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de P E R N A M BUC O
Moradores do entorno da Praça Fleming, na Jaqueira, se uniram para custear um trabalho de jardinagem e manter o espaço agradável
Insatisfeitos com a situação de ruas e de uma praça, moradores e escola particular executam obras que deveriam ser feitas pelo poder público MARCIONILA TEIXEIRA marcionilateixeira.pe@dabr.com.br
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Rua Marfim, em Jardim Atlântico, Olinda, é pública, assim como qualquer outra. O que diferencia a via das demais é a obra que está sendo tocada nela há um mês. Não pelo tipo da obra. Mas pela forma como tem sido executada. A rua abriga o colégio particular Santa Emília e outros 26 imóveis, entre residências e comércio. Há um bom tempo, as pessoas estavam insatisfeitas com a lama que tomava conta da entrada. Os buracos e os alagamentos engrossavam o coro. Um dia, após incontáveis
solicitações à prefeitura, a direção do colégio decidiu iniciar melhorias. No início da rua, uma placa confirma que a iniciativa é da escola. Ao todo, 1,5 mil alunos circulam no local, entre crianças e adolescentes, além de moradores e comerciantes. “A gente sofria com a concentração de água suja e o entupimento do esgoto. Isso foi resolvido. Também estamos fazendo calçadas e até agosto vamos liberar a via asfaltada”, disse Augusto Santos, gestor da escola. Ele conta que tem reunido notas fiscais comprovando gastos, mas não pretende cobrar da prefeitura. “Fizemos porque não dava mais para esperar.” A expectativa é que os serviços custem R$ 35 mil. Em Jardim Fragoso, também em Olinda, moradores tiveram uma iniciativa parecida há um ano. O fim da história, no entanto, não foi como esperavam. Depois de de moradores calçarem um
trecho da Rua Professor Diógenes Fernandes Távora, em parceria com a prefeitura, residentes de outra área da via firmaram acordo semelhante com o município. A prefeitura fez o pavimento e os habitantes o meio-fio e a linha d’água. Os vizinhos combinaram que cada um daria R$ 400, mas diante da demora no início da intervenção, prometida pelo município para fevereiro, o dinheiro foi devolvido. Um cantinho bem cuidado era tudo o que queriam os moradores do entorno da Praça Fleming, na Jaqueira, Recife. Cansados de ver o espaço maltratado, se juntaram e, todo mês, pagam um jardineiro. “Apesar de o valor ser pequeno, tem gente que não colabora porque fala que a obrigação de cuidar do lugar é da prefeitura”, comenta Marta Dubeaux, moradora. A diretora de Parques e Praças da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Re-
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Ocupando o lugar do Estado
cife, Gabriela Freitas, considera a iniciativa ótima, desde que moradores não queiram ser donos do espaço. “Certa vez, um morador responsável por zelar por uma praça decidiu fechar o lugar às 22h, apagar as luzes e proibir o namoro”, pontua. Ela informa que a prefeitura também atua na Fleming quando se trata de consertos que envolvem eletricidade ou podas altas, por exemplo, e defende que os habitantes a adotem oficialmente.
Na Rua do Marfim, em Olinda, escola bancou melhorias que incluem o asfaltamento da via
Zélia teme que obra provoque alagamento
Para o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Roberto Montezuma, a iniciativa do cidadão é importante, mas uma cidade precisa de um plano do poder público. “As pessoas fazem coisas com o gosto pessoal, sem obedecer ao sistema da rua, da praça, o que gerar erros. A ação corre risco de ficar desconectada do resto da cidade por conta do tipo de mate-
rial e da técnica usada. São ações de revolta”, considera. A Rua Marfim, por exemplo, tem uma transversal que não receberá o benefício do asfalto. Além disso, moradores temem que a obra prejudique a curta rua de barro. “Só temo que o pavimento fique mais alto que a nossa via e provoque alagamentos”, diz a consultora Zélia Batista, 48. A direção da escola descarta a possibilidade, pois a água,
diz Augusto Santos, seguirá à Avenida Pedro Álvares Cabral. Manoel Sátiro, secretário de Serviços Públicos de Olinda, informa que, na época das solicitações do colégio, as equipes estavam fazendo ações urgentes no entorno da Avenida Presidente Kennedy. “A escola não quis esperar. Não temos como dificultar uma ação de melhoria. Não vejo nenhum problema nisso.” O secretário não sou-
be informar se há fiscalização junto à obra. Quanto à pavimentação da Rua Professor Diógenes Fernandes Távora, o secretário executivo de Obras, João Batista, anunciou um novo prazo: julho. Segundo ele, ainda não foi possível fazer a intervenção porque a empresa contratada não concluiu outras ruas. A prefeitura assumirá todo o serviço, de R$ 261 mil.
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Iniciativa pode ocasionar erros