ILAESE
Estudo econômico CSN Fevereiro de 2018
Apresentação Esta cartilha é uma produção do Sindicato Metabase Inconfidentes conjuntamente com o ILAESE (Instituto Latino Americano de Estudos Sócio Econômicos) para a Campanha Salarial dos trabalhadores da CSN 2018. O estudo foi coordenado por Gustavo Henrique Lopes Machado. Todos os dados foram elaborados pelo ILAESE a partir dos relatórios anuais disponibilizados pela CSN S.A. entre os anos de 2000 à 2017 ou no diário oficial do Estado do Rio de janeiro
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ÍNDICE Apagão nos balanços da CSN em 2016: por quê?.......................................................... 3 CSN retoma crescimento em 2017................................................................................... 5 Mineração volta a competir com o setor siderúrgico na CSN....................................8 Ataque aos trabalhadores: o principal segredo do crescimento na CSN...............11 Os motivos (ocultos) da privatização da CSN..............................................................14 Conclusões............................................................................................................................. 16
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Apagão nos balanços da CSN em 2016: por quê? Em 2016, foram divulgadas várias reportagens a respeito da crise da CSN e a possibilidade de Steinbrunch perder a posse da empresa. Muito se falou, por exemplo, do endividamento da empresa. Esse cenário vem sendo usado pela empresa para promover ataques aos trabalhadores de todos os tipos e se colocar na vanguarda da nova reforma trabalhista aprovada pelo governo Temer. Reforma esta cujo conteúdo é contestados pelos próprios juízes integrantes da Justiça do Trabalho que em várias ações julgaram inconstitucionais a maior parte dos itens da reforma. No entanto, não existe crise na CSN. Não no sentido de que suas operações e existência estejam ameaçadas. O que está em questão não é o endividamento da CSN, mas, sim, o endividamento da família Steinbruch. A dívida, em verdade, foi contraída por Steinbruch para comprar a participação na empresa de seus antigos sócios (família Rabinovich). Para fazer isso, foi tomado dívida de três empresas: a National Steel (Luxemburgo), a Rio IACO Participações, e a Vicunha Aços. Acontece que para garantir esta dívida junto aos bancos, os Steinbruch deram como garantia ações da CSN. Em resumo: a preocupação de Streinbruch é que se o endividamento da CSN aumentar, as ações vão cair, e o valor da empresa não será suficiente para bancar o aval das dívidas da família. A grande novidade, no presente contexto, é que a CSN não divulgou, durante praticamente todo o ano de 2016, os balanços financeiros da empresa. Os empresários, como Steinbruch, que exigem disciplina e um trabalho rigoroso por parte de todos trabalhadores, mostraram não ter disciplina alguma em sua função de acionista majoritário da empresa. A não divulgação dos relatórios econômicos da CSN por longos 10 meses em 2016 causou a reação do próprio mercado. A Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec) abriu um debate para modificar as regras, especialmente as penas, ligadas a esse tema em função do comportamento da CSN..
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Acontece que, como mostraremos ao longo desse estudo, o motivo real por trás de tudo isso é a possibilidade de Steinbruch perder a empresa, não uma crise que ameaça o funcionamento e a rentabilidade da empresa. Ao contrário. A CSN vive forte recuperação econômica, no entanto, quer aproveitar o mote da crise da empresa, bem como a reforma trabalhista, para elevar ainda mais a exploração de seus trabalhadores.
O que está em questão não é o endividamento da CSN, mas, sim, o endividamento da família Steinbruch
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CSN retoma crescimento em 2017 Em 2016, longe de se aprofundar, o que verificamos foi uma forte recuperação da CSN. Após três anos de queda consecutiva em suas receitas e lucros (entre 2013 e 2015), nos dois últimos anos temos um expressivo crescimento, muito acima da inflação do período. Entre 2015 e 2017, tivemos um crescimento aproximado de 18% nas receitas e 32% no lucro bruto. No caso dos números de 2017, como foi liberado apenas o relatório do terceiro semestre de 2017, fizemos uma projeção para os últimos três meses, critério usado no curso de todo o estudo. Se confirmar essa receita, teremos, em termos absolutos, a maior receita da história da CSN.
Vendas e lucros da CSN – em milhões de reais 20.000 18.000
17.312
16.520
16.000
15.229
14.451
16.126
17.149
18.043
15.332
14.000 12.000 10.000 8.604 8.000 6.000 4.000
6.568
6.720 3.970
3.912
4.890
4.533
3.532
4.509
4.688
2.000 0 2009
2010
2011
2012
Receita Líquida
2013
2014
2015
2016
2017*
Lucro Bruto
Fonte: CSN Elaboração: ILAESE * 2017 é estimado a partir dos 9 primeiros meses
2017 deve terminar com a maior receita líquida absoluta da história da CSN. Considerado em dólares, o crescimento de 2017, em particular, é ainda mais expressivo. Isto ocorre, principalmente, em função da recuperação da mineração, como veremos mais adiante, já que a quase totalidade dos minérios são vendidos no mercado internacional e pagos diretamente na moeda americana. Indicamos os dados em dólares no gráfico que se segue.
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Receitas, Custos e lucros (em milhões de dólares) 16.000,00 13.929,43
14.000,00
13.619,34
13.165,51 11.718,37
12.000,00 10.754,59
10.640,62
10.000,00
8.999,92
9.906,38
8.000,00
9.159,45
9.137,53
8.039,60
7.257,67
7.353,49
6.000,00
4.023,05
3.496,92 4.000,00
4.006,06
2.601,02
2.580,84
2012
2013
Receita Líquida
2014
2015
Custos de Produção
2.389,44
1.646,43
2.000,00 0,00 2011
11.229,91
2016
2017*
Lucro Bruto
Fonte: Diário Oficial do Rio de Janeiro. Elaboração: ILAESE * 2017 é estimado a partir dos 9 primeiros meses Como se vê, nos marcos dessa recuperação, a CSN vem reduzindo drasticamente sua dívida. Neste mesmo período que verificamos o crescimento nas receitas, entre 2015 e 2017, a dívida bruta da CSN caiu mais de 5 bilhões de reais, e a dívida líquida, mais de 1 bilhão de reais.
Dívida – em milhões de reais 40.000 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0
35.361
30.990
31.593 26.499
25.831
30.075
25.717
18.908
2014
2015 Dívida bruta
2016
2017*
Dívida Líquida
Fonte: CSN Elaboração: ILAESE * 2017 o dado é do terceiro trimestre A redução da dívida pode da CSN pode ser melhor visualizada quando confrontada com seu percentual em relação a receita líquida, nesses três anos, de 173% da receita líquida para143% no terceiro semestre de 2017.
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Fonte: CSN Elaboração: ILAESE * 2017 o dado é do terceiro trimestre
Dívida Líquida em relação a Receita Líquida 200,00% 180,00% 160,00% 140,00% 120,00% 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00%
172,83% 150,63%
142,53%
117,25%
2014
2015
2016
2017*
Fonte: CSN Elaboração: ILAESE * 2017 o dado é do terceiro trimestre No entanto, como podemos ver, houve um crescimento expressivo da dívida da CSN entre 2014 e 2015, um crescimento de cerca 6,5 bilhões de reais na dívida líquida e 4,5 bilhões de reais na dívida bruta. Qual o motivo de um crescimento tão grande em um período tão pequeno? Foi justamente nesse período que a CSN comprou os direitos sobre a empresa NAMISA. Para isso, a dívida foi ampliada junto ao Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, com um novo empréstimo de 4,8 bilhões de reais. Neste mesmo ano, tivemos a aquisição, pela CSN, da participação de 4,16% na Congonhas Minérios, até então detido por um Consórcio Asiático, pelo valor de US$707 milhões, sendo US$680 milhões por 4% da Congonhas e US$27 milhões pelos 0,16% adicionais. Mas, principalmente, tivemos a aquisição de 40% de participação na Namisa detida pelo Consórcio Asiático. Ora, os trabalhadores não podem pagar a conta pelas opções de investimento da CSN. O crescimento da dívida da empresa não tem qualquer relação com a produtividade e o trabalho de seus trabalhadores, já que este, como veremos, continuam em alta.
Crescimento da dívida da CSN está associada a compra da NAMISA. Não tem qualquer relação com as receitas e lucros da empresa.
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Mineração volta a competir com o setor siderúrgico na CSN O que é realmente uma novidade na CSN nos últimos anos e, em grande parte, explica a recuperação econômica da empresa, é o crescimento no setor minerário. Apesar de ainda não recuperar os índices de 2011 e 2013, ápice dos preços do minério de ferro, os números de 2016 e, principalmente, 2017 se aproximam daqueles anos. Entre 2015 e 2017 a Receita Líquida da mineração na CSN cresceu 44,1% e o Lucro Bruto cresceu 108,2%, sob uma inflação de 21,45% segundo o IPCA.
Receita e Lucro Bruto na Mineração (em milhões de reais) 7.000 5.942
6.000
5.297
5.000
4.486 3.615
4.000 3.000 2.000 1.428
1.964
1.000577
784
0 2008
2009
3.757
4.593
3.187
2.363
2.036
2.468 1.123
2010
4.582
4.109
2011
2012
Receita Líquida
2013
2014
1.483
1.799
864
2015
2016
2017*
Lucro Bruto
Fonte: CSN Elaboração: ILAESE * 2017 é estimado a partir dos 9 primeiros meses
Receita Líquida cresce 44,1% e Lucro Bruto cresce 108,2% em três anos. A inflação do período foi de 21,45%. Estes dados indicam a a mineração foi a principal responsável, nestes últimos dois anos, pelo crescimento das receitas e ganhos da CSN. Na verdade, no período considerado, o lucro bruto do setor siderúrgico ficou estagnado, sendo a mineração a principal responsável por alavancar os números da empresa. É o que indicamos no gráfico que se segue:
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Lucro Bruto por setor (em milhões de reais) 7.000 5.947
6.000 5.000 4.000 3.000
2.629
3.700
3.757
2.363
2.440
2.000
0549 2008
2.076
2.431
1.934
784
1.000577
2.036
2.820
2.468
1.123
2.123
2.208
1.483
1.799
864
499
507
523
583
652
700
583
568
541
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017*
Siderurgia
Mineração
Outros
Fonte: CSN Elaboração: ILAESE * 2017 é estimado a partir dos 9 primeiros meses Como podemos ver, a siderurgia segue uma tendência histórica de queda, perdendo espaço para a mineração. Mas isto não vem acontecendo sem idas e vindas. No auge da crise econômica brasileira, entre 2014 e 2016, vemos uma leve recuperação da siderurgia enquanto os ganhos com a mineração despencaram. Agora, nos últimos três anos, o setor siderúrgico está estagnado, enquanto os ganhos com a mineração cresce a passos largos. No gráfico abaixo, podemos visualizar com mais clareza esta tendência. Em 2017, a mineração corresponde a 40% dos lucros da CSN, enquanto em 2014 representava 24,19% dos lucros. A siderurgia, por seu turno, passou de 60,74% para 48,55% dos lucros da empresa.
Participação da mineração dentro da CSN – parte do lucro em % 2017*
2016
48,55%
50,86%
2015
58,93%
2014
60,74%
0,00%
20,00%
40,00%
39,55%
11,90%
35,53%
13,61%
24,52%
24,19% 60,00%
80,00%
Outros setores Mineração Siderurgia
16,55%
15,08% 100,00%
Fonte: CSN Elaboração: ILAESE * 2017 é estimado a partir dos 9 primeiros meses
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Interessante notar ainda, nos dois gráficos abaixo, que em 2017 tivemos uma queda da produção na mineração em relação a 2016, no entanto, esta queda foi compensada por preços bem mais elevados do minério este ano. Para se ter uma ideia, no primeiro trimestre de 2016 a tonelada do minério de ferro estava 35 dólares enquanto no primeiro trimestre de 2017 esse valor passou para cerca de 62 dólares.
Fonte: CSN – Demonstrativo semestral. Elaboração: CSN.
Crescimento da CSN em 2016 e 2017 foi graças a mineração. Seria, portanto, em função unicamente do crescimento no preço do minério de ferro e no aumento da produção que a CSN vem conseguindo aumentar seus lucros? Na verdade não. O elemento fundamental é o aumento da intensidade de trabalho, e também de sua produtividade, como veremos a seguir.
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Ataque aos trabalhadores: o principal segredo do crescimento na CSN A possibilidade da terceirização foi aprovada, como se sabe, de forma praticamente irrestrita em 2017. A CSN é um ótimo exemplo para entendermos a extensão dos danos que a terceirização pode causar na vida de dezenas de milhões de trabalhadores brasileiros. Isto porque, conforme indicam os dados, a forma da CSN compensar a crise econômica foi, fundamentalmente, demitindo trabalhadores terceirizados. Um olhar sobre o número de trabalhadores efetivos, ou seja, diretamente contratados pela CSN faz parecer que a crise econômica não afetou os empregos na empresa, como indicamos na tabela abaixo:
Efetivo Próprio Filiais Minas Gerais CSN Mineração S.A. Nacional Minérios S.A. Total de trabalhadores efetivos na mineração
2011 20.791 2.660 1.266 3.926
2012 21.232 2.876 1.557 4.433
2013 21.962 3.049 1.475 4.524
2014 22.801 4.034 1 1.677 5.712
2015 23.736 785 3.489 1.469 5.743
2016 23.993 707 6.147 6.854
Fonte: CSN – Formulário de referência. Elaboração: ILAESE. Como podemos notar, o número total de trabalhadores cresceu de 20.791 para 23.993 entre 2011 e 2016. Na mineração, não foi diferente, passou-se de quase 4 mil trabalhadores em 2011 para quase 7 mil em 2016. Importante notar, para o entendimento da tabela em questão, que a CSN Mineração foi criada após a unificação da filiar da CSN em Minas com a NAMISA, motivo pelo qual indicamos os dados separadamente. Ocorre que este aumento no emprego foi apenas aparente, já que o total de terceirizados despencou:
Total de Terceirizados Filiais Minas Gerais CSN Mineração S.A. Nacional Minérios S.A. Total de trabalhadores terceiros na mineração
2011 34.361 3.869 1.415 5.284
2012 30.497 3.998 1.534 5.532
2013 20.797 5.538 1.038 6.576
2014 25.833 7.933 1.157 9.090
2015 17.490 3.152 563 3.715
2016 8.426 1.112 3.061 4.173
Fonte: CSN – Formulário de referência. Elaboração: ILAESE. Dos mais de 34 mil trabalhadores terceiros em 2016, restam apenas 8.426. Ou seja, foram demitidos mais de 25 mil trabalhadores terceirizados, enquanto o quadro efetivo cresceu pouco mais de 3 mil trabalhadores.
O número de trabalhadores efetivos cresceu em aproximadamente 3 mil trabalhadores. Ao mesmo tempo, os trabalhadores terceiros reduziram em mais de 25 mil. 11
No gráfico abaixo, indicamos o total de trabalhadores da CSN, considerando terceirizados e contratados diretos. Como podemos ver, com exceção de 2014, esses números cresceram sem parar, ano após ano, fazendo com que o contigente total de trabalhadores baixasse de mais de 55 mil para 32,4 mil trabalhadores em apenas 6 anos.
Total de Trabalhadores - Efetivo Próprio e terceiros 60.000
55.152
51.729
50.000
42.759
48.634 41.226
40.000
32.419
30.000 20.000 10.000 0 2011
2012
2013
2014
2015
2016
Fonte: CSN – Formulário de referência. Elaboração: ILAESE. No entanto, se engana quem acredita que os terceirizados são as únicas vítimas. Em primeiro lugar, com recentes reformas trabalhista e da terceirização, a totalidade dos trabalhadores poderão ser terceirizados. Em segundo lugar, a demissão dos trabalhadores terceirizados, em sua maior parte, fez crescer a intensidade de trabalho daqueles que estão na ativa. Prova disso é que enquanto a produção no setor siderúrgico permanece estagnada nos últimos 8 anos e an mineração a produção cresce significativamente, o número de trabalhadores dos dois setores cai. Vejamos abaixo a produção nesses dois principais setores da CSN.
Vendas físicas 40.000 35.000 30.000 25.312 25.000 20.000 15.000 10.000 4.796 5.000 0 2010
36.983 29.332
28.878
30.687
25.775
25.667
4.896
5.829
6.117
5.177
4.990
4.857
4.892
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017-3T
Vendas de Aço (mil toneladas)
25.670
Vendas de Minério de Ferro (mil toneladas)
Fonte: CSN Elaboração: ILAESE * 2017 é estimado a partir dos 9 primeiros meses Ora, mesmo na mineração, cujos dois últimos anos tivemos records de produtividade, o número de trabalhadores apresenta uma tendência de queda, como indicamos abaixo: 12
Total de trabalhadores na mineração 16.000 14.000 12.000
9.090
10.000 8.000 6.000
5.284
5.532
4.173
6.576
3.715
4.000 2.000
3.926
4.433
4.524
2011
2012
2013
5.712
5.743
2014
2015
6.854
0 Trabalhadores efetivos na mineração
2016
Trabalhadores terceirizados na mineração
Fonte: CSN – Formulário de referência. Elaboração: ILAESE. De posse desses dois índices, produção total e o número de trabalhadores, podemos calcular a produtividade no setor. Isto é, a quantidade média de minério de ferro produzida por trabalhadores do setor, o que indicamos abaixo:
PRODUTIVIDADE: toneladas de minério de ferro por trabalhador 4.000 3.500
3.354
3.185
3.000
2.587
2.500
2.714 2.312 1.951
2.000 1.500 1.000 500 0 2011
2012
2013
2014
2015
2016
Fonte: CSN – Formulário de referência. Elaboração: ILAESE. Como podemos ver, o crescimento da produtividade dos trabalhadores se ampliou exatamente nesses últimos três anos, atingindo um valor record de 3.354 toneladas por trabalhador em 2016. Ou seja, a CSN atinge bons índices econômicos através de demissões e a elevação da intensidade de trabalho daqueles que estão na ativa. Além do crescimento na intensidade de trabalho, outro aspecto presente na CSN é a taxa de exploração. Ou seja, o trabalhador se apropria de menos da metade da riqueza que produz, 13
descontando todos os custos de produção. Indicamos abaixo a magnitude dessa taxa de exploração em termos de trabalho pago e não pago em uma jornada de trabalho de 8 horas. Nesse caso, ainda não temos os dados de 2017. 08:24 07:12 02:56 03:50
06:00 04:48
Trabalho pago em uma jornada de 8 horas Trabalho não pago em uma jornada de 8 horas
03:36 02:24
05:03 04:09
01:12 00:00 2015
2016
Fonte: Diário Oficial do Rio de Janeiro. Elaboração: ILAESE.
Como se vê, em 2016, o conjunto dos trabalhadores da CSN pagaram seu salário em 3 horas e 50 minutos de trabalho, sendo as outras 4 horas e 9 minutos apropriados pela empresa sem nenhum contrapartida. Na mineração, certamente, esta exploração foi ainda maior. Pode parecer que a exploração reduziu de 2015 para 2016 a exploração diminuiu. Mas não é bem assim. Na verdade, em 2016, em função dos baixos preços do minério, houve uma queda absoluta na arrecadação da CSN, no entanto, como vimos, essa receita foi recuperada em 2017.
14
Os motivos (ocultos) da privatização da CSN Como se sabe, a CSN foi privatizada, ainda por Itamar Franco, em 1993. Com sua privatização, se prometeu uma empresa mais rentável, geradora de mais empregos alavancando a economia brasileira, tanto do ponto de vista dos capitalistas quanto dos trabalhadores. Como vimos no curso desse estudo, não é possível ter mais grandes ilusões a esse respeito. Com um total de trabalhadores empregados em sensível queda a empresa se coloca na vanguarda da reforma trabalhista, procurando empregar trabalhadores em condições intermitentes e precárias. Seu acionista majoritário, Steinbrunch, correu risco de perder sua participação na empresa em função de seu endividamento associado a queda assombrosa das ações em 2015, motivo que levou a empresa a não publicar seus relatórios econômicos por um período de quase 1 anos, como vimos. Cabe agora perguntar, onde se encontra os benefícios tão alardeados da privatização? De fato, a privatização da CSN envolveu, em primeira instância, o favorecimento do capital nacional, mas, sobretudo, do capital internacional. Em prejuízo é claro, dos trabalhadores, do Brasil e sua soberania econômica e política. Rememoremos o que foi o processo de privatização. Em primeiro lugar, a empresa foi entregue praticamente de graça. Foi vendida por um valor de 1,5 bilhões de dólares, enquanto apenas os equipamentos siderúrgicos estavam avaliados em mais de 5,5 bilhões de dólares. O valor real da empresa, à época, era avaliado em 7 bilhões de dólares. 1 No entanto, mesmo esse valor, 5 vezes superior ao valor da venda da empresa, não levou em conta a mina Casa de Pedra em Congonhas que, hoje, é uma das principais minas de ouro da empresa. Não fosse o bastante, menos de 4% do valor de venda da empresa foram pagas em moeda corrente (real ou dólar), mas o que se chama “moedas podres”, ou seja, dívidas de longo prazo do governo que não foram pagas na data. Em outras palavras, a empresa foi paga com títulos vencidos da dívida pública. É como pagar uma dívida com uma promissória que já recebeu calote. No entanto, desde 1998, a CSN teve mais de 25 bilhões de reais de lucro líquido e, desse montante, dividiu entre os acionistas, 17,2 bilhões de reais em dividendos, um valor muito superior ao que foi pago, em moedas podres, para a empresa.
Lucro versus Dividendos 5000
4.675
4000
3.667 2.905
3000 2000 1000 0
1.918 1.640 464 332 246 243
2.145
1.058 799 343 296 220 -219
2.115
1.878
2.568 2.516 1.769 1.820 1.857
1.324 1.169 752 689
1.200 753 -481
800 534
425 -112
19981999200020012002200320042005200620072008200920102011201220132014 -1000 Lucro Líquido
Dividendos
1Ver: GODEIRO, Nazareno (org.). Vale do Rio Doce. Nem tudo que reluz é ouro, da privatização à luta pela reestatização. Godeiro, Nazareno (org.). Editora Sundermann: São Paulo, 2007. 15
Se do ponto de vista do capital internacional a empresa apresenta a situação acima indicada, bilhões em dividendos em uma empresa entregue quase de graça; o outro grande beneficiado do processo foi o capital internacional. Em primeiro lugar, a CSN é exemplar no processo de reprimarização da economia brasileira: ou seja, perde espaço a siderurgia, de alto valor agregado, ganha espaço a mineração, voltada para a exportação de minério bruto para o exterior. Vendemos minério bruto e compramos no mercado internacional produtos industrializados muito mais caros. Somente nos três primeiros semestres do ano passado, assim ficou a divisão das vendas para o mercado interno e externo na CSN:
Vendas de Minério de Ferro
14,64%
Mercado Interno Mercado Externo
85,36%
Fonte: Relatórios trimestrais CSN. Elaboração: ILAESE. Como se vê, a CSN está mercê do mercado externo, produzindo matéria-prima que sera incrementada e valorizada nos países estrangeiros. É exatamente isso que configura um país dominado como é o Brasil na atual hierarquia de dominação entre os Estados, ou seja, o Imperialismo.
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Conclusões CSN tem grande recuperação econômica nos últimos 3 anos, tanto em sua receita como no lucro. A dívida da CSN também caiu sensivelmente desde 2015. Seu crescimento no ano anterior foi em função da aquisição da NAMISA. A mineração volta a ser o carro chefe da CSN e a principal responsável pelo seu crescimento nos dois últimos anos. Enquanto a produção siderúrgica mantém o mesmo patamar e a produção minerária cresce, o número de trabalhadores terceirizados caiu em mais de 25 mil, sem um crescimento expressivo entre os contratados diretos. A taxa de produtividade dos trabalhadores da mineração na CSN é a maior de sua história.
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