TCC ARQURB UVV - Integração Urbana em Assentamento Precário

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UNIVERSIDADE VILA VELHA ARQUITETURA E URBANISMO

NÁDIA SEGATO PAULO

INTEGRAÇÃO URBANA EM ASSENTAMENTO PRECÁRIO: Bairro Santa Rita, Vila Velha - ES

VILA VELHA 2020


NÁDIA SEGATO PAULO

INTEGRAÇÃO URBANA EM ASSENTAMENTO PRECÁRIO: Bairro Santa Rita, Vila Velha - ES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Profª. Drª. Ana Paula Rabello Lyra.

VILA VELHA 2020


NÁDIA SEGATO PAULO

INTEGRAÇÃO URBANA EM ASSENTAMENTO PRECÁRIO: Bairro Santa Rita, Vila Velha - ES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Parecer da Comissão Examinadora em 30 de junho de 2020.

COMISSÃO EXAMINADORA

______________________________ Prof. Drª. Ana Paula Rabello Lyra Universidade Vila Velha Orientadora

______________________________ Arq. Yasmin Depes Marques Mestranda em Arquitetura e Cidade na Universidade Vila Velha Avaliador Interno

______________________________ Arq. Maria Augusta Deprá Bittencourt Avaliador Externo


“O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar.” Oscar Niemeyer


AGRADECIMENTOS Inicialmente apresento gratidão à Deus, por estar presente em cada momento, proporcionando o renovo e direcionamento no decorrer dessa jornada. À minha família, que me apoiou e incentivou nos momentos de entusiasmo, mas principalmente nos momentos de tensão ao longo desses anos. E gostaria de ser grata pela minha mãe, pelo apoio, paciência e consolo em diversas situações. À minha orientadora Ana Paula por aceitar esse desafio, pelo apoio e contribuição para a concretização deste trabalho acreditando no meu potencial, como também todo o ensinamento transmitido no decorrer do curso. À minha amiga e “minha dupla” Fabiana Lopes de Sales, por compartilhar comigo as aflições e desesperos, assim como, os momentos bons no decorrer do curso. Também gostaria de ser grata aos amigos, colegas e professores que contribuíram de alguma forma durante o curso.


RESUMO As mudanças abruptas na política econômica brasileira fomentaram, em poucas décadas, alterações do adensamento populacional no meio urbano. O fomento à industrialização provocou em algumas cidades ou regiões um crescimento desenfreado, que associado à falta de planejamento urbano e política habitacional adequados à essa dinâmica, fez nascer o fenômeno de assentamentos precários. As cidades cresceram sem conseguir ofertar serviços públicos, infraestrutura básica e desenvolvimento econômico necessários para proporcionar condições dignas de moradia à população de baixa renda, gerando conflitos na ocupação do solo urbano e reivindicações populares pelo direito à moradia. Por outro lado, as regulamentações do uso e ocupação do solo ao longo da história, favoreceram os interesses econômicos, contendo exigências inatingíveis para a realidade da população carente. Os assentamentos precários se caracterizam pela informalidade na posse, irregularidade nos traçados, inexistência de infraestrutura urbana, padrões construtivos inadequados, assim como, ocupação de encostas, áreas alagáveis e/ou de preservação ambiental, dificultando a integração urbana dos assentamentos à cidade. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o direito à moradia como fundamental do ser humano, e a Política Nacional de Habitação ampliou a garantia legal à terra urbanizada e regularizada, ao meio ambiente equilibrado, e aos meios de promoção do trabalho e lazer, imprescindíveis para integração do assentamento precário à cidade. Neste sentido o presente trabalho propõe-se a desenvolver um ensaio projetual de urbanização do assentamento precário existente no Bairro Santa Rita, do Município de Vila Velha, no Espírito Santo, materializando esses direitos nos elementos empregados e proposições urbanísticas. Espera-se que a referida proposta seja aplicada pela Prefeitura de Vila Velha, contribuindo para a efetivação do acesso aos direitos constitucionais e legais, garantindo o acesso a moradia digna à população de baixa renda, através de intervenção técnica funcional e sustentável do espaço. Palavras-chave: Assentamento Precário, Integração Urbana, Moradia digna, Dignidade Urbana.


ABSTRACT Abrupt changes in Brazilian economic policy have, in a few decades, fostered changes in population density in the urban environment. The promotion of industrialization caused uncontrolled growth in some cities or regions, which associated with the lack of urban planning and housing policy adequate to this dynamic, gave rise to the phenomenon of precarious settlements. Cities grew without being able to offer public services, basic infrastructure and economic development necessary to provide decent housing conditions to the low-income population, generating conflicts in the occupation of urban land and popular demands for the right to housing. On the other hand, land use and occupation regulations throughout history have favored economic interests, containing unattainable requirements for the reality of the needy population. Precarious settlements are characterized by informal land tenure, irregularities in the layout, lack of urban infrastructure, inadequate construction standards, as well as occupation of slopes, wetlands and / or environmental preservation, making urban integration of settlements difficult to the city. The Federal Constitution of 1988 established the right to housing as fundamental for human beings, and the National Housing Policy expanded the legal guarantee to urbanized and regularized land, to a balanced environment, and to the means of promoting work and leisure, essential for integration. from the precarious settlement to the city. In this sense, the present work proposes to develop a design test of urbanization of the precarious settlement existing in Bairro Santa Rita, in the Municipality of Vila Velha, in EspĂ­rito Santo, materializing these rights in the elements employed and urbanistic propositions. It is expected that this proposal will be applied by the Municipality of Vila Velha, contributing to the effective access to constitutional and legal rights, ensuring access to decent housing for the low-income population, through functional and sustainable technical intervention of the space. Keywords: Precarious Settlement, Urban Integration, Decent Housing, Urban Dignity.


LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Plano Urbanístico de Haussmann em Paris .............................................................. 26 Figura 2 - Projeto de um Novo Arrabalde por Francisco R. Saturnino de Brito ....................... 27 Figura 3 - Vilas Operárias em São Paulo ................................................................................... 28 Figura 4 - Esquema do Plano de Avenidas de São Paulo .......................................................... 28 Figura 5 - Plano Agache no Rio de Janeiro ............................................................................... 29 Figura 6 - Plano Piloto de Brasília ............................................................................................. 29 Figura 7 – Evolução da Política Habitacional ............................................................................ 41 Figura 8 - Localização do Dique Vila Gilda ................................................................................ 59 Figura 9 - Situação Anterior a Intervenção ............................................................................... 59 Figura 10 - Vielas X Novos Espaços de Convivência ................................................................. 60 Figura 11 - Proposta de Intervenção Dique Vila Gilda ............................................................. 61 Figura 12 - Ações Realizadas no Local ...................................................................................... 62 Figura 13 - Assentamento Precário em Alto de Bomba ........................................................... 63 Figura 14 - Processo de Levantamento da Área ....................................................................... 63 Figura 15 - Plano de Intervenção .............................................................................................. 64 Figura 16 - Processo de Melhoria das Vias e Ruas Pedonais .................................................... 65 Figura 17 - Construção dos Novos Acessos .............................................................................. 66 Figura 18 - Conclusão dos Novos Acessos ................................................................................ 66 Figura 19 - Participação dos Ocupantes na Construção das Escadarias .................................. 66 Figura 20 - Participação dos Ocupantes nas Construções ........................................................ 66 Figura 21 - Explicação da Intervenção para os Moradores ...................................................... 67 Figura 22 - Reuniões Semanais com os Moradores ................................................................. 67 Figura 23 - Proposta dos Espaços Públicos ............................................................................... 67 Figura 24 - Perspectiva da Integração dos Acessos aos Espaços Públicos ............................... 67 Figura 25 - Perspectiva da Quadra de Mini Basquete .............................................................. 68 Figura 26 - Conclusão do Espaço de Mini Basquete ................................................................. 68


Figura 27 - Reunião Comunitária no Espaço de Jogos .............................................................. 68 Figura 28 - Requalificação dos Percursos Interligando os Espaços de Lazer............................ 68 Figura 29 - Localização de Medellín no Vale de Aburrá ........................................................... 69 Figura 30 - Região Administrativa e o Bairro Moravia ............................................................. 70 Figura 31 - Processo de Transformação do Assentamento Precário ....................................... 71 Figura 32 - Condição das Moradias no Morro de Lixo.............................................................. 72 Figura 33 - Processo de Consolidação do Assentamento Precário .......................................... 72 Figura 34 - Parque Explora........................................................................................................ 74 Figura 35 - Localização do Estado e do Município de Vila Velha ............................................. 78 Figura 36 - Crescimento da Malha Urbana em 1968................................................................ 80 Figura 37 - Evolução da População Urbana e Rural no ES ........................................................ 81 Figura 38 - Evolução da População na RMGV........................................................................... 82 Figura 39 - Mapa Esquemático da Expansão Urbana de 1970 a 2010 ..................................... 85 Figura 40 - Regiões Administrativas de Vila Velha ................................................................... 86 Figura 41 - Localização dos Aglomerados Subnormais no Município ...................................... 88 Figura 42 – Ocupações nas Margens Sul e Norte da Estrada Velha ......................................... 91 Figura 43 - Aterro Sanitário no Bairro Santa Rita em 1982 ...................................................... 92 Figura 44 - Manguezal de Santa Rita nos anos 1980 ................................................................ 92 Figura 45 - Acesso às Palafitas do Mangue nos anos 1980 ...................................................... 93 Figura 46 - Localização do Bairro na Regional 3 ....................................................................... 94 Figura 47 – Via Principal Asfaltada e Via Local com Piso Intertravado .................................. 100 Figura 48 - Condição das Vias na Área de Intervenção .......................................................... 100 Figura 49 - Ligação com os Bairros Vizinhos por Pontes ou Travessas .................................. 101 Figura 50 - Condição das Calçadas no Interior do Bairro ....................................................... 104 Figura 51 - Condição das Calçadas na Via Principal do Bairro ................................................ 104 Figura 52 - Uso e Ocupação na Via Principal do Bairro .......................................................... 105 Figura 53 – Uso Misto na Área de Intervenção ...................................................................... 105 Figura 54 - Empresa em Frente a Área de Intervenção .......................................................... 105


Figura 55 - Empresa com Muro Cego ..................................................................................... 106 Figura 56 - Praça ao Lado da Av. Capuaba ............................................................................. 108 Figura 57 - Quadra ao Lado da Instituição de Ensino Infantil ................................................ 108 Figura 58 - Gabarito Existente na Via Principal ...................................................................... 108 Figura 59 - Gabarito das Casas Geminadas e das Ocupações na Área ................................... 109 Figura 60 - Gabarito na Área de Intervenção ......................................................................... 109 Figura 61 - Inundação do Rio Aribiri em 2017 ........................................................................ 109 Figura 62 - Áreas Alagáveis em Vila Velha .............................................................................. 110 Figura 63 - Condições Ambientais do Rio Aribiri .................................................................... 110 Figura 64 - Vegetação no Entorno do Viaduto ....................................................................... 111 Figura 65 - Vegetação no Maciço Rochoso do Bairro............................................................. 111 Figura 66 - Relevo e Acesso ao Bairro Zumbi dos Palmares ................................................... 111 Figura 67 - Diagnóstico do Setor de Risco em Zumbi dos Palmares ...................................... 112 Figura 68 - Recorte do Zoneamento Municipal de Vila Velha ................................................ 116 Figura 69 - Localização da Área de Intervenção ..................................................................... 119 Figura 70 - Evolução do Assentamento Precário de 2015 a 2016 .......................................... 120 Figura 71 - Evolução do Assentamento Precário de 2017 a 2019 .......................................... 120 Figura 72 - Demarcação das Quadras na Área de Intervenção .............................................. 121 Figura 73 - Condições das Moradias ....................................................................................... 121 Figura 74 - Construções Inacabadas com Estrutura Aparente ............................................... 122 Figura 75 - Alterações nas Fachadas das Casas Geminadas ................................................... 122 Figura 76 - Acúmulo de Materiais Recicláveis ........................................................................ 122 Figura 77 - Obra de Drenagem ............................................................................................... 123 Figura 78 - Reunião com Representantes na UVV.................................................................. 123 Figura 79 - Conceito e Partido ................................................................................................ 126 Figura 80 – Sugestão de Construção e Relocação dos Blocos A ao D .................................... 135 Figura 81 - Sugestão de Construção e Relocação dos Blocos E ao H ..................................... 135 Figura 82 - Perfil Viário das Vias de Mão Dupla ..................................................................... 136


Figura 83 - Perfil Viário das Vias de Mão Única ...................................................................... 136 Figura 84 - Planta Humanizada da Proposta Projetual........................................................... 138 Figura 85 - Referências da Quadra Rebaixada e Piso Emborrachado .................................... 139 Figura 86 - Referência do Espaço Kids .................................................................................... 140 Figura 87 - Referência da Fonte Interativa ............................................................................. 140 Figura 88 - Referências do Comércio em Container ............................................................... 141 Figura 89 - Perspectivas da Quadra Poliesportiva .................................................................. 143 Figura 90 - Perspectivas dos Espaço de Esporte e Comércio Alimentício .............................. 144 Figura 91 – Perspectivas da Área de Skate e Espaços de Alimentação .................................. 145 Figura 92 - Perspectivas das Áreas Próximas ao Centro Comunitário ................................... 146 Figura 93 - Perspectivas dos Percursos .................................................................................. 147 Figura 94 - Perspectivas da Área Kids e seus Acessos ............................................................ 148 Figura 95 - Perspectivas dos Percursos pelo Espaço Kids e Academia Popular ..................... 149


LISTA DE MAPAS Mapa 1 - Localização do Bairro Santa Rita ............................................................................... 95 Mapa 2 - Figura Fundo.............................................................................................................. 99 Mapa 3 - Mobilidade Urbana e Sistema Viário ...................................................................... 102 Mapa 4 - Uso e Ocupação do Solo.......................................................................................... 107 Mapa 5 - Físico Ambiental ...................................................................................................... 113 Mapa 6 - Potencialidades e Vulnerabilidades ........................................................................ 115 Mapa 7 - Manter, Renovar e Requalificar do Bairro .............................................................. 129 Mapa 8 - Setorização das Sugestões de Intervenção no Bairro ............................................. 131 Mapa 9 - Manter, Renovar e Requalificar da Área de Intervenção ....................................... 134 Mapa 10 - Sugestão Viária ...................................................................................................... 136


LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Síntese dos Tipos de Assentamento Precário .......................................................... 48 Tabela 2 - Síntese do Referencial Teórico ................................................................................ 53 Tabela 3 - Síntese das Classificações do MCID ......................................................................... 58 Tabela 4 - Contribuições dos Referenciais Projetuais .............................................................. 76 Tabela 5 - Relação de Proximidade das Ocupações aos Eixos Viários ..................................... 82 Tabela 6 - Ocorrência das Ocupações por Décadas ................................................................. 83 Tabela 7 - Grau de Urbanização conforme Regiões Administrativas ....................................... 87 Tabela 8 - Existência de Aglomerados Subnormais X Rendimento Familiar ............................ 89 Tabela 9 - Síntese do Perfil Socioeconômico do Bairro Santa Rita .......................................... 96 Tabela 10 - Definição das Zonas do Bairro Santa Rita ............................................................ 117 Tabela 11 - Parâmetros Urbanísticos das Zonas .................................................................... 118 Tabela 12 - Síntese das Diretrizes Projetuais ......................................................................... 125 Tabela 13 - Programa de Necessidades e Pré-dimensionamento.......................................... 133


LISTA DE ABREVIATURAS APP - Áreas de Preservação Permanente BNH – Banco Nacional de Habitação COHAB-ES - Companhia de Habitação e Urbanização do Espírito Santo CRF – Certidão de Regularização Fundiária DPP – Domicílio Particular Permanente EIA – Estudo do Impacto Ambiental FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FNHIS – Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social HIS – Habitação de Interesse Social IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IJSN – Instituto Jones dos Santos Neves INOCOOP-ES - Instituto de Orientação às cooperativas Habitacionais do Espírito Santo IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano ITDP – Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento MCID – Ministério das Cidades NEP - Núcleo de Estudos e Práticas de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil e Design de Produto ONU – Organização das Nações Unidas PAC – Programa de Aceleração de Crescimento PDM – Plano Diretor Municipal PEUC – Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios PlanHab - Plano Nacional de Habitação PLHIS - Plano Local de Habitação de Interesse Social PMCMV - Programa Minha Casa Minha Vida PMVV – Prefeitura Municipal de Vila Velha PNH - Política Nacional de Habitação PTS – Projeto Técnico Social Reurb - Regularização Fundiária Urbana RMGV - Região Metropolitana da Grande Vitória


SBPE - Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo SEMDU - Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Mobilidade SFH – Sistema Financeiro de Habitação SIMAHAB – Sistema de Informação, Monitoramento e Avaliação da Habitação SNH - Sistema Nacional de Habitação SNHIS – Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social SNIC – Sistema Nacional de Informações das Cidades TAC – Termo de Ajustamento de Conduta TCC – Trabalho de conclusão de Curso UC – Unidade de Conservação UVV – Universidade de Vila Velha ZEIA – Zona de Especial Interesse Ambiental ZEIE – Zona de Especial Interesse Empresarial ZEIP – Zona de Especial Interesse Público ZEIS – Zona de Especial Interesse Social ZOP - Zona de Ocupação Prioritária


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 19 1.1 Contextualização do tema .............................................................................................. 20 1.2 Justificativa ..................................................................................................................... 20 1.3 Objetivo geral ................................................................................................................. 21 1.4 Objetivos Específicos ...................................................................................................... 21 1.5 Metodologia ................................................................................................................... 22 1.6 Estruturação dos Capítulos ............................................................................................. 22 2. A GÊNESE DO FENÔMENO ........................................................................................... 24 2.1 As Cidades e a Urbanização Brasileira ............................................................................ 25 2.2 Aspectos Legais da Integração urbana ........................................................................... 34 2.3 Etimologia dos Termos Empregados .............................................................................. 43 3. REFERENCIAIS DE INTERVENÇÃO .................................................................................. 49 3.1 Referencial Teórico ......................................................................................................... 50 3.2 Estratégias de Intervenção ............................................................................................. 54 3.3 Experiências de Intervenções Urbanas .......................................................................... 58 4. DIAGNÓSTICO .............................................................................................................. 77 4.1 Histórico da Urbanização no Município ......................................................................... 78 4.2 Urbanização do Bairro Santa Rita ................................................................................... 90 4.2.1 Caracterização do Bairro ......................................................................................... 94 4.2.2 Aspectos Morfológicos e Ambientais ...................................................................... 97 4.2.3 Legislação Vigente ................................................................................................. 116 4.3 Análise da Área de Intervenção .................................................................................... 118 5. PROPOSTA PROJETUAL ............................................................................................ 1254 5.1 Conceito e Partido .................................................................................................... 125 5.2 Estratégias Gerais de Integração do bairro .............................................................. 127 5.3 Ensaio Projetual da Área de Intervenção ................................................................. 132 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 150 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................... 154 8. APÊNDICE .................................................................................................................. 163


19


20

1. INTRODUÇÃO 1.1

CONTEXTUALIZAÇÃO

Assim como a forma de conceituar o fenômeno, a forma de dar respostas ao mesmo também

DO

TEMA

sofreu modificações ao longo das décadas que sucederam, mas foi a partir da Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Cidade em

O processo de industrialização vertiginoso implantado a partir da década de 1960, promoveu uma urbanização acelerada nos centros urbanos do país. A inexistência de

2001, que o direito de morar dignamente na cidade passa a se constituir em termos jurídicos e se estabelece como princípio norteador da PNH.

planejamento urbano capaz de atender a

O presente trabalho parte do entendimento de

dinâmica do crescimento das cidades, associado

que a cidade existente é a concretização de

à ineficiência de políticas públicas habitacionais,

decisões políticas e econômicas, e resulta de

contribuíram para disseminação de ocupações

escolhas

irregulares

conquanto,

em

áreas

inadequadas

e/ou

individuais

e

possibilita

ações um

coletivas,

conjunto

de

caracterizadas pela ausência de saneamento e

intervenções no sentido de melhorar e adequar

infraestrutura urbana.

o espaço. (WOLFRUM, 2013)

Esse fenômeno ocorreu em um primeiro

Dessa

momento com a aglomeração de várias famílias

apresentar

em uma única habitação, denominado como

assentamento precário existente no Bairro Santa

cortiço (MARICATO, 1997), e posteriormente

Rita, no Município de Vila Velha, do Estado do

através da expansão das periferias em favelas,

Espírito Santo. Tal proposta de intervenção

ocupações irregulares, loteamentos clandestinos

urbanística pretende promover melhorias e

ou irregulares e assentamentos informais.

adequações do espaço, considerando por um

Tais expressões utilizadas para nomear os diferentes tipos de ocupações evoluíram e são sintetizadas na terminologia Assentamentos Precários, estabelecida na Política Nacional de Habitação – PNH, entendido como designação de ocupação desordenada e irregular, de solo ou habitações, por moradores de baixa renda. (CARDOSO, 2016; BRASIL, 2010)

forma,

esse

um

trabalho

ensaio

dispõe-se

projetual

para

a o

lado as necessidades elencadas pelos moradores em reunião na UVV e as observadas em visita técnica,

e

por

outro,

os

parâmetros

estabelecidos nas legislações vigentes e os princípios, diretrizes, categorias e tipologias da PNH, elencadas em tópico específico sobre aspectos legais.


21

1.2 JUSTIFICATIVA

da cidade, promovendo não só melhorias habitacionais, mas de mobiliário doados por

A elaboração desse trabalho foi motivada por uma demanda da Prefeitura Municipal de Vila Velha – PMVV, através da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Mobilidade - SEMDU, ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Vila Velha - UVV, por meio do Núcleo de Estudos e Práticas de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil e Design de Produto

colaboradores. Os assentamentos precários constituem um fenômeno inerente a todos os grandes centros urbanos brasileiros, mas a forma de intervenção pública para solucionar as questões que envolvem o fenômeno, podem variar conforme condicionantes locais, políticos e orçamentários. No entanto, o que se deve prezar é o direito de

- NEP. A motivação intrínseca de se engajar na proposta de intervenção se deu por experimentação na primeira

infância

de

convivência

em

assentamentos precários, por acompanhar a atuação dos progenitores em trabalho social em áreas como a referida.

morar dignamente na cidade, preservando a cultura e identidade local, conforme diretrizes e instrumentos

do

Estatuto

das

Cidades;

categorias e tipologias da PNH e o ordenamento legal do Plano Diretor Municipal - PDM.

1.3 OBJETIVO GERAL

Os Trabalhos de Conclusão de Curso - TCC dos progenitores foram sobre a precariedade da Política de Habitação Popular e outro sobre a origem do Movimento pelo direito à Moradia de Vila

Velha,

com

registro

histórico

do

assentamento espontâneo ocorridos de 1980 a

Elaborar um ensaio projetual de Intervenção Urbanística para integração de assentamento precário existente em uma gleba do bairro de Santa Rita, priorizando as demandas dos moradores locais, e que proporcione melhorias na qualidade de vida em termos de circulação, no

1992.

uso e ocupação do solo, bem como, de convívio Essa inclinação para atuação no campo social foi crescendo

ao

longo

do

curso

com

social e comunitário em espaços de uso público.

o

desenvolvimento de projeto para uma área

1.4 OBJETIVOS ESPECÍ FICOS

similar para a disciplina de Ateliê de Projeto e

- Entender como o processo de desenvolvimento

Paisagismo I, como também o estágio no NEP

das cidades e das políticas públicas de

onde se desenvolve o “Adote uma Casa”, projeto

urbanização contribuíram para o surgimento dos

de requalificação de casas precárias da periferia

assentamentos precários;

Integrado

de

Arquitetura,

Urbanismo


22

- Apreender a definição de assentamentos

de

precários e os aspectos legais que permeiam a

subnormais;

urbanização dos mesmos;

assentamento

-

Identificar

referenciais

teóricos

que

categorizam a intervenção urbana e respectivas

assentamentos

legislação

precários;

Aglomerados

Ocupações;

Caracterização

de

precário;

Regularização

e

fundiária;

Política

Nacional

de

Habitação; Zona Especial de Interesse Social; População e indicadores sociais; Plano Nacional

estratégias em assentamentos precários;

de Habitação; Plano Local de Interesse Social; - Compreender o surgimento dos assentamentos

Intervenção Urbana em Medellín, Cabo Verde e

precários no município e diagnosticar a realidade

São Paulo; Normas da ABNT; Bairro Santa Rita.

morfológica da área de estudo. O

1.5 METODOLOGIA

ensaio

projetual

de

integração

de

assentamento precários utiliza a tipologia de Remanejamento

que

A presente proposta de intervenção urbanística,

intervenção

remoção

no que se refere à finalidade, se caracteriza por

reconstrução das unidades habitacionais no

ser uma pesquisa aplicada por se tratar da

mesmo terreno do assentamento, incluindo a

concepção de um conhecimento passível de

urbanização deste.” (BRASIL, 2010 p. 63)

aplicação em uma situação real, apresentando alternativa técnica viável para melhorar as condições

precárias

existentes.

Segundo

Marconi e Lakatos (1988, p.19) “[...] caracterizase por seu interesse prático, isto é, que os resultados sejam aplicados ou utilizados [...]”. Quanto

ao

procedimento

de

coleta

de

informação foi utilizado o levantamento de

de

“corresponde temporária

à e

Pretende-se adotar como premissas do ensaio projetual o programa de necessidades da população local, acrescidos dos condicionantes observados no diagnóstico e avaliações técnicas na visita à área de intervenção.

1.6

ESTRUTURAÇÃO

DOS

CAPÍTULOS

campo, revisões de bibliografias nos livros citados e disponíveis em meios eletrônico como

O primeiro capítulo trata da apresentação do

o Google Acadêmico, portais de periódicos e de

tema, o projeto de pesquisa com metodologias

organismos

empregadas, introduzindo a discussão sobre o

governamentais,

conforme

referenciado.

eixo temático do ensaio projetual.

Essas pesquisas de fontes bibliográficas partiram

O segundo capítulo dispõe-se a apresentar os

das seguintes palavras-chave: Urbanização de

determinantes

favela e/ou assentamentos precários; Integração

desenvolvimento das cidades e do fenômeno

históricos

sobre

o


23

urbano de surgimento dos assentamentos precários nas periferias, além dos termos empregados e aspectos legais para integração de assentamentos precários. O terceiro capítulo apresenta as discussões teóricas sobre a o papel da urbanização na constituição das cidades; as tipologias de caraterização integração

e de

intervenção

urbana

assentamentos

para

precários

estabelecidas pela Ministério das Cidades – MCID; e projetos implantados em algumas localidades e que inspiram as decisões projetuais e fornecem subsídios técnicos para elaboração da proposta. O quarto capítulo traz o desenvolvimento da urbanização do município e do bairro, traçando um diagnóstico da área de intervenção em seus indicadores sociais, morfológico, ambiental e comportamental, percepção

das

vulnerabilidades,

fundamentais

para

potencialidades basilares

das

a e

diretrizes

norteadoras do ensaio projetual apresentado no quinto capítulo.


24


25

2.

A GÊNESE DO

FENÔMENO

território nacional, conforme demanda do comércio europeu. No ciclo do açúcar a região rural onde se instalavam os engenhos, eram autossuficientes e

Esse

capítulo

expõe

desenvolvimento demonstrando

do como

a

origem

urbanismo é

e

o

prósperos em relação às cidades, e conforme

brasileiro

relata a mesma autora, no séc. XVIII o Nordeste

a

era a região mais urbanizada em decorrência do

intervenção em assentamentos precários, a

escoamento desse produto. Salvador era a

partir da Constituição de 1988 e o Estatuto da

capital do país e considerada cidade de grande

Cidade,

porte. (MARICATO, 1997)

discorrendo

regulamentada

assim

sobre

as

problemáticas da urbanização desordenada. No decorrer do capítulo é apresentado a discussão das

diversas

variações

terminológicas

do

fenômeno assentamento precário ao longo da história do urbanismo brasileiro.

2.1

AS

Já no ciclo do ouro a região sudeste vai ganhando mais expressão e o Rio de Janeiro se torna capital em 1763 em detrimento do escoamento portuário da exploração aurífera, assim como, a Capitania de São Paulo se divide dando origem a

CIDADES

E

A

URBANIZAÇÃO BRASILEIRA

Minas Gerais e Mato Grosso, e se inicia o cultivo de café ao longo do Vale do Paraíba. (MARICATO, 1997)

O processo de configuração dos centros urbanos

Neste período a Capitania do Espírito Santo

brasileiros e as metodologias de intervenções

sofreu um isolamento do resto do país, que entre

públicas de urbanização foram determinadas

outros fatores, se destacam o fechamento de

diretamente pelos principais fatores político-

seus acessos à Capitania de Minas Gerais, com o

econômicos do país. No período imperial “[...]

intuito de evitar invasões ou contrabando de

começaram

mudanças

ouro; além da expulsão dos Jesuítas que acirrou

fundamentais responsáveis pelo deslanche do

o conflito com os indígenas, causando prejuízo à

processo de urbanização no Brasil” (MARICATO,

agricultura e mudança da sede administrativa

1997, p.17)

para a ilha de Vitória. Tais fatores impediram a

Segundo a mesma autora as cidades se

livre

desenvolviam atreladas às atividades financeiras

JUNIOR, 2002; MATTOS, 2011)

e de comércio internacional, e os grandes

Em 1823 Vitória é elevada à condição de cidade

centros urbanos da época se deslocaram, no

e tem seu traçado urbanístico definido por

a

ser

criadas

as

circulação

de

mercadoria.

(CAMPOS


26

caminhos demarcados pelas mulas de carga, e

enfrentados pelo poder público. (MARICATO,

sua arquitetura era típica de cidade colonial

1997)

portuguesa. (MATTOS, 2011)

Os planos de intervenção urbanística adotadas

A Lei de Terras em 1850 inaugura a propriedade

nas grandes cidades à época, eram de

privada da terra no país, se estabelecendo como

embelezamento da cidade, marcada pela

legislação específica para as questões fundiárias,

chamada política higienista, inspirados na

com funções claras de exclusão dos mais pobres

tradição

do direito à propriedade do solo, tanto no

adotada foi o Plano Urbanístico de Haussmann

campo, como nas cidades. (MATTOS, 2011)

em Paris (figura 1), que consistia em ampliar a

Tal intervenção pública, em conjunto com os desdobramentos da Lei Áurea em 1888 (abolição da escravatura) e dos processos de imigração

europeia.

A

referência

projetual

largura das ruas e retirar da região central, as habitações ocupadas pela população de baixa renda. (VILLAÇA, 1999)

financiados pelo poder público - para a lavoura de café - formam a gênese da manifestação do fenômeno de assentamentos precários nas cidades brasileiras, e antecede a existência de política pública de urbanização das cidades. (MARICATO,1997) Vale ressaltar que em 1890 o percentual da população residente na zona urbana é de 9,3% em relação ao total de 14,3 milhões (SANTOS, 2018)

e

naquela

época,

prevalecia

o

entendimento de que a responsabilidade de suprimento da demanda de habitação era exclusivamente da iniciativa privada agrária. As pessoas excluídas do acesso à moradia se estabeleceram em habitações compartilhadas e precárias no centro das cidades - cortiços - ou loteamentos irregulares na periferia. Desta forma,

emergem

os primeiros problemas

habitacionais e de saúde pública a serem

Figura 1 - Plano Urbanístico de Haussmann em Paris Fonte: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/ 05.059/473 e http://rhistoriandoz.blogspot.com/2012/04/texto-6terceiros-anos.html


27

No Espírito Santo o primeiro plano de expansão

uma capital que “simbolizasse concretamente a

da cidade, Plano Novo Arrabalde, foi idealizado

importância do país como principal produtor de

pelo governo de Muniz Freire (figura 2), ao final

café do mundo, que expressasse os valores e os

do

modi vivendi cosmopolitas e modernas das elites

século

em

1986,

desenvolvido

pelo

engenheiro sanitarista Francisco R. Saturnino de Brito, priorizando o aparelhamento do porto de Vitória, construção de ramal ferroviário da capital até Cachoeiro para capitar a produção cafeeira do sul do estado e expansão da área habitacional em um novo bairro com melhores condições de saneamento. (MATTOS, 2011)

econômica.” (ABREU, 1988, p. 60) A intensificação do cultivo e exportação do café, torna a economia nacional predominantemente cafeeira, de tal forma que “[...] dominou e marcou fortemente por mais de um século a sociedade brasileira, a ponto de definir a direção do

desenvolvimento

urbano

e

regional.”

(MARICATO, 1997, p.24). Esse fator determina a projeção da importância da cidade de São Paulo, no cenário político nacional,

cuja

concentração

de

capital

econômico foi determinante na transformação dessa cidade no principal polo industrial da atualidade. (ABREU, 1988) As mudanças político-econômicas adotadas a Figura 2 - Projeto de um Novo Arrabalde por Francisco R. Saturnino de Brito Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-1Francisco-Rodrigues-Saturnino-de-Brito-Projeto-de-umnovo-arrabalde-Saneamento_fig1_281618097

Por questões de fragilidade de economia estadual, os projetos idealizados por Muniz Freire só foram se efetivar na primeira metade do século XX. (MATTOS, 2011) No Rio de Janeiro, essa revitalização urbana se dava, por um lado, pela necessidade de modernizar o porto, atendendo a crescente demanda de transporte de mercadorias para o comércio internacional. Desejava-se conceber

partir da Revolução de 1930 de incentivo à substituição promoção

de da

importações

através

industrialização

no

da país,

determinou a efetivação do início do processo de desenvolvimento das cidades e consequente urbanização das mesmas. (MARICATO, 1997) A autora também afirma que o estímulo e incentivos fiscais adotados até os anos de 1930, para investimentos privados na produção de casas em vilas higiênicas ou vilas operárias (figura 3), se transformam mediante a crise econômica oriunda da quebra da bolsa de Nova York.


28

O contexto socioeconômico determinou a

Nesta fase, os planos de intervenção urbanísticas

mudança nas estratégias de intervenção do

predominantes nos grandes centros ampliam o

Estado nas políticas públicas, de uma postura

olhar sobre as cidades, estabelecendo diretrizes

liberal para a de bem-estar social, inaugurando o

nacionais para superação das que se focavam em

tema de habitação social, que se tornou

regiões, iniciando os “[...] zoneamentos, a

tendência nacional até o final de 1945. (MUNIZ e

legislação sobre uso e ocupação do solo e a

PAIVA, 2019).

articulação dos bairros com o centro a partir de sistemas de transporte.” (VILLAÇA, 1999, p. 199). Entra em pauta o crescimento desordenado e a necessidade de planejar as cidades frente ao “caos urbano”, dando origem aos “[...] Plano de Avenidas, de São Paulo, e o Plano Agache, no Rio de Janeiro, que abordam diversos aspectos do

Figura 3 - Vilas Operárias em São Paulo Fonte: https://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/ativida de/vilas-operarias-o-dominio-da-fabrica-na-paisagemurbana-de-sao-paulo

ambiente urbano, como legislação urbanística, habitação, ordenamento territorial.”, conforme figuras a seguir. (MUNIZ e PAIVA, 2019, p.7)

O Espírito Santo, todavia, teve a especificidade da fragilidade da estrutura produtiva privada, que acarretou a intervenção estatal direta no desenvolvimento urbano e habitacional, não havendo mudança de postura na intervenção estatal no mesmo período. (CAMPOS JUNIOR, 2002; MATTOS, 2011) A capacidade de investimento dos gestores públicos locais sobre modernização das cidades se limitou ao paisagismo e melhorias nas condições de higiene e saúde pública, revelando o atraso local em relação ao movimento nacional de intervenção urbanística. (CAMPOS JUNIOR, 2002; MATTOS, 2011)

Figura 4 - Esquema do Plano de Avenidas de São Paulo Fonte: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07 .082/259


29

deslocamento da capital para Brasília (figura 6), numa tentativa de trazer o desenvolvimento para a região central do país, no entanto, não inferiu sobre a importância e crescimento das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. (MARICATO, 1997)

Figura 5 - Plano Agache no Rio de Janeiro Fonte: http://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/estude/historia-dobrasil/rio-de-janeiro/66-o-rio-de-janeiro-como-distritofederal-vitrine-cartao-postal-e-palco-da-politicanacional/2920-as-realizacoes-de-pedro-ernesto-e-deoutras-administracoes

A responsabilidade pública na questão da habitação, segundo a mesma autora, se operacionalizou nas instituições públicas de âmbito nacional no final dos anos de 1930 e meados dos anos 1940, bem como, legislação

Figura 6 - Plano Piloto de Brasília Fonte:https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia /cidades/2017/03/16/interna_cidadesdf,581202/vitoriado-projeto-de-lucio-costa-para-brasilia-completa-60anos.shtml

que regulamenta o congelamento do aluguel - Lei Por outro lado, a autora destaca que tal

do Inquilinato em 1942.

intervenção teve impacto considerável na No fim dos anos 1950 e início dos 1960, essas instituições já não dão respostas satisfatórias às questões de déficit de moradia nos grandes

configuração urbanística, ao romper com o padrão morfológico de crescimento urbano tradicional, pautado no tripé: quadra/rua/lote.

centros urbanos, devido ao movimento de êxodo rural intenso estimulado, por um lado, pela

Durante o regime militar a política habitacional

erradicação dos cafezais, e por outro, pelo

não se voltou para a população de baixa renda,

avanço

de

fazendo crescer o número de assentamentos

importações, implantando indústrias de bens

precários, denominados à época de favelas ou

duráveis e automobilística. (MARICATO, 1997)

invasões, propondo apenas a política urbana de

da

política

de

substituição

erradicação da mesma. (BUENO, 2000) O automóvel impactou diretamente a política na infraestrutura urbana que se voltou para atender

Segundo a mesma autora, a generalização dessa

o sistema viário. O Plano de Metas incluía o

política, em diversas capitais do país, só revelou


30

o fracasso da estratégia e o aumento vertiginoso

A partir da década de 70, o Espírito Santo

do fenômeno. Por outro lado, nesse período os

vivenciou profundo processo de industrialização

intelectuais introduziram

a

e consequente crescimento urbano. As indústrias

assentamentos

enquanto

precários

discussão dos forma

legítima de suprir a necessidade de moradia

se concentraram na região da Grande Vitória, atraindo grandes fluxos migratórios do campo para a cidade, intensificando a inversão da

Entre 1965 e 1971, os planos urbanísticos se constituíam de documentos densos e complexos, ultrapassaram

os

aspectos

proporção de habitantes para essa região, nas décadas seguintes. (IJSN, 1994; idem, 1979)

relacionados

aos territórios e avançavam aos econômicos e

Os empreendimentos públicos de infraestrutura

sociais,

sua

urbana, saneamento e habitação, entre 1964 a

aprovação, pelo conflito de interesses dos

1986, foram financiados pelo Sistema Financeiro

setores de exploração econômica do solo e

de Habitação - SFH, com recursos provenientes

habitação. (VILLAÇA,1999)

dos depósitos compulsórios do Fundo de

dificultando

o

processo

de

Garantia por Tempo de Serviço - FGTS e dos Neste período há a discussão da dimensão das questões metropolitanas, cujo planejamento

recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo – SBPE. (MARICATO, 1997)

ultrapassa os limites municipais, porém os planos de intervenção urbana se caracterizavam por

Segundo a mesma autora, o SFH só serviu para as

utilizar uma linguagem muito técnica e longa, e

classes médias emergentes e as altas, apesar dos

em alguns casos, descolados da realidade.

pequenos poupadores e os trabalhadores

(VILLAÇA,1999)

assalariados terem financiado essa política urbana e habitacional, ficando de fora do

Em algum momento entre os anos de 1960 e 1970 é que se dá a inversão da proporção de habitantes brasileiros residentes na zona rural para a urbana. Em 1960 os residentes na cidade representavam 45,52 % do total de habitantes, em 1970 foi registrado 56,80%, e continuou em

benefício da moradia. Em meados dos anos de 1970, o endividamento externo oriundo de financiamento de obras de infraestrutura e industrial, acarreta a supressão de investimentos em políticas habitacionais.

alta na década seguinte com 68,86% da

Entre 1971 e 1992 os planos de intervenção

população vivendo nas cidades, conforme

urbanístico

registrado no ano de 1980. (SANTOS, 2018)

diretrizes e enumeravam objetivos gerais,

apresentam

apenas

políticas,

contrapondo a formatação ocorrida no período anterior, com objetivo claro de mitigar conflitos


31

de interesses em relação ao espaço urbano. Mas

década anterior - ocorre concomitante aos

a simplificação os reduziu a cartas de intenções,

resultados da inadequada gestão da instituição

sem diagnósticos técnicos extensos e mapas de

pública

ilustração

infraestrutura e habitação através do Banco

das

medidas

projetuais.

(VILLAÇA,1999)

responsável

pela

promoção

de

Nacional de Habitação – BNH e culmina em sua

Em 1979, foi aprovada a Lei Federal nº 6.766/79

extinção em 1986. (MUNIZ e PAIVA, 2019)

que disciplinava sobre os novos parcelamentos

Conforme afirmam os autores, tais fatores

do solo urbano, criminalizando as atividades dos

elevaram os problemas de moradia a níveis

loteadores

estabelecendo

catastróficos, compelindo os governos estaduais

parâmetros urbanísticos com exigências para

e municipais a implementarem alternativas com

regularização. (BRASIL, 2010)

recursos orçamentários próprios, ou oriundos de

clandestinos,

e

Essa legislação dificultava a aprovação dos loteamentos irregulares, pois as exigências da

contratos de financiamento de organismos internacionais.

referida lei eram incompatíveis com o traçado

Neste contexto, os movimentos sociais urbanos

urbano desses empreendimentos, servindo

ganham força de mobilização com o apoio da

apenas para aumentar o crescimento das favelas

Igreja Católica, e a partir da década de 1980,

e estender a precariedade urbanística, reduzindo

contribuindo na transição do regime militar para

a oferta de loteamentos populares. Essas

a democracia. (MUNIZ e PAIVA, 2019)

exigências eram:

As reivindicações da população eram o direito à

[...] doação de áreas verdes ao poder público, reserva de faixa não edificável de 15 metros junto aos córregos, elaboração e execução dos projetos completos de infraestrutura urbana de drenagem, abastecimento de água, esgotamento sanitário, iluminação, sistema viário etc. (BRASIL, 2010, p.13)

Os anos de 1980 e 1990 foram marcados pela crise

econômica,

empobrecimento

moradia e infraestrutura nos bairros, o acesso à propriedade e uso do solo urbano, vindo a desencadear

o

crescente

movimento

de

ocupações ilegais de áreas impróprias, gerando assentamentos precários nas periferias das grandes cidades. (MUNIZ e PAIVA, 2019)

da

população, e limitação de recursos federais destinados para programas de urbanismo e habitação. (MUNIZ e PAIVA, 2019)

Em 1984 as lutas por moradia e direito à cidade ganham uma articulação nacional através da constituição do Movimento Nacional de Reforma Urbana e da apresentação de um projeto de

Esse contexto de crise interna - reflexo da crise

Emenda

internacional do petróleo ocorrida no final da

contemplava:

Popular

à

Constituição,

que


32

[...] o direito de todos os cidadãos à moradia, aos serviços e equipamentos urbanos, ao patrimônio cultural e ambiental e à gestão democrática da cidade, bem como instrumentos jurídicos destinados a garantir esses direitos, por meio da exigência do cumprimento da função social da propriedade urbana, da regularização fundiária, da urbanização das favelas e assentamentos precários, e da participação direta da população na elaboração e implementação da política urbana. (BRASIL, 2010, p.13 e 14)

partir de então, esses municípios ficaram

A partir da democratização do país, o processo

urbana prioritária dos assentamentos precários,

de planejamento urbano perde o caráter de

através do desenvolvimento de programas

neutralidade e passa a se revelar como processo

articulados entre as três esferas de governo e a

político de participação social. (VILLAÇA,1999)

sociedade civil. (BRASIL, 2010)

A Constituição Federal de 1988 apresentou um

Os novos programas de urbanização de

capítulo dedicado à política urbana atendendo as

assentamentos precários começaram a se

reivindicações

e

multiplicar, através de financiamentos do BID e

responder às consequências da

Banco Mundial aos municípios com capacidade

tentando expansão

dos

urbana

movimentos

desordenada

sociais

e

da

responsáveis por estabelecerem os princípios e diretrizes para gestão do uso e ocupação do solo urbano. (VILLAÇA,1999) Em tal política está definida a necessidade de subsídios públicos para moradia urbana da população de baixa renda, e para integração

de endividamento. (MENDES, et al. 2017)

desigualdade social pelo acesso à moradia.

Tais organismos, exigiam especificações de

(CRUZ, 2012)

parâmetros urbanísticos; local de realocação de

Essa carta magna estabelece os planos diretores

famílias removidas até reassentar novamente;

como o principal instrumento de implementação

instrumentos

da política de desenvolvimento e expansão

regularização; participação da população e

urbana; a municipalização de todas políticas

integração com outros programas sociais.

públicas; a legalização da atribuição dos estados

(MENDES, et al. 2017)

estabelecerem

(se

No âmbito de inovações na estruturação da

necessário); e instituiu a participação popular

política habitacional e urbana, em 2003, foi

nos órgãos colegiados para deliberação sobre

instituído o Ministério das Cidades e que dentre

essa política. (BRASIL, 2010; MARICATO, 2013)

outras deliberações, regulamentou o Conselho

Em 2001, é instituído o “direito à cidade

das Cidades, o Sistema Nacional de Habitação de

sustentável” pelo Estatuto da Cidade, com

Interesse Social - SNHIS e do Fundo Nacional de

obrigação da adoção de planos urbanísticos nos

Habitação de Interesse Social – FNHIS, através da

municípios com mais de 20 mil habitantes. A

Lei nº 11.124/05, formando a base legal e

regiões

metropolitanas

urbanísticos

para

sua


33

institucional para criação da nova Política

escolas, creches e hospitais; a forte atuação em

Nacional de Habitação – PNH, aprovada em 2004

situações de risco e impacto ambiental; a

e finalizada em 2008. (BRASIL, 2009a)

articulação com outras políticas sociais com o

A PNH evidencia a posição estratégica da política fundiária, para possibilitar o acesso às condições dignas de moradia com infraestrutura urbana, implementada

mediante

aplicação

dos

intuito de proporcionar a inclusão produtiva, educação ambiental, mobilização e organização comunitária. (MENDES, et al. 2017) Por outro lado, os autores reconheceram alguns

instrumentos do Estatuto da Cidade, como o

desafios

estabelecimento de Zonas Especiais de Interesse

assentamentos

Social - ZEIS. (BRASIL, 2009a)

Preservação

As ZEIS, conforme inciso V do Art.47 do Estatuto da Cidade são porções de área urbana “[...] destinada predominantemente à moradia de população de baixa renda e sujeita a regras específicas de parcelamento, uso e ocupação do solo.” (BRASIL, 2001)

assentamentos precários foram estabelecidas pelo Programa de Aceleração do Crescimento PAC, ligado ao Ministério das Cidades - MCID nas ações de saneamento e habitação social, desenvolvendo política de melhorias urbanas em precários,

serem

enfrentados,

precários

Permanente

em -

como

Áreas

APP,

pois

de as

habitações alteram a qualidade ambiental e comprometem

a

integridade

física

dos

moradores, mudando curso d’águas em sistemas complexos e interligados, com impactos em toda cidade. Em 2008 foi concluído o Plano Nacional de

A partir de 2007, as propostas de urbanização de

assentamentos

a

minimizando

os

Habitação – PlanHab que estabeleceu de forma clara “[...] as metas, instrumentos, articulação entre agentes, fontes de recursos, tipologias de atendimento, grupos de demanda, linhas programáticas, formas de financiamento e de subsídio, mecanismos de monitoramento, entre outros aspectos da política”. (BRASIL, 2010, p.15)

impactos ambientais, promovendo o acesso a

Esse plano define que as intervenções urbanas

serviços urbanos visando a preservação da

das políticas públicas ao promoverem condições

cidadania dos moradores. (MENDES, et al. 2017)

dignas de moradia para população de baixa

Os avanços alcançados através do PAC foram: fortes investimentos em grandes complexos urbanos; o alcance do programa à todas as cidades

com

equipamentos

assentamentos públicos

precários;

melhorados

como

renda, necessitam suplantar a tradicional produção habitacional, e efetivar os demais eixos programáticos promovendo a integração urbana de assentamentos precários e agregando a


34

política habitacional à de desenvolvimento

exigências para aplicação das ZEIS que “[...]

urbano. (BRASIL, 2009a)

constitui um novo e importante avanço para a

A integração urbana de assentamentos precários aponta para o compromisso de superação da

efetivação do direito de todos à cidade e à moradia.” (BRASIL, 2009b, p. 7)

precariedade e inadequação dos mesmos,

Segundo a mesma fonte, atualmente, a

através “[...] de obras de urbanização e melhorias

população

habitacionais,

corresponde a 80% do total de pessoas no país, e

medidas

de

regularização

residente

urbana

nos

desenvolvimento social das comunidades”.

população que reside em favelas varia entre 20%

(BRASIL, 2010, p.17-18)

a 40% do total de pessoas conforme o município.

Em 2009 foi decretado no mesmo instrumento

Maricato (2003) sintetiza que a concentração da

legal a Lei nº 11.977, que determina aspectos

população

sobre o processo de regularização fundiária de

desigualdades socioespaciais e teve como

interesse social e o Programa Minha Casa Minha

consequência o agravamento dos problemas

Vida – PMCMV. Tal lei estabeleceu a definição e

ambientais.

2.2

Tal problemática, gira em torno da disputa pelo

LEGAIS

DA

INTEGRAÇÃO URBANA Como demonstrado anteriormente, com o processo desordenado da expansão urbana, as cidades desenvolveram-se de forma exponencial as proporções espaciais e na sua densidade.

centros

área

fundiária e ações que contribuam para o

ASPECTOS

principais

em

nesses

metropolitanos

espaços

foi

fruto

a

de

uso e ocupação do solo urbano pelo setor imobiliário, pela escassez nas possibilidades habitacionais acessíveis na cidade, provocando a exclusão da população carente para áreas menos valorizadas e periféricas, pelas quais legalmente o mercado não pode atuar, revelando uma “[...] tradição especulativa e da legislação excludente

As desigualdades socioespaciais decorrentes

e segregadora.” (MARICATO, 2013, p.156).

desse processo acarretaram más condições de habitabilidade nas moradias e precariedade na infraestrutura básica, acarretando problemas e dificuldades em promover a integração urbana do assentamento precário à cidade formal. (CRUZ, 2012)

Essas áreas em geral são alagadiças, no entorno dos cursos d’agua, encostas de morros, áreas de proteção ambiental, áreas públicas destinadas à construção de praças ou equipamentos públicos, que ocasiona diversos tipos de irregularidades nos assentamentos precários. (CRUZ, 2012)


35

Baseado nessa conjuntura, a realidade urbana

O Estatuto das Cidades estabelece também que

brasileira

e

a política urbana é ordenada com a pretensão de

precariedade, como reflexo da valorização de

alcançar “[...] o pleno desenvolvimento das

regiões formais das cidades, por concentrarem

funções sociais da cidade e da propriedade

os investimentos em infraestrutura, enquanto a

urbana [...]”. (BRASIL, 2001)

é

pautada

na

ilegalidade

maioria da população de baixa renda se estabelece na cidade informal. (FERREIRA, 2010)

Segundo Cruz (2012, p.44) “O Estatuto das Cidades tem como finalidade regular o uso da

Esse fato pode ser observado na afirmação de

propriedade urbana em prol do bem coletivo, da

Ermínia

segurança e do bem estar dos cidadãos”.

Maricato

sobre

o

processo

de

urbanização, ao identificá-lo como uma “[...] máquina de produzir favelas e agredir o meio

Os direitos contidos no Art. 2º foram sintetizados por Gazola como:

ambiente[...]”, e aponta um prognóstico de que “a cidade legal (cuja produção é hegemônica e capitalista) caminha para ser, cada vez mais, espaço da minoria. O direito à invasão é até admitido, mas não o direito à cidade.” (MARICATO, 2013, p. 39). A partir da promulgação da Lei nº 10.257/2001 conhecida como Estatuto da Cidade - o direto à cidade passa a ser admitido no âmbito jurídico. A referida lei surgiu para regulamentar os artigos 182 e 183 do capítulo que trata sobre a Política Urbana na Constituição de 1988. (DENALDI, 2010, CRUZ, 2012) Neste instrumento jurídico fica estabelecidas as diretrizes generalistas, os instrumentos jurídicos e urbanísticos, assim como, as metas e prazos para a reorganização e desenvolvimento do espaço urbano brasileiro. (DENALDI, 2010, CRUZ, 2012)

a) direito à terra urbanizada, onde se insere o direito à simplificação da legislação de parcelamento, uso do solo e das normas edilícias com fim a permitir a redução dos custos e aumento de oferta dos lotes e unidades habitacionais; à regularização urbanística de áreas ocupadas por população de baixa renda (mediante o restabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação de solo e edificação e consideradas a situação socioeconômica da população e normas ambientais); à promoção da regularização das ocupações e viabilização da titulação dos lotes; b) direito à moradia, por meio da promoção de ações que viabilizem o acesso à moradia segura com realização de obras físicas de melhorias habitacionais; intervenção em áreas de risco; remoção de áreas não passíveis de eliminação de risco para áreas no entorno; utilização de instrumento de utilização compulsória de imóvel urbano, buscando a promoção humana a partir da moradia digna e segura; c) direito ao meio ambiente equilibrado, que implica direito ao saneamento ambiental; proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, historio, artístico, paisagístico; promoção de melhorias nas condições de salubridade e habitabilidade (...); d) direito à infraestrutura urbana, que inclui o direito à oferta e acesso aos equipamentos urbanos e comunitários, transportes e serviços públicos e que estes sejam


36

adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais, de forma a proporcionar, por meio de melhorias das condições de circulação viária, a implantação de serviços de transporte coletivo, coleta de lixo assim como o acesso a ambulâncias e veículos da polícia; e) direito ao trabalho, por meio da promoção da melhoria das condições socioeconômicas da população, por meio de mecanismos integrados que permitam a capacitação profissional (...); f) direito ao lazer, pela preservação e criação de áreas públicas de convivência e lazer, assim como pelo estímulo e promoção de projetos culturais e esportivos; g) garantia dos direitos acima às futuras gerações mediante compromisso com o atingimento dos objetivos ao longo do tempo com a criação de novas perspectivas e hábitos que contribuam para a melhoria e manutenção de bons índices sociais e de segurança pública; h) integração e interdisciplinaridade no planejamento e execução das políticas públicas necessárias à inclusão social (GAZOLA, 2008, p. 109 a 111)

Também na percepção de Maricato (2013), o

Cruz (2012) os sintetiza como direito à terra

urbanizada, inibir a retenção de solo urbano,

urbanizada, à gestão democrática, à moradia

incidir sobre a formação do preço da terra e

digna, à infraestrutura urbana, ao saneamento

reservar áreas para habitação social.” (FERREIRA,

básico, serviços públicos, ao transporte, ao

2010, p.27)

trabalho, ao lazer, à garantia da cidadania inclusiva e regularização fundiária.

estatuto aglutinou instrumentos já existentes com outros novos, mas avaliou que o caráter inovador da referida lei se deu nos incisos XV e XVI do artigo 2º que se refere à simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo, e a isonomia de condições para agentes públicos e privados no processo de urbanização de interesse social. Outra determinação importante do Estatuto da Cidade foi a obrigação dos estados e municípios desenvolverem

seus

respectivos

Planos

Diretores para garantir que a função social da terra seja efetivada, “[...] deve estabelecer mecanismos para ampliar a oferta de terra

As diretrizes para instituição dos instrumentos estabelecidos

pelo

Estatuto

da

Cidade

O referido estatuto veio estabelecer “a base legal

estabeleciam a necessidade de discussão em

para que a urbanização e regularização de

instância deliberativa e aprovação de lei

assentamentos

entrassem

complementar para orientar a aplicação no nível

política

municipal, que segundo Maricato (2013) gerou

habitacional e urbana, sendo implementadas por

muitos conflitos de interesses no âmbito

meio de diversos instrumentos, com destaque

municipal para aprovação da mesma.

definitivamente

precários na

agenda

da

para a sua delimitação como ZEIS” (BRASIL, 2009b, p.13), apesar dos instrumentos descritos no mesmo já possuírem certa aplicação anterior à promulgação da lei, como observa Cruz (2012).

Os Instrumentos de Política urbana contidos no Estatuto da Cidade podem ser aglutinados nos seguintes pontos:


37

a) planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; b) planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões e; c) planejamento municipal. (MARICATO, 2013, p. 105)

a) zona de uso residencial; b) zona de uso industrial; c) zona de uso comercial; d) zona de uso de serviços; e) zona de uso institucional; f) zonas de usos especiais. (CRUZ, 2012, p. 57)

Segundo a mesma, essa lei estabelece quais

O Plano Diretor Municipal em conjunto com o

atividades podem ou não serem exercidas nas

plano plurianual, diretrizes orçamentarias e

áreas da cidade, para tal, estabelece índices para

orçamento anual participativo, compõem os

ocupação e construção do terreno, espaços

pilares do processo de planejamento municipal e

livres,

nortearem os investimentos públicos urbanos.

alinhamentos e outras restrições referentes ao

(MARICATO, 2013)

uso e ocupação do espaço urbano.

O PDM deve conter as resoluções necessárias

Tais

para emprego de instrumentos urbanísticos que

permeabilidade do solo, assegurar condições de

possibilitem a aplicação da função social da

ventilação e iluminação, conter a densidade,

propriedade ao direito à moradia, em especial,

estipular coeficiente de aproveitamento, entre

referentes à demarcação das Zonas de Especial

outros (CRUZ, 2012)

Interesse Social – ZEIS, e ao Parcelamento,

Outras possibilidades da Lei de Zoneamento é

Edificação ou Utilização Compulsórios - PEUC.

ampliar o mercado habitacional e reduzir o custo

(FERREIRA, 2010)

da moradia, através da demarcação de áreas

Outro instrumento basilar do planejamento

com uso misto ou de moradias por faixas

urbano é a regulamentação do Uso e Ocupação

econômicas, delimitar áreas de moradia social,

do Solo, denominado popularmente como Lei de

mas evitando a segregação. (MARICATO, 2013)

Zoneamento, que defini as atividades que podem

No entanto, Maricato (2013) levanta alguns

ser exercidas em áreas determinadas nas

pontos

cidades, contribuindo para dar equilíbrio entre

zoneamento,

os direitos individuais e o da coletividade no uso

considerações:

além

de

gabaritos,

determinações

críticos

da

afastamentos,

visam

conservar

aplicação

fazendo

as

da

lei

a

do

seguintes

da propriedade particular, em detrimento da localização e do tipo de atividade exercida em cada área urbana. (CRUZ, 2012) A Lei de Zoneamento determina zonas de usos diferenciados, de acordo com a necessidade local, as seguintes finalidades:

1) ela está bastante descaracterizada com grande parte das edificações e seu uso, fora da lei; 2) dificulta a ampliação do mercado privado em direção a camadas de mais baixa renda; 3) desconsidera a questão ambiental; 4) é de difícil compreensão e aplicação; 5) ignora as potencialidades dadas pelos arranjos locais ou informais; e, finalmente, 6) contribui com a segregação e a ilegalidade. (MARICATO, 2013, p.114)


38

Em concordância com os aspectos acima

ser

elencados,

empresarial, desde que contribua para fortalecer

Cruz

(2012)

defende

que

o

zoneamento pode servir tanto para a segregação socioespacial, quanto para o combate da mesma.

destinada

para

edificações

de

uso

o interesse social local. Com o intuito de cumprir a função social da

Nesta perspectiva, a determinação de ZEIS em

propriedade urbana, os demais institutos

assentamentos precários permite estabelecer

estabelecidos no Estatuto - se aplicados pelo

parâmetros urbanísticos mais flexíveis, sem

município - como os tributários e financeiros, e

comprometer padrões de higiene, segurança,

os jurídicos e políticos, se forem associados às

estrutura das edificações, nem de acessibilidade,

ZEIS possibilitam a geração de recursos para a

de existência de equipamentos e espaços

construção de equipamentos, instalação de

públicos, (CRUZ, 2012; FERREIRA, 2010)

infraestrutura, implantação de habitações de

Para tanto, faz-se necessário adequações das normas

às

peculiares

dos

assentamentos

precários para possibilitar a urbanização nesses

interesse social, bem como, a reserva e a regularização

fundiária

dessas

áreas.

(MARICATO, 2013)

locais e também procedimentos distintos de

Citam-se ainda outros instrumentos do Estatuto

legalização, garantindo a certificação da posse

das Cidades como o PEUC, o Imposto Predial e

dos

características

Territorial Urbano - IPTU progressivo no tempo,

socioeconômicas peculiares dos ocupantes.

a outorga onerosa do direito de construir e a de

(CRUZ, 2012; FERREIRA, 2010)

alteração de uso, entre outros, como opções

ocupantes,

devido

as

Quanto às áreas demarcadas para ZEIS, não há determinação expressa que sejam locais vazios, tão pouco apenas as ocupadas, mas há a orientação de que “[...] os assentamentos precários

do

tipo

favelas,

loteamentos

irregulares e cortiços, sejam delimitados como

para se arrecadar fundos para os investimentos sociais. Nesse âmbito é “[...] importante garantir o controle social desses recursos, destinando-os ao fundo municipal de habitação ou ao fundo de desenvolvimento urbano, geridos por conselhos democráticos.” (FERREIRA, 2010, p.29)

ZEIS para promover sua regularização fundiária.”

Cruz acrescenta que a execução conjugada dos

(FERREIRA, 2010, p.28)

instrumentos de política urbana pode compensar

O mesmo autor acrescenta que a ZEIS em área vazia não necessita reservar integralmente o espaço para Habitação de Interesse Social - HIS, e não há impedimento de certa parcela da área

as despesas geradas para a integração dos assentamentos precários, e que se as ocupações ocorrerem em áreas da União, além da conjunção desses instrumentos legais, se faz


39

necessária

promulgação

de

instrumento

considerados na execução dessa política pública,

específico de regularização fundiária com base

a saber: “[...] (i) a integração urbana de

na Lei nº 11.481/2007 que instituiu métodos

assentamentos

mais simples para efetivação da mesma. (CRUZ,

habitacional; e (iii) a integração da política

2012)

habitacional à política de desenvolvimento

Acrescenta que tal lei reconhece as obrigações e

precários;

(ii)

a

produção

urbano.” (BRASIL, 2009b, p.7)

atribuições do Estado na função social da

Um dos eixos programáticos da PNH é a

propriedade pública, cuja destinação e o uso da

integração urbana de assentamentos precário,

mesma, deve contribuir para a “[...] redução das

objetivando sua integração com a cidade e dando

desigualdades sociais e territoriais e para a

respostas às questões ambientais e de estrutura

promoção da justiça social, seja garantindo o

urbana. (CAVALCANTI, et al. 2016)

direito à moradia, seja apoiando o incremento ao Tal eixo prevê programas que podem abranger

desenvolvimento local.” (CRUZ, 2012, p.47) É importante destacar também, que, em relação as ocupações em imóveis particulares, é utilizado o instrumento usucapião especial de imóvel urbano e para os imóveis públicos, a concessão de

uso

especial

para

fins

de

moradia.

“[...]

obras

de

habitacionais,

urbanização

medidas

e

de

melhorias

regularização

fundiária e ações que contribuam para o desenvolvimento

social

das

comunidades.

(BRASIL, 2010, p.17),

(MARICATO, 2013)

Para que ocorra tal integração urbana esse tipo

A Política Nacional de Habitação – PNH evidencia

de planejamento possui aspectos delicados,

a relevância da política fundiária, que possibilita

necessitando de múltiplas ações, “[...] tais como:

a aplicação dos instrumentos descritos no

melhoria das condições de acessibilidade,

Estatuto da Cidade, sendo de fundamental

habitação,

importância

de

equipamentos públicos, regularização fundiária e

apropriação do solo urbano com infraestrutura,

integração socioeconômica de seus moradores

viabilizando área para a provisão de habitações

(geração

de interesse social, promovendo assim, o direito

(CAVALCANTI, et al. 2016, p. 352)

para

possibilitar

meios

à moradia digna para pessoas de baixa renda. (BRASIL, 2009b)

Os

saneamento,

de

autores

renda

e

assinalam

provisão

políticas

ainda,

de

sociais).”

que

essas

intervenções, no nível federal, se realizam

Tal direito à moradia, é garantida na PNH através

através dos seguintes programas: “[...] i) o

de seus eixos norteadores, os quais precisam ser

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) –


40

Urbanização de Favelas; ii) o Programa Minha

também a operacionalização da política em

Casa Minha Vida; e iii) o gerenciamento dos

termos de tipologia de atendimento, grupos de

riscos.” (CAVALCANTI, et al. 2016, p. 352)

demanda, linhas programáticas, entre outros aspectos da política. (BRASIL, 2010)

Pode-se concluir que os principais propósitos da PNH

são

resgatar

a

centralidade

do

O objetivo central do PlanHab é apresentar as

planejamento do setor habitacional e da cidade,

estratégias de efetivação dos quatro eixos

bem como, assegurar condições que promovam

norteadores da política habitacional, em termos

o acesso à moradia digna, com urbanização e

de “[...] modelo de financiamento e subsídio;

integração à cidade, principalmente para a

política

população de baixa renda. (BRASIL, 2009a)

institucionais e cadeia produtiva da construção

urbana

e

fundiária;

arranjos

civil.” (BRASIL, 2009a, p. 9) Conclui-se que a Política Nacional de Habitação Desta forma, os municípios se fundamentam [...] estabelece o arcabouço conceitual, estrutura institucionalmente as ações no campo da habitação a partir do Sistema Nacional de Habitação (SNH), identifica os agentes que atuarão na implementação da política, estabelece os componentes e as linhas de ação que direcionam os recursos e financiamentos habitacionais. (BRASIL, 2009a, p.12)

neste plano para concepção dos Planos Locais de Habitação de Interesse Social – PLHIS, além de terem subsídios institucional da SNH e do FNHIS, no qual constam:

de

o diagnóstico das necessidades habitacionais e dos recursos que devem ser mobilizados para o seu enfrentamento, incluindo a demanda por terra e a situação do município em relação à criação e implementação das ZEIS; definição de metas pactuadas entre o poder público e diferentes atores sociais; e planejamento das ações. (BRASIL, 2009b, p.14)

procedimentos e ferramentas para o dar conta

Outro marco importante da PNH foi a

das necessidades habitacionais e das questões

conceituação mais abrangente das situações que

urbanas. (BRASIL, 2009a)

caracterizam dos assentamentos precários e o

O Plano Nacional de Habitação - PlanHab é um dos instrumentos utilizado pela PNH para viabilizar

a

efetivação

do

processo

de

planejamento habitacional em todo território nacional,

contendo

a

formulação

estabelecimento Tal instrumento estabeleceu metas de curto, médio e longo prazo e os instrumentos; articulação entre agentes federativos e as fontes de

recursos

financiamento mecanismos

esclarecendo e de

de

as

formas

de

além

dos

subsídio,

monitoramento.

Elucidou

de

instrumentos

de

mapeamento com interfaces de informação para o poder público em âmbito municipal, são o Sistema de Informação, Monitoramento e Avaliação da Habitação - SIMAHAB e o Sistema


41

Nacional de Informações das Cidades - SNIC.

informações

(BRASIL, 2010)

integrada, para suporte ao planejamento e

Tais instrumentos de mapeamento, segundo o PNH, além das informações pertinentes à habitação e mapeamento das cidades, têm a obrigação

de

alimentar

um

sistema

de

mais

apuradas

e

de

forma

monitoramento das ações do Ministério, bem como fornecer subsídios para as ações de planejamento municipal. (BRASIL, 2010) Em

termos

práticos,

o

mapeamento

e

informação exclusivo para os assentamentos

caracterização dos assentamentos precários

precários, evidenciando a importância dessa

inerentes às duas bases de dados do Ministério

temática no âmbito dos planos em todos os

das Cidades, compõem o diagnóstico das

níveis federativos. (BRASIL, 2010)

necessidades habitacionais e de regularização fundiária, prevista no escopo dos Planos Locais

O SIMAHAB possui objetivo de fornecer bases de

de Habitação de Interesse Social - PLHIS, para os

dados para embasar as tomadas de decisões da

municípios que optaram por se inserirem no

política

SNHIS. (BRASIL, 2010)

habitacional,

com

informações

atualizadas dos programas e investimentos, com o intuito de supervisionar e analisar a aplicação e os resultados dos mesmos, conforme as peculiaridades de cada região e localidade. (BRASIL, 2010)

Um importante marco para a integração dos assentamentos 11.977/2009

precários que

foi

estabeleceu

a

Lei

requisitos

mínimos e definições para a demarcação urbanística e legitimação de posse, como a

O SNIC possui objetivo de fornecer dados para o conhecimento das cidades brasileiras, com

Figura 7 – Evolução da Política Habitacional Fonte: VILA VELHA, 2015; adaptado pela autora.

descrição legal mais aprofundada de ZEIS, e de


42

regularização fundiária de ocupações. (BRASIL,

legitimação de posse e Certidão de Regularização

2009b)

Fundiária – CRF. (BRASIL, 2017)

Tal

lei

estabeleceu

a

Em resumo, na lei estão estabelecidos normas e

assentamentos

procedimentos para incorporação dos núcleos

precários em áreas urbanas, com definições e

urbanos informais ao ordenamento territorial

fundamentos mínimos necessários para sua

urbano e à titulação de seus ocupantes,

implementação, e também, instituiu o Programa

abrangendo questões jurídicas, urbanísticas,

Minha Casa, Minha Vida – PMCMV. (CRUZ, 2012)

ambientais e sociais. (BRASIL, 2017)

Acrescenta, porém, que todo o capítulo sobre a

Cruz (2012) acrescenta que para a regularização

regularização fundiária do referido instrumento

ser sustentável, precisa superar políticas isoladas

legal foi totalmente revogado em 2017 pela Lei

e setoriais, e sem recursos e equivocadas,

nº 13.465/2017, que conseguiu aglutinar todas

tornando a legalização e a urbanização ações

as normas existentes e que se encontravam

indissociáveis.

regularização

diretrizes

fundiária

de

sobre

pulverizadas em outras leis, como por exemplo, as constantes no código civil.

Afirma ainda, que “[...] a urbanização é uma das dimensões

essenciais

dos

programas

de

A referida lei trouxe inovações como a adoção da

regularização fundiária e tem como finalidade

regularização fundiária em áreas rurais e na

promover

Amazônia Legal, liquidação de créditos cedidos

habitabilidade

para

assentamentos que serão regularizados.” (CRUZ,

os

assentados

da

reforma

agrária,

aprimorou os procedimentos de concessão de imóveis da União, entre outras, mas no Art. 9º da referida lei estão as definições específicas da Regularização

Fundiária

Urbana

Reurb.

(BRASIL, 2017)

melhorias e

nas

de

condições

infraestrutura

de dos

2012, p.37) Em concordância com essa afirmação, Maricato declara que “é fundamental que a regularização jurídica seja acompanhada de uma regularização urbanística, isto é, de investimentos públicos que

Outros aspectos inovadores foi o tratamento

asseguram padrões mínimos de urbanização.”

conceitual de fenômenos e caracterização de

(MARICATO, 2013, p.110)

tipologias - núcleo urbano, núcleo informal, informal consolidável e demarcação urbanística além de documentos e procedimentos passíveis de validação da regularização fundiária, como

O Código de Obras também é citado por essa autora como instrumento jurídico que influencia nas regras gerais e específicas sobre o uso e ocupação

do

solo,

podendo

estabelecer

exigências para os projetos, licenciamentos,


43

execuções, manutenção, obras e edificações

necessita de um Plano Diretor bem elaborado e

municipais e padrões construtivos mínimos,

voltado para a equidade social na utilização do

devendo ser elaborada por cada Município.

solo urbano enfrentando assim, os interesses de

(CRUZ, 2012)

propriedade imobiliária. (MARICATO, 2013)

A mesma autora, afirma que essa norma legal,

Ferreira (2010, p. 16) conclui que as três esferas

possui o objetivo de garantira “[...] a segurança,

de poder precisam desenvolver ações que

a funcionalidade das edificações, a salubridade,

eliminem com a “[...] tradição patrimonialista do

o conforto e a estética da cidade” e pode

nosso Estado, e atendam preferencialmente os

especificar padrões mínimos de habitabilidade

excluídos, até mesmo como forma de promover

para HIS e índices urbanísticos para as ZEIS, para

a real expansão da base econômica, que não tem

facilitar a adequação das edificações e locais aos

como suportar a lógica da restrição e da

critérios e requisitos mais realistas. (CRUZ, 2012,

exclusividade.”

p.60)

Demonstrando que os planos diretores e os

Segundo Ferreira (2010), a definição dos

instrumentos urbanísticos do Estatuto da Cidade

instrumentos indicados para cada município

são ferramentas imprescindíveis nesse processo,

resulta tanto da análise técnica, quanto da

mas não conseguem, em si mesmas, garantir

situação social da cidade e “[...] permitem o

mudanças estruturais. Desta forma, considera a

estabelecimento de um padrão urbanístico

estreita relação da questão urbana com as

próprio para cada assentamento, agregando

questões econômicas e políticas, e, para se

qualidade ambiental e requalificação do espaço

estabelecer cidades mais justas, é necessário

habitado”. (CRUZ, 2012, p.6)

redistribuição de renda e inclusão social por uma

Cruz (2012) acrescenta que efetividade dos mesmos esbarra com questões de políticas públicas

e

técnicas

que

dificultam

o

cumprimento dos instrumentos, devido a descontinuidade na averiguação dos efeitos dos mesmos na cidade, assim como na articulação entre as diversas políticas

política macroeconômica exitosa. (FERREIRA, 2010; CRUZ, 2012)

2.3 ETIMOLOGIA DOS T ERMOS EMPREGADOS A ocupação do solo brasileiro e configuração dos grandes centros urbanos se transformaram ao

Para que essas ferramentas previstas no Estatuto

longo dos anos, assim como as políticas de

das Cidades não façam a exclusão socioespacial,

urbanização e habitação, e as alternativas

e estejam previstas apenas no âmbito jurídico,


44

populares de enfrentamento da dificuldade de

acesso à moradia ao serem retiradas dos

acesso à terra e à moradia.

cortiços,

Desta maneira, os assentamentos precários apresentam várias conformações e termos

integraram

o

movimento

de

apropriação irregular das áreas periféricas ou as de preservação, como encostas e morros.

ampliados ao longo do tempo “[...]como favelas,

Em 1893 foram construídos no Morro de Santo

loteamentos irregulares de moradores de baixa

Antônio - no estado que atualmente é

renda ou clandestinos, cortiços, conjuntos

denominado de Rio de Janeiro - galpões de

habitacionais degradados etc., correspondendo

madeira para alojamento de soldados, sendo

cada denominação a uma forma específica de

mais intensamente utilizados no final da

processo de produção destes assentamentos”,

campanha militar de combate a revolta ocorrida

ocupados por moradores de baixa renda.

em Canudos em 1897. (BRASIL, 2010)

(CARDOSO, 2016, p.35).

As famílias despejadas de cortiços e alguns

Os cortiços foram as primeiras soluções de

desses

moradias populares das famílias excluídas do

participaram da

direito à terra, e se situou na gênese da

Providência em 1897, conhecida popularmente

manifestação do fenômeno de assentamentos

como “Morro da Favela”, termo que faz alusão a

precários

urbanos

uma espécie de arbusto da caatinga e

brasileiros, antes mesmo da existência de

predominante no sertão de Canudos, que por

planejamento urbano pelas políticas públicas nas

possuir similaridade com a vegetação do local, foi

cidades. (MARICATO, 1997).

atribuído o nome. (MARICATO, 1997; BRASIL,

nos

grandes

centros

De forma geral, são definidas como edificações

soldados

-

com

ocupação

suas

famílias

-

do Morro da

2010; CARDOSO, 2016)

antigas e deterioradas em áreas centrais que

Apesar do uso original do termo Favela no Brasil

passaram por processos de esvaziamento

ter sido para designar assentamento precários

econômico

uso,

em morros, a expressão evoluiu ao longo dos

subdividido em cômodos para aluguel e as

anos para “aglomerados urbanos em áreas

instalações sanitárias são de uso comum,

públicas ou privadas, ocupadas por não-

apresentando

super

proprietários, sobre as quais os moradores

adensamento e insalubridade. (BRASIL, 2010;

edificam casas à margem dos códigos legais de

CARDOSO, 2016)

parcelamento e edificação”. (BUENO, 2000, p.17)

e/ou

transformação

características

de

de

Tais autores são unânimes em afirmar que ainda no período imperial, as pessoas excluídas do

Tal noção foi ampliada pela ONU para “agregação familiar em favelas” designando o


45

conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo

O termo conjunto habitacional degradado diz

teto, sem uma ou mais das cinco características:

respeito

ter acesso à água potável, ou

à instalações

destinados à habitação de interesse social, e que,

sanitárias adequadas; espaço de moradia

não chegaram a concluir seus procedimentos de

suficiente para os que nela habitam; qualidade e

legalização

durabilidade

originária, ou falta de manutenção em vícios de

estrutural

da

edificação;

e

segurança de posse. (BRASIL,2010)

aos

empreendimentos

por

precariedade

públicos

construtiva

construção, deixando os moradores à margem da

A denominação favela é comumente utilizada no

formalidade legal. (CARDOSO,2016)

Estado do Rio de Janeiro e corresponde aos

No Brasil, a primeira publicação específica sobre

termos “[...] invasões em Salvador; baixadas, em

o tema foi lançada pelo IBGE em 1953, com o

Belém; vilas, em Porto Alegre e em Belo

volume “As favelas do Distrito Federal e o Censo

Horizonte;

Demográfico de 1950”. Desde então, o país

mocambos,

no

Recife

etc.”

(CARDOSO, 2016, p.36)

sofreu

Quanto ao termo loteamento designa o

urbanização, com dimensões e complexidade

parcelamento do solo por um agente econômico

cada vez mais agravadas. (IBGE, 2019)

uma

aceleração

do

processo

de

encarregado da subdivisão e da venda, sendo que

os

irregulares

se

diferenciam

dos

clandestinos pelo “[...] não cumprimento integral da normativa urbanística, embora em muitos casos haja sido dado início aos procedimentos de licenciamento; [...].” (CARDOSO,2016, p.35) Segundo o mesmo autor, o loteamento é

Na tentativa de abarcar a diversidade de nomenclaturas para designar favelas em todo o território nacional, o IBGE introduziu o conceito aglomerado subnormal no Censo Demográfico de 1991, vindo a apresentar o tratamento estatístico no censo de 2010, o qual é utilizado até os dias atuais. (IBGE, 2019)

clandestino quando o parcelamento de uma área se dá sem qualquer iniciativa de licenciamento

O Manual de Delimitação dos Setores do Censo

junto ao poder público, em outras palavras,

2010 classificou como aglomerado subnormal:

efetuados sem qualquer registro e geralmente diverge dos padrões estabelecidos de uso e ocupação do solo e de urbanização, e por isso, sem o devido processo legal de habilitação do projeto e profissional responsável, e muitas irregularidades de documentação, entre outros.

cada conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. (IBGE, 2010, p.18)


46

No mesmo manual há a definição de critérios de

habitacionais estaduais ou prefeituras que

identificação do aglomerado subnormal como

apuram melhor a realidade local.

habitações em terrenos de propriedade de particulares alheios ou pública, obtenção do título de propriedade do terreno há menos de dez anos; com

vias de circulação fora dos

padrões; lotes com morfologias desiguais,

Sua tese parte do argumento de que “[...] loteamentos, cortiços e conjuntos irregulares e deteriorados são formas de precarização da moradia que podem ser tão ou mais graves que as favelas.” (CARDOSO, 2016, p.37)

habitações em situação irregular junto aos órgãos públicos, ou precariedade na oferta de

Desta forma, propõe a adoção pelo IBGE da

serviços urbanos essenciais. (IBGE, 2010)

tipologia Assentamentos Precário adotado pelo Ministério das Cidades – MCID e estabelecido na

Apesar de ser o único tratamento estatístico de

PNH como categoria de abrangência nacional, se

abrangência nacional que dispomos, se refere

referindo a todos os tipos de designações

apenas aos aglomerados do tipo favela, e que

empregadas para o fenômeno de ocupação

para “[...] os loteamentos, cortiços e conjuntos

desordenada e irregular, de solo ou habitações,

irregulares e precários, não existem estimativas

por moradores de baixa renda. (CARDOSO, 2016;

consolidadas em escala nacional”. (CARDOSO,

BRASIL, 2010)

2016, p.36)

Esse entendimento também está presente no

Outro fator agravante, é o fato do IBGE

termo assentamentos informais estabelecido

considerar

os

pela ONU para designar as áreas residenciais sem

51

segurança de posse da terra ou moradias com

domicílios, acarretando uma disparidade com os

modalidades de ocupações ilegais ou locação

números

de

informal; bairros com carência dos serviços

informação do MCID, como no caso de município

básicos ou isolados da infraestrutura urbana; e

de Santo André - SP, que após o cruzamento de

habitações que descumprem os regulamentos

dados registra uma divergência numérica de 47%

vigentes de planejamento e construção, e em

entre os dois banco de dados. (DENALDI, 2010)

áreas

como

aglomerados

setores

subnormais

levantados

normais

inferiores

pelos

a

sistemas

Cardoso (2016) assinala que por deficiência de

geograficamente

e

ambientalmente

perigosas. (BRASIL, 2010)

dados mais apurados do universo de pessoas

Os assentamentos precários são, portanto,

residindo em todas as modalidades englobadas

porções do território urbano com dimensões e

pelo termo assentamentos precários, é comum a

tipologias variadas, que têm em comum:

existência

de

levantamentos

em

órgãos


47

1) áreas predominantemente residenciais e

ocupação do espaço urbano, que demandam

habitadas por famílias de baixa renda;

intervenção pública para proporcionar dignidade

2) condições precárias de moradia, com

à população de baixa renda.

insalubridade e deficiências construtivas da

Conforme as terminologias adotadas pelo

edificação ou com irregularidade fundiária;

Ministério das Cidades, segundo condições

ausência de infraestrutura de saneamento;

relevantes, existem características para as

dificuldade de acesso ao sistema de transporte;

principais tipologias de assentamentos precários

precariedade ou inexistência de equipamentos

que podem ser entendidas de forma simplificada

sociais; terrenos alagadiços ou com riscos

através da tabela a seguir.

geotécnicos; adensamento excessivo; 3) e originário de estratégias autônomas utilizadas pela população de baixa renda para solucionar a carência habitacionais, ou pela insuficiência e inadequação das iniciativas estatais, ou deficiência de renda em relação ao valor das unidades ofertadas no mercado imobiliário formal. (BRASIL, 2010) Conclui que no país existem diversos termos e expressões para caracterizar um mesmo tipo de assentamento. No entanto, essas tipologias surgiram em conjunturas específicas e “[...] que suas caracterizações originais correspondem a uma espécie de “retrato” (grifo deles) de cada tipo de assentamento num dado momento histórico, devendo ser ajustada em função da sua evolução.” (BRASIL, 2010, p.19) Diante do exposto utilizaremos para o presente estudo, a terminologia Assentamentos Precários para designar o fenômeno de estudo e objeto de intervenção, por se considerar o termo mais completo e atual de abarcar todas as formas de


48

Tabela 1 - Síntese dos Tipos de Assentamento Precário

TIPOS DE ASSENTAMENTO PRECÁRIO CORTIÇOS

FAVELAS

LOTEAMENTOS IRREGULARES

CONJUNTOS HABITACIONAIS DETERIORADOS

Compra e venda ou Compra e venda entre concessão de uso pelo agentes privados, sem poder público (sem escritura no registro registro); ocupação imobiliário. irregular.

Lote regular

Dimensões irregulares, devido a subdivisão informal de lotes, glebas ou áreas de proteção ambiental.

Lote com dimensão regular em gleba parcelada irregularmente.

Áreas centrais, intermediárias Áreas de periferia ou periféricas adequadas ou adequadas ou não à não à urbanização. urbanização.

LOCALIZAÇÃ O

Ocupação ilegal de áreas públicas ou privadas, com a compra e venda informal (sem registro) dessas áreas.

Áreas centrais

TRAÇADO URBANO E INFRAESTRUTURA

Aluguel sem contrato ou ocupação ilegal de imóvel abandonado (público ou privado).

Inserido em área com ou sem infraestrutura. Nas áreas Inserido em áreas internas do assentamento: consolidadas com traçado desordenado; traçado urbano regular predomínio de vielas de e com infraestrutura pedestres e escadarias; ausência ou precariedade das demais infraestruturas.

CONDIÇÕES DA UNIDADE HABITACIONAL

TERRENO

ACESSO À MORADIA

VARIÁVEIS

Fonte: BRASIL, 2010; adaptado pela autora.

Cômodo resultante da subdivisão do imóvel degradado; insalubridade pelo uso coletivo de instalações sanitárias; hidráulica e elétrica precárias

Traçado urbano regular; vias com problemas de drenagem e trafegabilidade; precariedade das demais infraestruturas; áreas públicas ocupadas.

Autoconstrução ou Autoconstrução, problemas mutirão; falta de estruturais; materiais acabamento; materiais inadequados; hidráulica e de baixa qualidade; elétrica precárias e irregulares; hidráulica e elétrica insalubridade e risco. regulares ou não.

Parte de terreno ou lote em gleba parcelada pelo poder público, sem aprovação formal. Áreas de periferia adequadas ou não à urbanização.

Traçado urbano regular; infraestrutura completa ou não; problemas de manutenção; áreas públicas ocupadas.

Construção por empreiteira ou mutirão; materiais de baixa qualidade; falta de acabamento e manutenção; áreas comuns e entorno degradado.


49


50

3. REFERENCIAIS DE

urbanos em constantes mudanças, com a

INTERVENÇÃO

agrupamento com carência de planejamento

produção

social

do

espaço

enquanto

urbano. Nesse capítulo será tratado a importância do

Desta

urbanismo como expressão das características

arquitetônica das cidades retrata sua história e

socioculturais, pelas quais embasaram os

sua constituição social, e no caso brasileiro,

conceitos criados por estudiosos que classificam

revela os graves desajustes relacionados a

as intervenções adotadas ao longo do processo

formas peculiares de um país dependente e

de urbanização em assentamentos precários.

subdesenvolvimento. (FERREIRA, 2010)

Nesse contexto serão apresentadas referencias projetuais de intervenção urbanística em áreas com particularidades similares, fundamentando as estratégias para o ensaio projetual da área de intervenção.

forma,

evolução

urbanística

e

Sintetiza que a cidade existente é a materialidade de decisões políticas e econômicas, e fruto de escolhas individuais e ações coletivas, não obstante,

com

grande

possibilidade

de

intervenção no sentido de ressignificação do espaço,

3.1 REFERENCIAL TEÓRICO

através

renovação, Sofia Wolfrum (2013) define arquitetura como “espaço construído culturalmente”, ou seja, o arquitetônico

a

é

compreendido

como

a

manifestação da vida cotidiana, tendo na arquitetura uma expressão sociocultural que se materializa nas cidades, se constituindo como representação de uma sociedade.

de

uma

requalificação,

intervenção, intrínsecas à formulação da política pública de urbanização, estão diretamente relacionadas à visão dos agentes sociais envolvidos na execução ou avaliação da mesma, e

determinam

as

definições

desdobramento das práticas sociais e da

tecnológicas. (BUENO, 2000)

um processo dinâmico, ultrapassando o sentido de uso e de posse de um bem, fazendo da arquitetura uma forma de lidar com padrões

recodificação,

Da mesma forma, as diretrizes urbanísticas de

metodológicas

articuladores do espaço urbano. Sua ocupação é

de

rearticulação e revitalização. (WOLFRUM, 2013)

Argumenta que a arquitetura se torna um

manifestação cultural, sendo estes, agentes

abordagem

projetivas,

técnico

construtivas

ou

Cruz (2012) fez uma revisão bibliográfica das formulações

que

descrevem

parâmetros

referenciais para urbanização de assentamentos precários,

e

as

que

fundamentam

as

intervenções embasadas na relação de custo e


51

benefício. Indicou as formulações de Bueno (2000) e Denaldi (2003) como as que serviram de base para decisões técnicas, sustentáveis e realistas.

II - traçado viário regular, com a maioria das moradias com acesso por via que permite a circulação de automóveis e utilitários; III - terreno adequado à urbanização, sem demandas de obras especiais (contenção geotécnica, canalização de córregos etc.). (BRASIL, 2010, p.63)

novas

2 - Urbanização Complexa: realizado em

elaborações de categoria de intervenções,

assentamentos que possuem densidade de alto

estabelecendo

condicionantes,

grau, com aglomeração densa, com traçado

características e tipologias de intervenção

irregular, podendo ou não, demandar a

urbana, e definindo padrões norteadores para

realização de obras geotécnicas ou drenagem

embasarem as análises e intervenções nos

urbana, as quais determinam a realização de

assentamentos precários, e que constam no

remoções. (DENALDI, 2010; BRASIL, 2010)

material explicativo do MCID, como categorias

O MCID estabelece que os assentamentos que se

adotadas em âmbito nacional.

enquadrem em pelo menos três dos critérios a

Diante do exposto, essa autora descreve as

seguir, se enquadram nessa categoria:

Todavia,

Denaldi

(2010)

formulou

parâmetros,

quatro tipologias de intervenção passíveis de

média, traçado regular e sem demanda “[...] de

I - alta densidade de ocupação: edificações com mais de um pavimento, sem recuos laterais ou frontais; e/ou densidade populacional acima de 400 hab/hectare; II - traçado viário desordenado, com predominância de vielas de pedestres e/ou escadarias como forma predominante de acesso aos domicílios; III - presença significativa de moradias construídas com materiais permanentes (tijolos, blocos); IV - áreas de risco ou APPs/UCs que permitam urbanização, estabelecendo necessidade de obras especiais (contenção geotécnica, canalização de córregos etc.). (BRASIL, 2010, p.63)

obras complexas de infraestrutura urbana,

3 - Remanejamento: esse tipo de intervenção

consolidação

consiste na relocação temporária da população

utilização pelo poder público municipal para integração

urbana

assentamentos

e

precários,

consolidação sendo

elas,

dos a

urbanização simples, urbanização complexa, reassentamento e remanejamento. 1

-

Urbanização

Simples:

realizado

em

assentamentos que possuem densidade baixa ou

geotécnica

e

drenagem.”

(DENALDI, 2010, p.112)

ou parcela da mesma, para que ocorra a

O MCID estabelece os seguintes critérios para

substituição de solo, aterramento, ou a

classificação da intervenção nessa categoria:

substituição

de

moradias

precárias

com

materiais inadequados. Tal intervenção além de I - densidade de ocupação baixa (até 200 hab/hectare) ou média (entre 200 e 400 hab/hectare);

favorecer as melhorias descritas, abrangendo as intervenções urbanas descritas nas ações de


52

urbanização

complexa

elencados

pontes e redes de alta tensão; sobre gasodutos e oleodutos; em faixas de proteção de ferrovias e rodovias; sobre aterros sanitários, lixões ou outras áreas contaminadas não passíveis de recuperação; II - localização em Área de Preservação Permanente não passível de promoção de regularização fundiária de interesse social, nos termos da Lei nº 11.977/09; III - em imóvel público, a critério do Poder Público, nas hipóteses previstas no art. 5º da MP nº 2.220/200147; IV - em terreno de propriedade privada, quando não se confirmar o direito de posse dos moradores por meio de ação de usucapião e tampouco houver interesse na desapropriação, por parte do Poder Público. (BRASIL, 2010, p.62)

acima.

(DENALDI, 2010; BRASIL, 2010) O MCID descreve que esse tipo de intervenção corresponde: [...] à intervenção de remoção temporária e reconstrução das unidades habitacionais no mesmo terreno do assentamento, incluindo a urbanização deste. O principal critério para a classificação nessa categoria é: assentamento em terreno adequado para uso habitacional e moradias (predominantemente) improvisadas e construídas com materiais inadequados, tais como madeira velha, zinco, lata, papelão, sucata etc. (BRASIL, 2010, p.63)

Tanto Bueno (2000), quanto o Brasil (2010) e

Nesse contexto, orienta que a relocação também

Denaldi (2010) são unânimes em afirmar que os

pode ser empregada como opção à urbanização

diferentes tipos de intervenção urbanística

complexa,

municipal

podem ser aplicados em parcelas distintas no

levando em consideração a melhor alternativa

mesmo assentamento urbano, onde “[...] um

frente

mesmo assentamento, ou complexo, pode exigir

conforme

aos

avaliação

necessários

à

cada

tipo

de

intervenção. (BRASIL, 2010)

os quatro tipos de intervenção, correspondentes

4 - Reassentamento: essa tipologia compreende

a condições de partes deste assentamento ou

a remoção total da população residente em

complexo.” (DENALDI, 2010, p.113)

locais, cuja condições da área possuem restrições

Segundo a mesma autora, a urbanização dos

absolutas para uso residencial, desse modo o

assentamentos precários deve priorizar a

reassentamento terá de ser nas proximidades do

manutenção da totalidade da população ou a

local de origem, sempre que possível, por conta

maior parcela possível da mesma no local, e as

de relações sociais e de pertencimento, bem

intervenções devem proporciona a integração

como, utilização dos mesmos equipamentos

dos assentamentos precários implantando:

públicos de costume dos ocupantes. (BRASIL,

infraestrutura

2010)

melhoramento das vias; reparcelamento do solo

Assim

o

MCID

apresenta

os

seguintes

completa;

abertura

e

e execução de obras geotécnicas, quando

parâmetros para o reassentamento total ou

necessário;

parcial:

públicos,

instalação melhorias

de

equipamentos

habitacionais

e

a

regularização fundiária. (DENALDI, 2010; BRASIL, I terreno inadequado para uso habitacional, situado embaixo de viadutos,

2010)


53

O MCID acrescenta que a aplicação de diferentes

diretrizes projetuais para todo o assentamento

tipologias pode ser realizada em uma só etapa,

precário. (BRASIL, 2010)

ou de forma gradual e progressiva, e nesse caso, deve

haver

o

planejamento

prévio

da

intervenção global ou o estabelecimento de Tabela 2 - Síntese do Referencial Teórico Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Encontra-se abaixo uma tabela que sintetiza dos termos e abordagens de intervenções para integração de assentamento precários:


54

3.2

ESTRATÉGIAS

DE

realidades locais brasileiras, há a recomendação do Ministério das Cidades para adoção de

INTERVENÇÃO

critérios de análise da caracterização física O Ministério das Cidades estabeleceu critérios e

levando em consideração “[...] as condições do

estratégias de ação para orientar os municípios

terreno, moradia, traçado urbano e consolidação

na concepção do PLHIS, no que diz respeito à

do assentamento.” (DENALDI, 2010, p.108)

caracterização para priorização, planejamento e efetivação das intervenções de integração dos assentamentos contribuindo

precários assim,

para

à

cidade o

legal,

alcance

Quanto à Consolidação dos assentamentos precários Denaldi (2010) classifica em três tipos, sendo eles:

dos

parâmetros mínimos preconizados na Política

- Consolidados: são áreas que não necessitam de

Nacional de Habitação.

alteração na morfologia atual por apresentar uma integração urbanística e infraestrutura

As alternativas e estratégias de ação para promover a melhorias e assentamentos

precários,

integração dos passam

pelo

mapeamento e caracterização dos mesmos, segundo critérios metodológicos estabelecidos pelo

ministério,

os

quais determinam

a

priorização das intervenções, como questão

básica já instalada, no entanto, podem possuir carência nos serviços e equipamentos públicos, e podem não apresentam legalização advinda da regularização do local e necessitar de programas de aporte pós-ocupação com interface às demais políticas públicas (saúde, educação, renda, entre outros).

estratégica para a política de integração urbana dos assentamentos precários (BRASIL, 2010)

- Consolidáveis: são áreas que possibilitam recuperação

Para

a caracterização dos assentamentos

precários faz-se necessário analisar “[...] as características físicas, da legalidade fundiária e das intervenções físicas realizadas” para então tomar decisões à cerca do tipo de ação que será aplicada no local. (DENALDI, 2010, p.108) I) Características Físicas: Decorrente das peculiaridades apresentadas em diversos assentamentos precários quanto à precariedade e irregularidade, nas distintas

urbanística

e

ambiental,

proporcionando o reordenamento urbano com a adaptação ou abertura do sistema viário, colocação

de

infraestrutura

básica

e

regularização urbanística do parcelamento do solo. Assim essas ações podem acarretar ou não a remoção de algumas famílias do local, com o intuito de desadensamento para executar intervenções urbanas, por estarem em situações de risco ou embates legais à ocupação.


55

- Não consolidáveis: sem possibilidade de

beira de córregos e rios, nos manguezais, em

reordenamento urbano ou de recuperação

áreas de proteção de mananciais, ou as que

urbanística

estão sujeitas a risco geotécnico.

e

ambiental,

por

núcleos

deteriorados em decorrência de situações de risco e insalubridade impossível de sanar, cuja intervenção

passa

pela

remoção

e

reassentamento em novas áreas, são situações como assentamentos “sob aterro sanitário,

- Impróprio: onde o terreno apresenta risco de vida e contaminação e que não podem ser superados pela intervenção urbanística, com isso,

a

ocupação

fica

impedida

de

ser

consolidada.

oleoduto, viário estrutural da cidade, áreas de risco,

de

preservação

ambiental

e

non

As ocupações que se enquadram neste critério são

aedificandi.” (DENALDI, 2010, p.108)

localizadas

“[...]

sobre

gasodutos

e

oleodutos, faixas de proteção de ferrovias e Quanto aos Condicionantes do Terreno são considerados como:

rodovias, sobre aterros sanitários, lixões e outras áreas

contaminadas

não

passíveis

de

- Adequado: onde o terreno já é dotado de

recuperação e sob viadutos, pontes e redes de

infraestrutura, podendo apresentar uma certa

alta tensão.” (DENALDI, 2010, p.109)

integração urbanística, ou seja, a ocupação pode estar consolidada;

Destaca que podem acontecer das ocupações estarem localizadas em terrenos adequados ou

- Inadequado: onde o terreno necessita de

inadequados,

estudo específico para tomada de decisão se

consolidadas, no entanto, por necessidades de

pode o não ser consolidável, tal estudo necessita

obras de sistema viário nesses locais, os

levar

disponibilidade

assentamentos são passíveis de remoção, como

financeira do município, impacto econômico e

por exemplo, favelas localizadas no traçado do

social, e variáveis como disponibilidade de terra

Rodoanel da Região Metropolitana de São Paulo.

em relação aos custos “[...] das obras de

(DENALDI, 2010)

em

contenção

consideração

geotécnica,

a

saneamento

ou

infraestrutura e até mesmo o resultado de

mas

passiveis

de

serem

Com relação às Condicionantes de Moradia, podem ser, segundo a autora:

instrumentos como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) ou Termo de Ajustamento de

- Improvisadas: são as construções feitas com

Conduta (TAC).” (DENALDI, 2010, p.109)

materiais inapropriados, como restos de móveis, madeiras danificadas, latas, papelão, entre

Os terrenos que se enquadram neste critério, segundo a mesma autora, são os localizados na

outros.


56

- Recuperáveis: são construções feitas com

Esse aspecto da caracterização do conjunto de

matérias convencionais; podendo ou não terem

assentamentos precários deve ser considerado

banheiros, e neste caso, havendo local para sua

no diagnóstico para embasar e pautar as ações e

construção; possibilidade de expansão da

investimentos que serão feitos nos locais. É

moradia para atender à demanda de evolução

fundamental levantar dados no âmbito legal

familiar. (DENALDI, 2010)

relativos à “[...] propriedade da terra, situação de

Referente às Condições do Traçado Urbano, Denaldi (2010) descreve que os assentamentos precários

podem

apresentar

limitações

decorrente da morfologia e densidade das ocupações, sendo classificados nos seguintes tipos:

regularização de domínio das áreas públicas e particulares, legislação incidente, regularização da posse e estágio de regularização na Prefeitura e Cartório.” (DENALDI, 2010, p.110) III) Intervenções Físicas Realizadas Outro aspecto da caracterização do conjunto de

- Aglomerado: quando metade das moradias não

assentamentos

têm vias de acesso com condições de trafegar

considerado, são as intervenções públicas já

automóveis de médio porte, ou seja, as vias de

efetuadas anteriormente nos assentamentos

acesso são constituídas por viela estreita de

precários, objetivando sanar situações de risco,

traçado irregular.

promover

- Traçado regular: quando metade ou mais das

precários

saneamento

que

básico

deve

e

ser

resolver

questões de acessibilidade. (BRASIL, 2010)

moradias dos assentamentos apresentam acesso

Tal levantamento subsidia concomitantemente a

viário com traçado regular, com condição de

definição

tráfego para veículo motorizado de porte médio.

assentamento e a quantidade de recursos

Outro aspecto para análise das características físicas é a Infraestrutura Urbana desses locais. Esse condicionante se refere à análise das moradias estarem “[...] ligadas regularmente às redes públicas de água, esgoto e eletricidade,

do

nível

de

consolidação

do

necessários para propiciar a integração urbana. Em decorrência dessas informações levantadas, Denaldi (2010) e Brasil (2010) destacam seis categorias conforme nível das intervenções realizadas, sendo eles:

atendidas por serviços públicos de coleta de lixo

- Urbanizados: assentamento cujos serviços de

e com existência e funcionamento adequado de

urbanização

drenagem

totalmente executados:

pluvial

e

(DENALDI, 2010, p.110) II) Legalidade fundiária:

iluminação

pública.”

elencados

a

seguir,

foram


57

● reparcelamento do solo em termos de

- Com Intervenções Pontuais: assentamentos

definição dos lotes, do sistema viário, e

em áreas consolidadas ou consolidáveis, que já

áreas livres e institucionais;

foram realizadas uma ou mais intervenções,

● infraestrutura básica contendo coleta de esgotos por rede pública, ligações domiciliares de abastecimento de água oficial, e sistema de drenagem das águas pluviais instalado;

como

infraestrutura

e

drenagem,

obras

geotécnicas e do sistema viário. -

Sem

Intervenção:

assentamentos

sem

nenhuma intervenção de geotécnicas, de sistema viário, ou infraestrutura com exceção

● sistema viário ajustado, pavimentado e consolidado;

para rede de abastecimento de água ou reparos em redes de esgoto não oficiais, mesmo que os

● ligações domiciliares da rede de energia elétrica pela concessionária;

domicílios

se

utilizem

da

infraestrutura

circundante.

● obras de correção das situações de risco essenciais

para

a

consolidação

Podemos entender de uma forma geral as classificações do Ministério das cidades através

geotécnica.

da tabela a seguir: - Urbanizados Parcialmente: assentamento com parte da área urbanizada e já concluídos serviços de urbanização no setor, no entanto, o restante do

assentamento

não

possui

obras

de

urbanização em andamento. - Em Processo de Urbanização: assentamento com áreas onde os serviços de urbanização foram concluídos, e as demais áreas ainda estão com obras de urbanização em andamento. -

Em

Processo

de

Reassentamento:

assentamento em áreas não consolidáveis e em processo de realocação das famílias para outro local, mas ainda não estão concluídas as obras no novo local.


58

Tabela 3 - Síntese das Classificações do MCID Fonte: DENALDI, 2010; adaptado pela autora.

3.3

EXPERIÊNCIAS

DE

INTERVENÇÕES URBANAS

1 - Projeto Dique de Vila Gilda/SP: O assentamento localizava-se na Ilha de São Vicente, zona noroeste de Santos, do Estado de

Neste subcapítulo há a descrição de três

São Paulo (figura 8), e o Projeto Dique de Vila

experiências de intervenções urbanas exitosas

Gilda foi apresentado pela prefeitura em 2007. A

em assentamentos precários, que de alguma

área era de posse da União e definida como APP,

forma remetem às características locais da área

sendo habitada por aproximadamente 6 mil

de intervenção, ou serviram de inspiração, ou

famílias, conforme levantamento do programa

ainda, referência para as decisões projetuais

Habitar Brasil - BID, em colaboração com o

empregadas.

Governo Federal. (CRUZ, 2012)


59

A proposta de urbanização e regularização do Dique Vila Gilda envolvia 4.056 residências, das quais 2.402 unidades habitacionais seriam realocadas

em

outra

área

e

1.654

permaneceriam no local. (CRUZ, 2012)

Figura 8 - Localização do Dique Vila Gilda Fonte: FABIANO; MUNIZ, 2010.

O assentamento precário era parcialmente consolidável por situar-se em área de manguezal, no limite dos municípios de Santos e São Vicente. As

residências

predominantes

eram

Figura 9 - Situação Anterior a Intervenção Fonte: https://www.flickr.com/photos/stefanlambauer/5259118 95

improvisadas em palafitas (figura 9), o terreno

Com o intuito de proporcionar habitabilidade,

era inadequado e o traçado urbano com

qualidade de vida e sustentabilidade à área, o

aglomerado de alta densidade. Apresentava

projeto

graves problemas de insalubridade e ausência de

urbanística de pátios internos com a tipologia

saneamento, infraestrutura urbana e espaços de

habitacional de casas sobrepostas. (GOMES;

lazer, ao mesmo tempo que se constituía como

GHOUBAR, 2008)

fator agressor ao ecossistema do local. (GOMES;

Segundo as mesmas autoras, a criação de pátios

GHOUBAR, 2008)

internos (figura 10) foi a solução para a

O perfil dos moradores era predominantemente

necessidade

migrantes pernambucanos e seus descendentes

qualificando e ressignificando as áreas de

- com forte vínculo com à cultura nordestina –

encontro das vielas e largos da ocupação, assim

que desenvolviam trabalhos informais ou

como induzindo locais de comércio para

ocupações sazonais nas cidades nas duas cidades

estimular a economia local.

limítrofes, com renda de até 1 salário mínimo. (GOMES; GHOUBAR, 2008)

propôs

de

associação

espaços

de

da

tipologia

convivência,


60

Figura 10 - Vielas X Novos Espaços de Convivência Fonte: GOMES; GHOUBAR, 2008.

A proposta projetual (figura 11) contemplou uma via beira-rio com o intuito de impedir a reocupação nas margens do Rio dos Bugres, se constituindo como barreia física, que foi construída de forma gradativa a partir da remoção das palafitas (figura 12). (GOMES; GHOUBAR, 2008) Segundo as autoras, esse elemento não só objetiva ser limitador de novas invasões, mas também,

de

valorização

urbanística

pela

abertura de visuais para o rio, se tornando meio de integração da proposta aos eixos da malha viária existente no assentamento. Desta forma, serve como um importante instrumento de preservação do meio ambiente e local com visual aprazível e integrado à cidade forma


61

Figura 11 - Proposta de Intervenção Dique Vila Gilda Fonte: GOMES; GHOUBAR, 2008; adaptado pela autora.


62

Figura 12 - Ações Realizadas no Local Fonte: FABIANO; MUNIZ, 2010; adaptado pela autora.


63

2 - Projeto Alto de Bomba/Cabo Verde O assentamento precário chamado Alto de Bomba (figura 13), localiza-se no bairro de Monte Sossego na cidade Mindelo, principal centro urbano da Ilha de São Vicente, no arquipélago que integra a República de Cabo Verde.

novembro

de

2019,

tendo

da área e da população, bem como, traçar o plano de intervenção no local, foi instituída uma equipe composta de três arquitetos, oito estagiários de arquitetura do referido instituto e um profissional com estagiários de jornalismo para registrar com fotos e vídeos todo o

A primeira fase de execução das obras foi iniciada em

Para realizar o levantamento das características

processo, conforme figura 14. (FLORES, 2019)

poucas

intervenções finalizadas. É um projeto que está em

desenvolvimento

pelo

Ministério

das

Infraestruturas, Ordenamento do Território e Habitação em parceria com a Câmara Municipal de São Vicente para implantação do Programa de Requalificação, Reabilitação e Acessibilidades – PRRA. (CABO VERDE, 2019)

Figura 13 - Assentamento Precário em Alto de Bomba Fonte: https://www.instagram.com/p/B42ZEOQhq7L/

O projeto é coordenado pelo grupo OUTROS BAIRROS - atua em áreas informais de Cabo Verde – que convidou o arquiteto brasileiro Manoel Ribeiro e o Instituto Universitário de Arte, Tecnologia para compor a equipe. (FLORES, 2019; BARATTO,2019)

Figura 14 - Processo de Levantamento da Área Fonte: FLORES, 2019.

O objetivo da intervenção, segundo o mesmo autor é requalificar a área de acordo com as características do local, levantando questões


64

relativas à vida e costumes, e às condições

infraestrutura e acessibilidade, e o tratamento

orográficas da área, os níveis de pluviosidade

pontual, que oferece espaços públicos com

altos e concentração de residências em margens

equipamentos

de rios, que juntas contribuíram para nortear as

sociabilização da comunidade, objetivando a

estratégias gerais e decisões projetuais de

interligação da área com a cidade formal, ficando

intervenção para garantir equidade territorial.

definido o plano de intervenção abaixo:

Segundo Flores (2019), foram propostas duas formas de tratamento do território, sendo ela estruturante, baseada na implantação de

Figura 15 - Plano de Intervenção Fonte: FLORES, 2019.

que

promovessem

a


65

O saneamento básico foi projetado por toda a área, assim como a distribuição de energia elétrica nas ruas e residências, e a implantação de iluminação pública em todo o assentamento precário. (FLORES, 2019) Também incluem intervenções de melhoria na drenagem pluvial para reduzir a velocidade de descida das águas com a construção de escadarias drenantes; e a distribuição múltipla da rede pluvial integrando à existente na cidade, colocando um ramal para o abastecimento da água. (FLORES, 2019) Segundo o mesmo autor, as propostas projetuais estruturantes incluem o sistema viário, sendo pensado

para

evitar

o

fenômeno

de

gentrificação, logo a modificação das vias foi pautada no acesso existente, já as ruas pedonais foram melhoradas a fim de proporcionar a mobilidade dos pedestres com caminhos de dimensão variáveis entre 1,20 m e 1,50 m, conforme observado nas figuras 16, 17 e 18.

Figura 16 - Processo de Melhoria das Vias e Ruas Pedonais Fonte: https://www.instagram.com/p/B0BpPQ0Bhat/ e https://www.instagram.com/p/B0OIXagBxXN/


66

Figura 19 - Participação dos Ocupantes na Construção das Escadarias Fonte: https://www.instagram.com/p/B7a1nRUB04V/ Figura 17 - Construção dos Novos Acessos Fonte: https://www.instagram.com/p/B7S-BoohLGp/

Figura 20 - Participação dos Ocupantes nas Construções Fonte: https://www.instagram.com/p/B6Nw8sOhoCM/ Figura 18 - Conclusão dos Novos Acessos Fonte: https://www.instagram.com/p/CAIxTeIjLoi/

Com relação ao tratamento pontual, o intuito foi

Um dos eixos da proposta é a integração dos

incentivar a cultura e potencializar novas

moradores com as ações e decisões de

interações, isso se deu através da ação

intervenção,

da

participativa da população em reuniões onde a

contratação de moradores desempregados

equipe mostrava os mapas e croquis das

(figura 19 e 20), contribuindo por um lado para

propostas

garantir a melhoria da renda familiar, e por

definição dos locais de implantação dos

outro, a manutenção do espaço no pós-

equipamentos e espaços públicos junto dos

ocupação,

ocupantes (figura 22) conforme as necessidades

adotou-se

promovendo

a

o

estratégia

sentimento

de

pertencimento necessário para a preservação dos equipamentos e espaços públicos. (FLORES, 2019)

(figura

21),

proporcionando

dos mesmos. (FLORES, 2019)

a


67

Figura 21 - Explicação da Intervenção para os Moradores Fonte: FLORES, 2019.

Figura 23 - Proposta dos Espaços Públicos Fonte: FLORES, 2019; adaptado pela autora.

A seguir estão dispostas perspectivas dessas áreas de lazer e dos novos acessos que foram elaborados para o melhor entendimento da população:

Figura 22 - Reuniões Semanais com os Moradores Fonte: https://www.instagram.com/p/B8y9qjiB5wa/

Após a discussão das propostas com a população, os locais de implantação dos equipamentos e espaços

públicos

ficaram

demonstrados na figura 23.

definidos

como

Figura 24 - Perspectiva da Integração dos Acessos aos Espaços Públicos Fonte: https://www.instagram.com/p/By2EdJnh4m5/


68

Figura 25 - Perspectiva da Quadra de Mini Basquete Fonte: FLORES, 2019.

Figura 27 - Reunião Comunitária no Espaço de Jogos Fonte: https://www.instagram.com/p/B9on0mIhp9F/

Flores (2019) ressalta que a primeira área de convivência requalificada se refere a um espaço de lazer para jovens com mini basquete e os outros serão destinados a área de jogos de carta e uril - jogo tradicional de Cabo Verde - e a requalificação das ruas que fazem a interligação desses espaços, conforme a sequência de fotos a seguir que mostram como estão esses espaços no momento.

Figura 28 - Requalificação dos Percursos Interligando os Espaços de Lazer Fonte: https://www.instagram.com/p/B9J-9-eBdAj/

Figura 26 - Conclusão do Espaço de Mini Basquete Fonte: https://www.instagram.com/p/B61QdTbh-aI/


69

3

Projeto

em

Moravia

Medellín/Colômbia

O Rio Medellín foi eixo estruturante para a urbanização no referido vale, pois determinou o desenvolvimento da região, porém as altas

Está localizada na região Metropolitana do Vale do Aburrá na Colômbia, sendo constituída por dez municípios: Medellín como núcleo central, Caldas, La Estrella, Itagüí, Sabaneta, Envigado,

precipitações de águas por características da geologia local, trazem intercorrências como deslizamentos e inundações na cidade. (GUERRA, 2016)

Bello, Copacabana, Girardota e Barbosa (figura 29). (GUERRA, 2016)

Figura 29 - Localização de Medellín no Vale de Aburrá Fonte: GUERRA, 2016.

Medellín se tornou exemplo mundial de

lazer, social, ambiental e econômica. (GUTIÉRREZ

urbanismo com intervenções em toda a extensão

TAMAYO, 2014)

da cidade, além de projetos em infraestrutura urbana, foram executadas diversas ações que abrangeram a esfera da cultura, transporte,

A cidade como um todo se tornou área de intervenção em decorrência de toda uma conjuntura de pobreza e violência, havendo


70

assim, necessidade de enfrentamento das

desenvolvimento do mundo, o Lee Kuan Yew

questões sociais e culturais com propostas

World City Prize. (SÁENZ, 2016)

projetuais de ampla magnitude e abrangência. (GUTIÉRREZ TAMAYO, 2014)

Do universo de intervenções realizadas em Medellín, o assentamento precário conhecido

Diversos bairros foram contemplados com

como Moravia apresentou um processo de

Parques Biblioteca, outros tipos de parques,

ocupação espontâneo significativo por situar-se

investimento na integração do transporte

no antigo lixão da região, acarretando assim

público como a expansão da linha de metro,

inúmeras formas de uso e ocupação espacial.

sistema de teleférico, VLP, estações de ônibus,

(GUERRA, 2016)

escada

rolante

em

uma

comunidade,

implantação de corredores verdes amenizando a poluição da cidade, entre outras, e fizeram com que Medellín ganhasse o prêmio internacional mais

importante

de

urbanismo

e

Segundo a mesma autora, Moravia localiza-se na região administrativa nº 4 (figura 30), chamada Aranjuez, composta por cinco bairros: El Bosque, Moravia, El Morro, El Oasis Tropical e La Herradura, e situa-se a dois quilômetros do centro da cidade.

Figura 30 - Região Administrativa e o Bairro Moravia Fonte: GUERRA, 2016.


71

Além

de

estar

importantes

Em 1977, a área foi declarada de uso público para

equipamentos públicos como: estação El Bosque,

implantação de um parque, no entanto o

Bosque da Independência, Hospital São Vicente

prefeito as destinou provisoriamente para

de Paula, Clínica do Seguro Social, Cemitério de

depósito de lixo da cidade, prometendo ser uma

São

alternativa.

Pedro

e

Universidade

próximo

a de

cidade

de

universitária

Antioquia.

da

(GUTIÉRREZ

TAMAYO, 2014)

Tal decisão acarretou ao longo das décadas a formação de uma montanha de lixo (figura 31),

Ainda segundo o mesmo, o maior movimento de

tornando-se um local de trabalho e moradia de

ocupação da área ocorreu em meio à violência no

diversas famílias envolvidas na atividade coleta

campo fruto de conflito armado da Guerrilha,

de lixo como única alternativa para o sustento

paramilitares e forças armadas, pelo controle do

familiar. (GUERRA, 2016)

território e a relação com o narcotráfico. Concomitantemente

se

desenvolveu

a

industrialização têxtil na cidade. Tais fatores foram determinantes para a pluralidade cultural, intensa organização social e pela vertiginosa transformação espacial que facilitou a diversidade da economia local. (GUERRA, 2016)

Figura 31 - Processo de Transformação do Assentamento Precário Fonte: GUTIÉRREZ TAMAYO, 2014.


72

A ocupação total da área do lixão e seu entorno,

arruamento. Esse contexto propiciou o baixo

culminou na consolidação desse local, que, por

índice de desenvolvimento humano, agravado

se tratar de um solo com concentração de gás

pelos conflitos armados e sociais. (GUTIÉRREZ

metano oriundo da decomposição do lixo, e a

TAMAYO, 2014)

topografia propiciar inundações e deslizamentos de terras, a área se caracterizava por ser de risco ambiental e físico aos moradores (figura 32 e 33). (GUERRA, 2016)

Tais

fatores

propiciaram

o

crescimento

vertiginoso dos índices de violência, insegurança, tráfico e consumo de drogas, a ponto de afetar as adjacências de Moravia e causar o total abandono do bosque e da estação, agravando assim as questões de mobilidade e ausência de serviços

e

espaços

públicos.

(GUTIÉRREZ

TAMAYO, 2014) Segundo o autor, por se tratar de um setor estratégico e predominar a informalidade, a prefeitura necessitou implantar intervenções Figura 32 - Condição das Moradias no Morro de Lixo Fonte: GUERRA, 2016.

urbanísticas de grande porte para reverter a situação da área e adjacência. Foram executados dois planos de ação, sendo eles: o Programa de Melhoramento Integral do Moravia (1983-1986) e o Plano Parcial de Melhoramento Integral do Moravia (2004 – 2011). A primeira intervenção em Moravia foi como o objetivo de integrar o bairro e os moradores à cidade acabando com o aterro sanitário e restaurando o ambiente natural no local;

Figura 33 - Processo de Consolidação do Assentamento Precário Fonte: GUERRA, 2016.

Outros

agravantes

existentes

eram

realocando na periferia da cidade das famílias em áreas de risco; requalificando as edificações a

precariedade das habitações pelo uso de materiais impróprios coletados do local; a falta de infraestrutura e de saneamento básico; a inexistência de equipamentos públicos e de

mantidas; implantando equipamentos públicos; melhorando a malha viária, efetuando a regularização

fundiária;

qualificando

profissionalmente os moradores e instituindo


73

organismos sociais de mediação de conflitos sociais e familiares(GUTIÉRREZ TAMAYO,2014) Os dezoitos anos que decorreram entre o

famílias, com o fomento de microempresas;

Programa de Melhoramento Integral e o Plano

solução dos problemas de posse e propriedade

Parcial de Melhoramento Integral do Moravia

da terra.

foram marcados por abandono do setor público por entraves políticos. (GUERRA, 2016)

Gutiérrez Tamayo (2014) afirma que para além da implantação de infraestrutura, serviços

Em 2004, a população era superior aos 45.000

públicos e outras medidas estruturantes, dois

habitantes, numa área de 42 hectares, instaladas

aspectos se revelaram como pontos fortes da

7 mil habitações que abrigavam 13 mil famílias.

intervenção: como a presença e organização da

Tais dados revelam elevadíssima densidade

comunidade

populacional - 1.000 habitantes por hectare -

reorganização urbana, contribuindo para que

tendo reflexos na precariedade das habitações e

essa fosse compatível com as características

das condições espaciais do bairro. Sendo

locais; e o processo de reconhecimento pelo

considerada a maior aglomeração populacional

poder público do direito à moradia e à integração

da cidade de Medellín e do país, até o momento

do assentamento precário à cidade.

de sua pesquisa. (Guerra, 2016) A

segunda

intervenção

no

processo

de

gestão

e

As ações nas adjacências de Moravia, possuíram assentamento

o intuito de restaurar a centralidade urbana do El

avançou sobre a reorganização urbanística com

Bosque, através da paisagem, dos equipamentos

adequação

saneamento

públicos e da intervenção urbanística, com a

básico, coleta de lixo e canalização de riachos e

implantação de espaços destinados à ciência e

córregos;

de

tecnologia, como o Parque Explora; Parque Norte

quarteirão e bloco de casas; abertura de novas

e dos Deseos; a mudança do Bosque da

vias com pavimentação e arborização das

Independência pelo Jardim Botânico; o Passeio

existentes. (GUTIÉRREZ TAMAYO, 2014)

Carabobo; reabilitação do metrô e as estações

de

no

infraestrutura,

organização

da

morfologia

Segundo o mesmo autor, também avançou na requalificação

dos

equipamentos

Universidade e Caribe.

sociais

O autor destaca que tais elementos foram de

existentes e ampliação dos serviços sociais para

grande importância não apenas na “[...]

consultoria jurídica e arquitetônica, centro de

relevância científica, magnitude, arquitetura da

capacitação, espaços recreativos, entre outros;

construção e transformação urbanística, mas

valorização do comércio e produção local das

também pelas transformações sociais, culturais e


74

territoriais geradas por ele no seu entorno e no

coral – contando com tanques de água doce e do

bairro Moravia.” (GUTIÉRREZ TAMAYO, 2014, p.

mar, sendo considerado o mais relevante projeto

9)

de difusão e promoção científica e tecnológica da

O Parque Explora foi projetado pelo arquiteto

cidade de Medellín. (PARQUE EXPLORA, 2017)

Alejandro Echeverri, possui 22 mil metros

Com relação aos eixos de intervenção social

quadrados de área interna e 15 mil de locais

pode-se destacar as oficinas de alfabetização

públicos em seu entorno, a construção começou

digital, com o intuito de aproximar a tecnologia,

em 2005 e findou em 2007 com sua abertura em

suas ferramentas e formas de usar para que

dezembro do mesmo ano (figura 34). (PARQUE

ocorra

EXPLORA, 2017)

comunicação. (PARQUE EXPLORA, 2017)

a disseminação

da

informação e

Como também, o desenvolvimento de oficinas de teatro, tecelagem, música e pintura, avançando no âmbito da ciência e biodiversidade que possibilitaram a criação de redes de trabalho organizado,

instituindo

comunicação

comunitária

programas e

de

formando

multiplicadores sociais e comunitários. (PARQUE EXPLORA, 2017) Localiza-se no centro urbano de El Bosque, parte baixa da Comuna 4, sendo um complexo interativo que proporciona o acesso e a apropriação da ciência e tecnologia. Além de integrar-se a uma grande renovação urbana e social, juntamente com a intervenção Passeio da estrada Carabobo, o Centro Cultural Moravia, o Figura 34 - Parque Explora Fonte: PARQUE EXPLORA, 2017.

Jardim Botânico, o Parque de los Deseos, entre outros. (GUTIÉRREZ TAMAYO, 2014)

O parque possui estúdio de televisão, sala infantil, espaços de experimentação interativa,

Tais

elementos

fizeram

com

que

fosse

sala de exposições temporárias e projeções em

reconhecida a dignidade dos espaços como

3D, aquário com a recriação de dois ecossistemas

forma de geração de estímulos que provocam a

em risco - o bosque úmido tropical e os recifes de

disseminação da ciência e tecnologia, em


75

decorrência da criação de ambientes interativos

cidade como um todo, ou seja, um assentamento

e exibições disseminam a cultura cientifica e

precário deteriorado e perigoso, à um lugar

proporcionar

convidativo,

mudanças

na

sociedade.

(GUTIÉRREZ TAMAYO, 2014)

relevância desses elementos arquitetônicos, paisagísticos e a magnitude da intervenção houve

o

reconhecimento

de

desenvolvimento

científico e tecnológico, “[...] constituem na

O autor enfatiza que em decorrência da

urbanística,

turístico,

da

verdade em transformações territoriais, físicas e humanas, dirigidas à construção e produção coletiva da cidade, com influência direta na população.” (GUTIÉRREZ TAMAYO, 2014, p. 12)

importância desse processo de transformação

Os

urbana e social, através da premiação Lápiz de

possuem características relevantes que são

Acero Azul-Hunter Douglas, em 2009.

compatíveis com os conceitos, tipologias de

Em síntese, os aspectos gerais referentes ao complexo interativo e as intervenções urbanas em Moravia transformaram urbanisticamente o bairro, seu entorno e com impacto positivo na

referenciais

projetuais

intervenção, possíveis

demonstrados

estratégias e

eixos

norteadores que podem inspirar as propostas do ensaio projetual produzido a partir dessa pesquisa, conforme tabela síntese a seguir:


76

Tabela 4 - Contribuiçþes dos Referenciais Projetuais Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


77


78

4. DIAGNÓSTICO O processo de desenvolvimento urbano do município de Vila Velha e do Bairro de Santa Rita segui

o

algumas

contexto

nacional,

peculiaridades

apresentando

locais

que

serão

descritas nos respectivos subtópicos. Também nesse capítulo será apresentada e analisada da área de estudo utilizando-se de fotografias e mapas, para demonstrar as relações espaciais, fatores ambientais a utilização do espaço

pelos

moradores.

proporcionam

o

potencialidades

e

Tais

análises

levantamento vulnerabilidades

de e

são

basilares para fundamentar a proposta projetual do capítulo posterior a este.

4.1

HISTÓRICO

DA

URBANIZAÇÃO NO MUNICÍPIO O Município de Vila Velha localiza-se no estado do Espírito Santo, da República Federativa do Brasil (figura 35), foi fundado em 1535, como sede da Capitania do Espírito Santo. Como a sua topografia expunha os moradores a constantes ataques indígenas, teve a sede administrativa e moradia da população civil deslocados, em 1549, para uma ilha que atualmente (AZEVEDO,1992; MATTOS, 2011)

é

denominada CAMPOS

JUNIOR,

Vitória. 2002;

Figura 35 - Localização do Estado e do Município de Vila Velha Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

O abandono da antiga vila, ao longo dos séculos, deu origem a atual denominação do município. Tal fato foi demonstrado por Santos (2018) que revelou a existência de duas vilas no século XVI e apenas

uma

no

século

seguinte,

e

complementada por Mattos (2011) que registra


79

a elevação da Vila de Vitória à condição de cidade

existentes à época. Assim, desenvolveram-se os

apenas em 1823.

bairros: São Torquato, Argolas, Paul, Ilha das

A cafeicultura é introduzida no estado em meados do século XIX e predominou como

Flores, Vila Batista, Vila Garrido, Aribiri e Ataíde. (AZEVEDO,1992)

atividade econômica até meados do XX, sendo

No final de 1950, ocorreu a construção da

responsável pelo primeiro fluxo migratório ao

Rodovia Carlos Lindemberg, impulsionando

sul, por fazendeiros e seus escravos do Rio de

ainda mais o desenvolvimento da cidade para a

Janeiro

pelos

parte central do município, e dando condições

nordestinos ao norte e posteriormente os

para a distribuição espacial da ocupação do solo.

europeus que povoaram as zonas serrana central

Nesse período, a topografia alagadiça era um

e ao norte. (MATTOS, 2011)

fator impeditivo do desenvolvimento urbano,

e

Minas

Gerais,

seguido

Até o século XX, Vila Velha era totalmente dependente de Vitória e a malha urbana amargou um abandono até os anos de 1930, quando ocorreu a migração de camponeses,

que até então, se limitava às áreas com solo em melhores

condições

de

instalação

de

infraestrutura urbana. (AZEVEDO,1992; GARCIA, 2013)

facilitando a povoação através da primeira

Nessa época o conjunto Residencial Alda Santos

ligação física entre o município e a Ilha do

Neves,

Príncipe, pela Ponte Florentino Ávidos (cinco

implantado à margem da referida rodovia, cuja

pontes) entregue em 1928. (AZEVEDO,1992;

área não integrava a malha urbana de Vila Velha,

MATTOS, 2011)

propiciando

Os mesmos autores destacam que, nos anos que se seguiram, houve a instalação da linha de bonde pelo extremo norte do município, fazendo o acesso de pessoas à região central do mesmo, o qual se utilizou de parte do trajeto da Estrada

atualmente

desenvolvimento

foi

de

assentamentos precários no entorno projetado. Também à margem sul da rodovia possibilitou o surgimento de novos bairros como Cobilândia e Santa Inês, assim como, propiciou a expansão dos bairros da Glória e Praia da Costa, podendo

GARCIA, 2013) Tais intervenções públicas urbanas propiciaram, por um lado, o fortalecimento de bairros localizados nas imediações norte do município, e outro,

IBES,

ser observado na figura 36. (DUARTE, 2010;

Velha.

por

o

denominado

a

ocorrência

dos

primeiros

assentamentos precários nas imediações das vias


80

Figura 36 - Crescimento da Malha Urbana em 1968 Fonte: GARCIA, 2013, adaptado pela autora.

No final dos anos de 1960 e início dos anos de

indústrias instaladas no estado, e com isso,

1970, a Região Metropolitana da Grande Vitória

atraindo grandes fluxos migratórios e havendo

- RMGV vivenciou um crescimento explosivo na

uma inversão da concentração populacional do

malha

campo para as cidades (figura 37). (IJSN, 1979;

urbana

e

intenso

processo

de

industrialização por concentrar a maior parte das

idem, 1994; MATTOS,2011; GARCIA, 2013;)


81

imobiliária em relação às outras localidades e a caracterização de Vila Velha como “município dormitório” (grifo nosso). (DUARTE, 2010; AZEVEDO,1992; MATTOS, 2011; GARCIA, 2013) Ainda na década de 1970, registraram-se alguns investimentos públicos em infraestrutura viária Figura 37 - Evolução da População Urbana e Rural no ES Fonte: IBGE; Elaboração: Lira, 2014.

como a Ponte do Príncipe em 1979, que facilitaram o processo migratório de outros

Tal fato se explica pela crise econômica estadual

estados e do interior para Vila Velha, vindo a

deflagrada, por um lado, pela supersafra na

contribuir

cafeicultura, e por outro, por sofrer a maior

assentamentos precários no município, em

intervenção

termos de densidade e incidência espacial. (IJSN,

de

erradicação

de

cafezais

antieconômicos do país, em termos percentuais,

para

a

concentração

de

1994)

em relação aos demais estados brasileiros. (MATTOS, 2011; CAMPOS JÚNIOR, 2002)

É a partir desse período o município começa a desenvolver sua vocação portuária, e assim, põe

Na

ocasião, Vila Velha passou por um

fim à cultura de abandono e relação de total

desenvolvimento urbanístico e transformações

dependência da capital, mesmo assim, seu

espaciais nunca experimentado, iniciando um

desenvolvimento econômico não foi suficiente

movimento de assentamentos precários em

para dar conta das demandas da política urbana

áreas periféricas alagáveis e morros, decorrendo

e habitacional. (LORENA et al.,2016)

sérios problemas de infraestrutura e os causados por níveis altos de pluviosidade concomitantes com os das marés. (DUARTE, 2010)

Nessa mesma década, em termos populacionais Vila Velha apresentou quantitativo próximo ao da capital, e a partir dos anos de 1990 se torna o

A grande massa de camponeses que migraram

município com maior densidade no estado

em busca de trabalho na capital - que por ser

(figura 38). Nas duas décadas seguintes, registra

uma ilha – esbarraram com a limitação de ofertas

um acrescimento de sua população na ordem de

de moradia em Vitória e pela acessibilidade

56%, representando um aumento perto de 150

viária, fixaram domicílio em Vila Velha. Tal

mil habitantes. (VILA VELHA, 2015)

fenômeno

ocasionou

a

supervalorização


82

Figura 38 - Evolução da População na RMGV Fonte: VILA VELHA, 2015.

A malha viária instalada no município foi feita

precários em seu entorno, fato registrado pelo

para dar aporte ao escoamento da produção

IJSN (1994) em estudo sobre a manifestação do

industrial pela expansão do Porto de Capuaba,

fenômeno em Vila Velha, até os anos de 1990,

favorecendo a incidência de assentamentos

como demonstrado na tabela a seguir.

Tabela 5 - Relação de Proximidade das Ocupações aos Eixos Viários Fonte: IJSN, 1994; adaptado pela autora.


83

Por consequência da valorização litorânea, nos

conjuntos habitacionais melhoraram, por um

anos 70, surgiram conjuntos habitacionais

lado, a oferta de moradia e as condições de

populares produzidos pela Companhia de

habitabilidade em toda a malha urbana, mas por

Habitação e Urbanização do Espírito Santo -

outro, favoreceu a especulação imobiliária que

COHAB-ES

gerou supervalorização do solo. (DUARTE, 2010)

e

Instituto

de

Orientação

às

cooperativas Habitacionais do Espírito Santo INOCOOP-ES em regiões de baixa valorização imobiliária,

decorrente

de

condições

fisiográficas, da ausência de infraestrutura e distância do centro urbano. (DUARTE, 2010)

A

supervalorização

da

terra

associada

inexistência de política habitacional voltada para o interesse social, impossibilitou o acesso à moradia pelas famílias de baixa renda. Tal fatos foram agravados pela conjuntura de grave

Nos anos de 1980 observou-se um aumento

recessão

considerável de loteamentos aprovados junto à

hiperinflação, levando essas famílias a disporem

PMVV, principalmente na faixa litorânea, situada

de uma única opção, a de ocupar áreas

mais ao lado leste do município, havendo uma

inabitadas em solo alagado ou encostas dos

valorização fundiária dessa região. (LORENA et

morros do município. (IJSN, 1994; DUARTE, 2010)

al., 2016)

econômica,

desemprego

e

Segundo o IJSN (1994), a dinâmica e volume de

Esses fatores propiciaram o surgimento dos

assentamentos precários foram mais intensas no

bairros

Jardim

início dos anos de 1980, quando apresentou

Colorado, Novo México, Araçás, Ilha dos Bentos,

43,4% do total das ocupações registradas até a

entre outros. Segundo a mesma autora, esses

décadas dos anos de 1990 (tabela 6).

periféricos

que

incluíam:

Tabela 6 - Ocorrência das Ocupações por Décadas Fonte: IJSN, 1994; adaptado pela autora.

Em janeiro de 1983, ocorreu uma tentativa de

aproximadamente no local do presente ensaio

formação de assentamento precário em área

projetual - e encostas dos morros dos bairros

alagável

adjacentes – Ataíde e Zumbi dos Palmares –

no

Bairros

de

Santa

Rita


84

porém,

aproximadamente

600

famílias

ocupantes foram retirados de forma coercitiva pela polícia, em cumprimento de medida judicial de reintegração de posse. (AZEVEDO, 1992)

aguardavam local adequado para residirem. (AZEVEDO, 1992) Essas famílias e mais um contingente de duas mil e quinhentas, oriundas das demais localidades

Metade das famílias removidas se estabeleceram

do município formaram o Movimento de

na parte insular do manguezal no Rio Aribiri no

Moradia de Vila Velha, todas registradas em

Bairro Santa Rita, que teve sua extensão

cadastro da líder do movimento - a Sra. Maria

territorial ampliada para parte insular até

Clara - por estavam passando pelas mesmas

meados dos nãos de 1990, quando sofreu

situações econômicas com carência de moradia.

intervenção de urbanização e a ilha passou a

(AZEVEDO, 1992)

compor o novo bairro denominado Primeiro de Maio (IJSN,1983; AZEVEDO, 1992)

Ao longo dessa década, esse movimento social foi responsável pela negociação junto à PMVV e

A outra porção das famílias removidas continuou

ao governo do Estado por intervenções de

ocupando áreas de manguezal na extremidade

urbanização1 e doação de áreas devolutas do

do

estado, dando origem aos Bairros de 1º de Maio

Bairro

Aribiri,

intervenção

policial

havendo por

novamente

cumprimento

de

(parte insular do manguezal de Santa Rita), Ilha

reintegração de posse. Desta vez os donos da

dos Aires, Vila Dom João Batista, Santa Clara, e

porção de terra alagável, integrantes da Família

região de Terra Vermelha. (AZEVEDO, 1992)

Vereza, condicionaram a doação do local às famílias, mediante realização de intervenção urbanística adequada pela PMVV (AZEVEDO, 1992; SECRETA, 1983; NUNES, 1983)

Nos anos de 1990 o destaque para a intervenção urbana em Vila Velha se deu pela entrega da maior obra de infraestrutura do Estado, a Ponte Deputado

Darcy

Castello

de

Mendonça

Em fevereiro do mesmo ano, foram entregues 46

popularmente denominada de Terceira Ponte,

lotes urbanizados no local, que passou a ser

que possibilitou o acesso de Vitória ao litoral sul

chamado de Bairro D. João Batista, gerando uma

do estado. (LORENA et al., 2016)

defasagem de lotes em relação as duzentos e cinquenta e quatro famílias que estavam alojadas na Igreja Católica de Aribiri e ainda

1 Um dos

estudos do Governo Estado para urbanização de assentamentos precários foi o realizado em 1983 para o Bairro Santa Rita, e que anos depois de sua elaboração, foi

As recentes melhorias de acesso a este município, através da Terceira Ponte, e a existência de vias rodoviárias, como a Darly

implementado uma das alternativas proposta de urbanização da parte insular do bairro, se desvinculando do mesmo e dando origem ao Bairro Primeiro de Maio.


85

Santos e Rodovia do Sol, propiciou a expansão

isso, “[...] naturalmente esse tipo de território

das áreas nobres do município e da orla até as

não é compatível com o desenvolvimento e

margens norte do Rio Jucu, e o aumento do

implantação de atividades urbanas.” (GARCIA,

movimento migratório de famílias de baixa renda

2013, p.95 e 96).

para a margem sul do referido rio, acarretando um desenvolvimento vultuoso dessa região. Tendência que se mantem até os dias atuais. (IJSN, 1994; GARCIA, 2013) Garcia (2013) acrescenta que foi nesta época que o município registrou o seu maior crescimento linear

territorial,

porém

mantendo

sua

característica de adensamento populacional. Tal fato que pode ser observado através da figura 39, que demonstra a alterações morfológicas e o deslocamento populacional de Vila Velha, ao longo das décadas. Esse fenômeno se justifica pela topografia do município,

que

é

constituída

predominantemente por baixadas alagadiças e cerca de 98,63% de suas áreas possuírem declividade abaixo de 30% em relação ao nível do mar, que ao longo dos anos sedimentaram depósitos aluviais das bacias dos Rios Jucu e Santa Maria da Vitória. (LORENA et al, 2016)

Figura 39 - Mapa Esquemático da Expansão Urbana de 1970 a 2010 Fonte: GARCIA, 2013, p.82; adaptado pela autora.

Apesar dos desafios topográficos, o município Em um estudo sobre a topografia do município,

superou os demais da RMGV em densidade

foi constatado que a maior parte do território é

populacional,

composto por áreas ambientalmente frágeis

aprimoramento dos métodos de ocupação

descrevendo “[...] tratar-se de uma região

urbana, e por outro, as limitações para lidar com

complexa onde existem solos encharcados, áreas

os grandes volumes pluviais, principalmente nos

alagáveis, fauna e flora típica de áreas litorâneas;

níveis mais altos das marés (GARCIA, 2013)

afloramentos rochosos e nascentes [...]” e por

revelando

por

um

lado

o


86

Conclui-se

que

os

é subdividida em Norte e Sul por apresentar

assentamentos precários no município de Vila

realidades socioespaciais distintas entre si. (VILA

Velha

VELHA, 2018)

seguem

até

o

os

dias

mesmo

atuais,

padrão

se

desenvolvendo em “[...] loteamentos irregulares situados em áreas alagáveis e degradadas pela extração de areia, ou em áreas de preservação situadas nas margens dos rios e canais, ou nas encostas dos morros.” (LORENA et al, 2016, p. 389) Atualmente, Vila Velha compõe a RMGV, juntamente com a capital Vitória e os municípios de Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra e Viana, conforme Lei Complementar Estadual nº 58 de 21.02.1995

e

posteriores

alterações

em

1999 e 2001. Sendo o município com a maior população da RMGV, estimada em 2018, com aproximadamente 493.838 habitantes. (IJSN, 2018)

Figura 40 - Regiões Administrativas de Vila Velha Fonte: Elaborado pela autora.

Estas regiões representam 32% da área territorial do município com 67,9 km², sendo os 68% restante do território, composto por áreas rurais,

O município de Vila Velha possui uma extensão

de proteção ambiental ou de extensão urbana,

de 210 km2 de território, composto por 92

necessitando

bairros,

desenvolvimento

organizados

Administrativas Municipais

em

cinco

estabelecidas

4.707/2008,

Regiões

pelas

4.991/2010

e

de

uma

urbano

política que

atenda

de as

Leis

demandas habitacionais da população de baixa

5.

renda, para que não ocorra futuras ocupações de área de preservação e impróprias. (VILA VELHA,

148/2011. Segue abaixo a figura 40 que possui o

2018)

demonstrativo das cinco regiões administrativas,

Segundo relatado pela PMVV no diagnóstico do

a saber: a Regional 1 denominada Grande

PLHIS (VILA VELHA, 2015) em relação à

Centro, a Regional 2 - Grande Ibes; a Regional 3

estruturação urbana a região que se destaca com

– Grande Aribiri, onde se localiza o bairro Santa

maior índices de atendimento de rede de esgoto

Rita; a Regional

4 - Grande Cobilândia, e a

é a Regional 3 com 91%, e o abastecimento de

Regional 5 denominada de Grande Rio Jucu, que

rede geral de água, de energia elétrica e coleta


87

de lixo conta com 100% de domicílios atendidos, conforme tabela a seguir. Tabela 7 - Grau de Urbanização conforme Regiões Administrativas Fonte: VILA VELHA, 2015; adaptado pela autora.

Esse fato se fundamenta na antiguidade dessa

aglomerados subnormais contanto com 17.925

região em relação á Regional 5 e que, segundo a

domicílios. (VILA VELHA, 2015; IJSN, 2018)

PMVV, é decorrente de intervenções públicas para solução dos problemas de infraestrutura urbana em assentamentos precários ao longo de sua evolução histórica. (VILA VELHA, 2015)

Tais assentamentos precários apresentam-se demarcados pela PMVV, conforme mapa abaixo, no entanto a empresa que o confeccionou considerou a área de intervenção do presente

Com relação aos setores censitários subnormais,

estudo como pertencente ao Bairro Zumbi dos

Vila Velha ocupou a segunda colocação de

Palmares, por ser limítrofe ao mesmo, e ter uma

domicílios em comparação com os municípios da

morfologia similar, porém oficialmente pertence

RMGV, totalizando 61.479 pessoas, cerca de

ao Bairro Santa Rita, sendo assim identificada no

12,64% da população municipal, vivendo em 29

mapa pelo número 29, conforme a figura a seguir.


88

Figura 41 - Localização dos Aglomerados Subnormais no Município Fonte: VILA VELHA, 2015; adaptado pela autora.

Com relação à distribuição da população

mínimo - se concentram nas regiões da Grande

segundo renda e incidência de aglomerados

Jucu Norte com 35%, seguida pela Grande Aribiri

subnormais, percebe-se que os Domicílios

com 23%, indicando maior concentração de

Particulares Permanentes – DPP, com famílias

população economicamente vulnerável nas

em situação de maior vulnerabilidade econômica

mesmas (tabela 9). (VILA VELHA, 2015)

- rendimento per capita de até meio salário


89

Tabela 8 - Existência de Aglomerados Subnormais X Rendimento Familiar Fonte: VILA VELHA, 2015; adaptado pela autora.

Também nestas duas regionais se concentram a

Destaca, porém, a diferenciação de densidade

maior incidência de domicílios em aglomerado

populacional das duas regionais, enquanto há

subnormais respectivamente 59% e 23% do total,

áreas que podem viabilizar lotes para novas

bem como, famílias com renda até 3 salários

moradias na Grande Jucu, a Grande Aribiri tem

mínimos,

poucos

dos

concentração

DPP,

de

indicando

famílias

vazios

urbanos

para

atender

as

para

demandas de realocação de famílias em

programas habitacionais de interesse social.

moradias precárias ou em condições de risco às

(VILA VELHA, 2015)

margens do rio.

Segundo o diagnóstico do PLHIS acerca dos

O PLHIS estabelece que o reassentamento dessas

assentamentos precários, as áreas que os

famílias seja nas proximidades do local de

Governos Municipal e Estadual trabalham mais

origem, e sugere que nas regiões com escassez

intensamente nas questões relacionadas a

de espaço urbano, seja adotado prioritariamente

urbanização e a HIS estão nas regionais da

tipologias de unidades mais adensadas, como as

Grande Jucu (norte) e da Grande Aribiri, por

assobradadas e em fitas, como as pré-existentes

apresentarem

na área do presente estudo em Santa Rita. (VILA

indicadores

elegíveis

maior

de

maior

precariedade habitacional e habitantes com menor rendimento familiar do município. (VILA VELHA, 2015)

VELHA, 2015) De acordo com a PMVV para atender às necessidades dos assentamentos precários, o


90

processo de regularização fundiária e as políticas

fundiária de núcleos urbanos informais em ZEIS,

habitacionais do município são desenvolvidos

conforme etapas e elementos jurídicos; assim

pela SEMDU, através da Coordenação de

como

Políticas Habitacionais, responsável por elaborar

população de baixa renda, localizadas em áreas

e executar o Plano Local de Habitação de

urbanas ocupadas. (VILA VELHA, s.d.)

Interesse Social – PLHIS e os Projetos Técnico Social – PTS, entre outras. (VILA VELHA, s.d.)

o

proporcionar

assistência

técnica

Apesar de todo trabalho realizado, a PMVV identifica a precariedade urbana e habitacional

O PTS engloba estratégias, processos e ações,

marcada pela irregularidade fundiária como

decorrente

e

desafio a serem superados para efetivação de

participativos do território, abrangendo aspectos

uma política habitacional desejável. (VILA VELHA,

socioeconômicos, produtivos, ambientais do

2015)

de

diagnósticos

integrados

território e da população beneficiária, bem como, da política institucional em articulação

4.2 URBANIZAÇÃO DO BAIRRO

com as demais políticas públicas, cooperando

SANTA RITA

para a melhoria da qualidade de vida e sustentabilidade dos bens, equipamentos e

A formação do bairro em questão também ocorreu por urbanização de assentamentos

serviços implantados. (VILA VELHA, s.d.)

precários ao longo de décadas, conforme A PMVV possui os seguintes PTS em andamento:

relatados a seguir.

o acompanhamento da obra de macrodrenagem no Canal do Congo pela Caixa Econômica Federal; Acompanhamento das famílias que foram

reassentadas

habitacionais

no

em

Residencial

56

unidades Zumbi

dos

Palmares, realização com recurso municipal; Acompanhamento

das

496

famílias

do

Residencial Vila Velha, realizado pelo PMCMV. (VILA VELHA, s.d.)

As informações históricas do bairro foram embasadas em relato de Assistente Social que atuou no anos de 1980, como estagiária da LBA no Centro Comunitário do bairro e realizou a pesquisa para o TCC sobre a história do Movimento de Moradia de Vila Velha, na ocasião em que assessorou os líderes do movimento de moradia nas ocupações ocorridas nos primeiros anos da década de 1990.

A Regularização Fundiária foi instituída pelo Decreto n.º 066/2017, criando o Programa de Regularização Fundiária “Viver Legal” que trabalha os eixos de promoção da regularização

Tais informações foram confrontadas com o acervo eletrônico do IJSN de estudos técnicos do Governo do Estado que apresentavam propostas de urbanização do bairro, além dos registros


91

fotográficos e recortes de jornais da época que

aterramento das áreas com solo de aluvião em

vieram a corroborar com os relatos constantes

diversas localidades do município, inclusive no

no TCC citado.

Cais de Capuaba. (CARDOSO, 2007; SATHLER,

Outros

documentos

foram

posteriormente

2017)

repassados pela SEMDU, onde constavam breves

O adensamento populacional a partir dos anos

relatos sobre ações da PMVV no Projeto

de 1970, obrigou as famílias recém chegadas ao

Urbanização Integrada da Baixada do Rio Aribiri

local instalarem habitações precárias sobre a

e o relatório de selagem2 das habitações no

área utilizada para descarte de lixo do município,

assentamento precário, além de um artigo do

entre uma pequena faixa terra à margem norte

historiador Marcelo Sathler da UFES.

da Estrada Velha e o manguezal (figura 42).

Sathler (2017) pesquisou arquivos antigos de

(AZEVEDO, 1992; SATHLER, 2017)

jornais e documentos oficiais do IJSN, e ao constatar

escassez

de

informações,

complementou os dados com levantamento em 588 registros fotográficos e com o método da história oral aos moradores mais antigos. Constatou

que

Santa

Rita

é

o

único

assentamento precário em área alagada, que organizou o processo de ocupação de forma simétrica dos lotes e ruas, por iniciativa da liderança comunitária. Segundo informações coletadas, o primeiro assentamento precário do bairro ocorreu no final dos anos 1960 conhecido como Coteca. Habitações precárias foram instalados numa pequena faixa de terra entre a margem sul da Estrada Velha e os morros onde eram extraídas porções de terra - atualmente denominado Zumbi 2

dos

Palmares

utilizadas

para

A selagem é uma demarcação urbanística dos imóveis existentes na área, sendo atribuído um código chamado número de selagem, definindo os lotes que serão titulados.

Figura 42 – Ocupações nas Margens Sul e Norte da Estrada Velha Fonte: http://www.ijsn.es.gov.br/ConteudoDigital/20150925_0 0311.jpg e http://www.ijsn.es.gov.br/ConteudoDigital/20150526_0 0237.jpg


92

Em 1978, o IJSN desenvolveu um estudo

insular do manguezal localizado ao norte do

preliminar para uma intervenção de interesse

bairro. (SECRETA, 1983; NUNES, 1983; IJSN,1983;

social nos Bairros Alecrim e Santa Rita de Cássia

AZEVEDO, 1992; SATHER, 2017)

– nome à época - e consta o seguinte relato sobre o grau de urbanização e a forma de aterramento dos quintais:

Como já mencionado, o Movimento de Moradia foi responsável pela negociação junto à PMVV e ao governo do Estado por projetos de

Localizado numa baixada parcialmente conquistada ao mangue, apresenta 31 ruas sem calçamento, seis delas com iluminação pública. A rede elétrica e hidráulica se limita a 50% dos usuários, que se servem de 2 torneiras públicas. Não existe coleta de esgotos nem de lixo, que é utilizado para o aterro dos quintais. (IJSN, 1978, p.11)

urbanização para a área ocupada do mangue,

Sathler (2017) afirma que os materiais além de

da maior maré registrada. (IJSN, 1983; NUNES,

serem fonte de recursos para subsistência das

1983)

sendo elaborado em 1983 um estudo do IJSN. Apresentando quatro propostas com respectivos custos, demonstrando a necessidade de 1,2 metros de aterramento, por estar 70 cm abaixo

famílias e servirem para conter as águas da maré alta, servirem de espaço para aumentar a área, possibilitando a instalação de mais palafitas (figura 43).

Nesta época, o bairro teve sua extensão territorial ampliada sendo composto por parte continental e parte insular com palafitas (figura 44 e 45), que se manteve até o início dos anos de 1990, quando sofreu intervenção urbanística. (IJSN,1983; NUNES, 2007)

Figura 43 - Aterro Sanitário no Bairro Santa Rita em 1982 Fonte: GARCIA, 2013.

Em janeiro de 1983 cerca de 600 famílias ocuparam toda a região sul do bairro, que vai do lado sul do morro até as avenidas limítrofes do mesmo. Por cumprimento de medida judicial de reintegração de posse, todos foram retirados da área, e metade delas fixaram residência na parte

Figura 44 - Manguezal de Santa Rita nos anos 1980 Fonte: https://www.instagram.com/p/B5IKW9OjRyB/?hl=pt-br


93

assoreamento e poluição por descarte de esgoto e lixo. (VILA VELHA, [2015]) Segundo a mesma fonte, as famílias removidas das encostas do Rio Aribiri foram reassentadas em HIS instaladas em uma gleba vazia no Bairro Santa Rita – esse projeto está melhor detalhado no tópico seguinte que trata da contextualização Figura 45 - Acesso às Palafitas do Mangue nos anos 1980 Fonte: https://www.instagram.com/p/B5IKW9OjRyB/?hl=pt-br

da área de intervenção – porém pela falta de recursos para conclusão de todas as etapas do mesmo, parte da área destinada para esse fim,

Foram necessários vários anos de negociação e

ficou sem intervenção, que propiciou a formação

levantamento de recursos, até que em janeiro de

do assentamento precário, objeto do presente

1991 foi assinado o contrato de prestação de

estudo.

serviço, dando início às obras com previsão de conclusão em um ano. Com a conclusão dessa intervenção, a parte insular de Santa Rita foi desmembrada, e juntamente com uma faixa de manguezal de Vila Garrido, passaram a formar o Bairro Primeiro de Maio. (AZEVEDO,1992;

No decorrer dos anos de 2014 e 2015 foram executada outra intervenção urbanística de acordo com o Projeto Urbanização Integrada da Baixada do Rio Aribiri no Município de Vila Velha - E.S. As obras atuaram na intervenção das favelas às margens do referido rio, com intuito de os

ocorreram os referidos assentamentos precários no Bairro Santa Rita estiveram ligados a momentos político-econômicos de intensas transformações, e foram: 1) Nos anos de 1970 entre o Rio Aribiri e as

DENADAY,1991)

solucionar

Conclui-se então que os momentos em que

problemas

de

alagamento,

margens da via principal da época, em decorrência do êxodo rural; 2) Em 1983, na parte insular do manguezal (Atualmente Primeiro de Maio) em meio a uma conjuntura de desemprego e hiperinflação que assolou o país; 3) E a partir de 2015, na área de estudo, em meio ao desdobramento da crise do mercado imobiliário brasileiro.


94

Capuaba, sem promover conexões entre as suas

4.2.1 CARACTERIZAÇÃO DO

bordas, nesse caso, a ruptura é identificada pelos

BAIRRO

elementos naturais (mapa 1). (ROCHA et al,

Decorrente de sua história o bairro surgiu como uma

área

informal

sem

perspectiva

2019).

de

integração com a cidade. Desse modo, apresenta peculiaridades

por

se

comportar

como

fragmento isolado com relação ao seu entorno. Tal característica é reforçada pelos elementos limitantes identificados nesse estudo como rupturas urbanas que circundam o bairro. Atualmente o Bairro Santa Rita possui área total de

210.115

m²,

localizado

na

Regional

Administrativa 3 – Grande Aribiri, onde o entorno do mesmo é composto pelo bairro Alecrim, Primeiro de Maio, Ilha da conceição, Ataíde e Zumbi dos Palmares, de acordo com a figura a 46. (VILA VELHA, 2013) As rupturas viárias do bairro, cercado por vias de tráfego intenso como a Av. Capuaba, Rod. Carlos Lindemberg,

são

assim

identificadas,

por

Figura 46 - Localização do Bairro na Regional 3 Fonte: VILA VELHA, 2013.

limitarem o acesso e fluidez dos pedestres por segregar o bairro de estudos da malha urbana adjacente. Essas vias abrigam as atividades econômicas introspectivas que se concentram na Av. Fernando Antônio da Silveira, via principal do bairro que acessa a Av. Capuaba. Além dessas avenidas instaladas antes da formação do bairro, outro fator determinante na consolidação dos limites do mesmo foi o Rio Aribiri, que percorre

Mapa 1 - Localização do Bairro Santa Rita

toda a lateral oeste até sua foz no Porto de

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


95

Mapa 1 - Localização do Bairro Santa Rita


96

O ponto de partida para identificação das

fornecendo uma base para compreensão das

características da população do bairro foi o Perfil

necessidades e demandas locais. Porém com a

Socioeconômico por Bairros da PMVV, com

limitação dos dados terem sido apurados antes

dados estatísticos dos bairros, por regional,

da ocorrência do assentamento precário objeto

sintetizados na tabela 09 (VILA VELHA, 2013),

do presente estudo.

Tabela 9 - Síntese do Perfil Socioeconômico do Bairro Santa Rita Fonte: VILA VELHA, 2013; adaptado pela autora.

Santa Rita tem uma população de 5.526 pessoas,

adensamento populacional na área, justificável

dispostas em 1.793 Domicílios Particulares

pelo seu histórico de ocupação desordenada.

Permanentes - DPP, representando uma taxa de ocupação de 3,08 pessoas por residência. (VILA VELHA, 2013)

Segundo Vila Velha (2013) a maioria das famílias de Santa Rita se estabelecem em domicílios próprios, seguidas por 13,9% em residências

Observa-se que a população do bairro é de

alugadas e apenas 3,3% das mesmas ocupam

36,9%, superior à média registrada na regional

locais cedidos.

que possui 4.037 habitantes, demonstrando

Quanto ao grau de urbanização o bairro manteve a

mesma

média

registrada

na

regional,


97

apresentando 99,9% de domicílios com energia

de famílias sem condições de acessar o mercado

elétrica e 99,8% abastecido com água da rede

imobiliário formal e que adotam o processo de

geral, superando apenas o índice médio da

autoconstrução.

Regional em relação à coleta de lixo que é de 99,75% e no bairro os 100% dos domicílios. (VILA VELHA, 2013) Quanto à faixa etária observa-se que 71,64% estão entre 15 e 64 anos; 15,85% estão na fixa de 5 a 14 anos; 6,68% tem entre 0 e 4 anos e apenas 5,83 tem acima de 65 anos. Os dados demonstram que a população é constituída por 52.35% de mulheres e 47.65% de homens, que em relação à faixa etária há o predomínio de população entre 15 e 64 anos, representando 71,64% do total e a porcentagem apurada de idosos é apenas de 8,1% do universo de pessoas residentes. A predominância da população economicamente ativa e de baixa renda se explica pela proximidade do bairro ao distrito industrial e os eixos viários que dão acesso ao município para todos os lados, induzindo a apropriação de locais

Tais fatores indutores são a proximidade ao distrito industrial, aos eixos viários que dão acesso ao município para todos os lados, assim como, as recorrentes situações de alagamento. De acordo com os dados coletados, o perfil predominante dos habitantes é de população jovem, feminina, vivendo num agrupamento familiar composto de duas a quatro pessoas por habitação. A maioria está em idade escolar e/ou economicamente ativa, desenvolvendo atividade econômica

de

baixa

remuneração,

que

geralmente fica à margem do mercado formal de trabalho. Os idosos são minoria, mas são oriundos de zona rural e provavelmente possuem memória afetiva com o cultivo da terra. Tal perfil foi determinante para as escolhas das soluções

urbanísticas

nas

áreas

de

uso

comunitário da proposta projetual, desenvolvida no capítulo seguinte.

desocupados por pessoas sem condições de acessar o mercado imobiliário formal, e por consequência se dá a formação do processo de autoconstrução, como única forma de possuírem um domicílio próprio.

4.2.2 ASPECTOS MORFOLÓGICOS E AMBIENTAIS A investigação dos aspectos morfológicos e

A predominância de população economicamente

ambientais

do

bairro

contribui

para

o

ativa, porém, de baixa renda, se explica pelo

entendimento da distribuição das edificações,

próprio histórico de formação do bairro e se

análise de fatores ambientais, malha viária de

propaga até os dias atuais por fatores indutores

circulação e aspectos comportamentais em


98

termos de usos do espaço urbano. São

Tais aspectos são justificáveis pelos fatos

informações importantes para a compreensão

descritos na história de formação do bairro, onde

de como os espaços e o ambiente se revelam e

a parte referente ao traçado regular resultou da

funcionam no território, para subsidiar a análise

atuação da liderança comunitária que coordenou

das necessidades e potencialidades do bairro.

a ocupação da década de 1970. Nos demais

Ressalta-se que esta análise, em alguns aspectos, ficou prejudicada pelo bloqueio de circulação pela

pandemia

do

Covid-19,

sendo

locais, as ocupações foram ocorrendo de forma residual, portanto, sem organização do espaço e com pouca conexão com a via principal.

complementada por imagens aéreas do Google

Outro fator que influenciou na morfologia do

Earth, relato de moradores e observações

bairro foi a presença das glebas destinadas a

realizadas em uma visita técnica ao local, antes

ocupações industriais que causaram uma

da determinação do isolamento social.

descontinuidade no extremo sul da área.

O mapa 02 de figura fundo contribui para a compreensão

da

morfologia

dos

espaços

edificados em contraste com as áreas não edificadas. Ao observar as massas edificadas percebe-se que há predomínio de edificações

Situação intensificada pelo fluxo de transporte de cargas que passam pela avenida limítrofe, rumo as atividades portuárias, além das empresas de logística em seu entorno que proporcionam o isolamento visual do bairro.

sem afastamentos, com ocupação dos lotes em sua totalidade e poucas áreas permeáveis dentro do perímetro do terreno, assim como, poucos vazios urbanos. Percebe-se que a Av. Fernando Antônio da Silveira é o elemento de maior relevância na definição do traçado urbano do bairro, dividindo duas regiões morfologicamente distintas. A localizada ao norte possui traçado regular e lotes de tamanhos relativamente semelhantes, e a região sul do bairro apresenta morfologia assimétrica de lotes e ruas, característicos do traçado orgânico presente nos assentamentos precários.

Mapa 2 - Figura Fundo Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


99

Mapa 2 - Figura Fundo


100

Com relação a análise da mobilidade e do sistema

são de piso intertravado, no entanto apenas

viário no bairro, no respectivo mapa podemos

alguns percursos na área de intervenção não

observar que de acordo com a demarcação do

possuem pavimentação (figura 48), as quais

PDM de Vila Velha, as Avenidas Carlos

foram demarcados no mapa. Tal fato se explica

Lindemberg, Capuaba e a Rod. Darly Santos, são

pela área estar recebendo infraestrutura básica

classificadas como vias arteriais com velocidade

pela PMVV e por ser uma gleba que sofreu

de até 60km/h e largura aproximada de 45m.

ocupação recente com assentamento precário.

Tais vias apresentarem fluxo intenso que, juntamente com o Viaduto Alfredo Copolillo, dificultam a livre circulação de transeuntes causando uma ruptura nos percursos de pedestres e ciclistas. De acordo com o PDM, a Av. Fernando Antônio da Silveira - via principal de acesso ao bairro - foi

Figura 47 – Via Principal Asfaltada e Via Local com Piso Intertravado Fonte: GOOGLE EARTH, 2020.

classifica como “Principal do Bairro”, entretanto essa categoria não existe oficialmente no normativo, logo, pelas dimensões e fluxo contatou-se que se comporta como uma via coletora com largura aproximada de 12m e velocidade de até 40 km/h. As demais ruas que compõem o bairro não

Figura 48 - Condição das Vias na Área de Intervenção Fonte: Acervo da autora, 2019.

apresentam classificação, porém comportam-se

Algumas vias paralelas ao Rio Aribiri, possuem

como vias locais pelo fluxo reduzido de

ligação com os bairros vizinhos por travessas ou

automóveis,

variadas

pontes (figura 49). A conexão e a posição destes

decorrente dos traçados distintos presentes no

acessos nos eixos viários, apresentam grande

bairro,

dimensões

potencial para a integração com o entorno e

semelhantes (cerca de 9 m de largura), e as vias

também para requalificação paisagística com

orgânicas

recomposição da mata ciliar no corpo hídrico.

apresentam

ruas

ortogonais

com

medidas

com

dimensões

variadas

e

características de vielas. Esses

aspectos

merecem

atenção

de

A via principal do bairro possui pavimentação

intervenções urbanísticas que proporcionem a

asfáltica (figura 47) e as demais em sua maioria,

valorização dos visuais e a melhoria das


101

condições ambientais locais. O cenário revela a possibilidade de se resgatar a identidade comunitária, além de proporcionar melhorias na legibilidade do bairro.

Figura 49 - Ligação com os Bairros Vizinhos por Pontes ou Travessas Fonte: GOOGLE EARTH, 2020.

Mapa 3 - Mobilidade Urbana e Sistema Viário Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


102

Mapa 3 - Mobilidade Urbana e Sistema Viรกrio


103

Outro aspecto relevante do sistema viário são os

(Terra Vermelha - São Torquato) e 059 (Terra

pontos de ônibus, podemos observar no mapa

Vermelha - São Torquato).

que estão situadas na via principal do bairro e nas avenidas do entorno, revelando uma certa dificuldade de acesso ao transporte público pela população localizada próximo às margens do rio e na área de intervenção.

abrangência dos pontos, com parâmetros para a do

possível apurar com segurança os percursos das linhas identificadas acima. Já na Av. Carlos Lindemberg existem uma infinidade de linhas do Sistema Transcol e Sanremo que fazem ligação

Quanto a situação acima é conjugada ao raio de

caminhabilidade

Devido às restrições da pandemia, não foi

local

de

embarque/desembarque das linhas de ônibus, indicado pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento - ITDP Brasil, que dispõe sobre a distância ser menor ou igual a 200 metros. (ITDP BRASIL, 2018)

com diversos locais do município e da RMGV. Com relação a interligação dos modais de transporte na área, pode-se observar que está fragmentada pelos fortes eixos viários e pela descontinuidade das ciclovias no seu entorno. Ademais, observa-se a inexistência de conexões que atendam a demanda de deslocamento dos moradores localizados no interior do bairro,

Observa-se que o percurso da população é maior

acarretando o aumento do tempo e custo de

que o raio de abrangência em alguns pontos,

deslocamento dispendido pelos mesmos, para

acarretando a insegurança e expondo os

acessar as linhas disponibilizadas nas avenidas.

transeuntes a percorrerem longas distâncias, que na maioria deles, são sem vitalidade urbana.

Vale destacar que a situação dos moradores se agrava, na medida em que os percursos para o

Com relação ao serviço de transporte urbano que

deslocamento deles fica comprometido pela

abastece o bairro, podemos citar as seguintes as

ausência de calçadas que acomodem a circulação

linhas do Sistema Transcol: 604 (T. Ibes - T. São

segura de seus moradores. A configuração das

Torquato); 625 (T. Ibes - T. São Torquato); 631 (T.

calçadas ao longo das vias apresenta dimensões

São Torquato - 1º Maio); 660 (Boulevard

irregulares e inadequadas (figura 50), revelando

Shopping - T. São Torquato) e 920 (Santa Rita - T.

sua irrelevância na composição das vias.

Campo Grande).

Tais passeios públicos, quando existentes,

As linhas da empresa Sanremo são: 005 (São

apresentam-se com diferenças de alturas,

Torquato - Praia da Costa); 016 (1º de Maio -

estreitas ou completamente inexistentes, em

Praia de Itapoã); 030 (São Torquato - Praia da

alguns trechos.

Costa); 038 (Vila Garrido - Praia da Costa); 053

circulação e acessibilidade dos transeuntes, que

Tais fatores dificultam a


104

se vêm obrigados a dividir o espaço com os

demonstrado no mapa 4, tais vazios se localizam

veículos automotores.

de forma pontual e mais próximos da área de intervenção do estudo. Tal mapa, contém uma representação parcial do território do bairro, em decorrência das restrições de circulação da pandemia, sendo formulada com base nas informações coletadas em uma visita técnica e imagens do Google

Figura 50 - Condição das Calçadas no Interior do Bairro Fonte: GOOGLE EARTH, 2020.

É importante ressaltar que apenas na Av.

Maps, porém quase que a totalidade da região sul do bairro não dispõe de imagens por dificuldades de acesso de veículo em vielas.

Fernando Antônio da Silveira, as calçadas possuem melhores dimensões, impulsionado pela atividade comercial desenvolvida ao longo da via. Com relação à condição física das calçadas nesta via, observa-se que foram feitas calçadas com piso tátil, porém fora dos parâmetros da calçada cidadã, com descontinuidade e inserção de barreiras para exposição de mercadorias dos comerciantes locais (figura 51).

De acordo com as dificuldades elencadas, grande parte das edificações existentes ficaram sem identificação no mapa, as de uso residencial comprovado foram demarcadas em azul e as demais provavelmente também são do mesmo tipo de uso, como a maioria das edificações que não se encontram na via principal. Na figura 52, observa-se que a rua principal possui

diversos

pontos

comerciais

com

atividades que atendem as necessidades básicas da população, por consequência da dificuldade de ligação do bairro com o entorno. Nesta via concentram-se edificações de uso misto, com comercio no térreo e residências nos Figura 51 - Condição das Calçadas na Via Principal do Bairro Fonte: GOOGLE EARTH, 2020.

Outro condicionante morfológico, relacionado ao uso e ocupação do solo, refere-se à densidade populacional elevada, e consequente falta de espaços vazios e áreas de uso público. Conforme

pavimentos superiores, além de uma Unidade de Saúde e um Centro Comunitário na referida via.


105

Figura 54 - Empresa em Frente a Área de Intervenção Fonte: Acervo do NEP, 2019. Figura 52 - Uso e Ocupação na Via Principal do Bairro Fonte: GOOGLE EARTH, 2020.

Essa

Já na área de intervenção as atividades comerciais são pontuais e incipientes, bem distintas das existentes na área comercial do bairro, com precariedade na tipologia das edificações

mistas,

que

neste

caso

são

horizontais e com a área residencial nos fundos (figura 53).

vulnerabilidade

é

reafirmada

pelas

atividades presentes no entorno, semelhantes às descritas

acima,

como

o

Hipermercado

Atacadão, empresa de mineração com extração de pedras no próprio local, e outros comércios atacadistas e de serviço que se encontram as margens da Av. Carlos Lindemberg. Tais empresas possuem atividades incompatíveis com as características residenciais na área. Estas inserções contrastantes são identificadas como rupturas na composição do bairro por se distinguirem no tamanho e forma das demais tipologias existentes, e por fragmentarem qualquer possibilidade de integração do tecido urbano que compromete a fluidez do pedestre

Figura 53 – Uso Misto na Área de Intervenção Fonte: Acervo do NEP, 2019.

(ROCHA et al, 2019).

Pode-se observar na imagem a seguir, a

Essas

existência de algumas áreas de uso industrial e

introspectivo com muros cegos e extensos

comercial por empresas de grande porte,

(figura 55), comportando-se como barreira física

desenvolvendo atividades de logística ou de

que interfere na permeabilidade e visibilidade do

comércio atacadista.

bairro, além de atraírem o tráfego intenso de

construções

apresentam

caráter

caminhões, tornando vulneráveis as áreas próximas a esses locais.


106

Figura 55 - Empresa com Muro Cego Fonte: GOOGLE EARTH, 2020.

Mapa 4 - Uso e Ocupação do Solo Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


107

Mapa 4 - Uso e Ocupação do Solo


108

As instituições públicas de ensino infantil e

comunidade de Zumbi dos Palmares, no entanto

fundamental estão em sua totalidade localizadas

a

nas regiões limítrofes do bairro. As únicas áreas

consolidada em local definitivo.

livres para uso público existentes se encontram na extremidade leste, que pela localização marginal e a precariedade das mesmas (figura 56 e 57), acabam não atendendo a demanda de áreas livres de uso público para convivência e lazer. Havendo necessidade da criação de novos espaços para a apropriação espontânea dos moradores e proporcionar vitalidade ao bairro.

localização

dessa

festividade

não

foi

Conforme limitações da quarentena descritas anteriormente, o mapa de gabarito foi suprimido e a avaliação baseada nas observações feitas em visita técnica e imagens disponíveis no Google Earth, pode-se constatar que o gabarito predominante no bairro é de até 3 pavimentos na rua principal (figura 58) e diminui a partir de seu

distanciamento.

Essa

configuração

e

tipologia construtiva está conjugada com o tipo de uso das edificações.

Figura 56 - Praça ao Lado da Av. Capuaba Fonte: GOOGLE EARTH, 2020.

Figura 58 - Gabarito Existente na Via Principal Fonte: GOOGLE EARTH, 2020.

As edificações limítrofes a área de intervenção, apresentam

gabarito

de

no

máximo

2

pavimentos, assim como as casas geminadas Figura 57 - Quadra ao Lado da Instituição de Ensino Infantil Fonte: GOOGLE EARTH, 2020.

(figura 59) construídas pela PMVV que se encontram na área. Já no assentamento precário

Segundo relato de uma moradora que participou

as edificações predominantemente são térreas e

da reunião comunitária na UVV, existe um tipo

rudimentares (figura 60).

de apropriação espontânea das vias, que acorre uma vez por ano, nas imediações da área de intervenção. Tal evento foi descrito como festa junina organizado pela moradora, junto da


109

ambientais que serão abordados a seguir na análise sobre aspectos físicos ambientais. O

bairro

se

desenvolveu

em

área

ambientalmente frágil, constituído por terrenos alagadiços por ser área de manguezal, com solo formado por sedimentação de depósitos aluviais, Figura 59 - Gabarito das Casas Geminadas e das Ocupações na Área Fonte: Acervo da autora, 2019.

posteriormente com depósito de lixo, e compactado com aterramento através de intervenção urbanística do poder público. Tais fatores são evidenciados na atualidade pelas diversas ocorrências de alteração na maré ou precipitações internas provocando alagamentos e inundações do Rio Aribiri (figura 61).

Figura 60 - Gabarito na Área de Intervenção Fonte: Acervo da autora, 2019.

Conforme o PDM vigente, a altura máxima das edificações pode alcançar de 47 a 54 m, conforme especificação das zona existente no bairro, que será melhor explicitado no tópico sobre a legislação vigente. Percebe-se também que no PLHIS há o estímulo para verticalização de habitações de interesse

Figura 61 - Inundação do Rio Aribiri em 2017 Fonte: MAIA, 2017.

social, por questões de densidade populacional e

Tal realidade foi expressa no mapeamento das

ausência de vazios urbanos. Desta forma, ambos

áreas alagadiças contidas no PLHIS, através da

instrumentos

figura a seguir.

legais

contribuem

para

a

verticalização das edificações. No entanto tal estímulo é limitado por condicionantes ambientais, por ser constituído por solo instável, decorrente das peculiaridades da formação do bairro e as condicionantes


110

que é obrigada a transitar por suas águas insalubres nos períodos das cheias.

Figura 62 - Áreas Alagáveis em Vila Velha Fonte: VILA VELHA, 2015; adaptado pela autora.

O corpo hídrico identificado no mapa 5 é o Rio Aribiri que possui potencial de preservação e de valorização urbanística e paisagística para a área, sendo considerado Zona de Especial Interesse Ambiental – ZEIA B, especificado no tópico sobre legislação vigente. Logo, possibilita intervenções no sentido de integração do bairro à cidade, agregando ao espaço elementos atratores de movimentação e de melhoria das condições Figura 63 - Condições Ambientais do Rio Aribiri Fonte: VILA VELHA, 2015, p. 29.

ambientais do rio. Tal potencial associado à necessidade de espaços

A quantidade de verde observada no mapa,

livres de uso público, requer a requalificação e

evidencia que a predominância de árvores e

despoluição do corpo hídrico, ação que pode ser

forração nas áreas públicas acontece ao longo do

explorada para promover vitalidade e conforto

rio. Já com relação as áreas particulares se

ao

localizam nos poucos espaços internos dos lotes.

bairro

e

seu

entorno,

dando

uma

Desse modo o bairro apresenta quantidade

ressignificação e nova identidade à região. Pode-se observar que o referido rio recebe o descarte inadequado de resíduos líquidos e

insipiente de áreas verdes, fato que interfere na qualidade do ar e no conforto térmico local.

sólidos gerados pelas residências localizadas as

Essa situação é atribuída à disposição dos

suas

o

assentamentos decorrentes do adensamento

e

habitacional. Assim essa conformação restringe a

consequentemente, doenças para a população

inserção de áreas verdes e de arborização,

margens

assoreamento,

(figura poluição,

63),

causando

inundações


111

comprometendo a ventilação e o conforto

As demais curvas de nível mais acentuadas,

térmico da região.

observadas no referido mapa, pertencem aos

Nesse âmbito os espaços públicos que possuem algum tipo de vegetação, são de espécies arbustivas e gramadas, como a existente na quadra ao extremo leste do bairro (figura 57), nas áreas do Viaduto Alfredo Copolillo (figura 64) e em algumas áreas nas imediações do bairro

bairros no entorno, como por exemplo o existente no Bairro Zumbi dos Palmares, cujas formações

rochosas

são

ocupadas

pelo

aglomerado de residências, sendo interligado a área de intervenção, pelo acesso demonstrado na figura abaixo.

próximas a ZEIA B.

Figura 64 - Vegetação no Entorno do Viaduto Fonte: GOOGLE EARTH, 2020.

O bairro é predominantemente constituído por relevo

plano

suscetível

à

alagamentos,

apresentando apenas um maciço rochoso no extremo norte (figura 65), identificado no mapa físico ambiental, onde possui pequena área com forração específica desse tipo de solo.

Figura 66 - Relevo e Acesso ao Bairro Zumbi dos Palmares Fonte: Acervo da autora, 2019.

Verifica-se no PLHIS do município que há instabilidade das casas neste morro, com registro de deslizamento de sua encosta (figura 67), e que a PMVV prevê o reassentamento dessas famílias através do Projeto de Urbanização Integrada da Baixada do Rio Aribiri. Esse projeto foi iniciado coma construção do residencial localizado na área de intervenção e que se encontra melhor explicitado no tópico 4.3 desse estudo. Diante do exposto, destaca-se a importância e a necessidade de se realizar um estudo de impacto para averiguar as condições do solo, de forma a subsidiar a execução de intervenções na área.

Figura 65 - Vegetação no Maciço Rochoso do Bairro Fonte: GOOGLE EARTH, 2020.


112

Figura 67 - DiagnĂłstico do Setor de Risco em Zumbi dos Palmares Fonte: VILA VELHA, 2015, p.68; adaptado pela autora.

Mapa 5 - FĂ­sico Ambiental Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


113

Mapa 5 - FĂ­sico Ambiental


114

Com o intuito de sintetizar as análises geradas do

intervenção deste trabalho de conclusão de

bairro para embasar a proposta projetual do

curso, ficando como sugestão para o município e

próximo capítulo, foi confeccionado o mapa de

para uma futura pesquisa acadêmica.

potencialidades e vulnerabilidades. Observa-se a existência de limitadores para a integração do bairro, pelas empresas de grande porte no entorno e grandes eixos viários, perdendo sua relação dinâmica e visual com a cidade, fazendo-se necessário a alteração da zona empresarial, identificada no próximo tópico. Com relação aos espaços livres demarcados em verde no mapa, observa-se que os localizados ao extremo norte e ao extremo sul - na área de estudo - estão desprovidos de intervenção pública impedindo a apropriação comunitária do espaço. As outras duas áreas são um campo de futebol e uma pequena praça, e se encontram em

condições

precárias,

prejudicando

a

vitalidade do espaço e sua capacidade atratora. Por outro lado, as potencialidades presentes no bairro podem ser expressas pelos eixos de conexão com o entorno, espaços vazios que permitem sua qualificação através da aplicação de alguns dos instrumentos urbanísticos citados no capítulo 2 que permitem fazer uso de áreas desocupadas para fins sociais e ambientais. As características ambientais e paisagísticas identificadas na região extrapolam a linha de ação do presente estudo, mas será elencado

Mapa 6 - Potencialidades e Vulnerabilidades

como proposição complementar a proposta de

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


115

Mapa 6 - Potencialidades e Vulnerabilidades


116

4.2.3 LEGISLAÇÃO VIGENTE

A Zona de Ocupação Prioritária - ZOP B se localiza ao norte da via principal; a Zona de Especial

A investigação dos aspectos legais vigente sobre

Interesse Social - ZEIS entre a parte sul dessa via

o zoneamento estabelecido pelo município,

e a Zona de Especial Interesse Empresarial - ZEIE

colaboram para a percepção dos parâmetros

B localizado no limite sul do bairro, e a Zona de

projetuais do bairro, dando a compreensão dos

Especial Interesse Público – ZEIP que refere-se ao

mecanismos de controle e a indicação de

único maciço rochoso do bairro. (VILA VELHA,

aspectos a serem considerados ou alcançados,

2017)

conforme interesse público.

Outra zona de grande importância que se

A última revisão decenal do PDM do município

encontra limítrofe ao bairro é a Zona de Especial

ocorreu através da Lei Complementar nº

Interesse Ambiental – ZEIA B, que foi demarcada

65/2018, e segundo Vila Velha (2017) o Bairro

em parte do percurso do Rio Aribiri.

Santa Rita possui quatro classificações de zoneamento municipal (figura 68).

Figura 68 - Recorte do Zoneamento Municipal de Vila Velha Fonte: VILA VELHA, 2017; adaptado pela autora.


117

Consta no PDM de Vila Velha as definições

para as áreas. As zonas existentes no bairro

especificas

apresentam as seguintes descrições:

de

cada

zona,

com

suas

características e os parâmetros a serem seguidos Tabela 10 - Definição das Zonas do Bairro Santa Rita Fonte: VILA VELHA, 2017; adaptado pela autora.

DEFINIÇÃO DAS ZONAS DO BAIRRO SANTA RITA ZOP

ZEIS

ZEIE

ZEIP

[...] corresponde à parcela do território municipal com melhor infraestrutura ou com potencial para incremento, onde deve ocorrer o incentivo ao adensamento e à renovação urbana, com predominância do uso residencial e prevenção de impactos gerados por usos e atividades econômicas potencialmente geradoras de impacto urbano e ambiental.

[...] são porções do território municipal ocupadas por população de baixa renda ou destinadas prioritariamente à regularização fundiária, à urbanização e à produção de Habitação de Interesse Social (HIS).

[...] são parcelas do território municipal, de domínio público ou privado, destinadas à implantação de atividades econômicas, funcionais ou industriais de grande e médio porte, visando ao fortalecimento econômico do Município nas suas várias especializações, compatíveis com as estratégias estabelecidas para as Macrozonas.

[...] são áreas do território municipal, de propriedade ou interesse público, onde é fundamental a manutenção e qualificação dos espaços livres de uso público ou voltados à implantação de equipamentos públicos.

Como elencado anteriormente, o bairro e seu

Vale destacar a necessidade de discussão com o

entorno

que

poder público de alteração no zoneamento do

interferem na dinâmica da região. Nesse âmbito

bairro, viabilizando a execução de intervenções

percebe-se

e

que garantam a efetiva integração do bairro à

corporativo, decorrentes da proximidade com as

cidade, a melhoria da habitabilidade das famílias

atividades portuárias e com os grandes eixos

em risco e melhoria das condições ambientais.

possuem

certo

grandes

interesse

empresas

empresarial

viários do município.

Pode-se observar que a zona classificada como

Tal interesse sugere o peso que possuem no

ZEIP, apesar de ser área livre destinada ao uso

zoneamento

público,

municipal,

suprimindo

a

encontra-se

abandonada

com

a

necessidade de abrangência da ZEIS, em

presença de ponto viciado de descarte para a

detrimento da densidade populacional e das

coleta de lixo, ignorando o potencial paisagístico

famílias em habitações que se encontram em

e para o uso comunitário e de lazer do morro.

risco às margens do corpo hídrico, e no assentamento precário que é objeto de estudo, além das localizadas na encosta do morro de Zumbi dos Palmares.

De acordo com o PDM, as zonas possuem parâmetros urbanísticos idênticos, com exceção da altura máxima para a ZEIE B, como demonstrado na tabela.


118

Tabela 11 - Parâmetros Urbanísticos das Zonas Fonte: VILA VELHA, 2017; adaptado pela autora.

Tais parâmetros evidenciam o incentivo de verticalização da área que fica explicito na altura máxima estabelecida para as zonas. Fato que se explica pelo bairro possuir a maior densidade populacional da regional 3 e em relação aos 92 bairros existentes no município é o quarto bairro mais denso. Aliado a essa característica há ausência de vazios urbanos, favorecem ao incentivo para a verticalização das edificações. Entretanto tal incentivo é limitado pelos aspectos ambientais conjugados com seu histórico de formação por aterramento com resíduos sólidos, caracterizando um solo instável e passível de emissão de gases, além dos registros de inundação pelas águas pluviais e influência da maré. Qualquer intervenção por ocupações de grande porte demandaria estudos para mitigação dos efeitos dessa instabilidade registrada pelo histórico de uso da região.

4.3

ANÁLISE

DA

ÁREA

DE

intervenção

escolhida

para

INTERVENÇÃO A

área

de

desenvolver a proposta projetual de integração de assentamento precário, localiza-se em uma gleba entre as ruas Vitória Régia, Jaime de Barros, Raquel Teixeira e Rua Margarida (figura 69). Alguns

documentos

públicos

consultados

apresentaram ambiguidade na definição do bairro a que pertence a área de estudo. Tal dificuldade é decorrente da proximidade e da identificação das características morfológicas da área de intervenção com o Bairro Zumbi dos Palmares. Assim para o presente estudo foi adotado os limites da PMVV, onde a área de estudo pertence ao Bairro Santa Rita.


119

minimizar a poluição do rio, acabar com o risco de desmoronamento, ao mesmo tempo em que, proporcionava,

a

criação

de

espaços

comunitários, com praça e equipamentos de lazer. Tais ações contribuiriam para a melhoria na qualidade de vida dos moradores do bairro e adjacência, promovendo benefícios para a saúde Figura 69 - Localização da Área de Intervenção Fonte: Elaborado pela autora.

e o convívio social. (VILA VELHA, [2015])

A formação do assentamento precário na área de

O projeto iniciou-se em uma poligonal do Bairro

intervenção ocorreu após a paralização da obra

Primeiro de Maio, com a remoção de 39 famílias

de HIS pelo Poder Público. No ano de 2008 foi

entre 2014 e 2015, e segundo a PMVV:

elaborado o Projeto Urbanização Integrada da

A escolha deste bairro se deve ao fato de ser uma das localidades da área de intervenção original mais comprometida do ponto de vista urbanístico, o que tem causado reflexos nas condições de saúde, segurança pública e qualidade de vida de seus moradores. (VILA VELHA, [2015], p.1)

Baixada do Rio Aribiri no município de Vila Velha - E.S, com recursos do PAC para Projetos Prioritários de Investimentos de intervenção em favelas. (VILA VELHA, [2015])

A área de intervenção do presente estudo, foi

Segundo descrito no relatório da SEMDU, o

designada

Projeto Técnico Social - PTS ocorreria em uma

habitacionais denominadas Residencial Zumbi

poligonal que originalmente abrangia os bairros

dos Palmares (figura 76), com o intuito de

Santa Rita, Vila Garrido, Primeiro de Maio, Ilha

atender a demanda de realocação de famílias

das Flores, Ilha da Conceição, Pedra dos Búzios e

removidas. (VILA VELHA, [2015])

Zumbi dos Palmares.

para

construção

de

unidades

Na fase inicial foram construídas 56 unidades

Essa intervenção objetivava a remoção de

habitacionais, vindo a acabar os recursos ao

famílias em área de risco de em Zumbi dos

término da primeira etapa do projeto, impedindo

Palmares e das que residem ao longo do Canal do

a continuidade do mesmo.

Rio Aribiri, em virtude dos alargamentos e desassoreamento do mesmo, decorrente do descarte inadequado de resíduos líquidos e sólidos das residências ribeirinhas.

Tal fato, acarretou por um lado, a doação de 17 habitações para famílias de outras localidades do município

e

inscritas

em

outro

projeto

habitacional do PAC - Pró Moradia, e por outro,

O resultado esperado do PTS era proporcionar

o abandono da área destinada para as outras

maior velocidade de escoamento da água e

etapas de construção de habitações, propiciando


120

a apropriação do espaço através do fenômeno de assentamento precário que ocorreu no início de 2016 (figura 70 e 71).

Figura 71 - Evolução do Assentamento Precário de 2017 a 2019 Fonte: GOOGLE EARTH, 2020; adaptado pela autora.

A Coordenação de Políticas Habitacionais da SEMDU realizou nos dias 28 e 29 de março de Figura 70 - Evolução do Assentamento Precário de 2015 a 2016 Fonte: GOOGLE EARTH, 2020; adaptado pela autora.

2019 a selagem das edificações existentes na área do assentamento precário no entorno do Residencial Zumbi dos Palmares. A área do assentamento precário foi dividida em três quadras (figura 72), com 70 lotes ocupados por famílias, 02 por instituições religiosas e 04 vazios, totalizando 76 lotes no local e uma área livre na gleba. A selagem ocorreu em 34


121

moradias

com

os

responsáveis

familiares

Quanto às condições do terreno se categoriza

presentes e em 36 moradias foi feita notificação

como inadequado pela necessidade de estudo

com prazo de 15 dias para o responsável se

específico e implantar alternativas de drenagem

apresentar na SEMDU.

pluvial e escape das águas de enchentes. As

A quadra de nº01 é composta por dois blocos de edificações

geminadas

56

unidades

habitacionais – produzidas pelo PAC e 29 lotes ocupados por assentamento precário. Já a

condições das moradias são inadequadas e improvisadas com materiais reciclados (figura 73), além de existir deficiências construtivas nas poucas edificações que utilizaram alvenaria.

quadra de nº02 é composta por 35 lotes ocupados e 12 lotes na mesma condição que se encontram na quadra de nº03. (VILA VELHA, 2019)

Figura 73 - Condições das Moradias Fonte: Acervo da autora, 2019.

Em suma, as características físicas da tipologia construtiva

predominante

são

habitações

improvisadas com sobras de materiais em condições precárias. Em alvenaria existentes duas edificações de instituições religiosas com Figura 72 - Demarcação das Quadras na Área de Intervenção Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

estrutura aparente, habitações pontuais (figura

As características físicas da área de intervenção

74), além dos quatro blocos de HIS do PAC que

são

precário

foram concluídas dentro dos padrões mínimos

consolidável por ausência de infraestrutura

construtivos, com algumas alterações nas

básica;

fachadas (figura 75).

peculiares

ao

traçado

inexistência

de

assentamento

urbano

aglomerado

afastamento

das

por casas,

acarretando o prejuízo na ventilação cruzada; sistema viário irregular necessitando adaptação; e

falta

de

regularização

parcelamento do solo.

urbanística

do


122

utilizados para esse fim, com alguns pontos de acúmulo

de

materiais

recicláveis

para

comercialização, conforme figuras abaixo.

Figura 74 - Construções Inacabadas com Estrutura Aparente Fonte: Acervo do NEP, 2019.

Figura 76 - Acúmulo de Materiais Recicláveis Fonte: Acervo da autora, 2019.

Decorrente da baixa renda familiar a mobilidade desses moradores é feita predominantemente Figura 75 - Alterações nas Fachadas das Casas Geminadas Fonte: Acervo da autora, 2019.

Além do prejuízo da ventilação cruzada nas habitações, observou-se que a incipiência de vegetação e o aglomerado de residências no maciço rochoso em Zumbi dos Palmares, prejudicam a ventilação natural e o conforto

por ambulação ou bicicleta. Conforme o diagnóstico sobre a mobilidade de Santa Rita, há descontinuidade das ciclovias presentes nos eixos viários do entorno e no bairro não existe ciclofaixa ou ciclovia, dificultando a locomoção dos usuários, e os colocando em risco. Além de pontos

térmico no assentamento precário.

obstruídos,

levantamento

como

identificados impeditivos

no para

Em conversas com os moradores na visita

continuidade do fluxo de veículos em alguns

técnica,

trechos.

verificou-se

que

os

mesmos

desenvolvem atividades laborais no mercado informal,

como

vendedores

ambulantes,

havendo diversos catadores de recicláveis, entre outros. Sendo constatado vários carrinhos

Na visita técnica constatou-se a inexistência do abastecimento de água por rede geral, da rede de energia elétrica, rede de esgoto e coleta de


123

lixo, revelando a insalubridade da área. Por outro

Tal fato foi constatado em reunião realizada na

lado, no dia da visita observou-se que a

UVV, com representantes da comunidade e da

drenagem de águas pluviais estava em processo

SEMDU (figura 78). Onde os participantes

de implantação pela PMVV (figura 77).

demonstraram

anseio

por

mudanças

nas

condições atuais e relataram algumas demandas dos moradores, sendo elas, a construção de um centro comunitário para a prática de atividades como zumba, capoeira, entre outros, e a implantação da praça no espaço demarcado pela PMVV como área livre. Figura 77 - Obra de Drenagem Fonte: Acervo da autora, 2019.

Tais questões demonstram que a infraestrutura urbana da área ainda se encontra precária, assim como, com problemas de acessibilidade. A área também apresenta irregularidade das vias, as quais se encontram sem pavimentação e

Figura 78 - Reunião com Representantes na UVV Fonte: Acervo da autora, 2019.

calçadas, necessitando intervenção pública para

Conclui-se que as condições da área de

promover melhorias urbanas na referida área.

intervenção são propicias para a remoção das

Com relação à área livre demarcada para fins públicos,

observou-se

que

possui

grande

potencial para criação de um espaço destinado ao convívio e lazer comunitário, destinado a

habitações atuais para urbanização da área. Para tanto, faz-se necessário a edificação de moradias com padrões construtivos adequados e devido reassentamento das famílias residentes no local; além de projeção viária apropriada; instalação de

promover vitalidade à área.

equipamentos de lazer e convívio social em área Do ponto de vista da participação da população

desocupada; extensão de infraestrutura urbana

e envolvimento do Poder Público no processo,

do entorno para a área; possibilitando a

destaca-se motivação da população para a

integração desse assentamento precário à

melhoria de seu bairro e a disponibilidade da

cidade formal, cujas alternativas estão propostas

PMVV de envolver as demais políticas públicas

no capítulo a seguir.

para

atendimento

população.

das

necessidades

da


124


125

5. PROPOSTA

basilares para a intervenção urbanística na área foco do presente estudo.

PROJETUAL

5.1 CONCEITO E PARTIDO

Esse capítulo traz a síntese das diretrizes conceituais

e

projetuais,

e

os

aspectos

levantados no diagnóstico que serviram de base para a formulação da proposta projetual de intervenção no referido assentamento precário.

Com base nas necessidades e potencialidades observadas no diagnóstico, nas demandas da comunidade, e no levantamento de campo, foi elaborada a tabela 12 com as diretrizes projetuais

que

Traduz os resultados da pesquisa em termos da

implementados

representação gráfica das considerações e

proposta.

nortearam e

partidos

os

conceitos

aplicados

na

percepções do autor acerca dos conceitos Tabela 12 - Síntese das Diretrizes Projetuais Fonte: Elaborado pela autora. SÍNTESE DAS DIRETRIZES PROJETUAIS REFERENCIAL TEÓRICO

EXEMPLOS DE INTERVENÇÃO URBANA

DIRETRIZES PROJETUAIS

A arquitetura e o urbanismo se materializam nas cidades como fruto de decisões políticas e econômicas, assim como, de escolhas individuais, de ações coletivas e de manifestações da cultura local. (WOLFRUM, 2013)

Alto de Bomba - Promoção do sentimento de pertencimento e vínculo da população através de sua participação em todas as Propor espaços dinâmicos para atender as demandas etapas da intervenção; criação de espaços públicos que populacionais, observando a atendessem às demandas e necessidades dos ocupantes. cultura local, proporcionar a Moravia - Presença e organização da comunidade no processo sentimento de pertencimento dos de gestão e reorganização urbana, sendo compatível com as moradores com a participação no características locais; espaços como forma de geração de processo. estímulos.

Tipologias de intervenção com definição de elementos mínimos para adequação urbana e melhorias habitacionais, para solucionar riscos e impactos ambientais, proporcionar conforto, acessibilidade e salubridade. (BUENO, 2000)

Dique de Vila Gilda - Criação de pátios internos para Intervenção urbanísitica com convivência; tipologias habitacionais de casas sobrepostas; instalação de infraestrutura básica, demarcação de locais para comércio, estimulando a economia acessibilidade, relocação dos local; remoção das habitações em risco no mangue. moradores na área de intervenção Alto de Bomba - Implantação de infraestrutura e em condições dignas de moradia e acessibilidade; geração de renda com a contratação dos convivência comunitária, soluções moradores como mão de obra na intervenção. projetuais de redução do impacto ambiental e melhoria das Moravia - Remoção e reassentamento das familias em risco; condições econômicas dos valorização do comércio e produção local das famílias e moradores. microempresas

Tipologia de Remanejamento com intervenção urbana em terrenos consolidáveis, com predominancia de moradias com materiais inadequados. (DENALDI, 2010)

Dique de Vila Gilda - Tipologias habitacionais de casas sobrepostas. Alto de Bomba - Implantação de infraestrutura e acessibilidade. Moravia - Remoção e reassentamento das familias em risco; alteração da morfologia e implementação de infraestrutura.

Sugestão de implantação de casas sobrepostas para solucionar questões de adensamento e condições habitacionais, possibilitando a criação de espaços de convivência e uso público que requalificam o espaço.


126

Os conceitos chave presentes ao longo do

A Integração foi pensada a partir da continuidade

processo

a

da área de utilização pública com uso

Integração e a Sustentabilidade (figura 79). Com

diversificado, a fluidez nas calçadas, percursos e

a evolução da pesquisa foi se evidenciando as

vias que delimitam a área, a permeabilidade dos

características orgânicas do traçado das ruas e

elementos

edificações na área e entorno; a presença do

incentivando a apropriação comunitária e

corpo hídrico; a influência das formações

democrática do espaço, proporcionando ao

geológicas do entorno, a carência de espaços

bairro a percepção de uma extensão das áreas

livres de uso público no bairro e adjacências, e a

livres da comunidade.

criativo

foram

a

Identidade,

segregação dos poucos espaços existentes.

com

o

entorno

e

entre

si,

A Identidade foi preservada pela demarcação dos

Além de fatores culturais como a relação dos

elementos e organicidade da releitura do corpo

moradores com a coleta de materiais recicláveis

hídrico representada como eixo conector entre

– acúmulo e venda - e a ocupação econômica de

os

venda ambulante como forma de sustento das

formações geológicas e reutilização de elemento

famílias, também

predominante nas barreiras físicas do entorno; a

foram

projeto.

considerados

no

mesmos;

a

retratação

simbólica

das

projeção de espaço apropriado para a releitura do desenvolvimento de atividades laborais. A Sustentabilidade foi empregada através de paginação e elemento com drenagem de águas pluviais, bem como, de releitura da utilização de objetos

recicláveis,

em

contraponto

aos

utilizados in natura, fortalecendo ao mesmo tempo a identidade, senso de pertencimento à cadeia produtiva dos mesmos, contribuindo para a preservação não só dos recursos ecológicos, mas também dos componentes propostos no espaço. Adiciona-se a sustentabilidade econômica a este Figura 79 - Conceito e Partido Fonte: Elaborado pela autora.

conjunto, proporcionada pela inserção de espaços comerciais para serem explorados pelos moradores da própria comunidade e também,


127

pela atribuição de uma área livre para ser

principalmente dando conexão entre esses

destinada à cooperativa de catadores de lixo que

elementos constitutivos do bairro, e deste, com

associada ao centro comunitário, pode oferecer

o município como um todo e de forma fluida e

atividades para confecção de peças a partir da

contínua.

reutilização de descartados coletados pela cooperativa. Este conjunto se complementa com a horta comunitária proposta no coração da praça da área de intervenção.

Nesse contexto, a análise do bairro revelou alternativas de intervenção urbanísticas que requerem, inicialmente, um estudo sobre as condições geológicas e ambientais, e das

Pretende-se com essa proposta trazer vitalidade

condições econômicas e políticas para a

à área com ambientes que estimulam o convívio

implementação da mesma.

social e comunitário, trazendo a circulação de usuários para mitigar a segregação da área e influenciar a alteração da dinâmica do bairro e seu entorno.

bairro, tem relação com: deficiências no recuo

verdes e de uso público. Considerando ainda que as poucas áreas livres existentes se encontram

INTEGRAÇÃO DO BAIRRO

em situações precárias.

Para elabora a proposta de intervenção descrita no próximo tópico, se levou em consideração o contexto macro do bairro. Nesta perspectiva, o processo de diagnóstico propiciou uma avaliação conjunto

na interação, no conforto térmico e visual do

das edificações; escassez de vazios, de áreas

5.2 ESTRATÉGIAS GERAIS DE

do

O estudo partiu da premissa de que a incipiência

urbanístico,

revelando

as

possibilidades e fragilidades existentes e a sintonia com as proposições do ensaio projetual da área, foco do presente estudo.

De forma geral, o bairro margeia uma zona de proteção ambiental suscetível a alagamentos, se comporta como área informal fragmentada e isolada em relação ao seu entorno e a cidade. As sugestões demonstradas nos mapas a seguir, revelará

o

potencial

paisagístico

e

de

recuperação do rio, proporcionando o equilíbrio com a natureza e imprimindo a percepção de continuidade em relação à cidade.

Desta forma, ficou evidenciada a necessidade de valorização do conjunto de possibilidades do bairro para solucionar as fragilidades, dando alternativas à escassez de espaços comunitários, alterando a ocupação de áreas de risco geológico, vitalizando os espaços existentes, e

O mapa 7 revela as indicações de remoções das edificações em risco; a requalificação dos espaços ou edificações para comportar novos usos ou melhoria das condições atuais; e as


128

alternativas de áreas para realocação das remoções. No extremo sul do bairro, logo após a gleba de intervenção assinalada por tracejado azul, foi demarcada a área de uma empresa de logística para remoção, por ser incompatível, destoante e causar ruptura com a constituição de residência de interesse social predominante no entorno. Sendo proposto a realocação em bairro adjacente, cuja localização está demarcada em laranja no mesmo mapa. Tal intervenção é o cerne da viabilização das demais sugestões propostas, por possibilitar a realocação de todas as famílias removidas. Porém,

demandará

discussão

nos

órgãos

deliberativo e legislativo para alteração legal do zoneamento urbano. Se tornando ponto crucial para transformação das características de ruptura, fragmentação e isolamento do bairro em relação à cidade.

Mapa 7 - Manter, Renovar e Requalificar do Bairro Fonte: Elaborado pela autora.


129

Mapa 7 - Manter, Renovar e Requalificar do Bairro


130

Para melhor esclarecimento das alternativas

Ciência com áreas de permanência e instalações

urbanísticas levantadas para o bairro, foi

de

utilizado o mapa 8 de setorização das áreas

experimentação sensorial e de leis da física e da

indicadas, utilizando representação simbólica

natureza, como a rotação da terra, relógio do sol,

por ícones que remetem à idealização descrita

propagação do som, reflexão de imagem, jardins

no texto. O objetivo principal dessas sugestões é

sensoriais e pisos táteis para explorar com

imprimir mais conexão, dinamismo e integração

vendas nos olhos, percursos para experimentar

do bairro com seu entorno, com o ambiente

utilizando cadeiras de roda, entre outros.

ecológico e com a cidade como um todo.

equipamentos

que

promovam

a

Foi descrito no PLHIS (VILA VELHA, 2015) o risco

No Setor 1 a sugestão é a projeção de um Parque

geológico na formação montanhosa do Bairro

Linear como eixo central de conexão com as

Zumbi dos Palmares, sendo citada a ocorrência

demais áreas do bairro, do entorno, e de toda a

de desmoronamento de encosta em 2012.

cidade. Sugere-se a criação de pequenas áreas de

Diante desse fato, o Setor 3 contempla a

permanência e jogos de mesa, de atividades

sugestão de remoção das habitações desses

física, de lazer, e espaços lúdicos para as crianças,

maciços para realocação no setor 5. No local se

além de percursos de pedestres e ciclovia,

sugere a instalação de parque ecológico com

interligando aos modais de transporte existentes

áreas de circulação e permanência, cultivo de

na Avenida Carlos Lindemberg.

mudas, áreas de compostagens e um Centro de

A recomendação é utilizar vegetação específica

Informação sobre ecologia e coleta seletiva.

para recomposição da mata ciliar de proteção

O novo parque contribuirá para consolidação do

das bordas do rio para melhorar o ecossistema e

senso de pertencimento da comunidade, a

ajudar na retenção das cheias. Essa proposta

exemplo do ocorrido em Medellín, podendo

seria viabilizada pela remoção de todas as

funcionar

edificações que se encontram entre 10 e 15

ambiental com um edifício ícone projetado para

metros de distância do rio, para serem

valorizar e destacar a região.

reassentadas no setor 5. A proposta ainda prevê a criação de um espaço do tipo arquibancada para acomodar as cheias, como uma bacia de retenção. Pela proximidade da maioria das escolas, no Setor 2, sugere-se a criação de uma Praça da

como

uma

área

de

educação

No próximo tópico será apresentada a proposta do Setor 4 - área de intervenção. Para essa área foi projetada a Praça das Águas com área de alimentação

e

comércio,

localizados

nas

proximidades do limite com o Setor 5, onde se


131

situa a Rua Margarida, podendo ser planejado um centro comercial nessa via. Mapa 8 - Setorização das Sugestões de Intervenção no Bairro Fonte: Elaborado pela autora.


132

O Setor 5 seria o local de realocação das famílias

planejamento urbano, que necessitam de

e comércios removidos dos demais setores,

intervenção urbanística e habitacional que

projetando alguns espaços de permanência e

integrem a área de incidência do fenômeno com

convivência, além das edificações residenciais e

a cidade formal, foram elaboradas propostas

o centro comercial na divisa com o setor 4. Cabe

técnicas que se alinham com os conceitos e

salientar que a proposta de intervenção

partidos descritos, através de intervenções

urbanística no Setor 4 que está descrita no

funcionais e sustentáveis no espaço existente.

próximo

tópico,

contempla

o

redimensionamento da via que separa os dois setores. Essa estratégia prevê melhorias no acesso da mesma pela Av. Capuaba até a divisa com o Bairro Alecrim.

Trata-se

de

apresentar

uma

área

possibilidade

consolidável de

por

recuperação

urbanística e ambiental, adaptação do sistema viário, instalação de infraestrutura básica - que está em andamento - e regularização fundiária

Em síntese, pode-se afirmar que as intervenções

do local. Desta forma, a consolidação dessa área

sugeridas nos setores acima, solucionaram o

não se esgota na efetivação das propostas

conjunto

diagnosticadas,

projetuais, necessitando interface com as demais

proporcionando a harmonia do espaço urbano

políticas públicas e prosseguimento no processo

com o ecossistema presente no mesmo,

de regularização fundiária.

de

fragilidades

imprimindo uma identidade de sustentabilidade na medida em que valoriza a natureza e preserva seus recursos naturais.

As decisões à cerca da tipologia de intervenção se basearam nas características precárias e de risco das habitações; no adensamento elevado;

5.3 ENSAIO PROJETUAL DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

na inexistência de afastamentos; na ausência de áreas verdes; na escassez de área destinada para uso público e carência de infraestrutura urbana básica.

Como já assinalado, a solicitação inicial da elaboração desse ensaio projetual veio da PMVV através

da

SEMDU para

intervenção no

assentamento precário na gleba em volta dos blocos de unidades habitacionais do Residencial Zumbi dos Palmares.

Diante do exposto, avaliou-se a necessidade de aplicar a tipologia de Remanejamento como alternativa de intervenção urbanística, pois prevê a remoção das edificações precárias, adequações infraestrutura,

A partir do entendimento dos assentamentos precários como agrupamento com carência de

no

terreno, unidades

instalação

de

residenciais

e


133

equipamentos comunitários, e relocação dos

necessidades com pré-dimensionamento da

moradores em novas habitações.

implantação na proposta, ilustrada na tabela a

Com base nas demandas da população e das

seguir.

análises técnicas levantadas no processo de diagnóstico,

criou-se

o

programa

de

Tabela 13 - Programa de Necessidades e Prédimensionamento Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

SETOR 04 - PRAÇA DAS ÁGUAS ÁREA TOTAL DA GLEBA - 12.539,54 m² PROGRAMA DE NECESSIDADES

PRÉ-DIMENSIONAMENTO

CENTRO COMUNITÁRIO

374 m²

QUADRA POLIESPORTIVA COM ARQUIBANCADAS

568 m²

ÁREA DE SKATE

290 m²

ÁREA KIDS

300 m²

FONTE INTERATIVA

35 m²

ACADEMIA POPULAR

68,5 m²

ESPAÇOS DE PERMANÊNCIA

230 m²

HORTAS COMUNITÁRIAS

185 m²

ÁREA DOS IDOSOS

110 m²

ÁREA DE PARACICLOS COMÉRCIO - CONTAINER

45 m² 287 m²

DEPÓSITO DE LIXO - CONTAINER

14,72 m²

COOPERATIVA DE RECIPLAGEM

1.103 m²

CENTRO ECUMÊNICO - 01

159 m²

CENTRO ECUMÊNICO - 02

152 m²


134

Para a implantação dos elementos do programas

Ressalta-se que a proposta projetual prevê a

de necessidades, além da remoção

das

construção dos blocos habitacionais em etapas,

edificações faz-se necessário a requalificação de

contribuindo para o gerenciamento da obra,

dois terrenos vazios para relocação das igrejas

otimizando as remoções graduais, reduzindo o

existentes, e um galpão particular que se

custo da obra por dispensar a previsão de

encontra sem destinação de uso, com finalidade

recursos para o aluguel social.

de comportar uma Cooperativa de Catadores de Recicláveis, para eliminar o estacionamento de carrinhos nas vias e depósitos irregulares desses materiais na frente das casas, de acordo com o mapa 9.

Tais etapas construtivas podem ser realizadas conforme esquema retratado nas figuras 80 e 81, que prevê a implantação dos Blocos A e B no espaço vazio existente, e a ocupação das respectivas unidades habitacionais promove as

O Residencial Zumbi dos Palmares está inserido

condições para remoção na área onde está

na

necessitam

projetada a construção dos Blocos C e D, que por

requalificação das fachadas com nova pintura e

sua vez, proporcionam mais habitações que

remoção de alterações inadequadas na mesma,

possibilitam remoções no local planejado para os

visto que o projeto prevê área específica para

Blocos E e F.

área

destinar

de

à

intervenção

comercialização

e

de

materiais

recicláveis.

De forma sucessiva e gradual os blocos construídos vão proporcionando a relocação das famílias e remoção de moradia precárias existentes, liberando espaço para a edificação de novos blocos de casas sobrepostas, até que todos estejam alojados, e os espaços de circulação e uso comum da Praça das Águas poderão sofrer intervenções para implantação dos

demais

propostas.

Mapa 9 - Manter, Renovar e Requalificar da Área de Intervenção Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

equipamentos

e

estruturas


135

Figura 80 – Sugestão de Construção e Relocação dos Blocos A ao D Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Figura 81 - Sugestão de Construção e Relocação dos Blocos E ao H Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

As dimensões irregulares e inadequadas das calçadas e vias do entorno da gleba, demandam reconfiguração (mapa 10), para possibilitar circulação adequada. As vias foram projetadas


136

dentro de dimensões possíveis, consoante com a flexibilização das especificações de ZEIS.

Figura 83 - Perfil Viário das Vias de Mão Única Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Na área destinada para intervenção, existiam quatro blocos de edificações instaladas em paralelo,

que

totalizam

56

unidades

habitacionais, com uma via que separava a área do residencial das demais habitações do

Mapa 10 - Sugestão Viária Fonte: Elaborado pela autora. 2020.

assentamento. Optou-se pela integração dessas

O redimensionamento das ruas com áreas de

unidades à presente proposta urbanística, e para

estacionamento

de

isso, decidiu-se pela extinção da via e pela

veículos

projeção das demais edificações em formato

circulação

e

soluciona

dificuldades

permanência

de

automotores, adequando às condições de trafegabilidade.

A

correção

das

calçadas

propiciou a livre circulação de transeuntes e a integração nos percursos de pedestres, bem como a instalação de arborização para conforto térmico e visual, sempre que a dimensão das mesmas possibilitava (figura 82 e 83).

similar e dimensões proporcionais às mesmas. Acrescentou-se mais 8 blocos de edificações com 3

pavimentos,

totalizando

78

unidades

habitacionais - para acomodar as famílias das 70 residências

seladas

-

instaladas

predominantemente nos limites das áreas com a frente para as vias públicas, como forma de dinamizar o uso das calçadas. Com exceção de um edifício que foi disposto em paralelo às edificações pré-existentes, como forma de harmonização da disposição dos mesmos. O

Figura 82 - Perfil Viário das Vias de Mão Dupla Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

entorno

se

integra

à

proposta

pela

permeabilidade dos acessos e pela fluidez da circulação na Praça das Águas, que é o elemento mais marcante da proposta de integração. A configuração de quadra aberta associada à sua


137

forma orgânica e fluida, favorece a concretização dos conceitos e partidos projetuais almejados. Buscou-se retratar simbolicamente os elementos marcantes do entorno como: a assimetria dos terrenos e vielas, reproduzida na morfologia dos canteiros; a configuração do Rio Aribiri está presente nos desenhos no piso em azul que exerce alternadamente a função de delimitador visual e conector entre os ambientes da praça.


138

Figura 84 - Planta Humanizada da Proposta Projetual Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


139

Na praça buscou-se implantar elementos atrativos para todas as faixas etárias e estilo de vida, promovendo a apropriação comunitária e democrática do espaço, e também contribuindo para o aumento das áreas livres da comunidade. Para tanto, foram previstas áreas para academia popular, de convívio social e permanência com mesas de jogos de tabuleiro,

hortas

comunitárias

sob

pergolados, pista de skate, áreas de comércio

e

alimentação,

centro

comunitário com espaço propício para realização de cursos, bailes comunitários ou festas particulares agendadas.

circulação através do Piso Fulget Drenante.

Figura 85 - Referências da Quadra Rebaixada e Piso Emborrachado Fonte: https://worldlandscapearchitect.com/watersquare-tiel-opens/#.Xuouo7jPzIU e https://followthecolours.com.br/artattack/quadra-de-basquete-colorida-paris/

A mesma preocupação é verificada no

A preocupação com os alagamentos

emprego do Piso Emborrachado EPDM

também se encontra no rebaixamento da

Drenante (apêndice C) para as áreas da

quadra esportiva em 60cm do nível da

academia, espaço kids e quadra esportiva

praça, funcionando como área inundável

(figura 85).

em caso de fortes chuvas. O sistema de

A sustentabilidade também foi empregada na drenagem de águas pluviais das áreas de

drenagem

funciona

tanto

pelo

piso

drenante utilizado, como também por grelhas dispostas nos fundos das traves do gol. Na

extensão

de

sua

borda

foram

projetados dois degraus que servem de acesso e arquibancadas, assim como, duas unidades de arquibancadas externas com


140

canteiro que fornecem o sombreamento aos espectadores. O conjunto desse espaço servirá também para consolidar o local de realização de atividades culturais do bairro, como a festa junina, organizada por uma moradora do

comunidade de Zumbi dos Palmares.

Figura 87 - Referência da Fonte Interativa Fonte: https://br.pinterest.com/pin/50658465806909748 3/

No Espaço Kids foram instalados volumes

A praça de skate foi pensada como

com

e

estratégia de integração comunitária,

escorrega, entre outros, os quais retratam

atraindo praticantes do esporte de outras

simbolicamente os morros e maciços

localidades do município, bem como,

rochosos do bairro e imediações.

possibilitando

assentamento

em

equipamentos

conjunto

de

com

escalada

a

comunidade

os a

jovens

da

própria

desenvolverem

novas

habilidades - equilíbrio e concentração – através de um esporte de custo acessível. A relação dos moradores com os materiais recicláveis foi preservada com a instalação de um espaço reservado para o descarte seletivo de lixo, bem como, com a criação de espaço de armazenagem, compactação Figura 86 - Referência do Espaço Kids Fonte: https://rubberbrasil.com.br/playground/transform ando-ambiente-com-piso-emborrachado/

Logo ao lado foi projetado uma fonte interativa iluminada para utilização á noite, havendo sincronização da luz com o movimento das águas, esse elemento traz uma ludicidade para a oscilação das marés do corpo hídrico do bairro.

e venda por cooperativa, o que garante também a sustentabilidade ecológica e financeira de boa parte das famílias residentes. A expressão cultural religiosa também foi preservada com a destinação dos

espaços

acomodar

as

vazios

existentes

atividades

encontradas no assentamento.

para

religiosas


141

A reutilização de containers existentes no

estabelecidas em regimento interno, que

pátio da empresa limítrofe à área, são

deverão ser observadas, podendo ser

fatores de identidade do local e foram

cobrando taxa para ser revertida na

implantados na proposta numa releitura

realização

de sua utilização, deixando de ser fator de

consertos do centro, entre outros.

barreira visual, para o de sustentabilidade tanto ecológica como econômica. Esses containers foram projetados para abrigar atividades comerciais de moradores locais, providas

de

áreas

com

deck

nas

proximidades dos edifícios.

de

cursos

ou

pequenos

Desta forma, necessitará da articulação das demais políticas públicas para efetuar o trabalho

social

necessário

organização

comunitária,

profissional

das

pessoas

para

a

capacitação que

vão

empreender nos espaços de vendas e dos que vão se associar à cooperativa. A consciência ecológica e de preservação do patrimônio público também deverão ser foco do trabalho social. A sustentabilidade também foi empregada na utilização de madeira plástica no encosto dos bancos de concreto, decks, além das lixeiras dispostas ao longo da praça para coleta seletiva do material descartado e container utilizado como depósito de lixo dos moradores (orgânico e reciclado), contribuindo para preservação dos recursos ecológicos e criar uma nova

Figura 88 - Referências do Comércio em Container Fonte: https://br.pinterest.com/pin/36028803894292853 3/ e https://br.pinterest.com/pin/36028803894292850 8/

cultura de preservação na comunidade. No apêndice B todos esses mobiliários se encontram detalhados.

A sugestão é de que a diretoria do Centro

A arborização foi pensada em espécies de

Comunitário

exploração

tamanhos variados para proporcionar

comercial desses espaços de containers,

sombreamento, solucionando demanda de

com regras acordadas com a comunidade e

o conforto térmico, sendo destinada

administre

a


142

muitas

áreas

verdes,

de

a

central pensada numa perspectiva de

compensar a carência do bairro. A

integração geracional no cultivo e manejo,

vegetação

proporcionando

também

forma

auxilia

na

para

as

crianças

permeabilidade do solo e se encontra

experiencias sensoriais com espécies de

detalhamento

temperos e chás – conforme cultura dos

de

espécies

e

suas

dimensões no apêndice A. Outro

elemento

promotor

moradores - possibilitando cores e cheiros de

sustentabilidade e integração foram as hortas comunitárias instaladas em dois pontos da praça, o primeiro na parte

variados. A outra foi posiciona ao lado do Centro Comunitário e pensada em termos de folhagens e hortaliças de trepadeiras para se espalhar pelo pergolado.


143

Figura 89 - Perspectivas da Quadra Poliesportiva Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


144

Figura 90 - Perspectivas dos Espaço de Esporte e Comércio Alimentício Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


145

Figura 91 – Perspectivas da Área de Skate e Espaços de Alimentação Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


146

Figura 92 - Perspectivas das ร reas Prรณximas ao Centro Comunitรกrio Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


147

Figura 93 - Perspectivas dos Percursos Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


148

Figura 94 - Perspectivas da Ă rea Kids e seus Acessos Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


149

Figura 95 - Perspectivas dos Percursos pelo Espaรงo Kids e Academia Popular Fonte: Elaborado pela autora, 2020.


150


151

6.

Os planos urbanos desenvolvidos ao longo

CONSIDERAÇÕES

documentos técnicos e densos, ora com

da

história,

ora

se

traduziam

em

diretrizes generalistas e propositivas. Tal

FINAIS

cenário começou a se transformar após movimentos populares em busca da

Considerando que a formação dos grandes

igualdade territorial, puxando a discussão

centros

esteve

sobre a reforma urbana e influenciando os

subordinada às atividades econômicas

legisladores a regulamenta o direito à

predominantes em cada período histórico,

moradia como direito fundamental do ser

podemos

humano, presente na Constituição Federal

urbanos

afirmar

brasileiros

que

o

comércio

internacional, bem como, as atividades

do Brasil em 1988.

financeiras e portuárias decorrentes do

A Constituição de 1988 regulamentou a

mesmo, ditaram a ascensão ou decadência

política

de regiões inteiras ou cidades brasileiras,

estabelecendo a municipalização das ações

ao longo dos três primeiros séculos de

que ordenem o pleno desenvolvimento das

nossa história.

funções sociais da cidade, e desta forma,

A subordinação econômica do país ao

garantem o bem-estar de seus habitantes,

mercado

principalmente aos de baixa renda.

internacional,

a

falta

de

de

desenvolvimento

urbano,

planejamento estratégico das intervenções

A partir desse marco jurídico, observa-se

públicas em matéria de urbanização das

um conjunto de leis, planos, políticas,

cidades, além das de transformação da

normativos e ações que trazem em seu

terra em fator econômico e decisões

âmago as determinações constitucionais

políticas fundiários

com

instrumentos

excludentes,

legais ou

de

traduzidas em princípios, diretrizes, eixos norteadores. O Estatuto da Cidade foi um

criminalização das ações populares de

marco para instituição de instrumentos

ocupação do solo, formaram a base para

que, se bem utilizados pelo poder

exclusão das camadas economicamente

municipal em seu Plano Diretor, servem

vulneráveis

para a efetivação do direto à terra

do

direito

dignamente nas cidades.

de

habitar

urbanizada,

à

moradia

digna,

à

infraestrutura urbana, à serviços públicos,


152

ao trabalho e à sustentabilidade da

O Bairro Santa Rita se originou e se

natureza nas periferias e na cidade como

desenvolveu ao longo das décadas por

um todo.

ocorrência de assentamentos precários nas

Todos os fatos decorridos no âmbito nacional se expressaram na história da cidade de Vila Velha, que em decorrência de decisões políticas e econômicas, vivenciou séculos de abandono e a partir da década de 1970, um desenvolvimento populacional vultuoso em relação aos demais municípios da RMGV. De forma inversamente proporcional, experimentou

um

desenvolvimento

econômico incipiente em relação aos demais município da região, e assim, os bairros periféricos se localizam em áreas alagáveis ou encostas, dando o início à formação de assentamentos precários.

áreas

alagáveis

e

parte

insular

do

manguezal do Rio Aribiri, e as intervenções públicas realizadas ao longo de 50 anos promoveram

o

melhoramento

das

condições urbanas do bairro, mas não foram

suficientes

para

promover

a

integração e fluidez com a cidade. Sua relação com o movimento das marés, água pluviais, e formações montanhosas no entorno, o perfil jovem da população, a origem camponesa dos idosos, o anseio da população por espaços públicos e a ruptura visual com as vias de circulação da cidade formaram as bases para a formulação dos conceitos e partidos empregados no ensaio projetual.

Assentamento precário é a terminologia empregada para descrever o adensamento populacional em áreas de risco geológico ou de preservação ambiental, inadequadas para habitação ou sem infraestrutura urbana básica, presença de edificações com materiais inadequados ou sem o emprego de técnicas construtivas seguras,

Em termos urbanos a concepção da Praça das Águas, sua configuração e dinamismo, seus acessos e as continuidades com conexões para as residências sobrepostas, entorno

e

ambientes

propostos,

transformarão urbanisticamente tanto a gleba, como o bairro e adjacências.

sem registro legal de uso e posse da terra,

A

zona

e principalmente, habitado por pessoas

desconsiderada

que não dispõe de condições financeiras

transformar em um lugar de encontro, de

para adquiri sua moradia no mercado

troca,

formal.

sustentabilidade. Assim, ao que se refere a

de

urbana e

mal

construída,

perigosa

experimentação

pode

e

se

de


153

esta

proposta

de

transformação

especificações

técnicas

padrões

urbanística proporcionará transformações

adequados

sociais e culturais dos moradores e do seu

principalmente com uma política fundiária

entorno.

consonante com a intervenção urbanística.

A organização do trabalho com recicláveis

Com isso, pode-se concluir que as cidades

em cooperativa vai favorecer a inclusão

materializam

social,

da

econômicas e os conflitos sociais, e a

gentrificação pelo aumento de renda dos

repercussão de decisões ou escolhas

moradores, promover o reconhecimento e

tomadas

visibilidade dos cidadãos de Santa Rita

coletivamente,

como promotores da sustentabilidade,

possibilidades de transformação do espaço

imprimindo

e sua significação para a cidade.

e

possibilitar

a

dignidade

redução

à

atividade

laborativa de pouca valorização, mas de grande importância para a saúde pública e preservação ecológica. A sustentabilidade econômica do Centro Comunitário

também

possibilitará

a

conservação do espaço e desenvolvimento de

formação

profissional

para

proporcionar trabalho qualificado. Os

resultados

dessa

intervenção

dependem diretamente da interface e articulação das demais políticas públicas como assistência social, educação, saúde, cultura, trabalho e renda, entre outros. Desse modo, as ações dessas políticas precisam articulada

se

desenvolver

e

compatível

de

forma

com

as

necessidades da realidade local, com provisão de recursos para a execução das

de

com

as

intervenções

medidas

individualmente apresentam

e

político-

e

as

infinitas


154


155

7.

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163


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8. APÊNDICE Apêndice A - Vegetação da Proposta Fonte: Elaborado pela autora, 2020. ILUSTRAÇÃO

ESPÉCIE

DIMENSÕES

PAU-FERRO

H=30m DIÂMETRO DA COPA=12m

OITI

H=15m DIÂMETRO DA COPA = 8m

PITANGUEIRA

H=2 a 5m DIÂMETRO DA COPA = 3 a 6m

PALMEIRA ARECA

H= até 3m DIÂMETRO DA COPA = 4m

ACEROLA

H=3 a 6m DIÂMETRO DA COPA = 2 a 3m

MARACUJÁ

H= acima de 12m

MURTA

H=3 a 5m

CAMBARÁ

H=0,9 a 1,2m

HOSTA

H= até 0,60cm

CLOROFITO

H= até 0,60cm


165

Apêndice B - Mobiliários da proposta Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

ILUSTRAÇÃO

TIPO

DESCRIÇÃO

BANCO

CONCRETO E RIPAS DE MADEIRA PLÁSTICA

MESA

4 LUGARES EM CONCRETO

MESA

6 LUGARES EM CONCRETO

SOMBREAMENTO

PERGOLADO DE MADEIRA PLÁSTICA

ILUMINAÇÃO

POSTE DE LED FOTOVOLTAICOS PARA ILUMINAR O PERCURSO DOS PEDESTRES NA PRAÇA H=3M

ILUMINAÇÃO

POSTE DE LED FOTOVOLTAICOS COM DUAS ALTURAS ILUMINANDO AS VIAS E CALÇADAS - H=3 E 8M

ILUMINAÇÃO

REFLETORES DE LED NA QUADRA H=12M

ILUMINAÇÃO

SPOTS DE PISO NA FONTE INTERATIVA

LIXEIRA

CONCRETO COM MADEIRA PLÁSTICA E SÍMBOLOS DA COLETA SELETIVA


166

Apêndice C - Pisos da proposta Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

ILUSTRAÇÃO

DESCRIÇÃO

DIMENSÕES

LOCALIZAÇÃO

PISO EMBORRACHADO EPDM DRENANTE - CORES VARIADAS (RUBBER BRASIL)

MOLDADO IN LOCO

ESPAÇO KIDS, ACADEMIA E QUADRA POLIESPORTIVA

PISO FULGET DRENANTE CINZA CLARO E MÉDIO

MOLDADO IN LOCO

PERCURSOS E CALÇADAS

PISO INTERTRAVADO RETANGULAR - PÉROLA

0,20x0,10cm

VIAS

DECK DE MADEIRA PLÁSTICA MACIÇA CANYON LISO

3,00m x 0,142cm

ESPAÇOS DE COMÉRCIO ALIMENTÍCIO

PISO TÁTIL DE ALERTA E DIRECIONAL

0,40x0,40cm

CALÇADAS


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