Jc pátria de chuteiras também na eleição

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10 jornal do commercio

Recife I 25 de maio de 2014 I domingo

política

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Pátria de chuteiras também na eleição?

COPA E POLÍTICA Especialistas divergem quanto ao uso que os pré-candidatos podem fazer do torneio e, sobretudo, do resultado que terá a Seleção Canarinha Marcos Oliveira

msantana@jc.com.br

Q

uando a bola começar a rolar pela primeira partida da Copa do Mundo de 2014, no dia 12 de junho, entre Brasil e Croácia, ao mesmo tempo será dado início a uma nova fase do processo eleitoral. Será o resultado dentro de campo propulsor ou desestruturador da candidatura da presidente Dilma Rousseff (PT) e dos candidatos da oposição? Especialistas ouvidos pelo Jornal do Commercio divergem quanto ao real impacto que o hexacampeonato poderia exercer sobre a consciência eleitoral do torcedor brasileiro. Enquanto uns enxergam a não correlação direta entre os dois certames, outros defendem que não serão apenas as manifestações por melhor saúde e educação e do movimento #naovaitercopa que irão influenciar o pleito presidencial. Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro do Conselho Consultivo, do Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), do Museu do Futebol, localizado na capi-

O poder de influência da Copa do Mundo nas eleições de outubro não gera consenso tal paulista, José Paulo Florenzano, acredita que futebol e política estão fortemente atrelados, e o sucesso ou o fracasso de um terá impacto no outro. “O futebol ocupa um lugar central na cultura brasileira, sendo capaz de ser um catalizador para a mobilização da sociedade”, afirma. Para ele, que também é autor de trabalhos focados na relação entre política e esporte, como o livro A Democracia Corinthiana, um fracasso da seleção brasileira contribuirá para o acirramento de questões que coloquem em cheque o governo petista, podendo ser explorado pelos dois principais desafiantes: Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

“Não acredito que, em caso de vitória, a população vai deixar de protestar contra os governantes. Mas, se perder, as insatisfações vão aflorar ainda mais, o que poderá contribuir para o resultado de pleito”, pondera.

CRÍTICA TARDIA

Na mesma linha de raciocínio segue o presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisadores e Profissionais de Comunicação e Marketing Político (Politicom) e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, Roberto Gondo. Ele acredita que em caso de conquista verde e amarela, isso vai acalentar o ânimo da população menos instruída. “Se o resultado não for favorável, o problema não será só falta do troféu, mas todos os gastos feitos para a realização do evento. ‘Gastou tanto e nem o título conseguiu?’, vai se perguntar o eleitor” destaca. Para ele, falta “maturidade” nessas insatisfações da sociedade. “As críticas contra o governo deviam ter sido feitas quando o país foi escolhido como sede da competição, em 2007, agora os gastos já foram feitos”, argumenta.

Já o cientista político e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) Thales Castro não encontra uma relação direta entre o resultado no mundial de 2014 e a disputa eleitoral. Para defender esta tese, ele faz um retrospecto na história recente brasileira. “Em 2002, por exemplo, o presidente era Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o Brasil foi pentacampeão e ele não conseguiu fazer o sucessor, o também tucano José Serra. Se a copa fosse em agosto ou setembro, nós poderíamos até ter algum tipo de sentimentalismo, mas a competição terminando em julho, isso não deve acontecer”, afirma. Segundo o especialista, as insatisfações que poderão mudar o resultado da eleição serão pautadas por “cansaço social”, que acomete população brasileira. “O que vai interferir mesmo são os numerosos casos de corrupção, os escândalos que envolvem instituições públicas, como o da refinaria de Passadena, além da precária estrutura de hospitais e escolas, por exemplo”, concluiThales Castro. k Continua na página 11


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