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Crise elétrica já atinge indústria SETOR PRODUTIVO Preço da energia no chamado mercado livre quadruplica e eleva custo das empresas, que pensam em demissão abelfort@jc.com.br
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crise de energia que pode resultar num novo racionamento no País já está trazendo consequências para as empresas instaladas no Estado. Algumas estão diminuindo a produção para pagar uma conta de luz menor no final do mês. Em Paulista, a Fiação Alpina chegou a dar férias coletivas a 70 funcionários, desativando até o dia 20 de março uma linha de produção onde máquinas antigas consumiam mais energia. Outras empresas têxteis estão tomando a mesma medida, segundo o sindicato que reúne as companhias do setor. Assim como algumas indústrias instaladas no Estado, a Alpina compra energia no mercado livre, um mecanismo que permite aos grandes consumidores escolherem a empresa da qual vão comprar a eletricidade. Geralmente, a energia do mercado livre é vendida mais barata e as empresas chegavam a economizar entre 10% e 20%. No entanto, a seca que atingiu grande parte do Sudeste do País fez baixar muito a quantidade de água dos reservatórios das hidrelétricas nos últimos dois anos. Aquela região tem a “caixa d’água” que alimenta cerca de 70% das hidrelétricas do País, inclusive as que usam as águas do São Francisco. Com a escassez da água, o preço da energia começou a subir desde o ano passado. Para se ter uma ideia, em fevereiro de 2013 o preço do megawatt-hora (MWh) era em torno de R$ 200 no mercado livre de curto prazo. Em fevereiro último, chegou a R$ 755, o MWh também no curto prazo. “Acreditamos que esse preço vai baixar, porque não há como ficar mais alto”, conta o gerente administrativo-financeiro da Fiação Alpina, Luiz Carlos (não quis revelar o sobrenome). As férias coletivas
EFEITO Falta de chuvas seca reservatórios e reduz oferta de energia. Assim, o preço sobe
Até agora, setor têxtil é o mais prejudicado pela situação crítica na empresa foram concedidas no último dia 3. A indústria emprega 206 funcionários e está planejando substituir o atual maquinário da linha de produção que está parada por outro que consuma menos energia. Por questões de estratégia, Luiz Carlos não revela o quanto a empresa está pagando pela energia atualmente e acrescenta que a energia foi mais um dos três itens que contribuíram para as férias coletivas. Os outros foram o estoque em alta por causa do desaquecimento da economia e a concorrência com os asiáticos. “O atual preço da energia es-
tá inviabilizando as fábricas. É um conjunto de fatores”, explica o presidente do Sindicato da Indústria Têxtil de Pernambuco, Oscar Rache. Ele cita pelo menos três empresas do setor que deram férias – recentemente – por causa dessa conjuntura que inclui a multiplicação por quase quatro do valor da energia paga no mercado de curto prazo. Algumas empresas fazem um mix na compra de energia, misturando a energia contratada no mercado de curto prazo com contratos de longo prazo. A redução da produção por causa da alta de energia está acontecendo em outros setores em várias regiões do País. “O racionamento de energia já começou. Algumas empresas, em vários Estados, estão comprando menos energia no mercado de curto prazo e reduzindo a produção”, explica o diretor da Kroma Energia, Rodrigo Mello, sem citar nomes. A Kroma comercializa energia no mercado livre. A baixa de água dos reservatórios também aumenta o pre-
ço da energia para os consumidores do mercado cativo, aqueles que só podem comprar de uma distribuidora, como da Celpe. Isso ocorre porque mais térmicas estão em funcionamento para produzir energia, enquanto a água dos reservatórios está sendo poupada por ordem Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Por enquanto, o governo federal está bancando a alta do preço da energia do consumidor cativo. A apreensão do empresariado e de técnicos do setor elétrico é grande. As chuvas de março serão decisivas para que a produção de energia no País volte ao normal. É o mês em que se encerra o período úmido (chuvoso) que abastece as principais hidrelétricas do País. “Se as chuvas forem no mesmo ritmo que ocorreram em fevereiro vai haver uma dificuldade de atender o consumo, o que pode resultar num racionamento”, conclui o secretário estadual de Infra-estrutura, João Bosco de Almeida, ex-presidente da Chesf.
Entrevista kJosé Jorge
“Passou da hora de ter uma campanha” O ex-ministro José Jorge diz que já passou da hora do governo federal iniciar uma ação para reduzir o consumo de energia Ele respondia pela pasta de Energia no racionamento de 2001. JORNAL DO COMMERCIO – Qual a semelhança que o senhor vê entre a atual situação é a de 2001? JOSÉ JORGE – Em 2001, haviam poucas térmicas e também ocorreu escassez de chuvas por dois anos seguidos. Agora, a Medida Provisória 579 (que baixou o preço da energia para o consumidor final) desorganizou o sistema elétrico. JC – Por que o senhor diz que a MP 579 desorganizou o sistema elétrico ? José Jorge – Essa iniciativa inibiu a tarifa, deixando o sistema mais pobre. As estatais federais – que fazem parte do Sistema Eletrobras, como Furnas, Chesf – perderam boa parte das suas receitas. Com a MP, o governo federal diminuiu a tarifa, mas está pagando isso com recursos públicos. O sistema ficou financeiramente caótico. Essas estatais tiveram que cortar investimentos, demitir funcionários. Foi uma vitória sem efeito. JC – Qual foi o principal er-
Clemilson Campos/JC Imagem
Luis Moura/Estadão Conteúdo
Angela Fernanda Belfort
ro que ocorreu no sistema elétrico ? José Jorge – Não sei dizer qual foi o principal erro, mas percebo que o sistema não foi administrado como se esperava. Eles estão comandando o sistema há 11 anos e quando iniciaram a gestão havia sobra de energia porque diminuiu o consumo após o racionamento de 2001. É verdade que o consumo aumentou muito. Mas a MP 579 teve um impacto negativo porque quando se baixa o preço de um produto geralmente se estimula o consumo e o sistema elétrico brasileiro não tem tanta energia assim. JC – E quais as consequências que essa crise já trouxe ? José Jorge – Já aumentou muito o preço da energia. As distribuidoras estão em crise porque estão comprando a energia por valores muito mais altos. Se o governo não quer falar em racionamento, por uma questão política, deveria fazer uma iniciativa para diminuir o consumo, como uma campanha de racionalização.