Jc 16022014 2

Page 1

economia

www.jconline.com.br

O erro do otimismo exagerado Giovanni Sandes gsandes@jc.com.br

O

setor elétrico errou em 20 anos, de 21 analisados, a previsão de quanta água o Rio São Francisco teria em períodos secos. A análise é da PSR Energia, que aponta falhas nos cálculos oficiais da área energética e diz que o governo sempre erra para cima, de forma “otimista”, as contas usadas para planejar os momentos críticos do setor elétrico. É uma leitura corroborada pelo Instituto Acende Brasil, que edita periodicamente o Programa Energia Transparente. Tanto para a PSR quanto para o instituto, há falta de precisão na ferramenta usada para planejar o setor, o que contribuiu para expor o Brasil a situações como o atual risco de racionamento de energia. Atualmente, o Sudeste, que concentra 70% dos reservatórios do País, está abaixo de 37% de sua capacidade de acumular água. E o Nordeste está com 43%. Por isso, agora, o País depende da sorte: se São Pedro mandar chuvas até março, o Brasil ficará mais distante de um novo racionamento. Para a PSR, além dos vários problemas no setor, os dados oficiais subestimam os riscos de suprimento de energia. O primeiro ponto analisado

pela consultoria é a velocidade real de esvaziamento dos reservatórios, mais rápida na prática do que mostram as simulações usadas no setor elétrico para prever cenários futuros de períodos secos. Para chegar à afirmação, a PSR fez o caminho inverso do planejamento: pegou dados do que aconteceu na realidade, em vários meses, e depois inseriu exatamente os mesmos dados no programa de computador utilizado para previsões. O sistema oficial errou o resultado em todas as situações de esvaziamento. A consultoria batizou esse fenômeno de “fator de fricção”, que seria a combinação de elementos diferentes. Primeiro, é preciso mais água para produzir 1 megawatt-hora (MW/h) do que a simulação indica. Segundo, a topografia (o mapeamento correto da profundidade dos diversos pontos) dos reservatórios está desatualizada. E terceiro, existem mais restrições objetivas, como o controle de cheias, por exemplo, do que o sistema supõe haver. A PSR diz que, apesar de o Operador Nacional do Sistema (ONS) discordar do impacto do “fator de fricção” calculado pela consultoria, por outro lado ele reconhece sua existência. Ainda de acordo com o Ener-

Beto Figueirôa/JC Imagem

SETOR ELÉTRICO Consultoria estuda ações do governo e afirma que gestores não agem com a devida cautela em seu planejamento

SÃO FRANCISCO Governo não consegue acertar previsões sobre vazão e reservatórios

Além dos erros, ainda há atrasos nas obras que poderiam reduzir riscos de racionamento

gy Report, no caso da vazão dos rios nordestinos, em especial o São Francisco, a falha é a mesma da que ocorre no cálculo dos reservatórios, uma situação que termina por superestimar a força da água e, consequentemente, erra para cima a capacidade real de geração de energia no rio. Outro ponto importante, na avaliação da PSR, são os atrasos sistemáticos nos cronogramas de investimentos de geração e transmissão de energia. O relatório cita como exemplo o planejado para 2012, uma previsão de novos 2.340 megawatts (MW) médios de capacidade de produção de energia.

“No entanto, somente 480 MW médios efetivamente entraram em operação naquele ano, uma diferença de 80% em relação ao previsto. Em 2013, o realizado foi 66% inferior ao previsto. Dado que não foi tomada nenhuma medida regulatória recente para coibir estes atrasos, nos parece mais realista supor que os mesmos continuarão a existir nos próximos anos”, explica a consultoria. Considerando todos os ajustes, a consultoria apresentou dois cenários: caso chova este mês, o risco de racionamento será de 5%; caso não chova, sobe para 17,5%.

A PSR se antecipa às críticas e diz que risco e realização não podem ser confundidos. É como fazer uma roleta russa: o risco de morte é de uma para seis situações. Se a pessoa não morrer, não é porque o cálculo estava errado. “Sorte não é mérito, e contar com a sorte, ao invés de fazer um planejamento que garanta o suprimento caso São Pedro esteja de mau humor, é uma estratégia, digamos, arriscada”, afirma o relatório. Já em dezembro passado, o Instituto Acende Brasil, na 9ª Edição do Programa Energia Transparente, havia concluído o mesmo sobre a calibragem do setor: “A modelagem empregada no planejamento e operação do sistema necessita de revisão geral para melhorar sua precisão.“ O instituto entende que a expansão do sistema elétrico e os megaeventos deixam mais difícil a previsão de demanda. “Em 2014 será realizada a Copa do Mundo e em 2016 as Olimpíadas. Estes eventos podem provocar significativas mudanças no consumo de energia elétrica”, informa o Acende Brasil. O instituto acertou na leitura sobre o risco da disparada do custo da energia, que vai sobrar para o consumidor. E ambos, Acende Brasil e PSR, recomendam que o aprimoramento da ferramenta de planejamento, para evitar expor o País a mais riscos desnecessários.

SUA CARREIRA NUNCA MAIS SERÁ A MESMA.

Leve para a sua carreira a inovação e o reconhecimento nacional do MBA FGV, o preferido pelas empresas na hora da contratação.

Novas Turmas 2014 • Negócios Imobiliários e da Construção Civil • Gestão Empresarial • Gerenciamento de Projetos • Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria • Gestão de Pessoas • Logística e Supply Chain • Marketing • LL.M em Direito Empresarial

Disciplinas opcionais em universidades estrangeiras

Informações:

2128.8000 faculdadenovaroma.com.br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.