Arnaldo Carvalho/JC Imagem/6-5-2010
cidades
PROJETO Governo pretende criar um parque na lagoa e equipar a área para atividades de lazer e prática esportiva
Obra na Lagoa Olho D’Água gera polêmica
URBANIZAÇÃO Prefeitura de Jaboatão reclama por não participar do projeto. Governo do Estado admite que até 30 mil pessoas da região poderão ser afetadas Alexandre Gondim/JC Imagem/19-1-2011
O
projeto de urbanização da Lagoa Olho D’Água, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, está sendo elaborado pelo governo de Pernambuco sem a participação do município, de acordo com a secretária de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade da cidade, Fátima Lacerda. Em audiência pública para discutir o assunto, na manhã de ontem, ela disse que Jaboatão “não pode ficar refém do Estado” e que qualquer proposta de melhorias para a lagoa, reduto de pescadores, deve envolver, também, a comunidade local. O evento foi realizado no plenarinho da Câmara de Vereadores. O governo pretende criar um parque na lagoa, aproveitando o espelho d’água e a área do entorno, mais próxima do manancial. Segundo o presidente da Companhia Estadual de Habitação (Cehab), Flávio Figueiredo, a proposta prevê equipamentos de lazer e esportes, área para contemplação e piquenique. Além do parque, a lagoa será contornada pela Via Metropolitana Sul, avenida que ligará a Estrada de Curcurana ao Canal de Setúbal, diz Flávio Figueiredo. Para executar o projeto, o governo admite que vai mexer com a vida de 20 ou 30 mil pessoas residentes na região. Procurado pelo JC, após o debate, Flávio Figueiredo não informou com exatidão quantas casas serão demolidas. “Três mil famílias que vivem na área do parque poderão ser transferi-
ÁREA Local é reduto de pescadores e pequenos criadores das para habitacionais que serão construídos nas proximidades”, declara. As demais, seriam beneficiadas com abastecimento d’água, saneamento, micro e macro drenagem. Na audiência, moradores contaram que tiveram as casas marcadas pelo governo sem nenhuma comunicação prévia. “Marcar a casa não significa que a família terá de sai. Quando a gente tem de fazer um projeto, vai a campo com serviços de topografia para identificar o imóvel”, explica Flávio Figueiredo. Nenhum representante do governo participou do debate. A Câmara convidou o secretário das Cidades, Danilo Cabral, que
repassou o convite ao presidente da Cehab. Flávio Figueiredo nem foi e nem justificou a ausência aos vereadores. Questionado sobre a declaração da secretária Fátima Lacerda, sobre a falta de participação da prefeitura no projeto, ele disse que houve um momento de “trabalho conjunto mais intenso” e depois o Estado passou a trabalhar só. Conforme Fátima Lacerda, uma equipe chegou a ser montada, por sugestão da prefeitura, mas “o Estado abandonou o grupo com duas semanas de trabalho.” Ela disse que encaminhou três ofícios ao secretário Danilo Cabral com pedidos sobre o pro-
jeto, mas não foi atendida. “Em resposta a requerimento do deputado estadual Betinho Gomes, o secretário informou que os projetos de urbanização, pavimentação, drenagem, iluminação pública, esgotamento sanitário, creche e escola da lagoa estão prontos e foram encaminhados para análise da CPRH (Agência Estadual de Meio Ambiente), Celpe e prefeitura. Não há nenhum projeto na prefeitura”, garante Fátima Lacerda. Enquanto isso, Flávio Figueiredo afirma que os projetos não estão prontos e o único contratado é o sistema viário, previsto para ser concluído em 60 dias. Na audiência, a promotora de Defesa da Cidadania Isabela Carneiro Leão disse que o Estado não tem licenças municipais para projeto e construção na lagoa. Por isso recomendou a suspensão de qualquer intervenção no local, desde julho. “O risco que se corre é perder o dinheiro”, respondeu Flávio Figueiredo, sobre a falta de licença para o projeto. Representante da comunidade Olho D’Água, José Rodrigues da Silva, resumiu a frustração dos moradores na audiência. “Nosso objetivo era fazer perguntas ao governo, infelizmente não veio ninguém”, diz. “As pessoas estão amedrontadas”, afirma William Rafael da Silva, da comunidade Lagoa da Garça. A comunidade, com apoio de vereadores, vai à Secretaria das Cidades na próxima quinta-feira pedir explicações.