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DOCCENA CLÁUDIO IVO EDLA MAIA ELVIS JORDAN JANE AZEVEDO JUNIOR MARTINS LUCAS MADI LEUISE FURTADO LUÍS CARLOS SHINODA MARCIO RODRIGUES REBEKA LÚCIO ROBINSON ARAGÃO

7 a edição março/2021


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SUMÁRIO

DOCCENA/2021

05 07 10 12 15 17 20 22 24 25 27

CLÁUDIO IVO EDLA MAIA

Afectos

Festival Fecta: o ventre do Coletivo Arremate de Teatro

ELVIS JORDAN

Escrito de um d’aqueles dois

JANE AZEVEDO

Festival de enquetes da cia teatral acontece

JUNIOR MARTINS LEUISE FURTADO LUÍS CARLOS

Ou tudo ou nada: A importância do prólogo no diálogo da cena Percurso poético de uma atriz no Festival de Esquetes da Companhia Teatral Acontece.

Um passo de cada vez - minha trajetória com o FECTA

MARCIO RODRIGUES

Memória e ação

REBEKA LÚCIO Memória, Afeto e Diversidade em Cena

ROBINSON ARAGÃO LUCAS MADI

Recordar é viver

Até os dias estão cansados


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DIRETOR GERAL: Almeida Júnior SECRETARIA Mara Nívea JORNALISTA Nyara oliveira Cavalcante MTB 3692/CE TIRAGEM ELETRÔNICA/PROJETO GRÁFICO Aldírio Ribeiro e Natacia Menezes CAPA Felício da Silva ISSN 2318-094 Cia. Teatral Acontece Teatro Acontece Escola Livre de Teatro Rua João Tomé, 640,Monte Castelo 60.325-220 Fortaleza Contatos cacacta@gmail.com/festivalfecta@gmail.com 85 998649805/ 98865 8687 - Almeida Jr 85 98885 6457 Felício da Silva facebook: companhiateatralacontece Instagram: @ciateatralacontece Youtube: Cia.Teatral Acontece


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EDITORIAL

DOCCENA/2021 MEMÓRIA, AFETO, DIVERSIDADE O Festival de esquetes da Cia. Teatral Acontece- Fecta hoje traz em suas memórias 15 anos de ações que fomentaram parte da cultura Cearense no Estado do Ceará em todas as suas edições como novos grupos surgidos, novos espetáculos gerados por meio dos esquetes, inúmeros artistas, grupos que se envolveram seja atuando, dirigindo, escrevendo, iluminando, construindo sons e cenários, debatendo, ensinando, aprendendo, construindo pensamentos estéticos, enfim a diversidade em todas essas edições só foi possível pelos afetos que se construiu ao longo desses anos. E como esse ano é edição especial de 15 anos e ao mesmo tempo desafiador devido ao atual momento em que passamos no mundo por meio da pandemia que se instalou, resolvemos descomplicar nossa chamada pública, assim umas das medidas tomadas é que a revista não seria restrita aos acadêmicos, mas a todas as pessoas que já tiveram alguma experiência afetiva com o festival nesses 15 anos, outra coisa que facilitamos foi não exigir que os autores se limitassem as regras da ABNT , deixando-os livres , assim teremos além de artigos na edição de 2021, textos não formais que trazem neles memória, emoção e a diversidade de afetos nas páginas que nosso leitor vai se deleitar. O Primeiro artigo/texto foi escrito por Cláudio Ivo que durante muitos anos abrilhanta o Fecta com sua energia boa que é inerente a ele. Intitulado como “AFECTOS”, o texto curto e sucinto nos leva ao deleite de uma alegoria do deus Dionísio


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com a identidade do Festival, além

e fomento da arte teatral cearense.

de nos convidar a passear por suas

O quarto artigo/texto Jane Azerdo

memórias no qual ele discorre a sua

nossa diva do Teatro Cearense que

experiência vivida durante O Fecta.

esteve como jurada do I Fecta no seu

No segundo artigo/texto Edla Maia e

texto “FESTIVAL DE ESQUETES DA CIA

Mariana Elâni ambas do Coletivo

TEATRAL ACONTECE. ANO 2021”, ela

Arremate de Teatro, mulheres que

faz um breve relato de como ela

representam

mulher

conheceu o idealizador do Fecta

cearense. No seu artigo intitulado”

Almeida Júnior, ela relata fatos impor-

FESTIVAL FECTA: O VENTRE DO COLE-

tantes sobre o início do festival que

TIVO ARREMATE DE TEATRO”, elas

muitos não conheciam.

a

força

da

a importância da

No quinto artigo/texto escrito por

realização do festival de esquetes da

Júnior Martins, jovem que eu admiro

Cia. teatral Acontece - Fecta (Fortale-

por estar sempre em busca de realizar

za- Ce) para a classe artística. Aborda

e concretizar seus sonhos, nos traz o

brevemente o nascimento do Coleti-

artigo “OU TUDO OU NADA: A

vo Arremate de Teatro dentro deste

IMPORTANCIA

festival, costurando em sua trama,

DIÁLOGO DA CENA”, na escrita ele

memórias, anseios e movências do

fala da participação do esquete “ou

fazer teatral dentro de um Coletivo e

tudo ou nada” no XIV FECTA, discorre

a influência de um festival que faz a

a respeito da importância da partici-

diferença dentro da nossa cidade. O terceiro artigo/texto Elvis Jordan

pação no festival e fala um pouco das

um jovem cheio de sede pela pesqui-

ele durante suas vivências por outras

sa vem com seu artigo “ESCRITOS DE

edições.

discorrem sobre

DO

PRÓLOGO

NO

experiências que o festival permitiu a

UM D’AQUELES DOIS” que relata

O Sexto artigo/texto é da jovem

sobre as memórias do processo criati-

promissora, atriz, educadora, diretora

vo do esquete D’Aqueles dois para o

Leusi Furtado que nos traz o artigo

Festival de Esquetes da Cia Teatral

“PERCURSO POÉTICO DE UMA ATRIZ

Acontece, FECTA, e seus desdobra-

NO FESTIVAL DE ESQUETES DA COM-

mentos. Reflete ainda sobre a diversi-

PANHIA TEATRAL ACONTECE”, nele

dade em cena e a relevância de um

ela apresenta o seu percurso enquan-

festival de esquetes para a formação

to participante do FECTA ao longo dos


6 anos. Um trajeto recheado de memórias, afetos e aprendizados, colocando a cena narrativa no palco e permitindo o seu crescimento como atriz e pesquisadora do personagem-narrador. O Sétimo artigo/texto

escrito por Luís Carlos Shinoda uma das grandes

promessas do Teatro Cearense, vem com o título de “UM PASSO DE CADA VEZ - MINHA TRAJETÓRIA COM O FECTA”, nele Shinoda conta como foi sua trajetória do festival desde o primeiro esquete apresentado até a homenagem que seu grupo recebeu no festival, tudo isso de uma forma bem emocionante. O Oitavo artigo/texto foi escrito por Márcio Rodrigues, que vem ao longo dos últimos anos contribuindo de forma generosa para o engrandecimento do festival, seu artigo que ele prefere chamar de ensaio tem o título de “MEMÓRIA E AÇÃO”, com muita poesia e emoção ele vai nos introduzindo ao mundo mágico do Fecta, iniciando com a primeira cena que ele viu no festival e que o marcou profundamente, suas memórias vão se msiturando com o teatro e esse teatro com a própria vida. O nono artigo/texto foi escrito por Rebeka Lúcio uma atriz que traz a força de seu tempo. Rebeka nele fala que coleciona palavras que partilham reminiscências costuradas pelo Fecta, fazendo um resgate pessoal, que reflete sobre cartografias sensíveis que tecem memórias individuais e coletivas, de modo a destacar a importância de espaços de formação e de experimentação a jovens artistas. O décimo artigo escrito por Robinson Aragão que participou de várias edições do festival com a Cia Viv’arte e em seu texto intitulado “RECORDAR É VIVER”, ele traça uma linha do tempo de todas as suas participações no festival e ainda traz dados relevantes para a História do Festival como locais que aconteceram, premiação da época entre outras. Para encerrar a revista nós temos a honra de publicar a dramaturgia que ganhou o Fecta na XIV edição em 2017 de autoria e atuação de Lucas Madi, com o título “ATÉ OS DIAS ESTÃO CANSADOS”, que vem discutir as contradições estabelecidas nas relações de trabalho dentro de um sistema que separa, através de uma imposição de poder da burguesia improdutiva, o trabalhador do produto por ele produzido e das suas esferas sociais e familiares, dentro de uma sociedade em conflitos em âmbitos materiais e simbólicos. Na sinopse


7 temos um encontro entre uma mulher e um rapaz, mas não é sobre amor, paixão ou sentimentos não correspondidos, não cria nenhuma ilusão e não propõe nenhuma inverdade. Nosso leitor com certeza irá se identificar com esses relatos em forma de memória, que são as memórias do Fecta,mas que também é a memória de uma geração que vivenciou emoções que vieram despertar neles a curiosidade de ir mais longe! Boa Leitura!

Almeida Júnior- Diretor fundador da Cia. Teatral Acontece


DOCCENA/2021 ARTIGO


JÚRI

CLÁUDIO IVO


10

AFFECTOS Autor: Cláudio Ivo

O FECTA se torna uma grande

todo ansioso para ver os esque-

cerimônia a Dionísio, o Deus da

tes com várias linguagens e

alegria, fertilidade, fecundidade

temáticas que iriam ser apresen-

e do teatro. O vinho é roxo, a

tados naquele espaço que era

bebida do Deus Baco, a cor e

bem

identidade do FECTA. “Festival”

terminava cheia de sorrisos,

dentre muitas religiões é uma

abraços, burburinhos de vozes e

sucessão de celebrações a uma

encantamento

divindade. Sendo assim o festi-

presentes.

aconchegante.

de

A

noite

todos

ali

val é o grande encontro de vários artistas com suas mentes

Foram anos de participação,

pulsantes e férteis, e de muita

colaboração

criatividade e resistência.

orientador) e acima de tudo

(júri,

formador,

espectador e admirador deste A importância desse evento para

evento tão agregador. Lembran-

a cena cultural do Brasil é de

ças como essa me trazem a

grande relevância para a difusão

afirmativa da importância da

das pesquisas, estudos e produ-

diversidade dos temas aborda-

ção

a

dos em cada obra, que sempre

memória afetiva, lembro dos

traz uma reflexão do artista e

momentos vividos e imagens

espectador numa visão mais

vem à mente, eu na primeira

transformadora sobre a socieda-

edição desse festival ministrei

de. Vida longa ao FECTA!

artística.

Resgatando

uma oficina de Clown e a noite ia


Artigo/

DOCCENA/2021

ARTIGO

EDLA MAIA


12 Resumo O presente artigo apresenta a importância da realização do festival de esquetes da Cia. teatral Acontece - Fecta (Fortaleza- Ce) para a classe artística. Aborda brevemente o nascimento do Coletivo Arremate de Teatro dentro deste festival, costurando em

FESTIVAL FECTA: O VENTRE DO COLETIVO ARREMATE DE TEATRO Autor: UCHOA, Edla Maia Sindeaux e Mariana Elâni Santos UM FESTIVAL É UM MUNDO!

sua trama, memórias, anseios e movências do

O calor da plateia, a sensação de frio na barriga ao

fazer teatral dentro de

ver a bancada dos jurados, a expectativa nas coxias

um Coletivo e a influência

ao entreolhar por trás das cortinas o público chegan-

de um festival que faz a

do para tomarem seus assentos. Querer doar-se da

diferença dentro da

melhor maneira possível, um desejo de arrebatamen-

nossa cidade.

to em crescente fluxo. Quantos outros sentimentos são suficientes para nós Artistas, sentirmo-nos vivos?

Palavras-chave

Estar no palco é transcender toda obra do espetácu-

Memória, diversidade,

lo, que somente receberá lapidação suficiente após o

teatro, afeto.

crivo dos espectadores. Neste momento pandêmico, estamos passando por uma prova de fogo e tentan-

UCHOA, Edla Maia Sindeaux

do libertar nossos pandemônios através do audiovi-

Professora e pesquisadora de

sual.

Teatro Feminista.

Mas insisto, o que estamos fazendo no agora não é

Atriz, encenadora e dramaturgista

Teatro, estamos encontrando alternativas de não

do Coletivo Arremate de Teatro. edla.maias@gmail.com

deixá-lo morrer, com isso, damos continuidade ao sentimento de permanência no fazer artístico, que

OLIVEIRA, Mariana Elâni Santos de Mestranda do programa de

nos lança adiante, nos mobiliza a estarmos sempre

Pós-graduação em Artes do IFCE.

em contato com a Arte em detrimento da aniquila-

marianaelani2@gmail.com

ção, como consequência, da vida em detrimento da morte. Precisamos viver mais tantas outras vezes os


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momentos como os citados no início deste texto. Essas sensações ficam ainda mais afloradas quando estamos dentro de um festival. Os festivais, sejam eles de Teatro, de Música, de Dança entre outras linguagens, trazem atividades artísticas que refletem a efervescência das criações de uma determinada geração ou de um momento específico, em que artistas compartilham seus trabalhos, suas verdades e realidades. Há muita nostalgia e historicidade a respeito dos festivais brasileiros, que para além dos registros memoriais lançaram para o mundo grandes artistas. Na cidade de Fortaleza (CE) não foi e nem é diferente. E em meio a diversidade de eventos da capital Alencarina, temos o FECTA - Festival de Esquetes da Cia.Teatro Acontece, idealizado pelo Diretor e Arte-Educador, Almeida Júnior. O FECTA fez e faz parte do circuito cultural de nossa cidade, e durante seus dezessete anos de existência, mantém viva a tônica de espaço propositivo para criações cênicas no Ceará. Seja por meio das atividades formativas como oficinas e palestras, como também através do lançamento de novos artistas e similarmente assegurando a presença de profissionais da cena mais experientes. O FECTA tem um caráter de escola, de um grande ensaio geral sobre o que de fato é realizar Teatro. O encontro de dramaturgos, diretores, atrizes/atores e artistas da técnica que visualizam no festival a oportunidade de realizar o desejo de experimentar a cena e o encontro com o público.

“No mundo utilitário, não somos apenas artistas, somos produtores também. Cada um de nós tem dentro de si um produtor e um artista. Devemos tomar cuidado para que um não domine o outro.[...]Como sobreviver no mercado e ainda assim fazer arte? Como viver neste mundo rápido e competitivo e ainda chegar a um ensaio com a capacidade de invocar a criança selvagem e violenta que existe dentro de nós e que torna a arte poética, magnífica, perigosa e aterrorizante? Nesse clima de corrida pela sobrevivência, como gerar doações com presença e generosidade? (BOGART, 2011, p.15)


Acreditamos que Almeida buscava também um caminho generoso que além da sua sobrevivência, poderia garantir a sobrevivência de muitos outros dentro de todas as atividades de produção que era capaz de realizar. O FECTA é um desses caminhos em que o artista-produtor junto aos companheiros de trabalho, Felício da Silva e Neto Sier, empreende. Um festival generoso que visibiliza artistas e também contrata artistas para trabalhar. Gerando além de trocas de apreciação de Arte, uma rede que conecta artistas para futuros contratos profissionais. E é no ventre deste festival que nós, do Coletivo Arremate de Teatro, fomos geradas. Para dar conta da pluralidade das emoções em ter nossa história geminada nesse festival, contaremos nossa experiência com o FECTA a duas mãos: Eu, Edla Maia e minha fiel parceira Mariana Elâni.

E agora, depois?

te e inspiradora que é. Observando Mari e conhecendo-a cada vez

Eu estava há quase dois anos sem

mais, eu sabia que era com ela que

fazer Teatro. Recém-mãe, tinha

eu queria trabalhar. Mesmo pelo

acabado de voltar ao curso de

pouco contato, ela me passava

Licenciatura em Teatro no IFCE que

uma sensação absurda de seguran-

estava trancado pelo período de

ça e compromisso. Eu tinha um

ausência para o primeiro ano de

texto dramatúrgico em formato de

vida da minha filha.

A princípio,

esquete que desenvolvi também

Mariana e eu fizemos algumas

em uma das disciplinas da faculda-

disciplinas juntas, onde criamos

de durante a gravidez. Ávida do

afinidade. Foram nessas disciplinas

desejo de voltar ao Teatro, mostrei

que Mari já revelava a atriz poten-

o texto à Mari, e para minha


15 surpresa, ela adorou. A dramaturgia que escrevi contava a história de uma única personagem em fases diferentes de sua vida. Para a montagem do texto, precisávamos de mais duas atrizes. Mariana ficou encarregada de convocar o elenco. Ela convidou a atriz Elaine Cristina, que de cara topou o projeto antes mesmo de ler o texto. Inscrições abertas para XI FECTA, nos inscrevemos na mostra noturna e lembro com alegria de ler a lista dos trabalhos selecionados, e lá estávamos nós! Em 23 de agosto de 2014, estreamos no palco do Festival com nosso esquete Essas Mulheres como Coletivo Arremate de Teatro.

Nessa edição, fomos premiadas nas

nossa realidade. Fomos descobrindo

categorias

revelação,

um jeito possível de fazer Teatro,

Grupo revelação e Melhor espetácu-

dentro da realidade em que eu estava

lo pelo Júri Popular, recebendo

submetida naquele tempo.

ainda as indicações de Melhor Atriz

O festival abriu portas para o nosso

e Melhor Dramaturgia. Foi uma

grupo, e fez com que nós fossemos

experiência

a

entendendo e (re)inventando meto-

premiação para um grupo formado

dologias de trabalho. Para a XII edição,

por mulheres que inaugurou sua

não sabíamos ainda qual temática

atividade na cidade, potencializou o

iríamos abordar, mas sabíamos que

nosso desejo em seguir com o

participaríamos. Convidamos a atriz e

trabalho e transformá-lo em espetá-

bailarina Patrícia Crespí para participar

culo. Não tínhamos sede e havia

da montagem de um esquete para

muita

encontrar

apresentar no festival. Desta vez, não

espaços para ensaio, o cenário do

existia nenhuma dramaturgia pronta.

Essas mulheres era guardado na

Tínhamos apenas o desejo de partici-

sala da minha casa, a gente afastava

par mais uma vez daquele encontro

a mesa, e ensaiava naquele espaço

tão frutífero que nos impulsionou e

apertado, mas suficiente dentro da

nos fez montar um grupo de Teatro.

de

Atriz

avassaladora

dificuldade

de

e

Em um processo de três meses, com dois encontros semanais ensaiando e improvisando cenas que partiam do desejo de falar sobre as opressões em que as mulheres estavam submetidas, desenvolvemos estratégias para uma


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dramaturgia e uma encenação de maneira coletiva, surgindo assim o esquete “Entre Nós”. Tateando essas formas de produção artísticas e com muito desejo de realização, Entre Nós foi selecionado para o FECTA de 2015. Como resultado do trabalho no festival, recebemos o 2º lugar de melhor esquete do Júri oficial e Melhor figurino, além das indicações para: melhor direção, melhor cenário e melhor atriz.

Entre Nós é o trabalho que nos define como grupo de Teatro. A partir dele podemos perceber que tanto as temáticas

daquilo

que

tratamos em cena como a metodologia de processo, dizia respeito á uma vertente de teatral ainda pouco debatida no Brasil: o Teatro Feminista. “Torna-se comum a produção de textos a partir de improvisações e a partir de temas ou experiências pessoais [...] De fato, uma das principais contribuições das práticas teatrais feministas é o desenvolvimento de estratégias colaborativas e coletivas para escrita de peças” (MIRANDA, 2008. P.04)

Seguindo

essa

metodologia

de

colaboração e coletividade, junto à circulação de papéis de liderança, mais tarde, o esquete Entre Nós, se tornou o espetáculo Entre Nós: buzinas, chicotes e ácidos. Espetáculo de maior circulação do Coletivo, participando de outros festivais nacionais, regionais e da programação de centros culturais de Fortaleza. Ele foi apresentado na noite de abertura do XVI FECTA (2017), edição em que o Coletivo Arremate de Teatro foi o grupo homenageado pelo festival.


17 Febre roxa Festivais como termômetro, medindo o estado de febre da Arte, como contágio, resistindo até que chegue um por vir, como herança para benefício de quem acredita naqueles de outrora, e que permanecem cultivando, criando o elã do além-cena. Pois “ora, se o teatro é como a peste, não é apenas porque ele age sobre importantes coletividades e as transtorna no mesmo sentido. Há no teatro como na peste, algo de vitorioso e de vingativo ao mesmo tempo.” (ARTAUD, 2006, p.20). FECTA, entre as trincheiras da falta de políticas públicas para o Teatro, “vinga-se” fazendo o que sabe de melhor, dando o que tem de mais instigante e significativo: espaço de proposição criativa, liberdade de expressão, partilha de conhecimentos e afetos. Fecta para todos! E Nós do Coletivo Arremate de teatro, somos

profundamente

gratas

pelo caminho que o festival abriu para nossa trajetória. Hoje, depois de sete anos, olhamos para trás com muita satisfação de ter começado uma carreira no Fecta que é para nós o festival de esquetes mais importante do Ceará. Referencial bibliográfico ARTAUD, Antonin. O Teatro e seu duplo. 3ª ed. São Paulo: Martins Pontes, 2006. BOGART, Anne. A preparação do Diretor. 1ª ed. São Paulo: Martins Pontes, 2011. HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Explosão Feminista / Arte, cultura, política e universidade. 1ªed. São Paulo. Companhia das Letras, 2018 MIRANDA, Maria Brígida. Teatro Feminista: Da pesquisa à sala de aula. 2007. Disponível em: http://www1.udesc.br/arquivos/portal_antigo/Seminario18/18SIC/PDF/064_Maria_Brigida_de_Miranda.pdf acesso: 04/03/21


DOCCENA/2021

ARTIGO

ELVIS JORDAN


19 Resumo O presente artigo relata sobre as memórias do processo criativo do esquete D’Aqueles dois para o Festival de

ESCRITOS DE UM D’AQUELES DOIS

Esquetes da Cia Teatral Acontece, FECTA, e seus

Autor: Elvis Jordan Santos Farias

desdobramentos. Refletimos sobre a diversidade em cena e a

MEMÓRIA AFETIVA

relevância de um festival de esquetes para a

Adentrar no universo teatral é permitir ser atraves-

formação e fomento da

sado por inúmeras facetas de diversidade, revirar

arte teatral cearense.

memórias e ser atravessado pela força dos afetos. A memória afetiva, concebida por meio das experiências nos festivais de esquetes como o FECTA, são

Palavras-chave

permeadas de significado e poesia, seja enquanto

Memória, diversidade,

público, enquanto ator, autor da revista DocCena

teatro, afeto.

ou em algum dos processos formativos que fizeram parte da programação. Na verdade, tudo contribui para uma formação do sujeito, do cidadão e do artista cearense. No ano de 2016, estava concluindo o Curso Superior de Licenciatura em Teatro pelo IFCE. No dia da defesa do trabalho de conclusão de curso, deparo-me com um grande amigo, que, naquele momento, havia se rendido ao teatro assim como eu. Saindo para comemorar o fim de um ciclo, decidimos por nos aventurar em um processo criativo, a construção de um esquete. Um estímulo para essa proposta foi o fato do FECTA, Festival de Esquetes da Cia Teatral Acontece, estar com inscrições abertas. Desafio lançado e mãos à obra.


20

PELO GOSTO DE VER A CIDADE EM

o afeto construído junto ao corpo de

CENA - DIVERSIDADE EM CENA

jurados, público e elenco permanece conosco. Somos gratos pela oportu-

A partir da leitura do conto Aqueles

nidade de dividir nossa obra cênica

dois, de Caio Fernando Abreu, decidi-

com as pessoas que puderam com-

mos transpor para a cena teatral a

parecer ao FECTA.

essência proposta pela literatura por

Desde o vídeo promocional, que

meio de imagens que refletissem um

mostrava vários recortes e cenas de

romance homoafetivo em poesia.

esquetes apresentados, ao folder do

Foram vários dias e noites de ensaio,

festival, que indicava nossa apresen-

marcações de cenas, criação de rotei-

tação, ao incrível contato com o

ro, compra de adereços cênicos,

público e a adrenalina dos bastidores

figurinos, organizando todos os deta-

no teatro do Sesc Senac Iracema,

lhes. A correria era grande e quería-

atual Porto Dragão, todos os deta-

mos mostrar um trabalho de qualida-

lhes resgatados da memória são

de, onde o corpo se fizesse potência.

ressignificados na presente escrita.

Assim nascia o esquete D’aqueles

Senti-me cuidado e extremamente

dois. Elvis e Euriano. Raul e Saul.

valorizado enquanto profissional das

Escrever sobre esse processo criativo

Artes.

nos coloca em contato com a memó-

Euriano Gomes, ator do elenco de

ria afetiva. Falar de diversidade de

D’aqueles Dois, foi fundamental para

forma poética era nossa missão, pois

que esse processo de criação artísti-


21

ca se tornasse tão expressivo, visce-

composição corporal. Movidos e

ral e orgânico. Tango. Suor. Entrega.

instigados pela receptividade do

Corpos. Sintonia. Afetos. Emoção.

público do FECTA, nos dedicamos a

Desencontro. Conflitos de bastido-

transformar o esquete D’aqueles

res se esvaíram na potência e poesia

dois em um Espetáculo. Pouco

da cena teatral em epifania. Os

tempo depois da estreia do esquete

corpos se entenderam e se entrega-

no FECTA, fomos contemplados com

ram ao público. Catarse. Teatro.

o Edital de Incentivo às Artes 2016,

Cura.

na categoria Obras de Artistas

Nossa proposta foi montar uma

Iniciantes. Incluímos Yago Gomes no

obra que trouxesse o afeto entre

elenco, transformando o esquete

dois homens de forma poética,

em um espetáculo de maior dura-

profunda e que atravessasse o públi-

ção.

co. Caetano veloso, view points,

Jangurussu, Barra e Mondubim, em

contato-improvisação, arremataram

Dezembro de 2017 e Janeiro de

a criação.Viewpoints é um método

2018. Nossa incrível equipe era com-

de treinamento desenvolvido pela

posta por Thyago Câmara, Flávia

diretora

Anne

Câmara e Rafaelly Santos, do Coleti-

Bogart por meio da experimentação

vo Girassóis, tornando bastidores e

de exercícios de improvisação e

cena em lugares de aconchego e

norte-americana

Apresentamos

nos

CUCAS


entrega. Gratidão principalmen-

gia. Força. Leveza. Queda. Choro.

te à Euriano Gomes e Yago

Fumaça. Afeto. Cigarro. Envolvi-

Gomes pelas parcerias.

mento. Fumaça. Fogo. Sintonia. O

Corpos

luta-dança.

outro. O eu no outro. O pensa-

Roupas espalhadas pelo chão.

mento no outro. Lembrar. Sentir.

Suor. Desejo. Desnudados em

Memória. Gozo. Querer por perto.

essência. A ausência do outro.

Saudade. Despedida. Dor. Resis-

Pensamento que persiste. Ener-

tência.

em

uma

LO QUE NOS AFECTA Trazer à memória essas experiências vivenciadas no FECTA nos faz recordar de instantes significativos para a vida de um artista. Como disse Eduardo Galeano, na obra O livro dos abraços: Recordar, do latim re-cordis significa voltar a passar pelo coração. Relembrando, revivendo e repassando pelo coração momentos que, com certeza, trouxeram muito aprendizado e fôlego para continuarmos insistindo no poder da Arte como transformadora do mundo.


23 O festival FECTA tem extrema relevância para a formação cultural na cidade de Fortaleza, além do estímulo à grupos que fomentam o cenário artístico da cidade. Fazer parte dessa história nos enche de satisfação e nostalgia. O afeto das salas de ensaio, dos bastidores da cena, da troca com o público durante a apresentação, nos debates e, até mesmo, ao assistir aos diversos esquetes dos grupos de amigos e de novos conhecidos na cena teatral. Afeto construído no suor, no riso, no choro e na insistência de permanecer. Esse afeto atravessa a memória, gerando uma suspensão de espaço, tempo e lugar. Revivemos tudo que nos tocou e ainda vive em nosso peito. Puxar da memória o FECTA é pensar no amor roxo pelos gritos divertidos de Almeida Júnior anunciando o número da edição do festival em seu momento

Samanta

Marques,

de

perguntas e prêmios. As homenagens aos grupos teatrais, as noites de mostra competitiva e premiações do disputado troféu João Andrade Joca. Seja no registro sensível de Tim Oliveira no Festival de esquetes (fotos 1 e 2) e no ensaio fotográfico promocional (foto 3) ou no olhar poético de Pâmela Soares, a Pam Cariri, durante o espetáculo criado após o FECTA (fotos 4 e 5) é nítida a alegria e entrega de uma experiência significativa. Para Jorge Larossa Bondía(2002),

Referencial bibliográfico GALEANO, Eduardo (2002). O livro dos abraços (9a ed.). Porto Alegre: L&PM. LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. In.: Revista Brasileira da Educação. Nº 19, Jan/Fev/Mar/Abr, Rio de Janeiro: ANPED, 2002.


DOCCENA/2021 ARTIGO


JANE AZEREDO PSICOPEDAGOGA, ATRIZ, DRAMATURGA/DIRETORA


26

FESTIVAL DE ESQUETES DA CIA TEATRAL ACONTECE Autor: Jane Azeredo Psicopedagoga, atriz, dramaturga/diretora

Ano de 2004, eu, Jane Azere-

vão 15 anos e aquele menino

do, respondendo pela presidên-

sonhador

cia do SATED/Ce recebo a visita

figura respeitada no meio artísti-

daquele

conversador,

co do Ceará. Sua natureza guer-

magrinho e curioso, cuja figura eu

reira e otimista, não se intimida

já havia visto em várias plateias

diante de obstáculos.

menino

transformou-se

em

da cidade onde havia espetácu-

Poucos dão continuidade à sua

los e em alguns palcos, incorpo-

vida artística. Alguns entram por

rando personagens. Decidido ele

curiosidade, outros para vencer a

vem comunicar oficialmente ao

timidez no trato com o público e

SATED que vai realizar um Festi-

poucos permanecem nesta difícil

val de Esquetes e criar um Curso

vida fácil que é ser ator. Almeida

de

comigo:

Junior, permanece realizando os

Menino corajoso e pretencioso,

sonhos de muitos, com a mesma

ele pensa que é fácil! Para minha

euforia, coragem e dedicação.

surpresa ainda convida-me para

Após muitas andanças como

participar do júri com mais 3

ator/diretor amador, foi oficiali-

baluartes do teatro cearense:

zado pelo renomado Curso de

Walden Luiz, Fernando Lira e Caio

Princípios Básicos de Joca Andra-

Quinderé!

pensei

de de onde criou a Cia Teatral

comigo: Além de corajoso é

Acontece e posteriormente o

audacioso!

CITA o Curso de Teatro que até

Teatro.

Pensei

De

novo

Diante

de

tanta

coragem aceitei a honra. Já lá se

hoje permanece na ativa, mesmo


27 diante de todas as dificuldades que a classe artística atravessa em meio ao furor da pandemia que assola o planeta. Por sua dedicação e natureza laboriosa foi eleito Presidente da FESTA (Federação de Teatro Amador do Ceará) trabalhando pela integração e interiorização do fazer teatral. Os Festivais de Esquetes são importantes, principalmente para os jovens iniciantes que tem a possibilidade de exercitar suas performances nos palcos, oportunizando o exercício de criação de figurinos, iluminação e principalmente a revelação de grandes talentos. Com esse objetivo Almeida Junior concretiza seu sonho criando o FECTA-Festival de Esquetes que completa agora em 2021, 15 anos de vida. Recebi várias homenagens da Cia Cita, dentre elas a mais importante foi a Comenda Walden Luiz da 13* edição do FECTA em julho de 2016. Hoje tenho a honra de ser convidada para participar do júri do Festival de Esquetes da Cia Teatral Acontece de 2021. Aceito e proclamo VIDA LONGA A ESSE FESTIVAL!


DOCCENA/2021

ARTIGO

JUNIOR MARTINS


29 Cia. Teatral Acontece VII Concurso de Artigos Fecta 2021 “FECTA - Memória, Afeto e Diversidade em cena.”

O esquete “ou tudo ou

OU TUDO OU NADA: A IMPORTANCIA DO PRÓLOGO NO DIÁLOGO DA CENA

nada” participou do XIV FECTA e levou os prêmios

Autor: João Martins de Mesquita Junior – Rua Padre

de melhor figurino,

Ambrósio Machado, 376 – Parreão. Fortaleza/CE – Mestre

melhor cenário, melhor

em artes pelo IFCE. juniormartinsmj@hotmail.com

iluminação, melhor ator e melhor cena. O artigo visa discorrer a respeito da

Coautor: Leuise Lopes Furtado – Mestre em Artes pelo IFCE – leuisefurtado@gmail.com

importância da participação no festival e falar um

UM LUGAR DE EXPERIMENTOS

pouco das experiências que ele permitiu.

O FECTA foi durantes muitos anos um dos principais lugares de experimentos cênicos da cidade de

Palavras-chave

Fortaleza. Era lá que novos grupos surgiam, experi-

Narrativa; Teatro;

mentações de grupos já existentes iam a cena, ou

Inventividade; Imaginário;

onde coletivos de artistas traziam alguma nova

Ator-narrador.

proposta de trabalho. Era um lugar destinado ao encontro com a plateia. O momento de sentir e perceber como aquele trabalho interagia com seu público. Mas não era uma relação apenas com quem estava em cena. O festival funcionava também como uma formação de plateia. Devido a sua imensa diversidade de cenas o publico poderia sair de uma mesma noite assistindo desde as cenas mais clássicas até as mais performáticas. Minha história com o FECTA começa no expectar. No exercício do olhar para a cena. Mas, claro, com um


30 um olhar especializado para essa

da cidade, em especial o FECTA,

cena, longe de um lugar comum.

proporcionavam a cidade.

Ao assistir as cenas, já buscava

Mas meu contato com o FECTA não

dissecá-la, para compreender as

para por aí. Minha primeira partici-

escolhas técnicas e estéticas feitas

pação se deu um convite feito ao

pelo grupo ou a direção daquele

grupo cRISe, o qual fazia parte no

trabalho.

entender

período, para a abertura do festi-

como a cena chegava no publico e

val. Apresentamos a cena “Ouvin-

o modo de fruição dele. Considero

do Risos”, eu e Georgia Amaro em

essa experiência fundamental para

cena. Lembro-me bem de todo o

todo estudante de teatro, o exercí-

nervosismo que tomou conta de

cio do olhar. E era algo importan-

mim para essa apresentação. Iria

tíssimo que os festivais de esquete

me apresentar no festival que

Procurava

acompanhei

por

muito

tempo pela primeira vez. Foi um momento ímpar, de certa forma leve, pois dado a condição de convidado, creio que não fluíam em mim

as

emoções

que

correm quando estamos participando. participação

A

primeira

concorrendo

como grupo foi com a cena “Grande Edgar”. A cena era fruto da montagem “Deslegível” da UFC. Leuise e eu fizemos essa sena na montagem e decidimos dar a ela uma vida pós montagem

e

a

oportunidade

surgiu no FECTA. A cena foi


31

uma adaptação do conto homônimo de

Cenas (Manaus/AM).

Luís Fernando Verissimo. Nela dois

Em 2017 o FECTA trouxe como tema

personagens se encontram e seguem

“trajes de cena revelando mundos possí-

em um diálogo em busca de descobrir

veis”. Para essa edição levei o experi-

quem é o outro, algo corriqueiro. Para a

mento “ou tudo ou nada”. O esquete

encenação optamos por uma proposta

surge a partir de uma adaptação do

física e uma divisão em dois planos: o

conto literário “o pescador e sua

plano narrativo e o plano da ação.

mulher”. Aqui já carregava comigo um

Lembro-me que ao final da apresentação o seu Haroldo Serra me cumprimentou e disse: “Muito obrigado,

Conseguimos acom-

foco de trabalho sobre a cena narrativa

panhar

o

que havia iniciado com o trabalho feito

festival esse ano.

em “Grande Edgar”. A novidade é que

Assistimos todas as

além de experimentar algumas ideias

cenas. Em particu-

que levantava a respeito da cena narrati-

lar,

que

va, também era meu primeiro trabalho

o

de direção levado a público dessa manei-

todo

achava

conseguiríamos

primeiro lugar até o

ra.

último dia. Nesse

Lembro-me que ao final da apresentação

último dia assisti a

o seu Haroldo Serra me cumprimentou e

cena

Magno

disse: “Muito obrigado, hoje eu assisti

Rodrigues em que ele fazia uma senho-

teatro.”. Aquele comentário já bastaria

ra. Uma cena belíssima com um excelen-

para a noite, mas fomos para o debate

te trabalho de ator feito por ele. Mereci-

com os jurados e mais uma serie de

damente ele levou o prêmio de primeiro

elogios foram feitos, até por pessoas

lugar. Ficamos em terceiro lugar naquela

que estavam apenas ouvindo o debate.

edição. A participação e a troca com os

Aquilo foi um sinal de que as ideias em

jurados nos serviram como combustível

relação ao diálogo entre palco e plateia

para a cena. Depois do FECTA participa-

que havia levantado foram cumpridas.

mos de outros festivais: FESFORT (Forta-

Resultado dessa apresentação é que

leza/CE); Festival de Teatro de Guarami-

saímos na noite de premiação do XIV

ranga (Guaramiranga/CE); Niterói em

FECTA

Cena (Niterói/RJ); Festival de Teatro do

Melhor figurino, pelo uso do figurino da

Zimba (Rio de Janeiro/RJ) e Breves

personagem Mulher que se transforma-

hoje eu assisti teatro.”

do

com

os

seguintes

prêmios:


va a cada cena. Melhor ator, pelo foco no trabalho de Ildo Mota nos personagens do Narrador e do Pescador. Melhor cenário, usávamos uma estrutura feita com canos de pvc e esteiras de palha que cobriam os canos, uma rede de pesca e um balaio de pesca. Prêmio especial de iluminação, prêmio criado especialmente para a cena já que não era previsto no regulamento. E por fim Melhor cena. Foi uma experiência incrível aquele FECTA para mim. Desde então passei a acreditar na minha função de diretor e tenho feito diversos trabalhos envolvendo direção e concepções cênicas graças a esse trabalho apresentado no FECTA. O FECTA foi uma vitrine artística para minha carreira como ator e diretor. Foi um lugar de experimento de cena, enquanto ator e diretor, me fazendo crescer e apreender na prática, na troca com a plateia e na conversa com os jurados. É um lugar de resistência e encontro para a arte feita na cidade de Fortaleza. Espero que outros jovens artistas em formação passam ter a oportunidade de participar do FECTA e entender o que relato aqui nesse texto.


DOCCENA/2021

ARTIGO

LEUISE LOPES


34 Percurso poético de uma atriz no Festival de Esquetes da Companhia Teatral Acontece. “FECTA - Memória, Afeto e Diversidade em cena.”

PERCURSO POÉTICO DE UMA ATRIZ NO FESTIVAL DE ESQUETES DA COMPANHIA TEATRAL ACONTECE. Autora: Leuise Lopes Furtado. Rua Padre Ambrósio

Resumo O presente relato apresenta o meu percur-

Machado, 376. Bairro Parreão, Fortaleza- Ceará. Email: leuisefurtado@gmail.com. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará

so enquanto participante do FECTA ao longo dos

Co-autor: João Martins de Mesquita Junior. Instituto

anos. Um trajeto rechea-

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.

do de memórias, afetos e

Email: juniormartinsmj@hotmail.com.

aprendizados, colocando a cena narrativa no palco

PERCURSO POÉTICO DE UMA ATRIZ EM FORMAÇÃO

e permitindo meu crescimento como atriz e

O teatro na escola foi a base da minha formação

pesquisadora do persona-

desde muito cedo. Durante o ensino médio resolvi

gem-narrador.

ultrapassar os muros da escola e buscar participar do circuito teatral profissional em Fortaleza, foi quando

Palavras-chave

entrei no Curso Princípios Básicos de Teatro do Thea-

FECTA, cena narrativa,

tro José de Alencar(CPBT) 1 . Dentro do CPBT montei

personagem-narrador.

uma esquete e com apenas 15 anos de idade consegui ser selecionada pela primeira vez no FECTA, foi uma euforia só. A participação seria na mostra paralela, vários jovens no meio de tantos artistas de notório reconhecimento na cena teatral fortalezense.

1

“O Curso Princípios Básicos de Teatro é considerado o mais importante curso de iniciação teatral de

Fortaleza e do Ceará. O curso é realizado pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), através do Theatro José de Alencar, em parceira com a Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc) desde 1991. Durante seus 28 anos, acolheu mais de 9.000 alunos interessados em iniciar seus estudos e práticas teatrais e revelou talentos de renome nacional e locais como grandes atores e atrizes cearenses.” Disponível em: https://theatrojosedealencar.secult.ce.gov.br/curso-principios-basicos-de-teatro-cpbt/


35 Essa primeira participação se

que tive novamente a oportuni-

deu no ano de 2011 e o que ficou

dade de participar do FECTA no

marcado na minha memória foi o

ano de 2016, dessa vez como

vislumbre de estar em cena em

diretora e como atriz. Levei ao

um teatro profissional com uma

festival a transcriação da litera-

plateia lotada e um festival de

tura ao palco do texto “A quase

esquetes!

morte de Zé Malandro” de Ricar-

O tempo passou e entrei na

do Azevedo e do texto “Grande

Licenciatura

na

Edgar” de Luis Fernando Verissi-

Universidade Federal do Ceará,

mo. Na mesma edição, levei ao

onde comecei a estudar a cena

palco a personagem-narradora

narrativa e todos os desdobra-

“Matriarca” em formato de solo

mentos de corpo e voz necessá-

do consagrado texto “O livro de

rios ao ator-narrador. Foi assim

Jó” de Luís Alberto de Abreu. 2

em

Teatro

A pesquisa aqui era experimentar os tipos de personagem- narrador e como a cena narrativa se desenvolvia no palco e chegava até o público que completa a história como cocriador da cena por meio de sua capacidade imaginativa e criativa. No ano seguinte, 2017, mais uma vez a cena narrativa se fez presente no palco do FECTA, levei a encenação do conto popular “O pescador e sua mulher” e tive uma excelente experiência de troca e de pesquisa do personagem-narrador e seu contato direto com a plateia. 3 Conforme citei no início desse relato, o teatro na escola representa o principal pilar da minha formação como atriz e graças ao FECTA tive a chance de levar uma esquete narrativa dos meus alunos para a mostra de esquetes estudantil, representando um grande marco para a história do grupo de teatro da escola em que eu trabalhava e para a vida dos estudantes envolvidos em cena que com certeza, experimentaram a mesma sensação que eu descrevi no início desse relato.

2

“ O Esquete “Matriarca” recebeu o prêmio de 3º lugar. O Esquete “A quase morte de ZÉ Malandro”

recebeu os prêmios de melhor Atriz e de direção. 3

O Esquete “Ou tudo ou nada” transcriação cênica do conto literário “O pescador e sua mulher” recebeu

os prêmios de Melhor Esquete, Melhor Ator, Melhor Figurino e Melhor cenário.


36 A CENA NARRATIVA E SEUS ATRAVESSAMENTOS Os esquetes que levei ao FECTA eram todos cenas narrativas, a maioria transcriação da literatura para o palco com exceção de “A matriarca” que apresentava um personagem-narrador oriundo de um texto dramático. Para embasar minha pesquisa narrativa ao construir tais cenas me debrucei sobre os escritos da professora Nara Keiserman. 4 Keiserman (2007) prevê um teatro que teatraliza obras não dramáticas a partir de procedimentos atoriais que são exercícios para estimular o desenvolvimento psíquico e físico dos atores, bem como suas relações com as histórias e os possíveis gestos que oriundam dos exercícios e podem ser levados à cena, gerando um teatro que, segundo ela, pode-se chamar de físico porque se utiliza da corporeidade como principal canal comunicador com a plateia, além de focar no gesto e no movimento. Sua metodologia de construção de cena é fundada na realização de laboratórios improvisacionais que são convertidos em linguagem teatral e também numa pedagogia de formação e treinamento para o ator rapsodo. Neste aspecto, o grande diferencial de uma encenação que parte da linguagem narrativa, é que no palco a narrativa estimula o ator a estabelecer uma nova relação com o seu trabalho, principalmente no que diz respeito à construção de personagens. Isto porque nessa linguagem o ator transita entre os personagens da história que está sendo contada, o autor da história e entre si.

1

“Nara Keiserman é professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro- UNIRIO, ministrando aulas na

graduação e também na pós-graduação em artes cênicas e na pós-graduação em ensino das Artes Cênicas. Na UNIRIO, Nara desenvolve uma pesquisa institucional intitulada de Ator Rapsodo: pesquisa de procedimentos para uma linguagem gestual


37 A relação do ator com o texto não dramático exige que ele participe da construção como um coautor da cena, olhando para os elementos da encenação com uma visão crítica e afiada a fim de assegurar que a temporalidade do texto, as descrições textuais, os comentários e as reflexões façam parte da mesma lógica da encenação. Portanto, ao construir uma encenação narrativa sublinha-se o trabalho do ator como cocriador, uma vez que tudo que vai para a cena baseia-se em uma relação do ator com a história, para que assim os movimentos, as vozes e os corpos vistam as personagens através de um estudo do ator e do seu corpo. A partir de exercícios e de experimentações gestuais é possível uma criação de gestos que manifestam a corporeidade que o diretor e os atores escolheram para contar a história, de forma que os corpos extracotidianos e distanciados transportem o espectador para além da história e essa se conclua a partir da imaginação e da inventividade do espectador. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considero que o FECTA faz parte da minha formação porque consigo perceber o quanto consegui explorar minha pesquisa com a narrativa e as diversas oportunidades de interpretar vários personagens ao longo dos anos graças ao Festival de Esquetes. Afirmo que as oportunidades de trocas e vivências estão cada vez mais escassas e o lugar da experiência de estar em tão grandioso evento é sem dúvida de suma importância para a construção da minha identidade como atriz.

Referencial bibliográfico KEISERMAN, Nara Waldemar. O Ator Rapsodo: Pesquisa de procedimentos para uma linguagem gestual. ENGRUPEDança, p. 74 – 83, 2007. KEISERMAN, Nara Waldemar. Teatro gestual narrativo. Sala Preta, v. 8, p. 303 – 309, 2007.


DOCCENA/2021

ARTIGO

LUÍS CARLOS SHINODA


39

UM PASSO DE CADA VEZ MINHA TRAJETÓRIA COM O FECTA Autor: Luís Carlos Shinoda 1 Fui me descobrindo “gente de teatro” a partir de 2009, quando estava concluindo duas formações em paralelo, o Curso Princípios Básicos de Teatro (CPBT), realizado no Theatro José de Alencar, em Fortaleza-CE, e o curso Permeio - na Escola de Teatro Renasce uma Cidade, em Maracanaú-CE. Em ambas as formações, o contato com técnicas e instrumentos da prática e pesquisa teatral moviam o corpo de um sentimento e desejo pela investigação e desenvolvimentos de novos processos. Nesse período, juntamente com o recém fundado Cangaias Coletivo Teatral, comecei um movimento de direção artística na condução de treinamentos e processos criativos. E fazia muito sentido que as técnicas apreendidas nas formações tivessem como escopo a formação do próprio grupo. Outro detalhe importante é do período histórico de efervescência dos festivais de esquete na cidade de Fortaleza, com possibilidade de ter um espaço de experimentação livre que, muitas vezes, refletia em um amadurecimento estético, de identidade e de pesquisa de linguagem das produções desenvolvidas em grupos e/ou individualmente. Qual a relação da formação e produção teatral dos grupos com os festivais de esquete? Qual a importância dos festivais no amadurecimento de grupos e/ou artistas? A partir de um recorte das minhas experiências com o Cangaias em participações no Festival de Esquetes da Cia Teatral Acontece (FECTA), pretendo refletir sobre esses pontos, traçando uma linha do tempo.

1

Ator, encenador, pesquisador e gestor cultural. Licenciado em Teatro pelo Instituto Federal do Ceará -

IFCE (2016). Fundador e diretor do Cangaias Coletivo Teatral, coordenador e professor do Curso Livre de Práticas Teatrais e artista-gestor do Apê Cultural.


40 no

pela escolha da dramaturgia como

FECTA foi no ano de 2010. Nos inscre-

pela encenação. Em “A Revolta dos

vemos

experimentos

espíritos” o fio condutor da narrativa

cênicos que havíamos começado a

era uma fábula natalina e, em “Anôni-

investigar no Cangaias. Eram dois

mos”, uma tentativa confusa que

esquetes - um se intitulava “A Revol-

teve como disparador a autobiogra-

ta dos espíritos" e o outro “Anôni-

fia. A reflexão do corpo de júri do

mos”. Relembro com saudosismo da

festival durante o debate apontava

nossa primeira participação que, ao

as falhas da nossa apresentação

meu ver, foi um desastre mas um

como “didático”, “amador”, “frágil”.

grande aprendizado. Os dois esque-

Voltamos para a nossa cidade com o

tes representavam bem o momento

peso das lamentações pela trágica

do grupo que, apesar de estar em

estreia que, futuramente, geraria

circulação

espetáculo,

outros aprendizados. Nesse período,

estava dando seus primeiros passos

o grupo também buscava circular

na criação. Meu trabalho como ence-

com a nossa primeira montagem,

nador foi muito questionado, tanto

intitulada “O Santo e a Porca” (2010).

Minha

primeira com

participação

dois

com

um

Durante os anos de 2011 e 2012, com o Cangaias ensaiando em escolas e associações de moradores, na cidade de Maracanaú, estávamos imersos em uma nova pesquisa voltada à investigação do movimento e da dramaturgia corporal. No começo do processo, assumimos como dispositivo de criação os treinamentos

e

procedimentos

dos

princípios expressivos da Biomecânica Teatral de Meierhold. O trabalho intitulado posteriormente “Simplesmente Rosas” estreou também no FECTA, primeiramente no ano de 2011, participando da mostra paralela - uma programação que acontecia no período diurno com trabalhos mais experimentais e sem a competição da mostra noturna. Alguns trabalhos recebiam o convite para no ano seguinte estar na mostra competitiva, e assim foi conosco.


41 No ano seguinte, participamos da mostra competitiva com o mesmo esquete "Simplesmente Rosas", um experimento que já tinha rodado por outros festivais e foi nos estimulando. A encenação e a dramaturgia pautava-se na fisicalidade, no jogo corporal e na relação entre dois atores em cena com um desenho coreográfico de movimentação. Não havia o uso da palavra. O conflito do esquete estava em uma rosa, único elemento posto no palco vazio, que despertava no jogo a relação de inveja, cobiça, traição e morte. Uma das estratégias da encenação foi criar nove pontos no espaço. A cada movimento e a cada situação, ocupava-se um local marcado. Outro código era o uso de pausas, suspensão da ação e oposição. Antes de efetuar uma ação, como “dar um tapa”, mostrava-se paulatinamente o desenho corporal do movimento e, antes da execução, fazia o movimento contrário deste, empregando mais força no final da ação. Desta vez, com “Simplesmente Rosas”, tivemos um retorno positivo do público e dos debatedores no Festival de Esquetes da Cia Teatral Acontece. O caráter experimental do grupo, a busca de uma pesquisa de linguagem com autoralidade e diferença talvez tenha motivado os debatedores. Fomos agraciados com indicações

e dois prêmios: segun-

do lugar no júri oficial e ator

“ Fomos agracia-

grupo formado por artistas

dos com indica-

jovens e independen-

tes, moradores da região

ções e dois

metropolitana, vivendo

condições adversas para

prêmios: segundo

desenvolver um proces-

resultado

lugar no júri

serviu como estímulo e

oxigenou as pretensões do

oficial e ator

coletivo.

Durante os anos seguin-

revelação.”

tes, período em que

so

criativo,

o

estava cursando a Licencia-

revelação.

Para

um

tura em Teatro do IFCE,

o grupo foi naturalmente assumindo um espaço de pesquisa. Nos anos de 2013 e 2014 continuamos com esse processo de investigação em sala com pretensões de produzir um trabalho cênico que levou a nossa participação mais uma vez no FECTA, com um experimento intitulado “Balões eu te amo” (2014), que mais uma vez uma estreia do Cangaias no festival. A trama é tecida por um relacionamento de um casal em crise. A paleta trabalhava com tons monocromáticos e mais uma vez a dramaturgia do jogo, do corpo e movimento em um espaço vazio.


42 “Balões eu te amo” (2014) teve

resultou na montagem do espe-

também um retorno positivo no

táculo homônimo no ano seguinte,

festival com um reconhecimento

circulando por espaços, centros

importante para o grupo, a premia-

culturais e cumprindo temporadas.

ção de primeiro lugar no júri oficial e

Sempre

melhor direção. Já estávamos com

ensaiar o espetáculo, víamos a

o desejo de amadurecer o processo

possibilidade de mudança, de rever

de criação para desenvolver um

algum aspecto. Isso para nós foi

espetáculo, e a participação no

bastante interessante. Até aquele

FECTA serviu como espaço de expe-

momento, o Cangaias via suas

rimentação, primeiro contato com

pesquisas cênicas muito voltadas a

o público, além de podermos testar

experimentações com peças de

o trabalho com recursos da estrutu-

curta duração. “Balões eu te amo

ra técnica disponível de espaço

estreou como espetáculo no ano de

cênico- iluminação, sonoridade etc.

2015 e ficou em circulação até o ano

Seguimos com o processo que

de 2016.

que

voltávamos

para


43 inda em 2015, recebemos o reconhecimento como Grupo Homenageado do FECTA. A cada edição, o Festival fazia homenagens para algum grupo de teatro da cidade e/ou do estado. O Cangaias foi o escolhido do ano, o que serviu como estímulo para nós, buscávamos amadurecer e desenvolver um trabalho consistente. Desde então fomos desenvolvendo mais solidez, estabelecemos um trabalho mais consciente voltado ao teatro de grupo com pesquisa de linguagem, produção de repertório e circulação.

A participação do Cangaias e, consequentemente,

as

atores e não atores. A mostra é

minhas

um espaço com programação feita

experiências com o festival, perpas-

por alunos e ex-alunos do CLPT.

sam o sentido da experimentação

Queremos, com a mostra, oportuni-

livre, com a possibilidade de investir

zar a experimentação livre por quem

em processos de atuação, direção,

está iniciando a trajetória no teatro.

dramaturgia, elementos visuais e

Diante de alguns momentos que

produção. Acredito que o espaço de

marcam

profundamente

um festival de esquetes, assim como

percurso

como

o FECTA e tantos outros, instiga e

pessoa na vida, guardo as lembran-

fomenta a formação de novos

ças e me apego ao rememorar os

grupos. Como um coletivo artístico

passos dados juntamente com o

estamos em constante transforma-

Festival de Esquetes da Cia Teatral

ção e amadurecimento, em um

Acontece. São sensações e lembran-

processo de investigação continua-

ças que trago e dos quais pude

da cuja formação se dá na prática do

acompanhar, tanto como plateia

fazer-pensar teatro.

quanto como artista. Resgatar essas

artista

o e

meu como

Atualmente, desenvolvemos uma

memórias reaviva o laço afetivo que

mostra intitulada Experimenta!, que

nutro pelo FECTA como espaço de

acontece dentro da grade do Curso

aprendizado, experimentação criati-

Livre de Práticas Teatrais, nosso

va e amadurecimento no campo das

projeto de formação em teatro para

artes cênicas.


DOCCENA/2021

ARTIGO

MARCIO RODRIGUES


45

Autor: Marcio Rodrigues

racional” afirma-se aos quatro cantos da academia. Todo nosso sistema de ensino se baseia em

MEMÓRIA E AÇÃO

ficarmos pensando e discutindo,

Eu lembro de uma atriz apanhando de um buquê de flores... Quando eu puxo pela minha memória os eventos do FECTA, surgem uma variedade de estéticas, corpos, imagens e cores. E, ao observar esse arco-íris de propostas cênicas, a palavra que me vem à cabeça não é memória, mas ação. Uma torrente caleidoscópica de ações se espalhando entre

performance,

poesia,

danças, palhaçaria, imagens oníricas ou cotidianas. Ação sempre foi uma vizinha muito mal vista e mal falada. “Homem é um ser pensante

e pouco somos incentivados a criar ações na comunidade e no mundo. A defesa de que a reflexão é mais importante que a ação não se configura no fazer teatral. Quando lemos os livros das grandes pessoas de Teatro Antunes Filho, Fernanda Montenegro, Zé Celso, Stanislavski, Pina Bausch ou Peter Brook, eles não nos falam de abstrações ou elocubrações

feitas

no

confortável

gabinete doméstico, ou na frente da lareira de suas casas geladas na Europa. Esses homens e mulheres criaram, fizeram, montaram espetáculos, às vezes de qualidade duvidosa, às vezes marcaram uma geração inteira. Mas suas obras literárias não são mais do que reflexões sobre suas ações, sobre seus processos de criAÇÃO, elas têm cheiro de suor e madeira de palco. Cedo na minha vida teatral eu percebi que a teoria do Teatro se tratava do movimento pelo mundo e no mundo.


46

O FOGO Em várias mitologias, o fogo aparece como um elemento de ativAÇÃO, de criAÇÃO, de transformAÇÃO, é necessário muito fogo no corpo para transformar, para acionar a carta do Mago do Tarot, para transpor os limites. Por muito tempo eu acreditei que deveríamos estimular que cada um desenvolvesse o seu fogo da criação, que incendiassem sozinhos. Me ressentia das pessoas que precisavam de alguém chegando com uma tocha para começar a fogueira e que as outras pessoas viriam para trazer os gravetos e soprar para manter e perpetuar o fogo. Eu acreditava que não poderia ser responsabilidade de um apenas, mas que deveria ser uma atitude de todos. Hoje penso diferente, hoje acredito que sim, é necessário pessoas com muito fogo no... Corpo. É necessário que haja aqueles que conclamam o início da festa com uma chama que vai ser atendida, estimulada pelos outros, é necessário que haja uma convocatória que, ao


47

trazer a chama ao centro, convide a festa ao redor dela. Se faz necessário que alguém comece a AÇÃO. E é disso que se trata a oferta do fogo. Durante muitos anos, a Companhia Acontece conclamou com fogo no corpo os artistas de Teatro, Dança, Performance e Circo da cidade de Fortaleza e de muito além, Roraima, Rio de Janeiro, Brasília, a virem à FESTA-FECTA, a esse momento de celebração! Conclamar as pessoas a sair da inércia e conclamá-las ao movimento, à criAÇÃO artística, à exposição e observação, sejam os alunos das universidades de Teatro do Estado do Ceará, sejam artistas que não estavam nelas, que não passaram por elas. O fogo da criação das convocatórias do FECTA-FESTA gerou muitos frutos, essa árvore de fogo floresceu em grupos, idéias, espetáculos.

É importante lembrarmos que um boneco cria vida com o movimento da respiração. A FESTA-FECTA tratava disso: uma oportunidade para ganhar novo fôlego, um estímulo a que se invente e se reinvente as coisas, as propostas... Um espaço de laboratório e descoberta. Se lembrarmos de outras cidades que não têm festivais assim podemos ver como eles fazem falta, por vezes criando um buraco de letargia em muitas dessas cidades pelo Brasil e pelo mundo. A ausência de um festival que conclama à ação valoriza o letárgico do sono em oposição ao fogo do movimento e da vida. O Teatro, Arte, são feitos de riscos: é arriscando a se riscar que o novo surge... Quem fica em casa com medo não faz as coisas acontecerem, não move energia do mundo, e o mundo precisa de gente corajosa. A Cia. Acontece estimulou a coragem de várias pessoas, conclamou todas elas e os frutos dessa árvore-fogueira


continuam em grupos, em memória e

movimento.

aprendizado, em experiência e ação

Não poderia deixar de celebrar o

tão importantes para a cidade de

FECTA sem comentar de uma atriz que

Fortaleza.

eu conheci no seu palco apanhando de

Eu tive a felicidade de poder contribuir

um buquê de flores... Lembro da

como jurado nessa fogueira, que eu

minha primeira impressão sobre as

espero ter ajudado as pessoas a se

propostas estética desse trabalho e da

mexerem ainda mais e a se rebuliça-

qualidade dessa atriz... Seu nome era

rem assim como as propostas que me

Wladia... No decorrer dos FECTAs

mostraram, que rebolaram e rebuliça-

fomos nos aproximando e consegui o

vam na minha frente, tais propostas

imenso privilégio de sua companhia,

me ensinaram, estimularam, inspira-

idéias e deboches, nos nossos rápidos

ram. As experiências foram incríveis,

encontros em sua breve – porém

os movimentos foram fascinantes e

luminosa como um dragão na escuri-

estamos agora plenos de ação nas

dão – passagem pela terra, e isso

nossas memórias que se transforma-

jamais teria ocorrido sem o FECTA. Aos

ram, transmutaram em reflexões e

corajosos da Cia. Acontece, muito

novas ações, arriscando riscos, enfim,

obrigado.


DOCCENA/2021

ARTIGO

REBEKA LÚCIO


50 Resumo O presente artigo coleciona palavras que partilham reminiscências costuradas por um Festival de Esquetes que acontece na cidade de Fortaleza-Ceará. Tendo

FECTA-MEMÓRIA, AFETO E DIVERSIDADE EM CENA Autora: Rebeka Lúcio e Neves 1

como objeto de observação o FECTA - Festival de

1. DE ACONTECIMENTO EM ACONTECIMENTO

Esquetes da Companhia Teatral Acontece, este trabalho tem como metodologia um resgate pessoal, que reflete sobre cartografias sensíveis que tecem memórias individuais e coletivas, de modo a destacar a importância de espaços de formação e de experimentação a jovens artistas. Palavras-chave FECTA. Esquete. Memória. Afeto. Diversidade

O FECTA é um festival de esquetes realizado pela Cia. Teatral Acontece, fundada há quase duas décadas em Fortaleza-Ceará, lugar em que está sediada. Enquanto a companhia de teatro completa dezenove anos em 2021, o festival alça a XV edição, desta vez, com o apoio da Secretaria de Cultura - Secult Ceará, por meio da Lei Aldir Blanc. A Companhia, coordenada pelo artista Almeida Júnior, ganhou notoriedade na cidade ao oferecer cursos de iniciação teatral, convidando amadores a se apaixonarem pelos palcos ou a desenvolver habilidades,como a oratória e uma melhor desenvoltura gestual, tendo a desinibição necessária a apresentações no trabalho, na faculdade ou na vida, de um modo geral. Tendo em vista principalmente o desenvolvimento humano, o teatro era usado como ferra-

menta por diferentes profissionais, sejam contadores, administradores, educadores, que procuravam o curso voltado a não-atores, que, algumas vezes, decidiram engendrar um caminho mais profissional,

1

Mestre em Artes, formada em Artes Cênicas pelo Instituto Federal do Ceará e em Letras pela Universida-

de Estadual do Ceará. Atriz-pesquisadora, contadora de histórias e produtora cultural. rebeka.lucio@yahoo.com.br


51 estudos,

significou

participando de novos grupos e indo

Cearense.

além do amadorismo, ao buscar uma

Juntamente com o FESFORT-Festival

carreira. Por um tempo, inclusive, a

de Esquetes de Fortaleza, o Festival

discussão do que seria arte amadora

de Esquetes Bilu, Bila & Cia e o Festival

ou profissional permeou as pautas da

de Esquetes Bilunga de Teatro, o

cidade e do grupo.

FECTA marcou mais de uma geração

O fato é que o caminho ao profissiona-

de atores e colaborou com o desen-

lismo constrói-se com percurso, com

volvimento da arte teatral do Ceará.

caminhada, com história e aprendiza-

Com uma programação recheada de

dos. Para aprender é preciso experi-

atrações, o festival firmou presença na

mentar. Logo, às artes cênicas é muito

agenda cultural da cidade, revelando

valoroso possibilitar espaços de troca

talentos

e

os

Certamente, a Cia Teatral Acontece

festivais que democratizam a cena.

trouxe a Fortaleza um acontecimento,

Democratizar, aliás, é uma palavra-

que marca os palcos e a vida de muita

-chave que espelha o que o FECTA

gente.

dando

de

continuidade

aos

experimentação

como

na

e

História

costurando

do

Teatro

encontros.

2. DEBUTANTE Em 2021, o FECTA completa quinze edições. É um debutante, que sopra quinze velas, tal como a moça que se mostrava em seu baile à sociedade nas festas de antigamente. Nesta efeméride, todavia, ao contrário das aniversariantes que se apresentavam oficialmente à Comunidade em uma cerimônia repleta de rituais somente nessa nova idade; o FECTA há mais de uma década atravessa caminhos, costura e escreve histórias, o que faz com que ele já seja bem conhecido. Integrando formações, Cortejo, Mostra Paralela e Mostra Oficial, o festival ocupou diversos espaços culturais fortalezenses e se firmou, principalmente, por causa de parcerias e de perseverança. Nessa travessia, alça mais um rito de passagem, mais uma data especial. Como entoa o dito popular "quinze anos não são quinze dias" e, certa-


52 mente, muitos percalços apareceram ao longo do caminho. Se esta edição é apoiada pela lei Aldir Blanc,por exemplo, o que garante um recurso financeiro neste ano, permitindo uma melhor logística orçamentária; tiveram edições em que o recurso atrasou ou nem ao menos chegou. Por esse viés, é preciso perceber e valorizar a fibra dos organizadores de eventos culturais. O FECTA tem, portanto, valor imaterial na cena cearense, pois abriu as cortinas à imaginação, gerando ricos encontros e generosos debates. Vale ressaltar que o vocábulo "debutante" deriva do afrancesado "débutante" que denota ,"iniciante" ou "estreante". Palavra casadoira com a proposta deste festival que, ao longo de quinze edições, propiciou a estreia de aspirantes da cena, que, por vezes, tinham a oportunidade de se apresentar pela primeira vez formalmente em algum palco da cidade. Além disso, o festival possibilita a experimentação de cenas, embriões que se iniciavam como esquete e, posteriormente, até se prolongaram em espetáculos mais compridos. Estreando aos olhos atentos do público, escutando críticas construtivas


54 53 do júri técnico, o FECTA foi(e é) uma

presença que pulsa nas batidas de

escola experimental que possibilita

Molière, aglomeramos frio na barri-

aprendizados e amadurecimento a

ga, risadas e suspenses. Emociona-

jovens artistas.

mo-nos como artistas e como

Um dos aprendizados do festival,

plateia. Sim, aglomeramos suspen-

por exemplo, é a escuta. Aliás, nos

ses porque a cena seguinte era

profícuos debates que, às vezes,

sempre uma surpresa a quem assis-

estendiam-se além da hora extra

tia. No conglomerado de cenas que

dos técnicos do teatro( para deses-

uma Mostra reúne, não sabíamos se

pero dos organizadores) e passan-

o próximo esquete ia ser bom ou

do

ruim,se seria para rir, para chorar,

do

aflição

horário dos

do

ônibus(para que

etc. Mas, na democracia de um

queriam acompanhar tudo até o

festival popular, também seríamos

fim), aprendemos a importância de

júri, que exerceria juízo de gosto e

não se justificar ou apontar as

pontuaria com nota o que assistiu e

próprias falhas, mas estar aberto ao

preferiu. Eis o Júri Popular, que

olhar do outro, às percepções técni-

também premia a melhor peça ao

cas que a banca compartilhava

gosto do povo - ou da caravana que

sobre cada cena ao final da Mostra

o elenco convidou.

do dia.

Entre ensaios, ajustes, reuniões,

Teatro é, pois, uma arte viva, que se

camarins e debates, compartilha-

completa

a

mos caminhos e afetos. Se o festi-

plateia, o que altera o ritmo da peça

val amadurece nessa nova idade,

e ecoa sensações. Em tempos de

nós, atuantes da cidade,que nos

teatro ao vivo e a cores, antes da

permitimos

pandemia que evita o encontro e a

mesmos como artistas, coleciona-

no

espectadores

encontro

com

experimentar

a

si

mos memórias.

3. COLEÇÃO DE MEMÓRIAS “Memória, Afeto e Diversidade em cena" é o tema que celebra a décima quinta edição do FECTA. Neste compêndio afetivo que aglomera lembranças, memória seria a faculdade de lembrar, reter ideias, sensações e impressões. É o arma-


54 zenamento de experiências vividas

também me permiti transgredir o que

ou ouvidas, uma coleção de informa-

seria considerado acerto. Eis o lugar

ções.

da experimentação e a fortaleza dos

Experiências

2

cênicas

e

vivências

espaços que se abrem ao inventivo.

criativas costuram a trajetória do

Criar é estar aberto ao caleidoscópico

festival que se abre ao lúdico, mas

imaginativo; participar de um festival

também ao caos. "Caosar" é,pois,

é "aprender a aprender"2 .

uma das etapas da criação que, em

Das memórias que coleciono do

um festival experimental, também

FECTA, lembro de mim e de outros

abre as cortinas ao erro. Aliás, o que

artistas coloridos pelo Centro da

seria o erro ou o acerto na arte? Para

cidade, cantando pelas ruas ao Sol

além das noções de Belo ou prazer,

que alumiava o dia, bronzeava a pele

o fazer artístico passeia além de uma

e iluminava caminhos; rememoro

funcionalidade e pode despertar

também de carregar cenários e

múltiplas sensações.

adereços em longos trajetos de

É fato que, se tratando de um festi-

ônibus para a apresentação em um

val competitivo, o artista está sujeito

tempo que táxi já era caro e que Uber

a críticas e a julgamentos. Mas,

ainda nem existia; para além da cena,

sendo um espaço que propõe o

tenho recordação dos longos deba-

experimento e se abre à diversidade,

tes, dos bons encontros, dos primo-

também foi um lugar permissivo a

rosos aprendizados e dos Quizz que

múltiplos caminhos, que vão além de

valiam brindes.

uma cena limpa, cíclica, apolínea.

Indubitavelmente, uma das edições

Afinal, o teatro evoca Dionísio.

mais marcantes foi a de 2012, que

Nesse armazenamento de experiên-

tinha como tema "Teatro além da

cias vividas, ao longo de algumas

cena." Nesta edição especial, aconte-

edições,

como

ceu um concurso que anunciava uma

atriz, diretora, autora: intérprete-

Febre Roxa, que infectava a cidade.

-criadora. Ganhei prêmio, fui indica-

Eram 40° de FECTA e o festival realiza-

da em uma ou outra categoria, mas

va um concurso de frases que levaria

experimentei-me

Lema utilizado pelo autor, pesquisador e diretor de teatro italiano Eugênio Barba, que fundou o Odin Teatret e criou

o conceito da Antropologia Teatral.


56

o ganhador e um acompanhante a Porto Alegre para assistir o Cirque Du Soleil. Há poucos meses, o famoso circo internacional esteve em Fortaleza e, coincidentemente, ficou situado no mesmo bairro em que eu morava na época, contudo, o ingresso de valor exorbitante a uma estudante não me permitiu assistir ao aclamado espetáculo. No concurso promovido pelo festival, a minha frase foi a premiada e eu tive a oportunidade de viajar com direito a passagem aérea, a hotel, a ingressos e a ajuda de custo para o Rio Grande do Sul, tendo essa experiência inesquecível. O FECTA é uma memória que cultivo com afeto na minha coleção de aprendizados. Referencial bibliográfico BARBA, Eugênio. A Canoa de Papel: tratado de antropologia teatral. Brasília: Teatro Caleidoscópio, 2009. Blog da Cia Teatral Acontece. Disponível em: http://ciateatralacontece.blogspot.com/ Acesso em: 22 de fevereiro de 2021. DANTAS, Gabriela Cabral da Silva. Memória; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/psicologia/memoria-1.htm. Acesso em 23 de fevereiro de 2021. Dicionário online de português. Disponível em: https://www.dicio.com.br/debutante/. Acesso em 22 de fevereiro de 2021.


DOCCENA/2021

ARTIGO

ARAGÃO ROBINSON DIRETOR - CIA VIV’ARTE



58

RECORDAR É VIVER, Autor: Aragão Robinson – Diretor – Cia Viv’arte

FECTA - 2005

troféu artesanal foi a Diretora da Cia Palmas Produções Artísticas, Francini-

Nossa primeira apresentação em um

ce Campos. Um outro momento mara-

festival de teatro aconteceu ainda

vilhoso que quem aqui lendo partici-

com o grupo muito verde ali era o

pou vai lembrar eram os momentos

início do nosso trabalho com o grupo

das premiações, sempre regado de um

nesse momento ainda amador, vimos

bom e fino baile com direito a trajes de

por meio de cartaz, sim cartaz aquela

gala e conforme o público se sentisse

época precisávamos nos deslocar até

a vontade, pois esse sempre foi uma

o Centro de Fortaleza para poder

das premissas do FECTA o trabalho da

acompanhar o que estava acontecen-

compreensão do ser como um ser

do na comunidade artística e no

social, com suas classes, gêneros,

Teatro Morro do Ouro Anexo do

guetos e grupos de interesses em

Teatro José de Alencar, vimos fixado o

comum respeitando assim as diversas

cartaz de chamamento aos Grupos de

diversidades mesmo antes desse tema

Teatro a se escreverem nesse ainda

está em tanta evidência quanto hoje.

tímido festival não lembro se já era

O FECTA, foi para muitos uma escola,

FECTA mas até hoje tenho saudosas

faculdade, pós... sim quantas oficinas

lembranças com essa sigla: FESTIVAL

não forma ministradas, quanta troca,

DE ESQUETES DA CIA TEATRAL ACON-

quantos intercâmbios o FECTA foi e

TECE, nossa primeira apresentação foi

continua sendo essa potencializador

com o Esquete: ESTIGMA fomos

de vozes. E é por isso que nossas

avaliados por diretores e diretoras de

lembranças sempre serão as mais

teatro de Fortaleza e para nós esse foi

afetuosas de gratidão e desejo de vida

o momento mais rico, com esse esque-

longa ao FECTA que resiste e revive no

te fomos contemplados com o GRUPO

coração, na memória e no amor de

REVELAÇÃO e quem nos entregou o

muitos


59 Umas das nossas participações pelo festival; • TEATRO JOSÉ DE ALENCAR (III – FECTA FESTIVAL DE ESQUETS CIA TEATRAL ACONTECE,GRUPO: REVELAÇÃO/ INDICADA MELHOR ATRIZ: PATRÍCIA ROCHA - 2006) • TEATRO JOSÉ DE ALENCAR (MELHOR ESQUETE JÚRI POPULAR • IV FECTA - 2007 • SESC – EMILIANO QUEIROZ (MELHOR ESQUETE JÚRI POPULAR • V FECTA - 2008 • O LUTO DOS MOURAS (REMONTAGEM) – 2009 • VI – FECTA / CENTRO DE ARTE E CULTURA DRAGÃO DO MAR • O PUNHAL DE PRATA (VALSA N.º 6) -. CENTRO CULTURAL BOM JARDIM VI – FECTA - 2010 • PALAVRAS NEGRAS • VII – FECTA - 2011 (FESTIVAL DE ESQUETES CIA TEATRAL ACONTECE) • MR. IO • VIII – FECTA - 2012 (FESTIVAL DE ESQUETES CIA TEATRAL ACONTECE) • DOIS XI – FECTA - 2015 - FESTIVAL DE ESQUETES CIA TEATRAL ACONTECE (INDICAÇÃO: MELHOR ILUMINAÇÃO)

IV - FECTA / 2007 - JÚRI POPULAR Uma sátira a um dos grandes sucessos de bilheteria Matrix, MATRIX THE INROLAXION trata de uma aventura não contada sobre o escolhido NEO, onde mais uma vez irá confrontar-se com o seu arque inimigo e rival o agente Smith, pior que isso ele terá de confrontar o seu próprio EU, e provar para todos o que ele realmente se tornou, um homem de verdade. Com várias cenas hilariantes e empolgantes de efeito e especial. MATRIX THE INROLAXION vai mostrar para vocês uma nova forma de ver a realidade dos heróis masculinos.


60

Ficha Técnica: Texto: Diego Vladimir e Patrick Castro Direção: Diego Vladimir & Robinson Aragão Apoio: Robinson Aragão Sonoplastia: Glaumir Feitosa Iluminação: Robinson Aragão Figurinos: Diego Vladimir e Ulisses Gomes

Elenco: Neo: Patrick Castro Smith: Diego Vladimir Trinity: Patrícia Rocha Morfeus: Rafael Oliveira Efeito: Ulisses Gomes Especial: Mário Batista Oráculo: Juliana Sabino

RESULTADO V - FECTA - 2008 SELECIONADOS V FECTA Ontem a curadoria do V FECTA se reunião na CACA para a seletiva dos esquetes que irão participar da Mostra Competitiva, os esquetes que não estão nesta lista se quiserem poderão participar da Mostra Paralela que acontece no

mesmo período de 14:30 às 18:30 no SESC pela Clarindo de Queiroz, ainda hoje a comissão organizadora do FECTA 2008 estará ligando para todos os esquetes que não ficaram na competitiva para saber o interesse do Grupo em participar ou não. A curadoria do FECTA 2008 foi formada por EURICO BIVAR (DRAMATURGO, ARTE EDUCADOR) TARCIANA CASTELO BRANCO (ATRIZ, ARTE EDUCADORA) WALLACE RIOS (ATOR, TÉCNICO EM ILUMINAÇÃO, ARTE EDUCADOR) E ADRIANA PIMENTEL (ATRIZ). Os critérios de seleção foram:· Conceito originalidade; Concepção e estética de linguagem;· Objetividade da plasticidade visual;· Estrutura da dramaturgia.


61

LISTA DE SELECIONADOS - V FECTA ESQUETE GRUPO CIDADE Café Com Torradas Carruagem AracatiÍmpares Carruagem Aracati Nômades Garajal Maracanaú Canto do Mundo Garajal Maracanaú As Prosopopeias de Casimiro Coco Cia. Camarim de Teatro - Maranguape O Assalto Grupo Pantim Boa Viagem Verborragia Impulsiva Cia. Cultural Boneco de Pano - Santana do Acaraú yyy.Com.vc Grupo Ninho de Teatro - Juazeiro do Norte Os Afogados Grupo Expressões - Fortaleza Uma Rapadura, 3 atores e Uma His.. Sem Nome - Fortaleza Escarcéu em Mundaréu Cia. Sonhar de Arte Cênicas - Fortaleza Noel Versus Noel Cia. Pessoal do Iglu - Fortaleza A Missa do galo K’Os - Fortaleza Estilhaços Grupo Quimeras de Teatro - Fortaleza O Palco CrisE - Fortaleza O Quarto Cia. Viv’arte - Fortaleza Noite Feliz Grupo Cenas - Fortaleza Uma Lógica Particular Cia. Teatro Com Vida - Fortaleza Preta das Neves Cia. Boca de Cenas Produções - Fortaleza Recém Casados Grupo Cambada- Fortaleza O Enlatado Grupo To Aqui - Fortaleza Clod, Paglia e Seu Duplo Brucutus Cia. De Teatro - Fortaleza Quando As Máquinas Param Obaquar Môtirô - Fortaleza Red Roses Grupo 3X4 - Fortaleza Confissões Entre Paredes Grupo 3X4 - Fortaleza Os Pequenos Legumes Amenhotep - Fortaleza Os Impostores cRisE- Fortaleza Só As Mães São Felizes Grupo Imagens - Fortaleza Nego Grupo Desato - Fortaleza A Rubrica cRisE - Fortaleza Entrevista Grupo Criale – Fortaleza


62 V - FECTA - 2008 Foram 7 noites de espetáculos, 50 esquetes participantes, 4 oficinas, 4 jurados e um público em média de 120 pessoas por noite, a comissão organizadora do V FECTA agradece a todos os grupos que participaram da Mostra Paralela e Competitiva, aos nossos jurados e em especial ao nosso público que é a nossa razão de produzir cultura no Ceará, na oitava noite estivemos encerrando esta grande movimentação cultural na cidade de Fortaleza com a participação de grupos de todo o Estado, com a presença de JOCA ANDRADE que deu nome ao troféu do FECTA, SIDNEY MALVEIRA que apresentou o espetáculo ANÔNIMOS e recebeu o Troféu para o GRUPO TEATRO NOVO que foi homenageado pelo V FECTA, ainda tivemos a presença de ILCLEMAR NUNES que faz parte da História de nosso teatro cearense, (fala Almeida

Júnior)

AINDA

ANUNCIAMOS

O

GRUPO QUE SERÁ HOEMNAGEADO PELO VI FECTA: GRUPO GARAJAL DE MARACANAÚ, OBRIGADO A TODOS E COM A AJUDA DE DEUS E DA COMUNIDADE TEATRAL O VI FECTA VIRÁ A NÍVEL DE NORDESTE, CONFIRAM OS DESTAQUES DE 2008: JURY POPULAR - PARALELA: MATRIX THE INROLAXION- CIA. VIV'ARTE JURY POPULAR- COMPETITIVA: OS IMPOSTORES GRUPO cRise FIGURINO: AS PROSOPOPÉIAS DE CASIMIRO CÔCO (INDICADOS: OS PEQUENOS LEGUMES E NÔMADES) CENÁRIO: AS PROSOPOPÉIAS DE CASIMIRO CÔCO (FORAM INDICADOS: NOEL X NOEL E ESCARCÉU EM MUNDARÉU) MAQUIAGEM: AS PROSOPOPÉIAS DE CASSIMIRO CÔCO (FORAM INDICADOS UMA LÓGICA PARTICULAR E CONFISSÕES ENTRE PAREDES) TEXTO ORIGINAL: UMA LÓGICA PARTICULAR DE FERNANDO LIRA (INDICADO AS PROSOPOPÍEAS DE CDASSIMIRO CÔCO DE ORLÂNGELO LEAL) TEXTO ADAPTADO: RED ROSES POR SILVÉRIO PEREIRA (INDICADOS QUANDO AS MÁQUINAS PARAM POR REBECA LÚCIO E MISSA DO GALO


63 POR THAIS PAZ) ATOR COADJUVANTE: LUIZ CARLOS PEDROSA POR UMA LÓGICA PARTICULAR ( INDICADOS ANDREI BESSA POR RECÉM CASADOS E GIL GIGOFFONE POR CONFISSÕES ENTRE PAREDES) ATRIZ COADJUVANTE: SAMANTA SANFORD POR MISSA DO GALO (INDICADOS NATANA PAULINO POR AS PROSOPOPÍEAS DE CASSIMIRO CÔCO E LARISSA MONTENEGRO POR O PALCO) ATOR: SILVERO PEREIRA POR RED ROSES (INDICADOS ADRIANO ARAÚJO POR AS PROSOPOPÉIAS DE CASSIMIRO CÔCO E HENRIQUE BEZERRA POR OS IMPOSTORES) ATRIZ: CRISTIANE GÓES POR NEGO (INDICADOS SAMANTA SANFORD POR QUANDO AS MÁQUINAS PARAM E ELIANE NASCIMENTO POR OS IMPOSTORES) REVELAÇÃO: ADRIANO ARAÚJO POR AS PROSOPOPÉIAS DDE CASSIMIRO CÔCO (INDICADO HENRIQUE BEZERRA POR OS IMPOSTORES) DIRETOR: DAVISON CALDAS POR AS PROSOPOPÉIAS DE CASSIMIRO CÔCO (INDICADOS SILVERO PEREIRA PRO RED ROSES E REBECA LÚCIO POR QUANDO AS MÁQUINAS PARAM) ESPECIAIS: DEVIDO O PROCESSO DE PESQUISA E INOVAÇÃO FORAM AGRACIADOS COM O PRÊMIO ESPECIAL: O ENLATADO DO GRUPO TÔ AQUI E ROTOETRETENIMENT LIQUIDIFCAZOOM DO GRUPO CAMBADA

3º LUGAR: RED ROSES 2º LUGAR: NEGO 1º LUGAR: AS PROSOPOPÉIAS DE CASSIMIRO PARABÉNS A TODOS OS GRUPOS QUE FIZERAM DO V FECTA UM EVENTO PROMISSOR E ATÉ 2009!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ALMEIDA JR - PRODUTOR Assim foram alguns dos momentos que passamos junto ao FECTA e toda essa galera massa que conhecemos só temos a agradecer e EVOÉ, FECTA.


DOCCENA/2021

ARTIGO

LUCAS MADI ESQUETE VENCEDOR DO JÚRI OFICIAL NO XIV FECTA.


65

Esquete vencedor do Júri oficial no XIV FECTA.

ATÉ OS DIAS ESTÃO CANSADOS Autor: Lucas Madi

1. COMEÇA COM UMA DESPEDIDA Entra no espaço cênico.

“Volta aqui para a gente conversar mais vezes” Foi o único pedido que ela fez para encerrar a conversa que tinha iniciado minutos antes. “Volta aqui para a gente conversar mais vezes” foi o que ela falou, mas o que os ouvidos ouviram foi “não vai embora agora, não, fica aqui mais um pouco, eu de fato estou bem cansada, se a gente conversasse mais um pouquinho talvez o tempo passaria mais depressa”. Ele, balançou a cabeça afirmativamente, garantindo que voltaria lá no futuro e então caminhou para evitar que ela percebesse sua fragilidade em lidar com algumas verdades do mundo. Para ela, uma breve despedida e o retorno a sua realidade. Para ele, a necessidade de fugir de uma realidade que o encontrou. Fugir para ele era o mesmo que evitar ser engolido pela vida. Ambos não sabiam, mas jamais veriam-se outra vez. Atrás de novidades sobre a vida dela, ele retornaria diversas vezes naquele mesmo lugar onde iniciaram aquela rápida conversa. Em nenhuma das vezes ela estaria lá, mas sim outras mulheres e homens realizando o mesmo serviço que ela realizava naquela tarde.


66 2. AQUELE DIA FOI COMO OUTRO

pública e agora bolsista por direito,

QUALQUER

havia dito para a menina que aquele

Começa a montar o cenário.

remédio que ele tomava todos os dias lhe dava inteligência. Ela, muito

Em uma repartição pública, um

inteligente, pediu sua dose.

auxiliar de limpeza se desesperou ao

“O remédio da inteligência” havia

saber da demissão em massa dos

sido o argumento criado pela funcio-

terceirizados, categoria que ele fazia

nária meses antes porque ela não

parte. Conversava com todos na

sabia como dizer ao filho que, para

tentativa de reverter a situação que

evitar que sua bolsa fosse cancelada,

havia sido tomada não se sabe por

ele precisava de um remédio para

quem. Em vão: os servidores públi-

acompanhar a aprendizagem dos

cos, a quem o serviço do auxiliar era

demais alunos da escola. Foi como a

prestado todos os dias a anos, nada

escola orientou o menino ao médico.

faziam. Talvez por não saberem o

Foi o que o médico disse para à

que fazer. Talvez por não terem

funcionária. Foi o que a funcionária

interesse em fazer nada. Não se tem

não soube dizer ao filho. Foi o que o

certeza. A única garantia é que certamente um outro auxiliar viria no lugar do atual para continuar a servir o café, varrer o chão e limpar suas mesas. Afinal, era um direito deles. Em uma escola particular, uma mãe apavorada exigia explicações. Isto porque sua filha havia chegado em casa dizendo ter tomado um remédio para inteligência, cedido por um colega de classe. Este colega era filho de uma funcionária da escola, que tentava convencê-la de que o filho não havia dado o remédio por maldade. O menino, vindo de escola


67 filho contou à garotinha. Foi o que a

estava em pé do lado de dentro do

garotinha tentou explicar à mãe ao

quiosque, onde só é possível vê-la da

chegar em casa. Foi o que a mãe

cintura pra cima, com um boné da

apavorada berrou à escola. Foi o que

rede de fast-food na cabeça. Ali ela

a escola pediu para a funcionária

se torna uma atendente.

explicar. Foi o que novamente pôs

Seguindo o protocolo, ele pede um

em risco a bolsa do menino. Foi o

sorvete descrevendo suas preferên-

que me fez repensar a inteligência da

cias.

menina.

entre guardar a carteira e segurar o

Caminhando sob o sol, nesses inter-

sorvete. Nesse espaço de tempo,

valos entre uma coisa e outra a ser

talvez impulsionada por um cansaço,

feita, um rapaz viu-se em frente a um

a

shopping. É lá dentro que essa histó-

relação que a troca de dinheiro não

ria realmente se passa. Ao entrar no

pôde criar. É nesse espaço de

shopping, seu objetivo é preciso. Ele

tempo, aberto pelo sorvete derre-

anda até um quiosque, posicionado

tendo e a carteira rebelde que se

bem em frente à porta principal do

recusa a sumir das mãos do rapaz

shopping, para e procura algum

que um mundo entre os dois se

dinheiro em sua carteira. Sem perce-

abriu.

Ao

recebê-lo,

mulher

decide

confunde-se

inventar

uma

ber, ele agora é um cliente. A mulher 3. ESTA HISTÓRIA PODERIA SER COM QUALQUER UM Adentra o cenário.

- Tô tão cansada. - Eu também. Ele respondeu num automático assim que conseguiu guardar a carteira. - Caindo de sono. E vou até 23h. - Que horas você entrou? Perguntou por hospitalidade. - 15h. - Caramba. E você vai ficar aqui até 23h? - É. Depois de encerrar a gente tem que limpar, fechar o caixa. Demora um pouco. Respondeu descrevendo suas atividades pós-expediente.


68 - E como você vai embora? - Aqui perto passa um ônibus que me deixa lá. E ainda tô fazendo um curso pela manhã. Daí não tenho tempo pra nada. - E que horas é o curso? - 10h às 13h. Quando saio tenho que ir lá pra casa, fazer a comida dos meus dois meninos, comer e depois vir correndo pra cá. - E dá tempo? - Dá. Hoje eu fui lavar roupa e não deu tempo pra comer. A gente é muito explorado aqui. Ela diz, iniciando um assunto que ele ainda não havia atentado. - E você tá sem comer? Aparentemente sem nenhum problema, ela responde. - Tô. Mas na minha pausa eu como. O curso termina essa semana. Quando eu chego em casa os meninos já estão dormindo. Daí eu tomo banho, como alguma coisa e vou dormir pra começar tudo no outro dia.

- É curso de quê? Ele pergunta tentando se aprofundar. - Padeiro. Mas tava fazendo outro de gastronomia. Eles exploram a gente muito aqui. Esses dias eu tava lendo um livro lá no curso, eu não sou muito de ler, mas quando abri estava dizendo que nós somos mão de obra barata. Você sabe quantos pães dá pra fazer com 1kg de farinha de trigo? Vi isso no curso de padeiro. A gente compra uma saca de 50kg por 10 reais, porque é mais barato e rende mais, e pega o tanto que a gente vai fazer. Vamos supor, 1kg. Dá para fazer mais de 20 pães. E eles vendem cada um a 50 centavos. É por isso que eu tô estudando. Queria sair daqui antes, mas não consegui ainda. Tinha prometido pros meus filhos que ia até o final do ano, antes do Natal, mas não deu. A


69 gente que é mãe sozinha tem que se planejar muito pra conseguir sair. Esses dias eu cheguei em casa e o mais novo estava acordado. Ele disse “mamãe, a senhora ama mais o Bob’s do que eu”. Ele disse isso porque eu passo mais tempo aqui do que com ele. Isso foi muito forte pra mim, sabe? Sabia

sim.

E,

como

ela,

sabia

outras

coisas

assim de

mais.

Tinha a consciência de que

estávamos

no

mesmo barco, vivendo os mesmos conflitos, as mesmas questões que se arrastam há séculos e sem

saber

como

solucioná-las.

Para

minha

sorte,

nesse

momento, um outro cliente chegou

rede de fast-food?

para ser atendido. Virei-me, tomando

O outro cliente foi embora. Ela limpa

o sorvete e tentando prender um

e reorganiza as máquinas do traba-

mar dentro do meu corpo. Eu não

lho e volta a mesma posição que

queria que ela me visse chorar. Não

estava para retomar a conversa.

queria que ela visse alguém chorar

Como se eu também fosse uma

por ouvir um breve relato do seu dia,

máquina, dou um jeito em meu rosto

da sua vida. Como normalizar isso?

e viro de novo para continuar a

Como tratar essa história como algo

conversa. Ao revê-la, uma contradi-

normal?

ção salta no ar.

Agora em minha frente estava um

- Você gosta do sorvete daqui?

segurança que me encarava. As

Com um sorriso no rosto, responde

mãos na cintura, ele me observava

que adora. Sua resposta é certeira e

como se eu tivesse fugindo de um

termina de cortar minha carne.

comportamento esperado. Será que

Penso em ir embora. Talvez por

lia

vergonha de mim mesmo. Mas antes,

meu

pensamento?

Será

que

naquele momento eu representava

me vem outra contradição.

algum risco a ele, ao shopping ou à

- O mais chato é você não poder levar


70 um sorvete desse pra eles, né? Não era por conta do valor do sorvete que os filhos não tinham direito ao que a mãe produzia. Era pelo sorvete ser um alimento que não duraria a viagem que ela teria que fazer até chegar em sua casa no final da noite. Ainda me olhando nos olhos com aquele sorriso no rosto ela balança a cabeça e diz “é”. Sai do cenário.

4. Quantas estradas um homem precisará andar Até que possam chamá-lo de homem? E quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar Até que ela possa dormir na areia? E quantas balas de canhão precisarão voar Até serem para sempre banidas? A resposta, meu amigo, está soprando no vento A resposta está soprando no vento Quantos anos uma montanha pode existir Antes que ela seja dissolvida pelo mar? E quantos anos algumas pessoas podem existir Até que finalmente as permitam de ser livres? E quantas vezes um homem pode virar sua cabeça E fingir que ele simplesmente não vê? A resposta, meu amigo, está soprando no vento A resposta está soprando no vento Quantas vezes um homem precisará olhar para cima Até que ele possa ver o céu? Quantas orelhas um homem precisará ter Até que ele possa ouvir as pessoas chorarem? Quantas mortes ele causará até saber Que pessoas demais morreram? A resposta está soprando no vento A resposta, meus amigos, está soprando ao vento Bob Dylan



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