ella raramente chorava. Um filme triste ou um livro poderiam levar lágrimas aos seus olhos, mas era preciso muito para que realmente chorasse. Agora, atirou-se na cama e soluçou como criança. Estava preocupada com sua mãe... indo para casa sozinha com um homem irado e violento, que gostava de usá-la como saco de pancada. Porém, mais do que tudo, estava arrasada pela briga que acabara de ter com Aristandros. Tinha começado com uma pequena discussão, então crescido até romper a frágil paz que eles haviam estabelecido, destruindo os elos que, de alguma maneira, tinham conseguido construir. Agora não havia como esconder-se das verdades feias, porém reveladoras, como o medo de Ari de que ela pudesse ter concebido uma criança que ele não queria. Por que estava chateada com a briga? Pelo menos, tinha falado tudo que pensava. Confiara em Aristandros sete anos atrás, e o que ganhara com isso? Um coração partido e a rejeição da família. Ari, todavia, enriquecera ainda mais e aproveitara a vida com diversas mulheres promíscuas. Ella socou o colchão com o punho cerrado. Ainda estava tão furiosa que queria gritar. Detestava-o, realmente detestava-o! Mas estava quase na hora da refeição noturna de Callie, e adorava a rotina de pôr a filhinha para dormir. Levantando-se, gemeu ao ver seus olhos inchados e maquiagem borrada. Não tendo mais acesso ao salão de beleza e possuindo pouca maquiagem, fez o possível para disfarçar os efeitos do choro descontrolado. Callie foi um consolo encantador naquela noite. Ella brincou com a filha no banho, secou o pequeno corpo e aninhou-a em seus braços enquanto lia uma história. A criança murmurava sons alegres quando Aristandros apareceu à porta do quarto de bebê. — Quero jantar fora esta noite — anunciou ele. — Não me importo se eu nunca mais comer — mentiu Ella, pois na verdade estava faminta, mas não o deixaria fingir que nada tinha acontecido... mesmo se suspeitasse que seria melhor não tocar no assunto do que arriscar uma nova discussão. 71


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Callie escorregou de seu colo e aproximou-se descalça de Ari, erguendo os bracinhos e exigindo ser erguida. Possivelmente aliviado que alguém parecia apreciar sua presença, Aristandros abaixou-se e pegou-a no colo, como se viesse fazendo isso há anos. Mas na verdade, nunca fizera aquilo antes, e Ella observou, disfarçadamente, enquanto Callie explorava os cabelos de Ari, dava-lhe beijos molhados no rosto, e puxava a gravata antes de acomodar-se contente, tentando roubar uma das abotoaduras de ouro de Aristandros. Callie ergueu um dos pés. — Meias — disse ela. — Você não está usando nenhuma — apontou Aristandros. Callie fez um biquinho. — Sapatos. — Você também não está usando sapatos. — Callie está tentando impressioná-lo com as novas palavras que aprendeu, não tendo uma conversa — explicou Ella. — Isso é mais interessante do que conversa — observou Aristandros, tirando os olhos do rosto sorridente de Callie e focando-os em Ella. — Você está de mau humor de novo. — Não estou de mau humor — negou Ella. — Simplesmente não posso pensar em nada para lhe dizer. — Existe uma diferença? —Ari atravessou o quarto e abaixou Callie gentilmente para o colo da mãe. Quando os olhos dele se conectaram, ela teve ciência da incrível masculinidade, e sua boca secou. — Vou sair — murmurou ele casualmente. Ella quase o chamou de volta para dizer que também iria, afinal de contas. Vê-lo sair sozinho não lhe agradava de forma alguma. Nenhuma mulher em seu juízo perfeito encorajaria Aristandros a sair sozinho... mas nenhuma mulher com seu orgulho o acompanharia após o dia que tinha passado e as palavras que haviam trocado, reconheceu com tristeza. Depois que Callie dormiu, ela desceu e comeu uma refeição leve, enquanto olhava para o relógio, imaginando quanto tempo ele ficaria fora e com quem estava. Atenas era uma cidade alegre, com muitas boates. Decidindo ir dormir mais cedo, foi tomar um banho, então telefonou para Lily e finalmente contou tudo que tinha acontecido para sua amiga. — Ele é um cretino! — exclamou Lily com desgosto. Ella tremeu, não gostando de ouvir aquilo. — Às vezes ele é... muito desafiador. — Não acredito no que estou ouvindo. Você está dando desculpas para ele? — Não é desculpa — protestou Ella desconfortável. 72


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— Ella... em todos os anos de nossa amizade nunca entendi sua indiferença aos homens. Agora, finalmente entendo. Você é insanamente apaixonada por Ari Xenakis... e quero dizer insanamente, porque, pelo que parece, ele já está enlouquecendo você! — É claro que não sou apaixonada por ele — retrucou Ella. — Não temos absolutamente nada em comum. Ele é frio, egoísta e arrogante, e eu nunca poderia gostar de um homem assim! — Por outro lado — acrescentou Aristandros, entrando no quarto sem aviso e fazendo-a derrubar o telefone com o susto —, sou muito rico, muito inteligente e muito bom na cama... uma combinação que parece mantê-la bem entretida, khriso mou. Desajeitada, Ella pegou o telefone do chão. — Tudo bem... eu ouvi — admitiu Lily. — Acho que você encontrou seu parceiro, Ella. Ella desligou o telefone e olhou para Aristandros. Ele a fitava com um desejo tão ardente que seus mamilos enrijeceram sob a camisola, tornando-se desconfortavelmente sensíveis. Fechou os olhos e aninhou-se debaixo dos lençóis, muito consciente da presença de Ari, e ficando rígida quando o colchão cedeu sob o peso dele. — Se thelo... eu quero você — murmurou ele com voz rouca e tomou-a em seus braços. — Pensei que você ficaria fora por metade da noite — respondeu Ella, imóvel contra o corpo quente e poderoso. — Não quando você está na minha cama me esperando, moli mou. — Eu não estava esperando você! Afastando os cabelos loiros sedosos, Ari pressionou a boca no pescoço delicado, fazendo-a tremer com o roçar erótico dos lábios contra sua pele. — É claro que estava. Acha que não sei quando uma mulher me quer? — Arrogante. Rindo, Aristandros removeu a camisola dela, sem receber ou mesmo parecer precisar da ajuda dela, provando que era mais do que capaz de lidar com aquela crítica. Mordiscou a pele sensível atrás da orelha de Ella, enquanto as mãos fortes provocavamlhe os mamilos e o interior das coxas. Ela cerrou os dentes e arfou, esforçando-se para resistir à tentação, até que Ari provocou o pequeno botão feminino, e subitamente a resistência era mais do que podia suportar. Girou num movimento violento, beijando-o com paixão, ardendo por ele, ardendo de vergonha ao mesmo tempo. Aristandros entreabriu-lhe os lábios internos, deixando-a ofegante de desejo. Então a posicionou sobre seu corpo rígido e deslizou seu membro ereto com um gemido gutural de prazer. — Contanto que saiba que continuo detestando você — murmurou Ella tremendo, lutando para não se perder totalmente no prazer que ele lhe despertara. 73


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— Adoro o jeito como me detesta — replicou ele, segurando-lhe os quadris para controlar o ritmo, então erguendo-se para tocar-lhe os seios e os mamilos. Ella estava atordoada de excitação, e era impossível raciocinar. As ondas de puro deleite começaram na sua pélvis e lentamente se espalharam em círculos, até que ela explodiu num clímax espetacular. Gritou, inclinando a cabeça para trás, enquanto os tremores do êxtase a envolviam. Aristandros rolou-a para a cama e a aninhou em seus braços. — Amanhã estaremos em Lykos, e não acho que vou deixá-la sair da cama por uma semana. Você me deixa insaciável, khriso mou. Quando seu cérebro voltou a funcionar, Ella detestou a si mesma por render-se à paixão. — Não retiro uma palavra do que falei. — Que temperamento você tem — disse Aristandros, obviamente despreocupado com aquilo. Com o corpo ainda pulsando pelo incrível clímax, Ella afastou-se dele e foi para a outra ponta da cama. — Não. — Aristandros puxou-a de volta com mãos que não davam espaço para argumento, colocando-a em contato com seu corpo novamente. — Você colhe o que planta, e não terminei ainda. — Eu terminei! — Mas enquanto ela falava, seu celular tocou. — Ignore — instruiu Aristandros. — Já passa da meia-noite. Ella estava acostumada a interpretar telefonemas de madrugada como emergências, e desvencilhou-se dele, pegou seu celular sobre o criado-mudo e atendeu. Um instante depois, levantou-se e acendeu o abajur. Embora não pudesse entender o que sua mãe estava dizendo, podia ouvi-la chorando, e sabia que alguma coisa estava muito errada. — Acalme-se, não posso entender o que está falando. O que houve? Ele bateu em você? Ella sentiu Ari se aproximando. — Você ainda está na casa, mamãe? Onde está Theo? Ouça, não volte para lá de jeito nenhum — avisou. — Fique onde está que irei buscá-la. Não, é claro que não tem problema. Não seja tola, mamãe. Tudo que me importo é com você. — Desligando o telefone, virou-se para Aristandros. — Preciso de um carro. Aristandros já estava falando ao telefone interno da casa. — Sardelos atacou sua mãe? O que aconteceu? — O que sempre acontece — respondeu Ella com um suspiro. — Theo toma alguns drinques, a culpa por tudo que dá errado na vida dele e bate nela. Ele está na cama. Minha mãe está no parque do outro lado da rua. Por que está se vestindo? 74


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— Vou com você. Ella já tinha posto uma calça. — Não é uma boa ideia. As feições bonitas de Ari estavam sérias. — Não vou deixá-la lidar com isso sozinha. Seu padrasto deixou minha casa furioso esta noite, e foi culpa minha. — Você não tem culpa de nada. Theo é o carrasco na história. Eu lhe aviso, mamãe não vai reportá-lo à polícia. Já tentei persuadi-la a denunciá-lo um milhão de vezes, mas não adianta, então ele sempre se livra. Minha mãe é como uma viciada... não consegue abandoná-lo. — Você pretende chamar seus irmãos? — Farei o que mamãe quiser que eu faça. Afinal, ela ligou para mim, em vez de para um de seus filhos. Vinte minutos depois, Ella se aproximou do banco do parque, onde sua mãe estava sentada, os ombros caídos, a cabeça baixa, de modo que mesmo com a luz da rua não era possível ver-lhe o rosto. Quando Ella conseguiu vê-la, teve de conter um grito de horror. O rosto de sua mãe estava inchado, um olho quase fechado pelo hematoma. Jane Sardelos estava quase irreconhecível. O lábio estava cortado e inchado, e ela segurava um dos braços como se estivesse com dor. — O que houve com seu braço? — perguntou Ella. — Vamos entrar no carro primeiro — disse Aristandros. — Você o trouxe? — Jane arfou em horror. — Não pude persuadi-lo a ficar. — Ella ajudou sua mãe a se levantar e conduziu-a em direção a limusine. Uma vez que estavam seguros no banco de trás, examinou o braço de sua mãe e percebeu que o pulso estava seriamente quebrado. — Precisamos ir para o hospital. — Não para o hospital... vou para um hotel ou algo assim. — Você não tem escolha — interrompeu Ella. — Acho que seu pulso vai precisar de cirurgia, e quanto antes melhor. Quer que eu ligue para os rapazes? Jane meneou a cabeça com veemência. — Não faz sentido aborrecê-los também. Aristandros arqueou uma sobrancelha, mas não fez comentários. Durante o trajeto para o hospital e na chegada subsequente, Ella estava surpresa com quanta gentileza ele tratava Jane, que nunca tinha sido uma de suas maiores fãs. Sentiu-se divertida quando o charme natural de Ari começou a fazer sua mãe relaxar. Foi uma noite muito longa. Depois que radiografias foram tiradas, Jane foi 75


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examinada, e Ella estava apavorada pelos ferimentos que via no corpo da mãe. Era óbvio que os ataques de seu padrasto haviam se tornado ainda mais violentos durante os anos. A cirurgia do pulso foi imediatamente marcada. A polícia chegou logo, e Ella preparou-se para os esforços usuais de sua mãe em proteger o marido de prisão e condenação. Aristandros pediu para falar com Jane em particular, e Ella saiu do quarto, curiosa com o motivo dele, mas tão sonolenta que ficou grata pela chance de andar ao redor e acordar um pouco. Ao retornar, ficou chocada com a descoberta de que sua mãe finalmente estava disposta a dar declarações verdadeiras dos eventos e processar Theo. Também parecia mais forte, mais firme e com menos medo. Enquanto Jane estava na sala de operação, Aristandros deu uma série de telefonemas. — Sobre o que você conversou com mamãe? — perguntou Ella. — Jane quer um recomeço, e apontei que não pode ter isso sem processar Sardelos pela violência física, porque somente isso o fará deixá-la em paz. Também apontei que ela poderia morrer durante uma das agressões dele. Convidei-a para nos acompanhar a Lykos enquanto se recupera, mas Jane quer ficar com seus irmãos até que se sinta melhor. Liguei para eles. Devem chegar aqui em breve. Ella ficou desapontada que Jane não iria para a ilha, mas sabia que sua mãe apreciaria mais ficar com os filhos por algumas semanas. Estava impressionada por Aristandros ter triunfado numa questão que ela fracassara tantas vezes. Seu padrasto finalmente iria enfrentar a corte, uma imensa fonte de alívio para Ella. Mas talvez não fosse tão estranho, concedeu. Jane sempre fora mais facilmente impressionada por homens fortes do que por mulheres fortes, e a intervenção e conselho de Ari haviam sido apreciados e respeitados. Eles permaneceram no hospital até que Jane saiu da sala de operação e recobrou a consciência no quarto. A cirurgia foi longa e complicada, mas bem-sucedida. Ella adormeceu na limusine, e acordou somente quando Aristandros a colocou na cama. — Você foi maravilhoso hoje com mamãe — murmurou sonolenta. — Eu não esperava isso. — Nem sempre sou o imbecil que você gosta de pensar que sou — respondeu ele. Relaxando no colchão confortável, Ella estudou-lhe o rosto bonito. — Não sou tola — disse. — A essência de uma pessoa nunca muda.

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CAPITULO NOVE

A ilha de Lykos tinha sofrido algumas mudanças desde que Ella a visitara, sete anos antes. Aristandros ampliara o porto para acomodar seus iates. Os barcos de pesca pareciam brinquedos coloridos ao lado do Hellenic Lady. A cidadezinha da ilha, composta por casas brancas, adornadas com a tradicional pintura azul, estendiam-se em fileiras alinhadas atrás do porto. A igreja de casamento, com sua torre de sinos ornamental, era localizada na praça principal arborizada, e um moinho de vento em desuso, mas ainda assim charmoso, pontuava a estrada sinuosa que levava à extremidade da ilha e à casa dos Xenakis. Além da cidade, montanhas verdes eram salpicadas com ciprestes e campos de oliva, e mais construções do que ela se recordava. — Da última vez que estivemos aqui, você disse que queria se casar numa igreja exatamente como esta — comentou Aristandros. — Eu disse? — Parada contra o parapeito enquanto o iate atracava no cais, Ella ainda sofria pela perda de sono da noite anterior. Aquele lembrete quase a fez engasgar com o café que estava bebendo para acordar. — Não me lembro disso. — Eu apreciava o fato de você ser espontânea e falar o que lhe vinha na cabeça. Meus pais se casaram aqui, na igreja de Ayia Sophia, com a qual minha mãe também ficou encantada. — Lykos originalmente pertencia à família de sua mãe, não é? — Sim. Ela foi filha única e um grande desapontamento para a família, que ansiava por um filho homem. — Lembro-me da foto de sua mãe na casa. Ela era maravilhosa. — Ela ainda mantém o troféu de ser a mulher mais vaidosa que já conheci — murmurou Ari com um meneio da cabeça orgulhosa. — De muitas maneiras, teve sorte de falecer jovem. Não teria lidado bem com o envelhecimento. Ella pensou que era triste que Aristandros pudesse ser tão desapegado da memória da mãe, um hábito que provavelmente adquirira para se proteger quando era menino, ignorado por pais irresponsáveis que tinham se recusado a crescer e se comportar como adultos. Muito parecidos para se suportarem, o casal se divorciara quando Ari tinha 5 anos. Embora Doris Xenakis houvesse crescido com grande beleza e riqueza, ambos os atributos tinham sido apenas meios para um fim para a jovem obcecada por seu sonho de se tornar uma atriz famosa. Enquanto Doris perseguia infindáveis papéis como atriz, e dava festas constantes para entreter celebridades influentes, Aristandros fora seriamente 77


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negligenciado. Tinha sido removido de casa por assistentes sociais duas vezes, para sua própria segurança. Doris finalmente morrera de overdose de drogas aos 30 anos, e era apenas lembrada no mundo do cinema por ter estrelado um dos piores filmes já produzidos. O pai de Ari, Achilles Xenakis, um jogador inveterado, mulherengo e alcoólatra, havia tido diversas parceiras e frequentara centros de reabilitação depois de uma interminável sucessão de escândalos sexuais e financeiros. Achilles morrera batendo sua lancha. Órfão, Aristandros tinha ido morar com Drakon com 14 anos. Ella, Callie e Aristandros subiram em um dos carros que esperavam no porto, enquanto a bagagem era carregada em outro. Ella olhou para o mar azul-turquesa lavando a praia branca que circulava mais da metade da ilha, e apreciando o isolamento do lugar, perguntou: — Você está tentando manter os turistas longe? — Por que eu iria querer compartilhar o paraíso? — Seria a maneira mais fácil de revitalizar a economia e persuadir os jovens a permanecerem aqui. Um pequeno desenvolvimento exclusivo perto da cidade não interferiria na sua privacidade. — Lembre-me de mantê-la afastada do conselho da cidade. Eles a elegeriam imediatamente — disse Ari. — Nos anos recentes, fiz diversos negócios para criar empregos, e a população está atualmente prosperando... sem o comércio turista e seus problemas inevitáveis. Ella lhe deu um sorriso ensolarado. — Tenho certeza de que você sabe o que funciona melhor em seu reinado. — Não me refiro à ilha como meu reinado — retrucou Aristandros. — Eu não quis ser controversa. Ele alisou-lhe a coxa, um olhar reprovador. — Mentirosa. Você sempre gosta de ser do contra, moli mou. — Concordância constante e admiração são ruins para você. Muitas pessoas se comportam como se cada decisão sua fosse um ato de puro brilhantismo. — Geralmente é — disse Aristandros. — É como ganho tanto dinheiro. Involuntariamente, Ella sorriu, pois a autoconfiança dele era imensa e sempre ousada. Estudou a grande casa erguida como um navio isolado na montanha salpicada de ciprestes. A propriedade, projetada pela mãe falecida dele, dava vista para um vale estreito, onde águas claras refletiam o céu. — Tenho um projeto para você enquanto estiver aqui — disse Ari, cumprimentando o staff alinhado no hall, enquanto Ella seguia Callie, que corria em direção à escada o mais rapidamente que seus pequenos permitiam. — Reforme a casa e renove-a. Ela sempre me lembra um cenário de filme. 78


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A tela do cinema era, sem dúvida, o que tinha inspirado a mãe dele na escolha opulenta da decoração dos móveis, dos pisos de mármore e das colunas gregas teatrais. Ella estava impressionada por Ari ainda não ter mandado renovar a casa, o que a fez pensar se ele era mais sentimental do que estava disposto a admitir. O retrato de Doris ainda adornava uma das paredes, juntamente com muitas fotos dela com celebridades. Aristandros não se parecia nada com a mãe loira, de olhos castanhos. Todavia, parecia-se com o bonito pai. Em termos de atrativos, contudo, superava os pais, decidiu Ella, estudando-o. Enquanto Ari possuía a aparência física de Achilles, havia herdado a inteligência aguçada e perspicácia do avô. Estar perto de Aristandros todos os dias a deixara mais ciente do que nunca de que ele era um homem inteligente, desafiador, intrigante e extravagantemente lindo. Enrubescendo quando Ari notou seu olhar demorado, Ella apressou-se para o terraço e pensou se Lily estaria certa. Seria possível que nunca tivesse deixado de amar Aristandros? Nunca se comportara normalmente em relação aos homens depois daquela primeira desilusão? Essa suspeita a apavorou, porque gostava de pensar que era sensata. O tipo de mulher que podia continuar alimentando uma paixão secreta por um mulherengo notório a fazia se sentir tola, fraca e certamente insana. — Em três semanas, iremos a um grande evento beneficente patrocinado pela fundação Xenakis — anunciou Aristandros. — O traje é formal. Ella reprimiu um suspiro. — Onde será? — Em Atenas, numa Casa de Ópera. Ella instalou Callie no quarto de bebê, o qual a garotinha claramente via como um lar. Callie andou até uma cesta de brinquedos e sorriu enquanto removia seus favoritos, revelando satisfação ao redescobri-los. Depois que Callie dormiu, Ella foi jantar no terraço com Aristandros. — Sabe, estou com você somente há duas semanas e esta será a sexta cama diferente em que dormi — comentou. Aristandros deu de ombros. — Mudanças são estimulantes. — Sei que você não quer ouvir isso... Ele ergueu uma das mãos para silenciá-la. — Então não fale — avisou secamente. — Isso não é justo com Callie. Ela precisa de um lar mais estável. — Eu normalmente não a levo para viajar ao redor do mundo como fiz nas últimas semanas — admitiu ele. — No geral, Callie está baseada aqui na ilha. Culpa a envolveu quando Ella entendeu o problema. — Callie está viajando porque estou em cena agora, e você sabe que quero ficar com 79


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ela? — Enquanto quero ficar com você. É uma situação perfeita — murmurou ele. — Seja prática. Ella brincou com a deliciosa entrada de frutos do mar, seu apetite desaparecendo. Seja prática... lembre-se do acordo que assinou, lembre-se de quem dá as ordens aqui, quem decide sobre Callie. Mas o estilo de vida dele não era adequado para uma criancinha, refletiu. Mais do que qualquer coisa, Callie precisava de estabilidade e rotina para crescer, sem mencionar pessoas ao seu redor. Com expressão reflexiva, Aristandros deu um gole no vinho. — Tenho uma viagem de negócios na próxima semana. Deixarei você aqui. — Ótimo. — Ella sabia que estava recendo um prêmio de consolação, mas ironicamente descobriu-se imaginando se a súbita disposição de Ari em deixá-la para trás poderia estar relacionada com o fato de estar se cansando dela. Por que não? Duas semanas era um período razoável para Aristandros ficar com uma mulher. E, se ele estivesse perdendo o interesse, como ela lidaria com isso? Reprimindo aquele pensamento triste da cabeça, telefonou para sua mãe, que ainda estava no hospital, depois do jantar. Jane parecia tranquila. Stavros e Dmitri se encontravam no hospital e contaram que o pai deles tinha sido preso. Livre do medo da violência do marido, Jane decidira fazer terapia. — Mamãe está lidando com tudo isso melhor do que pensei — comentou Ella com Aristandros quando ele saiu do banheiro, uma toalha enrolada na cintura, e água ainda pingando dos cabelos no peito poderoso. Não acrescentaria que Jane achava que o julgara erroneamente sete anos atrás, subestimado o potencial de Ari para confiança. Aos olhos de sua mãe, Aristandros havia subitamente se transformado num cavaleiro de armadura brilhante, digno do prêmio mais alto. — Agora Jane poderá recomeçar com liberdade. Sardelos sugou toda a energia dela — declarou ele seriamente. Num vestido de noite verde brilhante, Ella tremeu. — Eu era apenas uma criança quando eles se casaram, mas ainda lembro como ela era diferente antes de conhecê-lo... extrovertida e cheia de vida. Theo a transformou num capacho. — Nada de que alguém poderia acusar você. Ella o estudou com desejo correndo nas veias. Sentia-se como uma adolescente... uma adolescente apaixonada que ficava excitada cada vez que ele a olhava. — Às vezes, você me deixa louca de raiva. Um sorriso malicioso brincou na boca bonita de Ari, fazendo o coração de Ella disparar. — Você me deixa louco de um jeito muito diferente, khriso mou. 80


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Pela primeira vez, Ella tomou a iniciativa, atravessando o quarto para pressionar-se sobre o corpo másculo, deleitando-se pela conexão física, com uma ousadia que nem imaginava possuir. A mera ereção de Aristandros a excitava. Ela entreabriu os lábios e permitiu-se ser beijada longa e eroticamente até que estivesse se contorcendo de desejo. Desprendeu a toalha e olhou-o, enquanto traçava a incrível extensão do sexo viril. — Você não sabe agir como mulher devassa — brincou Ari com voz rouca. — Ainda está enrubescendo. — É claro que vou enrubescer se você continuar fazendo esse tipo de comentário. — Então tire meu fôlego, moli mou. E ela fez isso, ajoelhando-se graciosamente aos pés dele para usar mãos e boca na tarefa que determinara para si mesma. Utilizou o conhecimento da mente masculina e sua consciência infinitamente mais íntima do que dava prazer a Ari. Ondas de prazer começaram a fazer o corpo poderoso tremer. Ele aguentou as provocações por muito pouco tempo. Totalmente ofegante, logo a ergueu e a impulsionou para cama sem cerimônia. — Você me excita absurdamente! — sussurrou ele, cobrindo-lhe o corpo com o seu e tomando-lhe a boca num beijo ardente. Amou-a com um poder alucinante. Depois, ela relaxou nos braços fortes, seu corpo magicamente indolente e pacífico após a liberação explosiva. Aristandros afastou-lhe os cabelos do rosto carinhosamente. Ella beijou o ombro largo, inalando o aroma único e maravilhoso que conhecia tão bem. Certo ou errado não pareciam mais tão bem definidos, pensou. Em algum nível, não podia mais conter o que estava sentindo, e nem mesmo tinha certeza se fazia sentido resistir enquanto morasse com ele e Callie. Sexualmente, achava-o irresistível, mas seu sentimento era mais profundo. Era possessiva em relação a Ari, e importava-se com ele como nunca se importara com ninguém. Entretanto, não era mais o jovem por quem ela se apaixonara um dia. Aqueles sete anos o modificaram. Aristandros era mais duro, mais cínico e contido, disposto a tudo para conseguir o que queria. Era tão errado sentir-se especial porque ele chegara a extremos para tê-la de volta em sua vida? Nas primeiras horas da manhã seguinte, Ella acordou sentindo uma cólica familiar na parte baixa do estômago. Um momento depois, levantou-se e foi para o banheiro a fim de checar suas suspeitas. Não estava grávida, e desta vez, começaria a tomar pílulas anticoncepcionais. Após a higiene matinal, voltou para a cama. Aristandros ainda dormia. Espalhado na cama, com os cílios longos tocando as maçãs do rosto, pelos despontando no maxilar e a boca esculpida relaxada, estava maravilhoso. Ela tremeu ao imaginar como ele reagiria a uma gravidez inconveniente. Aristandros gostava de controlar tudo, e ela não o teria deixado exercer controle e 81


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influência naquela questão. Estava grata que não tinha acontecido. — Hmm... — Ele mudou de posição e a encontrou, uma das mãos deslizando para o estômago de Ella, então subindo para lhe tocar os seios com contentamento. — Ella... — Eu não estou grávida — disse Ella, ansiosa para dar a boa notícia. Cílios pretos se ergueram para revelar os olhos dourados. Ari estava instantaneamente acordado, como se tivesse recebido um balde de água fria. — Tem certeza? — Absoluta. As feições fortes ficaram tensas. — Eu teria cuidado de você. Não precisava ter se preocupado com isso. — Você tem problemas suficientes, sem este em particular. — Você ainda não quer filhos? — Eu não disse isso. — Apenas não quer filhos comigo? — Com a expressão sardônica, Aristandros a liberou e saiu da cama. — Preciso de um banho. Ella estava confusa pelo comportamento dele. — Presumi que você consideraria uma gravidez um desastre, e que me pediria para fazer um aborto. Deixou bem claro que não queria filhos. Numa postura altamente máscula, Ari a estudou da porta do banheiro, então deu de ombros. — Mas então pensei no assunto e decidi que podia viver com isso. Callie provavelmente apreciaria um irmãozinho ou uma irmãzinha — murmurou ele. — Eu nunca teria sugerido um aborto. O motivo principal pelo qual meu pai se divorciou de minha mãe foi por que ela tentou me abortar. Esse tipo de conhecimento faz enxergar gravidez acidental por um ângulo diferente. Chocada pelo conteúdo daquele discurso, Ella assentiu. — Suponho que sim. Então tentou pôr seus pensamentos em ordem. Toda vez que achava que tinha entendido Aristandros, ele a confundia novamente. Quando pensaria ouvi-lo dizendo que Callie apreciaria um irmãozinho ou irmãzinha? E que não gostava da ideia de aborto? Decidi que podia viver com isso... Podia viver com Ella, tendo um bebê dele? Bem, ainda estava aliviada por não precisar enfrentar aquele desafio. Engolindo em seco, Ella voltou para a cama. Durante os últimos anos, a mera visão de um bebê em roupas pequeninas lhe causava um nó na garganta e um desejo poderoso, mas jamais teria admitido algo tão pessoal. Na verdade, seu desejo de ver e abraçar sua filha biológica quase lhe partira o coração por 18 meses. Mas agora, ciente de sua incrível 82


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sorte por ter uma criança adorável e saudável como Callie em sua vida, não esperava nada mais da Mãe Natureza. Ella andou ao redor do moderno edifício da clinica médica que Aristandros tinha fundado nos arredores da cidade. Era um sonho dos médicos rurais, mas aparentemente dois médicos já tinham entrado e saído, entediados com a falta de vida social na pequena ilha e da inconveniência de precisar pegar uma balsa para visitar amigos e família. Atualmente, a posição estava vaga. Tendo checado o número de pacientes, Ella descobriu que só havia trabalho suficiente para um médico de meio período, e ela gostaria muito de candidatar-se à vaga. — Nós ficaríamos honrados em ter você aqui — disse Yannis Mitropoulos, o prefeito da cidade, tendo abordando-a e lhe oferecido um passeio após vê-la espiando o interior da clínica por uma janela. — Infelizmente, não estou procurando emprego no momento — respondeu Ella com tristeza. Se estivesse, aceitaria o emprego em cinco minutos. Aristandros havia devotado dois dias para lhe mostrar a ilha e lhe apresentado muitos locais. Mas não lhe oferecera uma visita à clínica médica que tinha construído ou admitido que Lykos precisava de um médico, descobrira aquilo sozinha quando levara Callie à cidade. Enquanto saboreava um drinque gelado na taverna com vista para o porto pitoresco, descobrira-se cercada de pessoas esperançosas à procura de conselhos médicos imediatos. Aristandros, todavia, aparentemente não tinha consciência de manter a única médica da ilha confinada a casa e à cama. Apesar daquela verdade, durante as últimas três semanas, Ella estava feliz vivendo em Lykos. Aristandros viajara sozinho a negócios duas vezes, e ela ficara impressionada ao descobrir o quanto sentia a falta dele. Ari era, todavia, surpreendentemente sexy e divertido durante os telefonemas noturnos, admitiu com um sorriso. Ella tinha aceitado o fato de que o amava. Provavelmente o amava muito mais do que sete anos atrás, o que era irônico, uma vez que Ari vinha se comportando tão mal desta vez. Mas no passado, havia esperado perfeição, uma alma gêmea que compartilhasse seus pensamentos e convicções, e não lhe fizesse exigências estranhas. Agora, suas expectativas eram mais realistas e, de qualquer forma, sabia que os dois eram opostos, pelo simples fato de ela ser uma mulher moderna, e ele um machista antiquado. Embora sentisse que Aristandros era egoísta e irracional em não lhe permitir exercer a medicina, começava a suspeitar que o fato de ser o centro do mundo dela, era algo que Ari valorizava mais do que tudo no relacionamento deles. Era possessivo, e não parecia disposto a compartilhá-la. Ella conseguira adotar dois cachorros abandonados desde que chegara a Lykos. 83


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Um, Whistler, vira-lata peludo, tinha sido ferido por um anzol e levado para ser tratado, porque não havia veterinário na ilha. Ella cuidara da pequena cadela, e se oferecera a ficar com o animal enquanto se recuperasse. O segundo cachorro havia chegado baseado na crença de que "todos sabiam que os ingleses amavam cães". Bunny, nomeado inapropriadamente por Callie, era um dinamarquês com patas enormes, acusado de entrar nas balsas sem ser convidado. Ambos os cães eram brilhantes com Callie. Aristandros ficara perplexo com a súbita adição de dois cachorros na casa, mas se adaptara maravilhosamente bem depois de reclamar um pouco, e acabou admitindo que sua mãe detestava cachorros, por isso ele nunca pudera ter um. Ella sentiu que Ari estava tocado pelo entusiasmo de Callie em relação aos cães. A visão dos três brincando na praia era incrivelmente especial. É claro que Aristandros estava aprendendo a amar Callie, o que era gostoso de observar. Por exemplo, ele tentava ensiná-la a falar "dedos" e Callie continuamente respondia com "meias" ou "sapatos". Via o prazer dele quando sua filha corria para cumprimentá-lo e abraçava seus joelhos. A afeição inocente da garotinha tirava-o de sua concha de cinismo e o tornava mais paciente e calmo. Quando o celular de Ari foi encontrado dentro de um vaso de flores, ele insistiu que, de alguma maneira, o colocara ali, quando todos na casa sabiam que Callie estava sempre tentando pôr as mãos no telefone, porque as cores piscando lhe atraíam a atenção. Ella já não se importava mais que Aristandros a obrigara a assinar um contrato absurdo. Estava mais feliz com ele do que jamais sonhara que poderia ser. O piano que ganhara de presente tinha sido o mais precioso até agora, possibilitando que tocasse todos os dias num instrumento maravilhoso, e já estava ansiosa para ensinar Callie. Mas o piano era apenas um entre os inúmeros presentes fabulosos com os quais Ari a surpreendia. Havia ganhado bolsas de grife, perfumes, roupas e uma fantástica escultura de uma dançarina esbelta que Aristandros dissera que a fazia lembrar-se dela, elogiando-a com esse comentário. Aristandros estava agora acostumado a vê-la sem maquiagem e vestida em jeans e camiseta, e nada disso parecia diminuir o desejo dele. Sua mãe e seus irmãos gêmeos haviam visitado, e Ari levara Stavros e Dmitri... que não eram as companhias mais interessantes do mundo... para pescar e navegar, mesmo sem ser requisitado. Ella ficara grata, uma vez que agora sua família aceitava o relacionamento deles, o que tornava a vida muito mais leve. Ele também se provara compreensivo pela alegria de Ella ao receber uma carta enviada por Lily de Alister Marlow. Como requisitado, Alister havia mandado procurar a fotografia do pai de Ella, a qual fora encontrada atrás de um móvel. Ari se mostrou compassivo ao saber que ela não se lembrava do pai, que tinha perdido quando era apenas 84


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um bebê. Ele também era médico. — Foi por isso que você estudou medicina? — questionara Aristandros. — Não. Eu queria ser médica desde muito pequena, e conforme cresci, fiquei cada vez mais certa de que era isso que queria. Adorava a ideia de curar os corpos das pessoas e resolver seus problemas. Mas com relação à falta de comprometimento em relacionamentos, que Ella via como o maior problema de Ari, convenceu-se de que tinha uma solução. Se a vida sexual deles era boa, Ari não teria motivo para traí-la... mas detestava-se por pensar assim e por sua disposição em aceitar aqueles limites. O orgulho lhe dizia que merecia mais, mas o cérebro argumentava que possuía mais do que poderia esperar de Aristandros Xenakis em termos de atração, atenção e tempo. Até mesmo os jornais estavam falando sobre a vida tranquila dele ultimamente. Em homenagem à ópera beneficente naquela noite, Ella havia comprado um vestido magnífico em Atenas e prometido usar as safiras. Aristandros voara de helicóptero na noite anterior, e ela seria apanhada no fim daquela tarde. Os especialistas do salão de beleza que trabalhavam no Hellenic Lady foram à casa fazer as honras, e Ella estava admirando seus cabelos no espelho quando Ianthe, a governanta, chegou ao quarto para lhe dizer que Yannis Mitropoulos tinha telefonado para saber se ela podia ir ver a filha dele, que estava grávida e passando mal. Ella não perdeu tempo. Dirigiu para o centro médico da cidade, levando Ianthe consigo. Grigoria, uma jovem que seria mãe pela primeira vez, estava grávida de gêmeos de quase oito meses. O marido estava no exército e longe de casa. Grigoria estava quase histérica. Ella a examinou e descobriu que a pressão da moça estava muito alta, e as mãos e os pés inchados. A condição era mais complexa pelo fato de Grigoria ser diabética. Ella disse a Yannis que eles precisavam de uma ambulância aérea, pois provavelmente a filha dele estava sofrendo de pré-eclâmpsia e precisava de tratamento hospitalar urgente. Era uma condição perigosa, que só seria curada pelo nascimento dos bebês. Ela ligou para o hospital para avisá-los e para pedir conselho do ginecologista de plantão. — Você irá comigo? — suplicou Grigoria, apertando o braço de Ella freneticamente. — Eu ficaria muito grato se você fosse — acrescentou Yannis, lágrimas nos olhos enquanto a conduzia para um canto e começava a lhe contar a história triste de como sua esposa falecida tinha um dia passado pela mesma experiência, possivelmente pela mesma razão, e morrido logo depois de dar à luz Grigoria. O estado mental de Grigoria não melhorou por aquela lembrança inoportuna da morte da mãe. Ianthe lembrou Ella do compromisso da ópera, e o lembrete a fez hesitar. Como poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo, uma vez que ambos os destinos eram na cidade? Determinada a ficar com Grigoria, instruiu a governanta a enviar seu 85


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vestido de noite e jóias para casa de Ari em Atenas, onde poderia se arrumar para a noite, depois que deixasse o hospital. O voo na ambulância para Atenas foi tenso. Grigoria estava sofrendo com a dor e passando muito mal. Foi um grande alívio chegar ao hospital. Ella, preocupada com a condição de sua paciente, não pensou em seu compromisso social até que as gêmeas de Grigoria, duas menininhas, nasceram bem, por cesariana. Tranquilizada por saber que a mãe estava recebendo o melhor tratamento possível, Ella percebeu que nem mesmo tentara contatar Aristandros para lhe dizer onde estava. Nervosa pela sua falta de consideração em relação ao evento noturno, o qual ele deixara claro que era importante, enviou-lhe uma mensagem de texto, pedindo desculpas. Não perdeu tempo explicando o que tinha acontecido, mas prometeu chegar durante o intervalo da ópera. Mais tempo precioso foi desperdiçado enquanto esperava um táxi disponível. Contatou Ianthe para checar se o vestido tinha sido entregue. Tranquilizada a esse respeito, começou a se preocupar sobre como Aristandros reagiria à sua aparição pouco antes que a noite terminasse. Sentiu um nó na garganta. Ari não lhe respondera a mensagem de texto, o que sugeria que estava furioso. Ela não poderia culpá-lo, uma vez que ele sempre era meticuloso em contatá-la em situações similares. Além disso, dizer-lhe que simplesmente tinha esquecido a ópera por causa de uma emergência médica não iria agradá-lo nem um pouco. No momento que o táxi parou diante da imponente propriedade, Ella estava muito atrasada e tensa. Tocou a campainha e, após alguns momentos, a governanta apareceu, o olhar espantado avisando a Ella que sua chegada era inesperada. Ella passou pela outra mulher com um pedido de desculpas e subiu a escada, onde presumia que seu vestido a esperava. Não havia sinal do mesmo na suite principal, e ela parou quando viu peças de roupas femininas descartadas pelo chão. Franziu o cenho com a visão de um conjunto de lingerie preto, perguntando-se a quem aquilo pertencia. O mistério foi imediatamente solucionado quando a porta do banheiro se abriu e uma loira deslumbrante apareceu, usando uma toalha. Era difícil dizer qual das duas ficou mais desconcertada pelo encontro inesperado. — Quem é você? O que está fazendo aqui? — Ella ouviu a si mesma perguntando. Grandes olhos verdes a desafiaram. — Uma vez que eu estava aqui primeiro, poderia lhe fazer a mesma pergunta. E, mesmo enquanto abria a boca para falar novamente, podia sentir seu estômago se contorcendo e a transpiração escorrendo pela testa. Era a única mulher do mundo estúpida o bastante para perguntar a uma linda mulher seminua o que estava fazendo no quarto do amante? Afinal, a resposta era muito óbvia. Esforçando-se para salvar um pouco de dignidade, Ella voltou para a porta. Descobriu que era horrivelmente difícil tirar seus 86


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olhos atônitos na loira na toalha. Uma curiosidade revoltante a fazia olhar e comparar. Era mais velha que a mulher, menos excitante no departamento de curvas, embora sua pele fosse perfeita. Rejeitando aqueles pensamentos doentios, virou-se e desceu a escada com tanta velocidade que quase caiu. — Dra. Smithson. — A governanta começou ansiosamente, mas Ella já estava abrindo a porta, desesperada para fugir da cena humilhante. — Desculpe-me, eu não sabia que você viria. — Tudo bem — disse Ella, não querendo embaraçar a governanta, que obviamente tinha uma boa ideia do que Ella encontrara no andar de cima. Portanto, partiu, correndo em direção a rua, enquanto um vento forte a impulsionava por trás. Sentia-se atordoada, não sabia o que estava fazendo ou para onde estava indo. Choque havia varrido seus pensamentos da mente. Aristandros tinha outra mulher. Bem, Ella, o que você esperava? Que ele se tornasse fiel só porque está ao seu lado? E Aristandros não tinha prometido fidelidade. Na verdade, deixara bem claro que não lhe prometeria isso no acordo deles. Pelo que sabia, ele tinha uma variedade incrível de mulheres à disposição, bastando um simples telefonema para tê-las em sua cama. Aristandros havia ido a seu escritório em Atenas naquele dia, acabado o trabalho durante a tarde, então ido para casa... e para cama... com a loira deslumbrante. A cama fora arrumada novamente. Então a loira era prestativa. Imaginou a governanta de Ari lhe contando o que acontecera e tremeu. Vendo um ônibus passar na estrada, Ella correu para o ponto e fez sinal. Não importava para onde o ônibus estava indo, contanto que saísse dali sem ser vista. Seu celular vibrou na bolsa, e ela o pegou e desligou, recusando-se até mesmo a ver a mensagem. Não estava em condições de lidar com Aristandros. Era uma noite quente e úmida. Ella sentia calor e a pele pegajosa, embora seus dentes ameaçassem bater em choque. Subiu no ônibus e sentou-se atrás, seu corpo balançando com as curvas do veículo. Por que estava tão chocada quando Aristandros fizera apenas o que lhe era natural? Uma garota tão linda também. Se um homem tivesse sempre gostado da diversidade e excitação de outras parceiras sexuais, era improvável que mudasse. E sem dúvida, se ela lhe perguntasse, Ari seria honesto sobre aquilo. Então tremeu com o pensamento daquela honestidade. Qualquer admissão de infidelidade a cortaria como uma faca e deixaria cicatrizes, perseguindo-a para sempre. Mas as imagens já atormentadoras não eram mais confortantes, reconheceu com tristeza, pois a ideia de Ari nos braços de outra mulher era o pior pesadelo e sempre tinha sido. Agora que finalmente acontecera, estava abalada pela dor que experimentava. Mas a extensão daquela dor não era sua própria culpa, uma punição autoinduzida? Que mulher em seu juízo perfeito se apaixonaria por Aristandros Xenakis, esperando um 87


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final feliz? Incontáveis mulheres tinham tentado e fracassado. Entretanto, ainda o amava loucamente. Na verdade, uma semana atrás, enquanto observava Ari construindo um castelo de areia com Callie, questionara se tinha cometido um erro ao recusar a proposta de casamento dele sete anos atrás. Talvez, apesar das probabilidades contra, tivessem encontrado a felicidade juntos. Soubera que, apesar de amar sua carreira e os desafios que a acompanhavam, exercer a medicina nunca lhe trouxera a felicidade pura que vivenciava ao lado dele. O rosto estava molhado pelas lágrimas ao descer na estação rodoviária. O que estava planejando... fugindo e deixando Callie para trás? Esta opção era totalmente fora de questão. Ari já não a acusara de fugir quando algo a aborrecia? Ella arrepiou-se com essa lembrança. Mas o que estava fazendo agora? Não podia desistir de Callie. Não podia! Independentemente do que tivesse de suportar, de jeito nenhum poderia desistir da garotinha que amava. Ao mesmo tempo, contudo, necessitava de algumas horas para se recompor antes de ter de enfrentar Aristandros novamente. Decidiu que a melhor opção era encontrar um hotel para a noite. Andou quilômetros antes que encontrasse um pequeno estabelecimento numa rua tranquila. Registrando-se, ficou ciente da curiosidade velada da recepcionista, e quando viu seu reflexo no banheiro da suite do hotel, fez uma careta de horror. Seu rímel havia escorrido, e os olhos estavam manchados e inchados pelo choro, os cabelos totalmente emaranhados. Tomou um banho e decidiu religar o celular. Não podia desaparecer por muito tempo. Também deixara Aristandros esperando-a na ópera. Embora fosse o mínimo que ele merecia, devia estar furioso. Seu telefone tocou segundos após ser ligado. — Onde você se meteu? — perguntou Aristandros. — Desculpe-me por não ter ido à ópera, mas eu precisava de espaço esta noite. — Não! — Foi um grito. — Nenhum espaço é permitido. Onde você está? — Num pequeno hotel, não em um que você conheça. Realmente preciso ficar sozinha um tempo — suplicou Ella, perguntando-se como poderia encará-lo, como poderia conviver com ele, sabendo da infidelidade. — Você não tem permissão para me abandonar sob nenhuma circunstância — disse ele, furioso. — Não irei tolerar isso. — Não estou abandonando você — Ella falou as palavras com um nó fechando sua garganta. — Ella... Desligou o telefone antes que seu turbulento estado emocional a fizesse revelar mais do que deveria. Mas Ari logo descobriria, através de seu staff, que Ella encontrara a loira vadia. Não... não devia chamar a outra mulher de vadia somente por dormir com Ari. Afinal de contas, ele não era casado. Ainda era livre aos olhos do mundo. 88


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Chorando, Ella deitou o corpo trêmulo na cama. Como sempre temera, seu amor por Aristandros estava destruindo suas forças e sua autoestima, quando a única pessoa em quem devia estar pensando era Callie, que dormia em seu berço, abençoadamente inconsciente dos problemas que os adultos poderiam criar em seus relacionamentos. Mas Ella reconheceu naquele momento que tinha de encontrar uma solução para aquele problema, porque Aristandros provavelmente não faria tal esforço. Mais de uma hora depois, teve um sobressalto ao ouvir uma batida à porta. Espiando pelo olho mágico, não pôde ver nada além de uma forma masculina muito grande, e abriu a porta até onde a corrente permitia.

CAPITULO DEZ

— ABRA A porta, Ella — ordenou Aristandros. Ella estava abalada por ele tê-la achado tão rapidamente. Fechou a porta para soltar a corrente e abriu-a novamente. — Como descobriu que eu estava aqui? Com tensão palpável, Aristandros a encarou, os olhos medindo-a de cima a baixo. — Tenho dispositivos de rastreamento em seu celular e em seu relógio, então foi uma questão de ligar o equipamento de vigilância para localizá-la... Ella arfou em perplexidade. — Dispositivos de rastreamento? — repetiu. — Uma precaução caso você fosse sequestrada, um procedimento padrão de segurança — proclamou ele casualmente. — Sou um homem muito rico, e é possível que você seja alvo de alguém por causa de sua conexão comigo. — Você instalou dispositivos de rastreamento em mim? — condenou Ella, irada, ainda não podendo acreditar. — E nunca me falou uma palavra sobre isso? — Eu não queria deixá-la nervosa ou com medo. Mas não vou me desculpar por isso também — acrescentou Aristandros num tom agressivo. — Eu precisava ter certeza de sua segurança. Meu trabalho é proteger você. — Um dispositivo de rastreamento — murmurou Ella, tremendo. — Como se eu fosse uma posse... um carro roubado ou algo assim. — Você é muito mais importante do que isso para mim. Não pensei que fosse tanto, até que desapareceu esta noite. E, deixe-me dizer, você me deixou enlouquecido num 89


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espaço de poucas horas. Pálida e triste, Ella suspirou. — Verdade? — Por que não me telefonou do hospital? Poderia ter me informado do ocorrido, não saído numa ambulância como se eu não existisse! — disse ele, as feições fortes rígidas sob a pele bronzeada. — Ianthe saiu e eu não consegui localizá-la, portanto não tinha ideia de que uma emergência acontecera. Todo o staff sabia que você tinha ido a algum lugar com Ianthe. Eu estava preocupado com você... — Por quê? O que poderia ter me acontecido na ilha? — Ella mal podia acreditar que estava conseguindo manter a calma. Ari a olhou como se aquela fosse uma pergunta estúpida. — Você poderia ter sofrido um acidente. Eu soube que algo muito errado havia acontecido quando você não chegou à ópera, porque é geralmente muito confiável. — Oh... — E então Yannis telefonou depois que você saiu do hospital para dizer o quanto foi maravilhosa com a filha dele, e comecei a entender o que tinha acontecido. Mas você nunca chegou à casa de Drakon, porque ele verificou. — A casa de Drakon? Por que eu teria chegado lá? — perguntou Ella, confusa. — Foi para onde você enviou seu vestido. — Ianthe organizou isso — Ella hesitou. — Pensei que tivesse sido enviado para a sua propriedade fora de Atenas. — Ianthe sabia que eu tinha diversos hóspedes lá esta semana, então não poderia enviar sua roupa para lá. — Hóspedes? — ecoou Ella com fraqueza. — Fiquei sabendo que você encontrou uma delas — apontou Aristandros com ênfase. Subitamente a atmosfera estava tão pesada que poderia ter sido cortada com uma faca. Ella estava imóvel, a postura muito ereta. — E assim que você chama a jovem que encontrei... de hóspede? — Então você chegou à pior conclusão possível — afirmou ele, a boca sensual comprimida numa linha de desaprovação. — Eda é minha sobrinha, filha da irmã mais nova de meu pai. Com o nível de estresse cada vez maior, Ella arqueou as sobrancelhas. — Está dizendo que Eda é a garota que encontrei? E que é parente sua? Se isso é verdade, porque ela estava na suite principal? — Não tenho ideia. Os pais dela a deixaram na propriedade enquanto foram à 90


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ópera, porque Eda recusou-se a ir. Ela é rebelde e bastante mimada. Talvez estivesse experimentando as instalações ou apenas explorando enquanto tinha a casa inteira para si mesma. Como posso saber? Ella estava mentalmente analisando a explicação para ver se combinava com o que vira. — Você pode perguntar a ela amanhã, quando a encontrar. — Eu vou encontrá-la? — Vou dar uma festa na ilha para os meus parentes amanhã. Enquanto Ella começava a pensar que interpretara erroneamente a presença da garota na casa, suas pernas adormeceram e sua cabeça girou. Aquela fraqueza física era uma resposta de seu corpo à onda de alívio poderosa que a envolveu. — Oh, meu Deus. Eu pensei... Aristandros pegou-lhe as mãos e a puxou para mais perto. Os olhos dourados estavam repletos de desaprovação. — Sim, você imediatamente presumiu que eu a estava traindo com uma garota de 16 anos. — Ela só tem 16 anos? — Ella apertou-lhe as mãos para permanecer reta, enquanto reconhecia que a garota parecia realmente muito jovem. — Prefiro mulheres mais maduras, khriso mou. Embora isso me faça questionar por que estou com você, uma vez que reage como uma adolescente impulsiva em vez da adulta inteligente que sei que é. Com os olhos inundados de lágrimas, Ella piscou repetidamente enquanto olhava para as mãos unidas de ambos. — Havia lingerie jogada no chão do quarto, enquanto ela usava apenas uma toalha. Realmente pensei que você tivesse dormido com ela... — Não. — O maxilar dele retesou-se. — A propósito, não dormi com mais ninguém desde que você voltou para minha vida. Ella estava tão aliviada pela admissão que um soluço escapou de sua garganta. — Mas aquele acordo dizia... — Era apenas eu agindo como um gorila e batendo no peito para assegurar que você me respeitasse — admitiu Aristandros, apertando-lhe as mãos com força. — Eu gostaria de ir para casa agora. Sei que é tarde, mas o helicóptero está esperando no aeroporto, e quero muito voltar à ilha esta noite. — Tudo bem. — A voz de Ella era baixa e ofegante, enquanto assentia em confirmação. A terrível tensão e o medo desapareceram aos poucos. Não havia outra mulher na vida de Ari. Ele não estivera com outra mulher desde que eles estavam juntos novamente. Ela o condenara quando ele era inocente. Seu mundo tinha horizontes e 91


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possibilidades mais uma vez, mas estava quase com medo de aceitar o fato. — Você está realmente abalada — observou Aristandros, pendurando-lhe a bolsa no ombro e guiando-a para fora do quarto. — Eu deveria estar gritando com você por pensar o pior de mim, e me fazer passar uma noite de frustração e preocupação. — Sinto muito — murmurou Ella no elevador, e queria inclinar-se sobre o corpo forte, mas não se permitiria agir com fraqueza. — Você nunca vai confiar em mim, vai? Por que tenho a impressão de que estou pagando pelos pecados de seu pai? Ella abaixou a cabeça quando entrou na limusine esperando do lado de fora. Tinha tirado conclusões precipitadas. Fungou uma vez, depois outra. Aristandros a envolveu nos braços. — Não seja tola. Você não tem por que chorar. — Talvez seja tolice, e entendi tudo errado, mas honestamente pensei que você houvesse dormido com ela, e fiquei arrasada — confessou Ella trêmula. — E eu não sabia o que faria porque não podia abandonar Callie para fugir de você... não podia! Ele a afastou de seu corpo para fita-la. — Esta é uma preocupação que você nunca mais precisa ter. — O que você quer dizer? — Gosto muito de Callie para usá-la a fim de controlar você. E tinha razão, eu não deveria ter incluído a criança no nosso acordo. Isso foi imperdoável. — As feições bonitas estavam sérias e tensas. — Qualquer coisa que aconteça entre nós, irei compartilhar a custódia de Callie com você. Vocês duas se amam, e eu a vi florescer sob seus cuidados. Jamais tentarei separa-la de sua filha, e ambas sempre terão meu suporte financeiro. Ella estava atônita pela promessa e pela convicção com que ele falava. — Por que está dizendo isso agora? Por que mudou de ideia depois de me forçar a assinar aquele contrato injusto? — Reconheço que fiz tudo errado do começo ao fim, usando Callie como isca para forçá-la a um contrato inescrupuloso. Drakon estava certo, e não sabia a metade do que impus a você. Pior de tudo, eu estava consciente de meu erro mesmo enquanto agia. Entretanto, ainda fui em frente — contou ele com tristeza, virando-se de perfil, a boca comprimida. — Por que, então? Era tudo uma vingança? — pressionou ela, desesperada para entender o que o motivara. Um longo silêncio se seguiu. A limusine já estava estacionando no aeroporto. — Ari? Eu preciso saber. — Eu disse a mim mesmo que era puramente vingança, mas não era. A verdade geralmente é a resposta mais simples... e a resposta simples é que eu a queria, e aquele 92


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acordo garantia que você não fugiria novamente. Eu precisava dessa proteção antes de me permitir um envolvimento novamente — disse ele num sussurro emocionado. — Mas agora entendo que não quero mantê-la somente porque tenho a custódia legal de sua filha. — Então, se eu quiser partir e retornar para minha vida em Londres, você irá me deixar ir e levar Callie comigo? — Perder vocês duas vai me matar, mas não vou voltar atrás na minha palavra — declarou Aristandros com ênfase quando a porta de Ella foi aberta pelo motorista. Cercados pela equipe de segurança de Ari, eles andaram ao longo do aeroporto em silêncio. Eu a queria. Três pequenas palavras que faziam toda a diferença, e que soavam repetidamente na cabeça de Ella, como um mantra de esperança. Apesar de todas as outras opções que Aristandros tivera, tinha retornado ao passado e a chantageado para ficar com ele. Pela primeira vez, ela registrou que havia sido e ainda era mais importante para Aristandros Xenakis do que sonhara. Ele não queria perdê-la, assim como não queria perder Callie, mas estava disposto a deixá-las livres, se esta fosse a decisão de Ella. Enquanto eles esperavam no salão VIP, Ella estava consciente de que Ari a observava. Sabia que ele esperava uma resposta sua. Removera a única ameaça que poderia forçá-la a lhe obedecer. Ela não precisava mais ficar com Ari apenas pela segurança de Callie. Chantagem, Aristandros descobrira, tinha suas desvantagens. Eles caminhavam em direção ao helicóptero quando Ella abruptamente pegou a mão dele. — Quero ficar com você — declarou. Naquele exato instante, Aristandros virou-se e tomou-a nos braços, beijando-a com uma paixão ardente e roubando-lhe o fôlego. Depois disso, teve praticamente de carregá-la para o helicóptero. Ela não podia ter duvidado do nível de satisfação que Ari sentiu com a notícia, especialmente quando ele lhe deu um sorriso de parar o coração e segurou sua mão durante o voo inteiro. O barulho do motor era tão alto que não houve chance de mais conversa até que chegaram a Lykos. Ella tirou os sapatos dentro de casa e foi direto para o quarto de Callie. Quando olhou para o berço e viu sua filha dormindo pacificamente, notou Aristandros do outro lado do berço. — Realmente estraguei tudo esta noite... o evento da ópera... Sei que era importante. Perdoe-me por não ter ido. Aristandros lhe deu um olhar divertido. — Você me deixou plantado lá. Mas estou acostumado a você me embaraçar diante de minha família. Ella piscou. — Sua... família? 93


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— Sim. Quase todos estavam presentes no evento beneficente, e eu pretendia apresentá-la a eles. — Verdade? — perguntou Ella, enquanto o seguia para fora do quarto de bebê. — Por que você queria me apresentar? — Porque tenho muita esperança que se case comigo, mas não seria tão estúpido de anunciar um noivado sem antes discutir o assunto com você — explicou ele suavemente. Os olhos azuis brilhantes se arregalaram. — Está me pedindo em casamento novamente? — Um mulher educada não teria falado a última palavra — murmurou Ari, conduzindo-a para o terraço, onde uma havia uma garrafa de champanhe e taças sobre a mesa. — Vamos comemorar ou não? Ella tremeu. — Sou loucamente apaixonada por você, e exatamente como da última vez, quero muito, muito estar ao seu lado para sempre. Mas também passei grande parte da minha vida treinando para ser médica. — E você pode continuar sendo médica. — Aristandros franziu o cenho quando ela o olhou em choque. — Eu estava sendo egoísta, o que detesto admitir... é tão natural para mim em relação a você. Minha mãe era tão obcecada com o mundo do cinema que nunca teve tempo ou energia para desperdiçar comigo, muito menos com meu pai. Não quero um casamento assim. Uma vez me ressenti de sua carreira médica, porque você a escolheu, desistindo de mim. O rosto adorável de Ella estava pensativo na luz do luar. — Não, acho que usei a medicina como uma desculpa, porque tinha Theo como um terrível exemplo de mulherengo, e tive medo de ser machucada. Deveria ter confiado mais em você. — Não tivemos tempo juntos o bastante. — Aristandros ergueu sua mão e deslizou um anel no dedo de noivado. — E o mesmo diamante que eu planejava lhe dar sete anos atrás, mas mandei restaurá-lo. — É glorioso. — Ella observou a pedra brilhar como uma luz estelar em sua mão, e uma profunda sensação de felicidade começou a iluminar tudo. — Nós éramos muito jovens na época — admitiu ele. — Se fôssemos mais maduros, teríamos tentado assumir um compromisso e encontrado uma maneira satisfatória de viver juntos. Em vez disso, perdi a cabeça, porque você me fez sentir tolo, o que foi muito superficial. — Você realmente partiu meu coração — confessou Ella, pronta para ser totalmente franca, agora que tinha um futuro seguro pelo qual poderia esperar. — Não podia 94


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acreditar que você tivesse me amado um dia. — Eu a amei tanto que nunca encontrei ninguém para substituí-la. Com você, achei que poderia quebrar a tradição Xenakis de casamentos fracassados. Acreditei que casando ainda jovem me traria muito mais felicidade do que, por exemplo, a vida que levei desde então. — Os ricos olhos dourados estavam repletos de arrependimento. — Mas caí no primeiro desafio. Ella rodeou-lhe o pescoço com os braços, entrelaçando os dedos nos cabelos sedosos da nuca. Desejou que o tivesse compreendido melhor sete anos atrás, e reconhecido que o passado problemático de Ari o fizera buscar um estilo de vida mais estável com uma mulher do que uma sucessão delas. — Você era "tudo ou nada" sobre todas as coisas, então simplesmente desapareceu da minha vida. — Você também desapareceu da minha vida — Ari a relembrou. — Eu era muito orgulhoso para procurá-la, embora tenha pensado em fazer isso quando estava em Londres, pelo menos cinquenta vezes. — Nunca houve ninguém mais para mim. Nunca deixei de amá-lo, apesar de não ter percebido isso até recentemente. — Eu me apaixonei no nosso primeiro encontro. Você ficou ensopada com os espirros do mar e riu. Todas as outras garotas que eu conhecia teriam tido um acesso de raiva. — Não sou vaidosa, mas sou muito ciumenta — ela o avisou, saboreando a facilidade com que ele podia falar do passado e lembrar-se de um pequeno incidente, da mesma forma que havia lembrado seu comentário sobre a igreja de Lykos. A ideia de que Ari a amava estava se tornando mais real e mais acreditável a cada segundo. Ella sorriu, e logo descobriu que nem poderia parar de sorrir. — Saí com muitas mulheres, mas não me diverti o bastante para querer fazer isso de novo, ágape mou — confessou Aristandros com sinceridade. — Eu queria uma segunda chance com você. Queria ouvi-la dizer que me julgou erroneamente. Mas quando descobri que sua mãe apanhava de Theo, cheguei mais perto de entender porque você tinha dificuldade de confiar em mim. Quando fez aquela cena de ciúme depois da festa de Ferrand, fiquei radiante, porque isso provou que ainda tinha sentimentos por mim. — Então, o que você quer agora? — Tudo que quero é mais do que já temos. Sou muito feliz ao seu lado. Para ser franco, fiquei desapontado quando você não estava grávida. Quero que tenhamos um bebê juntos. Ella deu um suspiro feliz e sorriu. — Quão breve podemos começar a tentar? Aristandros riu. 95


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— Esta noite seria breve demais? Os olhos azuis de Ella brilhavam tanto quanto o céu noturno acima. — Não. Estou disponível a qualquer momento que você quiser. — Devo avisá-la que eu a quero com muita frequência, latria mou. — Aristandros inclinou a cabeça para pressionar sua boca na dela e beijá-la lentamente, até obter a resposta apaixonada que tanto adorava. — E um esforço viajar a negócios quando tenho você em minha cama. — Não quero que vá a lugar algum agora — confessou Ella, as mãos curvando-se nas lapelas do paletó dele com a mera menção de uma separação. — Quero você inteirinho para mim. Vamos nos casar na ilha? — Sim. E logo — anunciou ele. — Falando como um homem que um dia foi noivo por aproximadamente cinco minutos, não acredito em noivados longos. — Nem eu — concordou Ella fervorosamente, enquanto pensava num vestido de casamento e em Callie como dama de honra, sem mencionar providenciar um bebê para fazer companhia a ela. Estava tão feliz com as perspectivas daquelas maravilhas que sentiu como se seu coração estivesse flutuando. Catorze meses depois, Ella observou Kasma colocar o filho deles, Nikolos, no berço. E três meses mais tarde, Nikolos já revelava os traços de caráter Xenakis. Era muito impaciente e gritava se não fosse alimentado imediatamente quando tinha fome. Adorava uma audiência e admiradoras do sexo feminino, deleitando-se com a atenção delas. Era avançado em tamanho e desenvolvimento para sua idade. Provavelmente seria alto como o pai, e sem dúvida, já herdara o sorriso carismático de Ari. Naqueles dias, Drakon Xenakis passou mais tempo em Lykos do que em Atenas. Estava encantado pela vida familiar de seu neto com Ella, Callie e o novo bebê, o que não tinha conseguido com sua esposa falecida e filhos, mas que tanto apreciava. A casa tinha sido totalmente reformada sob a direção de Ella, e agora parecia muito mais um lar. Não fora fácil viver na casa enquanto todo o trabalho era feito, particularmente com Ella grávida, mas com a ajuda de sua mãe e dos empregados, tudo dera certo. Jane se divorciara. Theo ainda estava na prisão, cumprindo pena por sua última agressão à esposa, enquanto Jane vivia num apartamento na cidade e apreciava um saudável círculo de amigas com quem compartilhava interesses. Pelo menos uma vez por mês visitava a filha, e, se Ella estava viajando com Aristandros, Jane cuidava da casa por alguns dias. Todavia, Ari estava viajando menos e trabalhava mais em casa, enquanto Ella exercia sua profissão de médica por meio período na clínica, e participava dos trabalhos 96


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beneficentes da Fundação Xenakis. Assim como Aristandros fazia o possível para que os negócios raramente os separassem, Ella era igualmente cuidadosa para que seu trabalho não roubasse grande parte de seu tempo e energia, e, após um ano, sentiu que tinha conseguido o equilíbrio perfeito. Não podendo ter a mãe em casa todos os dias, Callie atualmente frequentava um jardim da infância diversas manhãs por semana. Naquele inverno, a família inteira iria se mudar para a propriedade de Atenas, a fim de capacitar Ella a fazer um curso de pediatria no hospital. Ella estava abençoadamente feliz. Seu casamento tinha sido um conto de fadas com o qual sempre sonhara. Embora já estivesse grávida na época, sua barriga ainda não aparecia. Lily fora sua madrinha, e no momento, estava se candidatando a um emprego de cirurgiã num hospital da Grécia, após conhecer um grego no casamento de Ella. Ella ficara surpresa ao engravidar tão rapidamente, enquanto Ari tinha uma fé inabalável em sua própria virilidade. Callie estava numa idade em que um irmãozinho era uma fonte de satisfação e precisava ser dissuadida de tratar Nikolos como um boneco vivo. Ella e Aristandros haviam adotado Callie formalmente, e embora fossem cuidadosos em contar-lhe apenas o que ela podia compreender sobre as condições de seu nascimento, a garotinha os considerava como mãe e pai. Quando Ella ouviu o barulho do helicóptero sobre sua cabeça, sorriu e foi para o terraço vê-lo aterrissar. Forte, bronzeado e maravilhoso num terno elegante, Aristandros se aproximou. — Como foi em Nova York? — perguntou ela. — Uma agitação frenética. Estou feliz de estar em casa com minha linda esposa e meus filhos. — Callie correu em direção a ele, tagarelando em sua excitação, e Ari a pegou no colo e abraçou-a com uma facilidade que não fora capaz um ano antes. Então pausou ao lado de Ella e abaixou a cabeça para beijá-la. Desejo percorreu o corpo dela, espalhando-se para os lugares mais privados. — Gosto do vestido — murmurou ele. — Papai está falando como um urso. — Callie riu, descendo para o chão e correndo novamente. Ella girou, de modo que Aristandros percebesse o efeito total do vestido vermelho e curto girando ao redor de suas pernas delgadas. — Feliz aniversário de casamento — disse ela. — Qual é o programa para esta noite? — Jantar no iate, e passaremos a noite a bordo, de modo que possamos ter muito tempo privado, sem interrupções — contou Ella alegremente. Sua franqueza levou um sorriso divertido aos lábios esculpidos de Ari. — Você sabe como me fazer feliz. 97


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— Espero que sim. Amo muito você — confidenciou ela, envolvendo-o com os braços. — E amo o jeito que você me ama tanto quanto eu amo. — Aristandros fitou-lhe os olhos brilhantes. — Quero que saiba que este foi o ano mais feliz da minha vida, agapi mou. Ella sabia que aquela era uma admissão preciosa, e quase chorou de emoção. Durante o jantar na Hellenic Lady, eles conversaram sobre as ocorrências dos três dias em que ficaram separados, e ele lhe deu um anel de safira com o nome do filho deles gravado. De mãos dadas, foram para a cabine, que estava adornada com flores frescas, para compartilhar uma noite juntos, e uma manhã sem serem perturbados pelo choro do bebê ou pelas demandas de atenção de uma garotinha. Mas aquele silêncio raro causou uma sensação estranha em ambos e, após um rápido café da manhã, voltaram de lancha e passaram o resto do dia na praia como uma família...

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