jornal do commercio 5
Recife I 12 de setembro de 2013 I quinta-feira
economia
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Um novo ciclo industrial INDÚSTRIA GL lançou ontem sua fábrica de massas e biscoitos de R$ 168 milhões, que representa a retomada econômica de Moreno Fotos: Michele Souza/JC Imagem
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ALIMENTOS No alto, o terreno onde a fábrica da GL está sendo instalada. À esquerda, o prefeito Adilson Gomes Filho e o governador Eduardo Campos. Para Osvaldo Miranda, da indústria, há espaço no mercado nordestino
Localização é vantagem estratégica Com sérios desafios fundiários, de topografia (solos bastante rochosos) e restrições ambientais em largas áreas de seu território, Moreno passou a ser endereço valorizado por sua localização estratégica. Está às margens da BR-232 e no meio do traçado do conturbado e fundamental Arco Viário ou Metropolitano, que está longe de virar realidade. Seu distrito industrial contabiliza a atração de seis plantas dos setores de construção civil, alimentos e metalmecânica - há uma sétima fora do distrito e uma oitava em negociação. Moreno, no final da década de 1970 e 1980, era uma das cinco cidades mais ricas do Grande Recife, graças a sua participação nos setores têxtil e sucroalcooleiro. Após a derrocada, em especial, do Cotonifício Moreno – cuja área foi desapropriada ontem pelo governo estadual para receber, em parte dela, uma escola técnica de R$ 8,5 milhões – a geração de empregos na cidade, nos últimos 30 anos, passou a se apoiar na administração pública. O prefeito de Moreno, Adilson Gomes Filho (PSB), em um discurso longo (e entusiasmado), chegou a bradar que a GL Indústria “vai derrubar a Vitarella”. E revelou que também tem negociações avançadas com a Yoki. O presidente da AD Diper, Roberto Abreu e Lima, confirmou que a empresa adquiriu uma área, fora do distrito industrial, mas, com a venda do grupo à americana General Mills, o projeto está em rediscussão. “Representantes norteamericanos estiveram no Estado, visitaram a área, porém ainda não há informações concretas sobre o investimento”, apontou Abreu e Lima. A chegada da GL Indústria foi apontada pelo governador Eduardo Campos como mais um forte indicador de como o desenvolvimento econômico cada vez mais caminha rumo ao oeste do Grande Recife, após a consolidação da Zona da Mata Sul, com o Complexo de Suape, e da Mata Norte, com Fiat e polos vidreiro e farmacoquímico. Ao falar de infraestrutura, Eduardo alfinetou o governo federal por conta do Arco Viário. As obras deveriam ter início este mês, mas o projeto de R$ 1,2 bilhão e 77 quilômetros de rodovia que ligariam Goiana a Suape virou assunto delicado nos palácios do Campo das Princesas e do Planalto. “O projeto foi idealizado no nosso governo. Levei à presidente Dilma e tive o apoio e a solidariedade para tirar do papel, já que, na verdade, esse deveria ter sido um projeto pensado pelo próprio Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A BR-101 deixou de ser uma BR, ela é uma via local. O Arco Metropolitano acerta a margem do Distrito Industrial de Moreno e vai fazer com que Moreno se coloque em posição de servir Suape e Goiana”, discursou.
Rishon iniciará obra no próximo ano A pernambucana Rishon divulgou ontem oficialmente a sua mudança do bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife, para o Polo Farmacoquímico de Goiana, na Mata Norte do Estado. A empresa, especializada em produtos para o cabelo, irá investir R$ 8 milhões na nova fábrica, numa área de aproximadamente 9 mil metros quadrados. As obras serão iniciadas no começo do próximo ano. A novidade irá gerar aproximadamente 200 oportunidades de empregos diretos e indiretos. O projeto arquitetônico ficará a cargo da paulista Loeb Capote Arquitetura e Urbanismo, conhecida pela tendência sustentável e que tem no currículo projetos para Avon, Natura, Petrobras, Bayer, Ericsson e Embelleze. De acordo com a diretora da Rishon, Marcelle Sultanum, o projeto prevê captação da água da chuva para utilização nos banheiros e no
Reprodução
o dia do aniversário de 85 anos de Moreno, no Grande Recife, a GL Indústria lançou oficialmente o projeto de sua fábrica de R$ 168 milhões para produzir massas e biscoitos na cidade. Mais que o retorno ao segmento de alimentos do empresário Gérson Lucena, fundador da Vitarella, o empreendimento se tornou âncora do novo ciclo industrial de Moreno (ver matéria ao lado). Fecha também um cinturão do segmento industrial alimentício na Zona Oeste do Grande Recife, que começa justamente com a Vitarella em Jaboatão dos Guararapes e termina com a Nissin-Ajinomoto, em Glória do Goitá, passando pela Mondelez e Sadia, em Vitória de Santo Antão. Essa última cidade é a que mais pode servir de exemplo de como a chegada do setor industrial tem fôlego para provocar mudanças no perfil econômico. Das quase 20 mil vagas de emprego formal, 8 mil estão na área fabril, quase o dobro do comércio. Começando a seguir os passos vitorienses, dados da Agência CondepeFidem mostram que Moreno se apóia hoje na administração pública municipal e nos serviços (que respondem por 3,8 mil dos 6,7 mil empregos da cidade). Somente as novas indústrias (ver quadro ao lado) vão criar mais 1,4 mil postos na indústria de transformação. A previsão é que a primeira etapa da GL Indústria, que demandou R$ 143 milhões, comece a rodar em julho de 2014. Terá capacidade para fabricar 37 mil toneladas por ano de bolachas cracker, Maria e Maizena; biscoitos recheados e amanteigados; e do tipo wafer. O empreendimento já nasce com previsão de ampliação. Outros R$ 25 milhões serão investidos para a segunda etapa, que começa a rodar em 2016, produzindo massas, inclusive as instantâneas. Em dois anos, a meta é ter uma marca reconhecida no mercado nordestino. Cinquenta pessoas trabalham hoje nas obras, que começaram em abril, e que já têm concluídas as etapas de terraplenagem e fundações. No final do ano, os equipamentos que vão ser usados em três linhas de produção desembarcam em Pernambuco. A previsão é gerar 400 postos de trabalho diretos com o funcionamento da primeira parte da unidade – e outros 800 empregos indiretos. Com as duas etapas a todo vapor, o número de vagas diretas sobe para 500. A nova marca ainda não foi definida. A previsão oficial é divulgá-la amplamente no começo do próximo ano. “Há espaço no mercado de biscoitos e massas, que está muito aquecido no Nordeste. O consumo per capita do nordestino é elevado para esses itens”, pontuou o gerente administrativo da GL Indústria, Osvaldo Amorim Miranda. Ele considerou ainda que a localização geográfica de Moreno possibilita a empresa atuar forte no interior do Estado, sem se descuidar da região metropolitana. A planta ficará às margens da BR-232, ocupando uma área de 34 hectares. A GL Indústria terá como principal concorrente a Vitarella, que hoje pertence ao grupo cearense M.Dias Branco – dono de 70% da participação do mercado pernambucano. Com a coincidência da chegada de uma escola técnica da rede estadual, o gerente administrativo acredita que no futuro será possível dialogar com o governo para afinar a grade de cursos à demanda do segmento de alimentos. A rede de fornecedores tem participação forte de empresas locais ou com operações dentro de Pernambuco, acrescentou. Cerca de 40% do investimento da GL Indústria será de recursos próprios. Dentro dessa estimativa, uma parcela considerável foi viabilizada através do benefício fiscal dentro do Prodepe, que concede crédito presumido – uma espécie de adiamento no recolhimento do tributo – de 75% de tudo que precisa ser quitado de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Por fim, a conta se fecha com financiamentos do Banco do Nordeste para as obras e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dentro da linha Finame, para a compra de equipamentos.
MUDANÇA Empresa investirá R$ 8 milhões na nova planta industrial jardim; recepção feita de madeira de reflorestamento; telhados verdes, que diminuem o uso de ar condicionado; área verde aberta, com grande jardim, que funcionará como área de convivência, com árvores frutíferas; área de separação de resíduos sólidos; tratamento de água antes da de-
volução ao meio ambiente; e muro de tijolo de olaria, daqueles de seis furos, facilmente encontrado no mercado local e que permitirá maior ventilação do local. O motivo da mudança é a expansão dos negócios da Rishon nos últimos anos. A companhia quer aumen-
tar as vendas para o mercado internacional. O filão é a vontade das mulheres de terem um cabelo parecido com o das brasileiras. Este ano, a empresa participou de feiras internacionais nos Estados Unidos e na Itália, para se familiarizar com o mercado de cosméticos fora do País. Segundo os últimos dados na AD Diper, no Polo Farmacoquímico, em 345 hectares, a Rishon irá se unir a outras oito empresas com protocolo de intenções assinados e que já estão em fase de implantação ou com obras a iniciar: Hemobrás, Normix, Vita Derm, Hair Fly, Brasbioquímica, Luft Logistics, White Martins e Multisaúde. A âncora de todos os projetos é a Hemobrás, que tem aportes de R$ 670 milhões e deverá gerar 320 empregos em plena operação. Com as obras iniciadas em maio de 2011, todo o empreendimento deverá ser concluído até 2014.