ATUALIDADE
Síria
0 povo em armas está destruindo o regime de Assad
A SÍRIA É ATUALMENTE O EPICENTRO do processo revolucionári que estremece o Norte da África e o Oriente Médio, e um dos pontos mais altos da luta de classes em nível mundial. Tudo indica que
RONALD LEÓN NÚÑEZ
A
guerra civil chegou ao centro da capital, Damasco, e a Aleppo, a segunda maior cidade e centro econômico do país. Existe, além disso, uma luta feroz para controlar postos fronteiriços. Os combates entre os rebeldes do Exército da Síria Livre (ESL) e as forças leais ao regime, comandadas diretamente por Maher al-Assad, irmão mais novo de Bashar, acontece em cada rua, em cada casa. A milenária Damasco é incessantemente bombardeada por artilharia pesada, tanques, aviões e helicópteros das tropas governamentais. Seus edifícios são alvo e palco de uma luta encarniçada. O estrondo das bombas faz tremer o palácio presidencial. O principal aeroporto é motivo de avanços e retiradas de ambos os lados. Em 17 de julho, ocorreu um golpe contundente no coração do regime: um membro do ESL conseguiu se infiltrar em uma reunião da alta cúpula de Segurança e Inteligência do regime. Enquanto se discutia como esmagar as milícias que tinham entrado em Damasco, explodiu uma bomba que fez saltar pelos ares o Escritório de Segurança Nacional. O atentado golpeou a guarda pretoriana de al-Assad: morreram o ministro e o viceministro de Defesa (Assef Shawkat, cunhado do ditador), o coordenador do grupo de repressão à revolta em Damasco e o diretor da Segurança Nacional, Hisham Ikhtar. A explosão também deixou gravemente ferido o ministro do Interior. O ESL combinou este atentado com uma ofensiva militar coordenada em
AGOSTO DE 2012
o regime sanguinário de al-Assad caminha para seu fim. várias zonas do país. Nos dias seguintes, as forças rebeldes tomaram postos nas fronteiras com o Iraque e a Turquia, além de abrir outra frente em Aleppo, onde tomaram a Escola de Infantaria do exército, apoderando-se de uma grande quantidade de armamento pesado e munições. O objetivo é abrir e estender uma ampla frente que obrigue al-Assad a dispersar e dividir suas tropas contra o avanço de inumeráveis focos rebeldes. O ditador vê-se obrigado a deslocar e concentrar tropas para defender Damasco e outras cidades como Aleppo, e o preço é debilitar-se nas periferias. Atualmente já existem províncias, como Deir el-Zor e al-Rastan, que escapam ao controle do exército regular e do Estado sírio. Em Homs, funciona um “Comitê Revolucionário” que organiza a resistência e tem algumas tarefas próprias de um poder político. Existem milicianos armados em dez das quatorze províncias da Síria. À frente de cada província está um coronel e todos eles formam um Conselho Militar que se subordina, por sua vez, ao Comando Conjunto do Exército da Síria Livre do interior. O Conselho Nacional Sírio (CNS), principal órgão da oposição, anunciou o início da operação ofensiva para “liberar Damasco e Aleppo”, e emitiu um comunicado: “A revolução ganha terreno e o cerco se estreita sobre o regime, que está ao alcance da ira do povo inclusive onde se sentia seguro” (jornal El País). O conflito sírio agora se estende ao Líbano. Nesse país limítrofe, ocorrem enfrentamentos armados há meses, sobre-
tudo em Trípoli, entre os simpatizantes da revolução síria e os defensores do regime de al-Assad, como o Hezbollah.
O regime começa a rachar Assad está cada vez mais isolado. Sua base social e política começa a abandonálo. Não só setores de refugiados palestinos começam a lhe retirar seu apoio, mas a situação chegou a tal ponto que até na burguesia de minoria alauíta, ramo islâmico ao qual pertence o clã Assad, sente-se um cheiro de deserção. Abdel Halim Khaddam, que foi vicepresidente sírio até 2005, comentou com sinais de preocupação que existem rumores sobre a formação de um “Estado alauíta” diante de um possível triunfo da revolução. Não é pouca coisa. Se os alauítas perderem a confiança no regime, a terra sob os pés de al-Assad estremecerá. Não é casual que tenha declarado que não temia “terminar como Kadafi”, revelando um desespero repentino. Sua situação militar não é melhor. No exército, as deserções aumentam em quantidade e qualidade. Já são 24 os generais que desertaram de suas erodidas fileiras. O mais importante foi o general sunita Manaf Tlass, do primeiro círculo do regime, que fugiu para a Turquia com outros 23 oficiais subalternos. Esta deserção não é só simbólica. O pai deste general foi confidente do presidente Hafez al-Assad – pai de Bashar – e seu ministro de Defesa de 1972 até 2000. O processo de deserções abarca desde oficiais de alto comando até pilotos de combate e uma importante quantidade 17