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SÉRGIO BERNARDO/JC IMAGEM

Os shows de Colker e Elis No Marco Zero do Recife, coreógrafa encena espetáculo em homenagem ao Capibaribe e ao poeta João Cabral. No cinema, estreia o filme sobre Elis Regina. JC+ Cultura 1 e 12

Recife, 24 de novembro de 2016 Ano 98 ● Número 329 ● R$ 2,00

CAFI/DIVULGAÇÃO

Jornal do Commercio

QUINTA-FEIRA


12 Jornal do Commercio

Recife, 24 de novembro de 2016 quinta-feira

JC+

Cultura

LINGUAGENS A coreógrafa carioca une-se ao cineasta pernambucano Cláudio Assis e cria espetáculo sobre poema O Cão Sem Plumas

CAFI/DIVULGAÇÃO

Deborah dança o Capibaribe MÁRCIO BASTOS

marciobastos.jc@gmail.com

SÉRGIO BERNARDO/JC IMAGEM

Q

CENA Poema de João Cabral de Melo Neto ganha novas camadas e significados com a coreografia de Deborah Colker e as imagens captadas por Cláudio Assis. Uma degustação do espetáculo poderá ser vista hoje no Marco Zero e ver como ele afeta a vida das pessoas nos marcou muito. É um povo tão generoso, tão cheio de vida e arte. A experiência foi transformadora. Era sempre lindo quando terminávamos as oficinas e fazíamos saraus nas praças das cidades. Uma troca incrível. Saímos como novo repertório de movimentos”, reforça.

ESTREIA

O retorno da companhia ao Rio de Janeiro, após a residência em Pernambuco, será de trabalho intenso. Deborah espera que o espetáculo esteja amarrado até meados de março, pois a estreia, em Pernambuco, deve acontecer entre maio

WILSON MELO/DIVULGAÇÃO

uando chegou em Pernambuco para residência artística, no início do mês, Deborah Colker achava que já tinha 80% de seu novo espetáculo, O Cão Sem Plumas, pronto. No entanto, após passar por cinco cidades do Estado, acompanhando o percurso do Rio Capibaribe, a coreógrafa se deparou com novas realidades e encontrou novas fontes de inspiração. Adaptação do poema homônimo de João Cabral de Melo Neto, o trabalho vai ganhar novas camadas e significados. Hoje, às 19h, em frente ao Marco Zero, a companhia apresenta um recorte do que será visto nos palcos em uma apresentação inédita, em performance realizada em um palco flutuante, puxado por duas balsas, como parte do festival uPlanet. “Será nossa forma de fechar esse processo e também de homenagear o Capibaribe, já que no dia 24 se comemora o aniversário do rio. A apresentação será uma grande celebração. Apresentaremos o embate do rio com o mar. Vai ser uma loucura porque começaremos a apresentação no Parque das Esculturas de Brennand, com o confronto, e depois vamos dançando na balsa, cheios de lama, até chegar no Marco Zero. Ao todo, serão 30 minutos de coreografia. É uma síntese do que vivemos aqui”, explicou a coreógrafa ao JC, durante uma das oficinas no Alto José do Pinho. A travessia será ao som da Frevotron, comandada por Helder Aragão, o DJ Dolores, com participação de Yuri Queiroga e Siba. Lirinha recitará trechos do poema. Toda a ação será projetada em telão montado no Marco Zero e será gravada pelo cineasta Cláudio Assis, parceiro de Deborah nesse projeto desde sua concepção, há dois anos. O processo de imersão da companhia em Pernambuco começou em Brejo da Madre de Deus e Belo Jardim, seguindo para Nazaré da Mata, Limoeiro até chegar ao Recife. O caminho acompanha o nascimento do Capibaribe até o encontro com o mar. Em cada cidade, foram ministradas oficinas que, ao todo, atenderam a 200 alunos, entre bailarinos profissionais e moradores desses locais. A experiência, segundo, Colker, foi arrebatadora. “Nos intrigava saber quem era esse ‘homem caranguejo’ e, aqui, a gente descobriu. É Cláudio Assis, Josué de Castro, Lirinha, é Meia-Noite, sou eu, é você. É a moradora do Sertão, das comunidades ribeirinhas, da capital. Tivemos ainda mais certeza de como a poética de João Cabral é universal”, conta. Uma das paisagens que mais impressionou a companhia foi a seca no interior do Estado. O descaso com as questões ambientais e sociais que permanece. “Chorei muito em Belo Jardim quando vi a seca. É um cenário muito impactante

e junho. As imagens colhidas durante a residência terão vários desdobramentos. Além da projeção no espetáculo (que será um híbrido de dança e cinema), serão usadas em documentário dirigido por Cláudio Assis e Deborah, que será exibido no canal fechado Arte 1. Partes do material também devem ser utilizadas para obras de videoarte. “É um trabalho conjunto de verdade. Dou meus pitacos na dança, Deborah aponta a visão dela nas imagens. O material está muito rico e tende a crescer. Daqui, seguimos para filmar em Carneiros”, adianta Cláudio Assis.

BIODRAMA

No gelo do afeto um dia ferido MÁRCIO BASTOS

marciobastos.jc@gmail.com

U

MOLHADA A água como metáfora para as emoções da poeta Sylvia Plath

ma das maiores poetas do século 20, Sylvia Plath teve uma vida tão intensa quanto sua obra. O fascínio sobre seu legado permanece vivo e sua figura para sempre intrigante. A vida e a obra da americana são o material poético de Ilhada em Mim – Sylvia Plath, da Cia Lusco-Fusco (SP), que cumpre minitemporada a partir de hoje, na Caixa Cultural. No livro A Mulher Calada, Janet Malcolm, ao falar sobre o suicídio de Sylvia Plath, atesta o seguinte: “Uma pessoa que morre aos trinta anos, no meio de uma separação tumultuada, fica para sempre fixada no tumulto. Para os leitores de sua poesia e de sua biografia, Sylvia Plath será sempre jovem e implacável com a infidelidade de Hughes (ex-marido de Plath). Nun-

ca chegará à idade em que as dificuldades da vida de um adulto jovem podem ser rememoradas com uma tolerância pesarosa, sem ódio ou desejo de vingança”. Intrigados por esse universo ativado pelo imaginário da poeta, a dramaturga Gabriela Mellão, o diretor e ator André Guerreiro Lopes e a atriz Djin Sganzerla optaram por fugir de uma ideia meramente biográfica ao tomar a autora de A Redoma de Vidro e Ariel como objeto de investigação. A eles, interessava mais provocar o que se passava no emocional de Plath. Para isso, lançaram mão de muitos recursos imagéticos. A subjetividade é o mote da narrativa e a água um recurso primordial. A encenação acontece em um espelho d’água no qual o mobiliário vai submergindo de acordo com o estado emocional da poeta, interpretada por Djin.

Objetos que aludem ao universo de Plath aparecem congelados e vão degelando à medida em que os fatos se desenrolam. “A água é uma metáfora recorrente na peça. Esse degelo é uma alusão a tudo que ficou paralisado nessa história, nessa tensão. O suicídio causa uma suspensão no tempo-espaço e nas pessoas que ficaram. Vira uma obsessão tentar entender os motivos que levou a pessoa a tirar a própria vida. Mas, para nós, não interessa julgar a ação. Buscamos entender Sylvia, a pessoa, a mulher cheia de poesia, potência”, explica André Guerreiro, que além de dirigir interpreta Ted Hugues. ● Ilhada em Mim, Sylvia Plath – de hoje a sábado, e de 1 a 3 de dezembro, às 20h, na Caixa Cultural (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Informações: 3425-1915


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