NO NEGÓCIO
LINHAS DE CRÉDITO
TEXTO DE MARCELO CASAGRANDE
Empréstimo para pequenos Para crescer ou para estabilizar? Independentemente do tipo de crédito que precisa, saiba que é preciso ficar atento aos juros cobrados pelas instituições financeiras. Especialistas dão dicas de quando e como usar o dinheiro emprestado.
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Antes de optar por uma linha de crédito, o empreendedor precisa verificar se as condições do financiamento estão adequadas ao seu perfil de negócios.
O
primeiro sonho foi concretizado: a inauguração de uma academia de natação. Flávio Saulo deu o pontapé inicial da Nado Fácil com recursos próprios e também com o acerto feito quando deixou o cargo de analista de marketing em uma multinacional do ramo de peças. Um ano depois, veio a oportunidade de ampliar a operação. “Com o aumento do número de alunos, vi que poderia fisgar uma parcela dos que gostam de atividades aeróbicas”, destaca. Para montar a sala multifuncional, Saulo precisou de R$8 mil. Recorreu a um banco. “Por ser meu primeiro crédito, pensei que pudesse encontrar resistência, mas foi tudo muito fácil. Só não falo que saí totalmente satisfeito, pois a taxa de juros não foi das melhores”, lembra o empresário. Com o valor em mãos, foi possível tirar o projeto do papel. Saulo diz que na segunda vez que precisou de recursos financeiros do banco, conseguiu negociações melhores. “Sem o crédito, o empresário não tem muito para onde correr. Com o crédito, os projetos ganham mais força”, comenta Saulo.
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LINHAS DE CRÉDITO
Neusa Belo da FGV/Faculdade IBS indica como as melhores opções, os créditos subsidiados, nos quais são praticadas taxas de juros menores.
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Assim como fez Saulo, antes de optar por uma linha de crédito, o empreendedor precisa verificar se as condições do financiamento estão adequadas ao perfil de negócios da empresa, principalmente em relação à geração de caixa. Se a empresa, por exemplo, tem vendas cíclicas ou sazonais, uma modalidade com parcelas fixas e iguais pode não ser a melhor opção. Talvez buscar um modelo de repagamento que acompanhe a geração de caixa seja a melhor saída. “O mesmo vale quando tomar linhas de capital de giro para investimentos em expansão. Provavelmente a maturação do investimento só ocorrerá após várias parcelas terem sido pagas, o que vai desequilibrar o caixa”, acrescenta o especialista e associado da consultoria LEAD, Eduardo Rangel. A professora de finanças da FGV/ Faculdade IBS, Neusa Belo, diz que os créditos subsidiados, nos quais são praticadas taxas de juros menores, são as melhores opções. “Alguns pontos devem ser objeto de atenção: taxa de juros, for-
ma de pagamento e, principalmente, a análise da viabilidade de efetuar o empréstimo, ou seja, confronto entre custos e despesas”, destaca.
COMO USAR Capital de giro? Pagamento de dívidas? Planos de expansão? Qual o melhor momento para se buscar crédito junto aos bancos? Para a docente da FGV/ Faculdade IBS o ideal seria a utilização para novos investimentos. “Esses novos investimentos devem ser capazes de gerar receitas que compensem o financiamento obtido. Já para o pagamento de dívidas é preciso fazer uma análise também do custo e do benefício, ou seja, qual o juro da conta em atraso e qual o juro do empréstimo”, explica Neusa.
VILÃO OU MOCINHO? O juro é sempre lembrado no momento de se buscar crédito no mercado financeiro. Eduardo Rangel, da LEAD, diz que baixa taxa de juros é um termo
“O que o empreendedor deve evitar a todo custo é usar o cheque especial e a rolagem da fatura do cartão de crédito, porque esses financiamentos são muito caros” EDUARDO RANGEL, DA LEAD
relativo. “Por natureza, uma microempresa ou um novo empreendimento é um negócio de risco, e dificilmente as taxas de juros para este perfil serão tão baixas quanto as taxas disponíveis para empresas maiores e mais estabelecidas”, afirma o especialista que complementa: “O que o microempresário pode fazer é, dentro de sua realidade, buscar a taxa mais atraente”. Outra forma de viabilizar ou baratear o crédito é a prestação de garantias reais. Pode ser um imóvel, um terreno, um veículo ou um equipamento. Usualmente as instituições financeiras têm mais conforto em aprovar o crédito e mesmo em reduzir as taxas quando obtêm garantias. É importante negociar uma redução das garantias ao longo da vida do financiamento, à medida que as parcelas vão sendo pagas. “É muito comum que no final da vida do financiamento o valor das garantias prestadas seja muito superior ao saldo devedor, o que significa uma utilização ineficiente dessas garantias”, alerta Rangel. 63
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CLIENTES
OS TIPOS DE CRÉDITO
novas, como as que começaram a surgir com empresas especializadas em microcrédito. “Elas disponibilizam recursos, normalmente de montante reduzido, para microempresas que têm pouco acesso às linhas de crédito tradicionais. Para empreendedores individuais ou na informalidade, este tipo de alternativa pode ser uma opção viável”, explica. Para alguns tipos de empreendimentos, como comércio e serviços que usualmente aceitam pagamento de clientes com cartão de crédito, uma opção também interessante é a antecipação dos recebíveis junto às próprias operadoras. Os prazos são, em geral, bem curtos e as taxas não são das mais baixas, mas a facilidade e rapidez de obtenção destes recursos muitas vezes compensam. “O que o empreendedor deve evitar a todo custo é usar o cheque especial e a rolagem da fatura do cartão de crédito, porque estes financiamentos são muito caros”, aconselha Rangel. Neusa Belo orienta que, independentemente do tipo de crédito, o empreendedor tenha um planejamento. “Se o empresário não souber aonde quer chegar e acompanhar seu desempenho, qualquer resultado que vier será satisfatório. A falta de planejamento e acompanhamento pode destruir a empresa”, finaliza.
Ao se fazer a triagem de qual o melhor tipo de crédito para micros e pequenas empresas deve-se levar em consideração diversas variáveis, entre elas a situação da empresa, o ramo de atuação e a região em que está instalada. Mas de forma geral, o mais tradicional, é o financiamento de bancos comerciais. É a linha mais fácil e rápida de ser obtida, porém, tende a ser a mais cara e com prazos mais curtos. É usada para cobrir necessidades emergenciais ou situações de sazonalidade. Agora, para bancar investimentos ou situações específicas, que normalmente têm prazo de maturação mais longo que o de financiamentos bancários, uma das melhores opções, segundo Eduardo Rangel, são as linhas incentivadas. “Tanto o BNDES, quanto bancos regionais possuem este tipo de programa. Por exemplo, o Finame para compra de equipamentos e o Cartão BNDES para compra de materiais”, exemplifica o especialista. Estas linhas possuem prazos e taxas de juros bem atraentes. O canal para buscar estes recursos também é via as agências dos bancos comerciais, mas trata-se de linhas específicas e sua aprovação está condicionada a algumas regras e ao propósito de sua utilização. Rangel destaca ainda opções mais
SEQUÊNCIA QUE DEVE SER SEGUIDA PELO EMPRESÁRIO EM BUSCA DE CRÉDITO
1º
2º
3º
O financiamento de capital de giro via seus próprios fornecedores
As linhas incentivadas
Linhas de crédito de bancos comerciais ou antecipação de recebíveis FONTE: EDUARDO RANGEL, DA LEAD
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CRÉDITO PARA FRANQUEADOS A rede de franquias Cebrac viu uma oportunidade de crescimento por meio da liberação de linha de crédito para franqueados. São duas possibilidades: uma específica para adequação do ponto de venta e outra para financiamento de capital de giro. “As taxas de juros, carência e garantias necessárias ainda estão em negociação, mas usaremos a força da rede para negociar condições que o franqueado não obteria por conta própria”, revela o diretor de expansão e marketing da Cebrac, Fábio Pozza. A rede analisou diversas propostas com instituições bancárias sólidas e a meta é financiar até 30% de cada nova operação. O objetivo é que o candidato tenha um percentual significativo do capital necessário e que apenas uma parte seja financiada. A empresa espera disponibilizar a linha de crédito até o fim deste ano. “Temos muitos candidatos com ótimo perfil, com interesse em praças-alvo de nosso plano de expansão e não conseguimos levar o negócio à frente porque o candidato não está suficientemente capitalizado”, revela Pozza que complementa: “Nossa expectativa é ampliar a velocidade de expansão a partir da disponibilização de linhas de crédito. Acreditamos que o volume de fechamento de praças possa aumentar entre 20 a 30%”.