Michele Souza/JC Imagem
k Vida difícil para os pedestres no Recife
Ideia do prefeito Geraldo Julio, de que se deve andar a pé para melhorar a mobilidade na capital, é complicada de ser posta em prática, por conta de buracos, lixo, esgoto e invasões nas calçadas. k cidades 1
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Recife I 18 de dezembro de 2013 I quarta-feira
É difícil andar a pé pelo Recife
Fotos: Michele Souza/JC Imagem
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MOBILIDADE ZERO Lixo, buracos e esgoto empurram pedestre para fora das calçadas em ruas como a Sete de Setembro, na Boa Vista
MOBILIDADE Quem caminha pelas ruas da cidade sabe que não é fácil seguir a recomendação do prefeito Geraldo Julio Margarette Andrea
margarettea@gmail.com
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ndar a pé pelo Recife para melhorar a mobilidade. A tese, defendida pelo prefeito Geraldo Julio, no programa Cidade Viva, na última segunda-feira, é a inversa de inúmeros recifenses que já caminham, diariamente por áreas de grande movimento na cidade. Considerando a dificuldade de driblar buracos, esgoto, lixo, móveis, quiosques e ambulantes instalados nas calçadas, pessoas ouvidas pelo Jornal do Commercio, em uma hora e meia de caminhada no Centro, defenderam a necessidade de melhorar as calçadas para dar mais mobilidade às pessoas. Na Rua Sete de Setembro, no bairro da Boa Vista, a situação é degradante. Muita gente é obrigada a caminhar na rua, pois há trechos ocupados por esgoto, buracos, lixo, mesas e cadeiras. Poças d’água se formam no chão, caindo de aparelhos de ar-condicionado. O mau cheiro toma conta do ar. “Estou sempre vindo aqui e evito as calçadas, pois é difícil andar por elas, quase impraticável. E não só no Centro. No Cordeiro, onde moro, também. Tenho ligado para a prefeitura pedindo serviços de capinação, limpeza, manutenção, mas dizem que só indo na diretoria”, reclama a relações públicas Ivanize Souza, 35 anos. Comerciantes da área se queixam do imenso buraco que virou depósito de lixo próximo à Avenida Conde da Boa Vista. “Já tem um ano que chamo a prefeitura, pois foi ela mesma que abriu o buraco. Vieram duas vezes tirar foto, mas não fazem nada e só vive gente caindo, idosas chegam a passar mal”, diz Maria José Lima, 60. “O prefeito esteve aqui antes da eleição e perguntei quais as soluções para melhorar o local, mas ele não respondeu. Gostaria que viesse andar por aqui.”
RIACHUELO
Sair da Sete de Setembro e pegar à esquerda na Rua do Riachuelo é praticamente impossível pela calçada, estreitada por buraco, meio-fio quebrado, ambulantes e um quios-
Rua da Saudade Rua do Riachuelo
que de coco. No restante do passeio na via, inclusive no canteiro central, mais buracos e pisos saltando, empurrados por raízes de árvores. Dificuldades também vistas na Rua da Saudade, onde ainda há trechos sem pavimento e tomado por metralha, restos de madeira, grande quantidade de manilhas e até o piso de uma antiga barraca, em nível acima da calçada. Lá, o JC encon- Avenida Norte trou a aposentada Mirtes Cavalcanti, 78, moradora do Centro, que caminhava insegura pela área. “Eu gosto muito de caminhar, vou sempre ao Parque 13 de Maio, mas pelas calçadas daqui só ando porque preciso. Tenho muito medo de cair nesses buracos, uma prima minha já se arrebentou”, conta. “A prefeitura precisa consertar as calçadas para a gente poder andar melhor pela cidade.”
Rua 7 de setembro
PEDESTRE SEM VEZ Quando não estão quebradas, as calçadas do Recife apresentam desnível ou obstáculos que dificultam a locomoção das pessoas
COMUM
As dificuldades são as mesma em outras ruas, como a do Hospício e da União. A Avenida Conde da Boa Vista, recuperada há cinco anos, ainda enfrenta o aglomerado de camelôs, desníveis e muita sujeira. Em outros grandes corredores da cidade, como a Avenida Norte, na Zona Norte, chega a haver trechos sem calçada, apesar do grande fluxo de pedestres na área. No debate do Cidade Viva, o prefeito disse que já andou umas 50 vezes o percurso de 5,5 quilômetros entre sua casa e a prefeitura e que as pessoas precisam resolver mais seus problemas a pé.
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É complicado andar no Centro, por causa dos buracos. Já caí na Rua do Hospício e aqui na Sete de Setembro, onde tenho loja há 25 anos. Vivo socorrendo idosos que vão ao chão”, relata a comerciante Maria José, 60 anos
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Tenho pena dos cadeirantes e das pessoas com necessidades especiais. Elas não têm o direito de ir e vir, com tanto buraco. Já vi gente de bengala indo pra rua porque tinha carro de órgão público na calçada”, diz a servidora
Verônica Pereira, 50 anos
Projeto para recuperar vias é extenso e caro A recuperação de calçadas faz parte do projeto Operação Verão, lançado pela Prefeitura do Recife em agosto. Um contrato de R$ 20 milhões prevê a manutenção, requalificação e implantação de acessibilidade em 140 quilômetros. Mas não há previsão de os trechos percorridos pelo JC entrarem nessa fase do programa. De acordo com a diretora de Manutenção Urbana da Emlurb, Fernandha Batista, as obras se dividiram em duas etapas e estão avançadas. “Na primeira, estamos recuperando os Largos do Carmo, de Afogados, Casa Amarela e Água Fria. A Rua Sete de Setembro já foi contemplada, mas no trecho em que não passa carro, pois estes estão sendo priorizados”, informa. Segundo ela, as obras devem ir até março. A segunda etapa inclui os passeios de mais de 400 órgãos públicos e alguns largos, como o de Beberibe. “Já iniciamos em algumas escolas e unidades de saúde e estamos concluindo o levantamento dos outros locais. É possível que áreas não previstas inicialmente sejam incluídas, mas o programa vai continuar em outros anos, há muita coisa a ser feita na cidade, apenas priorizamos alguns locais de grande fluxo de pedestres que estavam em condições muito críticas”, diz a diretora. Fernandha informa que as obras de passeios necessárias ultrapassam os R$ 100 milhões. A Operação Verão também atua na recuperação e reconstrução de vias, devendo atingir cerca de 300 ruas e avenidas. “Concluímos o serviço em 92 vias, há casos até de reconstrução. Trocamos mais de 400 placas de concreto em dois meses e investimos R$ 50 milhões em recapeamento, uma média histórica”, relata a diretora. “Nunca houve um trabalho tão intensivo, mas não vamos resolver todos os problemas só com uma operação.”