ARTESANATO + DESIGN: O HANDMADE CONTEMPORÂNEO

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ARTESANATO + DESIGN: O HANDMADE CONTEMPORÂNEO

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Capa: Ulla Johnson Pre-Fall Fonte: Pinterest, 2020.


NATÁLIA FERREIRA NOGUEIRA DE PAULA FONTES

ARTESANATO + DESIGN: O HANDMADE CONTEMPORÂNEO

Pesquisa apresentada ao curso de graduação em Design de Moda, na disciplina de Pesquisa Aplicada ao Trabalho de Conclusão de Curso da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Orientadora: Profa. Dra. Taisa Vieira Sena.

CURITIBA 2020



1. INTRODUÇÃO 1.1 PROBLEMÁTICA 1.2 JUSTIFICATIVA 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 OBJETIVO GERAL 1.3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Sumário

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2. MATERIAIS E MÉTODOS DE PESQUISA

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3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 O ARTESANATO 3.1.1 O QUE É ARTESANATO? 3.1.2 CONTEXTO HISTÓRICO: O ARTESANATO ATRAVÉS DO TEMPO

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3.2 DESIGN + ARTESANATO: UM PROCESSO DE REVITALIZAÇÃO 3.2.1 A RELAÇÃO ENTRE DESIGN DE MODA E ARTESANATO 3.2.2 TECNOLOGIA: A INTERNET COMO NOVO CENÁRIO 3.2.3 O PAPEL DAS MÍDIAS SOCIAIS PARA A IDENTIDADE DE MARCAS ARTESANAIS 3.2.4 A EVOLUÇÃO DO CONTEÚDO HANDMADE: DO “PASSO A PASSO” AO LIFESTYLE

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3.3 O VIÉS COMPORTAMENTAL DO FAZER À MÃO 3.3.1 CULTURA MAKER: RECONECTAR-SE ATRAVÉS DO “FAÇA VOCÊ MESMO”

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4. RESULTADOS

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5. DISCUSSÃO E ANÁLISE

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6. CONCLUSÃO

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REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

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Lista de Figuras

Figura 1. Manchete crescimento do artesanato.................................................... 3 Figura 2. Oleiro esculpindo à mão vaso de cerâmica............................................ 11 Figura 3. Obra Strawberry Thief de William Morris............................................... 12 Figura 4. Bauhaus........................................................................................................ 13 Figura 5. Mesas aninhadas de Breuer...................................................................... 13 Figura 6. Design artesanal de Regina Misk............................................................ 15 Figura 7. Mostra “A Casa AMA Carnaúba”............................................................... 16 Figura 8. Interior da loja Rede Asta no Rio de Janeiro......................................... 16 Figura 9. Contribuições da moda para o artesanato.........................................

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Figura 10. Visual handmade nas passarelas.......................................................... 18 Figura 11. Collab Neon + Catarina Mina................................................................ 19 Figura 12. Lookbook das peças Helen Rödel........................................................ 19 Figura 13. Bolsas Alienina........................................................................................ 20 Figura 14. Peças da marca Mumshandmade........................................................ 21 Figura 15. Apostila digital Nat Petry...................................................................... 22 Figura 16. Manchete Jessica Smarsch................................................................... 23 Figura 17. Feed Instagram Amora Amorinha....................................................... 25 Figura 18. Feed Instagram Ateliê Nat Petry.......................................................... 26 Figura 19. Capa NeedleCraft Magazine – 1931.................................................... 27 Figura 20. Edições NeedleCraft Magazine – 1931................................................ 27 Figura 21. Bordados em fio de lã NeedleCarft Magazine.................................... 27 Figura 22. Anúncio de fermento na NeddleCraft................................................. 28 Figura 23. Enciclopédia de Trabalhos Manuais.................................................... 29 Figura 24. Crochê Tunisiano, Enciclopédia de Trabalhos Manuais................... 30 Figura 25. Crochê Filé, Enciclopédia de Trabalhos Manuais.............................. 30 Figura 26. Canal no YouTube de Maddu Magalhães........................................... 31 Figura 27. Exemplares Revista Urdume...............................................................

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Figura 28. Poltrona Concha de Regina Misk......................................................... 34 Figura 29. Gráfico do crescimento das buscas online pelo termo “crochê”..... 40


Resumo O resgate de processos e técnicas artesanais antigas, que foram se desenvolvendo através dos anos, são resgatadas através desta crescente valorização dos produtos feitos à mão principalmente no Brasil, com vasto histórico cultural com o artesanato, e que por muito tempo foram deixadas de lado ou subestimadas e que hoje vem mostrando seu valor e potencial, fruto da aproximação entre produtor artesanal e designers. O presente Trabalho de Conclusão de Curso “ARTESANATO + DESIGN: O HANDMADE CONTEMPORÂNEO” corresponde a uma necessidade de entender o atual cenário do artesanato após um longo período de esquecimento e de como está ligado ao design nesta contrução estética. Com os resultados desta pesquisa produziu-se este e-book para pesquisa/consulta facilitada pelo acesso à internet. PALAVRAS CHAVES: Artesanato. Design de Moda. DIY. Marcas Artesanais.


Abstract The rescue of ancient artisanal processes and techniques, which have been developed over the years, are rescued through this growing appreciation of handmade products mainly in Brazil, with a vast cultural history with handicrafts, and which for a long time were left aside or underestimated and that today is showing its value and potential, the result of the approximation between artisanal producer and designers. The present Course Conclusion Paper "HANDICRAFT + DESIGN: THE CONTEMPORARY HANDMADE" corresponds to a need to understand the current scenario of handicrafts after a long period of neglect and how it is linked to design in this aesthetic construction. With the results of this research, this e-book was produced for research / consultation facilitated by internet access. KEYWORDS: Handwork. Fashion Design. DIY. Handcrafted Brands.


Fonte: Pinterest, 2020.


1.Introdução A palavra tradição pode ser significada de diversas formas, porém seu conceito está amplamente ligado ao ato de transmitir ou passar adiante. Isso inclui saberes muito antigos transmitidos oralmente ou por escrito, tradições sobre crenças, saberes e fazeres de um indivíduo ou de um povo. Dessa forma esses saberes se perpetuam através das gerações e muitas vezes vencem o esquecimento que vem com o tempo e se renovam. O resgate de processos e técnicas artesanais antigas, que foram se desenvolvendo através dos anos, são resgatadas através da crescente valorização dos produtos feitos à mão que ganham cada vez mais espaço, principalmente no Brasil, com vasto histórico cultural com o artesanato e que por muito tempo foram deixadas de lado ou subestimadas, e hoje vem mostrando seu valor e potencial, fruto da aproximação entre produtor artesanal e designers, dentre outros fatores. Para Adélia Borges (2011), é muito importante o papel do designer dentro deste processo crescente de revitalização do artesanato, pois atua, muitas vezes, não como autor, mas sim como facilitador e estimulador de processos, estabelecendo assim uma relação de co-criação entre artesãos e designers de diversas áreas. Assim como Márcia Ganem (2016) trata de forma concordante em sua obra Design Dialógico: Gestão criativa, inovação e tradição, onde também defende os “mútuos benefícios entre o design e as tradições artesanais, baseada a gestão criativa de tradições, ampliando as oportunidades de dinamização do design e das tradições artesanais” (GANEM, 2016 p. 121). Analisando o cenário em que vivemos hoje, é possível perceber que as gerações atuais não herdaram a tradição manual de família, porém tem o desejo de retomada dessas tradições perdidas. Atualmente vemos uma sociedade muito presente no ambiente virtual e desconectada com o que está ao seu redor e falta autoconsciência, notando-se uma necessidade de resgate e de um olhar voltado para o interior individual. O aconchego e a auto conexão, além do sentimento de nostalgia trazido pelo trabalho manual, traduz de forma artística e criativa essas necessidades, agregando ao produto manual uma grande carga emocional, um pouco da história de cada artesão juntamente com um apurado senso de identidade, coletiva ou individual. Entender a cultura crescente do “faça você mesmo” dentro da perspectiva de tecnologia e novos cenários onde se instala o trabalho manual, além de tratar o artesanato de forma mais aprofundada, com um viés mais emocional e comportamental tendo em vista a relação estreita entre designer e artesão na produção não só de produtos, mas também de conteúdo e visão de marca, são linhas que o trabalho a seguir pretende explorar a fim de compreender melhor o tema principal atrelado também à moda contemporânea.

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1.1. Problemática Na contramão de tempos onde a tecnologia e os problemas ambientais ditam a nossa realidade, os produtos handmade, “feito à mão”, vem se destacando, valorizando e ganhando cada vez mais espaço dentro do mercado, principalmente da moda, se mostrando uma forte tendência. Estes produtos valorizam a exclusividade e identidade de quem o produz muito diferente do que se vê atualmente quando pensamos em grandes redes de fast fashion¹ , com seu sistema de produção em larga escala, e em seu público que apresenta comportamento de consumo desenfreado. Segundo o site Revolução Artesanal, “o artesanal se difere pela forma de se relacionar com o fazer. Uma ação artesanal é a expressão da singularidade daquele artesão/fazedor” (2018). Isso prova a busca constante por parte desta sociedade atual que está sempre presente e conectada no universo online e que agora quer se auto conectar, ter uma maior autoconsciência e se resgatar como indivíduo através da tradição do fazer à mão. A partir disso surge o movimento maker, ou “faça você mesmo”, que incentiva pessoas a aprenderem o fazer manual. Muito ligado ao design esse movimento abraça o artesanato de forma muito benéfica para sua valorização, segundo a estilista Helen Rödel:

“[...] a sobrevivência de uma técnica artesanal é garantida por três aspectos: seu elo com o design para funcionalidade, beleza e escala; a valorização do artesão ao percebê-lo não simplesmente como fornecedor de produtos, mas como receptador de conhecimento e mestre; e acesso do produto ao mercado” (CHAMIS, 2017).

Como detentor do conhecimento técnico do artesanato, o artesão contemporâneo também se vê capaz de desenvolver e criar um conteúdo bastante diverso e na maioria das vezes criativo. Atualmente, a profissão de artesão se ligou fortemente à de designer, e como fruto desta relação podemos ver hoje uma vasta gama de conteúdo sobre trabalho manual que variam desde vídeo aulas e apostilas online à revistas e sites especializados no assunto tratando-o como um estilo de vida. A problemática que se deseja abordar é: entender a “nova face” do artesanato contemporâneo, de forma profissional (como marca e negócio) e também como lifestyle (criação de conteúdo e formação de opinião sobre temas relacionados), abordando sua crescente valorização a partir dos novos cenários em que está inserido.

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1.2. Justificativa Com os constantes avanços da tecnologia e desenvolvimento da internet atrelada também ao crescimento da economia criativa, que se faz cada vez mais presente hoje trazendo novas formas de produzir e consumir, o artesanato brasileiro se fortaleceu. O mercado movimenta R$ 50 bilhões por ano e sustenta 10 milhões de pessoas, segundo levantamento realizado por Pequenas Empresas e Grandes Negócios no ano de 2018 (G1 GLOBO, 2018).

Figura 1: Manchete crescimento do artesanato. Fonte: G1 Globo, 2018.

Como Ciça Costa, comunicóloga e artesã, colaboradora na Revista Urdume (n 02, 2019), questiona em uma de suas colunas para a revista, uma “revolução” pode sim ser artesanal. Ciça aponta que “ao valorizar a união, a coletividade, ao incluir a singularidade, o movimento da Revolução Artesanal utiliza o fazer manual como meio para seu ativismo delicado, uma forma de ativismo que expressa, por meio do olhar e da expressão de si, a mudança que se deseja ver no mundo” (COSTA, C. 2019). Portanto em meio a tanta tecnologia e globalização, é possível encontrar identidade e valor de tempo dentro do artesanato. Em outra coluna, também para a Revista Urdume (n 02, 2019), Marie Castro, designer handmade e produtora de conteúdo, traz no título “No handmade eu construo minha história presente e futura”. Ela aponta que utiliza seus processos manuais não apenas como profissão, mas também tem um papel muito mais transformador e intrínseco, que reflete as fases de sua própria vida (CASTRO, 2019). Por isso a importância e relevância dos temas que sustentam e justifica este projeto, o entendimento do artesanato como produto de identidade regional traduzindo a cultura de um povo, mas também se tratando de uma ferramenta para uma reconexão pessoal e individual através de um processo muitas vezes coletivo e que hoje torna o artesão, principalmente mulheres que apresentam forte presença neste ramo, uma marca e muitas vezes um formador de opinião sobre este novo lifestyle handmade conquistando milhares de seguidores. ¹ Fast Fashion – “moda rápida”, termo utilizado por marcas que possuem políticas de produção rápida e contínua de suas peças, trocando as coleções semanalmente, ou até diariamente, levando as últimas tendências da moda em tempo recorde e preços acessíveis para seus consumidores (REVIDE, 2010).

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1.3. Objetivos 1.3.1. Objetivo Geral Desenvolver um projeto de design de moda com base em uma pesquisa que tem o artesanato como tema central visando traçar seu cenário atual destacando às artes manuais em geral como forma de autoconsciência e expressão.

1.3.2. Objetivos Específicos Os objetivos específicos deste trabalho são: a) Traçar uma linha do tempo do artesanato, buscando levantar sua história até os dias atuais; b) Entender a relação artesanato e design visando abordar seus benefícios; c) Aprofundar em temas mais alternativos e comportamentais do artesanato buscando destacar seu novo conceito e imagem; d) Tratar sobre o conceito de marca e identidade dentro do artesanato e como isso se dá atualmente com o intuito de entender seu processo de valorização; e) Fazer um levantamento sobre a evolução do conteúdo handmade a fim de compreender como está o cenário atual para o mesmo;

2.Materias e Métodos de Pesquisa A pesquisa foi desenvolvida seguindo o sumário base para realização do Trabalho de Conclusão de Curso disponibilizado pela orientadora do mesmo, realizando pesquisas teóricas através das bibliografias básicas para o entendimento dos conceitos de design e artesanato, temas centrais do projeto, além de outras fontes alternativas de pesquisa virtual, como sites e e-books, artigos e revistas. A fim de compreender a relação entre design e artesanato e também como fundamentação teórica, este trabalho baseou-se em dois livros relativos ao tema principal, “Design Dialógico: Gestão criativa, inovação e tradição” (GANEM, 2016) e “Design + Artesanato: O caminho brasileiro” (BORGES, 2011). Ambos trazem, de maneiras diferentes, os resultados de pesquisas realizadas pelas autoras em comunidades de diversas regiões do Brasil, onde o artesanal se faz muito presente. O primeiro, de autoria de Márcia Ganem, trata de um projeto de ação estratégica para a gestão criativa, incentivando a relação e colaboração entre designer e artesãos

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para o desenvolvimento de produtos e também serviços que incorporem a identidade local e daqueles que os produzem contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico desses territórios. A autora enfatiza os mútuos benefícios gerados por essa relação que amplia as oportunidades de dinamização do design e das tradições artesanais. O segundo, de Adélia Borges, se coloca numa posição de “observadora participante” para relatar suas percepções das aproximações entre designer e artesão pelo território do país. Com um longo caminho de pesquisas na área do Design, Adélia traz em “Design + Artesanato: O caminho brasileiro” uma reflexão analítica sobre o estreitamento dessa aproximação e dos frutos que vem sendo colhidos, além de contribuir com suas colocações a fim de descontruir os preconceitos que permeiam o âmbito artesanal, tendo, por exemplo, a associação de má qualidade aos produtos artesanais e a produção por pessoas iletradas, tal como Adélia denomina em seu livro. Para compreender esta relação entre artesanato e design, é preciso que haja noções prévias sobre o que é design e sua trajetória ao longo da história, assim utilizou-se as seguintes obras: “Uma Introdução à História do Design” (DENIS, 2000) e “Design: conceitos e métodos” (HSUAN-AN, 2018). Do primeiro, de Rafael Cardoso Denis, fez-se uso do capítulo inicial como base introdutória de contextualização histórica do design. O segundo, um e-book de Tai Hsuan-An, serviu para entender em que momento o artesanato se viu próximo ao design e de como se afastou posteriormente com os impactos da industrialização decorrentes do século XIX. Outras fontes de pesquisa, alternativas aos livros e e-books, foram utilizadas para trazer maior embasamento para o projeto. Como a revista Urdume, uma revista independente sobre artes manuais têxteis, expressão e autoconsciência, com versão impressa e digital. Nela foi possível observar, de maneira mais informal, diferentes pontos de vista e abordagens dentro do tema handmade e como este assunto tem tomado cada vez mais visibilidade. Além disso, artigos científicos, posts de blogs e boletins informativos dos SEBRAE Inteligência também serviram como base para reflexão e aprofundamento no tema central deste projeto de pesquisa.

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Fonte: Pinterest, 2020.

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3.1. O Artesanato 3.1.1. O que é Artesanato?

3. Referencial Teórico

O artesanato é umas das mais ricas formas de expressão cultural e do potencial criativo de um povo. É, na maioria das vezes, a representação da história de sua comunidade e a reafirmação de sua identidade e autoestima. Nos últimos tempos, tem-se agregado a esse caráter cultural o viés econômico, com impacto crescente na inclusão social, com geração de trabalho, e também a potencialização de vocações regionais (MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Base Conceitual do Artesanato Brasileiro. Brasília, 2012). Conceituar o que de fato é artesanato é uma tarefa bastante complexa, já que é de suma importância sua definição quando, por exemplo, for destinado à políticas públicas e privadas, servindo de embasamento para programas e ações de auxílio e incentivo ao trabalho e cultura artesanal. Para Adélia Borges (2011, p. 25), que também se depara com essa complexidade, o artesanato disseminado pelo Brasil pode ser tratado como: “Objetos que são feitos em geral coletivamente (por grupos familiares e/ou de vizinhança) e que são ou podem ser reproduzidos em série. Os objetos são projetados a partir de premissas habitualmente atribuídas ao design, como o atendimento a determinada função de uso, a partir do emprego de determinadas matérias-primas e determinadas técnicas produtivas. As técnicas podem ter sido transmitidas por gerações da mesma família ou por habitantes mais velhos de uma comunidade ou podem ter sido “inventadas” recentemente por uma ou mais pessoas. [...]”.

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Assim como a maioria das definições encontradas em dicionários e enciclopédias e também alinhadas ao conhecimento popular, a expressão “artesanato”, surgida no final do século XIX, faz referência a todo trabalho manual feito por artesãos, possuindo seus próprios meios de produção e realiza a maioria das etapas de produção, desde a extração da matéria-prima até a comercialização, de forma individual ou coletiva (MADUREIRA e SENA, 2018). O Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), instituído pelo Decreto nº 1.508, de 31 de maio de 1955, tem como missão institucional fomentar e estimular, através de múltiplas ações de incentivo, o processo de transformação econômica, promovendo o desenvolvimento das comunidades e a valorização de produtos genuinamente nacionais. Para o Programa do Artesanato Brasileiro (2012), o que o melhor representa é a definição adotada pelo Governo Federal brasileiro em que o artesanato:

“Compreende toda a produção resultante da transformação de matérias-primas, com predominância manual, por indivíduo que detenha o domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor simbólico e identidade cultural), podendo no processo de sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas, ferramentas, artefatos e utensílios”.

Entender o que não é artesanato também contribui para uma melhor compreensão de sua definição, o Programa do Artesanato então não considera artesanato: trabalho realizado a partir de simples montagem, com peças industrializadas e/ou produzidas por outras pessoas; lapidação de pedras preciosas; fabricação de sabonetes, perfumarias e sais de banho, com exceção daqueles produzidos com essências extraídas de folhas, flores, raízes, frutos e flora nacional; habilidades aprendidas através de revistas, livros, programas de TV, dentre outros, sem identidade cultural. Há também muitas outras definições de artesanato que vão além das fronteiras do Brasil. Adélia discorre sobre a definição de artesanato e aponta que no dicionário britânico The Concise Oxford Dictionary of Current English, a palavra craft aparece como substantivo e também como verbo, significando “fazer de maneira habilidosa (criar um poema; uma obra bem feita)”. Assim como no francês Le Grand Robert de la Langue Française, que traz um conceito que não está presente nos dicionários brasileiros, trata o artesanato como uma área de atividade que requer qualificação profissional e treinamento específico (BORGES, 2011).

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3.1.2. Contexto histório: o artesanato através do tempo A origem do artesanato está amplamente ligada à história da humanidade, desde os primeiros objetos e instrumentos de pedra polida do período neolítico (cerca de 6.000 a.C.), jarras de barro e os primeiros tecidos feitos a partir do entrelaçamento de fibras vegetais e animais, esses artefatos surgiram para suprir as necessidades cotidianas e as mãos eram as únicas “ferramentas” habilidosas disponíveis (COSTA, L. 2012). No Brasil, o artesanato surgiu neste mesmo período dentro das diversas tribos indígenas que já faziam parte do nosso território e que sofreram interferências com a chegada dos portugueses e de outros povos advindos de outras nações. São exemplos desse tipo de trabalho manual os cocares, cestarias, arte plumária e tangas, objetos com fins funcionais e também ornamentais. A necessidade de produzir bens de utilidades e uso rotineiro, e até mesmo adornos, expressou a capacidade criativa e produtiva como forma de trabalho. (MADUREIRA e SENA, 2018). Dessa forma, Paula Bem Olivo (2019) afirma que: “A formação da cultura brasileira ocorreu, portanto, por meio da influência dos diversos povos que passaram por nosso território. Cada grupo trouxe suas referências, e estas foram unificadas e adaptadas ao novo contexto. Dessa forma, o Brasil teve suas manifestações culturais permeadas de nuances de muitas outras culturas, até que reconheceu, nessa mistura, sua própria identidade“ (OLIVO, 2019 p. 61).

Assim, podemos pontuar o fazer manual de diversas culturas além do Brasil: os acessórios africanos, com sementes e muitas cores; as estruturas de moradia dos esquimós; as pinturas aborígenes e outros. Ao longo do tempo, muito foi adaptado, recriado, perdido, destruído, guardado e transformado (REVOLUÇÃO ARTESANAL, s.d.). A Revolução Industrial, que abrangeu os séculos XVIII e XIX, foi um grande momento histórico e marcou a transição dos métodos de produção: do artesanal para o industrial, gerando grandes mudanças no estilo de vida das pessoas e impactou a economia, meio ambiente e política. O antes e depois da Revolução Industrial se contrastam, pois a produção, antes feita toda manualmente e pelo próprio artesão, passou a ser feito por máquinas em um sistema de produção em série (OLIVO, 2019). Embora tenha de certa forma, afastado a sociedade do artesanal, a Revolução Industrial também trouxe criatividade, inúmeras descobertas e invenções que ultrapassaram limites que na época eram inimagináveis. A tecnologia decorrente desse período ampliou a visão de mundo e por consequência ampliou oportunidades do fazer manual.

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“O artesanato evoluiu junto com a evolução da sociedade, guiada em parte pela economia da experiência, que relaciona produtos ou serviços com o momento vivido” (SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Cartilha SEBRAE do Artesanato Competitivo Brasileiro. Brasília, 2016 p.9).

Atualmente, quando refletimos sobre a cultura artesanal, notamos que há um costume de se receber tudo pronto, ter contato apenas com o produto final, sendo esquecido todo o processo de produção até aquele objeto chegar às mãos do consumidor. A ausência desse contato com o processo produtivo afasta cada vez mais o consumidor dos recursos de origem e da mão de obra utilizada, resultando em uma grande desvalorização deste trabalho, um dos motivos do consumo desenfreado do mundo de hoje (REVOLUÇÃO ARTESANAL, s.d.). Neste cenário é possível perceber que as gerações atuais não herdaram a tradição manual de família, porém tem o desejo de retomada dessas tradições perdidas. Dessa forma, de acordo com Cris Bertoluci, especialista em tricô, “Na internet 2.0, deixamos de ser passivos: compartilhamos, geramos conteúdo. Isso ajuda a dar nova cara às técnicas manuais. Se alguém sabe fazer algo, pode dividir informações em vídeo, trocar materiais. Dá para aprender o que está sendo feito em lugares do mundo inteiro" (CHAMIS, 2017).

3.2. Design + Artesanato: um processo de revitalização Os primeiros ensaios de estudo da história do design, datados da década de 1920, priorizou a delimitação de sua abrangência e técnicas, o que acabou criando restrições sobre o que é e o que não é design, e foram nesses últimos 20 anos que a área atingiu sua maturidade acadêmica. A história do design deve ser vista hoje como porta de entrada para novas possibilidades que amplie horizontes, sugerindo a partir da vasta gama de exemplos do passado, formas criativas e conscientes de se proceder no presente (DENIS, 2000). A palavra design se origina na língua inglesa, no qual o substantivo design se refere tanto à ideia de plano, desígnio, intenção, quanto à de configuração, arranjo e estrutura. De modo geral, a maioria das definições concorda que o design opera a junção desses dois níveis, atribuindo forma material a conceitos intelectuais, tratando-se de uma atividade que gera projetos, ou seja, consiste em uma elaboração projetual para se produzir em série objetos por meios mecânicos (id ibid). Hsuan-An (2018) define design de forma bastante prática e sucinta:

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“[...] atividade profissional que envolve todo o processo de criação e desenvolvimento de produtos com o fim de atender às necessidades da população em favor de uma vida melhor e mais prazerosa. [...]. Portanto, o design é uma ocupação que exige estudos, pesquisas, e investigações complexas e profundas. [...].” (HSUAN-AN, 2018 p 26).

Dessa forma é possível afirmar que um produto de design também se baseia em fatores de diversificados âmbitos como o contexto cultural, econômico, social, tecnológico, psicológico, entre outros, e é através dele que se refletem as necessidades particulares da sociedade no decorrer dos tempos.

Figura 2: Oleiro esculpindo cerâmica à mão. Fonte: Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, 2014.

Antes da produção industrial, as atividades produtivas baseavam-se em processos artesanais. Produtos do uso cotidiano eram relativamente mais simples e seus produtores eram os próprios “designers”, tendo toda a liberdade de conceber e exercer o ofício de produzir objetos. Hsuan-An (2018) aponta que na produção artesanal mais sofisticada em diversas civilizações da antiguidade, o processo de criação, tido como forma de arte, já possuía noções de design, sendo um processo complexo desde a concepção estética e estilística até a configuração física do produto, com exigências por qualidade e acabamentos. Um ponto crucial e fundamental para a concretização do design foi à passagem de um modelo de fabricação manual, em que o indivíduo concebe e executa o artefato, para outro, onde é nítida a separação entre as funções de projetar e fabricar (DENIS, 2000).

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O início do design industrial se deu com a Revolução Industrial que aconteceu na Inglaterra, por volta de 1750, com a invenção das máquinas - movidas a vapor - abrindo um novo capítulo da história da produção humana, trazendo também muitas mudanças no design de produtos artesanais tradicionais e no pensamento sobre design que se manifestou em vários movimentos (HSUAN-AN, 2018). A industrialização decorrente deste período trouxe ao mundo intensas transformações e, já na segunda metade do século XIX surgiu o movimento estético e social inglês Arts & Crafts, que deu início a discussão sobre a qualidade estética da produção industrial e a importância dos trabalhos manuais e artesanais (SOUZA, J. 2018).

“Reunindo teóricos e artistas, o movimento busca revalorizar o trabalho manual e recupera a dimensão estética dos objetos produzidos industrialmente para uso cotidiano.” (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTES E CULTURAS BRASILEIRAS. São Paulo, 2018).

Derivado da língua inglesa, a expressão “artes e ofícios” faz referência à Sociedade para Exposições de Artes e Ofícios, fundada em 1888, e tem as ideias do crítico de arte John Ruskin (1819-1900) fundamentais para a consolidação da base teórica do movimento, colocadas em prática pelo principal líder Willian Morris. Há a defesa de uma arte “feita pelo povo para o povo”, objetos do uso cotidiano concebidos com preocupações estéticas e que deveriam ser considerados arte (GRADIM, 2016). A partir de 1890, o movimento Arts and Crafts liga-se ao estilo internacional art nouveau que se espalhou pela Europa, com uma atitude não tão focada na recusa à indústria, mas sim à revalorização da beleza, colocando-a ao alcance de todos (HSUAN-AN, 2018).

Figura 3: Obra Strawberry Thief de William Morris. Fonte: Wikiart, s.d.

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Com o intuito de resolver as discussões levantadas pelo movimento Arts & Crafts, Walter Gropius fundou a escola de artes de Bauhaus, em 1919 na cidade de Weimer na Alemanha. O método de ensino aplicado na Bauhaus consistia em três etapas, sendo elas: uma etapa prática, desenvolver atividades artesanais; uma etapa projetiva de desenho e pintura; e por último uma etapa teórica (SOUZA, J. 2018). “O principal fundamento da Bauhaus era resgatar a qualidade do artesanato, mas adaptado para a sua aplicação na produção industrial. [...] A partir desta união entre artesanato e indústria, buscava-se criar projetos [...].” (SOUZA, J. Porto Alegre, 2018 p 162-163).

A primeira fase da Bauhaus se caracterizou pelo foco nas artes plásticas e no artesanato. Em um segundo momento, a partir de 1923, a escola muda seu foco para a produção industrial em massa, criando uma estética padronizada e característica nos desenhos de objetos, fazendo uso de formas geométricas e simplificadas. Os elementos decorativos e ornamentais são eliminados dando lugar à funcionalidade dos objetos. A partir disso e do período pós Segunda Guerra Mundial, o afastamento entre design e artesanato se concretiza e tudo passa a ser mais industrial e funcional (id ibid).

Figura 5: Mesas aninhadas de Breuer, Bauhaus. Fonte: Cultura Genial, s.d. Figura 4: Bauhaus. Fonte: Veja, 2019.

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A institucionalização do design no Brasil se deu a partir da ruptura com a tradição artesanal, diferente de outros países, em que o design industrial se desenvolveu a partir desta tradição, de forma entrelaçada. As práticas manuais foram abolidas com o desejo pelo progresso, do que é feito à máquina, e passaram a ser vistas como parte de um passado de atraso (BORGES, 2011). Por volta de 1980, começou timidamente um movimento de aproximação dos designers em direção ao interior do Brasil na busca da revitalização do artesanato. Isso se daria a partir da soma da preservação de técnicas produtivas passadas entre as gerações e a incorporação de novos elementos tanto técnicos quanto estéticos aos produtos. E é neste momento, não por acaso, por volta de 1988 onde uma nova Constituição se instala fechando o ciclo da ditadura militar e a democracia volta ao país, que ao se buscar por liberdade se tem como consequência o florescimento cultural do país. (id ibid). “A aproximação entre designers e artesãos é, sem dúvida, um fenômeno de extrema importância pelo impacto social e econômico que gera e por seu significado cultural. Ela está mudando a feição do objeto artesanal brasileiro e ampliando em muito seu alcance.” (BORGES, 2011 p 137).

Desde os anos 2000, como observado por Serafim, Cavalcanti e Fernandes (2015), houve um aumento crescente nas ações e iniciativas de design junto a grupos de produção artesanal. Neste recente cenário, temáticas como sustentabilidade, economia criativa e solidária, inovação e empreendedorismo impulsionam diferentes processos de atuação de design em parceria com o artesanato, possibilitando a criação de diferentes produtos, serviços e processos de gestão. A inovação no âmbito artesanal consiste no desenvolvimento de novas técnicas, modelos estéticos e o uso de novos materiais, tendo conhecimento do processo de produção, resultando em produtos que mantenham sua identidade e tradição, mas que possam evoluir nos setores econômico, cultural e ambiental. Assim, o artesanato deixa sua posição de objeto útil-decorativo para atender às necessidades do mundo globalizado que preza pela qualidade estética e resistência, além de buscar seguir tendências sem deixar de lado seu viés de cultura local (SEBRAE, 2014a). “A criatividade e a inovação são tanto possíveis como plenamente aplicáveis no contexto de saberes tradicionais, em múltiplos espaços, que vão desde a percepção de novas possibilidades de comunicar seus produtos, sua cultura, serviços, formas de acesso a mercados, até a possibilidade de aplicação de processos criativos e inovadores com relação ao desenvolvimento dos produtos tradicionais, com novos insumos, novas aplicações e mesmo novas formas.” (GANEM, 2016 p 48).

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Figura 6: Design artesanal de Regina Misk. Fonte: Hometeka, s.d.

Ganem (2016) acredita que o caminho para se obter-se a efetividade dos resultados advindos do relacionamento entre design e a tradição do artesanato é através da criação de um espaço de diálogo, entendimento e inclusão, no qual o elemento principal que possibilita essa ação é o reconhecimento dos valores individuais de cada envolvido. Assim, o Design Dialógico se caracteriza como uma ação e ferramenta projetual estratégica e colaborativa, com a finalidade de estabelecer um processo de potencialização e inovação para gestão criativa de tradições. Para Borges (2011), as ações de revitalização do artesanato devem dialogar entre si e estar pautadas nos seguintes objetivos: melhorias das condições técnicas; potencialidade dos materiais locais; identidade; construção de marcas e o posicionamento dos artesãos como fornecedores. Muito além disso, este processo deve ter como base o respeito, é necessário que o designer busque compreender e perceber a riqueza criativa presentes naquele trabalho, para que se mantenha preservados os valores e referência culturais.

3.2.1. A relação entre design de moda e artesanato O projeto Moda e Artesanato promovido em 2001 pelo A Casa – Museu do Objeto Brasileiro, organização social fundada em 1997 na cidade de São Paulo com o intuito de contribuir pra o reconhecimento, valorização e desenvolvimento do artesanato e design brasileiros, foi uma das primeiras iniciativas que uniu especificamente a moda e o artesanato no país, resultando na exposição “Mão na moda, uma história brasileira” onde produtos tradicionais brasileiros, principalmente da região nordeste, eram expostos (ALMEIDA, 2017).

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Figura 7: Mostra “A Casa AMA Carnaúba. Fonte: Museu A Casa do Objeto Brasileiro, 2018.

Outro projeto de incentivo e promoção do trabalho artesanal e que de certa forma de se liga à moda é a Rede Asta. Fundada em 2005 por Alice Freitas e Rachel Schettino, a Rede Asta consiste-se como um negócio de social que atua na economia do feito á mão desenvolvendo artesãs em empreendedoras trabalham com a transformação de resíduos em produtos de valor agregado. Conectando grupos de artesãs de todo o Brasil, o projeto visa através disto criar e desenvolver soluções sustentáveis e criativas para o reaproveitamento de resíduos. Segundo o Relatório da Rede Asta 2016, o projeto conta com o apoio de 18 parceiros financiadores como o Instituto C&A, Coca-Cola Brasil, Instituto Renner e Fundação Chanel, trabalhando com 74 grupos produtivos gerando uma teia de apoio a 1.234 artesãs. Depois de um longo período de experiência no ramo, a Rede Asta desenvolveu o aplicativo Plataforma Asta, em 2018, uma tecnologia social que faz o papel de mediador entre artesãs e marcas que desejam ter acesso a produtos e serviços feitos à mão, é a través dessa plataforma que lojistas de moda e acessórios e estilistas, como por exemplo, encontram com facilidade artesãs e costureiras de todo o Brasil para atender as necessidades do seu negócio (REDE ASTA, 2019).

Figura 8: Interior da loja Rede Arta no Rio de Janeiro. Fonte: Site Rede Asta, 2019.

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Em um panorama geral, o mercado atual da moda é tomado por um sistema de coleções que chegam ás lojas semanalmente, com qualidade quase sempre deixando a desejar para que haja um descarte rápido trazendo novamente a necessidade pelo novo. O fast-fashion condicionou um comportamento de consumo desenfreado, que não prioriza qualidade, originalidade e sustentabilidade, apenas consumir (SALES, s.d.). A manualidade presente na produção de artigos de moda cria uma aproximação muito maior do consumidor com o produto. Há exclusividade e personalidade em cada peça, já que mesmo sendo feita com os mesmos pontos e modelagem, as mãos humanas não reproduzem da mesma forma (id ibid). Ao contrário da produção feita por máquinas, no processo manual há sentimento e história. A riqueza e a variedade da produção artesanal impressionam, são fabricados objetos oriundos das mais variadas matérias-primas, agregando valor a produtos de diversos setores, especialmente o do vestuário. Com a inserção do artesanato no design de vestuário, o mesmo impulsiona a criação de uma moda mais autoral, sendo capaz de se destacar no mercado nacional e internacional (SOUZA; QUEIROZ, 2015). Para Silva (2009), os consumidores contemporâneos, pertencentes a uma sociedade pós-industrial, buscam por identidade e diferenciação em meio à massificação resultante da globalização, tornando estes, requisitos para a escolha de seus bens de consumo e assim valorizando produtos originais com valor agregado, devido a sua singularidade e sua forma de produção. Tais exigências podem ser contempladas com a incorporação das técnicas manuais no processo.

Figura 9: Contribuições da moda para o artesanato. Fonte: SEBRAE, 2014b.

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Neste cenário promissor do artesanato dentro do mercado de moda, os conceitos de economia criativa podem ser tidos como uma ferramenta de propulsão para se alavancar ainda mais o setor. Segundo Martellini (2020), “a economia criativa é uma forma inovadora de atuar no mercado de trabalho visando alcançar o crescimento econômico por meio da relação entre cultura, sustentabilidade, capital intelectual e, principalmente, criatividade.”. O segmento de moda knitwear, em que knit deriva da língua inglesa e significa tricotar ou fazer malha, se refere a roupas feitas de malha retilínea e circular, como tricô e crochê, sendo elas feitas manualmente ou de forma industrial, através de maquinário específico. O universo fashion abraçou a visual handmade e, através do design de moda, agregou valor estético em peças conceituais que podem ser vistas nas passarelas das grandes semanas de moda pelo mundo e também localmente, em marcas nacionais que valorizam o trabalho feito à mão, principalmente mãos femininas.

Figura 10: Visual handmade nas passarelas. Fonte: FFW, 2017.

A marca cearense Catarina Mina, criada em 2007 sob o preceito de valorização da cultura local muito forte no estado do Ceará e na capital Fortaleza, trabalha trazendo um design moderno para suas peças artesanais utilizando diferentes técnicas de artesanato, principalmente crochê, assim como prezando por uma produção sustentável. Celina Hissa, publicitária e designer, diretora criativa e fundadora da Catarina Mina luta para conquistar o reconhecimento das artesãs colaboradoras da marca, visando o empoderamento feminino dentro do mercado de trabalho (CATARINA MINA, s.d.).

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Figura 11: Collab Neon + Catarina Mina. Fonte: Site da marca, s.d.

Outro exemplo de marca de moda brasileira que une o design a tradição é a da estilista gaúcha Helen Rödel. Também fundada em 2007, a estilistas une design às técnicas tradicionais de artesanato, com criações atemporais transformando o crochê artesanal em peças contemporâneas. Já desfilou na Islândia, apresentou coleções na Casa dos Criadores, além da participação em feiras internacionais e no SPFW (HESS, 2017).

Figura 12: Look book das peças Helen Rödel. Fonte: Site da marca, s.d.

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Em um contexto internacional, podemos citar a marca italiana Alienina, criada em 2008 com o objetivo de inspirar as pessoas a descobrirem que os materiais podem ter uma vida extra e novas funções. Segundo Garrido (2018) 90% dos materiais utilizados na fabricação das peças são resíduos de produção (como cordas de escalada) laváveis e não tóxicos, e aliados às técnicas manuais tradicionais traduzidas em um design contemporâneo, se tem como resultado peças únicas e com uma estética inovadora.

Figura 13: Bolsas Alienina. Fonte: Site da marca, s.d.

As peças de vestuário artesanais também se fazem muito presentes na moda de rua ou streetwear², elas aparecem compondo um visual diferenciado e criativo das blogueiras mais famosas. Dessa forma, a marca grega Mumshandmade, fundada em 2013, traz a manualidade tradicional de uma empresa familiar e o estilo contemporâneo através de um design exclusivo, alta qualidade da matéria-prima e tendências de moda. As peças são feitas sob encomenda, já que o processo é totalmente artesanal, o que pode levar um pouco mais de tempo do que as peças feitas industrialmente, e é isso que faz cada peça ser diferente e única (MUMSHANDMADE, s.d.).

² Streetwear – O streetwear é a tradução do jovem das principais metrópoles mundiais. Como uma forma de expressão da personalidade, o estilo surgiu na década de 70, a partir da mistura entre música, esportes, cotidiano, artes e política, sendo traduzidas na forma de vestir (SEBRAE, 2015).

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Figura 14: Peças da marca Mumshandmade. Fonte: Instagram da marca, 2019.

3.2.2. Tecnologia: a internet como novo cenário No rastro do impulso tecnológico, vivemos em um mundo da massificação e da impessoalidade, com o desenvolvimento de gadgets eletrônicos - dispositivos eletrônicos portáteis - aos quais não se pode apegar, pois possuem sua obsolescência programada em intervalos cada vez mais curtos. Nesse cenário, os objetos artesanais surgem como um contraponto. Num mundo virtual, oferecem uma experiência real, transmite cultura, memória. Trazem um sentimento de pertencimento (BORGES, 2011). Contudo a tecnologia permitiu grandes avanços e aumentou o alcance no que diz respeito à disseminação dos conhecimentos de técnicas handmade. A acessibilidade facilitada deste conteúdo permite que haja um crescimento cada vez maior da valorização e reconhecimento de práticas artesanais, principalmente quando temos em vista que as gerações atuais não herdaram essa tradição de família, mas buscam se reconectar com isso da forma mais facilitada e prática possível que a internet permite (GANEM, 2016). Para Scopel (2019) a globalização, fenômeno que marca o século XXI, se caracteriza pela aceleração das relações e pelo desenvolvimento de redes de troca de produtos, serviços e informações. Dessa forma, é possível ter acesso facilitado a uma variada gama de informações e a culturas das mais diversas partes do mundo sem precisar se deslocar fisicamente. Há atualmente um processo de reconstrução de identidades que ocorre por meio da disseminação de novas culturas. Nesse contexto, os modelos tradicionais precisam ser revistos, pois já não são suficientes para abrigar as variedades de gostos, estilos e manifestações da atualidade.

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Na internet 2.0, termo criado no início dos anos 2000 para designar a internet como plataforma e que trouxe softwares colaborativos de para criação de conteúdo, redes sociais e blogs, deixamos de ser apenas espectadores e passamos a interagir e comunicar, produzindo conteúdos próprios (IDEAL MARKETING, 2018). Isso colabora em muito no processo de revitalização do trabalho manual, aqueles que dominam as técnicas podem transmiti-las em diferentes formatos, tornando seu conhecimento global e acessível. É com o intuito de formar comunidades e compartilhar conhecimento coletivamente na internet que surgem as plataformas de ensino à distância com planos de assinatura, oferecendo cursos em vídeo que visam o aprendizado e o desenvolvimento empreendedor do indivíduo (FERNANDES, 2020). Existem hoje duas grandes plataformas que podem ser citadas como exemplo: o eduK e o Padrim. O eduK, criado em 2013, é uma plataforma de ensino online feita para pessoas que buscam aprender e desenvolver uma nova habilidade com o intuito de empreender e gerar renda. O Padrim que também trabalha com produção de conteúdo, nasceu como forma de conectar esses produtores com seus fãs e funciona como um financiamento coletivo, o que torna os projetos sustentáveis em longo prazo e os profissionais mais independentes em suas áreas.

Figura 15: Apostila digital Nat Petry. Fonte: Instagram Nat Petry, 2018.

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A designer de produto e artesã Nat Petry, trabalha como professora de técnicas manuais em Curitiba, dentre elas crochê, tricô e macramê, no atelier próprio que leva seu nome. Foi possível perceber através de uma análise no se perfil pessoal nas redes sociais que, no ambiente virtual, viu novas possibilidades de ensino e de aprimoramento das técnicas e através de aulas gravadas em vídeo e apostilas digitais, foi umas das primeiras profissionais a criarem um plano de assinatura mensal para acesso a esse conteúdo, utilizando a plataforma Padrim. Antes suas aulas eram em grande maioria presenciais, o que exigia algumas viagens e com a correria do dia a dia, muitos interessados também não estavam disponíveis nas datas dos eventos, porém, com o plano de assinatura, foi possível alcançar pessoas de todo o território brasileiro e dessa forma permitir que cada um faça as aulas do curso a qualquer hora.

Figura 16: Manchete Jessica Smarsch. Fonte: Stylo Urbano, 2015.

A inovação que percebemos através da tecnologia permite aplicar o trabalho manual de formas bastante complexas. A designer têxtil britânica Jessica Smarsch uniu de maneira totalmente nova artesanato e tecnologia em tecidos feitos à mão no âmbito industrial. Fazendo uso de sensores musculares que captam as variáveis dos movimentos do corpo humano ao tecer uma peça têxtil no tear manual, foi possível traduzi-los e transformá-los em padrões de tecelagem, etapa realizada por um tear mecânico industrial. Como resultado, se obtém peças com texturas únicas, onduladas e irregulares, assim como todo trabalho artesanal. “O projeto desafia a definição de “feito à mão”. Embora a máquina tenha feito a tecelagem do tecido, o design e todos os padrões têxteis vêm do movimento humano. Usando a tecnologia que mede o movimento, a designer foi capaz de informar a máquina todo o processo da variabilidade sutil do movimento humano de forma repetitiva.” (CUNHA, RENATO PARA SITE STYLO URBANO, 2015).

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Outra ferramenta tecnológica que pode ser utilizada em prol da revitalização do artesanato é o comércio eletrônico ou e-commerce. Segundo o SEBRAE (2014e) o setor está em amplo crescimento e aponta que em 2013 o faturamento foi de aproximadamente R$ 28 bilhões no Brasil, onde os segmentos de decoração e acessórios de moda se apresentam como oportunidades promissoras para os artesãos. No que diz respeito ao comércio eletrônico, configura-se como vantagem para o segmento artesanal a visibilidade das produções em nível nacional e internacional, um novo canal de comercialização potencializador de vendas, além de ampliação do mercado, gerando encomendas por todo o país.

3.2.3. O papel das redes sociais para a identidade de marcas artesanais Com o universo colaborativo trazido pelos os avanços da internet 2.0, é possível notar que as redes sociais mudaram as formas com as quais as empresas e seus consumidores se relacionam. Estas redes assumiram um papel crucial nas relações e na comunicação humana, tanto pessoal como profissional, e para as marcas, serve como uma das ferramentas mais efetivas para estabelecer conexões com seu público alvo e consumidor. Pesquisas recentes realizadas pela GlobalWebIndex (BBC NEWS BRASIL, 2019) apontam que atualmente cerca de 3 bilhões de pessoas usam as redes sociais no mundo e que a América Latina, onde gastam em média 150 minutos por dia nas mídias, lidera o ranking mundial. Com esse cenário, as empresas e marcas vislumbram a possibilidade de interagir com seu público através dessas plataformas, abrindo espaço para uma maior aproximação e para o anúncio de produtos e serviços (SEBRAE, 2020a).

“Para o artesanato são importantes as ferramentas de comunicação, uma vez que proporcionam um contato mais próximo com o público e podem servir de base de dados sobre os clientes, como peças preferidas ou cores mais vendidas. A comunicação deve ser uma fonte de informação para o cliente, com especificações a respeito da peça, tipo de artesanato e material utilizado e ainda região onde foi produzida.” (SEBRAE, 2014c).

As plataformas de divulgação, que incluem as redes sociais, incorporam cada dia mais funções. Por meio das mesmas, são criados eventos e divulgadas fotos de produções artísticas, por exemplo. Assim, as mídias sociais possibilitam não só a divulgação de culturas e vendas, mas também criam comunidades de interação e identificação a partir do conteúdo que se produz (SCOPEL, 2019).

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Outro quesito relevante para o processo de desenvolvimento de produtos artesanais se refere a equipar os objetos com um programa de identidade visual (marcas, etiquetas, embalagens bem-feitas, catálogos, displays nos pontos de venda e site). Isso é muito importante para comunicar os valores intangíveis dos objetos artesanais, pois quando se compara estes produtos com os industriais eles acabam perdendo no quesito preço, por isso a importância do valor agregado (BORGES, 2011). A partir da junção de uma identidade visual bem estabelecida e elaborada com a forte presença nas redes sociais, surgem as marcas artesanais de profissionais independentes e autorais, com estilo próprio, que conseguem se destacar através de novos conceitos estéticos trazendo inovações nos métodos de ensinar, no design agregado em suas criações com peças mais modernas e contemporâneas, fazendo do trabalho manual um estilo de vida a ser compartilhado, conquistando assim milhares de seguidores e potenciais consumidores.

Figura 17: Feed Instagram Amora Amorinha. Fonte: Instagram da marca, 2020.

Analisando o perfil nas redes sociais de Andressa Lopes, professora de artes manuais e criadora da marca Amora Amorinha, é possível notar que ela mostra seu estilo próprio, mais moderno e contemporâneo, que traduz bem sua personalidade e a maneira como desenvolve suas peças, além de divulgar seus cursos e workshops online. Também publica conteúdos autorais de reflexão relacionados ao tema “faça você mesmo”, o valor do artesanato, além de acrescentar ao seu trabalho um viés de empoderamento feminino e defesa da causa feminista, em que relaciona a força feminina ao processo manual.

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Figura 18: Feed Instagram Nat Petry. Fonte: Instagram da marca, 2020.

Em contraponto, ao analisar o perfil da artesã e designer Nat Petry, foi possível perceber um estilo contrastante com o da Amora Amorinha, demonstrando a variedade de identidades de marcas artesanais presentes no universo das redes sociais. Com 54,5 mil seguidores, a artesã traz uma estética divertida, colorida, em peças mais conceituais fazendo muito uso do fio de malha, material proveniente de resíduos da indústria têxtil, além de técnicas variadas. Por sua formação em design de produto, trabalha de forma bastante experimental, inovando no uso de materiais e formas mais simples de ensinar as técnicas através de cursos online, com os quais foi uma das primeiras a lançar o plano de assinatura para acesso de conteúdos pagos exclusivos. De modo geral, as redes sociais se mostram uma ferramenta de uso positivo para os negócios e marcas artesanais. Manter um relacionamento direto com os clientes possibilita conhecer melhor suas necessidades e dessa forma aprimorar o produto. Muito além de apenas vender objetos, essas marcas presentes no ambiente virtual buscam, através do desenvolvimento de conteúdos de qualidade, um maior engajamento do público, sendo uma forma de conquistar a revalorização do trabalho feito à mão (SEBRAE, 2020b).

3.2.4. 3.2.4. A evolução do conteúdo handmade: do “passo a passo” ao lifestyle Atualmente, quando refletimos sobre a cultura artesanal, notamos que há uma enorme variedade de fontes e materiais sobre o assunto. O artesanato enfrentou mudanças ao longo dos anos e assistiu importantes acontecimentos históricos, desde os processos de industrialização até períodos intensos de guerra. Dessa forma o conteúdo evoluiu, acompanhou tudo isso buscando se adequar e atender as necessidades de cada época.

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As revistas de “faça você mesmo” faziam grande sucesso no início do século XX, como por exemplo, a revista norte-americana “NeedleCraft – The Magazine of Home Arts”, publicada pela primeira vez por volta de 1910 em Augusta, capital do estado do Maine, cidade que, entre os anos de 1869 e 1942, foi considerada um centro de publicações e fabricações (CREASON, 2016).

Figura 19: Capa NeedleCraft Magazine – 1931. Fonte: Instagram Revista Urdume, 2020.

Ainda no século XX, a Grande Depressão, também conhecida como a Crise de 1929, assolava o mundo em uma profunda crise econômica onde os recursos se tornaram muito escassos. Essa situação de depressão econômica, que causou altas taxas de desemprego e quedas drásticas na produção industrial, se estendeu e persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com o fim da Segunda Guerra Mundial (SUPER INTERESSANTE, 2011). Neste cenário de dificuldades, muitas famílias recorreram ao artesanato e aos projetos DIY (“faça você mesmo”) para economizar dinheiro e também para encontrar hobbies novos e acessíveis. Figura 21: Bordados em fio de lã NeedleCarft. Fonte: Museum Textile Service, 2013.

Figura 20: Edições NeedleCraft Magazine – 1931. Fonte: Etsy, s.d.

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Anúncios antigos são uma janela especialmente interessante para o passado, e os anúncios da NeedleCraft durante o período da Depressão são claramente direcionados às donas de casa preocupadas com a condição financeira de suas famílias. Um anúncio de fermento em pó traz no título: "Casar com US $ 20 por semana exige coragem hoje em dia". Ele lista os custos dos ingredientes necessários para um bolo de chocolate, passando a mensagem de que não vale a pena usar um “fermento barato e não confiável”, pois não se pode arriscar que o bolo não cresça e seja um desperdício, retratando de forma sutil a situação familiar da época (MUSEUM TEXTILE SERVICES, 2013).

Figura 22: Anúncio de fermento na NeddleCraft. Fonte: Museum Textile Services, 2013.

Muita coisa mudou desde a década de 1930, mas, considerando as dificuldades vividas naquele período, é possível notar que se aflora o instinto dos indivíduos em fazer algo criativo diante dessas situações, o que também fortalece o processo de revitalização do artesanato atual onde ainda se enfrentam diferentes dificuldades e o trabalho manual ressurge como uma alternativa. Um exemplo brasileiro deste tipo de conteúdo é a “Enciclopédia de Trabalhos Manuais”, de Berta Schwetter, versão traduzida da original alemã com edições do ano de 1942 e também dedicada às mulheres donas de casa dos anos 40 a 60. Em uma mesma perspectiva de recessão econômica, a autora aponta na introdução da obra:

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“[...] o que estamos procurando sugerir às donas de casa é que dela depende a paisagem doméstica, e que a habilidade manual em muitos casos pode compensar a falta de recursos monetários.” (SCHWETTER, 1942).

Figura 23: Enciclopédia de Trabalhos Manuais. Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

Com 750 páginas e 1.700 ilustrações, a Enciclopédia mostra através de imagens e ilustrações, com clareza excepcional, como se faziam crochê, tricô, tecelagem, rendas, trabalhos em ráfia e junco, bordados e tapeçaria, bem como matelassês e traçados. Essa obra alcançou na época grande sucesso já que reunia em um único livro centenas de possibilidades e ensinamentos artesanais com fins decorativos e utilitários para a dinâmica do lar. É importante destacar que nesse período, a mulher estava inserida em um contexto onde seu papel era gerir o lar. Com a crise econômica, a dona de casa era responsável por fazer do lar um ambiente funcional e organizado, ficando em casa e sendo produtiva, criativa, através do aprendizado das técnicas manuais, costura e culinária, além de educar os filhos (MUSEUM TEXTILE SERVICES, 2013).

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Figura 24: Crochê Tunisiano, Enciclopédia de Trabalhos Manuais. Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

Figura 25: Crochê Filé, Enciclopédia de Trabalhos Manuais. Fonte: Arquivo pessoal, 2019.

Depois de um longo período de evolução e mudanças, com a ascensão da internet 2.0, a partir dos anos 2000, as redes sociais e os softwares colaborativos para criação de conteúdo tornaram-se essenciais e tornaram o acesso às informações muito mais prático e rápido (IDEAL MARKETING, 2018). Os materiais sobre manualidade produzidos passaram a ocupar também esse espaço virtual, como os vídeos tutoriais em canais no YouTube, que alcançam hoje cada vez mais espectadores. Com o crescimento da cultura do “faça você mesmo”, muitas pessoas buscam uma maneira prática e econômica de aprender novas habilidades e hobbies para aplicar em projetos pessoais.

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Figura 26: Canal no YouTube de Maddu Magalhães. Fonte: Youtube, 2020.

Além de estar amplamente presente no âmbito virtual, as artes manuais também se ligam profundamente à esfera comportamental e como forma de expressar sentimentos e ideias. Surge então um novo tipo de conteúdo, ainda em crescimento, em que o artesanal é colocado como estilo de vida, e tratado não somente com o intuito de se produzir peças, mas também de motivo para reflexões pessoais e coletivas. Os mesmos profissionais que ascenderam com a adesão às redes sociais são, em sua maioria, responsáveis pela criação e disseminação desse material seja através de seus canais de vídeo, impressos ou até mesmo de forma híbrida, como por exemplo, a Revista Urdume. Idealizada em 2018, a Revista Urdume “é uma iniciativa de pesquisa e prática sobre artes manuais têxteis, expressão e autoconsciência,” e tem como “missão estimular conexões entre as artes manuais têxteis e outros saberes, contribuindo para a circulação de ideias que promovam o fazer manual como um caminho para a autoconsciência” (URDUME, s.d).

Figura 27: Exemplares Revista Urdume. Fonte: Site da revista, s.d.

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3.3. O viés comportamental do fazer â mão A prática artesanal surgiu em um momento de individuação do ser humano, pois está amplamente ligada à personalidade, habilidade, criatividade e conhecimentos pessoais de cada indivíduo, o que evidencia as diferenças e as características distintas entre grupos interligados (REVOLUÇÃO ARTESANAL, s.d.). Em uma conjuntura de imediatismo, fortalecer a qualidade de presença e o potencial transformador do feito à mão nos convida a refletir e respeitar o tempo que tudo leva para ser feito. No mundo globalizado recebemos uma enorme quantidade de informações e consumimos apenas o que já chega pronto para nós, tornando desconhecido todo o processo de produção e o tempo “embutido” nesses produtos e objetos. Por meio do fazer artesanal nos permitimos abraçar a nós mesmos, reconhecendo medos, qualidades, memórias e conhecimentos (id ibid). Com o movimento da cultura maker, busca-se uma reconexão com o fazer manual, muitos se descobrem habilidosos em atividades fora de seu repertório de autoconhecimento. Ao se expressar através das técnicas artesanais, descobrem-se também as necessidades, as vontades, gostos e preferências de cada um individualmente, e em uma esfera coletiva, ampliar os horizontes se permitindo vislumbrar o novo (HIRT, 2018). “[...] o fazer artesanal exige concentração e dedicação, trazendo nossa consciência para o presente, induzindo nossa mente a um estado meditativo. Dessa forma, é possível desligar-se da rotina, das preocupações passadas e futuras bem como da pressão de ser perfeito. onde a perfeição artesanal está nas imperfeições. A autonomia de improvisar, tomar decisões e fazer do seu jeito também pode ser libertadora.” (REVOLUÇÃO ARTESANAL, s.d.).

O aconchego e a auto conexão, além do sentimento de nostalgia trazido pelo trabalho manual, traduz de forma artística e criativa essas necessidades, agregando ao produto manual uma grande carga emocional, um pouco da história de cada artesão juntamente com um apurado senso de identidade, coletiva ou individual.

3.3.1. Cultura maker: reconectar-se através do “faça você mesmo” A massificação e a impessoalidade que vemos atualmente no mundo, frutos do impulso tecnológico e do processo de globalização, fazem das práticas artesanais um contraponto a essa visão, proporcionando experiências reais e tangíveis, com um sentimento de identificação e pertencimento (BORGES, 2011). A partir da busca por pertencimento e liberdade presentes no trabalhar com as mãos, surge o movimento maker.

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O movimento maker representa a cultura conhecida como “faça você mesmo”, ou DIY, e tem como principal objetivo estimular a criatividade das “pessoas comuns” desenvolvendo habilidades variadas. Com base nos preceitos de construir, consertar, modificar ou fabricar os próprios objetos, tornam seus adeptos os chamados makers, que inovam elaborando soluções criativas em muitos campos, tais como arte, design e artesanato (HIRT, 2018). A indústria do consumo e a sustentabilidade são gatilhos que incentivam cada vez mais a adesão a essa cultura disruptiva, é uma reação à desvalorização do manual em prol do feito a maquina, frutos da industrialização, e à crescente sensação de desconexão com o que é físico e palpável. O perfil do consumidor muda, passa a ser mais participativo e se transformam em “criadores” (RAMOS, 2019). Fazer é fundamental do que significa ser humano e na busca pela reconexão com o que se consome, muitos se descobrem capazes de produzir. O processo do “faça você mesmo” é muito rico, pois possibilita descobertas pessoais, interação e formação de comunidades, para compartilhar conteúdos de interesse comum, além de fortalecer e valorizar o trabalho artesanal. A cultura maker também pode ser considerada como uma ferramenta forte e efetiva, em tempos de massificação, que une o design ao artesanato, nesse longo processo de redescoberta do manual (id ibid).

4.Resultados Ao longo dos últimos anos, percebe-se um movimento de aprender e resgatar as técnicas manuais e isso acontece em uma esfera ampla, sem muitas barreiras de gênero ou conhecimento prévio e independente de outras responsabilidades. O público que, através do desejo de equilibrar os excessos do cotidiano, ressignifica suas atividades e rotina através da adesão ao feito à mão. A variedade da produção artesanal brasileira é uma das mais ricas e expressivas do mundo, em razão da diversidade de estilos e técnicas específicas que são produzidas a partir das mais diversas matérias-primas, costumes, tradições e características de cada região. Com um sistema de produção de baixa complexidade, em comparação ao processo industrial, e demanda crescente, o setor artesanal tem atraído cada vez mais pessoas que desejam explorar uma nova oportunidade de fonte de renda. Além disso, o setor ainda se posiciona como eixo estratégico ao ser capaz de vincular setores como o de turismo e integrar diversos negócios relacionados com a economia da cultura, do entretenimento e do lazer (SEBRAE, 2020c). O SEBRAE (2020c) traz em boletim informativo sobre o mercado varejista do artesanato dados que mostram essa crescente valorização dos produtos feitos à mão, dados esses revelam que o artesanato é fonte de renda para aproximadamente 10 milhões de pessoas. Esses profissionais artesãos são responsáveis pela movimentação de

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cerca de R$50 bilhões todo ano, assumindo em 2020 seu melhor momento. A valorização do produto artesanal pode e é evidenciada por meio da aproximação com outras áreas de atuação, hoje tem o design como principal aliado neste caminho. A prática e metodologia projetual entendida pelo designer auxilia o artesão quanto à concepção de novos produtos, conceitos e mercados. O papel do designer, em vários momentos, é menos o de autor e mais o de facilitador e estimulador de processos, porém hoje também pode ser o próprio artesão. (BORGES, 2011). O design em muito contribui para aperfeiçoar a utilização de recursos e suas potencialidades ainda pouco ou quase nada exploradas no que diz respeito ao desenvolvimento da produção artesanal, buscando unir de maneira estratégica e simbólica, cultura e inovação em um processo colaborativo entre os dois âmbitos (DELLANI e EUFRASIO, 2017). Além de produtos como fruto desta relação podemos ver hoje uma vasta gama de conteúdo sobre trabalho manual que variam desde vídeo aulas e apostilas online a revistas e sites especializados no assunto tratando-o como um estilo de vida. Como exemplo claro dos benefícios múltiplos advindos da relação entre design e artesanato e de como a mesma é promissora para um contínuo crescimento do setor, tem-se marcas como a da designer mineira Regina Misk. Trazendo a ideia de desacelerar a produção, Regina desenvolve artesanalmente móveis e peças de roupas exclusivas, produzidas uma a uma, com sua equipe de artesãos que a acompanha há muito tempo. Através de suas criações, a artista une brasilidade e o fazer manual em um design diferenciado e peças de luxo.

Figura 28: Poltrona Concha de Regina Misk. Fonte: Site da marca, s.d.

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Um fator importante, identificado através das pesquisas, é que vivemos em um mundo da massificação e da impessoalidade, com o desenvolvimento da tecnologia e com a rotina frenética das cidades. Nesse cenário, os objetos artesanais surgem como um contraponto. Num mundo virtual, oferecem uma experiência real, transmite cultura e memória. Trazem um sentimento de pertencimento e uma noção diferenciada de tempo (BORGES, 2011).

5.Discussão e Análise O artesanato é um patrimônio cultural de valor inestimável que nenhum povo pode correr o risco de perder. Mas esse patrimônio não deve ser congelado no tempo, já que assim é vencido pelo esquecimento. E é na transformação respeitosa que entra o papel dos designers. Com uma linguagem contemporânea, o artesanato ganha status de exclusividade atualizando técnicas centenárias, desenvolvendo artigos refinados, seguindo o estilo handmade para trazer um olhar renovado sobre culturas locais. Lipovestsky (2015) aponta que na segunda era do processo de “estetização do mundo”, a qual chama de “estetização aristocrática”, que se deu na saída da Idade Média e se estendeu até o século XVIII, é quando se constitui as primícias da modernidade estética com o advento da separação entre o estatuto de artesão e o de artista, momento em que as criações eram destinadas a agradar os olhos do público e não mais apenas comunicar os ensinamentos religiosos, como na era da “artealização ritual”. Esse momento é contemporâneo à vida da corte, com o aparecimento da moda e dos “tratados de boas maneiras”. A construção do que hoje entendemos como artesanato vem de muito tempo. Tempo esse que marcou grandes mudanças nos meios de fabricação e um longo período de desvalorização até chegar aos dias atuais onde se vê um caminho de retomada que foi e está sendo fortemente traçado, principalmente no meio virtual. O mundo industrial se distanciou e desviou amplamente da criação artística e visual. A Revolução Industrial, que abrangeu os séculos XVIII e XIX, foi um grande momento histórico e marcou a transição dos métodos de produção: do artesanal para o industrial, gerando grandes mudanças no estilo de vida das pessoas (OLIVO, 2019). O maquinismo arrasta a sociedade para o seu declínio em termos estéticos, ocasionando o “fim da beleza”, do que é ornamental, neste caso a revalorização do trabalho manual se coloca como uma solução (LIPOVETSKY, 2015). No decorrer da segunda metade do século XIX movimentos críticos à qualidade dos produtos industriais, por imitarem o artesanato utilizando materiais substitutos que permitem a produção em série a custo mais baixo, surgem com força.

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O movimento Arts & Crafts, impulsionado por Ruskin e William Morris, se propõe a questionar e a rejeitar o maquinismo em prol da volta do trabalho manual seguindo os modelos da Idade Média (guildas). Para Ruskin, como aponta Lipovetsky (2015), nada é mais importante do que resgatar e revalorizar os processos e métodos artesanais conhecidos de antes da modernidade, em uma tentativa de escapar dos “estragos estéticos” e dos conflitos entre qualidade e produção mecânica trazidos pelo maquinismo industrial. Foi na renovação das artes decorativas, na fusão da arte e do artesanato que se buscou a solução para os estragos estéticos da mecanização moderna. Assim como a Bauhaus, que em um primeiro momento se comporta de maneira concordante a unificação de arte e artesanato, mas que a partir de 1922, com uma reviravolta e com a adesão à ideia do funcionalismo, passa a rejeitar também todas as formas de narração simbólica e de ornamentação, muito fortes no artesanal. Como observado por Serafim, Cavalcanti e Fernandes (2015), apenas por volta dos anos 2000 houve um tímido aumento crescente nas ações e iniciativas de design junto a grupos de produção artesanal. Neste recente cenário, observa-se que temáticas como sustentabilidade, economia criativa e solidária, inovação e empreendedorismo impulsionam diferentes processos de atuação de design em parceria com o artesanato, possibilitando a criação de diferentes produtos, serviços e processos de gestão. Porém, duas décadas antes, nos anos de 1980, o trabalho de dois irmãos brasileiros ganhava notoriedade nacional e internacional. O início da trajetória dos irmãos Campana, Fernando e Humberto, se deu com a confecção de pequenos objetos, esculturas e artigos trançados com fibras naturais. Já logo no início dos anos 2000, tornaram-se os designers brasileiros mais conhecidos no exterior, se destacando pelo uso de materiais inusitados, como tubos de PVC, bichos de pelúcia e plástico bolha, além da característica forma de ressignificação desses materiais, propostos em novos contextos e conceitos que misturam valores simbólicos e culturais (CRESTO e QUELUZ, 2009).

“O pluralismo presente na obra dos Campana também aproxima o design que desenvolvem com o defendido pelos pós-moderno. Essa aproximação é percebida, inclusive, pela rápida aceitação que os designers brasileiros alcançaram na Itália. Eles inspiram-se no artesanato, e, mesmo aquelas peças produzidas industrialmente, partem de uma manufatura, seja pela concepção, seja pela fabricação dos protótipos.” (id ibid, 2009 p.41).

O caráter pós-moderno do trabalho desenvolvido ao longo dos anos pelos irmãos Campana estimula a reflexão sobre o viés internacional e a discussão do regional e do nacional. Os designers usam elementos locais, em uma perspectiva pós-moderna, que contribui para transformar estes elementos em novos significados. Desenvolvem móveis classificados como um design de luxo, porém fazem isto a partir do banal e do

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simples, do que é considerado pobre e comum. Eles são pós-modernos no sentido em que adotam múltiplas referências, a pluralidade, a heterogeneidade, o trânsito entre as fronteiras da arte e do design, do artesanato e do industrializado (CRESTO e QUELUZ, 2009). A valorização do artesanal que começou fora do Brasil, tendo os irmãos Campana como principais figuras representativas, teve seu inicio há mais de 30 anos e, através do seu reconhecimento, abriram caminho para que outros designers, como por exemplo Regina Misk, também tivessem seus produtos e criações colocados em destaque. Produtos esses que hoje são cobiçados e estão contidos no mercado de luxo do artesanato, com peças de preços pouco acessíveis, mas com um grande valor agregado. Lipovetsky (2015) aponta que não faltaram correntes modernistas que denunciaram a nefasta distinção entre “Grande Arte” e “artes menores”, do Arts & Crafts à Bauhaus, preconizando a igual dignidade de todas as formas de arte, uma arte útil e democrática sustentada pela reabilitação das artes aplicadas, das artes industriais, das artes de ornamentação e de construção. É na última das eras do processo de estetização do mundo, a chamada era “Transestética”, que Lipovetsky (2015) aponta o boom de uma nova cultura individualista que dá prioridade aos desejos de autonomia, de realização e de expressão de si. Por esses motivos o artesanato hoje é visto no patamar mais alto do consumo de luxo, assim como a moda, a forma que nos vestimos, o artesanal é uma forte expressão artística e traduz de forma única às novas necessidades da sociedade contemporânea. Em um passado distante, as mulheres eram responsáveis por fiar e tecer, transformando natureza em cultura através da tecelagem. Em grupos, passavam os dias reunidas, tecendo, contando histórias, e enquanto tramavam os fios, não só os transformava em vestimenta, mas também criavam suas próprias narrativas. Essas mulheres então dominavam os dois principais símbolos primários da civilização: a linguagem e vestimenta. Estes saberes nunca se perderam, porém ficaram adormecidos por um longo período. As atividades manuais têxteis, antes coletivas, tornaram-se solitárias e contidas ao espaço do lar. A linguagem, que antes também era principal símbolo de sabedoria, se vê substituída pela escrita, de domínio exclusivo masculino, a qual passou a ser ferramenta de opressão. Os fios ofereceram às mulheres sua vertente linguística até que as mesmas conquistassem o direito à escrita (LIMA, 2019a). Por isso, muito se deve às mulheres e ao seu papel fundamental de protagonistas neste processo de revitalização do fazer manual. As artes manuais estão fortemente ligadas a elas e por muito tempo estiverem enclausuradas em casa, como as mesmas. Hoje em dia, com o ressurgimento forte do feminismo e as vozes das novas gerações, estes trabalhos estão sendo vistos, apreciados e valorizados. Fazemos parte de uma geração que tem liberdade de escolha sobre suas atividades, tempo em que o fazer manual não é mais uma imposição que aprendemos apenas para ser mulheres “prendadas” e, a partir do momento que o ofício manual passa a ser uma opção, perde-se o peso da obrigação e dos rótulos de uma sociedade patriarcal (id ibid).

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A tecnologia permitiu grandes avanços e aumentou o alcance no que diz respeito à disseminação dos conhecimentos de técnicas handmade. A acessibilidade facilitada deste conteúdo permite que haja um crescimento cada vez maior da valorização e reconhecimento de práticas artesanais. Na internet 2.0 deixamos de ser apenas espectadores e passamos a interagir e comunicar, produzindo conteúdos próprios, aqueles que dominam as técnicas podem transmiti-las em diferentes formatos, tornando seu conhecimento global e acessível. Para Cris Bertoluci a diferença entre as práticas manuais tradicionais feitas por nossas avós e o que vemos nos dias atuais é o meio de divulgação e a informação. Enquanto no passado se tinha acesso a três ou quatro revistas por ano e à meia dúzia de fios, atualmente temos receitas produzidas em diversas línguas vindas de diferentes países, assim como materiais que vão desde fibras naturais aos resíduos da indústria têxtil. A internet é agente impulsionador do fazer manual, vivemos os resultados da web 2.0. No início éramos mais passivos, quando a internet começou a se comportar de forma interativa e colaborativa, estimulamos nossa curiosidade e criamos comunidades em torno de quase tudo que realizamos (LIMA, 2019b). Atualmente, quando refletimos sobre essa crescente cultura artesanal, notamos que há uma enorme variedade de fontes e materiais sobre o assunto, o conteúdo evoluiu, acompanhou todos os processos e mudanças da sociedade buscando se adequar e atender as necessidades de cada época. As revistas de “faça você mesmo” faziam grande sucesso no início do século XX, como por exemplo, a revista norte-americana “NeedleCraft – The Magazine of Home Arts”, que trazia um discurso totalmente direcionado às mulheres donas de casa através de anúncios e propagandas. O que assistimos hoje, com o Instagram sendo principal meio de comunicação de marcas, a disseminação de um conteúdo que é também direcionado às mulheres, porém não exclusivamente, com um discurso de libertação e empoderamento das mesmas. A partir dos anos 2000, as redes sociais e os softwares colaborativos para criação de conteúdo tornaram-se essenciais e tornaram o acesso às informações muito mais prático e rápido. Os materiais sobre manualidade produzidos passaram a ocupar também esse espaço virtual, como os vídeos tutoriais em canais no YouTube, que alcançam hoje cada vez mais espectadores. Com o crescimento da cultura do “faça você mesmo”, muitas pessoas buscam uma maneira prática e econômica de aprender novas habilidades e hobbies para aplicar em projetos pessoais ou até mesmo complementar renda. Para aqueles que ainda buscam referências físicas para conquistar esse conhecimento manual, temos hoje uma grande variedade também de livros bastante didáticos e visuais, com ilustrações de como fazer determinadas peças de forma prática e de fácil entendimento. Aqui no Brasil destaca-se a editora GG (Gustavo Gili), vinda de Barcelona, que traz em seu vasto catálogo de publicações voltadas para as “Grandes Artes”, uma seleção variada de títulos DIY, práticas que até pouco tempo eram consideradas “Artes Menores” e desvalorizadas, recebendo igual visibilidade que os livros de artes e arquitetura, por exemplo.

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Mesmo com todos os avanços benéficos trazidos pela tecnologia e redes sociais, e em contraponto a desacelerar e viver em um mundo com uma carga cada vez maior de estímulos, onde não é suficiente apenas ser receptor, mas também emissor, diversos artesão sofrem constantemente neste cenário virtual a cobrança incessante de produzir e ser criativos, sem espaço para bloqueios ou esgotamento de repertório. O que de início pode parecer apenas uma busca saudável pela retomada do fazer manual, pode na mesma medida criar um ambiente de exploração abusiva e desenfreada. Aliado de certa forma à tecnologia, o design de moda também funciona hoje como relevante agente propulsor do artesanal e principalmente na construção de sua estética atual. O universo fashion abraçou a visual handmade e, através do design de moda, agregou valor estético em peças conceituais que podem ser vistas nas passarelas das grandes semanas de moda pelo mundo e também localmente, em marcas nacionais que valorizam o trabalho feito à mão, principalmente mãos femininas. O Sebrae (2014b) traz em cartilha informativa os plurais papéis em que a moda pode exercer em conjunto ao artesanato. A partir das tendências de moda, ditadas pela indústria a cada estação, são capazes de direcionar o artesanal em relação ao tipo de matéria-prima mais valorizada do momento, cores, acessórios componentes dentre outros detalhes que indicam aos artesãos um foco para atender as demandas do setor. Tudo isso deve ser seguido sem deixar de lado a agregação de valor cultural e tradicional nas peças, sem fazer do que é diferencial se tornar algo homogeneizado e massificado, oferecendo produtos diferenciados e exclusivos ao mercado competitivo. A moda também pode contribuir de forma positiva, através do fazer manual, para reduzir os danos que causa ao meio ambiente, como por exemplo. A reciclagem de materiais e o upcycling³ quando unidas ao trabalho artesanal geram produtos únicos e com design contemporâneo, muito embora a indústria tenha mais facilidade e acesso à matéria-prima virgem do que à reciclada. No atual ano de 2020, o mundo se deparou com uma das maiores crises com a chegada da pandemia Covid-19. Com isso, o sentimento de incerteza se tornou crescente na população mundial, que busca cada vez mais um escapismo da realidade, ou então, pelo menos, por alternativas para se desligar e desacelerar o ritmo frenético de suas vidas. Os movimentos conhecidos como slow ganharam uma nova força e nunca fizeram tanto sentido como nos dias atuais (GOUVÊA, 2020). Desse modo, o Slow Living surge como uma forma de trazer esse bem-estar e tranquilidade para o cotidiano através de diferentes práticas, além influenciar, e muito, o cenário da moda. Esse termo tem origem no Slow Food, prática que surgiu nos anos 80 como contraponto ao fast food, valorizando a qualidade dos alimentos e tradições regionais. A partir disso, outros movimentos também slow foram surgindo, como o Slow Fashion, e todos juntos formam esse novo estilo de vida completo que preza pelo ³ Upcycling - Processo de customização que consiste em manter a estrutura do material da peça que será reaproveitada e colocar uma aplicação diferente da original (LOBATO, 2019).

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equilíbrio, desaceleração e por uma forma de consumo sustentável (id ibid). Dentro do lifestyle slow living, o slow fashion surge como a vertente da moda que foca em reduzir a velocidade das cadeias de produção, e por consequência o consumo exacerbado e os impactos ambientais, valorizando a vida útil e qualidade das peças. Entre as características principais do slow fashion, está a apreciação dos trabalhos manuais e da estética artesanal, além da valorização da produção independente e local. O externo nos convida e nos chama atenção a todo o momento, assim como ao compartilhamento de opiniões, exposições, com o isolamento as pessoas se viram mais introspectivas e em busca de uma válvula de escape. O artesanato se coloca em uma posição estratégica nesse cenário, em que se revaloriza por estar amplamente ligado aos anseios atuais da sociedade e pela capacidade de cumprir seu papel tanto “terapêutico” quanto como uma já conhecida e redescoberta fonte de renda.

Figura 29: Gráfico do crescimento das buscas online pelo termo “crochê”. Fonte: Google Trends, 2020.

O gráfico acima demonstra de forma ilustrativa e clara o gradativo crescimento das buscas online pelo termo “crochê”, umas das principais e mais praticadas técnicas artesanais, desde o início do ano. É possível notar no gráfico que com o início da crise advinda da pandemia, as pesquisas seguiam um ritmo uniforme e já quando a situação se agrava, os índices aumentam e seguem ainda em crescimento constante.

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6.Conclusão O presente trabalho teve como escopo desenvolver um projeto de design de moda pesquisando as nuances históricas e evolutivas do artesanato, analisando seu processo de valorização e ressignificação tendo o design no papel principal de impulsionador, além de perceber suas influências na moda contemporânea. Cada objetivo traçado foi essencial para o desenvolvimento do projeto, beneficiando diretamente o material digital (e-book) gerado para consulta livre e principalmente para a conclusão desta pesquisa. O estudo do artesanato tradicional, suas origens e definições, oportunizou o conhecimento da cultura e de como traduz em objetos a história evolutiva da humanidade. Aliado ao estudo sobre design possibilitou traçar uma linha do tempo que mostra como estas duas áreas estão amplamente interligadas, da mesma forma entender sua relação com o artesanal até os dias atuais e seu protagonismo neste processo de revitalização. Ao se profundar em temas mais alternativos e com um viés comportamental relacionado ao artesanato, foi possível destacar seu novo conceito e imagem. O que antes era visto apenas como passatempo feminino, hoje serve também como fonte de renda e ainda mais como forma de expressão pessoal e artística do indivíduo, um novo estilo de vida atrelado ao movimento crescente da cultura maker, que não distingue gênero e nem idade. Muito disso se deve à evolução do conteúdo handmade que, como observado nesta pesquisa, traz juntamente com a tecnologia e internet uma nova didática para passar adiante o conhecimento de técnicas manuais de maneira mais criativa, envolvente com vídeos tutoriais explicativos e com uma estética moderna. Através da análise dos perfis em redes sociais de artesãs e profissionais da área artesanal, foi possível notar a importância da criação de uma identidade e uma marca para seus negócios. Isso alavanca o valor agregado nos produtos, atrai novos clientes, além de criar pequenas comunidades de seguidores que se interligam pelo interesse comum em consumir peças autorais e muito ainda conteúdos relacionados. O tema central deste trabalho e seus sub-tópicos tiveram início no Projeto de Iniciação Científica (PIBIC), de mesma autoria do presente, denominado “A crescente valorização do handmade e das técnicas de crochê como ferramenta de empoderamento feminino.”, que possibilitou prévias experiências em campo, como cursos de artesanato (presenciais e online), gerando uma aproximação com a realidade de profissionais da área. Isso agregou valor e profundidade às abordagens tratadas, transcendendo barreiras entre pesquisadora e objeto pesquisado.

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Por último, é importante citar algumas poucas dificuldades encontradas no caminho de desenvolvimento deste trabalho que serviram para motivar e engajar as buscas de forma mais intensa. Houve dificuldades para encontrar materiais, autores e fontes de busca confiáveis para embasar o estudo sobre a evolução do conteúdo handmade, por ser ainda um tem a pouco explorado. Muitas dessas informações e arquivos de outras épocas, como revistas e livros, acabaram se perdendo ou ainda não foram explorados em sua complexidade, já que traduzem a realidade do tempo onde se fizeram presentes e são muito importantes para um melhor entendimento da mesma. De modo geral, fica evidente que todos os temas e sub-temas são muito ricos, abrindo espaço e possibilidades para futuras novas pesquisas. Dentre todos, principalmente sobre a evolução do conteúdo handmade, já que as fontes são escassas e muito do que se tem está em inglês, e também sobre a questão da ligação das mulheres, do feminino, ao fazer à mão, entender a fundo seu papel de protagonistas no processo de revitalização e fortalecimento de ambos ao longo da história. No desenvolver do projeto pôde-se notar a evolução da autora e o desenvolvimento de seu caráter acadêmico como pesquisadora. O presente projeto de pesquisa tornou-se um portal para novas descobertas, proporcionando uma visão mais humanizada e social das questões que envolvem e se entrelaçam ao Design de Moda. Assim o trabalho de conclusão de curso chega ao fim, foi um projeto de grande crescimento pessoal e que colocou a prova muitas das aptidões que foram adquiridas ao longo dos anos de curso.

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