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Recife I 13 de abril de 2014 I domingo
economia
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Pequeno fica sem irrigação
RECURSOS HÍDRICOS Para preservar água nos lagos das hidrelétricas, ONS reduz vazão do São Francisco e prejudica agricultores Renato Spencer/JC Imagem/20-8-2008
A
diminuição da vazão do Rio São Francisco está prejudicando os pequenos produtores que dependem das águas do velho Chico para produzirem nos perímetros irrigados em Petrolina e Santa Maria da Boa Vista. Somente no último município, são 15 assentamentos que estão nessa situação. “É muito difícil dizer quantas famílias estão passando pelo problema. Somente o assentamento da Catalunha tem mais de 800 famílias”, dispara a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria da Boa Vista, Givaneide Pereira dos Santos. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) diminuiu a vazão do rio para economizar água nos reservatórios das hidrelétricas de Sobradinho, no Sertão de Pernambuco, e de Três Marias, em Minas Gerais. Givaneide mora no assentamento da Associação dos Agricultores Familiares da Fazenda Nossa Senhora do Carmo, em Santa Maria da Boa Vista, próximo à margem do rio. “A diminuição da água piorou em março. Estamos irrigando com muita dificuldade e gastando mais energia”, conta. Com a redução da quantidade de água no rio, os pequenos agricultores têm que colocar a captação da irrigação mais longe e isso provoca o aumento da conta de luz. No assentamento de Givaneide, os 12 agricultores assentados irrigam, em média, dois hectares cada um. “A conta de energia era R$ 300 e mês passado passou para R$ 700, porque passamos a buscar a água um pouco mais distante”, conta, acrescentando que esse acréscimo do preço do serviço fica por conta dos agricultores que não conseguem aumentar o preço de venda da fruta. Ela planta bana-
TERRA SECA Estiagem prejudica famílias do interior que dependem do rio para consumo humano e animal na e cebola irrigadas. “Tá difícil até pegar a água para o consumo humano. Ela vem misturada com lama e lodo”, desabafa Givaneide. No assentamento de Givaneide, os 12 agricultores têm uma área de 450 hectares, mas irrigam menos que 5% dessa área por falta de condições. “O custo ficou muito alto. A produção tende a cair, porque estamos colocando menos água nas plantas. Todo mundo precisa de energia, mas até que ponto é bom guardar essa água?”, questiona. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolina, Francisco Pascoal Guilherme da Silva,
Para piorar a situação, produtores não conseguem aumentar preço das suas frutas
produz uva e pinha em dois hectares do assentamento São José do Vale, em Petrolina. Ele possui seis hectares, mas só consegue irrigar dois. “A irrigação é cara, não tem financiamento. A diminuição da vazão do rio só aumentou os custos. É mais mão de obra porque tem que captar a água mais longe. Pense num problema”, lamenta. Ele vende as frutas para atravessadores e não consegue repassar o aumento que ocorreu na produção para o preço de venda dos produtos. Os grandes produtores de frutas do Vale do São Francisco não são prejudicados com a diminuição da
vazão, porque eles captam a água num local que sofre menos com as oscilações das vazões, de acordo com o presidente da Associação dos Produtores do Vale do São Francisco (Valexport), José Gualberto.
JUSTIFICATIVA
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, argumenta que a vazão do São Francisco diminuiu para 1,1 mil metros cúbicos por segundo e só vai voltar a ter 1,3 mil metros cúbicos em maio, quando será necessário gerar mais energia em Três Marias, em Minas Gerais, e em Sobradinho, no Sertão do São Francisco. Ele argumenta que até maio vai ser trazida para a região mais energia produzida por Tucuruí, no Norte do País, e pelas eólicas para poupar a água nos reservatórios das hidrelétricas do São Francisco. Segundo Ventura, a redução da vazão não prejudica a irrigação. Os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste, Centro-Oeste e Sudeste estão com pouca água devido as chuvas abaixo da média que caíram no Sudeste do País, responsável pelo abastecimento de 70% das hidrelétricas brasileiras. Alguns técnicos do setor apontam para a necessidade de haver um programa de racionalização do uso da energia para poupar mais ainda a água dos reservatórios. No Sudeste, a capacidade de armazenamento está em 36%, enquanto no Nordeste este percentual é de 42,7%. Os números são considerados preocupantes, porque vai começar em maio o período seco (sem chuvas) na área que abastece os reservatórios dessas hidrelétricas.