vida urbana de P E R N A M BUC O
Três lindas praias e inúmeros problemas BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS REBECA SILVA ROSÁLIA VASCONCELOS urbana.pe@dabr.com.br
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odo ano o enredo se repete: as praias do litoral pernambucano multiplicam sua população entre os meses de dezembro e fevereiro, mas a infraestrutura urbana continua deficiente. Em uma rápida visita aos três lugares mais procurados da costa do estado nesta época do ano Porto de Galinhas, Tamandaré e Itamaracá - pode-se constatar que a situação de descuido é a mesma, em maior ou menor proporção a depender do lugar: ruas sem sinalização, trânsito caótico, acúmulo de lixo, falta de saneamento, desordem no comércio informal, obras inacabadas, interrupções quase diárias no serviço de abastecimento de água e falhas no fornecimento de energia elétrica fazem parte do cotidiano dos moradores e visitantes. Além disso, outras deficiências estão começando a ficar crônicas, como os pontos com péssimo sinal de redes de telefonia móvel e a inexistência do serviço de internet 3G. Para aproveitar as praias, a estrutura hoteleira ou de gastronomia desses destinos é preciso estar também preparado para enfrentar esses problemas, sob pena de ver seu fim de semana ou suas férias estragados pelos transtornos que eles geram.
Vendedores deixam seus produtos expostos na beira-mar de Porto de Galinhas BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS
Esgoto na praia de Tamandaré, onde a prefeitura se diz impedida de intervir ANNACLARICE ALMEIDA/DP/D.A PRESS
Entulho e troncos de coqueiro são usados para conter o mar em Itamaracá
Comércio caótico Em Porto de Galinhas, 80km ao Sul do Recife, um dos principais problemas é a falta de um serviço de saneamento básico. Em um passeio pelas vias que contornam a Avenida Beijupirá, local que virou point de bons restaurantes e grifes de roupas, o turista encontra também ruas com esgoto estourado, buracos e lama, que se repetem em outras áreas do destino. Na Praia do Centro, a beleza das piscinas naturais é ofuscada pelo ostensivo e desordenado comércio informal. Os vendedores não se contentam em circular pelas areias e deixam seus produtos expostos em diversos pontos da praia
e também na parede que separa a beira-mar do calçadão. “Além disso, a sinalização de trânsito é um item quase inexistente”, reclama a produtora de eventos Luciana Costa Neves, 33 anos, que deixou São Paulo há um mês para montar uma loja e viver em Porto. A Secretaria de Infraestrutura de Ipojuca, através de nota, informou que está em execução a construção da estação de tratamento de esgoto e que uma licitação definirá a empresa que fará obras de complemento da pavimentação, drenagem e esgotamento sanitário das localidades de Vila de Porto, Socó, Salinas e Pantanal.
Estrutura carente Em Tamandaré, 104 km ao Sul do Recife, o trânsito desorganizado irrita a todos nos fins de semana do verão. Além de enfrentar engarrafamentos o turista tem que pagar no mínimo R$ 5 pelas poucas vagas em estacionamento particulares. “No último dia 2, quando cheguei aqui, a cidade estava com problema de abastecimento de água”, acrescenta o veranista Marcelo Macena, 37. Já para os comerciantes da cidade, a falta de planejamento e estrutura para receber esses turistas nos meses de verão chega a doer no bolso. “Temos dificuldade de abastecimento porque os fornecedores não conseguem chegar”, conta a pro-
prietária do restaurante Tapera do Sabor, Josiane Miguel, 34. A coleta de lixo na cidade foi duplicada, segundo a prefeitura, mas terrenos baldios ainda servem de depósito – e estacionamento irregular. A rede de abastecimento de água foi ampliada, segundo a administração, embora os cortes persistam. Uma disputa judicial entre barraqueiros, a prefeitura e a Superintendência de Patrimônio da União deixou parada implantação de banheiros públicos e a ordenação da orla. A prefeitura argumenta que “está impossibilitada de realizar qualquer intervenção na área, pois os entraves são de cunho ambiental”.
Cenário decadente A precariedade em Itamaracá, no Litoral Norte, a 48 km do Recife, chega a entristecer quem já pôde viver ali bons verões nos anos 1980 e 1990. Hoje há espaços públicos em mau estado e carências no saneamento e no recapeamento das ruas. Na praia de Jaguaribe, a aposentada Maria José da Silva, 55, observa do terraço de casa trabalhadores realizando a limpeza da Avenida Benigno Cordeiro Galvão. “Temos uma praia sem calçadão. Quando a maré está cheia se mistura ao esgoto que desemboca na areia”, conta. A Secretaria das Cidades chegou a lançar, em 2011, o edital de licitação para a recuperação do calçadão,
regulamentação e padronização do comércio e instalação de equipamentos de esportes e lazer. Mas nada saiu do papel. A pasta informou que o contrato com a empresa que executaria a obra chegou a ser assinado. “A Secretaria das Cidades aguardou a retirada dos comerciantes pela prefeitura para iniciar os serviços, o que não ocorreu. Nesse período, o consórcio da licitação solicitou a rescisão do contrato, que foi oficializado em dezembro de 2012”. A prefeitura informou que os comerciantes já foram cadastrados e a retirada será feita assim que o estado der sinal verde para o início das obras.