TCC arqurbuvv - Habitação inclusiva para idosos acometidos com Alzheimer

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - NATALIA NICCHIO BOSCHETTI

HABITAÇÃO INCLUSIVA PARA IDOSOS ACOMETIDOS COM ALZHEIMER



UNIVERSIDDDE VILA VELHA ARQUITETURA E URBANISMO

NATALIA NICCHIO BOSCHETTI

HABITAÇÃO INCLUSIVA PARA IDOSOS ACOMETIDOS COM ALZHEIMER

VILA VELHA 2021


NATALIA NICCHIO BOSCHETTI

HABITAÇÃO INCLUSIVA PARA IDOSOS ACOMETIDOS COM ALZHEIMER Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Vila Velha, como pré-requisito para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Prof. Me. Priscilla Silva Loureiro

VILA VELHA 2021


NATALIA NICCHIO BOSCHETTI HABITAÇÃO INCLUSIVA PARA IDOSOS ACOMETIDOS COM ALZHEIMER

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“A arquitetura é a vontade de uma época traduzida em espaço.” MIES VAN DER ROHE


AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradeço a Deus, maior Arquiteto do mundo, por permitir tantos agradecimentos e por ter me guiado e abençoado durante todo o percurso acadêmico. Agradeço a minha família, em especial, aos meus professores da vida, meu pai Rubens, minha mãe Angela, minha irmã Julia, minha tia Marli e meus padrinhos Esther e Luis, por nunca medirem esforços em me ajudar, por tornarem tudo isso possível e pelo amor incondicional que sempre foi me dado.

Aos meus amigos de longa data, obrigada por todo o incentivo, conselhos, opiniões e sobretudo amor, em especial Giovanna, Nathalia, Arthur, Ricardo, Izabela, Lucas, Gisella, Helena, Thamires, e Bianca. Às amizades que a graduação me presentou Flávia, Clara, Aline e Ana Luiza. Obrigada a minha parceira de trabalho e amiga, Fernanda, por tanto apoio, carinho e compreensão, À minha Professora Orientadora, Priscilla, que tanto admiro, minha eterna gratidão por tanto conhecimento, dedicação, disponibilidade e paciência. Foi uma honra! Obrigada a todos que de alguma forma participaram da minha trajetória acadêmica e torceram por mim.


RESUMO Devido a alteração relacionada a dinâmica demográfica causada pelo aumento da população idosa no Brasil, entretanto, a sociedade não está preparada para lidar

com as necessidades e demandas desses indivíduos, sobretudo quando há problemas relacionados a saúde física e mental, como é o caso de pessoas

acometidas com Alzheimer. O presente trabalho tem como objetivo compreender quais são as demandas e necessidades desses idosos através de entrevistas com profissionais da área, e apoiado em revisões bibliográficas obter diretrizes

projetuais com o objetivo de adequar uma residência real a fim de conceber maior conforto e minimizar riscos a integridade física que uma arquitetura pode vir a trazer quando não projetada para atender tais necessidades. Palavras-chave: Arquitetura para idosos; Alzheimer; Acessibilidade; Arquitetura

de interiores.


ABSTRACT Due to the change related to demographic dynamics caused by the increase in the elderly population in Brazil, however, society is not prepared to deal with the needs and demands of these individuals, especially when there are problems

related to physical and mental health, such as the case of people with Alzheimer's. The present work aims to understand the demands and needs of these elderly people through interviews with professionals in the area, and supported by

bibliographical reviews to obtain design guidelines with the objective of adapting a real residence in order to conceive greater comfort and minimize risks to

integrity physics that an architecture can bring when not designed to these needs. Keywords: Architeture for seniors; Alzheimer’s disease; Acessibility; Interior architecture;


LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – IGREJA ANTES DA INTERVENÇÃO.........................................29 FIGURA 13 – ZIGUE-ZAGUE PROVOCADO POR DISPOSIÇÃO DE CÔMODOS E MÓVEIS...........50 FIGURA 2 – IGREJA PÓS INTERVENÇÃO..................................................30 FIGURA 14 – BANHEIRO...................................................................................................................... 51

FIGURA 3 – ESQUEMA QUARTO................................................................34

FIGURA 15 – ÁREA EXTERNA............................................................................................................ 52

FIGURA 4 – ESQUEMA SALA......................................................................36 FIGURA 16 – SALA............................................................................................................................. .53 FIGURA 5 – ESQUEMA COZINHA...............................................................38 FIGURA 17 – QUARTO......................................................................................................................... 54 FIGURA 6 – ESQUEMA BANHEIRO.............................................................40 FIGURA 18 – ÁREA EXTERNA – FOGÃO........................................................................................... 55

FIGURA 7 – IMAGEM DE LOCALIZAÇÃO DA RESIDÊNCIA.......................43 FIGURA 19 – QUADRO DE FOTOS..................................................................................................... 56 FIGURA 8 – PLANTA BAIXA RESIDÊNCIA DONA DILMA.........................45

FIGURA 20 – COZINHA...................................................................................................................... 57

FIGURA 9 – DESNÍVEIS – ENTRADA.........................................................46 FIGURA 21 – PLANTA BAIXA LEVANTAMENTO................................................................................ 58 FIGURA 10 – DESNÍVEIS – ÁREA EXTERNA..............................................47 FIGURA 22 – PLANTA BAIXA HUMANIZADA................................................................................... 59 FIGURA 11 – PAVIMENTAÇÃO......................................................................48 FIGURA 23 – AMBIENTES ONDE HOUVE INTERVENÇÃO...............................................................60

FIGURA 12 – DIMEMSÕES PASSAGENS EXISTENTES..............................49 FIGURA 24 – MOODBOARD................................................................................................................61


LISTA DE FIGURAS FIGURA 25 –PLANTA DEMOLIR E CONSTRUIR..........................................................63

FIGURA 37 – PLANTA BAIXA PROPOSTA......................................................................... 73

FIGURA 26 – PLANTA BAIXA LEVANTAMENTO...........................................................64

FIGURA 38 – RENDER – QUARTA...................................................................................... 74

FIGURA 27 – PLANTA DE DEMOLIÇÃO E CONSTRUÇÃO...........................................65

FIGURA 39 – ESQUEMA REVESTIMENTOS E MOBILIÁRIOS – QUARTO........................75

FIGURA 28 – IMAGENS LEVANTAMENTO BANHEIRO................................................66

FIGURA 40 – PLANTA BAIXA LEVANTAMENTO.................................................................76

FIGURA 29 – RENDER – BANHEIRO............................................................................67

FIGURA 41 – IMAGEM LEVANTAMENTO – COPA...............................................................76

FIGURA 30 – ESQUEMA REVESTIMENTOS E MOBILIÁRIOS – BANHEIRO..............68

FIGURA 42 – PLANTA BAIXA PROPOSTA......................................................................... 76

FIGURA 31 – IMAGEM LEVANTAMENTO – SALA.........................................................69

FIGURA 43 – RENDER – COZINHA.....................................................................................77

FIGURA 32 – LAYOUT ANTIGO.....................................................................................70

FIGURA 44 – RENDER – COZINHA.................................................................................... 78

FIGURA 33 – LAYOUT PROPOSTO..............................................................................70

FIGURA 45 – ESQUEMA REVESTIMENTOS E MOBILIÁTIOS – COZINHA.......................79

FIGURA 34 – RENDER – SALA......................................................................................71

FIGURA 46 – PLANTA BAIXA LAYOUT..............................................................................80

FIGURA 35 – ESQUEMA REVESTIMENTOS E MOBILIÁRIOS – SALA.......................72.

FIGURA 47 – RENDER – JARDIM VERTICAL.....................................................................81

FIGURA 36 – PLANTA BAIXA LEVANTAMENTO...........................................................73

FIGURA 48 – RENDER – JARDIM VERTICAL....................................................................82


LISTA DE FIGURAS FIGURA 49 – RENDER – ÁREA DE PERMANÊNCIA...........................83 FIGURA 50 – RENDER – PERGOLADO...............................................84 FIGURA 51 – RENDER – FACHADA.....................................................85


INTRODUÇÃO

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ALZHEIMER E DEMANDAS ESPACIAIS

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ALZHEIMER

1.1 - O QUE É A DOENÇA?

Pág. 21

1.2 – ALZHEIMER EM MULHERES IDOSAS

Pág. 22

2.1 - PERMANENCIA EM SUA PRÓPRIA RESIDENCIA EM DETRIMENTO A ILPS

Pág. 25

2.2 – INFLUENCIA DO ESPAÇO CONSTRUÍDO NO USUÁRIO ACOMETIDO COM ALZHEIMER E CUIDADOR

Pág. 27

2.3 – PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA, IDENTIDADE E REVITALIZAÇÃO

Pág. 28

2.4 – CUIDADOS PESSOAS ACOMETIDAS COM ALZHEIMER

Pág. 31


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CONSIDERAÇÕES SOBRE DEMANDAS ESPACIAIS

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Pág. 33

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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5.1 – USUÁRIO E O LOCAL

Pág. 42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

5.2 - DIAGNÓSTICO

Pág. 46

APÊNDICE

5.3 – SOLUÇÕES PROJETUAIS

Pág. 58

PROJETO

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Pág. 89 Pág. 94


INTRODUÇÃO


INTRODUÇÃO •

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JUSTIFICATIVA Devido à queda da taxa de natalidade, o aumento da expectativa de vida da população e o desenvolvimento da medicina, houve um aumento da população idosa brasileira. De acordo com o IBGE (2017), o número de idosos no Brasil cresceu 18% no período entre 2012 e 2017. Além disso, de acordo com o último censo,

em 2017, pessoas com 60 anos ou mais de idade correspondem a 10,8% da população brasileira. Nesse cenário, a expectativa é que em 2060 a população idosa seja equivalente a 1/3 da população brasileira, consequentemente gerando uma inversão na pirâmide etária do país (IBGE, 2017).

Com o avanço da idade, as pessoas se tornam mais suscetíveis a doenças crônicas que afetam a forma com que levam a vida, acarretam desafios e comprometem a autonomia e liberdade para a realização de atividades cotidianas, além de necessitarem de cuidados permanentes, tal

como o Alzheimer (ABREU, 2005). Em síntese, o Alzheimer é o tipo de demência mais comum e geralmente se manifesta em pessoas a partir de 60 anos de idade, acarretando uma

série de mudanças na vida do idoso acometido e das pessoas que convivem, uma vez que se torna necessária uma mudança de hábitos de vida. Entendendo que o ambiente influencia diretamente na vida, no modo de se relacionar e realizar atividades de um indivíduo, um ambiente que não atenda às necessidades do usuário pode ocasionar prejuízos ao tratamento, fazendo com que a doença avance de forma mais acelerada. Desta forma, o espaço físico pode funcionar como uma medida terapêutica e auxiliar no tratamento da doença. De acordo com Van Hoof: […] o impacto do ambiente interno (conforto térmico, iluminação, qualidade do ar e acústica) sobre a demência é em grande parte inexplorado, mas de enorme importância. […]. A influência da iluminação no desempenho visual e no ritmo circadiano; da acústica do ambiente


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no comportamento; e do aroma sobre o apetite e o bem-estar; são mencionados em

literatura médica e de enfermagem. (Van Hoof, 2010, p.11, tradução livre).

Assim posto, este projeto almeja pesquisar e apresentar alternativas de projeto de reforma em uma residência, a fim de proporcionar maior qualidade

de vida, independência e auxílio no tratamento do idoso acometido pela doença, com o propósito de preservar ao máximo suas memórias e raízes.

OBJETIVO GERAL

Desenvolver projeto de reforma a nível de estudo preliminar em uma residência voltada para idoso acometido com Alzheimer, a fim de promover autonomia e liberdade a este e, consequentemente, melhorar sua qualidade de vida, bem como das pessoas que auxiliam e participam ativamente de sua rotina.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS •

Compreender aspectos sobre a doença e as necessidades ambientais e espaciais de idosos com Alzheimer;

Identificar características na atual residência que possam trazer algum tipo de risco para a integridade física do usuário;

Realizar estudo a cerca das necessidades e dificuldades enfrentadas pelos cuidadores de idosos;

Adaptar a residência de acordo com as necessidades identificadas do idoso.


INTRODUÇÃO •

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METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO O trabalho estrutura-se da seguinte forma, no capítulo 1, foi realizado uma revisão de literatura com base em artigos, dissertações e livros com o objetivo de entender mais sobre a doença do Alzheimer e as limitações causadas em idosos. No capítulo 2, foram feitas entrevistas com cuidadores e médicos especialistas na área a fim de entender as necessidades espaciais, emocionais e psicológicas de uma pessoa com Alzheimer e compreender os impactos que tal doença resulta nas pessoas que convivem e que cuidam desses idosos.

O capítulo 3, é um compilado de informações e diretrizes projetuais obtidas através das entrevistas realizadas no capítulo três e através de pesquisas bibliográficas.

O capítulo 4 é o desenvolvimento do projeto aplicado a uma residência real a fim de adaptá-la as necessidades de uma idosa acometida com Alzheimer.


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ALZHEIMER


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1.1 – O QUE É A DOENÇA? A doença de Alzheimer (DA) é um tipo de síndrome demencial caracterizada por um declínio crônico-degenerativo progressivo nas áreas da cognição, função e comportamento (DECESARO, MELLO & MARLON, 2009). Tal demência tem por característica perda de memória e de personalidade de forma lenta e irreversível, assim como déficits de linguagem, declínio da capacidade de resolução de problemas, entre outros. O que pode interferir na interação social e comprometer atividades da vida diária do idoso.

Cerca de 5% dos indivíduos com mais de 65 anos e 20% das pessoas com mais de 80 anos são acometidos com a Doença de Alzheimer (INOUYE, PEDRAZZANI e PAVARINI, 2010). O Manual de Diagnósticos e Estatísticos de Transtornos Mentais (DSM-V-TR) define a doença como uma demência

senil, com diminuição da capacidade cognitiva, irreversível, com déficits de memória, que gera graves prejuízos nas atividades diárias. Esta doença causa limitações das capacidades funcionais e consequentemente a perda de

identidade do paciente, com a evolução da doença, gerando entre familiares e cuidadores uma situação dolorosa e de sofrimento, por lidar diretamente com a doença incapacitante e a finitude da vida (SENA,2006).

Um dos primeiros sintomas perceptíveis é o esquecimento de acontecimentos recentes e, gradativamente, o esquecimento de fatos mais relevantes da vida e história do indivíduo. Este passa a apresentar adversidades na execução de suas tarefas até então facilmente realizadas, como cuidados com a higiene pessoal e locomoção, capacidade de julgamento, cálculo, raciocínio abstrato, acarretando sofrimentos psicológicos e físicos.


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Segundo relata Flashman (2002), a doença de Alzheimer, o comprometimento da cognição e as limitações trazidas pela demência ocasionam a perda da

autonomia e da capacidade de decisão. Quando o indivíduo apresenta dificuldades de comunicação, este algoz torna-se exponencialmente pior, pois este passa a ter dificuldade em nomear objetos

ou escolher as palavras certas para expressar uma ideia, bem como incapacidade para realizar tarefas que exijam recordar padrões ou sequências de movimento, denominada de apraxia. Consequentemente, sua autonomia é retirada, o tornando dependente de um cuidador, desta forma, este tipo de adoecimento causa profundo sofrimento e angústia à família e à paciente, já que com a descoberta da doença vem também a diminuição das capacidades cognitivas, medo do estigma, a perda da dignidade pessoal e a perda de identidade com a evolução da doença (LIMA, 2006). Nos estágios terminais da doença, algumas mudanças marcantes podem ser observadas, como alterações no ciclo vigília-sono, mudanças comportamentais (irritabilidade e agressividade), sintomas psicóticos e incapacidade de andar, falar e realizar o autocuidado.

1.2 – ALZHEIMER EM MULHERES IDOSAS Em conformidade com o Manual de Diagnósticos e Estatísticos de Transtornos Mentais (DSM-IV-2002) a predisposição para o aparecimento da Doença de Alzheimer aumenta de acordo com o avanço da idade e acomete mais mulheres, uma vez que a população brasileira é predominantemente feminina (IBGE, 2017) Além disso, em concordância com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD,2003) foi constatado que mulheres apresentam

uma maior preocupação em procurar atendimento médico em detrimento de homens, o que pode contribuir para a predominância da doença em pessoas do sexo feminino.


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De acordo com Falcão (2006) é de suma importância que haja entendimento das condições de saúde do portador, entendendo o adoecimento e as possibilidades para a qualidade de vida da mulher idosa com demência, uma vez que o indivíduo passa a apresentar dificuldades na realização de tarefas simples e rotineiras, além de, muitas vezes, perder sua personalidade. As mulheres, assim como qualquer pessoa acometida pela doença passam a ficar cada vez mais dependentes de terceiros conforme a doença avança. Com isso, vale ressaltar que todas as mudanças e experiências influenciam diretamente no bem-estar do paciente, uma vez que muitas vezes são infantilizados, perdendo um pouco da sua identidade e singularidade, esquecendo que possuem desejos e, sobretudo, necessidades específicas que merecem ser atendidas. Dentre estas, a de que o lar reverbere suas singularidades. Desta forma, é relevante que a arquitetura seja utilizada como ferramenta para viabilizar a qualidade de vida de idosos acometidos com doenças

que afetam a memória, fazendo com que se identifiquem com o espaço em que vivem.


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ALZHEIMER E DEMANDAS ESPACIAIS


2 – ALZHEIMER E DEMANDAS ESPACIAIS

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2.1 – VANTAGENS DE MANTER O IDOSO EM SUA PRÓPRIA RESIDÊNCIA EM DETRIMENTO DE INSTITUTOS DE LONGA PERMANÊNCIA Segundo estudos, a dependência dos idosos em realizar atividades diárias tende a aumentar cerca de 5% na faixa dos 60 anos para cerca de 50% entre as

pessoas com 90 anos ou mais (BRASIL,2006). Desta forma, vale ressaltar que essa condição se agrava em idosos acometidos pelo Alzheimer, visto que é uma doença que acarreta a perda progressiva da

memória, comprometendo a autonomia do indivíduo, tornando-se necessário auxílio ou, em casos mais graves, a total dependência de terceiros. De acordo com Araújo et al. (2010), no Brasil, as instituições de Longa Permanência Para Idosos em geral apresentavam espaço e área física similar a grandes alojamentos o que pode proporcionar ao idoso o sentimento de isolamento e não desempenhar estímulos físicos e mentais ao indivíduo, uma vez que este espaço se apresenta como desconhecido. Além disso, existem poucas instituições especializadas em tratamentos e cuidados de idosos acometidos pelo Alzheimer e outras demências, portanto, é frequente que esses indivíduos sejam cuidados por familiares. Ademais, é verossímil afirmar que existe no Brasil uma cultura em que o cuidado dos idosos em suas próprias residências é priorizado.

Em concordância com Van Hoof (2010), o envelhecimento assistido por pessoas do convívio social do idoso e em sua própria casa é a melhor opção em detrimento a institucionalização, posto que remover uma pessoa acometida com Alzheimer de sua residência pode ocasionar perdas, uma vez que o espaço

em que reside apresenta-se como um ambiente familiar, onde existem itens e símbolos que estão ligados ao passado e estimulam a memória do idoso quando essa começa a falhar.

Segundo Zeisel et al. (2003) existe um grande potencial a ser explorado no ambiente interno que auxilia na melhoria dos sintomas da doença de Alzheimer. A


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maioria dos estudos acerca do ambiente adaptado para as necessidades de idosos têm enfoque em adaptar o espaço com estratégias voltadas às

necessidades físicas, entretanto, idosos acometidos com demências, necessitam de um espaço especialmente projetado de forma a compensar suas carências cognitivas.

Portanto, de acordo com Bawley (1997) um planejamento criterioso e cuidadoso pode auxiliar no funcionamento cognitivo, minimizando assim episódios de confusão mental e permitindo que o idoso disponha de liberdade para exercer atividades.

Sekine, et al. (2006) afirma que o idoso acometido pela doença de Alzheimer, em seu estágio inicial, tem conhecimento das suas perdas, mantendo suas funções asseguradas, sendo assim capazes de identificar o espaço em que vivem. Deste modo conseguem perceber se o ambiente em que moram é

confortável ou não. Atitudes e posturas calmas e seguras de profissionais que exercem cuidado aos idosos, principalmente os acometidos com doenças cognitivas, são

fundamentais uma vez que é proporcionado ao indivíduo um sentimento de segurança. Dito isso, de acordo com Ximenes, Rico & Pedreira (2014) o ato de cuidar não é apenas uma tarefa que necessita ser executada, com o sentido de tratar uma ferida. Esse cuidado estabelece o relacionamento com o outro,

através de expressões de carinho e prática de empatia. Sendo assim, esse cuidado se mostra presente uma vez que o cuidador passa a participar da vida do idoso, participando ativamente de momentos importantes. Entretanto, Fernández-Calvo, et al. (2010) diz que a experiência de prestar auxílio e assistência contínua a um idoso acometido com demência muitas vezes pode se tornar um fator estressante, tendo em vista o fato de estarem diariamente submetidos a situações de esgotamento físico e mental, o que pode culminar em um conjunto de reações negativas, tais como sobrecarga e algumas patologias. Portanto, realizar adequações na residência do idoso voltadas para as necessidades especificas que esta apresenta e combinando tratamentos farmacológicos, comportamentais e ocupacionais culminam num avanço mais lento da doença e o atraso na necessidade de serviços de internação.


2 – ALZHEIMER E DEMANDAS ESPACIAIS

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2.2 – COMO O ESPAÇO CONSTRUÍDO INFLUENCIA NO USUÁRIO COM ALZHEIER E NO CUIDADOR Para entender a influência que o espaço exerce sobre o usuário, foi entrevistado uma profissional da área de geriatria com experiencia em tratamento de idosos através de cuidados paliativos, uma cuidadora que possui mais de 20 anos de experiencia nos cuidados de idosos acometidos com a doença de Alzheimer e uma cuidadora que é responsável pelos cuidados da mãe acometida com tal demência. De acordo com a médica geriatra, o ambiente onde o idoso acometido com Alzheimer vive está muito relacionado com o possível avanço da doença, uma vez que quanto mais familiar esse espaço for para o paciente mais lento será o avanço da doença. Além disso, existem outros fatores que influenciam no prognostico, como por exemplo a existência de uma rede de apoio familiar forte e focalizada em que o indivíduo tenha sua cognição e seus afazeres diários estimulados. Ainda em concordância com a geriatra, a casa deve ser um local acessível, seguro, um espaço onde o idoso consiga transitar sem que sua integridade física seja comprometida, sendo assim, deve ser um ambiente em que o indivíduo se sinta valorizado e consiga exercer atividades de forma autônoma, configurando assim um espaço saudável e seguro para o paciente. Para a geriatra, tratar um idoso acometido com Alzheimer em sua própria residência em detrimento de institutos de longa permanência é vantajoso quando o

paciente dispõe de uma rede de apoio familiar, quando o espaço se apresenta como um ambiente saudável para sua permanência. Além disso, afirma que deslocar o idoso para ambientes diferentes com muita frequência pode resultar em episódios de alucinação, lapsos de memória uma vez que quando o

paciente começa a se acostumar com o local ele é alterado prejudicando assim o tratamento e acelerando o avanço da doença. Foram relatados acidentes referentes ao ambiente do banheiro tanto pela geriatra quanto pela cuidadora, e foi ressaltado a necessidade de utilização de

acessórios como barras de apoio, bancos na área do chuveiro que sirvam de auxílio para o idoso e para o cuidador a fim de resguardá-los de quedas, como


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também evitar vidros no box para prevenir que ocorram acidentes, fazendo com que a casa se torne segura para o paciente e auxilie o cuidador nos cuidados

para com esses indivíduos. 2.3 – PRESERVAÇÃO DE MEMÓRIA, IDENTIDADE E REVITALIZAÇÃO Entendendo que intervenções como as feitas em residências de idosos acometidos com Alzheimer devem preservar ao máximo as memórias e características que mantém a identificação do usuário com o espaço construído, propõe-se, neste trabalho, uma associação com alguns pensamentos relacionados ao restauro de patrimônio.

Segundo Boito (2002), existe a precedência da conservação sobre a restauração em que a intervenção deve ser a menor possível, respeitando os acréscimos que foram necessários ocorridos ao longo da história. Além disso, de acordo com Giovannonni, a arquitetura não se define apenas pelo objeto,

mas também pelo contexto em que está inserida de forma a lhe atribuir identidade. Dessa maneira, as intervenções, quando necessárias, devem preservar características previamente existentes na edificação (Blanco, 2008).

Portanto, adaptações e intervenções feitas em obras segundo diretrizes do restauro mostram uma preocupação relacionada à manutenção das características principais e identidade de obras arquitetônicas. A restauração da igreja da Vila de Santa Thereza, localizada na cidade de Bagé, no Rio grande do Sul, exemplifica os conceitos previamente descritos de forma que as intervenções executadas visam a preservação e a valorização da memória do ponto de vista histórico, arquitetônico e cultural, conforme figuras 1 e 2.


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FIGURA 1 – IGREJA ANTES DA INTERVENÇÃO

Fonte: https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/10.111/3589, acesso em: 10/11/2021


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FIGURA 2 – IGREJA PÓS INTERVENÇÃO

Fonte: https://images.adsttc.com/media/images/5db8/bc2d/3312/fd14/3300/06bb/large_jpg/VILA_SANTA_THEREZA_F%C3%81BIO_DEL_RE_15.jpg?157238787, acesso em: 10/11/2021


2 – ALZHEIMER E DEMANDAS ESPACIAIS

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Dessa forma, em intervenções como as feitas em residências onde vivem usuários acometidos com Alzheimer, existem também preocupações em relação a

manutenção da identificação do usuário com o próprio lar, modificando somente o que for necessário de forma a conceder segurança e conforto ao exercer atividades diárias e ainda manter símbolos e características originais na intenção de preservar a memória.

2.4 – CUIDADOS PESSOAS COM ALZHEIMER Reconhecer que existem soluções de acessibilidade nas diferentes áreas que constituem uma residência é fundamental para elaborar intervenções que

buscam proporcionar independência e estimular a autonomia da população idosa, além de ser uma forma de evitar acidentes (ALMEIDA RLS et al, 2015). Vale salientar a relevância do papel da acessibilidade uma vez que se trata de pessoas com mobilidade e visão reduzidas, além do cognitivo. A norma NBR

9050 (ABNT, 2020) traz parâmetros técnicos a serem adotados em projetos a fim de direcionar estratégias e proporcionar acesso a espaços de modo indiscriminado à maior quantidade de pessoas a utilização autônoma e segura do ambiente.

Posto que a norma contempla um vasto conteúdo a respeito de parâmetros projetuais para que se alcance a acessibilidade nas edificações, compreende-se que idosos acometidos com Alzheimer apresentam grandes limitações tanto visuais como auditivas, além de mobilidade reduzida. Dessa forma, se enquadram

em quase todas as demandas e recomendações da norma. Dentro de um ambiente residencial os locais onde existe maior ocorrência de acidentes com pessoas idosas são a cozinha e o banheiro (DRECH;POMATTI; DORING 2009). Devido a este fato, tais ambientes necessitam ser criteriosamente planejados e ter as recomendações da norma seguidas.


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CONSIDERAÇÕES SOBRE DEMANDAS ESPACIAIS


3 – CONSIDERAÇÃO DEMANDAS ESPACIAIS

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O ambiente onde um idoso acometido com a doença de Alzheimer reside deve ser tranquilo, evitando características que possam ser interpretadas como ameaçadoras. Desta forma, de acordo com Abraz (2016), o ambiente onde este vive influencia diretamente no seu humor, na sua relação com as pessoas e até mesmo na sua capacidade cognitiva, portanto, oferecer um ambiente adequado pode contribuir para minimizar sintomas da doença, assim como favorecer a qualidade de vida. De modo geral, uma pessoa com raciocínio e memória prejudicados dependerá muito do seu alcance visual para realização de atividades e para se localizar

no espaço, dessa forma, é importante que o layout do ambiente em que vive seja claro e com dicas visuais. É aconselhável que não existam grandes corredores e layouts complexos (UNIVERSITY OF STIRLING, 2013).

O número de quedas de idosos também está relacionado a redução generalizada da sua performance visual, ocasionando o aumento da instabilidade postural (DIAS, et. Al. 2007). Portanto, uma iluminação adequada, que evidencia elementos horizontais e verticais, reforçando características arquitetônicas do

espaço, pode ser utilizada para reforçar a informação visual e minimizar os riscos de quedas, especialmente durante a noite, quando os níveis de luz estão mais baixos (FIGUEIRO, 2008). Em todos os cômodos da residência deve-se evitar a utilização de tapetes, móveis ou objetos que interfiram na circulação e a utilização de objetos frágeis, fáceis de quebrar, na decoração. Ademais é aconselhável a instalação de corrimão nos corredores posto que auxilia o idoso a se locomover de forma

independente e segura em sua própria casa (NEW SOUTH WALES, 2011). Os esquemas a seguir apresentam uma compilação de informações obtidas através de entrevistas que constam nos apêndices 1 e 2, realizadas com uma médica geriatra e cuidadoras de idosos, além de informações e diretrizes contidas na norma NBR 9050 (ABNT, 2015) e pesquisa bibliográfica.


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3.1 – QUARTO A figura 3 apresenta alguns dos aspectos importantes a serem adotados em projeto de quarto voltado para idosos acometidos com Alzheimer. Soluções como instalação de interruptores e tomadas próximas à cama proporcionam maior conforto a estes, visto que não precisarão levantar-se para conseguir

acender ou desligar lâmpadas. FIGURA 3 – ESQUEMA QUARTO

FONTE: ELABORADO POR AUTORA.


3 – CONSIDERAÇÃO DEMANDAS ESPACIAIS

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Vale salientar a importância de que a mesa de cabeceira seja fixada no chão ou na parede a fim de servir de apoio caso o usuário necessite de auxílio ao levantar-se, bem como possuir bordas arredondadas e ser 10 centímetros mais alta que a cama com o objetivo de facilitar o manuseio de telefones e abajures. Segundo Brawley (1997), é recomendado a disponibilização de cadeiras ou poltronas adequadas e seguras distribuídas pelo ambiente, de forma a proporcionar ao usuário acometido com Alzheimer autonomia em suas ações. Ademais, salienta-se que a cama deve ter uma altura entre 45 e 50 centímetros de forma a permitir o apoio dos pés quando sentado evitando tonturas. As

portas contidas no ambiente devem conter maçanetas em estilo alavanca uma vez que são mais fáceis de se manusear. De acordo com Keane & Shoesmith (2005), dispor roupas e outros acessórios em locais acessíveis e na ordem de preferência do usuário pode contribuir

para que este se vista de forma autônoma e independente. Além disso, utilizar móveis compartimentados auxilia a organização e são de fácil manipulação do idoso. Em concordância com Marquardt (2011), pontos de referências em que a memória do idoso possa ser estimulada, auxiliam a orientação e o deslocamento de uma pessoa acometida com Alzheimer em sua residência. Desse modo, posicionar itens pessoais, como fotos ou chapéus em uma porta facilita a identificação da localização do seu quarto. Desta forma, além de soluções projetuais que resguardam a integridade física do usuário, é importante que haja, através da decoração, uma forma de minimizar as implicâncias ocasionadas pelo declínio cognitivo, portanto, é recomendado a utilização de elementos que são familiares a fim de proporcionar maior conforto e acolhimento no ambiente (NEW SOUTH, WALES, 2011). Além disso, é aconselhável que o local disponha de fotos, enfeites e outras recordações a fim de ativar a memória.


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3.2 – SALA Na figura 4 estão indicadas soluções projetuais a respeito do ambiente da sala. Almejando prevenir possíveis riscos à integridade física do idoso foram adotadas soluções como a utilização de janelas amplas a fim de permitir que o usuário aprecie a passagem externa sem ter que levantar-se para tal. FIGURA 4 – ESQUEMA SALA

FONTE: ELABORADO POR AUTORA.


3 – CONSIDERAÇÃO DEMANDAS ESPACIAIS

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Em concordância com Gitlin (2007) existe a necessidade de configuração da sala de estar com móveis confortáveis para pausas de descanso em casos de agitação, a fim de manter a segurança do idoso em sua própria residência. A utilização de mesas laterais e painéis de televisão fixados na parede ou no chão no intuito de prevenir quedas na condição de que o idoso necessite de tal apoio. Ademais, a utilização de puffs para apoio dos pés a fim de auxiliar a circulação sanguínea e diminuir inchaço de pés e pernas.

Outrossim, todos os aparelhos eletrônicos do ambiente devem funcionar através de controles remotos que devem estar sempre posicionados em mesas perto de sofás e poltronas a fim de evitar deslocamentos.

Neste deslinde, sofás e poltronas existentes no ambiente devem possuir altura de 50 centímetros, dispor de braços e os estofados necessitam preferencialmente ser de tecidos firmes proporcionando assim maior apoio e firmeza ao idoso ao se levantar e se sentar.

3.3 - COZINHA De acordo com Melo (2011), se alimentar é uma atividade complexa que necessita de muita atenção. Afirma ainda que a deterioração cognitiva de um indivíduo afeta a forma com que uma pessoa exerce suas atividades diárias. O esquema da cozinha representado na figura 5 apresenta parâmetros a serem seguidos de forma a otimizar o espaço e torná-lo seguro para a utilização do idoso acometido com Alzheimer, desta forma, é indicada a utilização de fogões com sistema que feche o gás quando a chama apagar, uma vez que usuários acometidos com a enfermidade em questão estão sujeitos ao esquecimento, podendo acarretar riscos à sua integridade física.

.


38

FIGURA 5 – ESQUEMA COZINHA

FONTE: ELABORADO POR AUTORA.


3 – CONSIDERAÇÃO DEMANDAS ESPACIAIS

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É importante considerar a antropometria quando se planeja mobiliário voltado ao público idoso, em especial altura da bancada e o posicionamento da área de trabalho que deve possuir altura entre a cintura e o tórax do usuário. Além disso, é necessário prever assento próximo a bancada da cozinha e planejá-la de forma a permitir que sejam realizadas tarefas sentado (BEZ, 2018). Ainda segundo Bez (2018), o posicionamento correto da altura de fornos é entre a cintura e ombros e recomenda ainda a instalação de suportes retrateis próximos a ele a fim de servir de apoio a pratos quentes. Os elementos que permitem abrir portas de armários devem possuir formato de fácil pega, dispensando que necessite de firmeza, precisão ou torção o pulso

do idoso para acionamento (ABNT – NBR 9050, 2015). Dessa forma, é recomendado puxadores em formato de “u” para ambientes como a cozinha, uma vez que possibilitam o uso de toda a mão para manejo e não só as pontas dos dedos. Além disso, devem possuir cor contrastante com o restante do ambiente.

As mesas utilizadas no ambiente devem possuir quatro pés sendo estes posicionados nas extremidades de sua configuração. Devem ainda possuir área de superfície com média de 1m², posto que eventualmente permitem o encaixe de cadeira de rodas (PASCALLE, 2002). A cozinha deve ser pensada de forma a

permitir que o idoso acometido com Alzheimer sente-se a mesa e participe ativamente da preparação dos alimentos (HOOF, 2009). Os armários não devem ser muito profundos para que não haja necessidade de o idoso esticar-se ou subir em escadas para pegar objetos e é indicado que existam gavetas grandes nos armários inferiores uma vez que por serem móveis compartimentados auxiliam o idoso a encontrar mais facilmente o que procuram, além de facilitar a ergonomia. É preferível a não instalação de armários superiores uma vez que podem trazer riscos ao usuário. Entendendo que a cozinha é uma área que rotineiramente permanece umedecida, a utilização de pisos antiderrapantes é indispensável para que não haja risco de queda.


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3.4 – BANHEIRO É fundamental que todos os ambientes da casa sejam seguros e permitam que o idoso acometido com Alzheimer tenha autonomia ao realizar as suas atividades cotidianas. A figura 56 apresenta um esquema com diretrizes projetuais a serem adotadas no ambiente do banheiro.

FIGURA 6 – ESQUEMA BANHEIRO

FONTE: ELABORADO POR AUTORA.


4

PROJETO


4– PROJETO

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4.1 – USUÁRIO E LOCAL A residência escolhida para a realização deste trabalho é uma casa térrea localizada no bairro Araçás, na cidade de Vila Velha, no estado do Espírito Santo,

onde atualmente reside Dilma Nicchio, avó da autora deste trabalho, idosa de 85 anos acometida com Alzheimer em estágio já avançado da doença. A idosa foi diagnosticada há 5 anos com tal demência. Atualmente não consegue realizar de forma autônoma atividades como cozinhar, lavar roupa e arrumar casa.

Portanto, conta com o auxílio de familiares que são responsáveis por seus cuidados. A idosa locomove-se de forma lenta e autônoma, entretanto necessita de apoios para que consiga transitar de forma segura pela residência. Espaços como a

sala de televisão e a área externa são locais onde a idosa permanece grande parte do seu dia, uma vez que são espaços onde consegue descansar e ter contato com o jardim que cuida. Espaços como a cozinha são pouco utilizados pela moradora visto que devido ao avanço da doença não está apta a preparar refeições de forma autônoma. A casa funciona como centro de encontros da família, onde todas as festas e comemorações acontecem. Isso se dá devido a uma tentativa da família em

estimular a memória da idosa fazendo com que tenha contato constante com pessoas que fazem parte de seu convívio. A casa fica localizada em uma rua sem saída, estritamente de uso residencial. A idosa não se relaciona muito com o entorno imediato da residência uma vez que o contato com a rua é mínimo posto que devido ao estágio avançado da doença não está apta a sair sozinha.


4– PROJETO FIGURA 7 – IMAGEM DE LOCALIZAÇÃO DA RESIDÊNCIA

FONTE: Google Maps, acesso em: 17/06/2021.

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Dilma reside há 20 anos na casa e dispõe de uma relação de muito apego pelo seu lar. Considerando que este é o lugar onde estão todas as suas memorias e a sua história, é preferível mantê-la no ambiente em detrimento de um instituto de longa permanência, visto que ela dispõe de uma rede de apoio familiar concisa e que supre suas necessidades. A casa será usada em sua essência como espaço de intervenção uma vez que foram identificados aspectos a respeito da arquitetura e da disposição de móveis que não atendem ao que é recomendado. A residência dispõe de 94,39 m², com uma considerável área externa onde existem canteiros e plantas que a idosa gosta de cuidar e passa boa parte do seu

tempo diário. Conta com dois quartos, um banheiro, cozinha com copa integrada e uma sala de estar. O local já sofreu reformas principalmente na parte externa, como a área da churrasqueira, o calçamento da entrada e algumas internas como a retirada dos

armários embaixo da bancada da cozinha. A idosa demostra insatisfação com essas alterações que são realizadas visto que por não entender o porquê realização delas, sente que estão “invadindo sua privacidade”. É preciso avaliar e ter consciência de que a doença pode e tende a evoluir e consequentemente a idosa pode precisar ainda mais de ajuda de terceiros para que consiga realizar suas atividades rotineiras. Dessa maneira, a proposta é adaptar o local de forma a atender a todas as demandas de um idoso acometido com Alzheimer e proporcionar maior conforto a moradora e as pessoas que auxiliam nos cuidados.


4– PROJETO

FIGURA 8 – PLANTA BAIXA LEVANTAMENTO

FONTE: elaborado por autora.

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4.2– DIAGNÓSTICO Através de levantamentos fotográficos,

FIGURA 9 – DESNÍVEIS - ENTRADA

métricos e de análises da rotina da idosa, foi identificado

elementos

que

que

a

residência

possui

se

configuram

como

obstáculos e prejudicam os cuidados de terceiros, assim como a realização autônoma de atividades cotidianas.

Todos os acessos da casa são por meio de desníveis sendo vencidos através de degraus

que possuem diferentes alturas, como exemplificado nas figuras 9 e 10. Assim

sendo, a idosa necessita exercer uma força maior para que consiga ter acesso aos ambientes o que resulta no aumento do risco de queda. Além disso, tal elemento configurase como barreira, uma vez que não atende aos parâmetros exigidos pela norma.

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021)


4– PROJETO FIGURA 10 – DESNÍVEIS – ÁREA EXTERNA

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021) .

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A pavimentação da área externa da residência é precária e insuficiente em pauta a garantir conforto e segurança, como exposto na figura 9, uma vez que além de não conter cobertura adequada, é irregular e apresenta rachaduras, o que dificulta a mobilidade podendo causar acidentes e impossibilita a utilização de cadeira de rodas.

FIGURA 11 – PAVIMENTAÇÃO

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021)


4– PROJETO

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As dimensões de circulação da área interna da residência não condizem com as mínimas especificadas e recomendadas pela norma, o que pode dificultar a locomoção da idosa além de não comportar uma cadeira de rodas numa eventual necessidade.

FIGURA 12 – DIMENSÕES PASSAGENS EXISTENTES

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021) .


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Ademais, a forma e distancia com que os móveis estão posicionados criam um zigue-zague no percurso ao longo da residência o que se apresenta como uma barreira uma vez que aumentam os riscos de acidentes. Outro aspecto importante que se configura como obstáculo são as dimensões das portas existentes, principalmente a do banheiro, que possuem largura menor que as estabelecidas pela norma, impossibilitando a acessibilidade necessária aos ambientes.

FIGURA 13 – ZIGUE-ZAGUE PROVOCADO POR DISPOSIÇÃO DE MOBILIÁRIOS E PAREDES

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021)


4– PROJETO

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FIGURA 14 – DIMENSÕES PASSAGENS EXISTENTES

Apesar do banheiro conter barra de apoio dentro do box, as dimensões internas não atendem as necessidades da norma, visto que sua largura é menor que a mínima permitida. Ademais, a utilização de vidros no box pode trazer riscos a integridade física da idosa posto que é possível que ocorram quebras, principalmente devido ao fato de que possa ser utilizado como apoio. Outra barreira identificada foi a utilização de tapetes no chão, como exposto na figura 14, que dificultam a locomoção.

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021)


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Em concordância com Day et al. (2000) e Van Hoof (2010), uma das preocupações de familiares e cuidadores de idosos acometidos com Alzheimer é preservar a segurança durante momentos de desorientação ou comportamento oscilante, podendo ocorrer fugas. Destarte, a estratégia mais utilizada é permitir o acesso a áreas externas, como quintais ou jardins, de forma controlada e segura. Ainda de acordo com Day et al. (2000), estudos indicam que permitir que pessoas acometidas com tal demência tenham acesso a áreas externas seguras geram uma significante diminuição na agitação desses usuários. Sendo assim, é importante que a área externa da casa seja explorada para que funcione como elemento para auxiliar no tratamento e minimizar sintomas da doença.

FIGURA 15 – ÁREA EXTERNA

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021)


4– PROJETO

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FIGURA 16 – SALA É recomendado que não existam tapetes em casas onde idosos residem uma vez que dificultam o deslocamento,

aumentando o risco de queda. Dito isso, foi verificado a existência de tapetes no ambiente da sala, como apresentado na imagem 16, o que se configura como um obstáculo visto que não atende ao que é aconselhado. Inobstante, o ambiente dispõe de mobiliários que atendem a norma, onde existem sofás que possuem braços, tecido firme e altura correta de forma a não exigir muito esforço do usuário. Entretanto, a televisão deveria estar fixada a parede para evitar riscos a integridade física da usuária, prevenindo possíveis acidentes.

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021) .


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FIGURA 17 – QUARTO A cama existente no quarto em que a idosa dorme não possui altura

correta uma vez que ao sentar-se os pés não encostam no chão, o que

pode

ocasionar

tonturas

e

potencializar acidentes. Não obstante, existem no ambiente elementos que remetem o passado e história da moradora, como mostra a figura 17. A exposição de tais objetos proporciona a idosa acometida com Alzheimer a identificação com o local onde reside, além de estimular a sua capacidade cognitiva. Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021)


4– PROJETO

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O fogão está localizado na área externa da casa, como exposto na imagem 18, minimizando os riscos de acidentes que poderiam ser causados por vazamento de gás. Entretanto, existe um desnível separando área interna e externa e percorrer esse trajeto pode aumentar riscos de acidentes.

FIGURA 18 – ÁREA EXTERNA - FOGÃO

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021)


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Além do quarto, na sala de jantar e no corredor estão expostas fotos de familiares e de momentos importantes da vida da idosa acometida com Alzheimer tornando o ambiente familiar e auxiliando no retardo do avanço da doença.

FIGURA 19 – QUADOR DE FOTOS

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021)


4– PROJETO

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FIGURA 20 - COZINHA Outra

potencialidade

identificada

na

residência foi a existência de uma bancada

livre na cozinha, sem armários inferiores, como mostra a imagem 20. Esta solução é

benéfica para a idosa uma vez que permite a aproximação de cadeiras para trabalho, a fim de evitar que se canse, e de cadeira de rodas, caso necessário. Entretanto, a altura em que a bancada está instalada é maior que a indicada pela norma. Além disso, a cortina instalada

embaixo

pode

potencializar

acidentes dado que vai até o chão, podendo fazer com que a idosa tropece. Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021) .


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4.3 – SOLUÇÕES PROJETUAIS Em concordância com informações levantadas no diagnostico a respeito da residência torna-se necessária atenção para a disposição dos mobiliários, dimensões dos ambientes, revestimentos a serem aplicados, texturas, entre outros, a fim de proporcionar maior segurança e conforto para a idosa, no intuito de diminuir episódios de confusão mental que podem vir a ocorrer. A disposição dos móveis e dimensão dos ambientes existentes não possibilita uma utilização correta e segura, conforme figura 21. Desse modo, houve a necessidade de alterar o posicionamento do mobiliário, substituição e adição de outros, de acordo com figura 22, a fim de proporcionar maior qualidade de vida e autonomia ao exercer atividades diárias.

FIGURA 21 – PLANTA BAIXA LEVANTAMENTO

Fonte: elaborado pela autora (2021)


4– PROJETO FIGURA 22 – PLANTA BAIXA HUMANIZADA

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021) .

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4.3 – SOLUÇÕES PROJETUAIS Dessa forma, foram adotadas estratégias projetuais com o intuito de aumentar as circulações e possibilitar áreas de manobra de cadeira de rodas entendendo que futuramente a idosa possa vir a utilizar. Além disso, foram criadas áreas de convivência e de permanência no exterior da casa, a fim de proporcionar estímulos a residente.

FIGURA 23 – AMBIENTES ONDE HOUVE INTERVENÇÃO

Fonte: elaborado pela autora (2021)


4– PROJETO

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FIGURA 24 – MOODBOARD A medida em que a idade vai avançando, o sistema visual sofre algumas mudanças e o idoso passa a necessitar de mais luz para conseguir realizar tarefas diárias e enxergar bem, visto que as pupilas ficam menores e consequentemente menos luz atinge a retina (FIGUEIRO, 2008). Dessa forma, de acordo com Torrington (2007), a iluminação geral deve apresentar claridade entre 300 e 700 lux, onde todas as superfícies devem estar bem iluminadas, uma vez que uma iluminação desigual dificulta a percepção e orientação do usuário no ambiente. Ademais, a utilização do contraste ainda beneficia o usuário em relação a orientação e localização espacial. Destarte, foi proposta a pintura das portas da residência na cor verde de forma a destacá-las do restante do ambiente. A definição da paleta de cores do projeto se justifica através de cores previamente existentes nos ambientes, como a cor das paredes internas da residência. Conforme figura 24. Além disso, as bordas de todos os mobiliários devem ser arredondadas proporcionando maior segurança a usuária.

Fonte: acervo e elaborado pela autora (2021) .

Fonte: elaborado pela autora (2021)


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Para que sejam detalhadas as alterações sugeridas em cada ambiente da casa, os tópicos seguintes descreverão as soluções projetuais sugeridas, bem como suas motivações a fim de evidenciar as propostas e a intenção em proporcionar um lar seguro e acolhedor.

4.3.1 - REFORMA Na intenção de proporcionar uma disposição funcional e confortável dos cômodos da residência, foram adotadas estratégias projetuais como o aumento da largura do corredor que foi desempenhada através da diminuição da largura do quarto de hospedes. Além disso, foi identificado que a largura do banheiro não atendia as medidas mínimas exigidas pela norma NBR 9050 (ABNT, 2020). Desse modo, para que fosse possível atender as recomendações, foi necessário alinhar a parede do quarto da idosa com a da sala de maneira assegurar a manutenção das dimensões do dormitório, conforme figura 24. Ademais, a larguras das portas existentes não condizem com as recomendadas pela norma, dessa forma, foi necessário substituir por portas com largura de 90 centímetros. Na intenção de preservar a memória da idosa e prolongar a identificação com o próprio lar, foram estabelecidas algumas soluções projetuais com o objetivo de proporcionar segurança e conforto para a execução de atividades cotidianas. Desse modo, todas as barras de apoio instaladas pela residência atendem aos requisitos estabelecidos pela norma NBR 9050 (ABNT, 2020), além de disporem de cores que contrastam com o restante do ambiente, no intuito de minimizar quedas e auxiliar na locomoção, uma vez que, pessoas com demência possuem menor percepção de contraste dificultando assim a visualização das bordas dos objetos (CALKINS, 2002).


4– PROJETO

FIGURA 25 – PLANTA DEMOLIR E CONSTRUIR

Fonte: elaborado pela autora (2021).

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4.3.2 - BANHEIRO Segundo Cambiaghi (2012) quanto mais o ambiente se adequa às necessidades do usuário, mais confortável é, dessa forma, é importante que os ambientes não apresentem risco a integridade física do idoso acometido com Alzheimer. A partir disso, foi observado que o banheiro existente na residência apresenta uma serie de obstáculos que podem vir a dificultar os cuidados e atividades exercidas nesse ambiente. Assim sendo, foram pensadas soluções de forma a facilitar a realização de atividades cotidianas do usuário e das pessoas que participam ativamente dos cuidados.

FIGURA 26 – PLANTA BAIXA LEVANTAMENTO

Fonte: elaborado pela autora (2021).


4– PROJETO

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De acordo com a figura 26, pode-se observar que a largura do banheiro é pequena com 1,17 metros, sendo essa menor do que a recomendada pela norma. Outro problema identificado foi a disposição das louças uma vez que não permitem locomoção e utilização de forma livre e segura, além de não possibilitar a aproximação de uma cadeira de rodas. A largura da porta existente também não corresponde a recomendada pelo norma visto que possui 60 centímetros de largura. A fim de atender as recomendações da norma e proporcionar uma melhor qualidade de vida e maior autonomia no dia a dia, foi necessária a ampliação do banheiro onde a parede existente foi demolida e uma nova construída a 2,10m de distância da outra parede existente, de forma a aumentar a largura, conforme apresentado na figura 27.

FIGURA 27 – PLANTA DEMOLIÇÃO E CONSTRUÇÃO

Fonte: elaborado pela autora (2021).


FIGURA 28 – IMAGENS LEVANTAMENTO BANHEIRO

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4– PROJETO Para melhor aproveitar o espaço e proporcionar segurança, houve uma nova configuração do layout de forma a tornar o espaço acessível e seguro, permitindo a utilização de cadeira de rodas, com espaço para área de transição e possibilitando uma circulação livre de obstáculos. Além disso, foi acrescentada uma nova barra de apoio de forma a auxiliar e facilitar a utilização da bacia sanitária. De forma a tentar preservar ao máximo a memória da idosa acometida com Alzheimer e evitar que perca a identificação com o seu lar, houve uma preocupação na escolha dos revestimentos de forma a conservar a essência da residência. Dessa forma, a cor do revestimento da parede interna do box, das barras de apoio e das portas dos cômodos foram definidas a partir da cor das paredes internas da casa, de maneira a proporcionar um maior contraste no ambiente permitindo que a idosa identifique e compreenda de forma rápida e clara.

Fonte: Acervo da autora (2021).

Houve também necessidade de instalação de assento flexível no box a fim de evitar acidentes e servir de apoio aos cuidadores na hora do banho, proporcionando a idosa um maior conforto. Ademais, foi identificado que o piso existente não é adequado para o ambiente do banheiro uma vez que é escorregadio e possui algumas irregularidades, sendo assim, foi aplicado o porcelanato Munari Branco acetinado e retificado na intenção de prevenir acidentes de quedas, uma vez que é antiderrapante e de superfície firme e regular evitando trepidação em cadeira de rodas, conforme esquematizado em figura 30.


4– PROJETO FIGURA 29 – RENDER - BANHEIRO

Fonte: elaborado pela autora (2021).

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FIGURA 30 – ESQUEMA REVESTIMENTOS E MOBILIÁRIOS - BANHEIRO

Fonte: elaborado pela autora (2021).


4– PROJETO

4.3.3 - SALA

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FIGURA 31 – IMAGEM LEVANTAMENTO - SALA

De acordo com Frank (2004) a arquitetura pode ser utilizada de forma a proporcionar melhorias nas atividades cotidianas dos idosos, de modo a

promover soluções espaciais que garantem o acesso adequado e seguro dos ambientes, além da permanência confortável.

Dessa forma, foi analisado que a sala de televisão não se configura como um ambiente seguro visto que o layout dos mobiliários existentes não

possibilitam um deslocamento livre e seguro, uma vez que as medidas das larguras das passagens são pequenas. Além disso, o móvel onde está a

televisão não é fixado no chão apresentando-se como obstáculo, podendo causar acidentes, conforme é apresentado na figura 30.

Fonte: Acervo da autora (2021).


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Assim sendo, foi proposto um novo layout de forma a proporcionar acessibilidade e conforto obtido através da substituição do sofá de dois lugares existente por uma poltrona com braços e estofado firme afim de permitir o encaixe de cadeira de rodas ao lado, conforme figura 31 e 32.

FIGURA 32– LAYOUT ANTIGO

Fonte: elaborado pela autora (2021).

FIGURA 33– LAYOUT PROPOSTO

Fonte: elaborado pela autora (2021).


4– PROJETO

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FIGURA 34 – RENDER - SALA Destarte, houve também a necessidade de inserir no ambiente um puff móvel para que a idosa consiga apoiar os

pés de forma a contribuir com a circulação sanguínea, uma vez que essa passa muito tempo sentada. Houve

necessidade de manter o sofá de três lugares existente tendo em vista que a idosa tem como costume se deitar em

alguns períodos do dia. Além disso, foram retirados todos os tapetes existentes.

Na intenção de preservar ao máximo as memórias e a identificação da idosa com o próprio lar foi criado um

mural expositivo de fotos de familiares posicionado estrategicamente de forma a permitir a visualização com

maior facilidade, conforme figura 34 e 35.

Fonte: Acervo da autora (2021).


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FIGURA 35 – ESQUEMA REVESTIMENTO E MOBILIÁRIOS - SALA

Fonte: elaborado pela autora (2021).


4– PROJETO

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4.3.4 - QUARTO Um bom planejamento espacial deve permitir que o usuário maximize sua capacidade de orientação e locomoção. Dessa forma, é importante que o layout dos ambientes seja intuitivo e simples com o objetivo de evitar episódios de confusão mental e estimular a memória. Isto posto, foi identificado que o quarto da idosa acometida com Alzheimer apresenta uma disposição de layout que não possibilita uma locomoção segura e livre de obstáculos, uma vez que as distancias entre os móveis são apertadas e possuem quinas que podem vir a causar acidentes, conforme figura 36.

FIGURA 36 – PLANTA BAIXA LEVANTAMENTO

Fonte: elaborado pela autora (2021).

FIGURA 37 – PLANTA BAIXA PROPOSTA

Fonte: elaborado pela autora (2021).


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Na intenção de proporcionar maior autonomia nas

FIGURA 38 – RENDER - QUARTO

atividades diárias da idosa e facilitar a utilização do mobiliário, foi proposto uma cômoda com gavetas de

forma que a disposição das roupas fiquem em locais mais acessíveis e de fácil manipulação possibilitando que a

idosa se vista de forma autônoma e independente. Além disso, o revestimento definido para o mobiliário foi uma

madeira semelhante à do guarda-roupas existente de maneira a estabelecer vínculo entre a idosa e o mobiliário novo proposto. A disposição do mobiliário foi pensada de modo a permitir

uma circulação livre de obstáculos, segura e de fácil compreensão, com distancias suficientes parar permitir

circulação de cadeira de rodas, consoante com figura 36.

Fonte: elaborado pela autora (2021).

Segundo Marquardt (2011) pontos de referência memoráveis são importantes para auxiliar na orientação do idoso acometido com Alzheimer. Destarte, foi proposto a manutenção do guarda-roupas existente, no intuito de preservar a identificação da idosa com o espaço. Além disso, houve necessidade de troca do

piso existente tendo em vista que possui irregularidades e é escorregadio, dessa forma, optou-se por um porcelanato acetinado e antiderrapante. Ademais, foi proposto um gancho para auxiliar a idosa ao trocar de roupa, de acordo com figura 38 e 39..


4– PROJETO FIGURA 39– ESQUEMA REVESTIMENTO E MOBILIÁRIOS - QUARTO

Fonte: elaborado pela autora (2021).

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4.3.5 - COZINHA Algumas precauções devem ser tomadas a fim de minimizar possíveis riscos à integridade física do idoso acometido com Alzheimer. Dessa forma, foi observado

que o layout da cozinha e da copa não favoreciam a circulação livre devido à disposição dos moveis que se configuravam como obstáculos. Sendo assim, optou-se pela demolição da parede existente entre a copa e a cozinha na intenção de integrar os ambientes e proporcionar maior segurança no deslocamento. Outra solução adotada foi a remoção da mesa existente próxima a bancada da cozinha, em razão do estreitamento da largura da passagem.

FIGURA 40 – PLANTA BAIXA LEVANTAMENTO

Fonte: elaborado pela autora (2021).

FIGURA 41 – LEVANTAMENTO

Fonte: Acervo da autora (2021).

FIGURA 42 – PLANTA BAIXA PROPOSTA

Fonte: elaborado pela autora (2021).


4– PROJETO A localização da geladeira também funciona como

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FIGURA 43 – RENDER - COZINHA

obstáculo, desse modo, foi decidido diminuir a bancada de

maneira a posicionar a geladeira estrategicamente do lado esquerdo da cuba, uma vez que libera espaço para

circulação e encontra-se em um local mais visível, na intenção de estimular a memória da idosa, lembrando-a de

fazer refeições, conforme figura 42. Os armários existentes da copa foram retirados a fim de liberar a passagem e possibilitar a utilização de cadeira de rodas. Foram instalados também armários de piso a teto

posicionados próximos a janela, permitindo a utilização segura, de acordo com figura 43. Tendo em vista a importância de manter o ambiente familiar e alterar somente o que for necessário, de modo a evitar episódios de confusão mental e manter a identificação com o espaço, houve a manutenção do revestimento existente das paredes a fim de preservar as memórias, conforme figura 44.

Fonte: elaborado pela autora (2021).


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FIGURA 44 – RENDER - COZINHA

Fonte: elaborado pela autora (2021).


4– PROJETO FIGURA 45 – ESQUEMA REVESTIMENTOS E MOBILIÁRIOS - COZINHA

Fonte: elaborado pela autora (2021).

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4.3.7 – ÁREA EXTERNA Permitir acesso a áreas externas, como quintais e jardins, está associado a uma significativa diminuição na agitação de pessoas acometidas com Alzheimer.

Desse modo, a intervenção multissensorial direcionada as necessidades do idoso pode funcionar de forma a amenizar problemas de percepção, assim como melhorar o processamento sensorial (COLLIER et al., 2010). Explorar conceitos de sociabilidade, solidariedade e soluções que façam com que o usuário se sinta no poder do ambiente, podem provocar ações que despertem o sujeito a fazer com que se esforcem mais, incentivando a memória e a atenção. (MENDONÇA,2012). Dessa forma, no intuito de proporcionar maior bem-estar e

conforto físico e psicológico para a idosa, foram propostas soluções como jardins e áreas de permanência na tentativa de preservar a memória através de estímulos multissensoriais, de acordo com figura 46.

FIGURA 46 – PLANTA BAIXA LAYOUT

.

Fonte: elaborado pela autora (2021).


4– PROJETO

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Ademais, tais estímulos provocam um efeito calmante e tranquilizador, auxiliando o idoso a resolver problemas e facilitando a recordação (MARTINS, 2011).

Dessa forma, foi inserido um jardim vertical próximo a área gourmet existente da casa com o intuito de aproximar a idosa a práticas de jardinagem a fim de promover através de texturas e cheiros estimulação multissensorial, aumentando assim a interação com o ambiente, conforme figura 47 e 48.

FIGURA 47 – RENDER – JARDIM VERTICAL

Fonte: elaborado pela autora (2021).


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FIGURA 48 – RENDER – JARDIM VERTICAL

Fonte: elaborado pela autora (2021).


4– PROJETO

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Houve preocupação em proporcionar conexão entre a idosa e o exterior da residência, dessa forma, foi criado um espaço de permanência próximo ao portão

de entrada, no intuito de estabelecer uma relação com o ambiente externo e proporcionar afinidade e sociabilidade com o entorno imediato, de acordo com figura 49.

FIGURA 49 – RENDER – ÁREA DE PERMANÊNCIA

Fonte: elaborado pela autora (2021).


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Entendendo que a residência funciona como centro de reunião e encontro da família, identificou-se a necessidade de espaços que permitam interação social entre os integrantes. Desse modo, foi proposto um deck de madeira coberto com pergolado e com um jardim vertical de forma a viabilizar uma melhor experiencia no convívio e ainda possibilitar estímulos multissensoriais a residente, conforme figura 50. .

FIGURA 50 – RENDER – PERGOLADO

Fonte: elaborado pela autora (2021).


4– PROJETO

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4.3.8 – FACHADA As soluções projetuais definidas para a fachada se relacionam diretamente com as características das intervenções apresentadas no tópico sobre restauro.

Embora tenha sido necessário haver ampliação do banheiro da residência e consequentemente o alinhamento da parede do quarto da idosa com a da sala, houve a manutenção da linguagem previamente existente. Em concordância com Boito (2003), deve haver o menor número de intervenções possíveis, dessa forma, com o intuito de manter a identificação da idosa com o próprio lar, houve manutenção de texturas e cores previamente existentes na fachada, conforme figura 52. Além disso, a textura existente foi aplicada em outras

paredes no exterior da residência, com a intenção estabelecer conexão estética

FIGURA 52 – RENDER - FACHADA

Fonte: elaborado pela autora (2021).


5

CONSIDERAÇÕES FINAIS


4– CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O desenvolvimento do presente trabalho possibilitou uma análise de como o espaço construído influencia diretamente no conforto físico e psicológico de idosos acometidos com Alzheimer, além de funcionar como alternativa de tratamento. A elaboração partiu do desejo pessoal em buscar alternativas a fim de

proporcionar melhor qualidade de vida e preservar memórias de idosos com tal demência, considerando experiencia pessoal de contato com esse grupo social, a partir de contexto familiar. Mediante análise do diagnóstico percebeu-se que a moradia atual possui condições em relação a segurança e conforto que impactam a moradora, uma vez que que a moradia não se configura como um espaço seguro e confortável para vivencia da idosa, visto que, apresenta uma serie de obstáculos que não permitem

uma experiencia diária segura e não atendem a requisitos da norma de acessibilidade, NBR 9050 (ABNT, 2020). Portanto, a reforma, a nível de estudo preliminar, apresenta adaptações necessárias para a convívio seguro e confortável de forma a garantir que suas atividades cotidianas sejam exercidas sem maiores esforços e que sua memória seja estimulada diariamente com o objetivo de retardar o avanço da doença, proporcionando maior qualidade de vida ao usuário. No entanto, muitas das soluções foram propostas para necessidades especificas da usuária em questão que se encontra em um estágio avançado da doença. Desse modo, esse trabalho se propôs a ser um exemplo de uma possível aplicação, trazendo de forma ilustrada possibilidades de adaptação que podem ser utilizadas como referência e método de projeto por demais estudantes da área e desdobradas em pesquisas posteriores.


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APÊNDICE


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Entrevista com médica Geriatra Dra. Elis Campos Mol 1.

Quais as maiores dificuldades que os idosos com Alzheimer apresentam?

A maior dificuldade que eu vejo do paciente com Alzheimer é a família dar seguimento ao tratamento. Muitas vezes, eles vão ao consultório, recebem o diagnóstico e o paciente é medicado. Tomam o remédio por um tempo e a família acha que o paciente não tem Alzheimer então interrompem o tratamento, o que faz com que a doença avance, atrapalhando o tratamento, ou então trocam muito de médicos, vão a muitos especialistas e como cada um tem uma conduta, passam remédios diferentes então isso acaba bagunçando muito o prognostico do paciente. 2.

Você acha que o ambiente onde o idoso vive influencia no avanço e tratamento da doença? De que forma?

O ambiente em que o idoso vive está muito relacionado com o avanço da doença porque se você tem uma rede de apoio familiar bem forte e focalizada em que o paciente tem seus afazeres e a sua cognição trabalhada todos os dias, isso faz com que o curso da doença seja mais lento e o paciente não avance mais rápido para a fase mais final do Alzheimer, além disso faz com que o processo de esquecimento e limitação sejam mais lentos. Portanto, a forma com que ele vive, como ele se alimenta, a rotina, isso tudo influencia no curso da doença. Quanto melhor a qualidade de vida do paciente mais lento será o prognostico da doença. 3.

Você acha que é mais vantajoso tratar idosos acometidos pelo Alzheimer em suas próprias residências ou em instituições de longa permanência? Por quê?

Depende muito de qual instituição de longa permanência e de qual residência estamos falando. Se o paciente possui uma rede de apoio familiar positiva, melhor ficar em casa, no convívio da família, no seu ambiente. É melhor ficar em sua própria residência no convívio da família, dentro do seu ambiente sem mudar nada. Se o paciente sofre maus tratos em casa, pressão psicológica, não tem horário, não se alimenta bem, não faz atividade física nenhuma, não faz terapia ocupacional e tem uma oportunidade ir a uma ILPI onde tem uma boa estrutura, é melhor que vá a esse local onde vai ser mais bem assistido. Depende muito, o local que for mais adequado, onde estiver um apoio melhor esse será o local mais indicado.


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Entrevista com médica Geriatra Dra. Elis Campos Mol 4.

Quais você acha que são os maiores riscos a integridade física que um idoso com Alzheimer pode estar sujeito dentro da sua residência?

Os maiores riscos que o paciente está sujeito é ser colocado de escanteio pela família, ser recriminado devido à falta de paciência com o idoso uma vez que se torna muito repetitivo. O paciente passa a se esquecer da rotina, perde a noção se é dia ou noite, se ele se alimentou ou não, então é um paciente que necessita de muito cuidado e cautela para que se possa lidar da forma correta. E muitas famílias não sabem lidar com isso, acabam tratando-o mal e isso faz com o que o paciente fique cada vez mais depressivo e reprimido consequentemente piorando muito o prognóstico. Essa pressão psicológica que esses idosos sofrem em determinadas residências afeta muito, portanto, se não existe um apoio emocional que supra as necessidades, todo o sistema desse paciente vai ser alterado e ele não vai ter um curso muito bom da doença, uma vez que virá associada com depressão e com um quadro emocional abalado. 5. Quais são os principais direcionamentos dentro de uma residência que você sugere aos cuidadores e dos afetados pelo Alzheimer? A casa deve ser acessível, segura, onde o paciente consiga transitar sem trazer riscos para o idoso. Além disso, ter uma casa onde o paciente se sinta valorizado, que consiga ir ao banheiro sozinho sem ajuda e que consiga levantar a noite. Hoje em dia temos projetos de casas seguras pra esses pacientes, que são casa com sinalizações no chão para quando o paciente for andando as luzes acenderem, superfícies niveladas sem nenhum ressalto, barras de segurança e apoio, banquinho no chuveiro para evitar risco de queda, piso antiderrapante nas rampas, etc. A casa segura onde a gente consegue fazer com que o ambiente ajude o paciente, então conseguimos ter o cuidado com indivíduo e ajudar as cuidadores a lidar com esse paciente, uma vez que vai ser muito mais fácil cuidar do idoso quando a casa te traz segurança e te traz acessibilidade para fazer isso tudo. Principalmente iluminação, perto de cabeceira e se atentar em relação as quedas no banheiro, tendo um banheiro seguro a gente evita muito. Além disso é importante não ter tapete no chão, e evitar escadas e desníveis.


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Entrevista com médica Geriatra Dra. Elis Campos Mol 6. Você já teve algum caso em que houve transição do idoso do asilo para residência, ou vice e versa? Afetou o tratamento? Já vivenciei as duas situações, hoje eu trabalho em um instituto de longa permanência. Isso depende muito da situação em que o idoso está vivendo, se está em uma casa onde está recebendo carinho e atenção, ele se sentirá acolhido em casa pelos familiares. Agora se for uma situação de repressão, de briga, de pressão psicológica, ocasiona alteração no tratamento fazendo com que o idoso tenha uma regressão muito ruim. Como por exemplo, se ele não fazia as necessidades na fralda, mas começa a fazer devido ao estresse vivenciado, pode ocasionar também alteração no sono e alucinação. O ambiente e uma rede de apoio para sustentar esse paciente é essencial, é o pilar do tratamento. 7. Você considera importante que os ambientes remetam ao histórico do paciente? Ou transmitam ideia do novo? É muito importante o ambiente para o histórico do paciente. Eu sempre oriento as famílias que quanto mais familiar seja o ambiente em que o paciente será colocado, melhor. Mesmo que seja as vezes um relógio mais antigo, um móvel, uma cama mais antiga em que ele vai olhar e lembrar, vai remeter uma história e vai fazer com que se senta acolhido. O Alzheimer é a perda da memória recente então as memorias remotas, mais do passado, elas não são perdidas, portanto se no local onde você vive existem várias coisas que te remetem ao passado, você se sentirá mais acolhido.Sempre oriento as famílias a colocar uma música que o paciente gostava de antigamente ou uma roupa para deixar mais exposta para ele, a fim de criar uma identidade e não esquecer completamente de quem ele é, mesmo que a memória seja de quando era novo. Então o ambiente é importantíssimo. A gente vê muito casos de pacientes idosos que mudam de ambiente e ficam uma semana na casa de um filho e outra semana na casa de outro, isso cursa com muita alucinação e é muito ruim para o paciente, tendo vários lapsos de memória, episódios e picos de alucinação devido essas mudanças porque quando ele começa a se acostumar com o local é trocado, então isso prejudica muito o tratamento do paciente.


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Entrevista com cuidadora da Dona Dilma, avó da autora deste projeto, Maria Esther. 1.

Em quais momentos a idosa fica confusa dentro da própria casa?

Ela fica quando faz o café dela, então tenho deixado os potes de sal e açúcar no mesmo lugar que ela sempre deixou porque caso contrário ela se perde. Toalha de banho por exemplo deve ficar sempre no varal porque quando peço a ela para tomar banho ela vai direto ao varal e quando deixo no quarto ou no banheiro ela não encontra. 2.

O que incomoda a idosa nos ambientes da casa?

Ela é muito organizada então fica extremamente estressada quando alguma coisa está fora do lugar que ela colocou, por exemplo, se deixo uma cadeira fora do lugar ela conserta, se coloco ventilador para secar uma tinta ela desliga e guarda o ventilador. 3.

Como você acha que deveria ser o espaço de guardar as roupas?

Eu não mudaria o guarda-roupa existente no quarto dela. Eu acho que as roupas têm que ser mais dobradas que penduradas, por exemplo, quando peço a ela para catar a roupa do varal ela nunca pendura, sempre deixa dobrada em cima da cama ou dentro do guarda-roupa. 4.

Você sente falta de algum apoio de mobiliário no quarto? Na sala? Na cozinha?

No quarto eu não mudaria nada, acredito que os móveis existentes sejam suficientes para exercer as atividades, até porque existe a mesa de cabeceira, a cômoda. Na sala eu sinto falta de um banquinho para ela apoiar os pés enquanto assiste televisão para ajudar na circulação e desinchar os pés porque ela deixa as pernas muito penduradas enquanto assiste televisão. 5.

O que você mudaria nos ambientes da casa de forma a facilitar o cuidado com a idosa?

No banheiro colocaria um apoio para ela lavar os pés e um banquinho para facilitar na hora banho. Além disso, já estamos retirando todos os tapetes da casa, mas ela sente falta. Ela não consegue deixar a casa aberta, eu abro as janelas e não da 10 minutos ela sai fechando tudo. Para ela, a janela tem que estar fechada e a cortina tampando a visão.


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Entrevista com cuidadora da Dona Dilma, avó da autora deste projeto, Maria Esther. 6.

Qual móvel da casa você repensaria?

Eu repensaria a cômoda do quarto dela, ela gosta muito porque é onde coloca as coisas, mas acho grande o que deixa o espaço apertado e fico com medo dela levantar durante a noite para ir ao banheiro e bater na quina e se machucar, o ideal seria um móvel menor. Outra coisa que eu quero mudar é tirar a geladeira da copa e colocar na cozinha uma vez que vai facilitar para quem está cuidando e eu acho que fica distante da cozinha que é um dos espaços que ela mais utiliza, depois da sala, então se a geladeira ficar na cozinha eu acredito que ela vai se lembrar mais de abrir a geladeira pra comer alguma coisa 7.

Existe algum espaço que você considera apertado? Qual? Por quê?

Eu vejo que ela fica confusa quando, por exemplo, deixo comida em cima da bancada, um alface lavado, por exemplo, e percebo que na hora de temperar ela abaixa várias vezes, abre o pote do sal várias vezes, acredito que fica sem saber se deve colocar ou já colocou. Quando ela fica mais sozinha reparo que ela entra muitas vezes no quarto de visita acredito que na esperança de ter alguém lá.

8.

Existe algum objeto que ela quase nunca se esquece onde está ou onde colocou?

Quando tiro ela de casa a primeira coisa que ela lembra é fechar a porta e tirar a chave, lembra sempre de fechar o gás também (mas somente quando tem que sair de casa). Quando ela pensa em sair de casa, desliga todos os aparelhos que estão ligados nas tomadas, fecha a porta, guarda sempre a chave no sutiã e quando esquece tira a chave no banheiro e deixa numa prateleirinha que existe embaixo do espelho. Outra coisa que ela nunca esquece é o relógio de pulso dela que inclusive sempre lembra de tirar na hora de lavar louça para não estragar e quando tira deixa sempre em cima da pia ou no sutiã. Ela não esquece de dar água para a cachorrinha, mas nunca lembra onde fica o pote de ração (que está embaixo do tanque na área externa). 9.

Em qual cômodo da casa você repara que ela fica mais confusa?

Eu não reparo que ela fica confusa em algum cômodo especifico, o que acontece é que ela se perde quando a gente muda algum móvel de lugar principalmente na presença dela. Eu disse a ela que ia mudar a geladeira de lugar e ela não queria que mudasse. Minha irmã e eu tiramos o freezer da cozinha e colocamos na área externa e ela pegou e colocou o freezer de volta na cozinha.


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