TGI II Natália Balak

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

A ARQUITETURA E A CIDADE ECLIPSADA PROJETO PARA URBANIZAÇÃO DA FAVELA ZORRILHO

NATÁLIA BALAK PEDROSO ROCHA

TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO II

SÃO CARLOS, NOVEMBRO DE 2015



A CARMEN, AO CELSO A CIDA AO SEBASTIテグ

A PALMINA IN MEMORIAM

AO PEDRO


TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO II

COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO PERMANENTE David M. Sperling Francisco Sales T. Filho Lúcia Z. Shimbo Luciana B. M. Schenk

COORDENADORES DE GRUPO DE TRABALHO Manuel Rodrigues Alves Paulo César Castral


AGRADECIMENTOS

Aos meus professores, por me formarem arquiteta e urbanista. A Eulalia P. Nergrelos, Luciana Schenk, David Sperling, Manuel Rodrigues Alves, Paulo Castral, Cibele Risek, Catherine Otondo, Francisco Sales e Lúcia Shimbo, pelas orientações. A Luciana B. Schenk, a Cibele S. Risek, ao Marcelo Suzuki e a Eulalia P. Negrelos, pelo incrível e inestimável aprendizado ao longo desses cinco anos de curso.

A ONG União Bem Estar, a Comunidade Zorrilho, e a Massumi, pelas interlocuções, pelo apoio e pela solicitude Ao escritório de meu estágio e aos colegas, pelo vasto aprendizado e expansão de horizontes. A Mari, William, Vitinho, Tchu, Gabi, Pri e Lú, pelas imprescindíveis orientações e pelo companheirismo nos primórdios desses tempos de luta. A minha família e aos queridos amigos, pelo fundamental apoio. Aos meus pais e ao Pedro, por tudo.



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APRESENTAÇÕES

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SOBRE A ARQUITETURA

05 A CIDADE

08 OS ESPAÇOS PÚBLICOS

10 A ARQUITETURA

15 A PROPOSTA 17 O RECORTE

20 SOBRE URBANIZAÇÃO DE FAVELAS

23 SOBRE O LUGAR 25 O CONTEXTO

30 OPERAÇÃO URBANA RIO VERDE-JACU 37

A FAVELA

51 O PROJETO 56 PROPOSTA À OPERAÇÃO URBANA 60 O PROJETO 63 REMOÇÕES E RELOCAÇÕES 68 DRENAGEM, ACESSIBILIDADE E COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS 73 ESPAÇO DE JOGO

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ESPAÇO DE VIDA

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ESPAÇO DE CONHECER

87 ESPAÇO COMUM

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CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



APRESENTAÇÕES



A cidade e a sociedade urbana são esferas indissociáveis, onde os movimentos e acontecimentos de uma requalificam e reconfiguram a rota da outra. Essa relação cidade –sociedade urbana é motor primeiro desse trabalho final que lhes será apresentado. Defende-se que a prática da arquitetura deve ter no contexto social, cultural, econômico e político do lugar de projeto e nos anseios e necessidades da sociedade para qual se projeta sua inspiração e fim maiores, criando espaços em potencial a serem apropriados e vivenciados por aqueles que já não são apenas usufruidores do projeto, mas parte constituinte.Iluminado por essa posição, foi desenvolvido o projeto. A construção das cidades contemporâneas configuram estratégias que primam interesses econômicos e viários, deixando a segundo plano demandas e necessidades sociais; essa forma de construir configura uma cidade segregada, setorizando o espaço urbanos em áreas privilegiadas e áreas eclipsadas. Essa setorização configura exclusão social e nega a cidade em sua esfera mais essencial, a esfera da vivência pública, que tem nos espaços públicos sua realização mais profunda, posto que é espaço da vida em sociedade por excelência. Substitui-se as vivências dos espaços da cidade por uma urbanidade vazia, onde espaços públicos são tomados pelo mercado imobiliário e a cidade não convidam à vivência coletiva. Esse trabalho lida com a cidade segregada em um de seus contextos mais explícitos, a favela, onde a segregação sócio espacial se configura em morfologias urbanas, habitações, e vivência distintas, conformando relações outras de vizinhança, de convivência e de vivência do espaço urbano. A favela do Zorrilho, em Itaquera, São Paulo é o grande contexto desse projeto. Assume-se a favela como lugar da cidade e espaço de projeto. Propondo um projeto de urbanização que prima pela construção de espaços públicos que abrem os braços à cidade em um convite para serem usufruídos; assim, dá espaço à vivência pública, configurando espaços em potencial para ampliação do acesso à cidade, permitindo a suspensão das classificações sociais e dos limites territoriais culturalmente estabelecidos em prol de uma vivência coletiva, Busca-se um projeto que tenha em sua essência a vida das pessoas às quais se projeta, pois acredita-se que a arquitetura, como arte construída e de usufruto por excelência, tem nesse nessa essência seu fim e sua maior inspiração. O projeto por vezes pode apresentar-se um tanto utópico, talvez em virtude da busca incessante no desenvolvimento do projeto por forjar um novo presente, passível de apropriação pelos vivenciadores do projeto e à evolução para uma nova realidade.



SOBRE A ARQUITETURA



SOBRE A ARQUITETURA

A cidade e a vida da sociedade urbana são corpos que coreografam juntos. Estabelecendo intrínsecas e complexas relações de causa e efeito, nas quais as dinâmicas e as configurações de um refletem e influem os movimentos do outro. Essas interrelações e influências diretas entre a vida da sociedade urbana e a cidade configuram o eixo principal em torno do qual se desenvolve a espiral que configura este trabalho de conclusão.

A CIDADE Entende-se que a construção das cidades¹ contemporâneas é pautada primordialmente por interesses políticos e econômicos, principalmente no que se refere ao mercado imobiliário e à consequente mercantilização dos espaços (ROLNIK, 2015), em detrimento do desenvolvimento e das necessidades sociais (CARLOS, 2013, p.02). Guiada por esses interesses, essa construção territorial e infraestrutural tem como consequência um planejamento estratégico gerador de uma cidade segregada, que a redesenha e requalifica realocando direta ou indiretamente usos e pessoas; resultando em partes da cidade, muitas vezes densamente habitadas, com insuficiência de equipamentos culturais e de lazer, de infraestrutura, oferta de emprego, transporte público, equipamentos de saúde e de educação para atender à demanda da população desses espaços.

¹ A construção das cidades é entendida como o planejamento estratégico, por parte dos órgãos competentes e por parte do mercado imobiliário, das áreas existentes e áreas de expansão de uma cidade.

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SOBRE A ARQUITETURA

Essas partes do território urbano denunciam o que há de mais essencial nesse processo de construção segregada das cidades, a exclusão sócio territorial da população de menor renda. Territorialmente, identificam-se os setores da cidade onde há predominância de uma população com maior e menor poder aquisitivo e a desproporção consequente do desenvolvimento urbano nesses setores, que vem atrelado a investimentos públicos e que influenciam diretamente na qualidade de vida da sociedade urbana.

A segregação sócio territorial das cidades configura zonas valorizadas, por vezes espetacularizadas, alvo de propaganda política e comercial, e zonas eclipsada, partes da cidade negligenciadas² pelos investimentos públicos que não suprem a demanda social por equipamentos educacionais, de saúde, cultura e lazer e por infraestrutura; essa valorização ou negligência dá valor à terra e aos usos, tornando as partes de maior investimento e importância para o mercado e política áreas de altos preços, restando àqueles que não podem consumi-las, as partes eclipsadas.

Além dessa segregação do território da cidade em regiões macro, que geralmente configuram áreas nobres e periferias, ou centralidades com predominância de uma determinada parcela da sociedade de maior, médio ou menor poder aquisitivo, essa segregação também se configura em muros de divisa, onde partes valorizadas compartem a mesma região da cidade com partes eclipsadas, por vezes literalmente lado a lado, e pelo contraste denunciam as questões anteriormente anunciadas. Contraste que se configura em função do poder aquisitivo, do acúmulo de bens de seus ² essa negligência não se refere à ausência de investimentos por parte dos órgãos públicos competentes, mas à insuficiência destes para suprir a demanda social, seja por outras prioridades, desinteresse ou por estratégia de planejamento urbano e de mercado.


SOBRE A ARQUITETURA

moradores, e também pela morfologia urbana e tipologia habitacional.

A proximidade física dessas partes não representa inserção social ou urbana da população de menor poder aquisitivo, não apenas em virtude da organização viária e de transporte (MEYER, 2005), mas pela construção de estigmas e preconceitos advindos de ambos os lados, e por fatos reais como a violência, em espaços marginalizados por um lado, e de outro a apropriação de espaços públicos pelo complexo imobiliário coordenada por ações do Estado (ROLNIK, 2015 ).

A construção segregada configura a negação de uma das esferas mais essenciais da cidade, a esfera da vivência pública, que abarca as trocas sociais, o convívio entre pessoas diferentes, as relações sociais e econômicas; uma vivência que é motor da cidade, que configura sua época e redige sua história (CARLOS, 2013, p.7). Para isso pressupõe o direito à cidade (ROLNIK, 2015), aos seus espaços, tempo e acontecimentos independente do poder aquisitivo, inclusive tendo nas relações entre pessoas diferentes seu maior potencial configurando uma inserção social na cidade, onde suspende-se as rotulações de classe socialmente impostas e conforma-se uma sociedade urbana e consequente vida em sociedade únicas, não setorizadas.

Negligenciar essa esfera em prol de interesses políticos e econômicos cria uma urbanidade³ insípida, que busca o ³ Considera-se urbanidade a materialização das relações entre a cidade e a sociedade urbana, sendo assim o modo, físico e sentimental, como essa sociedade se apropria dos espaços da cidade (Aguiar, 2012).

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SOBRE A ARQUITETURA

desenvolvimento da sociedade “enquanto reprodução continuada do capital e do poder político” (FANI, 2015, p.15) e empobrece a vida da sociedade urbana a medida que a vivência pública é sublimada em pequenos círculos sociais restritos, aos quais Meyer (2005) definiu como “uma vida simplificada e infantilizada no próprio gueto, salvo por alguns eventos públicos de grande porte”. Uma vida que se desenvolve em um espaço tempo pautado “por uma lógica de reprodução política econômica” (CARLOS, 2013 p.15).

A segregação sócio espacial possui várias ramificações e influencia em diversas esferas da cidade e da vida da sociedade urbana, porém interessa a esse trabalho a discussão no que tange à exclusão sócio territorial das classes de menor renda, as dificuldades infraestruturais e à suas implicações na vivência pública.

OS ESPAÇOS PÚBLICOS A esfera pública das cidades desenvolve-se tanto em espaços privados como em espaços públicos (CARLOS, 2013, p.06). Importa aqui tratar dos espaços públicos, pois entende-se que esses espaços da cidade, como lugar da vida em sociedade4 e por ela construídos, são públicos por excelência, espaço de acesso e usufruto de todos em várias

quando se fala todos e de sociedade urbana é por motivos de compreensão e organização do texto, tem-se plena consciência que nem todos indivíduos habitantes da cidade estabelecem essas relações com os demais e com os espaços públicos, e nem todos deste último possui relação sentimental e significativa com a sociedade urbana. 4


SOBRE A ARQUITETURA

escalas, das conversas de praça aos grandes eventos, podendo constituir uma relação de significado com a sociedade urbana, dos hábitos cotidianos até eventos marcante, compondo a história de uma sociedade (grandes públicos ou de alguns ou um habitante), dimensão esta que nem sempre faz parte dos espaços privados.

O espaço público faz parte do habitar coletivo a cidade, que vai além da vida individual e se prolonga para além da casa, tendo o espaço urbano em intimidade e como propriedade da sociedade. É nessa coletividade a qual convida os espaços públicos e nas possíveis significações e intimidade que podem agregar, que reside o plano de realização da cidade em sociedade (CARLOS, 2013, p11.), como posto, no encontro, nos diferentes, na troca, e nas possibilidades de relações sociais que vão além do “consumo produtivo dos lugares da cidade” (ROLNIK, 2015).

O território urbano desses espaços também são condenados na construção segregada da cidade, são tomados pelo planejamento e desenvolvimento, tanto fisicamente como pela indução, intencional ou por negligência, ao seu esvaziamento, antes palco das vivências públicas, sociais, mesmo política e econômicas, espaços do exercício da cidadania por excelência, tornam-se espaços que atendem a interesses privados (ROLNIK, 2015)

É necessário reaver esses espaços, permitindo assim territórios na cidade potenciais onde se possa fazer viver a esfera pública das cidades, sobre essa retomada, Rolnik (2015) anuncia “[...]a retomada e apropriação dos espaços públicos como um dos principais movimentos de insurgência e questionamento nas cidades brasileiras contemporâneas.”.

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SOBRE A ARQUITETURA

Reavê-los inclui a criação de novos espaços públicos, espaços com potencial de abrigar as vivências públicas, as trocas sociais, o encontro entre grupos heterogêneos, espaços que podem abrigar o desenvolvimento da história da sociedade urbana em suas escalas, da população da cidade até moradores de uma mesma rua, espaços onde a vida em sociedade tem lugar por excelência na cidade, onde a possibilidade de habitar além dos espaços privados seja notável e dessa forma, contribuir na construção de lugares que configuram uma cidade para todos.

A ARQUITETURA Iluminada pela posição sobre a qual se coloca esse trabalho frente ás questões presentes na cidade contemporânea, respectivamente a crítica à cidade segregada e a defesa dos espaços públicos, defende-se uma posição frente à prática da arquitetura, que conforma o segundo eixo sobre qual se desenvolve a espiral do projeto.

Compreendendo a cidade como reflexo e influência direta na vida da sociedade urbana, conforme enunciado no início desse trabalho, a prática da arquitetura e do urbanismo está estritamente ligado a essa questão tendo em vista que essa arte, por excelência arte construída e usufruível, constrói cidade, pensa e projeta espaços que em menor ou maior escala configuram o urbano, estando, enquanto construtora desse palco da vida pública, relacionada à sociedade urbana independente da escala na qual se desenvolve.


SOBRE A ARQUITETURA

“O papel do “público”, se não passivo pelo menos de mero figurante, deve ir diminuindo, enquanto aumenta o número dos que já não serão chamados atores mas, num sentido novo do termo, vivenciadores” (JACQUES, 2008).

Defende-se que a prática da arquitetura e do urbanismo nos dias de hoje deve ter como base principal a vida da sociedade urbana para a qual se projeta, seus vivenciadores (JACQUES, 2008), e ter como universo as questões da cidade que a influenciam na busca por projetar espaços em potencial onde uma melhor qualidade de vida possa ser construída, talvez seja esse o fim maior dessa arte. Sendo assim, faz-se necessário que a arquitetura seja tecida no contexto social econômico, ambiental, cultural e político e outras instâncias que interessem no dado contexto da época para a qual se projeta e assim buscar uma coerência que permitirá o citado potencial almejado.

Tendo nos vivenciadores da arquitetura a principal base para o desenvolvimento do projeto, importa saber daquela parte da sociedade urbana para quem se projeta o que pretendem do projeto, suas necessidades, o que pensam sobre o mesmo, como se desenvolve o cotidiano daqueles para o qual se projeta. Essa proposta é possível em diferentes escalas conforme as possibilidades de acesso ao lugar de projeto, o que em nenhuma instância exclui a importância desse registro ao projetar.

Configura-se assim um levantamento do espaço de projeto que vai além do registro comum à arquitetura, como mapas de uso e de gabarito, para adentrar na atmosfera, nos sutis detalhes, nas essências cotidianas que fazem viver o

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SOBRE A ARQUITETURA

espaço no qual se projeta e para aqueles aos quais se projeta.

Se a arquitetura tem no contexto e nos seus possíveis vivenciadores um de seus principais eixos de desenvolvimento, o usufruto e apropriação do espaço projetado também é fundamental, são eles que configuram em vários espaços públicos a citada ligação sentimental da sociedade com o espaço, cuja existência é uma das principais intenções dessa posição que se defende frente à prática da arquitetura.

Ao assumir vivenciadores e contexto na prática da arquitetura, assume-se o tempo, que carrega o constante fluxo de mudanças característico dessas duas instâncias; o usufruto de um espaço tende a evoluir no tempo junto às constantes transformações da sociedade, que o requalifica e dão novos usos e sentidos. Assim, entende-se a arquitetura (projeto finalizado e construído) como obra inacabada, a ser acabada pelos seus vivenciadores, pelo uso e pela apropriação sentimental e física que terão sobre essa arquitetura, que será sempre reconstruída conforme as necessidades destes, pois essa mutação da arquitetura faz dela parte da vida da sociedade, parte de sua história. Conforme diz Jacques (2003, p.47) “a arquitetura sempre esteve ligada a ideia do durável,[..]. Constatamos que os arquitetos tem uma preocupação prática com o tempo [...] talvez, ainda, uma atração megalômana pelo eterno”. Assim, o que se projeta são espaços em potencial, cujo desenho condiciona a um determinado uso, porém se a exploração desse potencial será conforme pensado e projetado, dependerá daqueles que de fato usufruirão da arquitetura, por maior que seja o alinhamento do projeto com seu programa e intenção de uso específico, estando ainda condicionado aos


SOBRE A ARQUITETURA

usuários e às reconstruções, “[...] até que o homem não entre no edifício, não suba os degraus, não possua o espaço numa “aventura humana” que se desenvolve no tempo, a arquitetura não existe, é frio esquema não humanizado [...]” (OLIVEIRA, 2006, p. 298).

Se é a partir do usufruto, das vivências que a arquitetura toma forma e se realiza enquanto espaço físico e enquanto arte, uma última consideração deve ser feita. Ter como base do projeto a sociedade e o contexto urbano em que se projeta não significa excluir em nenhum momento a função do arquiteto como profissional, o que propõe-se é uma forma de projetar, de fazer arquitetura.

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A PROPOSTA



A PROPOSTA

O RECORTE

A cidade que chamou-se segregada se materializa, como posto, em espaços periféricos da cidade, em centralidades onde predominam uma população com poder aquisitivo específico e no que chamou-se muros de divisa, que se configura geralmente em bairros limítrofes nos quais o poder aquisitivo da população é discrepante, em condomínios de alta classe em divisa com bairros de classe baixa e em favelas e cidade formal.

O recorte com o qual lida esse trabalho frente ao exposto sobre a cidade segregada, se dá nos muros de divisa, tendo a favela como campo de estudo e espaço de projeto. As favelas se colocam na cidade como áreas visualmente discrepantes de seu entorno, não apenas pela renda de seus moradores, mas pela morfologia urbana que apresenta e pelas edificações que a conformam, geralmente constituindo manchas urbanas muito bem delimitadas na cidade.

Cidade informal, rotulação auferida pelas favelas, constitui-se na construção de parte da cidade de forma não ordenada pelos órgãos públicos competentes, conformando uma morfologia urbana não planejada, ocupando áreas de forma ilegal com construções á margem dos parâmetros legais, com ligações clandestinas de água, luz, e gás e pela ausência de infraestrutura urbana tendo em vista a ocupação ilegal da área.

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A PROPOSTA

As favelas são parte da cidade fora das leis que a regem, concentrando parte de sua sociedade, cujas condições de moradias e apropriação do território urbano explicita a falta de recursos dessa população resultando em condições de vida bastante precárias.

Por ser então cidade informal, os serviços da cidade formal não cabem às favelas, ou por negligência do poder público ou impossibilidade de acesso, que por sua forma de construção resulta em uma morfologia absolutamente labiríntica e em habitações que não seguem uma lógica passível de numeração e cadastro como formalmente se constitui, em terrenos que grande parte das vezes são bastante íngremes ou possuem corpos de água, portanto impróprios ao loteamento formal e desvalorizados, configurando áreas de risco¹. Assim, serviços de coleta de lixo, correios e mesmo de cadastro de pessoas não é possível, o que agrava a exclusão social já culturalmente construída sobre essas partes da cidade.

As favelas são corpos efêmeros, espaços mutantes que não cessam de crescer e se transformar, não sendo fixas como as cidades formais (JACQUES, 2003, p.107), possuem uma frequência de transformação da paisagem muito mais recorrente que a cidade formal, adentrá-la sem ser guiado é quase impossível, os caminhos possuem a lógica que foi conveniente a cada tempo, casas são construídas em cima de casa, onde não se sabe ao adentrar uma porta, quantas mais se abrirão para só então chegar às moradias, que não são necessariamente unifamiliares, tanto menos ¹ Áreas de encostas e margens de córrego sujeitas a escorregamentos e a processos de erosão.


A PROPOSTA

comportam com qualidade seus moradores, tendo em vista o grande adensamento que na maioria das habitações não permite ventilação ou insolações adequadas, sendo comum o esgoto a céu aberto e a precariedade das construções. Essa parte da cidade é construída da forma que seus moradores têm condições de elaborar conforme a disponibilidade de materiais e da possibilidade de adquiri-los. Essa realidade não configura necessariamente uma escolha, mas a alternativa possível.

Independente da precariedade da estrutura urbana que se coloca nas favelas, a vida flui em suas moradias, nos becos e nas vielas, as pessoas moram e vivem nesses espaços, fazendo dele espaço cotidiano de vivência, de trocas, e inclusive de uma esfera cultural e de manifestações culturais própria que várias favelas possuem, como disse Clarival Vallares, por ocasião da morte de Hélio Oiticica, artista que trabalhou vastamente com a estética das favelas, (JACQUES, 2003, p.35) as favelas também criam artes, mesmo com recursos muita vezes escassos esses lugares vivenciam artes, essa dimensão se reafirma pelas vezes em que a favela foi tema de renomados artistas. A união entre os moradores e o senso de comunidade é caraterístico de muitas favelas, que a partir da ciência da segregação sócio espacial a qual estão submetidos e das consequências que essa segregação aufere, unem-se em uma luta interminável por melhores condições de moradias e de acesso á cidade e pela intenção comum de fazer-se notar pelo poder público e frente à sociedade urbana, do qual fazem parte.

O comércio ilegal, principalmente relacionado ao tráfico de drogas é outra dimensão da ilegalidade que é comum ins-

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A PROPOSTA

talar-se no interior das favelas, tendo em vista principalmente sua conformação labiríntica que dificulta o acesso ao seu interior. Essa é uma das dimensões, acredita-se, bastante delicada dessa parte de cidade, onde a vida dos moradores acontece junto a esse comércio ilegal como que em um acordo silencioso de não interferência por ambas as partes. Consequências violentas advêm desse comércio e configuram guerras ininterruptas entre aqueles que fazem parte da máquina do tráfico de drogas e policiais, e dentro da própria máquina, entre grupos rivais. Isso importa a esse trabalho a medida que o medo constante e as consequências dessa violência fazem parte da vida dos demais moradores da favela.

As favelas são parte da cidade, informal, porém constituintes, são espaços que abrigam parte da sociedade urbana e da vida desta, cujas condições peculiares e ambiências características ao território, distintas da cidade formal, foram determinantes para escolha da favelas como espaço de projeto, na intenção de explorar como a arquitetura pode lidar com essa parte da cidade segregada, assumindo-a como componente da cidade e como espaço de projeto.

SOBRE URBANIZAÇÃO DE FAVELAS Apesar de não ser a única estratégia contemporânea utilizada para lidar com esses espaços precários, a urbanização de favelas faz parte dos programas habitacionais em andamento na Cidade de São Paulo, que vem recebendo


A PROPOSTA

crescente relevância pelas iniciativas públicas, culminando em ações como o concurso Renova SP (2011).

Acredita-se que a remoção total da favela não é a melhor solução a esses espaços urbanos. Apesar da maioria das vezes constituírem áreas de risco com habitações precárias e em grande parte insalubres, a urbanidade constituída nas favelas não deve ser ignorada, a relação entre os moradores e o território, a vizinhança e a dinâmica própria desses espaços, que inclui a luta constante por permanência, deve ser considerada. Além dessa dimensão, a população das favelas é caracterizada por possuir baixo poder aquisitivo, dessa forma, assumir a remoção e realocação dos moradores da favela em conjuntos habitacionais significa adicionar ao orçamento dessas pessoas contas de água, luz, gás, parcelas auferidas da aquisição do imóvel, além de eventuais condomínios, o que contribui para o abandono ou venda do novo imóvel e deslocamento para outra favela. Além da questão econômica, as realocações dos moradores para conjuntos habitacionais muito distantes, suspende não apenas toda a urbanidade constituída, mas hábitos cotidianos dos moradores, como o deslocamento ao emprego e a intimidade com uma região da cidade já familiar.

Defender a urbanização das favelas é assumir as particularidades desse território e a necessidade de melhorias para que permitam maior qualidade de vida aos seus moradores, ao mesmo tempo que é estratégico na busca de formalizar esses territórios no contexto da cidade, lidando com várias instâncias do planejamento urbano, como questões de saneamento básico, drenagem, mobilidade, remanejamento, remoção e realocação de moradias além dos desejos e a opinião dos moradores, que tem uma relevância bastante considerável nesse processo a fim de garantir maiores

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A PROPOSTA

chances da urbanização consolidar-se como planejado, tendo em vista que esses territórios são antes das necessidades e intenções de seus moradores do que de qualquer planejamento. A urbanização de favela tem como essência a preocupação dos órgãos públicos com esses territórios eclipsados e com sua população, e como consequência afirma a presença da favela na cidade a partir de melhorias urbanas, em essência de habitabilidade, ampliando assim o acesso á cidade, trazendo consigo o potencial de uma diminuição da distância social entre os moradores da favela e os moradores da cidade formal, configurando o que pode ser chamado de reinserção social (mútua).

Acredita-se que a ampliação ao acesso à cidade, agregada pela urbanização da favela, pode beneficiar não apenas aos moradores da favela, mas também aos moradores de sua região. Posto o discutido sobre os espaços públicos e seu potencial em dar lugar ás relações sociais e á relação cidade-sociedade, inseri-los como parte da urbanização da favela, de forma que sua localização e programa convide ao usufruto também dos moradores da região, estende a possibilidade de inserção social potencializada pela urbanização. Assim, faz uso da urbanização para agregar melhorias para região que vão além de melhorias infra estruturais. Ao mesmo tempo, estende a qualificação dos espaços de vivência da favela para a qualificação dos espaços de convívio da cidade, entendida não mais favela-cidade, mas um só corpo, cidade. e da mesma forma potencializa a suspensão da segregação social colocada, em prol da comentada essência da cidade: a esfera pública e dos espaços públicos de convivência em busca de uma cidade para todos.



SOBRE O LUGAR



SOBRE O LUGAR

A favela Zorrilho é o espaço e contexto de projeto desse trabalho. Localizada em Itaquera, Zona Leste de São Paulo, a favela está inserida na Operação Urbana Rio Verde Jacu, vigente desde 2004 (NEGRELOS, 2005). Sua localização em uma área valorizada da região é exemplo da segregação resultante da forma de construir cidade, conforme já discutido, na qual áreas de grandes investimentos e planejamento públicos e privados fazem divisa com áreas onde esses investimentos são escassos e as necessidades sociais explícitas. Além disso, a localização da favela coloca em discussão a forma como as políticas públicas lidam com esses espaços eclipsados, tendo em vista a proposta de remoção de todas as favelas existentes no perímetro de abrangência da Operação Urbana, sem um plano concreto de relocação.

A Zona leste conforma hoje uma das centralidades da cidade de São Paulo, a inauguração da estação de trem em 1875 lança as primeiras bases para um desenvolvimento urbano mais vigoroso dessa área, a princípio periférica e rural, permitindo o fluxo de pessoas e mercadorias até os principais centros de São Paulo (D’ANDREA, 2012). A disponibilidade de terrenos baratos unida à facilidade de acesso às áreas centrais de São Paulo, começa a atrair, no século XX, grande quantidade de trabalhadores da crescente industrialização paulistanas e de imigrantes, principalmente nordestinos, a essa região (D’ANDREA, 2012). Ainda em 1970, Itaquera se configurava como “um bairro periférico marcado pela carência por infra-estrutura e equipamentos de educação, saúde e lazer (D’ANDREA, 2012).

CONTEXTO

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SOBRE O LUGAR

Nessa época, se iniciam a construção das primeiras favelas da Zona Leste, ocorrendo grande aumento demográfico em virtude da construção massiva dos conjuntos habitacionais pela COHAB e pelo Banco Nacional de Habitação, que buscavam nas regiões periféricas da cidade de São Paulo grandes glebas com preços mais baratos para construção dos conjuntos habitacionais ou, como no caso de Itaquera, complexo habitacional, a princípio voltado às populações de menor renda (ROCHA, 2014). A construção desses conjuntos estava atrelada à provisão de equipamentos a fim de suprir a demanda social gerada pelos novos moradores, porém, nem tudo o que fora previsto foi implantado, não suprindo à demanda da época, ainda que o Complexo de Itaquera estivesse dentre aqueles que mais possuíam equipamentos sociais (ROCHA, 2014), grande parte auferidos pela luta dos moradores por melhorias urbanas (D’Andrea, 2015).

A construção da estação metrô Corinthians-Itaquera em 1988 contribuiu para acessibilidade dos moradores ao centro principal da cidade e às demais regiões de São Paulo, diminuindo sua característica periférica a medida que permitiu um acesso facilitado e de maior qualidade, dando início ás transformações que consolidaram Itaquera como uma centralidade da Zona Leste. Com as obras do metrô, sucederam-se várias obras viárias de grande porte, como a construção da Avenida Jacú Pêssego em 1995 e a retirada da antiga linha de trem, que tangenciava a favela do Zorrilho a sudeste e sua substituição pela Nova Radial Leste (D’ANDREA, 2015). Após aumento da densidade habitacional da região e instalação de infraestrutura urbana em quantidade considerável, mesmo que não suficiente à demanda social, inicia-se um investimento mais efetivo da iniciativa privada voltada à chamada classe média baixa.

Subprefeitura de Itaquera


SOBRE O LUGAR

Atualmente, esses investimentos privados, junto às iniciativas governamentais, primam interesses viários e comerciais que não necessariamente beneficiam a sociedade de Itaquera, contribuindo à comentada segregação sócio espacial entre os centros da metrópole e dentro da própria região de Itaquera.

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SOBRE O LUGAR

Mapa de localização da área de intervenção na cidade de São Paulo e distâncias de transporte público aos pontos de referência na cidade.Fonte: adaptado de Google Earth.


FAVELA ZORRILHO

Perspectiva da região de inserção da favela, ao fundo, Parque Tietê.Fonte: adaptado de Google Earth.


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SOBRE O LUGAR

OPERAÇÃO URBANA RIO VERDE-JACU

A área onde localiza-se a Favela Zorrilho está inserida no perímetro de abrangência da Operação Urbana Rio Verde Jacu, que faz parte das operações urbanas vigentes na grande São Paulo que visam promover melhorias em regiões pré determinadas da cidade através de parcerias entre o Poder Público e a iniciativa privada.

A operação, que teve início em julho de 2004, está articulada ao Programa de Desenvolvimento da Zona Leste, que propõe a mudança da região pelo desenvolvimento econômico e social, em busca de uma melhora geral das condições da população moradora na Zona Leste da cidade de São Paulo.

O objetivo geral da operação é criar condições para atrair investimentos para região leste de São Paulo, visando o desenvolvimento e a geração de empregos na região, incentivando a instalação de atividades industriais e de prestação de serviços, em particular aqueles destinados à capacitação e formação profissional, gerando condições futuras para atrair o interesse do mercado imobiliário (NEGRELOS, 2005).

Conforme a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, dentre as Operações Urbanas vigentes no município, a Rio Verde Jacu apresenta-se como a mais desafiadora, devido a amplitude do perímetro da região de abrangência da operação, que engloba 10 mil hectares (ROCHA, 2011), e pela intenção de unir um plano de desenvolvimento econômico e Mapa de abrangência da operação urbana.

social às propostas de transformações territoriais e estruturais.


SOBRE O LUGAR

FAVELA ZORRILHO

Os principais objetivos a serem alcançados pela operação urbana, segundo a Secretaria Municipal de desenvolvimento Urbano são :

a promoção, a longo prazo, da renovação urbana da região estruturada pelo eixo da Avenida Jacu Pêssego cujo prolongamento foi concluído em 2010, importante ligação viária entre o ABC, o Porto de Santos (Rodoanel) e Guarulhos (Rodovia Ayrton Senna);

incremento da atividade econômica na zona leste, incentivando a capacitação profissional e a geração de empregos

promover a requalificação ambiental (por meio do aumento de parques e áreas verdes na região), a melhoria do sistema de drenagem e o incentivo à construção de habitações de interesse social

Mapa de abrangência da operação urbana. Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SDU)

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SOBRE O LUGAR

O polo institucional Itaquera, que faz parte dos três grandes centros da operação urbana: polo institucional, econômico e industrial, está localizado, como dito anteriormente, imediatamente a sudeste da área da favela, separado desta apenas pela Nova Radial Leste. A área que ocupa, em torno do pátio de manobras do metrô, foi preparado para receber fórum judiciário, terminal rodoviário, Fatec (Faculdade de Tecnologia), projeto já construído, Etec (EscoFavela Zorrilho

la Técnica Estadual); Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial); incubadora e

Polo Institucional

laboratórios do futuro parque tecnológico da zona leste, centro de convenções, batalhão da polícia militar, sede da instituição Dom Bosco; e o parque linear Rio Verde (ROCHA, 2011). Na área também estão localizadas a Arena Polo econômico

Corinthians, o shopping Itaquera, a estação de metrô Corinthians-Itaquera e um Poupatempo. Polos Econômico e Institucional. Fonte: SDU


SOBRE O LUGAR

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A operação urbana engloba mais quatro favelas além da favela Zorrilho, a saber: favela Caititu, da Paz, Três Cocos e Vila Progresso. Em todos os casos a operação propõe a remoção, relocação da população moradora das favelas, todavia não encontrou-se em nenhum material pesquisado o lugar específico onde essa população será realocada. Até o presente momento, a favela da Paz já foi parcialmente removia para dar espaço à construção do parque linear Rio Verde. Apesar da proposta de remoção o Novo Plano Diretor de 2014 estabelece a área da Favela Zorrilho como Zona de Interesse Social 1, na qual há

FAVELA ZORRILHO

interesse em promover a recuperação urbanística, a regularização fundiária, a promoção e manutenção de habitação de interesse social, equipamentos culturais e sociais, espaços públicos, serviços e comércio de caráter local.

Polo Institucional e ralação com a Favela Zorrilho. Fonte: SDU

POLO INSTITUCIONAL


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SOBRE O LUGAR

A proposta da Operação Urbana para área da favela prevê a remoção total da mesma a fim de construir um eixo viário facilitador da ligação entre a Nova Radial Leste com a Avenida Águia de Haia. A posição desse trabalho frente esse plano da Operação Urbana é propor uma alternativa para manutenção da favela sem ignorar a melhoria viária prevista pela operação urbana, tendo em vista a importância dessa ligação no deslocamento norte-sul na cidade de São Paulo. Dessa forma, busca-se atender interesses infraestruturais e sociais. A proposta de projeto também alinha-se aos objetivos da Operação Urbana Rio Verde Jacu no que tange à produção de habitações de interesse social, aumento de áreas verdes e melhorias na drenagmem urbna.

Proposta da O--peração Urbana para Favela Zorrilho. Fonte: SDU


SOBRE O LUGAR

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Imagens da construção do entorno da Arena Corinthians. Fonte: SDU


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SOBRE O LUGAR

Imagens da construção do entorno da Arena Corinthians. Fonte: SDU


SOBRE O LUGAR

A FAVELA A área onde se localiza a favela do Zorrilho é de propriedade da Prefeitura da cidade de São Paulo, que cede dois trechos da mesma à Petrobrás para passagem de oleodutos. O início da ocupação da área onde se localiza a favela começou na década de 80, mesma década da construção da estação de metrô Corinthians-Itaquera. Antes de começar a ser ocupada, a área não tinha uso definido, muito provavelmente pela sua topografia não favorável ao loteamento e por conter em sua área um corpo de água, dessa forma permaneceu como grande terreno vago, limítrofe com a via férrea, hoje retirada. A proximidade da favela ao metrô foi um dos principais atrativos para ocupação da área, tendo em vista a importância do deslocamento das áreas afastadas aos principais centros da metrópole, onde se localizam a maioria das vagas de emprego.

O uso habitacional é predominante na região da favela, seguido por serviços e comércios de pequeno porte e considerável número de instituições educacionais e de saúde. A exceção do Polo Institucional de Itaquera, que configura uma grande ilha na região concentrando quantidade considerável de serviços, comércio e instituições.

A favela possui particularidades sócio-territoriais que a diferenciam das demais áreas da cidade, como a densidade demográfica, bastante alta, discrepante de seu entorno. O uso misto é recorrente, configurando habitações que agregam uso comercial e de serviços.

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SOBRE O LUGAR

Favela Zorrilho

Metrô Itaquera

Mapa de Localização dos Equipamentos Urbanos Púlbicos na região da favela. Fonte: Imagem Adaptada de Google Earth Equipamentos esportivos

Equipamentos de saúde

Escolas

Creches

Shopping Itaquerade (para notação - exceção aos equipamentos públicos) Equipamentos saúde


SOBRE O LUGAR

Favela Zorrilho

Densidade demográfica: 146.821 hab/Km²

Número aproximado de moradores: 5.000

Área total da favela: 34.055m²

Mapa de Áreas Verdes. Fonte: Imagem Adaptada de Google Earth Mapa de áreas verdes.

Favela Zorrilho

Mapa de Hidrografia.

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SOBRE O LUGAR

Principais ruas e equipamentos da regi茫o da favela. Em quadrados brancos, pontos de 么nibus. Fonte: adaptado de Google Earth


SOBRE O LUGAR

2001

2004

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2006

Evolução da favela nos últimos 14 anos. Fonte: adaptado de Google Earth


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2007

SOBRE O LUGAR

2008

Evolução da favela nos últimos 14 anos. Fonte: adaptado de Google Earth

2015


SOBRE O LUGAR

Alvenarias

habitações precárias (barracos)

Faixa de oleodutos

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Características territoriais da favela Zorrilho.


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SOBRE O LUGAR

Posto a posição desse trabalho frente á prática da arquitetura, além dos registros que acabaram de ser apresentados sobre a leitura do lugar de intervenção do projeto, foram feitas duas visitas à favela Zorrilho e na ocasião das visitas, interlocuções com membros da ONG União Bem Estar, atuante na favela, e com moradores da favela e da região próxima.

A primeira visita deu-se em maio, no início do projeto, a segunda em outubro, fase de finalização do mesmo. Fica claro como uma das principais insatisfações, tanto da ONG como dos moradores, a grande negligência com a qual o poder público lida com as reinvindicações apresentadas pela ONG junto aos moradores da favela aos vereadores e demais políticos, e a brutalidade, muitas vezes estendida a todos os moradores da favela, em virtude de invasões militares devido ao tráfico de drogas. Essas insatisfações têm como base a ciência e revolta à construção segregada da cidade e à exclusão social, no âmbito pelo qual se iniciou esse caderno, e suas implicações na dificuldade do acesso à cidade, assim aos espaços públicos de lazer e de vivência e de medidas públicas que beneficiem os moradores da favela e da região próxima.

Com todos os meios que consegue reunir, a ONG busca levar à favela eventos que beneficiem os moradores, possuindo um vasto entendimento sobre as necessidades e sobre a história de luta da comunidade Zorrilho, luta esta que também participa.


SOBRE O LUGAR

A experiência da visita à favela remonta ao que Jacques (2007, p.65) já muito bem enunciou “É um espaço efetivamente labiríntico, tal é o emaranhado de caminhos internos, e, ainda, como não há sinalização, placas, nomes ou números, qualquer pessoa de fora, ali, se perde facilmente”. Nesse labirinto acontece a imensa diversidade de usos e toda dinâmica que configura a vida da favela, que guiou o desenvolvimento desse trabalho. Ao percorrê-la, é notável a vida que corre em suas vielas, a quantidade enorme de crianças de diversas faixas etárias brincando e correndo, as rodas de conversa entre os moradores, conversas de soleira de porta, de bancos e cadeiras improvisadas, os constantes pequenos comércios como extensão da casa , pequenos bares, cabeleireiro, manicure, serviços de costura, encomenda de bolos e de salgados. Se buscar o que há de mais profundo nessa informalidade, que não é apenas uma forma díspar de morar, há de deparar-se com outra urbanidade, baseada na vivência dos espaços além da casa e n==a construção de vínculos sociais bastante relevantes.

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SOBRE O LUGAR


SOBRE O LUGAR

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SOBRE O LUGAR

Imagens da favela. Fonte: Fotos da autora. Outubro, 2015


SOBRE O LUGAR

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Imagens da favela. Fonte: Fotos da autora. Outubro, 2015


O PROJETO



O PROJETO

O projeto proposto nesse trabalho de conclusão é um estudo de como a prática da arquitetura pode enfrentar as questões discutidas ao longo desse trabalho, questões estas construídas ao longo de cinco anos de curso e que, por fim, iluminaram e agora dão vida a finalização do mesmo.

Seu desenvolvimento foi fortemente tecido na realidade social da favela do Zorrilho, apoderando-se do que há de mais essencial nos desejos dos moradores e na vida cotidiana da favela para lançar as bases da proposta de urbanização.

Propõe-se uma urbanização de favela que abrange, além das questões infra estruturais cabíveis de forma a permitir melhores condições de morar, o desenho de espaços públicos cujo usufruto seja voltado aos moradores da favela e aos moradores da região, a fim de criar espaços onde a esfera pública seja protagonista e as relações socias, o encontro entre pessoas diferentes, possibilite o esmaecimento das rotulações sociais, convidando à convivência em um espaço acessível a todos. Dessa forma, o projeto de urbanização de favela como melhoria urbana, estende- se para além do contexto desta, buscando um projeto que compreenda a favela como parte da cidade, trabalhando portanto em seu interior e em sua tangência com a cidade, que propõe-se não ser mais tangência, mas intersecção.

Iniciou-se então o projeto pelo estudo da morfologia da favela e da cidade em seu entorno, em busca de regiões de interseção onde os espaços públicos voltados a todos pudessem ter lugar e por situações internas à favela que pudessem guiar a urbanização e principalmente, a construção de espaços que tivessem na convivência e relações sociais da favela sua inspiração maior.

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O PROJETO

A conquista do território da favela como área de projeto foi um dos maiores desafios, justamente por apresentar uma construção estranha aos projetos desenvolvidos no curso até então. Essa conquista incluiu desde o entendimento da favela como corpo efêmero e labiríntico pautado no tempo até o levantamento casa a casa, conforme possível, da área de projeto.

Pontos relevantes no entorno da favela

Espaços permeáveis ao pedestre e espaços construídos

Córrego e nascente no interior da favela


O PROJETO

Diagrama geral da proposta de projeto

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O PROJETO

PROPOSTA À OPERAÇÃO URBANA A urbanização da favela Zorrilho lida com a proposta da operação urbana de remoção desta para melhoramento viário. Em defesa da manutenção e urbanização da favela, o projeto propõe o prolongamento da rua Pacarana de forma que esta conecte-se à Nova Radial à Avenida Águia de Haia.

A via que atualmente conecta essas duas ruas é a rua Coata e a dos Agapantos. A rua Pacarana apresenta-se como alternativa viável pois permite uma ligação mais rá pida da Nova Radial à Aguia de Haia, possuindo mesmo calha que a rua Coata e dos Agapantos.


O PROJETO

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CORTE DA IMPLANTAÇÃO ESPAÇO COMUM centro comunitário praça da comunidade (interior da favela) edifícios habitacionais para remanejamento horta e pomar comunitários

ESPAÇO ATEMPORAL DE CONHECER midiateca bilbioteca parque infantil

0

5

10

20


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O PROJETO

O projeto de urbanização da favela Zorrilho foi pensado como projeto de suspensão, desenhando espaços que convidam à suspensão, mesmo que pelo breve momento enquanto são vivenciados e usufruídos, da realidade nem sempre tenra que se coloca aos moradores da favela e aos moradores da região. A partir do desenho de um projeto que permite melhores condições de usufruto e habitabilidade da favela e de uso e acesso à cidade, busca-se como posto por Lina Bo Bardi, “forjar um novo presente “ (OLIVEIRA, 2006) gerando condições aos seus vivenciadores para construção de uma nova realidade.

O projeto se desenvolve em espaços onde a favela é protagonista, pensado então primordialmente a seus moradores, e espaços onde a cidade (favela e região) é protagonista, priorizando a convivência e o usufruto de todos.

Os espaços voltados à favela se desenvolvem em seu interior, e são guiados pelo rio, que deve passar por processo de despoluição. Primou-se pela construção de espaços onde pudessem ser desenvolvidas as fortes relações de vizinhança existentes na favela. Esses espaços foram pensados como extensão da calçada que entra nas vielas, redesenhando-as quando possível1, e se refaz no interior da favela em duas escalas, uma delas mais íntima, que se As vielas foram redesenhadas com a construção de escadas e platôs, as escadas nunca ultrapassam um metro de altura, de forma que a declividade total construída acompanhe a sucessão de casas e também de aberturas, é proposto a reconstrução das calçadas ao longo das ruas no entorno da favela, a fim de tronaras mais acessíveis a pessoas com deficiência e evitar acidentes devido à degraus e vilosidades no calçamento. 1


O PROJETO

desenvolve ao longo do rio em frente às casas que a ele se voltam, buscando também resolver as questões de salubridade e contenção de encosta colocada nesses espaços, preservando o rio, cuja opção de projeto foi mantê-lo em seu leito natural, sem canalizá-lo, propondo apenas a colocação de seixos rolados em seu fundo. A outra escala construiu-se mais expansiva, se localiza no miolo da favela e se constitui como pequena praça que se relaciona ao rio e contém equipamentos como academia ao ar livre; essa praça marca o lugar onde o rio é canalizado para dar espaço às relocações e à horta urbana, pensado para contribuir na drenagem de água da chuva, principalmente aquela advinda do grande talude colocado em seu limite. Esses espaços voltados à favela são chamados espaços de vida.

Os espaços onde a cidade é protagonista se desenvolvem a partir do limite cidade-favela, pois acredita-se que relacionando-os com a rua nessa região limítrofe, o convite ao usufruto pela população do entorno da favela é mais efetivo, tendo em vista os estigmas criados pela sociedade com suo território. Compõe esses espaços onde a cidade é protagonista os chamados Espaço de Jogo, Espaço de Conhecer e Espaço Comum.

O projeto de urbanização desses espaços contempla equipamentos de cultura e de lazer, tendo em vista a grande provisão de equipamentos de saúde e de educação na área, propõe quadra de jogos, biblioteca midiateca e centro comunitário da região, sendo proposto nesse centro a sede da ONG e salas para aulas voluntárias, prática comum na região, que hoje contemplam aulas de música e artesanato, principalmente. Pretende-se que esses equipamentos

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O PROJETO

sejam pontos de interesse na região além de estratégicos para potencializar o convite que se faz à cidade para usufruí-los.

A região área a leste da favela não foi alterada pelo projeto por constituir-se como uma área com habitações consolidada não configurando área de risco, a única intervenção consiste em um prédio para relocação, construído a fim de substituir moradias precárias. Essa não alteração não significa que a urbanização não os contemple, tendo em vista que as melhorias urbanas são acessíveis a toda favela.

Os espaços de jogo, de conhecer e comum são colocados em lugares onde o tráfico de drogas é menos atuante na favela, conforme foi possível notar por visitas à campo. Acredita-se que o tráfico não é uma questão a ser resolvida por projeto de arquitetura, ao mesmo tempo em que não deve ser barreira para urbanização, podendo com ela coexistir a partir de acordos que não fizeram parte do desenvolvimento desse trabalho.

Foi pressuposto do projeto que o planejamento para provisão de infraestrutura de saneamento básico, a saber: abastecimento de água e coleta e afastamento de esgotos (PMSP/SEHAB/HABI) e a provisão de energia elétrica ficam a cargo dos órgãos e secretarias responsáveis, não fazendo parte do escopo desse trabalho.


O PROJETO

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REMOÇÕES E RELOCAÇÕES Total de famílias remanejadas:

248 famílias

Área total de remoção

16.900 m²

Quantidade unidades habitacionais propostas para relocação na área de projeto:

124 UH

A região de projeto é considerada área de risco pela secretaria de urbanização de São Paulo. Essa classificação se deve a presença do córrego, que inclui sua nascente e constitui uma área de preservação permanente (APP), e de áreas com grande declividade e risco de escorregamento de encostas. Buscou-se o menor número possível de remoções quando as habitações apresentavam-se consolidadas2 a fim de diminuir o impacto social da urbanização. foram consideradas habitações consolidadas aquelas que não aparentam risco de desabamento, a verificação foi feita de forma superficial em virtude dos meios disponíveis nesse projeto, sendo uma classificação real possível apenas com verificação técnica de profissionais competentes a essa função (PMSP/SEHAB/HABI). 2

Áreas de risco por UPP (azul) e por relato dos moradores (laranja)


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O PROJETO

O critério seguido para solucionar a relação da favela com as áreas que constituíam risco foi baseado, no caso da NASCENTE

APP, nas diretrizes da SIURB, que estabelece uma faixa de preservação de 10 metros (cinco em cada margem) ao longo do córrego, acarretando menos remoções que se atendida a resolução do CONAMA, que também foi ponderada, tendo em vista que esta estabelece uma faixa de 30 metros, acarretando um grande número de remoções. A faixa de preservação foi dobrada na região da nascente, na intenção de melhor preservá-la.

No que tange às áreas de grande declividade, não há uma forma racional de atestar o nível de segurança das encostas e das estruturas nelas implantadas, as formas relacionais possíveis baseiam-se em um estudo aprofundado baseados em indícios de movimentação em estruturas nelas implantadas (PMSP/SEHAB/HABI). Em posse dessas informações, optou-se pela não remoção em áreas de grande declividade que podem constituir áreas de risco. Áreas de remoção do projeto


O PROJETO

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O projeto contemplou remoções de habitação e nenhum remanejamento. A proposta de relocação pretendeu manter o máximo possível das famílias retiradas na área da favela, a partir da construção de habitações de interesse social, porém, não foi possível contemplar a

1

relocação de todas as famílias, propõe-se então que sejam relocadas em áreas distantes no máximo um quilômetro da área da favela, a fim de amenizar o impacto advindo dessa relocação nas família.

As habitações propostas, bem como as demais intervenções do projeto buscaram, sempre que possível, tomar o lugar das moradias removidas por localizarem-se área de risco, a fim de evitar a construção de novas habitações nessa área. Essas habitações não excedem cinco andares, a não ser quando o relevo permite, a fim de evitar elevadores e os custos que o mesmo agrega aos moradores do edifício. Nas habitações propostas em lugares onde parte das demais habitações da favela não possuem acesso às ruas do entorno,

2

a construção destas foi atrelada a escadas de acesso ao interior da favela e as rampas, que pretendem facilitar o acesso a carrinhos de coletores de reciclável e a veículos de emergência. Habitações propostas para relocação de moradores removidos de suas moradias em função da urbanização (Cinza escuro)


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O PROJETO

1

Estudo da dinâmica interna das edificações propostas.

2


O PROJETO

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Ă reas consideradas de risco na favela Zorrilho


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O PROJETO

DRENAGEM, ACESSIBILIDADE E COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS

DRENAGEM A estratégia usada para preservação do córrego que nasce dentro da favela deu-se com a remoção das habitações a cinco metros de seu leito. Com relação à drenagem na área, a estratégia foi aumentar a área permeável da favela e aumentar o tempo de escoamento de águas da chuva ao córrego, tendo em vista que, segundo relato dos moradores, o rio chega a um metro de altura acima de seu nível normal quando chove; também foram propostas quedas de água, possibilitadas por pequenos muros de gabião colocados ao longo do córrego, contribuindo com a diminuição de sua vasão.

A área permeável foi aumentada devido à remoção das habitações, liberando o solo da favela. Em parte desses espaços liberados, foram construídos os mencionados platôs e caminhos do espaço de vida e de vivência. Os platôs são construídos com piso permeável e os caminhos com deck de madeira, de forma a permitir a liberação do solo

Os jardins de chuva são propostos ao longo da extensão do córrego, nas calçadas ao longo das ruas em torno da favela e unidos às estruturas que contém os platôs do espaço de vida, que são formados por muros de gabião (muros de gravidade), estrutura de contenção escolhida pela sua permeabilidade à água.


O PROJETO

As quedas propostas no córrego também são possibilitadas por muros de gabião implantados pontualmente em sua extensão, a fim de oxigenar a água contribuindo com sua despoluição e diminuindo sua vazão, pretendo assim evitar sobrecarga de água no ponto onde o rio é canalizado.

Esquema de jardins de chuva proposto na favela.Sem escala.

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Jardins de chuva ao longo da calรงada de entorno. Sem escala.

Jardins de chuva associados a muros de gabiรฃo. Sem escala.


O PROJETO

COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS Devido à impossibilidade de caminhões de coleta de lixo adentrarem o interior da favela, são propostos pontos de entrega voluntária de lixo orgânico e de lixo reciclável ao longo das vias do entorno da favela. Os pontos foram colocados estrategicamente próximos aos equipamentos públicos propostos e às vielas que foram reconstruídas, tendo em vista melhor acessibilidade das mesmas para transporte do lixo pelos moradores, e próximos as vielas de maior porte não reconstruídas. ACESSIBILIDADE Não há possibilidade de trânsito de automóveis no interior da favela, porém procurou-se garantir o acesso de veículos de emergência. Apesar desses pontos não permitirem que os veículos circulem dentro da favela, devido à impossibilidade de atender ao raio necessários às suas manobras, pretendeu-se garantir o acesso ao interior da favela, de forma a facilitar a ação em eventuais emergências. Os pontos de acesso não excedem 100 metros de distância entre si.

O projeto de urbanização previu o acesso de pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida por rampa ou por elevadores, de forma que fosse possível acessar todo o projeto de urbanização. Quando os caminhos são interrompidos por escada, outros acessos podem ser utilizados para chegar às partes desejadas. Os elevadores foram propostos devido a impossibilidade de construir rampas com inclinação adequada, ficando sempre próximos a um equipamento proposto pelo projeto.

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O PROJETO

Habitações propostas

Escadas

muro de gabião para queda do rio

Elevadores e rampas (máx. i=10%)

Jardins de chuva

acesso de veículos de emergência

Lixeiras para entrega voluntária de lixo


O PROJETO

ESPAÇO DE JOGO

Constrói se o vazio, o hiato entre a favela e a cidade. Torna-se Espaço de Jogo, de todos os jogos, do que for conveniente inventar, pensado para abrigar campeonatos de pipa, de bolinha de gude, jogos de futebol, basquete, skate, queimada, amarelinha, dama, aprender a andar de bicicleta. O reduzido espaço disponível permitiu a construção de uma praça contendo uma quadra com duas traves e duas sestas de basquete, um gramado com talude que pode ser arquibancada e evita que a bola role pra avenida e uma laje plana, juntos permitem o Espaço de Jogo. Seu desenho resguarda sempre que possível a faixa do oleoduto, e na impossibilidade de plantar árvores, a marquise proposta sobre a laje visa a sombra e o abrigo da chuva, áqueles ue usufruem a praça e aqueles que esperam o ônibus, cujo ponto foi deslocado do quarteirão ao lado na busca de agregar usos á praça e melhor abrigá-lo.

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Espaรงo de Jogo ESC 1:500

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ESPAÇO DE VIDA

Esses espaços dão lugar a continuação da vivência e das relações de vizinhança presentes na favela. Busca ser extensão da casa, extensão da rua, um longo quintal coletivo, em defesa de uma habitar além da casa. Tem no cotidiano e nas conversas de soleira de porta sua inspiração; é desenhado na intenção de que esse cotidiano continue a acontecer, agora fora de áreas de risco e insalubres. Como bem colocou Oiticica (OLIVEIRA, 2006):

“O lazer deixará de ser a aparente oposição do trabalho, e o privado deixará de ser a aparente oposição do coletivo [e a casa] estará em todas as partes: será qualquer lugar, cada espaço e cada tempo onde se afirme e se reencontre um sujeito múltiplo, igualitário e real”


O PROJETO

Espaço de Vida e de Vivência ESC 1:500

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ESPAÇO DE CONHECER

Convida-se à suspensão do tempo, em prol do lazer, do ócio, de perder-se no tempo ao ler livros, assistir filmes, ouvir música jogar jogos de computador, brincar no parque, encontrar e conhecer pessoas diferentes. Olhar o rio, que faz parte desse espaço, que busca uma aproximação e redescobrimento deste que antes era sinônimo de insatisfações. A partir da rua mira-se o Espaço de Conhecer, da entrada da midiateca e da entrada da biblioteca, e convida à vivência logo abaixo; no meio da favela, um espaço da cidade, de múltiplos usos, espaço em potencial para atender várias faixas etárias, espaço para ver, ser visto, para conhecer.


O PROJETO

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Midiateca

Biblioteca

Espaรงo de Conhecer ESC 1:500


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Perspectiva da região de inserção da favela, ao fundo, Parque Tietê.Fonte: adaptado de Google Earth.


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ESPAÇO COMUM

Pretende-se o esmaecimento das fronteiras sociais, na proposta de um centro comunitário dos moradores da região, equipamento comum nessa parte da cidade. Lugar onde ausenta-se o que é favela, o que é cidade, em prol da comunidade. Um prédio para ser centro comunitário e sede da ONG Bem Estar, espaço referência para buscar-se informações sobre eventos no bairro, para dar aulas voluntárias, e o que mais for for necessário. Devido a sua cota alta mira-se a favela e mira-se a arena Corinthians. Contém um palco, uma arquibancada, praça arena, que é dentro e é fora, para que se desenvolva aulas de música voluntária, que se proponham aulas de dança, que a capoeira possa ter espaço, que façam festas juninas, que se discutam questões do bairro, que se fortaleçam vínculos sociais, abrigo da vida comum e da esfera pública, nos usos e vivências que forem convenientes a cada tempo.

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O PROJETO


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Início da canalização do córrego Centro comunitário

Teatro Arena

Espaço Comum ESC 1:500

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CONCLUSÕES



O PROJETO

O projeto de urbanização da favela Zorrilho foi uma experiência da aplicação das posturas postas a princípio nesse trabalho. Acredita-se que se fosse colocado em prática, proveria espaços em potencial ao esmaecimento da segregação social e à consolidação da esfera pública, cuja materialização ficaria a cargo de seus vivenciadores, moradores da favela e da região de entorno. Sendo inegável, porém, as melhorias espaciais advinda do projeto de urbanização.

Esse trabalho assume por vezes um tom bastante utópico, talvez por acreditar-se ser a possibilidade de uma melhor condições de vida às pessoas o fim maior do desenho e prática da arquitetura, que nesse projeto traduz-se na melhoria das condições de vida da comunidade Zorrilho e dos moradores da região.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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