EARTH SONG INSIDE MICHAEL JACKSON’S MAGNUM OPUS JOSEPH VOGEL
Tradução de Daniela Ferreira para o blog The Man in the Music http://themaninthemusic.blogspot.com.br/
No Começo
Michael Jackson estava sozinho no quarto de hotel dele, andando. Ele estava no meio da segunda etapa da Turnê Mundial Bad, uma exaustiva série espetacular de 123 concertos que se estendeu por quase dois anos. A turnê se tornou a série de concertos de maior bilheteria e com maior público na história. Apenas dias antes, Jackson tinha se apresentado em Roma, no Faminio Stadium para uma estática multidão de mais de 30 mil pessoas. Na hora de descanso dele, ele visitava a Capela Cistina e a Catedral de São Pedro, no Vaticano, com Quincy Jones e o legendário compositor Leonard Bernstein. Mais tarde, eles dirigiram até Florença, onde Jackson ficou de pé ao lado da magnífica escultura de Michelangelo, Davi, olhando admirado. Agora, ele estava em Viena, Áustria, a capital da música do mundo ocidental. Foi aqui onde a brilhantes 25º sinfonia de Mozart e a assombrosa Réquiem foi composta; onde Beethoven estudou sob Haydn e tocou a primeira sinfonia dele. E foi aqui, no Viena Marriott, em 1 de junho de 1988, que a obra magna de Michael Jackson, “Earth Song”, nasceu. A obra de seis minutos e meio, que se materializou pelos próximos sete anos, era diferente de qualquer coisa que já se tinha ouvido na música popular antes. Hinos sociais e músicas de protesto têm sido, há muito tempo, herança do rock. Mas não como essa. “Earth Song” é algo mais épico, dramático e essencial. Ela é uma lamentação tirada das páginas de Jó e Jeremias, uma profecia apocalíptica que lembra as obras de Blake, Yeats e Eliot. Ela transmite, musicalmente, o que a estética magistral de Picasso, Guernica, transmite em arte. (1) Dentro das turbulentas cenas de destruição e sofrimento dela eram vozes – chorando, implorando, gritando para serem ouvidas. (“E quando a nós?”). “Earth Song” se tornaria o mais bem sucedido hino sobre o meio ambiente já gravado, alcançando o topo dos charts em mais de quinze países e vendendo mais de cinco milhões de cópias. Mas os críticos nunca
souberam muito o que fazer com isso. A incomum fusão de opera, rock, gospel e blues dela soa como nada no rádio. Ela desafia qualquer expectativa sobre um hino tradicional. No lugar de nacionalismo, ela visiona um mundo sem divisão ou hierarquia. No lugar de dogmas religiosos, ela ansiava por uma mais ampla visão de equilíbrio ecológico e harmonia. No lugar de uma simplista propaganda por uma causa, ela era uma genuína expressão artística. No lugar de um refrão jingle que poderia ser estampado em uma camiseta ou na Billboard, ela oferece um choro universal, sem palavras.
Notas do autor: Incidentalmente, a pintura de Picasso foi, similarmente, desdenhada pelos críticos como a visão infantil de um excêntrico. Ela é, agora, mundialmente considerada um dos mais importantes trabalhos de arte do século 20.
Privilégio e Dor
Jackson se lembrava do exato momento no qual a melodia surgiu. Foi na segunda noite dele em Viena. Do lado de fora do hotel dele, além da Ring Strasse Boulevard e o alastrado Stadtpark, ele poderia ver os majestosos museus iluminados, catedrais e opera houses. Era um mundo de cultura e privilégios muito distante do lar da infância dele, em Gary, Indiana. Jackson estava hospedado em uma elegante suíte conjugada, revestida por janelas amplas e uma vista de tirar o fôlego. Apesar de toda essa opulência em volta, ele estava, emocionalmente e mentalmente, em outro lugar. Não era mentalmente solidão (embora ele, certamente, sentisse isso). Era algo mais profundo – um esmagador desespero sobre a condição do mundo. Talvez a mais comum característica associada à celebridade seja narcisismo. Em 1988, Jackson, certamente, tinha razões para ser egoísta. Ele era a pessoa mais famosa do planeta. Para todos os lugares que ele
viaja, ele criava massiva histeria. No dia do concerto lotado dele no Prater Stadium, em Viena, um artigo da AP disse: “130 Fãs de Jackson Desmaiaram no Concerto.” (2) Se os Beatles eram mais populares que Jesus, como uma vez John Lennon alegou, Jackson bateu toda a Santa Trindade. Enquanto Jackson apreciava a atenção, de certa forma, ele também sentia uma profunda responsabilidade em usar essa celebridade para mais que fama e fortuna (Em 2000, o Guines Book of Records o citou como o artista pop mais filantropo da história). (3) “Quando você vê as coisas que eu tenho visto, e viaja pelo mundo todo, você não seria honesto com você nem com o mundo se [desviasse o olhar]”, Jackson explicou. (4) Em quase todas as paradas dele na Bad World Tour, ele visitaria orfanatos e hospitais. Apenas dias antes, quando em Roma, ele parou no Hospital Infantil Bambin Gesu, carregando presentes, tirando fotos, e assinando autógrafos. Antes de partir, ele prometeu uma doação de mais de 100 mil dólares. Antes e depois dos concertos, ele tinha crianças desprivilegiadas e doentes trazidas para o estádio. “Todas as noites, as crianças viriam em macas, tão doentes que elas mal podiam erguer a cabeça dela”, relembra o treinador de voz, Seth Riggs. “Michael ajoelharia ao lado das macas, colocando a cabeça ao lado das delas e, assim, ele poderia ter a foto dele tirada com eles e, depois, dava a eles uma cópia para lembrarem o momento. Eu não podia suportar isso. Eu estaria no banheiro chorando. As crianças teriam certas regalias na presença dele. Se isso desse a elas energia por mais um par de dias, para Michael, tinha valido a pena.” (5)
Notas do autor: 2. “130 Fãs Desmaiam no Concerto de Jackson.” The Telegraph, 4 de junho de 1988 3. Durante a vida dele, Jackson doou mais de 300 milhões de dólares para várias caridades. Além de dinheiro, ele doou incontáveis horas do tempo dele, e tornou amigo de vítimas da AIDS e câncer começou as própria fundações e iniciativas dele e, é claro, incorporou os temas nas músicas dele.
4. Shumley Boteach. The Michael Jackson Tapes. Vangurad Press, 2009 5. J. Randy Taraborrelli. Michael Jackson: The Magic and the Madness. Pan Books, 2004
Eu Os Sinto Dentro de Mim
Enquanto performando ou ajudando crianças, Jackson se sentia forte e feliz, mas quando ele voltava para o quarto de hotel dele, uma combinação de ansiedade, tristeza e desespero, às vezes, agarravam-no. (6) “Quando nos conhecemos, por volta de 1988” recorda o médico e autor Deepak Chopra, “eu fui atingido pela combinação de carisma e deslumbramento em torno de Michael. Ele seria cercado por multidões no aeroporto, apresentaria um show exaustivo por três horas e, então, sentarse-ia nos bastidores, depois, como ele fez uma noite em Bucharest, bebendo uma garrafa de água, observando alguma poesia de Sufi, quando eu entrei na sala, e querendo meditar”. (7) Jackson sempre foi sensível ao sofrimento e injustiça. Mas nos anos recentes, o sentimento de responsabilidade moral dele tinha crescido. O estereótipo da vaidade dele ignorava a natural curiosidade e a mente absorvente como uma esponja dele (um colaborador o descreveu como normalmente “bombeando as pessoas por informação”). Enquanto ele não era um sabichão político (Jackson, inquestionavelmente, preferia o reino da arte a políticas), ele, também, não era indiferente ao mundo em volta dele. Ele lia compulsivamente, assistia a filmes, conversava com especialistas e estudava assuntos pessoalmente. Ele estava investindo profundamente e tentando entender e mudar o mundo. Em 1988, ele, certamente, tinha razão para se preocupar. As notícias pareciam capítulos de uma antiga escritura: havia ondas de calor e de secas, massivos incêndios florestais, terremotos, genocídio e fome. Violência aumentava na Terra Santa, enquanto as florestas eram varridas na Amazônia e lixo, óleo e esgoto arrebentam nas praias. No lugar de Personalidades do Ano do Times, a estória da capa final de 1988 foi
dedicada à “Terra em perigo”. (8) De repente, ocorreu a muitos que estamos destruindo nosso próprio lar. A maioria das pessoas lia ou assistia às notícias casualmente, passivamente. Eles se tornaram dormentes àquelas imagens e estórias horríveis projetadas na tela. Mas tais estórias, frequentemente, levavam Jackson às lágrimas. Ele as internalizavam e sentia dor física. Quando as pessoas diziam a ele para, simplesmente, desfrutar a própria boa sorte, ele ficava com raiva. (9) Ele acreditava fortemente na sentença de John Donne de que “nenhum homem é uma ilha”. Para Jackson, a ideia se estendia a toda a vida. Todo o planeta era conectado e intricadamente valioso. “[Para a pessoa comum]”, ele explicou, “ela vê problemas ‘lá fora’ que têm que ser resolvidos”... mas eu não sinto dessa forma – esses problemas não estão ‘lá fora’ realmente. Eu os sinto dentro de mim. Uma criança chora na Etiópia, uma gaivota se debate pateticamente no óleo derramado... um soldado adolescente treme de terror, quando ele escuta os aviões sobrevoarem: Isso não está acontecendo dentro de mim, quando eu vejo e escuto sobre eles?”(10) Uma vez, durante um ensaio de dança, ele teve que parar, porque uma imagem que ele tinha visto mais cedo, naquele dia, de um golfinho preso em uma rede o deixou tão emocionalmente perturbado. “Pelo jeito que o corpo dele estava emaranhado nas linhas”, ele explicou, “você poderia ler tanta agonia. Os olhos dele estavam vagos, mas inda havia aquele sorriso, aquele que os golfinhos nunca perdem... Assim, lá estava eu, no meio do ensaio, e eu pensei: ‘Eles estão matando uma dança’”. (11) Quando Jackson performava, ele podia sentir essas emoções turbulentas surgindo através dele. Com a dança e o canto dele, ele tentava transfundir o sofrimento – dar a ele expressão, significado e força. Isso era libertador. Por um breve momento, ele podia levar a audiência dele (e ele mesmo) para um mundo de harmonia e êxtase. Mas inevitavelmente, ele era atirado de volta à crueldade do “mundo real”.
Notas do autor: 6. “Quaisquer grandes artistas estão lutando com a loucura e a solidão deles, os medos deles, ansiedades e inseguranças”, observa Cornell West,
“e eles estão transfigurando isso em formas complicadas de expressão que afetam nossos corações, mentes e almas e nos lembra de que nós somos, pois, seres humanos, a fragilidade da nossa condição humana e a inevitabilidade da morte... [Michael] foi capaz de se expressar de tal forma que ele nos permitiu ter um senso do que é esta vivo.” “Professor de Georgetown acessa o legado cultural de Michael Jackson.” The Tavis Smiley Show. PBS. 30 de junho de 2009. 7. Deepak Chopra. “Um Tributo ao Meu Amigo.” The Huffigton Post. 26 de junho de 2009. 8. “Nenhum indivíduo sequer, nenhum movimento capturou imaginações ou dominou manchetes mais que o aglomerado de rocha e solo e água e ar que é nosso lar comum.” “Planeta do Ano: O Que Estamos Fazendo na Terra. Time. 2 de janeiro de 1989. 9. Ironicamente, no mesmo ano que Michael Jackson escreveu “Earth Song”, “Don’t Worry, Be Happy” de Bobby McFerrin ganhou o Grammy de Gravação do Ano. 10. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections. Doubleday, 1992. 11. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections. Doubleday, 1992.
Esta é a Música Dela Muita dessa dor e desespero circulava dentro de Jackson, quando ele estava no quarto de hotel dele, em Viena, meditando. Então, de repente, ela veio. “Caiu no meu colo”, ele, mais tarde, se recordou do momento. (12) A música da Terra. Uma música a partir da perspectiva dela, a voz dela. Uma lamentação e súplica. O refrão veio a ele primeiro – um choro sem palavras. Ele apanhou o gravador dele e apertou gravar. Aaaaaaaaah, Ooooooooh.
As acordes eram simples, mas poderosos: Lá- bermenol menor a Dósustenido tríade; Lá-bermenol menor sétimo para Dó- sustenido tríade, depois, a modulação sobe, Si- bermenol menor para Mi-bermenol tríade. É isso. Jackson pensou. Ele, daí, trabalhou na introdução e alguns dos versos. Ele imaginou o alcance dela na cabeça dele. (13) “Earth Song”, ele determinou, seria a maior canção que ele já compôs.
Notas do autor: 12. Como era de costume durante a Bad World Tour, Jackson foi “contrabandeado” para dentro do hotel dele, em Viena, pela porta dos fundos, junto com Bill Bray, o chefe de segurança dele de muito tempo e a comitiva de acompanhamento. O quarto de hotel dele se tornou uma espécie de cela de prisão – se bem que uma muito luxuosa. Tão grande era o desejo dele por privacidade, que até mesmo as faxineiras no Marriot Hotel se lembram dele “desaparecendo dentro de outro quarto”, quando elas vinham limpar. O único momento em que ele era visto publicamente, era quando ele acenava para os fãs da janela e jogava bilhetes e autógrafos. 13. A citação completa de Jackson sobre como “Earth Song” veio até ele: “Eu me lembro de estar escrevendo ‘Earth Song’, quando eu estava na Áustria, em um hotel e eu estava sentindo tanta dor e estava sofrendo tanto pelo estado do planeta Terra. Para mim isso é Canção da Terra, porque eu acho que a natureza está tentando tanto compensar pela má administração da Terra pelo homem. E com o desequilíbrio ecológico prosseguindo e com tantos problemas no meio ambiente, eu penso que a Terra sente dor e ela tem feridas e é sobre alguns dos prazeres do planeta também, mas esta é a minha chance de, basicamente, fazer as pessoas ouvirem a voz do planeta. E isso é ‘Earth Song’. E foi isso que inspirou a música. E ela, apenas, de repente, caiu no meu colo, quando eu estava em turnê na Austrália.”
Agora é o Momento da Eternidade
Aproximadamente, quase um ano depois, quando Jackson retornou da turnê, “Earth Song” (que era, então, referida apenas como “Earth”) foi uma das primeiras músicas que ele trouxe para trabalhar. Era verão de 1989, ele tinha recentemente adquirido o Rancho Neverland no Vale Santa Ynez e sentia um renovado senso de propósito e visão para o trabalho dele. “Michael estava inspirado por fazer uma turnê e ver o mundo", disse o engenheiro de gravação Matt Forger. “Ele voltou com certas impressões. O comentário social dele chutou um ou dois degraus para cima. A maioria das primeiras músicas nas quais trabalhamos – “Black or White”, “They Don’t Care About Us”, “Heal the World” e “Earth Song” – eram mais socialmente conscientes. A consciência dele sobre o planeta estava muito mais à frente.” (14) A espiritual visão mundial de Jackson tinha, também, transformado. Criado como uma Testemunha de Jeová, ele foi ensinado a acreditar em um Deus que era rígido e exigente (incluindo o mandamento de nunca celebrar feriados e aniversários). O principal propósito da vida era preparar a si mesmo, e aos outros, para o Armagedon, o que, as Testemunhas acreditavam, era iminente e inútil tentar adiar ou evitar. O objetivo, aliás, era se tornar um honesto membro da elite (os 144.000) que sobreviveria e reinaria sobre a terra e ela seria livrada da fraqueza. (Se alguém não fizesse a classe superior, eles poderiam ser parte de uma segunda classe de Testemunhas que seriam permitidas viverem no paraíso). Durante muito tempo na vida dele, Jackson tentou acreditar nessa doutrina. Ele se debruçava sobre a Bíblia e sentia-se ansioso sobre a eterna salvação dele. Ele frequentemente fazia perguntas aos anciãos da igreja sobre as doutrinas que ele considerava confusa e injusta. Mas em 1987, ele tinha aprendido e experimentado o bastante para decidir abdicar, oficialmente, da fé. Em um poema Jackson escreveu: “Mas eu escolhi quebrar e ser livre/Cortar aqueles nós, assim eu pude ver/ Aqueles laços que me aprisionavam em memórias de dor/ Aqueles julgamentos, interpretações que confundem meu cérebro.” (15) No lugar disso, ele desenvolveu muito mais inclusivo e libertador entendimento de si mesmo, o mundo e o divino (informado, em parte, pela exposição dele às ideias Orientais e Transcendentalistas). “É estranho que Deus não tenha pensado em expressar-se, Ele/Ela, em todas as religiões do
mundo, enquanto as pessoas continuam se agarrando à noção de que a forma delas é a única forma correta”, ele escreveu no livro dele, de 1992, Dancing the Dream. Em outra obra, no lugar da anterior concepção dele sobre a pós-vida, ele escreve: “O Céu é aqui/ Agora mesmo é o momento da eternidade/ Não se engane/ Reclame sua alegria.” (16) Esse novo entendimento teve um impacto profundo na criatividade dele, incluindo “Earth Song”. Se Deus não era um pai exigente, mas uma presença e energia inspiradora como música e natureza – se a destruição global e o Armagedon eram inevitáveis, como ele foi ensinado, mas algo para tentar previamente curar – isso tinha cruciais implicações para o propósito da arte dele. Além de arrecadar dinheiro para a caridade, ele percebeu, ele poderia usar o trabalho criativo dele para protestar contra injustiça, desafiar prevalecentes aparatos do poder, para mudar a consciência das pessoas – e, assim, mudar o mundo desde as raízes. Jackson ainda valorizava partes da educação religiosa dele – na verdade, muito de “Earth Song” está enraizado no fervoroso Jeremias da Bíblia – mas agora estava livre de um credo em particular e fundido com objetivos mais humanísticos. Ele não estava contente em simplesmente esperar por que Deus concertasse o mundo ou o aplacasse com promessas de paraíso. “Isso começa conosco”, Jackson insistiu. “Somos nós! Ou nunca será feito.”
Notas do autor: 14. Matt Forger. Entrevista Pessoal do Autor. 5 de maio de 2011. 15. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections. Doubleday, 1992. 16. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections. Doubleday, 1992.
Deixe a Música Criar a Si Mesma Quando retornou ao Estúdio Westlake em junho de 1989, ele estava explodindo com ideias criativas. Em uma tábua na mesa mixagem, ele colocou uma citação de John Lennon: “Quando a verdadeira música vem a mim” lia-se, “a música das esferas, a música que ultrapassa entendimento – que não tem nada a ver comigo, porque eu sou apenas o canal. A única alegria para mim é por ela ser dada a mim e transcrevê-la como um médium... São por esses momentos que eu vivo.” As palavras ressoavam profundamente para Jackson: era exatamente assim que ele se sentia sobre criatividade. “Deixe a música criar a si mesma”, ele sempre relembrava a sim mesmo. Para Jackson, Lennon era uma alma parente: um talento similarmente excêntrico, com ambição, idealismo e desafio para reimaginar o mundo. Ainda, Jackson sabia que levava tempo e esforço para realizar o que ele via e ouvia na mente dele. Algumas músicas poderiam ser completadas dentro de semanas, enquanto outras levariam anos. Com “Earth Song”, ele teve o esqueleto básico trabalhado, mas ele ainda não estava totalmente certo sobre como executá-la. A música tinha que ser grande, dramática, e visceral e os contribuidores precisavam ser bem certos. Quem quer que estivesse colaborando precisava realmente entender o escopo e a visão.
Um Épico em Embrião
No fim de julho de 1989, Jackson chamou Bill Bottrell, um jovem e esperançoso produtor/engenheiro com quem Jackson tinha trabalhado no estúdio de Hayvenhurst, durantes as sessões das Turnês Victory e Bad. Enquanto nenhuma das colaborações dele fez parte do álbum Bad, o par desenvolveu uma forte química criativa que resultaria em algumas das melhores faixas do álbum Dangerous (incluindo “Balck or White” e “Give
In To Me”) e várias outras joias lançadas mais tarde (incluindo “Street Walker” e “Monkey Business”). Bad foi o último álbum de Jackson com Quincy Jones. A decisão de não renovar com Quincy Jones causou alguns sentimentos desgastados, mas Jackson sentiu que o movimento era necessário para o crescimento artístico dele. O álbum Dangerous foi a primeira chance de ele agir como produtor executivo e ele ficou animado por estar, finalmente, no completo controle criativo. Bottrell era uma escolha natural para “Earth Song”. Ele fez muito rock e blues, mas poderia se adaptar a quase todos os estilos. Ele também podia tocar múltiplos instrumentos, produzir e executar engenharia. O mais importante para Jackson era a forma como eles trabalhavam juntos. “Michael estava sempre preparado para escutar e confiar em mim, mas ele também meio que guiava o tempo todo”, recorda Bottrell, “Ele sabia por que eu estava lá e, entre todas as músicas que ele estava gravando, o que ele precisava de mim... Ele tinha precisos instintos musicais. Ele tinha uma gravação completa na cabeça dele e ele tentava fazer as pessoas apresentarem isso para ele. Algumas vezes, as pessoas o surpreendiam e ampliavam o que ele ouvia, mas realmente o trabalho dele é extrair de músicos, engenheiros e produtores o que ele escuta quando ele acorda pela manhã”. Como Forger, e outros, Bottrell sentiu uma intensificação na paixão de Jackson por questões sociais e ambientais. Essa era uma paixão que eles compartilhavam. Eles assistiam inúmeros documentários juntos e sempre discutiam assuntos como direitos dos animais, desflorestamento, injustiça social, imperialismo e pobreza. Um dia, Jackson trouxe, em uma VHS de 1985, um filme dirigido por John Boorman, A Floresta de Esmeraldas, o que reconta a estória de uma tribo brasileira (o “Povo Invisível”) e da floresta tropical sitiada por corporação de colonizadores. Isso é um tema já gasto, agora, mas quando foi lançado, foi revolucionário para o movimento ecológico, atraindo massiva atenção para a destruição da Amazônia. Jackson disse a Bottrell para assistir ao filme e internalizá-lo para se “preparar” para trabalhar em “Earth Song”. 18 Quando eles chegaram aos estúdios, Jackson deixou Bottrell escutar o que ele tinha: uma introdução (o que Bottrell, rapidamente, executou em
um piano), alguns versos, o refrão, e algumas letras ásperas. Bottrell ficou imediatamente tomado pelas duas linhas melódicas, ele pôde ouvir que a música tinha grande potencial. Brad Buxer, um tecladista treinado classicamente, que tinha trabalhado com Stevie Wonder e foi trazido a bordo por Bottrell, naquele verão, ficou igualmente impressionado. “O refrão é lindo”, ele disse. “Eu adoro coisas assim – tríades a menor 7 acordes. Um dos aspectos mais mágicos da música é quando você mixa as coisas. Muito de básico de no rock and roll são tríades, e jazz são acordes complexos. “Nenhum músico de jazz diria que ‘Earth Song’ é complicada, mas isso não é sobre ser complexa. Se feito direito é lindo. É como poesia. Sutileza é tudo. Michael tem um belo senso de arte.” 19
Notas do autor: 17. Karen Lawrence. John Lennon. In His Own Words. Andrews McMeel, 2005. 18. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011. 19. Brad Buxer. Entrevista Pessoal do Autor. 16 de maio de 2011.
Trilogia da Terra
Gradualmente, nos meses subsequentes, as várias partes da música começaram a ser lapidadas. “isso se tornou uma grande obsessão para nós dois”, recorda Bottrell. (20) As primeiras preocupações de Jackson era obter as dimensões e atmosfera correta. Ele queria que tivesse a paixão e intensidade da música gospel, mas a paisagem sonora de algo como Pink Floyd ou Brian Eno, algo emprestado do rock progressivo, ambiente, e musica mundial, mas ainda clássica e acessível. Ele não queria que a música fosse muito
complexa ou abstrata, desde que a música seria criada para mover massas de pessoas. A chave, portanto, era fazer “parecer simples”, mas formá-la com camadas de detalhes, textura, nuance e riqueza. (21) Esse processo começou com a ajuda de Bill Bottrell e o compositor Jorge del Barrio e continuou, anos depois, com David Foster, Bill Ross e Bruce Swedien. Jackson, originalmente, concebeu “Earth Song” como uma trilogia (similar a “Will You Be There”), composta de uma peça de orquestra moderna, a música principal, e, depois, um poema recitado (mais tarde lançado com “Planet Earth”). No total, a música teria mias de 13 minutos. O poema, que contém ecos de Wordsworth, Keats e Whitman, entre outros, era, essencialmente, uma cósmica canção de amor ao planeta. “Nas minhas veias, eu tenho sentido o mistério”, Jackson disse. De corredores do tempo, livros de história Canções da vida das eras, latejantes no meu sangue Tem dançado o ritmo da maré e cheia Suas nuvens nebulosas, sua tempestade elétrica Eram turbulentas tempestades em minha própria forma Eu tenho lambido o sal, o amargo, o doce De todos os conflitos, da paixão, da dor Sua turbulenta cor, sua fragrância, seu sabor Tem excitado meus sentidos além de toda urgência Na sua beleza eu tenho conhecido o como De infinita alegria, este momento de agora. (22)
A linguagem sensual de Jackson evoca um tipo diferente de relacionamento com o mundo natural: algo de intimidade, maravilha e respeito. Isso rejeita a tradicional noção ocidental de que os humanos “são donos” da natureza e podem fazer como ela o que lhes agradam. Para Jackson, natureza era muito mais que um belo cenário. Ele a amava tanto quanto amava uma pessoa. Era uma fonte de profunda alegria, inspiração e rejuvenescimento. (23) “O mundo inteiro abunda em mágica”, ele escreve em uma obra no livro dele, de 1992, Dancing the Dream. “[A Natureza] tem exposto a verdadeira ilusão ou inabilidade de ser incrível pelas maravilhas dela. Toda vez que o sol nasce, a Natureza está repetindo
um comando: ‘Veja! ’ A mágica dela é infinitamente exuberante e tudo que temos que fazer é apreciá-la.” (24) Jackson trabalhou com Jorge del Barrio na introdução orquestral. Um talentoso compositor e condutor, Del Barrio, (que mais tarde trabalharia com Jackson em diversas outras músicas, incluindo “Who Is It” e “Morphine”), descreveu que trabalhar com Michael como “uma das mais memoráveis experiências da minha vida. Ele estava apaixonado pela música dele. Ele passava a maior parte do nosso tempo sozinho, criando. Nós éramos muito amigos e forças criativas trabalhando juntas”. (25) Jackson considerava del Barrio um “gênio” e perfeito para o que ele queria realizar com “Earth Song”. Em contraste com a seção da Nona Sinfonia de Bethoveen, que Jackson usou para conduzir “Will You Be There”, o prelúdio para “Earth Song” era mais ambiente e primordial. Ela contém sons naturais, tambores indígenas, profundos blocos de sintetizador e cordas exuberantes. “Eu trabalhei com Michael em criar um som sinistro”, recorda del Barrio, “o começo de Earth, como poderia ter soado, quando ela foi criada, e a vida começa e quando ela se desenvolveu para a Mãe Terra e acabou se transformando em “Earth Song”, que fala sobre a morte do planeta nas mãos do Homem. Michael sentia que essa música era para ser uma que, definitivamente, ajudaria a salvar o mundo.” (26) De acordo com o engenheiro de gravação, Matt Forgger, a música era “muito moderna, muito inovadora. Ele queria mudar as regras da música pop, esticar e experimentar. Era um som completamente diferente para Michael. Todo o conceito era muito ambicioso”. (27) Em última análise, no entanto, Jackson não pôde, completamente, fazer as engrenagens funcionarem juntas da forma que ele esperava e decidiu manter apenas a porção principal. Ainda, muitas das mesmas ideias e sons foram complementadas no arranjo orquestral de del Barrio, incluindo as dramáticas cordas. Jackson também trouxe membros da banda Toto, Steve Porcaro e David Paich, para ajudar com a programação de sintetizador. A atmosfera da faixa, ele sabia, era crucial. Os ouvintes tinham que sentir a música pela música. Para, efetivamente, transportá-los.
Também tinha que ter a arco dramático e tensão da estória. O desafio era alcançar isso em seis minutos e meio. Notas do autor:
20. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011. 21. “Com Michael”, explica Matt Forger, “a base pode ser ilusoriamente simples, mas muito está acontecendo. Muitos detalhes e trabalho. Ele entendia contraste. Ele era muito particular sobre textura. Ele queria que [“Earth Song”]soasse fresca e nova e tivesse este tipo de peso e ímpeto.” Entrevista Pessoal do Autor em 15 de maio de 2011. 22. Michael Jackson. Dancing the Dream. Poems and Reflections. Doubleday, 1992. 23. Jackson estava lendo Emerson, extensivamente, naquela época. “Nos bosques está a juventude perpétua”, Emerson escreveu no ensaio dele de 1835, “Nature”, “Um festival perene... De pé sobre o chão nu, – minha cabeça banhada pelo ar jovial, e enaltecida dentro de espaços infinitos, todo o egoísmo mesquinho desaparece. Eu me torno um globo ocular transparente; eu não sou nada; eu vejo tudo; as correntes dos Ser Universal circulam em mim, eu sou parte ou partícula de Deus.” Quando Jackson se deparou com a passagem, ele estava exilado. Esta foi uma das razões pelas quais ele comprou o Rancho Neverland, longe do congestionamento e distrações da cidade. Dancing the Dream é repleto de tais reflexões Emersonianas sobre ser transformado em natureza. 24. Michael Jackson. Dancing the Dream: Poems and Reflections. Doubleday, 1992. 25. Jorge del Barrio. Entrevista Pessoal do Autor. Traduzida por Ramon del Barrio. 25 de junho de 2011. “Michael considerava meu pai extraordinário e eles também passavam muito tempo rindo e fazendo piadas.”, diz Ramon del Barrio, depois de falar com o pai dele. “Papai e Michael trabalharam juntos por muitos anos e eu tenho certeza de que há muitas músicas que não foram lançadas, também.” 26. Jorge del Barrio. Entrevista Pessoal do Autor. Traduzida por Ramon del Barrio. 15 de junho de 2011.
27. Matt Forger. Entrevista Pessoal do Autor. 15 de maio de 2011.
Faça Isto Grande Jackson estava procurando por algo particularmente único e poderoso para o baixo. Ele escutou um som que ele realmente gostou no trabalho de Guy Pratt, um guitarrista renomado que estava tocando baixo, incidentalmente, com Pink Floyd naquela época. Pratt tinha, também, recentemente tocado no hit de Madona, “Like a Prayer” (da qual Bottrell foi engenheiro). Através de Bottrell, Jackson estendeu o convite para trabalhar na faixa e Pratt aceitou. Depois de saber sobre a visão de Jackson para a música e escutar uma demo, ele criou uma massiva, experimental, linha de baixo de oitavo pedal no Westlake Studios. (28) O profundo som, de vibrar a alma, ouvido na gravação foi alcançado usando um oitavo divisor, assim, esse é o baixo que estava tocando em dois oitavos de uma vez. “Isso foi o que deu à musica a grandiosidade dela”, explica Bill Bottrell. (29) Jackson adorou isso. Na verdade, o efeito foi impressionante para o mais exigente dos profissionais. “‘Earth Song’ tinha uma linha de baixo mais profunda que qualquer faixa que eu tinha ouvido”, disse Brad Buxer. “Ela é extraordinária. Normalmente, você pode mixar uma música para duas faixas em meia polegada analógica e ter um pouco mais de ímpeto no baixo, mas quando você mixa para digital, você não pode, porque isso irá desfigurar. Essa faixa tinha, de alegam forma, segurado mais dos elementos do baixo, ela é mais saturada – portanto, isso dá a sensação de um final mais baixo que um CD pode, verdadeiramente, segurar. Billy e Bruce [Swedien] eram mestres nisso. Há uma mágica em lapidar nessas frequências baixas, tirando certos elementos, assim, você pode ter outros
elementos. Psicologicamente, isso fez o baixo soar tão rico e alto quanto possível. (30) Logo depois da sessão de trabalho de Pratt, o baterista britânico, Steve Ferrone (quem tocou com Petty e os Heartbreakers) entrou para executar as partes da bateria. Jackson e Bottrell comunicaram o quão épico ela deveria ser, especialmente depois do segundo verso. 31 “Isto é este rítmico muito heroico de rock”, diz Bottrell. “E a bateria explode. Michael continuou dizendo: ‘Faça isto grande, faça isto grande.’” (32) Uma vez que a maior parte da música estava no lugar, o legendário Coro Andraé Crouch (que anteriormente cantou em “Man In The Mirror” e participou de outras duas faixas de Dangerous) veio para cantar a parte deles no final épico da música. Toda a sessão foi filmada (com multiplicas câmeras) e revelou uma extraordinária cena de colaborativa energia: Jackson e Bottrell colocaram sons nos lugares e discutiam os arranjos; ensaios e ajustes finais foram feitos para a criação e equipamento. O coro se reuniu em um círculo e apresentou o magistral canto deles. “Nós demos a eles uma fita para ensaiar por poucos dias, antes do ensaio com o vocal guia de Michael”, recorda Bottrell, “e eles vieram com o mais maravilhoso arranjo”. (33) O grande som esférico foi capturado usando dois microfones Neumann M-49 e um vintage EMT 250, para reverberar. O resultado foi um clímax poderoso, dramático, com a natural energia de uma performance ao vivo.
Notas do autor: 28. Em entrevistas e apresentações de comédia, Guy Pratt, contas muitas diferentes estórias sobre as experiências dele, dizendo que Jackson estava escondido atrás de uma mesa de mixagem, dando instruções através de um guarda-costas Samoano. Eu fui informado, no entanto, que tais estórias são, notoriamente, inexatas. 29. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011. 30. Brad Buxer. Entrevista Pessoal do Autor. 17 de maio de 2011.
31. Durante as sessões de HIStory, Bruce Swedien adicionou um TC Eletronic M5000, altamente modificado, “Woody Hall” reverbera na bateria para acentuar ainda mais o poder deles. No Estúdio Com Michael Jackson. Hal Leonard, 2009. 32. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor.14 de maio de 2011. 33. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 27 de maio de 2011.
Descobrindo Tudo O Que Você Quiser Jackson e Bottrell continuaram a remendar a faixa por mais de um ano – os primeiros vários meses no Westlake e, depois, no Record One, em Sherman Oakes, Califórnia. Enquanto as sessões de Dangerous progrediam, no entanto, muito da atenção de Jackson mudou para as faixas rítmicas, principalmente, quando o new jack swing produtor, Teddy Riley, foi trazido a bordo no início de 1991. Contudo, Bottrell sentia-se confiante de que “Earth Song” não apenas faria parte do álbum Dangerous, mas serviria com a obra central dele. Quando o álbum estava sendo finalizado, no fim de 1991, Bottrell submeteu uma fita base (uma simples multifaixas que incorpora a mixagem). A música estava, agora, intitulada “What About Us” e Bottrell a considerava “finalizada”, exceto por alguns vocais overdubs finais. “Ela era uma das nossas faixas prioritárias desde o começo”, ele disse. “Eu estava muito orgulhoso dela.” (34) Mas para surpresa dele (e de muitos outros), Jackson a cortou da trilha sonora final de Dangerous. Bottrell ficou profundamente desapontado. “Eu não estava presente quando eles levaram o pessoal da Sony para ouvir todas as coisas no playblack, portando eu descobri depois.” Jackson ficou desapontado também. A música significava muito para ele. Mas o último compromisso dele era com a música – ela tinha que estar absolutamente certa, antes que ele pudesse lança-la e ele não sentia que estava totalmente lá.
Todos que trabalhavam com Jackson entendiam que ele era um meticuloso perfeccionista: todo detalhe, desde a produção à mixagem e à masterização, tinha que ser, exatamente, o que ele queria, antes que fosse “gravada em cimento”. Isso poderia ser frustrante às vezes. Alguns colaboradores trabalhavam com ele por meses e nenhum dos materiais resultante acabaria no álbum. Algumas vezes, ele, admitidamente, pensava exageradamente e trabalhava exageradamente uma faixa, quando ele deveria, simplesmente, fixar com a primeira versão. Mas, frequentemente, o perfeccionismo valia a pena, pois algumas novas revelações ocorreriam a ele que tornariam a música mais forte. “Michael, realmente, tem sempre sentido melhor enriquecer algo por um longo período de tempo, para descobrir tudo que ele podia descobrir sobre isso”, reconhece Bottrell. “Havia um processo que aprendi bem, pelo qual todos os lançamentos de MJ passavam: um processo de habitação, repensar, substituir midi por live players, etc. Era um processo.” (35) Em muitos casos, o ouvinte médio, provavelmente, nem perceberia a diferença, mas Jackson sentia intrínseca obrigação em fazer a arte dele “tão perfeita quanto humanamente possível”. Com “Earth Song”, além da letra inacabada, a principal preocupação dele era conseguir uma energia mais ímpeto, energia e poder na segunda metade. Enquanto os choros em falsete (o qual Bottrell descreveu como “muito parecido com Marvin Gaye”) na chamada-e-reposta eram comoventes, ele não tinha certeza se isso capturava a revolta e urgência que ele esperava transmitir. Havia, também, alguma nuances menores que ele queria ajustar com a instrumentação e a mixagem. “Earth Song”, portanto, ficaria no cofre por outros quatro anos, enquanto Jackson promovia e estava em turnê por Dangerous.
Notas do autor:
33. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 27 de maio de 2011. 34. Bill Bottrell. Entrevista Pessoal do Autor. 14 de maio de 2011. “Eu continuo muito orgulhoso dela”, disse Bottrell, “não há nada com esta música em termos de dimensão e estrutura... ela tem o mais amplo alcance, a mais incomum combinação de elementos... Ela transmite emoções tão profundamente sentidas e poderosas.” 35. Richard Buskin. “Michael Jackson’s ‘Black or White’. Sound on Sound.” Agosto de 2004. Also Gearslutz Forum.” Poste aqui se você também trabalhou no álbum Dangerous de Michael Jackson. 27 de junho de 2009.
Fazendo HIStory
Quando a gravações de HIStory começaram em 1994 no Hit Factory, em Nova Iorque, Jackson ficou animado em finalmente voltar a trabalhar na obra. Ele se sentia confiante de que ela iria encontrar um lar no novo álbum. A única questão era como torná-la melhor e quem assistir-lhe a finalizar a versão dele. Quando aconteceu, Jackson estava em grande parte satisfeito com a demo na qual ele tinha trabalhado com Bottrell durante as sessões de Dangerous. A extensão, arranjo e produção continuavam, quase, exatamente o mesmo. Porém, houve algumas adições cruciais, mais significativamente no clímax da música. Jackson se voltou para o “criador de hits”, David Foster, (que também tinha trabalhado com Jackson em “Childhood” e “Smile”), para ajudar a terminar a faixa. Foster, por sua vez, trouxe o talentoso orquestrador Bill Ross, para dar à faixa um som mais completo, poderoso, mais notável nas partes instrumentais que surgiam. (36) “A orquestra adicionou muito drama”, disse o engenheiro assistente Rob Hoffman. “Ela transformou esta bela música em um épico.”
Outra importante adição foram os acordes da guitarra meio blues de Michael Thompson. A posição foi, incialmente, oferecida a Eric Clapton, mas Clapton recusou, em razão do conflito de agendas. Thompson, entretanto, que tinha trabalhado com Clapton, assim como David Foster, acabou sendo perfeito para o trabalho. As emotivas frases dele ecoavam o doloroso canto de Jackson, lindamente. Uma nova mixagem para “Earth Song’ foi completada no Hit Factory, em 1994. 38 a maioria supunha, naquele ponto, que a faixa estava finalizada. Embora Jackson estivesse contente com muitos das melhorias, contudo, ele ainda não estava totalmente satisfeito. Quando a gravação voltou ao Record One, em Los Angeles, na primavera de 1995, Jackson e o time dele focaram no detalhes finais. Matt Forger estimou que cerca de 40 fitas multifaixas foram usadas no total. “Isto cruzou formatos. Isso começou na faixa-24, trocou para digital. O pormenor e trabalho que foi nisso foi impressionante.” Jackson voltou-se para o mágico sonoro, Bruce Swedien, para gravar partes dos vocais líderes. Para gravar a urgência e intensidade que Jackson queria, Swedien gravou com um microfone tubo Neumann M-49 (em vez do usual SM7 dele) e o teve conseguindo “tão perto quanto fisicamente possível ao microfone, desse modo, eliminando quase todas as reflexões anteriores... Eu não usei nenhum para-brisa. Eu o coloquei tão próximo quanto ele poderia, possivelmente, conseguir deste incrível microfone velho.” 40. Os resultados eram sutis, mas palpáveis. O objetivo real da gravação da música é preservar a energia física da música e a declaração da música em si”, explicou Swedien. (41) Jackson guardou o final ad-libs para a última semana de gravação, pois ele esperava “matar a voz dele” no processo. (42) Ele disse aos engenheiros assistentes, Eddie Delena e Rob Hoffman: “Eu sinto muito, mas eu acho que nenhum de nós vai dormir este fim de semana. Há muito a ser feito e nós temos que ir ao Bernie [Grundman para masterização] na segunda de manhã.” (43)
Durantes os próximos poucos dias, Jackson, com um pequeno grupo de engenheiros comeram, dormiram e respiraram a música. “Ele ficava no estúdio o tempo todo”, recorda Hoffman, “cantando e mixando. Eu passei um par de momentos tranquilos com ele naquela época. Nós falamos sobre John Lennon uma noite, enquanto ele estava se preparando para cantar o último vocal para a gravação – o enorme ad-libs para o final de ‘Earth Song’. Eu contei a ele a história sobre John cantando ‘Twist and Shout’, quando estava doente e, embora a maioria das pessoas pensasse que ele estava gritando para efeito, na verdade, era a voz dele saindo. Ele adorou isso e, então, foi cantar com todo coração dele.” (44) Como era do costume dele, Jackson cantou naquela noite com todas as luzes apagadas.45 Da sala de controle, Bruce Swedien e a equipe de engenheiros assistentes não podiam ver nada. Mas o que eles ouviram sair da escuridão era surpreendente: era como se Jackson estivesse canalizando dos pulmões da Terra – uma dolorosa, feroz, profética voz, dando expressão ao sofrimento do mundo. Aqueles que testemunharam isso podiam sentir o cabelo arrepiando na nuca deles. Este era o Michael Jackson que a mídia nunca conheceu: um artista tão comprometido coma arte dele que poderia dissolver completamente dentro de uma música e traduzir as emoções dela. “Eu tenho gravado praticamente todo mundo na música”, diz o legendário engenheiro de som, Bruce Swedien, que também gravou Duke Ellington, Paul McCartney, Mick Jagger e Barbara Streisand, entre outros, “e Michael é o número um”. (46) Notas do autor: 36. Diz o engenheiro assistente Rob Hoffman: “Eu tenho trabalhado com Bill Ross em minhas próprias produções, especialmente por causa do incrível arranjo que ele fez nesta música.” 37. Rob Hoffman. Entrevista Pessoal do Autor. 2 de junho de 2011. 38. Enquanto ainda estava no Hit Factory, Jackson queria gravar partes do vocal guia dele na faixa. O desafio, entretanto, era combinar os vocais novos dele com os originais. “Nós emprestamos o microfone U-47 de Bill
[Bottrell] e experimentamos todos os U- 47 de Hit Factory para ver o que combinava”, recorda Rob Hoffman. “Nós acabamos encontrando um depois de duas horas de audição.” Mais tarde, eles tiveram que voar na ressonância do EMT-250 do Hit Factory, em Nova Iorque, quando era usado muito proeminentemente da mixagem original de Bruce, que ele fez em Nova Iorque”, recorda Rob Hoffman. “MJ não estava satisfeito com os EMT do Record One neste caso. E ele estava certo. Todos nós pudemos ouvir a diferença.” Rob Hoffman. Entrevista Pessoal do Autor. 24 de maior de 2012. 39. Matt Forger. Entrevista Pessoal do Autor. 15 de maio de 2011. De acordo com Rob Hoffman, 40. Bruce Swedien. In The Studio With Michael Jackson. Hal Leonard, 2009. 41. Bruce Swedien. In The Studio With Michael Jackson. Hal Leonard, 2009. 42. Rob Hoffman. Entrevista Pessoal do Autor. 24 de maio de 2011. 43. Rob Hoffman. Gearslutz Forum. “Poste aqui se você também trabalhou no álbum Dangerous de Michael Jackson.” 27 de junho de 2009. 44. Rob Hoffman. Gearslutz Forum. “Poste aqui se você também trabalhou no álbum Dangerous de Michael Jackson.” 27 de junho de 2009. 45. “Ele sempre insistia que as luzes fossem apagadas”, diz Bruce Swedien. “O ser humano é, principalmente, um animal visual. Luz é distração. Michael odiava luz quando está gravando.” Bruce Swedien. Entrevista Pessoal do Autor. 19 de maio de 2011. 46. Bruce Swedien. Entrevista Pessoal do Autor. 19 de maio de 2011.
UM APOCALÍPESE MUSICAL
A versão final de “Earth Song” era um tour de force de seis minutos e meio que apresenta a condição humana (e a condição de toda a vida) em um panorama dramático. (47) No começo é som: o pulsante ritmo de grilos e som de pássaros, a vibrante cacofonia da noite. Isso evoca um cenário, exuberante – uma floresta tropical ou equatorial – explodindo com música e vida. “Eu acredito que em sua forma primordial toda a criação é som e não é apenas barulhos aleatório, é música”, Jackson, uma vez, explicou. (48) Uma harpa em efeito cascata abre a cena: uma pré-socializado paraíso edênico no qual todas as coisas vivas existem em harmonia. A harpa é inspirada, em parte, por compositores como Debussy e Tchaikovsky (dois dos favoritos de Jackson), ambos fizeram frequente uso do instrumento para evocar um mundo de sonhos de maravilha e encantamento. Como um estudante de história, Jackson estava, também, sem dúvida, consciente da rica importância simbólica da harpa. (49) O clima efervescente evoca, nos segundo de abertura, entretanto, rápidas transformações em algo mais agourento. Um som profundo, primal, devagar invade, “Como um ilegítimo vapor que envolve, imediatamente, alguns viajantes solitários.” (50) Então, vem o gancho de piano, os acordes capturando uma mistura de melancolia e solidão. (51) “E quanto ao nascer do sol, e quanto à chuva”, Jackson canta, “E quanto a todas as coisas que você disse que nós iriamos ganhar.” A vos dele está muito cansada, abatida, enquanto ele avalia o que tem sido perdido em nome do “progresso”. Nascer do sol e chuva são símbolos de perpétua renovação. Em contraste, Jackson apresenta perguntas humanas por visões limitadas, exploração e “ganho”. Nas linhas de abertura, ele está falando sobre os objetivos da sociedade moderna. “O que nós fizemos como o mundo?” ele pergunta, “Olhe o que fizemos.”
Abaixo, um profundo sintetizador teclado persegue como uma sombra, os acordes dela cordas parecem nascer do solo. A narrativa dele descreve um mundo desertificado. “Você já parou para notar/ Todo o sangue que nós derramamos antes”, Jackson canta, a voz dele tremendo, enquanto se eleva a um falsete, “Você já parou para notar/ Esta terra chorando, estas margens chorando”. Talvez, com a maioria dos cantores, tais sentimentos poderiam surgir como piegas. (52) Mas Jackson tinha uma capacidade única de injetar peso nas palavras, para fazer as pessoas sentirem-nas muito além da forma como elas parecem em uma partitura. Como Marvin Gaye uma vez colocou: “Michael nunca perderá a qualidade que separa o meramente sentimental do realmente comovente. Está enraizado no blues, e não importa que gênero Michael esteja cantando, esse garoto tem o blues.” (53) Em “Earth Song” Jackson está cantando o blues em uma escala cósmica. Com cada verso, a textura da música cresce. A guitarra reflete os sentimentos angustiados com emotivas interjeições. A magnifica orquestração infla e desaparece. No segundo verso, Jackson faz referências à paz que foi “prometida” com “seu único filho”, de repente, voltando as perguntas dele da humanidade a Deus. Quando essas promessas de redenção serão cumpridas, ele pergunta. Depois, ele se refere, também, a Abraão e à “terra prometida” que foi prometida aos descendentes dele. Essas são demonstrações como a de Jó à divindade. “Eu chorei a Ti, e Vós não me ouvistes”, Jó lamentou: Eu não chorei a ele que eu estava com problemas? Minha alma não estava afligida com pobreza... E agora minha alma está derramada sobre mim; Estes dias de aflição têm se apoderado de mim... Minha harpa também caiu em pranto E meu órgão dentro daqueles que choram. (54) Como um profeta-poeta ancião, Jackson está “sondando os limites da Todo Poderoso”, enquanto levanta profundas questões em nome dos feridos e abandonados.
No coração da lamentação dele está a idade de ouro do dilema de por que um inocente deve sofrer (“Você já parou para notar que/ Todas as crianças morrendo na guerra”). A tensão dessas entradas não respondidas cresce através dos versos, antes de romper no doloroso choro do refrão. Escute a explosão da bateria e o baixo que faz a terra tremer, depois do segundo verso: esse é o momento da música transformar de desesperada para justa indignação. A intenção é sacudir as fundações do poder e mover o ouvinte da indiferença. O segundo verso ganha mais força e ímpeto, ganhando energia como uma tempestade. Antes do clímax, no entanto, vem um último momento de reflexão. A voz de Jackson está frágil e vulnerável, novamente, não mais o vociferante representante daqueles que não tem voz. “Earth Song” é uma excelente ilustração de quão versátil Jackson é vocalicamente: é ima voz que “conjura o humano em extremos” – extremas alturas e emoções, extrema vulnerabilidade e poder, desespero e raiva. (55) Na ponte, somente, ele move da maravilhada consciência da inocência (“Eu costumava sonhar/ Eu costumava olhar além das estrelas”) para o súbito pânico/ estranheza (“Agora não sei onde estamos”) para o extremo desespero e revolta (“embora eu saiba que/ fomos longe de mais!”). Essa ponte representa um momento limiar, um estado limite entre o que foi, ou poderia ser, e o que é. (56) Mas é o épico clímax que se segue que empurra a música a outro nível. O refrão chora revelado com cada vez mais e mais intensidade. O ar rodopia com apocalíptica energia “o tumulto de poderosas harmonias”. (57) A voz de Jackson é como Jeremias (“o profeta choroso”) em lamentação. “Não são todas as minhas palavras como fogo... e um martelo que quebra rochas?” (58) É como a revolucionária chamada de Shelley pelo Vento Oeste: “Leve meus pensamentos mortos pelo universo/ Como folhas secas, para estimular um novo nascimento... espalha [da] como de uma lareira que não se extingue/Cinzas e faíscas... O trompete de uma profecia!” (59) A chamada-e-resposta dele como Coro André Crouch desencadeia, dentro do ar aberto, um diálogo que tem sido suavizado. Com cada
empenho que Jackson traz para a nossa atenção, o refrão reforça com o recorrente canto: E quanto a nós! E quanto a ontem? (E quanto a nós!) E quanto aos mares? (E quanto a nós!) Os céus estão desabando (E quanto a nós!) Nem mesmo consigo respirar (E quanto a nós!) O “nós” e a amplificada voz dos “Outros”: todos que têm sido silenciados, marginalizados, oprimidos ou desconsideradas (incluindo o meio ambiente e os animais). Jackson está testemunhado por eles, enquanto indica o status quo. Isso é uma massiva demonstração de direitos civis definidos para música. O poder da troca entre Jackson e o coro é simplesmente impressionante. “E quanto à Terra Santa?”, ele grita, enquanto o coro corre atrás como uma torrente (“E quanto a ela?”) “Despedaçada por crenças (E quanto a nós!) / E quanto ao homem comum? (E quanto a nós!) / Não podemos libertá-lo? (E quanto a nós!) / E quanto às crianças morrendo? (E quanto a nós!) Você não consegue ouvi-las chorando?”. Então, vem um ligeiro desvio pelo repetidos refrãos, enquanto Jackson implora: “Onde nós erramos? Alguém me diga por quê?” A voz dele demonstra desespero e perplexidade. Como nós chegamos aqui? Como nos tornamos isso? Alguém me diga por quê! (60) Finalmente, quando Jackson chega ao fim da ladainha dele – exausto, mas destemido – ele dispara: “Nós nos importamos?”, antes de deixar para trás exclamações de angústia sem palavras. Linguagem simplesmente não pode fazer justiça à dor e ao sofrimento que ele está tentando expressar e trazer para a atenção do mundo. Ao fundo, os refrãos lamentosos continuam a prantear, enquanto Jackson sobre ao topo. O termo “apocalipse” é tipicamente entendido como a destruição que irá acontecer no “fim dos dias”. Mas na Grécia original, isso significa uma
“Erguida do véu”, uma revelação ou profecia que ajuda a humanidade o que está escondido à vista. “Earth Song”, de acordo com a definição dela, é um apocalipse musical. Ela leva os ouvintes de um imaginado paraíso de harmonia e vitalidade para o nosso presente estado de degradação e divisão. A última pergunta da música (“Nós nos importamos?”) é sobre apatia. Por que nós aceitamos, passivamente? Por que não podemos ver e parar a autodestruição? Por que não podemos imaginar e trabalhar por algo melhor? Notas do autor: 47. “Significava muito para [ele]”, diz Matt Forger. “Tudo isso veio junto, de uma forma incrível. Tudo foi realizado tão completamente quanto possível. Isso não era apenas um testemunho das habilidades de Jackson como compositor e cantor, mas como um montador e diretor de um eclético time de músicos, produtores e engenheiros. “O que Billy trouxe era incrível, o que David trouxe era incrível, o que Bruce trouxer era incrível”, diz Brad Buxer. “Mas era Michael guiando toda a coisa – o perfeccionismo dele, os acordes e letras dele, a execução dele.” 48. Robert E. Johnson. “Michael Jackson in Africa.” Ebony/Jet. Maio de 1992. 49. Na bíblia, a harpa é sempre conectada a Davi, Rei de Israel, escritor dos Salmos e, provavelmente, um dos mais célebres músicos da história das três maiores religiões (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo). Na literatura, a harpa Eólica – em homenagem ao antigo Deus grego do vento, Hélio – simbolizava criatividade, poder e natureza. Quando o vento sopra, a música vem. Os poetas românticos, frequentemente usavam a harpa dos ventos como metáfora de um meio misterioso, através do qual a natureza se comunicava com o artista. A harpa também representa espontaneidade, impetuosidade e liberdade. A expressiva criatividade dela não é calculada ou premeditada. Não está tentando ser espirituoso, irônico ou importante. Simplesmente vem e é. Mas também simboliza efemeridade. A música pode partir tão rapidamente e inesperadamente quanto chega. 50. William Wordsworth. The Prelude, Book VI. 1805.
51. Algo similar ao que Wordsworth uma vez descreveu como a “então, triste música na humanidade”. William Wordsworth. “Linhas compostas um pouco acima de Tintern Abbey em revisitando os bancos de Wye, durante um passeio em 13 de julho de 1798.” 1798. 52. Interpretações da música por outros artistas tendem a falhar miseravelmente, não simplesmente em razão da dificuldade alcance do vocal, mas a profundidade e emoção. 53. Michael Jackson: Edição Comemorativa. Rolling Stone. Junho de 2009. 54. Jó 30. Bíblia Sagrada, Versão de King James. 55. O crítico musical Mark Greif usou essa descrição para a voz de Tom Yorke, do Radiohead. “Radiohead or the philosophy of pop.” n+1. Questão 3. Janeiro de 2006. 56. Como Jackson colocou em “Wanna Be Startin’ Somethin’”: “Você fica preso no meio/ E a dor é tremenda.” 57. Percy B. Shelley. “Ode to West Wind.” 1820. 58. Jeremias. 23:29. Bíblia Sagrada, Versão de King James. 59. Percy B. Shelley. “Ode to West Wind.” 1820. 60. Como podemos aceitar um mundo de tal impressionante situação de desigualdade e injustiça? Como temos sido condicionados a nos importar mais sobre comprar outro carro ou TV, quando 30.000 crianças morrem todos os dias devido à pobreza? Para reverenciar e se identificar com corporações, mas não se importar com trabalhadores que elas exploram em fábricas exploradoras, as florestas que elas arrasam por acres, os oceanos que elas cobrem de óleo e plástico, ou os gases de efeito estufa que eles emitem no ar? Alguém me diga por quê!
Levante da Massa Dormente É difícil encontrar paralelos para “Earth Song” na música popular. (61) Talvez o mais próximo precedente temático seja “A Hard Rain’s aGonna Come”, um similarmente visionário protesto no meio de ameaças que se aproximam, incluindo medo de guerra nuclear. Marvin Gaye
(“Mercy Mercy Me), Joni Mitchell (“Big Yellow Taxi”) e Neil Young (“Natural Beauty”), entre outros, canta músicas excepcionais sobre problemas ambientais, mas eles foram muito mais modestos e convencionais na apresentação. Como “Imagine” de John Lennon, “Earth Song” pede aos ouvintes para tentar cuidar do mundo que temos, em vez de, simplesmente, ser aplacada pelo pensamento de uma pós vida. Mas enquanto “Imagine” faz uma tranquila e elegante declaração, “Earth Song” é épico, intensa, visceral. Isso, na verdade, é uma razão para que “Imagine” seja mais palatável para ouvintes medianos. As ideias radicais dela podem ser suavizadas pelo som etéreo dela. “Earth Song”, em contraste, procura destruir a indiferença, pois ela exige responsabilidade. Radio não pode fazer justiça a ela. É uma música criada para explodir dos alto-falantes se não puder ser vista ao vivo. Estilisticamente, ela combina a dramática estrutura de uma opera com o passional fervor do gospel. Mas também contém elementos do rock e blues. “Ele era um emblema internacional do impulso espiritual blues afro-americano que remonta à escravidão”, observa Dr. Cornell West. “Michael Jackson era parte desta tremenda onda no oceano da expressão humana”. (62) A chamada-e-resposta usada em “Earth Song” é enraizada nas tradições musicais de quase todas as culturas, desde os coros em tragédias gregas, a cantos de trabalho, a espirituais afro-americanos. Historicamente, isso sempre tem sido usado como uma forma de resistência à opressão: representa a voz “das pessoas” e os problemas delas; isso era uma forma de executar solidariedade. Nietzsche argumenta que isso estava no seio da União Primordial que seres humanos encontram libertação e redenção. 63 O sofrimento de alguém é transformado em algo comunal, energia criativa. Jackson usa chamada-e-resposta, portanto, tanto para demonstrar nossa situação calamitosa quando para mostrar como nós podemos aproveitar sofrimento por finais produtivos. Além da clara inspiração bíblica dela (Jó, Jeremias, Abraão, Jesus, etc.), “Earth Song” também remete às religiões orientais, incluindo
budismo, hinduísmo, sofismo e taoísmo. (64) Em adição, há paralelos com paganismo e tradições de indígenas africanos e nativos americanos. Como uma antiga profecia indígena-americana, com a qual Jackson poderia estar familiarizado, com avios: Quando todas as árvores tiverem sido cortadas, Quando todos os animais tiverem sido caçados, Quando toda a água tiver sido poluída, Quando todo o ar for inseguro para respirar, Somente, então, você perceberá que não pode comer dinheiro, “Earth Song” é fundamentada em uma rica tradição de poesia profética: Desde William Blake (“Ó Terra Ó Terra volte!... Levante da massa dormentes”) (65) a William Worsworth (“Eu tenho uma sensação de dor quando eu contemplo/ As árvores silentes e eu vejo o intruso céu”)66; de W.B. Yeats (A maré de sangue esmaecido está solta, e em todo lugar/ A cerimônia da inocência é afogada”) (67) T.S. Eliot (“O que é que soa alto no ar/ Murmúrio de maternal lamentação”) (68) a Langston Hughes (“Liberdade é uma forte sementes/Plantadas em uma grande necessidade”). De uma mais ampla opinião artística, “Earth Song” é, talvez, melhor entendida como uma tragédia. Como tragédias gregas e shakespearianas, ela dramatiza as lutas humanas contra o destino. Mas Jackson reapresenta essa luta, não da perspectiva de figuras da realeza ou heróis, mas do próprio planeta – da vida como um coletivo (destacando as vozes dos feridos, vulneráveis e invisíveis). (69) Em “Earth Song”, portanto, Jackson não representa a si mesmo, meramente. Ele está agindo como o veículo para uma tragédia moderna: as lutas da Terra e dos habitantes dela por sobrevivência contra todas as crescentes adversidades.
Nota do autor: 61. Eu perguntei a Bill Bottrell se ele poderia pensar em alguma música precedente de “Earth Song”. A reposta dele: “Tematicamente, talvez, ‘ What’s goin’ on’. Musicalmente, ela é, provavelmente, mais comparável a ‘Man in the Mirror’. Mas também mais rock nela. ‘Man in the Mirror” era
mais R&B em fusão com gospel. Também, eu acho que ‘Earth Song’, por que foi Michael quem a escreveu, era mais pessoal, mais internalizada. Você pode sentir isso na apresentação dele.” 62. Cornell West. “Gerogetown Professor Assess Michael Jackson’s Cultural Legacy.” The Tavis Smiley Show. PBS. 30 de junho de 2009. 63. Veja O Pássaro da Tragédia de Nietzsche. 64. Muito mais poderia ser dito sobre essa conexão. Jackson foi muito influenciado pelas ideias orientais, começando no fim dos anos oitenta. “Deixe-me, oh Terra, entre o que é teu centro e o que é teu ponto central”, leia a Athara Veda, “e vitalizando forças que emanam do teu corpo. Purifica-nos de todos os lados. Terra é minha mãe; filho dela eu sou; e Céu é meu pai: ele pode nos preencher com plenitude.” 12.1 65. William Blake. “Introduction”. Songs of Experience. 1794. 66. William Wordsworth. “Michael”. Lyrical Blladas. 1798. 67. W.B Yeats. “The Second Coming.” 1920. 68. T.S. Elliot. “The Waste-Land.” 1992. 69. Langhston Hughes. “Democracy”. 1949. 70. “No coração dele, ele carrega outras vidas”, disse Smokey Robson, “Era mais que ter alma; era lama que ia profundamente dentro do solo de toda a história de uma pessoa.” Michael Jackson: Commemorative Edition. Rolling Stone. Julho de 2009.
Acima de Topo “Earth Song” foi lançada como single em novembro de 1995. Por todo o mundo, extraordinariamente, ela tocou em estações pop, próxima a músicas das Spice Girls, Hootie and the Blowfish e Take That. Ela alcançou o primeiro lugar nos charts em quinze países. No Reino Unido, ela se tornou o single de Jackson mais vendido de todos os tempos, vendendo mais que um milhão de cópias. Interessantemente, entretanto, ela nem mesmo foi lançada como single nos Estados Unidos. Essa abstinência é ainda mais notória
considerando-se que o single anterior de Jackson, “You Are Not Alone”, foi um hit número 1 nos Estados Unidos. Mas por razões não explicadas, ela não foi oferecida ao radio nem lojas de discos nos Estados Unidos. O produtor Bill Bottrell sente que a decisão não foi por acidente. “[A música] era contra corporação, contra violação da natureza”, ele diz. “Portanto, era propensa à censura.” (70) Na verdade, mesmo que a música não fosse oficialmente bloqueada, o fato de que ela não era vista como viável para ouvintes dos Estados Unidos diz muito. Entrementes, a resposta dos críticos foi, na maior parte, cínica e desdenhosa. Críticas a descrevem como “exagerada”, “patética”, “sentimental”. A Rolling Stone descreveu-a como uma “peça de mostruário, algo com o que arrasar em Monte Carlo”. 71 Muitos zombaram a preocupação da música com “baleias, árvores e elefantes”. Tais avaliações, entretanto, fala mais sobre a cultura indiferente e desdenhosa que as produziram, que sobre a música. Os anos 90, depois de tudo, foi uma década caracterizada pela indiferença, apatia e ironia. Um estudo da Standford University, de 1998, mostra que indiferença e cinismo estavam crescendo em todas as faixas etárias. (72) Em países ocidentais, a Geração X, na maior parte, cresceu em um mundo de isolamento suburbano. As angústias dessa geração, porém, eram dirigidas à falsidade, ao materialismo e ao ambiente dela. Mas o solipsismo dela também a impedia de reconhecer a real raiz dos problemas desses excessos. Não foi até o fim os anos 90 que questões como globalização, mudanças climáticas e exploração corporativa começaram a receber maior atenção. O fervor e ambição de “Earth Song” ao abordar tais problemas eram, de muitas formas, anacronismo. O público em geral, principalmente em um país privilegiado com os Estado Unidos, no meio de uma explosão econômica, prefere olhar para o próprio reflexo disso que para o exterior. O desdém por “Earth Song” também fala para generalizada mentalidade de massa no jornalismo musical. (73) Nesse caso, o instintivo consenso era de que a dimensão e alcance da música, automaticamente, equiparava-a à “enfática” e “bombástica”. Similarmente, porque ela é sobre “salvar o planeta”, ela era “sentimental” e “quixotesca”. Mas tais
caracterizações dizem mais sobre as expectativas sobre a música pop contemporânea que a qualidade da canção. Ninguém, por fim, esperaria uma opera a aderir aos padrões de uma canção folclórica ou um o poema épico para ler como uma estória curta de Hemingway. “Earth Song” era grande e dramática, porque ela foi idealizada para ser grande e dramática. Parte da reação negativa à música teve a ver com as expectativas que os críticos (e o público) tinha sobre o próprio Jackson. Desde a metade dos anos 80, a mídia tinha desenvolvido uma simples, mas lucrativo, retrato de Jackson, que poderia ser cortado e colado a cada nova estória: Ele era um excêntrico, ingênuo, inacessível megalomaníaco. Avaliações da música dele eram, quase exclusivamente, interpretadas através destas lentes, desde 1985 em diante, independentemente do mérito da música ou álbum. Outra expectativa, particularmente dos críticos, era que Jackson deveria manter as abençoadas “dance music” de Off the Wall e Thriller, em vez de algum material “irado”, “desafiador”, “politico” que veio em seguida. Os críticos sempre preferiram ver Jackson como um entertainer em vez de um artista (um estereótipo com uma longa história racial, da qual Jackson era bem consciente). Enquanto a música dele se tornava mais experimental e desafiadora, jornalistas tentavam, em vão, coloca-lo de volta “no lugar dele”. Eles não queriam ouvir músicas sobre racismo, distorção pela mídia e o meio ambiente, eles disseram. Eles queriam leves e alegres “pop”.
Notas do autor: 71. James Hunter. “Michael Jackson’s HIStory.” Rolling Stone. Agosto de 1995. 72. Generation X not so special : Malaise, Cynicism on the Rise.” News Release. Agosto de 1998. 73. Anthony De Curtis observa: “Muito da escrita rock é esnobe, adolescente e desdenhoso... Críticos de rock têm, rotineiramente, almejado superar os assuntos deles e eles têm conseguido, pelo menos, nos próprios
trabalhos e nas próprias mentes, se em nenhum outro lugar.” Anthony DeCurtis. Foreword. Reading Rock and Roll. Ed. Kevin H. Dettmar. Columbia University Press, 1999.
O Corpo como Tela As performances de Jackson para “Earth Song” foram, igualmente, assunto de escárnio e controvérsia. Muitos críticos as interpretaram como a perfeita ilustração do complexo de messias de Jackson. Outros ficavam incomodados pelo efeito visceral que as performances tinham sobre as multidões (as pessoas da plateia eram, frequentemente, mostradas alcançando Jackson e soluçando). Nos breves três anos (1996-1999) que a música foi apresentada, ela serviu como dramático clímax para os shows de Jackson. Eles eram espetáculos extraordinários. Independentemente da opinião sobre o homem, assistir-lhe cantando, vibrando, uivando, pendurando, precariamente, sobre a multidão e despejando a alma dele no palco, pelo menos, deixava claro por que ele era um dos mais poderosos artistas da era moderna. Isso era uma potente combinação de entretenimento e arte, profecia e ativismo, música e visuais, realizados de uma forma que eles nunca tinham visto antes. “Jackson é sempre dramaticamente iluminado, enquanto envolvido em uma convolação de roupagem Baroque e altitude crescente contra o céu noturno em um aparato ‘plataforma’”, observa a aclamada artista visual Constance Pierce. “Pairando sobre a audiência massiva dele, a iluminada roupagem da capa de seda esvoaçando, a presença hipnotizante de Jackson captura milhares abaixo dele em uma estética participativa, uma ‘arte performance’ ritual... Velas são acesas e uma torrente de braços é erguida em uníssono. Um gesto de paixão incorporado na performance de ‘Earth Song’ de Jackson, tanto irônico, quanto transcendente, queima-se dentro da consciência coletiva do século 20.” (74)
Em, talvez, a mais básica performance dele – no concerto no Royal Center de Brunei, em julho de 1996 –, brilhando com o suor de um show de três horas, Jackson apresenta uma coda improvisada (“Diga-me e quanto a isto!”) que pertence a uma dos melhores momentos dele no palco. Não há adereços, nenhuma pirotecnia, apenas ele, o microfone e a música. A carga “messiânica” ganhou mais circulação depois de uma apresentação no BRIT Awards de 1996, na qual Jarvis Cocker interpretou a performance muito literalmente. Alguém alegaria que Michelangelo ou Rembrandt são “messiânicos” por pintar a crucificação? Jackson estava, sem dúvidas, usando icônicos símbolos e gestos messiânicos nas performances dele. O que é, raramente, levado em consideração, no entanto, é como, como um dançarino/artista de palco, o corpo dele atua como tela. Verdadeiramente, “incorporar” a música significa permitir a si mesmo a liberdade de se tornar qualquer coisa que a música e a letra ditar. (75) Jackson, portanto, dessa forma, usa gestos e símbolos messiânicos, não porque ele pensa que ele é o messias, mas em razão do que este arquétipo pode comunicar e expressar artisticamente. Com esta obra em particular, era o melhor jeito que ele poderia pensar para transmitir a agonia, o sofrimento e redenção da música. O criticismos em relação ao curta-metragem de Jackson para “Earth Song”, dirigido pelo talentoso e ótimo fotografo de arte Nick Brandt, similarmente, perderam o ponto. (76) Apenas a mais simplista (ou, propositalmente, hipócrita) interpretação iria lê-lo como Jackson fingindo que ele tinha o poder de, magicamente, resolver todos os problemas do mundo. Na verdade, no vídeo, ele é retratado como todos os outros, envolto pela repercussão da ganância e violência humana. “As caretas dele estão duras de remorso, medo, raiva e determinação”, nota o crítico cinematográfico Armond White. “Ele está fazendo algo quase miraculoso – dramatizando arrogância para o propósito de iluminar e melhorar avida para outros... A postura dele, segurando-se em galhos de árvores enquanto é esbofeteado pelo vento do destino, não é sacrifício, não é uma
crucificação, é um posicionamento. Michael está apostando na crença de onde e como nós vivemos.” (77) O filme foi gravado em quatro diferentes lugares em todo o mundo: a floresta equatorial Amazônica, um campo na Tanzânia, uma zona de guerra da Croácia e uma floresta completamente queimada em Nova Iorque. Depois de mostrar imagens de desflorestamento, poluição, morte e crueldade, Jackson (além do pequeno grupo de pessoas de outras partes do mundo), cai de joelhos, enterrando os punhos no solo em desesperada súplica. É esse simbólico gesto que inicia o imaginado reverso. Apenas por se importar com a dor da Terra (e dos Outros), por entender como estamos conectados, e por nossa coletiva vontade de mudar, nós podemos esperar curar o mundo. O filme, destarte, é sobre contrastes: o mundo como ele é o mundo como ele poderia ser. Embora Jackson esteja no centro do filme, ele não é retratado como um “messias”, mas em vez disso, como “a voz dos que choram na vastidão”.
74. “Lacrymae Rerum: Reflexões de um Artista Visual Informado e Inspirado por Gestos de Transcendência na Arte Passional de Michael Joseph Jackson.” Paixões dos Céus em Expressões de Grande Arte. Sociedade Internacional de Fenomenologia. Grande Arte e Estética, 16ºm Conferência Anual. Universidade de Harvard. 18 de maio de 2011. 75. “Quando Jackson incorporou uma particular postura arquetípica”, nota Constance Pierce, “o corpo físico dele se transformou em uma espécie de símbolo, elegante caligrafia, no que, o Divino pode canalizar gestos de explosiva emoção ou íntima compaixão. O artista se tornou xamantico, assumindo nossas massivas ‘sombras’ cumulativas e varrendo tudo isso para a luz”. “Lacrymae Rerum: Reflexões de Um Artista Visual Informado e Inspirado por Gestos de Transcendência na Arte Passional de Michael Joseph Jackson.” Paixões dos Céus em Expressões de Grande Arte. Sociedade Internacional de Fenomenologia. Grande Arte e Estética, 16ºm Conferência Anual. Universidade de Harvard. 18 de maio de 2011. 76. “O momento mais interessante para mim”, recorda o diretor Nick Brandt, “foi com ‘Earth Song’, quando eu tive um monte de Nova
Iorquinos cansativos, muito cínicos como equipe, para a parte da filmagem que ele estava. Ele apenas diziam: ‘oh, sim, Michael Jackson, da-da-da-dada’, mas depois, quando ele começou a cantar, no fim da música, e ele estava gritando os vocais... você poderia ver, você olharia em volta e todos tinham parados nos trilhos deles, e o estavam assistindo, cravado. E ele apenas me deu uma tomada de cada ângulo, porque ele foi soprado por estas máquinas de vento e coisas estavam voando nos olhos dele. Eu quero dizer, isso foi muito difícil, eu quero dizer, disparando poeira e folhas e todo tipo de coisas no rosto dele. E todo mundo ficou eletrificado. Ele, completamente, transformou a todos.” 77. Armond White diz que Earth Song está “entre as mais magnificas combinações de música e imaginário no centenário do cinema.” Keep Moving: The Michael Jackson Chronicles. Resistance Work. 76-79
Legado Muito do criticismo desdenhoso quanto a “Earth Song” permanece amplamente inalterado hoje. De alguma forma, enquanto os incríveis protestos sociais de Bob Dylan, John Lennon e Marvin Gaye são legitimamente reconhecidos no Top 5 músicas de todos os tempos, da Rolling Stone, “Earth Song”, de Michael Jackson, nem mesmo chega ao Top 500. Mas desde 1995 (e, especialmente, nos recentes anos), “Earth Song” tem ganhado admiradores pela presciência e poder dela. Em seguia à morte de Jackson, ela, de repente, alvoreceu em muitos que, antes de Verdade Inconveniente de All Gore, antes de Avatar e Wall-E, antes de “ficando verde”, se tornar um slogan, Michael Jackson estava soando o alarme, não apenas sobre o meio ambiente, mas muitas outras pressões sociais, e questões sociais. Nos anos 90, ele era, indubitavelmente, o mais influente porta voz para o ambientalismo. Em anos recentes têm sido feito covers de “Earth Song” em programas populares como American Idol, The Factor X, e no Grammy Awards, entre outros. Ela também tem sido tocada por sinfonias em todo o
mundo, desde Londres ao Japão. Globalmente, ela continua sendo uma das canções mais amadas de Jackson. De um ponto de vista crítico, enquanto ela continua negligenciada pela imprensa popular, “Earth Song” está beneficiando de uma explosão de interesse acadêmico. Trabalhos de Armond White, Constance Pierce e Gerd Buschmann, entre outros, tem começado a mapear o rico terreno dela. (78) Tão profundas análises por uma variedade de campos acadêmicos permitirá que “Earth Song” seja contextualizada e interpretada da maneira que os críticos falharam em fazer quando ela foi lançada. Mas talvez, o mais substancial legado dela seja a forma como tem impactado vidas individuais e melhorado o bem estar do planeta. Como o próprio Jackson disse, em 2009, ele queria que a música “abrisse a consciência das pessoas”. (79) Ele não queria que a plateia simplesmente se sentisse mal; ele queria que eles agissem. E isso é, precisamente, o que muitos têm feito. Milhares de professores, agora, usam “Earth Song” em aulas para trazer consciência sobre questões ambientais e direitos dos animais. Ela, também, inspira ativismo. “Depois de ver o segmento de ‘Earth Song’ em This Is It (o que me levou às lágrimas)”, disse Trisha Franklin, “eu me senti completamente compelida a fazer alguma coisa para ajudar, como Michael pediu, assim, eu comecei um projeto para plantar árvores em todo o mundo em nome de Michael. ‘Um Milhão de Árvores Para Michael’, agora, tem mais de 13.000 fãs no facebook e nós conseguimos milhares de hits em um mês de funcionamento do nosso website. Nós plantamos mais de 200.000 árvores no mundo e estamos esperando milhares mais”. (80) O impacto dela continua a ressoar para a nova geração. Depois de ver o vídeo musical de Earth Song, um sensível menino de dez anos de idade (Draven) ficou tão profundamente comovido que ele prometeu contar a todo mundo que ele sabia sobre a mensagem da música. Ele não sabia sobre quase todas as questões que a música revela e disse a avó dele que ela “fez com que percebesse o quão é importante é cuidar do planeta”. (81)
Tais estórias podem parecer insignificantes, dado o alcance dos problemas que a humanidade enfrenta. Mas elas são sementes. Elas representam resistência a um status quo que Jackson reconhecia não apenas como injusto, mas insustentável.
Notas do autor: 78. Ensaio de Gerd Buschmann’s foi publicado na Alemanha. Der Sturm Gottes zur Neuschöpfung: Bimblische Symboldidaktik in Michael Jackson Mega-Video-Hit Earth Song. Katechetische Blätter. Vol 121, nº 3 79. Michael Jackson This Is It DVD. Sony, 2010; 80. Trisha Franklin. Entrevista Pessoal do Autor. 4 de junho de 2011. 81. Mary House. Entrevista Pessoal do Autor. 4 de junho de 2011.
Uma Aventura da Humanidade Michael Jackson apresentou “Earth Song” para uma audiência ao vivo, na parte final, em 27de junho de 1999, e Munique, Alemanha. O show foi o segundo de dois concertos beneficente organizados por Jackson (o primeiro ocorreu em Seul, Coreia), intitulado “Michael Jackson & Friends – An Adventure of Humanity”. Todo o lucro – aproximadamente 3,3 milhões de dólares – foi doado para o Nelson Mandela Children’s Fund, a Crus Vermelha, UNESCO, e refugiado de Kosovo. O dia do concerto em Munique estava escaldante. Foi dada água aos fãs para evitar a desidratação. (82) No início da tarde, o show entrou em curso com performances por Luther Vandross, Ringo Starr e Andrea Bocceli, entre outros. Enquanto o sol sumia e o ar esfriava, porém, a antecipação por Michael Jackson começa a crescer. O Estádio Olímpico de Munique estava, agora, recheado até à borda, um mar de seres humanos convergiram de todo o mundo.
Jackson subiu no palco pouco depois de 11h00min da noite. Enquanto ele está imóvel, como um Davi, em meio à fumaça e um fluxo de luz, o excitamento da multidão é palpável. Esse era o momento pelo qual eles estavam esperando. Jackson executou uma alta octanagem trilha sonora de músicas, incluindo um medley suave, habilidosamente coreografado de “Dangerous” e “Smooth Criminal”. Depois de terminar o set, Jackson correu para o findo do palco para uma troca de figurino e Gatorade, enquanto o elaborado o pano de fundo estava sendo construído para o número final dele: “Earth Song”. Durante o intervalo, “Ode à Alegria” de Beethoven, retumbou, triunfantemente, pelo ar quente de verão, enquanto luzes surgem através da multidão. Então, no telão, um globo girando aparece. A aura estática, de repete, se tornou contemplativa, quanto a abertura taciturna, cósmica, para “Earth Song” emanava por todo o estádio, seguido pelos chorosos acordes de piano. Jackson caminha de volta para o palco para o distante grito dos fãs, entretanto, pode-se dizer, ele está, agora, dentro da música dele. Ele está vestindo calças pretas e uma esfarrapada capa preta e vermelha. O rosto dele está pálido. Ele parecia ferido e sombrio. “E quanto ao nascer do sol...” O inconfundível tenor causa um frisson pela multidão. Os gestos dele são expressivos, a tensão gradualmente construída. O corpo de Jackson se agacha, pulsa e balança. Ele está “canalizando” as dolorosas emoções da música. O refrão cresce como ondas surgindo. Enquanto Jackson canta, uma grande ponte de ferro é erguida no palco em três partes conectadas. Isso era uma adição ao número que só tinha sido feita uma vez, antes, apenas poucos dias antes, em Seoul. O conceito foi idealizado como um tipo de “Ponte Sem Retorno”: refugiados são vistos atravessando o que eles, apenas podiam esperar, seria segurança e liberdade. Depois que eles passam, o próprio Jackson correr pela ponte. Explosões pirotécnicas em ambos os lados, simulando o ataque de jatos
largando bombas em cima. O guitarrista, Slash, do mesmo modo, toca um tempestuoso solo de guitarra abaixo, reforçando a sensação de caos. Envolto em uma nuvem de fumaça, Jackson bate o pé e grita, “Alguém me diga por quê!” Então, o inesperado acontece. Depois de uma série e explosões, a parte do meio da ponte, onde Jackson está é, subitamente, desconectada, sobe e, depois, cai seis pés, aproximadamente. “Do meu ângulo, eu não pude ver o que aconteceu, portanto, eu continuei tocando”, recorda o diretor musical Brad Buxer. “Eu pude sentir que algo estava meio estranho, mas eu continuava ouvindo Michael cantando. Quando a fumaça clareou, eu vi que a ponte tinha se desfeito”. (83) A maquiadora artística de Michael, Karen Faye, disse que o coração dela “parou de bater”, quando ela percebeu o que tinha acontecido. “Diferentemente de ensaios, e o último show [na Coreia], [a ponte] não parou no cume dela”, ela recorda. “Em vez disso, ela veio caindo, ganhando velocidade, com Michael, firmemente, segurando nas grades – ainda cantando. Eu comecei a gritar, mas eu não conseguia escutar minha própria voz sobre a pirotecnia, a música, e a plateia... De nosso ponto de visão, nós tínhamos perdido Michael de vista... Eu não poderia imaginar como [ele] sobreviveria a tal queda.” (84) A ponte aterrissou com um baque no fosso da orquestra, na frente do palco. 85 Surpreendentemente, enquanto Jackson estava sendo sacudido pela queda, ele continuou a apresentação. A plateia em frente ficou aturdida, mas a maior parte da audiência, simplesmente, supôs que isso era parte do show. Técnicos, rapidamente, pularam para checar Jackson, mas antes que eles o alcançassem, ele estava engatinhando de volta ao palco. “Eu vi um braço alcançar o chão do placo”, recorda Karen Faye, “depois uma longa perna esguia, outro braço, outra perna... Ele estava de pé, no centro do palco, terminando o final de ‘Earth Song’! Minha boca caiu aberta em aliviada admiração.”
O organizador do concerto, Britton Rikki Patrick, mais tarde, tentou oferecer uma explicação pelo que aconteceu. “Nós penamos que um cabo possa ter arrebentado ou algo assim. Foi realmente assustador. As pessoas na audiência estavam gritando e chorando. Os seguranças estavam correndo para todos os lados. Deve ter sido aterrorizante para Michael. Mas ele conseguiu pular de volta para o palco. Ele cambaleou para o lado onde eu tinha paralisado e desmoronado em uma cadeira. Eu pude ver que ele estava sentido muita dor e sangrando atrás da cabeça dele.” (87) Depois do show Jackson foi levado ás pressas ao Hospital Rechts Der Isar, em Munique. Ele tinha um sério ferimento nas costas e contusões. Mas antes de ser levado para o hospital, ele não apenas insistiu em finalizar “Earth Song”, mas também o encore, “You Are Not Alone”. A única coisa que ele escutava na cabeça dele, ele disse mais tarde, era a voz do pai dele dizendo: “Michael, não desaponte a plateia!” (88) Depois de subir de volta para o palco, a partir de uma ponte desmantelada, envolto em nuvens de fumaça, Jackson deixou as últimas exclamações dele. Whoooo! Whoooo! Whoooo! Finalmente, com um único holofote brilhando, ele esticou os braços dele e olhou para a audiência, encharcado de suro e esgotado.
Notas do autor: 82. Michael Jackson Fã Clube. Novos Arquivos. Junho de 1999. 83. Brad Buxer. Entrevista Pessoal do Autor. 12 de junho de 2011. “É incrível o que Michael Jackson fez esta noite”, diz Buxer. “Qualquer outro artista teria parado. Ele ficou muito abalado, mas ele se recusou a interromper a performance.” 84. Karen Faye. “What More Can I Give.” Karen Faye – Uma Vida Interceptada. 27 de julho de 2010. 85. De acordo com Brad Buxer, a queda poderia ter sido muito pior se não fosse por um técnico alerta, que ajudou a diminuir a velocidade da ponte que caía, colocando alguma resistência nos cabos.
86. Karen Faye. “What More Can I Give.” Karen Faye – Uma Vida Interceptada. 27 de julho de 2010. 87. “Estrela Cai em Labaredas de Fogo em Um Suporte em Colapso.” Daily Rocord. 29 de junho de 1999. 88. Karen Faye. “What More Can I Give.” Karen Faye – Uma Vida Interceptada. 27 de julho de 2010.
Arte Performance
Isso poderia ter sido o fim. Mas durante a History Tour, Jackson adicionou um desfecho. Exatamente quando a poeira baixa, um tanque vem roncando para o palco. No fundo, militante bateria toca prodigiosos acordes. O tanque está rolando em direção à plateia, mas antes que ele a alcance, Jackson pula na frente, modelando a icônica imagem de Tinanmen Square. Ele está performando resistência civil – literalmente colocando a si mesmo a arte dele contra um imponente símbolo de poder e destruição. Isso, lindamente, emblema o significado e o propósito de “Earth Song”. Um soldado, então, emerge na máquina e aponta uma arma para os refugiados e Jackson. A audiência engasga. Ele aponta a arma diretamente para a cabeça de Jackson, enquanto Jackson permanece, calmamente, diante dela. O soldado foi treinado para matar, mas agora, no momento decisivo, ele hesita. Indeciso, ele, mesmo assim, mantém o terreno dele, ainda apontando a arma contra o inimigo desconhecido. Daí, dos refugiados, uma criança emerge. Em roupas esfarrapadas, ela caminha até o soldado segurando uma flor. Isso é um símbolo de vida e toda a fragilidade, beleza e transição dela.
O soldado começa a voltar aos sentidos. Ele larga a arma e tira o capacete e óculos de proteção. Quando ele olha nos olhos do menino, ele cai de joelhos e chora. Ele, de repente, percebe o que ele se tornou e o que ele está fazendo. O soldado e o menino se abraçam, como fazem Jackson e o soldado. Isso é uma cena de redenção e cura. No fundo, um sublime piano floresce cascatas como folhas de chuva de verão. O mundo pode estar cheio de sofrimento e horror não dito, mas aqui, Jackson demonstra, está a prova de que ainda existe pacotes de amor, beleza e música. A música dele não pode mudar tudo, mas ela pode oferecer esperança. Flanqueado pelo soldado, a criança e um grupo de refugiados, ele se volta para a plateia em um momento final, estende os braços e inclina a cabeça em direção ao céu.
Epílogo Michael Jackson esperava que “Earth Song” fosse uma das mais importantes obras da série de concertos This Is It, em Londres. Ele tinha criado um conceito inteiramente atualizado para o número, incluindo um introdutório filme 3D. Embora ele nunca tenha visto isso concretizado, os filhos dele introduziram uma reedição tributo no Grammy Awards, em 2010. “Através de todas as músicas dele, a mensagem dele era simples: Amor”, disse o filho mais velho de Jackson, Prince. “Nosso pai sempre se preocupou com o planeta e a humanidade... Nós continuaremos a espalhar a mensagem dele e a ajudar o mundo”. “Earth Song” foi a última música que Jackson ensaiou antes da morte dele.
Agradecimentos Eu expresso minha profunda apreciação a Bill Bottrell, amigo de confiança de Michael Jackson, produtor e primeiro colaborador de “Earth Song”. Seu trabalho com Michael Jackson enquanto as pessoas escutam a música. Obrigado pela ótima conversa e fascinantes histórias sobre como essa música surgiu. Eu também quero agradecer a Matt Forger, Bruce Swedien, Brad Buxer, Jorge del Barrio, Rob Hoffman, e Karen Faye pelo tempo de vocês, memórias e insights. Este livro não seria possível sem cada um de vocês. Eu expresso minha sincera gratidão a Constance Pierce pela inspiração e encorajamento. Obrigado a Armond White por falar a verdade diante do poder, quando poucos têm coragem. Obrigado a Anna Dorfman por sua generosidade, olho artístico e lindo designe de capa. Obrigado ao Espólio de Michael Jackson por seu apoio e assistência. Um agradecimento especial ao time MJJ Justice Project, Deborah French, Willa Stillwater, Joie Collins, Tricia Franklin, Mary House and Draven, por sua valiosa contribuição. E, finalmente, obrigado a minha família por seu infalível amor e por acreditarem em mim.
Um bate-papo com Joe Vogel sobre Earth Song Joie: Willa e eu estamos muito felizes em ser acompanhadas por Joe Vogel esta semana. Como todos sabem, o livro muito aguardado dele, Man in the Music, será lançado em 01 de novembro, e agora ele está prestes a lançar uma versão impressa do eBook dele, Earth Song. Obrigado por se juntar a nós Joe! Ok, aqui está o que eu gostaria de saber. Por que você escolheu destacar "Earth Song" e escrever uma peça separada sobre ele? Você tem uma afinidade especial com essa música mesmo ou você simplesmente ficou intrigado pelo processo – ou obsessão – de Michael com a música, enquanto você estava pesquisando para Man in the Music?
Joe: Eu sempre amei "Earth Song". O poder e a majestade e a paixão dessa música sempre me tocaram profundamente. Quando eu estava trabalhando em Man in the Music, no entanto, eu estava ouvindo toda a obra de MJ de tão perto que muitas canções provocaram novas impressões. "Earth Song" foi um delas. Quanto mais eu aprendia sobre ela e quanto mais eu a ouvia, mais me convencia de que esta era a música mais importante de Michael. Ela englobava muitíssimo. A chamada e a resposta com o coro, para mim, é um dos momentos mais intensos da história da música. No entanto, houve um reconhecimento tão pouco reconhecimento por essa música entre os críticos. Muito pouco foi escrito sobre ela que não seja condescendente e desdenhoso. Então, eu queria de alguma forma escrever sobre ela de uma forma que iria comunicar o poder dela – e eu estava animado com a perspectiva de realmente ser capaz de aplicar zoom em uma música e fazer todas as entrevistas e pesquisas com esse tipo de foco e profundidade. Willa: Eu adorei isso! O nível de detalhes que você fornece é maravilhoso e eu adoro a forma como o livro fornece insights tanto em "Earth Song" quanto no processo criativo de Michael Jackson também. Você começa seu livro discutindo como nosso mundo está em perigo, e com as descrições de ele experimentando um perigo quase como dor física, indescritível – e, então, você mostra a ele começando o canal e dando forma e expressando os profundos sentimentos dentro da música. Você pode nos dizer mais sobre este processo, e alguns momentos-chave de como "Earth Song" veio a ser o que nós experimentamos hoje? Joe: Claro. Eu acho que, em primeiro lugar, o processo de "Earth Song" fornece uma incrível janelade como Michael operava como um artista. Isso é o que tornou isso muito divertido de escrever. Você começa a fazer ligações, juntar peças. Por exemplo, eu conversei com Matt Forger sobre este conceito original de "Earth Song" como uma trilogia (com uma peça orquestral, a música, e um poema falado); depois de saber disso, voltei a Bill Bottrell para descobrir quem era o compositor com quem Michael estava colaborando e como isso parecia; Bill levou-me a Jorge del Barrio, que, eu soube posteriormente, trabalhou com Michael em músicas como "Who Is It" e "Morphine" também. Através de del Barrio aprendi algumas ideias maravilhosas sobre o conceito / sentimento que Michael estava buscando e como isso transformou. Então você fala com pessoas diferentes e todos os tipos de novas conexões emergem: novos detalhes, novos ângulos. E você aprende o quanto cuidadosamente e reflixivamente Michael construia o trabalho dele.
Em entrevistas, Michael tendia a ser muito vago sobre o processo criativo dele, mas o que Earth Song revela é como ele era obcecado por cada detalhe do trabalho dele, desde o início de todo o caminho, até a mixagem final. Ele cercou-se de grande talento, mas foi a visão criativa e o perfeccionismo dele que guiaram os projetos dele. Willa: Você acabou de destacar algo que realmente me surpreendeu ao ler seu livro. Você mostra que ele era muito experiente e estava muito envolvido nos mecanismos atuais de criação de “Earth Song” – que ele estava envolvido em todas as fases do processo. Mas em entrevistas que ele deu, ele tendeu a ser vago sobre isso, como você diz, e meio que se distanciou um pouco desse aspecto, focando mais na inspiração e sendo receptivo àmúsica em si. Ele disse em uma série de entrevistas que a música apenas vinha a ele e “caia no colo dele”. Você escreve em seu livro que muitas vezes ele disse a si mesmo para "Deixe a música criar a si mesma", e você relaciona isso a uma citação de John Lennon que ele manteve em exposição como um lembrete para si mesmo, enquanto trabalhava em “Earth Song”: "Quando a verdadeira música vem a mim", dizia, "a música das esferas, a música que o entendimento surpasseth – isso não tem nada a ver comigo, porque eu sou apenas o canal.” “A única alegria para mim é que isso seja dado a mim, e para transcrevêlo como um meio... Eu vivo por esses momentos.” Quando eu li esta seção de seu livro, pensei imediatamente nos Românticos. Se olharmos para rascunhos dos poemas dele, eles os revisavam e eram de fato muito bem informados e envolvidos na arte de criar poesia. Eram wordsmiths qualificados. Mas, como Michael Jackson, que estavam relutantes em falar sobre isso. Eles preferiram falar sobre a criação da poesia como um ato de inspiração, em vez de artesanato, e tendiam a dizer que eram apenas escribas– descrever as palavras que algum impulso criativo maior do que se expressa através deles – em vez de criadores, o que é uma ideia Michael Jackson frequentemente expressa. Na verdade, ele meio que se esforçou para explicar isso, durante o depoimento dele para o caso de plágio de 1994 para "Dangerous", dizendo que ele escreveu todas as músicas dele, mas de uma forma que ele não fez – que elas apenas vinham a ele. Eu sei que você já estudou os românticos, então você sabe muito mais sobre isso do que eu. Eu queria saber se você poderia falar um pouco sobre esse ideal romântico do artista como meramente um canal receptivo para a criatividade fluir através dee, em vez de um criador, e como isso se reflete, dois séculos mais tarde, em John Lennon e Michael Jackson.
Joe: Uma metáfora comum na poesia romântica é a harpa eólica: Quando o vento sopra, a música vem. Você não força isso. Você espera por isso. Willa: Isso é lindo. Joe: Michael acreditava piamente nesse princípio. Dito isso, Michael foi, sem dúvida, um artesão. Ele raramente liberava trabalho na sua forma bruta. Outra metáfora que ele gostava de usar para ilustrar o processo criativo dele é a filosofia de Michelangelo que dentro de cada pedaço de mármore ou de pedra está uma "forma adormecida." O trabalho dele como artista, então, era desbastar, sculpir, polir, até que ele "libertasse" o que estava latente. Portanto, isso requer uma grande quantidade de trabalho. Você pode ter uma visão de como deve ser, mas você tem que estar em sintonia em todo o processo e você tem que trabalhar duro para realizá-lo. Willa: Que imagem maravilhosa! Eu amo essa ideia da "forma adormecida", e realmente esclarece como a criatividade exige tanto inspiração quanto artesanato. A ideia da música se revela a você e cria a si mesma, como Michael Jackson gostava de dizer, no entanto, requer a habilidade e dedicação de um artesão para libertá-la. Joie: Joe, em seu livro você fala sobre o absurdo do fato de que "Earth Song" nunca foi lançada como single nos EUA, embora o single anerior de Michael nos EUA, "You Are Not Alone" tenha estreado como número um. E ainda, em outras partes do mundo, "Earth Song" não só foi lançada como single, como foi a número um em 15 países. Concordo com você quando você diz que a decisão basicamente dizia que os "poderes constituídos" não sentiram a terra do excesso toleraria uma música com tal olhar crítico para a condição humana. Mas acredito que a decisão foi um erro enorme. Eu acho que, se tivesse sido lançado aqui, teria feito muito bem. Apesar dos comentários depreciativos que recebeu, é uma música difícil de ignorar e eu acho que teria sido significativamente tocada no rádio se tivesse sido oferecida para as estações. Joe: Você poderia estar certa. É difícil saber. Por um lado, a popularidade de Michael tinha diminuído nos EUA por causa das alegações de 1993. Mas os dois primeiros singles atingiram o Top 5. É estranha a rapidez com que a Sony parecia resgatar o álbum depois disso, em termos de singles. Teria sido bom, pelo menos, ver a canção receber uma chance com o público americano.
Joie: Eu amo o jeito que você comparou "Earth Song" a “Imagine”, de John Lennon, dizendo que ambas pediam ao ouvinte para cuidar do mundo que temos, em vez de sonhar com uma vida após a morte. Mas você pode falar um pouco sobre sua afirmação de que "Imagine" é mais aceitável ao ouvinte comum de música que “Earth Song”? Joe: Bem, "Imagine" é uma canção absolutamente linda que também aconteceu de ser bastante subversiva. Porque é tão agradável de ouvir, e evoca tanta nostalgia, no entanto, muitas pessoas realmente não entendem o que ele está realmente dizendo. Ele chama para a revolução, mas é amistosamente tocada em consultórios odontológicos e lojas de departamento. Então, algum do impacto dela pode ser anulado dessa forma. Quando ela é tocada na Times Square na véspera do Ano Novo, elae serve como uma espécie de hino de sentir-se bem. Não há nada de errado com isso. Na verdade, eu acho que "Man in the Mirror" é muito semelhante em termos de tom e efeito psicológico. Mas "Earth Song" é diferente. Ele tem uma urgência e intensidade diferentes nela. Imagine "Earth Song" berrando dos alto-falantes a todo vapor no Ano Novo. Melhor ainda, imagine Michael aoresentando-a. O público provavelmente ficaria atordoado. A canção não foi projetada para fazer as pessoas se sentirem bem; ela foi projetada para alfinetar a consciência das pessoas, para acordar as pessoas. Joie: Que só me faz pensar ainda mais como ela poderia ter sido recebida se tivesse sido dada a promoção adequada e tocada nas rádios nos EUA. Willa: E se não fizesse bem aqui, isso iria dizer algo muito importante, uma vez que fez bem em muitos outros países. Joe: Grande arte profética é, muitas vezes, negligenciada ou incompreendida no tempo dela. Há tantos exemplos disso, de Blake a Van Gogh, de Tchaikovsky a Picasso. Michael era um estudante de história e arte, e ele entendeu isso. Ele estava confiante de que o trabalho que ele criou se sustentaria ao longo do tempo. "Earth Song" é uma canção que era, e continua a ser, imensamente popular em todo o mundo. Mas, finalmente, era uma música que ia na contramão – portanto para a resistência, desde executivos, críticos e outros porteiros, faz sentido. Joie: Bem, obrigado por se juntar a nós e falar sobre "Earth Song". Joe: Obrigado por me receber. Tem sido um prazer e estou muito satisfeito com a ideia de Dançando com o Elefante como um espaço para discussões pensativas sobre Michael Jackson.
Joie: Obrigada. Willa e eu temos tido um grande momento com ele! Estou curiosa, agora que a data de lançamento para Man in the Music está próximo e Earth Song também está a caminho de ser publicado em forma de livro, o que vem por aí para Joe Vogel? Você tem planos para sessões de autógrafos chegando ou outras aparições? Joe: Eu estou trabalhando com meu agente e publicitário em todos os planos promocionais para Man in the Music e eu devo ter um sentido mais claro nas próximas semanas. Estarei ocupado, mas eu estou animado porque as finalmente irão ler aquilo em que eu passei todos esses anos trabalhando. Joie: Bem, eu praticamente devorava a cópia de leitura avançada que você deu a MJFC, assim, eu sei que os fãs vão adorar. É realmente um livro maravilhoso! Nota da tradutora: *wordsmith significa busca pela alma, existencialismo. “Eu respeito o segredo e a magia da natureza. É por isso que eu fico tão bravo quando eu vejo estas coisas que estão acontecendo no mundo – eu realmente me importo. A cada segundo, eu soube, uma área do tamanho de um campo de football é destruída na Amazônia. Eu quero dizer, esse tipo de coisa realmente me chateia. É por isso que eu escrevo este tipo de música, você sabe, para dar às pessoas algum senso de consciência e de despertar e esperança. Eu amo o planeta. Eu amo árvores. Eu tenho esta coisa com árvore – e cores e mudança de folhas. Eu amo isso! E eu respeito esse tipo de coisa. Eu realmente sinto que a natureza está tentando arduamente compensar pela má administração do planeta pelo homem. O planeta está doente, como uma febre. E se não dermos um jeito nisso agora, é o ponto sem volta. Esta é nossa última chance de resolver este problema que temos. É como um trem descarrilhado. E a hora chegou. É isto. A pessoas estão sempre dizendo: ‘Oh, eles vão cuidar disso, o governo fará isso. ’ Eles? Eles quem? Isso começa conosco. Somos nós! Ou nunca será feito.” – Michael Jackson, junho de 2009.