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Recife I 13 de maio de 2014 I terça-feira

jornal do commercio

economia

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Atraso marca transposição SEM ÁGUA Bandeira política do governo do PT, projeto deveria estar concluído desde 2010. Previsão agora é dezembro de 2015 Guga Matos/JC Imagem

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presidente Dilma Rousseff (PT) faz, hoje, uma visita técnica a uma estação de bombeamento da transposição de águas do Rio São Francisco, em Cabrobó, a 489 km do Recife. Iniciadas em 2007, as obras completas deveriam ter sido concluídas em 2010. São pelo menos quatro anos de atraso de um projeto que teria feito a diferença na última estiagem (de 2012-2013), a mais forte dos últimos 40 anos. Caso fosse possível transportar a água do São Francisco aos 12 milhões de cidadãos de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, nordestinos que poderiam ser beneficiados pelo projeto, os efeitos da seca não seriam tão perversos. Eleitoralmente, a transposição é um ícone de uma promessa realizada por todo candidato a presidente: aumentar a disponibilidade de água no Nordeste. No entanto, o governo federal não tem se empenhado muito na execução do projeto. As obras avançaram 5 pontos percentuais de novembro do ano passado a abril último, chegando a 57,8% de realização. Em novembro do ano passado, as obras estavam com 52% de realização. A nova previsão de conclusão do projeto inteiro é dezembro de 2015 como foi anunciado em novembro do ano passado pela presidente. O empreendimento vai custar R$ 8,2 bilhões ao governo federal. Pelo menos três engenheiros que atuam em grandes construtoras no Recife – e preferiram não se identificar – alegam que não é plausível a conclusão do projeto inteiro até 2015. Segundo eles, as dificuldades para concluir uma obra desse porte no período previsto podem ir desde a falta de mão de obra até escassez de equipamentos sem contar

VAZIO Alguns trechos da obra foram construídos. Mas, até agora, nada de transportar água

Orçamento saltou de R$ 4,5 bilhões em 2007 para os atuais R$ 8,2 bilhões com a decisão política de concluir o empreendimento. A transposição consiste na construção de dois grandes canais: o Eixo Norte e o Eixo Leste. O Eixo Norte terá 260 quilômetros (km) de extensão, começando em Cabrobó e segue até Brejo Santo, no Ceará, e, posteriormente, a Cajazeiras, na Paraíba. Ele é dividido em três tre-

chos: o primeiro tem uma extensão de 140 km indo de Cabrobó a Jati, no Ceará. O segundo trecho – com 39 km – vai de Jati a Brejo Santo, também no Ceará. O terceiro e último trecho terá 81 km, ligando Brejo Santo a Cajazeiras, na Paraíba. No projeto original, o Eixo Norte tinha cerca de 400 km. Ontem, o ministério da Integração Nacional não explicou o porque dessa redução. Já o Eixo Leste terá uma extensão de 217 km, começando em Floresta (no Lago de Itaparica) e terminando na cidade de Monteiro, na Paraíba. Também é dividido em três trechos: o primeiro com 16 km, indo da captação da água em Itaparica até o reservatório de Areias, também em Floresta; o segundo terá 167 km (Floresta-Custódia) e o terceiro de 34 km, começa em Custódia e terminando em Monteiro, na Paraíba.

Foi uma das obras consideradas prioritárias pelo Governo Lula, que chegou a visitá-la algumas vezes. Dilma também visitou as obras, inclusive como candidata a presidente em 2010. As obras passaram quase dois anos paradas – entre 2011 e 2013 – porque as construtoras escolhidas para fazer os serviços pediram um reajuste no preço dos contratos, também questionados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Por isso, o Ministério da Integração Nacional fez várias licitações novas e outras concorrências para complementar a contratação dos serviços, o que só foi finalizado em meados do ano passado. Quando foram iniciadas (em 2007), o orçamento era de R$ 4,5 bilhões. Depois, foi para 5,4 bilhões. Em 2011, chegou a R$ 6,4 bilhões. E no ano passado, chegou ao atual valor (R$ 8,2 bilhões).

Quatro presidentes prometeram a obra A transposição de águas do Rio São Francisco, empreendimento prometido pelo menos por quatro presidentes (Lula, Fernando Henrique, Itamar Franco e a própria Dilma) será uma das mais caras do mundo. Entre oito grandes projetos similares realizados no planeta, o projeto brasileiro só perde em valores para duas obras: o projeto Hídrico das Montanhas de Lesoto-África do Sul que custou cerca de R$ 17,6 bilhões e a do Rio TejoSegura, na Espanha, que custou US$ 5,3 bilhões (cerca de R$ 11,7 bilhões. O levantamento foi realizado pela assessoria de imprensa do Ministério da Integração Nacional. Até agora, a transposição do Rio São Francisco terá o custo total de R$ 8,2 bilhões. A transposição Lesoto-África do Sul ligou as nascentes dos rios de Lesoto, país localizado no Sul da África, à África do Sul. O projeto incluiu a construção de quatro hidrelétricas, adutoras e túneis. Lá, o projeto teve um orçamento total de US$ 8 bilhões (cerca de R$ 17,6 bilhões) e levou 16 anos para ser concluído, tendo suas obras iniciadas em 1983 e concluída em 2002. Em Lesoto, um dos fatores que contribuíram para o alto custo do empreendimento foi a construção das quatro hidrelétricas. Lesoto é o berço das nascentes de alguns dos principais rios da África do Sul, que tem problemas com o abastecimento de água.

Outra transposição que apresentou o valor maior do que a do Nordeste foi a realizada do Rio Tejo-Segura, na Espanha. O projeto custou cerca de US$ 5,3 bilhões em valores atualizados e passou 40 anos para ficar pronto, sendo feito por etapas. A sua construção foi iniciada em 1933 e a conclusão só ocorreu em 1973. Essa obra transferiu a água da bacia do Rio Tejo, situada próxima ao Atlântico, para a bacia do Rio Segura, localizada numa região seca no Sudeste da Espanha. As outras transposições realizadas tiveram os seguintes custos (com valores também atualizados): Projeto Colorado-BigThompson, nos Estados Unidos, custou US1,34 bilhão (R$ 2,9 bilhões) e foi realizado entre 1938 e 1959. Nele, foram implantados 12 reservatórios, 56 km de túneis e 153 km de canais. Eles levam a água do Rio Colorado para uma das regiões mais secas do Oeste americano. Na Austrália, o sistema hidrelétrico das Montanhas Snowy custaram cerca de US$ 820 milhões (R$ 1,8 bilhão) e incluíram a construção de 16 reservatórios, sete usinas hidrelétricas, uma estação de bombeamento, 145 km de túneis e 80 km de adutoras. A transposição do Rio São Francisco construirá 14 aquedutos, nove estações de bombeamento, 27 reservatórios e quatro túneis para transporte de água.


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