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Açude tem margem aterrada para obra
DESEQUILÍBRIO Após os serviços, operários dizem ter visto jacarés e cágados no local. Aterro é para conter a água, que ameaça romper a barreira e invadir a avenida Fotos: Diego Nigro/JC Imagem
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Açude de Apipucos, no bairro homônimo, Zona Norte do Recife, está perdendo dois metros de margem. O aterro, feito com pedra granítica, é para conter a infiltração da água, que ameaça romper a barreira e invadir a Avenida Apipucos. A obra agitou a fauna local. Ontem de manhã, operários viram um jacaré tomando banho de sol nas pedras empilhadas às margens do açude, no passeio de pedestres. “Já vimos uns quatro bichos desses por aqui”, conta o operário Severino Ramos. “Se a pessoa vier caminhando e encontrar um jacaré vai morrer de medo.” Mas os animais também correm risco. O trabalhador José Dionísio relata que, há cerca de duas semana, um cágado de cerca de 30 centímetros saiu do açude e acabou morrendo atropelado quando tentava atravessar a Avenida Apipucos. O biólogo Edson Leal, coordenador do Laboratório de Ecologia e Biodiversidade do Itep, acredita que os animais avistados são o jacaré de papo amarelo (Caiman latirostris), que pode medir até três metros, e o cágado de barbicha (Phrynops geoffroanus), que tem até 35 cm de comprimento. Mas ele não pôde afirmar se a movimentação dos bichos é de ordem natural ou pelo impacto
CENÁRIO Pedras de granito estão empilhadas às margens do açude, coberto de baronesas e com lixo de todo tipo
causado pela obra. “Quando o volume de água aumenta, eles se deslocam de um manancial a outro porque a área de forrageio cresce”, explica. “Mas o empreendimento também pode estar interferindo.” Além da obra, também chama atenção a poluição do açude, coberto de baronesas (que proliferam em ambientes desequilibrados) e de lixo de toda sorte, desde sacos plásticos e garrafas PET até chinelos. Para completar, operários dizem que esgoto doméstico também está sendo despejado ali. Mesmo nesse meio insalubre os animais conseguem sobreviver. “Essas espécies de jacaré e de cágado estão adaptadas a ambientes poluídos”, informa Edson Leal. Quanto ao aterro, o diretor de engenharia da Empresa de Urbanização do Recife (URB), Vicente Perrusi, assegura que essa foi a alternativa encontrada para impedir que a água destruísse a avenida. “Havia uma real situação de risco”, afirma. Ele lembra que o açude foi construído na década de 50 para barrar as águas que desciam do Canal do Burity, Casa Amarela, e desaguavam no Rio Capibaribe. “Se essa contenção não fosse feita agora, a água iria passar sobre a via de novo.” A previsão é que o aterro seja concluído até 15 de fevereiro.