4 jornal do commercio
Recife I 21 de janeiro de 2014 I terça-feira
economia
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25 anos de inclusão social
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A Serra é um exemplo. Cuida dos idosos, crianças e jovens. É uma visão completa de comunidade” Jarbas
Vasconcelos, senador e ex-governador de Pernambuco
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Como profissional da Justiça, acho que a Fundação cumpre com o maior papel, que é o de fazer justiça social”
Aquele dia marcou a busca por soluções para a Serra do Machado. Mais difícil que apenas construir uma obra, lembra o empresário, a tarefa era conhecer e priorizar as necessidades do povoado. Não bastava, porém, gastar dinheiro e fazer obras. Era preciso criar uma forma de gerenciar os projetos para garantir a qualidade e continuidade do serviço. Elencar prioridades também era fundamental, tendo em vista a precariedade local em todas as áreas. Em 1989, nascia então a Fundação Pedro Paes Mendonça, presidida pelo empresário, mas com gestão independente. O primeiro projeto foi o Lar Dona Conceição, que atualmente acolhe 38 idosos, entre eles João Francisco Torres, de 102 anos. “Nasci aqui, mas já bati o mundo. As pessoas me perguntam se eu conheço João. Conhecia o pai dele, conheço até os netos. Para mim ele é ‘João de Pedrinho’”, diz João Francisco. Lúcia Pontes, superintendente da Fundação, explica que fal-
Beto Figueirôa/Divulgação
Margarida Cantarelli, desembargadora do TRF5
Ideia do empresário João Carlos Paes Mendonça é deixar viva a memória do pai, Pedro Paes Mendonça. Para tal, decidiu melhorar a vida na terra natal de ambos
INICIATIVA Fundação desenvolve ações para crianças, jovens e idosos, como seu João Francisco. Também estimula o ensino de música e a geração de empregos. Fábrica da Estrela é um exemplo
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Franco, ex-governador de Sergipe
tava acolhimento aos idosos. Era o primeiro de muitos passos em diversas áreas. Em um anexo do próprio Lar Dona Conceição foi criada a Clínica Dudu Mendonça, que acumula 11 mil atendimentos odontológicos, 29 mil consultas, 49 mil exames e 34 mil procedimentos de enfermagem. Os beneficiados são de Serra do Machado e em sua área de influência: os vilarejos de Fazendinha, Serrinha, Esteios e João Ferreira. Mas o trabalho se expandiu muito. Para se ter uma ideia, depois do apoio aos idosos a FPPM recuperou e assumiu, em 2003, uma escola de educação infantil, que se transformou em 2006 em um centro educacional, com ensino fundamental, onde atuam 28 professores e são servidas 18.240 refeições por mês. Até agora 2.869 estudantes já foram atendidos. Isso sem contar oficinas e atividades culturais. Aos 14 anos, Estéfane Barreto demonstra habilidade no violino. Mesmo tão nova, ela conta que já estuda música há 4 anos e que, antes disso, exercitava as artes de forma diferente, na dança. “Um dia, o professor faltou e eu pedi para ficar na aula de música. Me apaixonei pelo violino”, lembra Estéfane. Ao escolher a música, a estudante tinha como meta ingressar na Orquestra Filarmônica da Serra do Machado, mantida pela FPPM. Ela ainda cultiva o desejo, porém seus sonhos e o gosto pelos estudos já ampliaram as possibilidades de futuro da sertaneja. “Pretendo continuar na música. Mas sonho em virar engenheira”, diz ela. Sonhos e possibilidades são palavras que ajudam a entender o impacto do trabalho da Fundação, que permite aos moradores dignidade de vida, seja qual for a escolha. Com o apoio educacional da Fundação, o professor universitário Elisandro de Andrade, 29 anos, virou doutor em física. Além do ensino oferecido no povoado, ele contou com o transporte oferecido pela FPPM durante sua formação no ensino superior. “Só tenho a agradecer a oportunidade que a Fundação me deu”, afirma Elisandro. Ao todo, já foram 2.200 jovens beneficiados com o transporte escolar. Assim, aos poucos, a Fundação cuidou não só de resolver os problemas atuais. Começou a planejar e executar uma série de projetos e ações de olho no futuro, incluindo um novo bairro no povoado.
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O amor que João Carlos tem à terra onde nasceu é um exemplo para Sergipe, para o Nordeste e para o Brasil. Albano
conterrâneos do povoado. E a Serra do Machado, ficou claro, precisava de socorro. “Como cheguei à noite, já escurecendo, as portas todas fechadas, um primo de meu pai ia atravessando, quando me viu e gritou: ‘É João de Pedrinho’. Nisso abriram as portas, as pessoas vieram conversar comigo, gente que eu não via há 20 anos”, lembra João Carlos Paes Mendonça. “Fiquei desesperado. As pessoas não estavam felizes. Era tudo escuro, não tinha calçamento, nada. As casas estavam caindo, era um negócio realmente desastroso”, conta.
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ERRA DO MACHADO (SE) – O povoado sertanejo tem ruas limpas, escolas modernas e equipadas, onde os alunos têm acesso a cursos variados e ensino em tempo integral. É um lugar onde idosos são bem cuidados e as famílias podem viver com saúde, em casas planejadas e ruas saneadas. Esse local é a Serra do Machado, no município de Ribeirópolis, em Sergipe. Lá as pessoas trocaram a certeza da miséria pela melhor das incertezas, a de poder escolher com qual futuro sonhar. Nem sempre era assim. Antes faltava o básico. Tudo só começou a mudar há 25 anos, com a criação da Fundação Pedro Paes Mendonça (FPPM), um aniversário celebrado no último domingo por muitas autoridades, mas principalmente por quem vivenciou toda essa transformação: a gente de Serra do Machado. Antes de contar essa história que mudou a vida de tanta gente, é preciso ao menos contextualizá-la com outra saga importante, a trajetória empresarial e pessoal de João Carlos Paes Mendonça, presidente do Grupo JCPM. Quem conhece apenas seu portfólio de negócios, o mais conhecido no setor de shopping centers, não imagina o forte vínculo afetivo do empresário com a Serra do Machado, terra em que é chamado até hoje, pelos mais velhos, apenas de “João de Pedrinho”. Chamar o filho sempre com referência ao nome do pai é comum no interior. João Carlos nasceu na Serra do Machado, onde viveu até os 7 anos. Foi lá que em 1935 seu pai, Pedro Paes Mendonça, abriu as portas de uma pequena mercearia para uma população de menos de 500 pessoas, na época. Foi o início de uma carreira que levou a família primeiro para a sede de Ribeirópolis, em 1946, depois para Aracaju, em 1951, e em 1966 finalmente para o Recife, onde no futuro se concentrariam os negócios do filho, o Grupo JCPM, hoje composto por empresas de comunicação, shoppings e projetos imobiliários. Mas o sucesso empresarial é só um lado da história. No meio dessa trajetória, por volta de 1987, João Carlos acabara de dar mais um importante passo no ramo de supermercados, rumo à expansão da rede Bompreço em Sergipe, quando decidiu visitar a Serra do Machado. A visita na verdade foi inspirada por um desejo de seu pai, àquela altura já falecido: o de trabalhar pela sua gente, os
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GENTE Fundação Pedro Paes Mendonça completa um quarto de século investindo na formação educacional e na melhoria de vida da população da Serra do Machado (SE)