Parklet - Projeto final de graduação - Arquitetura e Urbanismo

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FACULDADE BRASILEIRA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

NATALIA ARPINI SCARPATI

PARKLET: PROPOSTA DE MICROESPAÇOS PÚBLICOS EM VITÓRIA - ES

VITÓRIA – ES 2015


NATÁLIA ARPINI SCARPATI

PARKLET: PROPOSTA DE MICROESPAÇOS PÚBLICOS EM VITÓRIA - ES

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo apresentado à Faculdade Brasileira – MULTIVIX, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Aline Silva Sauer

VITÓRIA – ES 2015


RESUMO Em um momento em que a sociedade urbana está cercada de grandes construções e vias de tráfego, os espaços públicos não estão de acordo com as práticas contemporâneas. Desse modo, é necessário pensar a cidade para as pessoas e para o contexto em que vivem. Uma alternativa de escape para melhorar, aos poucos, a qualidade de vida da população é recodificar os pequenos espaços. Sendo assim, esse trabalho final de graduação objetiva propor diretrizes para implementação de parklets de acordo com a legislação vigente na cidade de Vitória – ES e, complementar a isso, um projeto modelo de parklet será apresentado. Para este processo, foram feitos estudos em locais pioneiros de implementação de parklets no Brasil e no mundo. Além disso uma abordagem teórico-metodológica com base em estudos de artigos, livros e periódicos confiáveis foi realizada, assim como estudos específicos para cidade de Vitória – ES. Os parklets configuram uma nova opção de espaço público. Possuem custo reduzido, são de fácil implementação e manutenção, incentivam do comércio local, fornecem segurança para a rua, podem ser instalados temporariamente e fomentam o processo participativo da população junto com o poder público. Sendo assim, este trabalho oferece diretrizes para o processo de construção de parklets e disponibiliza um projeto modelo, seguindo todas as necessidades do lugar e da proposta. Disseminando assim a possibilidade de implementar estes pequenos espaços públicos em vagas de carro. Palavras-chave: Microescala.

Parklets;

Público;

Recodificar;

Implementação;

Modelo;


LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Primeiro Parklet do mundo. São Francisco, Califórnia – EUA ........15 Figura 02 - Tipologia das vagas ........................................................................21 Figura 03 - Afastamento da esquina..................................................................21 Figura 04 - Parklet Bevetene Tutti .....................................................................23 Figura 05 - Parklet Tênis de Mesa.....................................................................24 Figura 06 - Mobiliário Noe Valley Parklet ..........................................................32 Figura 07 - Segurança Noe Valley Parklet ........................................................32 Figura 08 - Implantação e Entorno Noe Valley Parklet......................................33 Figura 09 - Projeto 3D Humanizado, 22Nd Street Parklet .................................34 Figura 10 - Implantação e corte, 22Nd Street Parklet .......................................35 Figura 11 - 22Nd Street Parklet .........................................................................36 Figura 12 - Mobiliário Assento Multifuncional ....................................................37 Figura 13 - Mobiliário Assento Orgânico ...........................................................38 Figura 14 - Mobiliário de assento e apoio..........................................................39 Figura 15 - Parklet Le Botthegue di Leonardo, São Paulo – SP .......................39 Figura 16 - Parklet em frente a restaurante .......................................................40 Figura 17 - Parklet com área sombreada por ombrelone. .................................41 Figura 18 - Parklet com área sombreada por vegetação natural existente .......41 Figura 19 - Parklet com área sombreada pela própria estrutura .......................42 Figura 20 - Mecanismo para manutenção de sarjetas. .....................................43 Figura 21 - Instalação de Piso Elevado em um parklet .....................................43 Figura 22 - Esquema de elementos constituintes do Parklet 40th Street ..........44 Figura 23 - Plantas que necessitam de pouca água em canteiros de parklets .45 Figura 24 - Plantas delimitando espaço do parklet............................................45 Figura 25 - Vegetação integrada a proposta do parklet ....................................46 Figura 26 - Bicicletário próximo, mas não integrante do parklet........................47 Figura 27 - Bicicletas estacionadas na vertical..................................................48 Figura 28 - Bicicletas estacionadas de forma inclinada.....................................48 Figura 29 – Barreira de segurança e delimitação do parklet com material reutilizado ...........................................................................................................................49 Figura 30 - Barreira de segurança interativa e vaso para plantas .....................50 Figura 31 - Mapeamento dos serviços existentes na Rua Gama Rosa ............70 Figura 32 - Vagas de estacionamento escolhidas para instalação do parklet da Rua Gama Rosa........................................................................................................70


SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................04 2 ESPAÇO PÚBLICO REINVENTADO ............................................................08 3 INCENTIVADOR DE CIDADANIA .................................................................16 4 LOCALIZAÇÃO, IMPLANTAÇÃO E FUNÇÃO DE UM PARKLET...............20 5 MOBILIÁRIO URBANO E DESIGN THINKING .............................................25 6 REFERENCIAL PROJETUAL .......................................................................31 6.1 PARKLETS ..................................................................................................31 6.1.1 Noe Valley Parklet, RG-Archtecture ......................................................31 6.1.2 22nd Street Parklet, Rebbar Group .......................................................34 6. 2 MOBILIÁRIO ...............................................................................................36 6.2.1 Assentos..................................................................................................37 6.2.2 Mesas e Apoios.......................................................................................38 6.2.3 Sombra ....................................................................................................40 6.2.4 Piso ..........................................................................................................42 6.2.5 Vegetação ................................................................................................44 6.2.6 Bicicletário ..............................................................................................46 6.2.7 Barreira e Segurança..............................................................................49 7 DIRETRIZES PARA REINVENTAR O ESPAÇO PÚBLICO COM O PARKLET ...........................................................................................................................51 8 DIAGNÓSTICO ..............................................................................................69 9 ESTUDO PRELIMINAR PARKLET GAMA ROSA ........................................72 10 CONCLUSÃO...............................................................................................80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................71


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1 INTRODUÇÃO

O termo parklet foi usado pela primeira vez em 2005 para designar uma pequena praça construída em vagas públicas de estacionamento em São Francisco na California - EUA, mas foi em 2010 que o conceito tomou forma em cinco projetos espalhados por quatro bairros desta mesma cidade. Esse foi o início de um projeto que logo foi aceito e incorporado por toda a população norte americana, resultando em mais de cinquenta parklets em 2011 (SÃO PAULO, 2014). No Brasil, a cidade de São Paulo foi pioneira na instalação do projeto, que já vem sendo discutido em congressos desde 2012. Hoje somam mais que cinquenta projetos de parklets, número esse em contínuo crescimento. A instalação de parklets é tratada como uma política pública de ocupação dos espaços públicos da cidade. Além de São Paulo, cidades como Rio de Janeiro e Santos estão analisando como implementar também os parklets (SÃO PAULO, 2014). Muito mais do que uma ocupação diferenciada em uma vaga de carro, os parklets buscam mostrar que esse espaço tem uma grande capacidade, mesmo na sua pequena escala, de melhorar a experiência do cidadão com a cidade. Em um momento em que a sociedade urbana está cercada de grandes construções e vias de tráfego, os espaços públicos não estão de acordo com as práticas contemporâneas, mesmo sendo um dos responsáveis pelo papel de pontos de contato entre as pessoas. Assim, deve-se estar atento ao âmbito da microescala que é essencial para reorganizar os ambientes urbanos (SÃO PAULO, 2014). É exatamente devido à escala, ritmo e urgência dessa nova realidade urbana que precisamos voltar a nossa atenção para pensar as cidades, e não apenas construí-las. (BURDETT, 2011, p.116)

Desse modo, é necessário pensar a cidade para as pessoas e para o contexto em que vivem. Uma alternativa de escape para melhorar, aos poucos, a qualidade de vida da população é recodificar os pequenos espaços. Antes vistos somente como uma possibilidade de parar os carros, estes passam a ser lugares de encontro, que proporcionam ao cidadão uma interação com a sua comunidade.


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Os parklets configuram uma nova opção de espaço público. Possuem custo reduzido quando comparado a outros tipos de investimento nessa área, são de fácil implementação e manutenção devido a sua microescala. Além disso, estes equipamentos podem ser instalados para permanecer somente por um tempo determinado, fomentando assim, o processo participativo da população junto com o poder público para sua construção e manutenção (SÃO PAULO, 2014). Além de todas essas vantagens citadas, o parklet pode ser considerado, quando bem instalado, um grande incentivador do comércio local, provedor de segurança para a rua, formando, a partir das relações ocorridas ali, um bairro mais humanizado (SÃO PAULO, 2014). O design do mobiliário urbano usado para os parklets de forma criativa e funcional, desperta ainda mais a vontade de permanecer nele. É o mobiliário que vai definir a função daquele parklet que pode ser variada e deve estar de acordo com o local instalado. Como considera Ghel (2014), a população deve sentir os benefícios da cidade ao caminhar por ela e pequenos espaços como o parklet podem transmitir essa aproximação com a cidade. A boa qualidade ao nível dos olhos deve ser considerada como direito humano básico sempre que as pessoas estejam nas cidades. Na escala menor, a da paisagem urbana dos 5km/h, é que as pessoas se encontram de perto com a cidade. Aqui o pedestre tem tempo para fruir a qualidade ou sofrer com a sua falta. (GHEL, 2014, p.118)

É importante, ao abordar essa questão, discutir e defender o uso do solo de forma democrática e os espaços públicos da cidade. Tendo em vista que uma vaga beneficia somente as pessoas que possuem carros, se torna aceitável a instalação de um parklet em uma vaga, número irrisório quando comparado à quantidade de vagas de estacionamento existentes em uma cidade. Desse modo, esse trabalho final de graduação objetiva propor diretrizes para implementação de parklets de acordo com a legislação vigente na cidade de Vitória –


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ES e, complementar a isso, um projeto modelo de parklet será apresentado. Todos os produtos desta pesquisa estarão de acordo com a cidade e os anseios da população em que nela vive. Para esse processo foi feita uma abordagem teórico-metodológica com base em estudos de artigos, livros e periódicos confiáveis. Além disso, estudos no local de implantação do parklet e consultas a normas para construção de um projeto também serão realizadas. Assim, este trabalho se estrutura da seguinte forma: O capítulo um é a introdução do trabalho, nele estão estruturados os objetivos, a justificativa e a metodologia. O capítulo dois consiste em explicar o que é um parklet, como, quando e por quê surgiu. Sugere uma comparação entre o parklet e os outros tipos de espaços públicos e a importância de um espaço que abranja mais pessoas do que carros, abordando questões como transporte (transportes públicos, carros e bicicletas) e vagas de estacionamento. No capítulo três são apresentados os benefícios deste espaço para a sociedade. Nele está a defesa das vantagens em se instalar um parklet, como, por exemplo, identificar a melhoria na segurança das ruas, na convivência das pessoas, no desenvolvimento do entorno, na escala urbana, na dinamicidade que o mesmo proporciona e defender o direito de mais pessoas em detrimento de carros, incentivando, assim, o transporte não automatizado. O capítulo quatro consiste em apresentar critérios de localização e implantação de um parklet e mostrar a influência desta escolha nos resultados a serem obtidos. Além disso, o capítulo expõe alguns exemplos que atestam a diversidade do parklet no que tange à sua função. No capítulo cinco é apresentado o conceito de mobiliário urbano e a importância dele para cidade. Propõe-se diferentes formas de conceber o design voltadas para a apropriação do utilizador através de conceitos como caráter temporário, arquitetura efêmera e espaço de transição.


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O capítulo seis consiste em estudar o design do mobiliário urbano voltado para as pessoas, perceber como ele influencia no comportamento do usuário e propor, através de pesquisas, uma melhor alternativa para um espaço público como o parklet. Para isso, serão apresentados exemplos de mobiliários urbanos diversos já utilizados em outros parklets pelo mundo e um estudo destes, isso futuramente servirá como base para a criação de uma proposta para Vitória. Esse capítulo é importante para o trabalho, pois ajudará a traçar diretrizes projetuais através de comparações e utilização de dados de projetos como referência. No capítulo sete são apresentadas diretrizes para implementação de parklets em Vitória, Espírito Santo. Em forma de cartilha animada, são levantados os objetivos, justificativas, critérios, diretrizes e guias para a criação destes espaços nas ruas da cidade. O capítulo oito busca investigar um local adequado para a instalação de parklet em Vitória - ES. Este conterá análises que determinarão a importância do local escolhido, como por exemplo, o estudo de usos e características do local. O capítulo nove apresenta um estudo preliminar de parklet para a Rua Gama Rosa em Vitória, Espírito Santo. Neste estudo, são levantadas diretrizes projetuais gerais para um bom desenvolvimento deste projeto e suas especificações para o local. Ao final do trabalho são apresentadas as referências bibliográficas que foram utilizadas como fonte de consulta para esta pesquisa, além dos anexos. Por todas essas questões e por perceber que Vitória, capital do Espírito Santo, é uma metrópole carente de microespaços urbanos e públicos para a população, esta pesquisa vem discorrer sobre um tema atual, deixando clara todas as etapas para a efetivação destes espaços de modo a simplificar a sua implementação. Sendo assim, esta pesquisa potencializa a proposta deste estudo, agindo como um facilitadora e colaboradora para o desenvolvimento de uma cidade para pessoas.


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2 ESPAÇO PÚBLICO REINVENTADO

Segundo Robba e Macedo (2002), desde o período da Colônia no Brasil a praça exerce uma função primordial para a sociedade como um todo. Ela representa um espaço de encontro da população para diversas funções, mas principalmente para o desenvolvimento da vida ao ar livre. Inúmeras são as definições do termo praça. Mesmo havendo divergência entre os autores, todos concordam em conceituá-la como um espaço público e urbano. “A praça sempre foi celebrada como um espaço de convivência e lazer dos habitantes urbanos” (ROBBA, MACEDO, 2002, p.15). Robba e Macedo (2002) afirmam que as praças existentes antes da década de 1990 se diferenciam muito das que evoluiram a partir desse período. Largos, pátios, terreiros, rossios e arraiais são desconstruídos e construídos de modo a se adaptar ao novo modo de vida urbano que vem sendo estruturado. A partir disso, Robba e Macedo (2002) sustentam que no século XIX praticamente todo o comércio que era praticado nas praças foi extinto. Nesse período, os espaços públicos de encontro começaram a ser tradados com mais requinte, passaram a ser situados em centros e bairros de elite e se tornaram representantes de uma alta classe social, configurando-se como espaços de segregação. Já o século XX, “(...) constitui um excepcional momento de transição, de transformação urbanística e, portanto, paisagística do país, e este fato se reflete diretamente na configuração e programa dos espaços livres (...)”. A arquitetura paisagística desse período passa a ser orientada por padrões modernistas que requalificam o espaço, dando novas funções e estilos (ROBBA, MACEDO, 2002, p.15). Neste contexto, Caldeira (2007) afirma que o urbanismo moderno rompe com as formas tradicionais de intervenção urbana e lança um grande desafio aos arquitetos


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e urbanistas de criar uma nova morfologia urbana, a partir de estudos e experimentações, para solucionar os problemas das cidades industriais. Dessa forma, Robba e Macedo (2002) consideram que a cidade sentiu a necessidade de se transformar com a alta migração populacional decorrente dessa nova economia que vem tomando forma a partir desse século. Sendo assim, surge um novo modelo de cidade, onde a consolidação de espaços livres, então existentes, e a construção de malhas viárias são as prioridades. Ou seja, o grande adensamento fez com que os espaços urbanos vazios que antes eram utilizados para o lazer fossem ocupados pela população, por isso a preocupação em manter os que restaram para fins de lazer. Muda-se então, o programa de atividades das praças. Nos tempos modernos, elas não só serviram como passeio e contemplação como no ecletismo, mas eram os únicos espaços (juntos com os parques e jardins) para lazer da sociedade trabalhadora e sem recurso, haja vista que é nesse período que surgem os clubes e associações particulares. Essa era, então, a única opção da maior parte da população. Assim, as funções destes espaços vão se multiplicando como por exemplo a construção de quadras esportivas, anfiteatros e conchas acústicas (ROBBA, MACEDO, 2002). Uma mudança considerável é melhor percebida na segunda metade do século XX, quando a praça passa a ser pensada não mais como um espaço de sociabilidade, como complementam os autores Robba e Macedo (2002, p.97) “a circulação foi também incorporada ao programa de atividades do espaço livre público em áreas centrais nas metrópoles brasileiras e permaneceu como uma das suas formas de utilização mais comuns”. Isso se deu pelo grande adensamento das metrópoles e pelos congestionamentos das vias por veículos e pedestres. Segundo Caldeira (2007) a cidade teve um crescimento acelerado e junto com esse crescimento aumentaram os problemas urbanos. A cidade moderna pode ser considerada uma cidade em constante movimento e com muitas ações de deslocamento. Isso se reflete na formação dos espaços coletivos e na efetiva ação dos seus programas para proporcionar encontros e relações entre as pessoas.


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Diante dessas transformações, a estrutura formal da cidade modifica-se e, com ela, os espaços simbólicos e tradicionais perdem significado. É o caso da praça pública que, diante do crescimento territorial da cidade moderna e do surgimento de edificações, que passam a abrigar e acolher diversas atividades praticadas nos espaços tradicionais, depara-se com um movimento de declínio na condição de local de sociabilidade. As praças passam a assumir gradativamente o papel de vazios urbanos articulados ao sistema viário e ao abrigo de monumentos. (CALDEIRA, 2007, p.196)

Segundo Caldeira (2007), algumas teorias tratam o espaço urbano como um problema técnico, influenciadas pelo pensamento racional e progressista, abordando com descaso a relação social entre os habitantes e a cidade. O caráter funcional e simbólico desses espaços públicos só surge ao se relacionar os elementos que compõem a cidade no momento que começa a ser elaborado um novo conceito de cidade. [...] em vez de valorizar o ambiente urbano como o habitat harmônico e ideal para a sociedade, destacaram a eficiência e a técnica como instrumentos para resolver os problemas gerados pela cidade-industrial. (CALDEIRA, 2007, p. 219)

Ainda nesse contexto, Ghel (2014) considera o modernismo e o advento do automóvel como fatores determinantes para mudança do espaço da cidade. Ideologias dominantes de planejamento rejeitaram o espaço urbano e a vida na cidade como inoportunos e desnecessários. O planejamento dedicou-se intensamente ao ideal de desenvolver um cenário racional e simplificado para as atividades necessárias. O aumento do tráfego de automóveis tirou de cena a vida na cidade ou tornou completamente impossível os deslocamentos a pé. (GHEL, 2014, p.26)

Entretanto, Leite (2012) relaciona tal mudança à globalização econômica, sendo que, a arquitetura vai refletir a instabilidade gerada pela economia nos seus símbolos, monumentos e escalas que acabam se perdendo. Em substituição surge a fragmentação do território, que sofre mudanças contínuas. Na verdade deixamos para trás a cidade moderna do século 20 e nos deparamos, sem aviso prévio, com as metrópoles mutantes da contemporaneidade. A metrópole contemporânea apresenta imensas áreas desarticuladas e dispersas pelo território. São áreas dotadas de fluxos variados, em transito permanente e, com fraturas que esgaçam o tecido urbano, estabelecendo aparente semelhança ao tecido urbano disperso. (LEITE, 2012, p.50)


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A partir disso, pode-se observar que as praças do século XX dão lugar para o caos da cidade moderna se adentrar e adaptam os seus programas. Há uma tentativa em requalificar os antigos pressupostos de composição dos espaços públicos urbanos, mas, principalmente na segunda metade do século XX, como dito anteriormente, essas praças não configuram mais espaços agregadores da sociedade. Além disso, Robba e Macedo (2002) afirmam que, pelo fato da praça ser muito visível e sensível a transformações, ela se torna lugar para confirmação de novos períodos, como por exemplo, o contemporâneo que sucede o moderno. A praça contemporânea, segundo Robba e Macedo (2002) engloba uma liberdade muito grande quando se refere a programas, elementos, cores, desenhos e materiais, o que faz com que surjam muitas possibilidades de projetos, linguagens e formas. Tal liberdade surge com a revisão dos princípios modernistas e com o resgate de alguns conceitos mais antigos utilizados para a praça. Dessa forma, observa-se que os arquitetos passam a utilizar novas tecnologias em seus projetos, voltando também a utilizar a praça como espaço de comércio ou de prática de esportes, criando nelas ambiências cenográficas que servirão de pontos de encontro. Robba e Macedo (2002) atestam que, atualmente, o uso do comércio nas praças é um atrativo significante para a população. Uma característica dos espaços públicos urbanos contemporâneos levantada por eles é um único programa para cada praça, por exemplo, praças de camelódromos. Tendo em vista a sociedade contemporânea ativa e carente de espaço para circulação devido o grande índice de tráfego de pessoas e automóveis, as praças adaptam o seu programa para solucionar essa problemática, criando assim, segundo Robba e Macedo (2002) muitas praças secas. Depara-se então com a problemática levantada anteriormente quando mostrou-se a praça na segunda metade do século XX. Esse espaço não está mais ligado ao uso coletivo, mas como afirma Caldeira (2007, p.282):


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(...) Sua principal função é de articular o conjunto de edificações e, como espaço vazio, serve como local de passagem, proporcionando o livre deslocamento para os edifícios. São espaços que servem como suporte para a arquitetura, desempenhando um importante papel simbólico, no sentido de valorizar o conjunto urbano.

A partir dessa problemática, pode-se perceber a necessidade de reinventar a cidade e principalmente o espaço público e, como afirma Leite (2012, p.8) “as metrópoles são o grande desafio estratégico do planeta nesse momento. Se elas adoecem, o planeta torna-se insustentável.” Dessa forma, é notório que nas últimas décadas os espaços urbanos estão perdendo sua principal essência. Esses espaços não mais atraem pessoas para o contato e para a sociabilidade e, como afirma Leite (2012), acabam se tornando obsoletos, oportunos e muitas vezes configuram um vazio urbano que acarretam mais problemas para a cidade. “Do ponto de vista urbanístico, essas transformações resultaram em uma série de problemas comuns que vem afetando as nossas cidades hoje.”(LEITE, 2012, p.9). Ainda para Leite (2012), a contemporaneidade dá oportunidade de transformar as cidades em espaços mais inteligentes, devido a grande liberdade expressa pelo século XXI, como já citado acima. Essas cidades otimizam a vida urbana contemporânea e, para isso, devem ser mantidas vivas e ativas. Uma cidade viva, segundo Ghel (2014), combina atividades sociais e de lazer com espaço para circulação de pedestres e tráfegos. Ou seja, pressupõe uma vida urbana variada. Quando os urbanistas ambicionam mais do que simplesmente garantir que as pessoas caminhem e pedalem nas cidades, o foco se amplia de simplesmente proporcionar espaço suficiente para circulação, para o desafio, muito mais importante, de possibilitar que as pessoas tenham contato direto com a sociedade em torno delas. Por sua vez, isso significa que o espaço público deve ser vivo, utilizados por muitos e diferentes grupos de pessoas. (GHEL, 2014, p.63)

Ghel (2014) ainda afirma que, para a cidade ser considerada viva, independe da densidade populacional, mas necessita possuir caráter de espaço convidativo e


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popular. Entretanto, Leite (2012) considera a densidade um fator importante no desenvolvimento de uma cidade inteligente com inovações urbanas, ou seja, de uma cidade reinventada, inovadora e criativa. Pode-se afirmar então, que as grandes metrópoles contemporâneas possuem densidade suficiente para que comecem a ser desenvolvidas soluções inteligentes. O que ainda está em voga é como e em que espaço essas soluções se voltarão para uma sociedade viva, ativa e diversificada que necessita de encontros e trocas sociais, tendo em vista o esgotamento do espaço público moderno. Relativizando o então dito, com a cidade de Vitória – ES, percebe-se que essa, apesar de ser a cidade mais adensada do estado possuindo 3.327,73 habitantes por metro quadrado (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2010), ainda tem muitas dificuldades para oferecer um bom local de encontro público. Segundo Ghel (2014) essa dificuldade se dá pelo adensamento irregular e mal planejado. Porém, a quantidade (densidade), quando combinada com a qualidade dos espaços urbanos, podem gerar vida para a cidade. Observa-se a partir disso, a necessidade de alinhavar os métodos e instrumentos para fomentar a vida na cidade de Vitória-ES. Nesse contexto, esse trabalho vem discorrer sobre o parklet como um instrumento inteligente para revigorar a ideia de uma cidade para todos, de acordo com as necessidades da contemporaneidade. Desse modo, Koué (2013) define em três condições para a solução da problemática deixada pelo urbanismo moderno, nomeada por ele como Infraestrutura emergente, onde o parklet se insere. Em primeiro lugar, as infraestruturas emergentes são criadas de baixo para cima para aumentar a eficiência do seu comportamento natural. Em segundo lugar, as infraestruturas emergentes são flexíveis e adaptáveis, eles crescem e mudam ao longo do tempo em resposta aos acontecimentos. Em terceiro lugar, as infraestruturas emergentes são condensadas, simplificadas e/ou são parte de infraestruturas então existentes, eficientes no que tange ao uso do espaço, material e energia, que prestam serviços ao público. Uma quarta condição de infraestruturas emergente é parcerias público-privadas que se aplicam muitas vezes . (KOUÉ, 2013, p.2, tradução nossa)


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Koué (2013) ainda afirma que a infraestrutura criada de baixo pra cima, surgiu para contrapor um planejamento urbano moderno, que tinha as grandes edificações como eixo principal. Essa condição é fundamental pela liberdade de ações eficientes e por tornar possível a participação da população no planejamento da cidade. Ou seja, é a população e entidades particulares que são responsáveis por construir os parklets, e não o poder público, por isso são considerados como um programa de “baixo pra cima”. Como extensão da primeira condição, a segunda vem pra garantir que os espaços contemporâneos sejam flexíveis à mudança de acordo com as necessidades. Koué (2013, p.3, tradução nossa) exemplifica que “o parklet emergiu em resposta ao contingente populacional, à quantidade de carros e ao espaço insuficiente para recreação”. Para Koué (2013), esse grande estresse, foi gerado pela modernidade e continuará a aumentar, por isso, as infraestruturas emergentes devem se adaptar. O parklet também exemplifica a terceira e a quarta condição, pois deve ser instalado em local público condensado e para uso de toda a população. Para implantação dessas infraestruturas emergentes, é comum contar com parcerias entre setor público e privado (KOUÉ, 2013). Segundo Koué (2013) o parklet é um pequeno parque público normalmente construído

em

áreas

dedicadas

à

carros,

principalmente

em

vagas

de

estacionamento próximas à calçada. Nesses espaços, são implantados plataformas removíveis com plantas, bancos, mesas, entre outros mobiliários. Apesar de ser móvel, esses espaços costumam permanecer no mesmo local por meses e até anos. Dessa forma, um espaço que antes era dedicado aos carros, passa a ser uma área pública e recreativa para toda a população. Koué (2013, p.77, tradução nossa) afirma que “o conceito de parklet foi informalmente definido como vagas de estacionamento convertidas em pequenos espaços públicos temporários”. Porém, esse conceito foi ampliado para que não só as vagas pudessem ser usadas para a implementação de um parklet. Como afirma o Manual Pavement to Parks (2015, p.60, tradução nossa) eles são uma “(...)extensão temporária da calçada”, dando possibilidades de transformação de


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uma parte da rua em espaço público. Muito mais do que usar a rua, os parklets transformam um espaço que era dedicado ao carro em um espaço voltado para as pessoas (KOUÉ 2013). O parklet surgiu em 2005 em São Francisco na California – Estados Unidos da América. Na ocasião, um estúdio de design californiano converteu uma vaga de estacionamento em um local público para recreação da população por um dia (Figura 01). Essa atitude ganhou uma rápida popularidade, se tornando um evento anual titulado “Park (ing) Day” que reúne cidadãos, artistas e ativistas colaborativamente, com a intenção de transformar vagas de estacionamento em espaços públicos temporários (KOUÉ 2013). Figura 1 – Primeiro Parklet do mundo. São Francisco, Califórnia – EUA

Fonte: PARKINGDAY.ORG (2014, acesso em: 24/05/2015)

Koué (2013) afirma que a união dessa ideia com o Programa de Praças Públicas levou à criação do programa San Francisco Paviment to Parks. Esse programa é fundamental para fiscalizar o programa de parklets da cidade e unir forças entre órgãos como o de transporte, de obras públicas e o departamento de planejamento. Foi a partir desse programa que os parklets em São Francisco começaram a ser formalizados e de acordo com Koué (2013), o primeiro dentro dos parâmetros legais surgiu no ano de 2010. Depois dessa iniciativa, muitas cidades vêm implementando parklets pelo mundo.


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3 INCENTIVADOR DE CIDADANIA

Segundo Ghel (2014) o espaço urbano é muito diverso em suas atividades. Essas atividades, para melhor entendimento, devem ser divididas em duas partes: as necessárias e as opcionais. A primeira categoria são atividades que acontecem independente de outros fatores, como por exemplo, ir ao trabalho ou à escola. Já a segunda, são as atividades que as pessoas fazem por gostar, sem que aquilo tenha obrigação de acontecer. A partir disso, pode-se considerar que aproveitar os benefícios de estar em um parklet é uma atividade opcional. Essa atividade, assim como as outras com esse caráter, configuram-se em atrações que têm como pré-requisito uma boa qualidade urbana. Ou seja, a cidade deve ter condições favoráveis para se permanecer ao ar livre e deve convidar os pedestres a parar para apreciar os movimentos que acontecem a sua volta (GHEL, 2014). Ghel (2014) afirma que esse convite só é de fato respondido quando a qualidade física do espaço urbano aliada ao projeto público implementado trazem, à população que virá a permanecer naquele local, proteção, segurança, um bom mobiliário e qualidade visual. Para que isso ocorra de forma satisfatória, como dito no capítulo anterior, a cidade deve estar viva, ou seja, atividades e trocas sociais devem sempre estar presentes no espaço urbano, conectando pessoas. Para Ghel (2014, p.22), “imprevisibilidade e espontaneidade são palavras chave” quando se trata de contatos. E a partir de então surgem conversas, trocas de informações e até mesmo novas amizades. É importante notar que esse tipo de relação é facilitada por um espaço público bem planejado que atraia as pessoas. De acordo com Ghel (2014) e como apresentado anteriormente, esse espaço de encontro social da cidade não pode se deixar abater por um planejamento modernista realizado no século XX e muito menos pela pressão exercida pelos carros na cidade.


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Desse modo, Leite (2012) afirma que a imensidão da escala do território globalizado é um problema no momento em que se tenta compreender a cidade contemporânea. “ (...) Uma escala que não mais permite aos moradores da cidade percebê-la com um mínimo de clareza (...)” (LEITE, 2012, p.51). Com esse histórico que evidencia a desatenção com relação à escala humana que necessita de circulação e vida seja pelo caminhar, pelo pertencer ou pelo pedalar, justifica-se a necessidade de construir espaços e cidades para que as pessoas se sintam parte e ao mesmo tempo façam parte deles. De acordo com Koué (2013), o parklet surgiu em resposta ao grande crescimento populacional e à falta de espaços públicos de recreação. Por isso, o considera um tipo de infraestrutura emergente que ajuda a acomodar esse crescimento. Koué (2013) afirma que o parklet é uma estrutura que surge de baixo pra cima, como citada no capítulo anterior, o que reafirma a participação da população na sua construção. Tendo isso como base, pode-se perceber a escala do projeto. Não aplica-se aqui grandes projetos em grandes centros e como complementa Ghel (2014, p.118) “a luta pela qualidade se dá na escala menor”. A partir do decorrido nesse capítulo, pode-se relacionar dois fatores importantes para que a dinamicidade e o contato social seja estimulado: a pequena escala e a qualidade da infraestrutura. O parklet possui em seu fundamento essas duas propostas o que o torna um espaço adequado ao encontro. [...] No outro lado da escala estão atividades opcionais e recreativas, incluindo sentar e bancos, em cafés, para observar o movimento e acompanhar a vida na cidade. Aqui a qualidade da situação, do tempo e do local, é decisiva. (GHEL, 2014, p.134)

Ainda segundo Ghel (2014), muitos espaços vazios em cidades contemporâneas não passam por um projeto cuidadoso para que o tornem atrativo, “ (...) literalmente, não há motivo para se permanecer ali” (GHEL, 2014, p.137). Percebe-se a importância de planejar um espaço seguro e com um design atraente e é isso que propõe o parklet.


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No que tange à segurança, pode-se considerar o parklet uma opção para trazer vida às ruas. Uma rua que era pouco frequentada passa a ter uma opção atraente ao público. A presença das pessoas, seja caminhando, seja permanecendo em espaços comuns, aumenta a segurança. De acordo com Ghel (2014, p.99), mesmo com a presença de poucas pessoas na rua, como por exemplo a noite, “(...) o mobiliário urbano, as flores, as bicicletas estacionadas

e

os

brinquedos

esquecidos

constituem-se

em

testemunho

reconfortante da vida e da proximidade com outras pessoas.” A partir disso, pode-se observar que mesmo que a intenção não seja aproveitar os benefícios de se sentar em um parklet e entrar em contato com as pessoas, aproveitar a segurança oferecida por ele pode ser uma opção para muitas pessoas. Isso se reflete em atitudes simples, como escolher passar por uma rua em que o parklet está implantado. Tendo em vista o estímulo à cidadania proporcionado pelo parklet e abordado nesse capítulo, não pode-se esquecer do simples fato do local que ele é instalado. Antes uma vaga de estacionamento que beneficiava poucas pessoas, passa a ser um espaço público estimulador da sociabilidade, o direito coletivo em detrimento ao individual entra em voga para defender a permanência desse espaço. Segundo Ghel (2014, p.55) “os carros ocupam muito espaço quando se deslocam e muito espaço quando estacionados. Um estacionamento para vinte ou trinta carros ocupa o mesmo espaço que uma boa praça urbana”. Esses são um dos principais responsáveis para o início da fragmentação entre escalas, a humana e a do carro. Muitas cidades ainda estão sendo construídas em uma escala fragmentada, ou seja, enquanto a necessidade é que ela seja construída para a população, respeitando a escala humana, ela é feita para carros e grandes construções. De acordo com Ghel (2014) uma atitude que pode ser utilizada para reverter, em partes, esse problema é trazer uma escala menor para dentro da escala maior. “É


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preciso fazer esforços para formar espaços íntimos e acessíveis” (GHEL, 2014, p.167). Dessa forma, pode-se considerar o parklet um projeto que compactua com essa teoria. Esse equipamento vem para trazer espaços pequenos, seguros, que promovam o contato e a intimidade entre os cidadãos, atraente e acessível, em uma escala enorme que é a cidade contemporânea com sua atividade intensa.


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4 LOCALIZAÇÃO, IMPLANTAÇÃO E FUNÇÃO DE UM PARKLET

O Manual de parklet de São Francisco (2015) estabelece critérios para a localização e implantação de um parklet. Esse manual serve como base para a construção de outros, como por exemplo o Manual de Parklet de São Paulo (2014) que segue as premissas utilizadas pelo pioneiro. De acordo com Koué (2013), quando um parklet é implantado corretamente e em locais apropriados os resultados são alcançados. Em uma pesquisa, o instituto San Francisco Great Streets realizou estudos de mais de dois anos em parklets de São Francisco, Califórnia – EUA, para atestar a eficácia dos mesmos no que tange à vida urbana. “Nossa pesquisa revela que o parklet já aumentou a atividade e a satisfação

de

pedestres e

senso de caráter comunitário

das pessoas.”

(SFGREATSTREETS.ORG, 2010, acesso em 19/05/2015, tradução nossa). Com base no Manual de Parklet de São Franciso (2015), para escolher um bom local para alcançar resultados e para estar de acordo com o exigido deve-se analisar os seguintes aspectos: o limite de velocidade da via em que será instalado; as vagas disponíveis, suas características, localização de acordo com o contexto urbano, tipologia, esquina, limitações, drenagem e inclinação, e qualidade do entorno. Segundo o Manual de Parklet de São Franciso (2015), os parklets podem ser implementados em vias com velocidade máxima de até 40km/h. Entretanto, no Manual de Parklet de São Paulo (2014), a velocidade máxima permitida para via que será instalado é de 50km/h. Ainda tendo como base o primeiro Manual de Parklets, o de São Francisco (2015), os parklets devem se localizar ao longo do meio fio, aonde existam vagas de estacionamento. Essas deverão estar afastadas da esquina em pelo menos uma vaga de estacionamento. Essas vagas podem ser de variadas formas, conforme ilustram as figuras 2 e 3.


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Figura 2 - Tipologia das vagas

Fonte - Manual de Parklets São Francisco (2015, p. 18) Figura 3 - Afastamento da esquina

Fonte - Manual de Parklets São Francisco (2015, p. 18)

O Manual de São Paulo (2014) especifica que: A instalação não poderá ocupar espaço superior a 2,20m de largura, contados a partir do alinhamento das guias por 10m de comprimento em vagas paralelas ao alinhamento da calçada, ou de 4,40m largura por 5m de comprimento em vagas perpendiculares ou a 45º do alinhamento” (SÃO PAULO, 2014, p.18)

É recomendado pelo Manual de São Francisco (2015) que os parklets estejam instalados na frente de calçadas, caso a intenção seja de instalá-lo em frente à um portão de garagem o organizador deve ter autorização expressa do morador. Todo caso que exigir a instalação em locais que não sejam colados ao meio fio deverão ser analisados individualmente. Se o local a ser inserido o parklet tiver uma inclinação de 5% ou menos e for acessível à cadeirantes sua execução é permitida.


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Uma preocupação fundamental ao se instalar um parklet é escolher uma vaga que não seja especial. Segundo o Manual de Parklet de São Franciso (2015), também é vedada a ocupação de faixas de ônibus, ciclovias e ciclofaixas. É fundamental fazer um mapeamento do espaço para se certificar que não haja tampas de bueiro, drenos pluviais, hidrantes, válvulas, pois é proibida a sua instalação sobre qualquer acesso de ordem pública. Além disso, não é adequada a instalação de parklets em áreas alagáveis. De acordo com o Manual de Parklet de São Paulo (2014, p.17) deve-se levar em conta a qualidade do entorno: São diferenciais que contribuem, tanto para a aprovação, quanto para a utilização do parklet: sombras, sejam de prédios ou preferencialmente de árvores, boa iluminação à noite, grande movimentação de pessoas, ausência de espaços públicos nas redondezas, existência de comércio e equipamentos públicos como escola, posto de saúde, etc.

Os locais mais propícios para a instalação de um parklet, segundo esse manual (SÃO PAULO, 2014), são em áreas comerciais e em áreas residenciais. O parklet quando instalado em áreas comerciais contribui para a economia local, mas muitas vezes se confunde como uma extensão do estabelecimento a frente. Por esse motivo, é fundamental a presença de avisos em forma de cartazes e placas para que fique claro o caráter público do espaço. Quando em áreas residenciais, os parklets promovem áreas de convivência para os moradores do entorno. É recomendado que o mobiliário seja pensado de acordo com as características desse eixo, como por exemplo não utilizar cadeiras e mesas móveis. Um ponto importante ao escolher o local para implantação do parklet é perceber o entorno, segundo Ghel (2014, p.139): (...) as zonas mais atraentes são aquelas onde o espaço de transição e os detalhes das fachadas trabalham juntos. Nem todas as fachadas convidam à permanência. Fachadas fechadas, lisas, sem detalhes têm o efeito oposto, indicando: ‘por favor, prossiga’.

Ainda, de acordo com Ghel (2014, p.140), em um estudo para avaliar a qualidade do espaço para se sentar, considera-se:


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Resumindo, os requisitos gerais para um bom espaço para se sentar são um microclima agradável, boa localização, de preferência nos espaços de transição, com as costas protegidas, boa visibilidade e um nível de ruído baixo, que permita conversas, e sem poluição. E, é claro, a vista. Se o local oferece atrações especiais como água, árvores, flores, bom espaço, boa arquitetura e obras de arte, a pessoa quer vê-las bem. Ao mesmo tempo, as pessoas querem uma boa visão da vida e das pessoas do lugar.

A partir disso, pode-se afirmar que o espaço de transição é um local de pouca permanência do transeunte, onde há uma opção confortável para parar, descansar, observar a cidade ao redor e se sentir seguro. Dessa forma, ao analisar o contexto em que se insere o espaço de transição caracterizado por Ghel (2014), pode-se considerar o parklet um espaço de transição contemporâneo que, desde que bem projetado, pode proporcionar à população uma gama de sensações e atividades instigadas a partir das funções que são atribuídas a ele. Muitos parklets possuem funções específicas e agregadoras para o comportamento da cidade atual. Como por exemplo o Bevetene Tutti, mostrado na figura 4 que oferece água potável para todos, desde animais à pessoas. Esse projeto foi criado em 2010, em Milão – Itália, pelo grupo DDP Studio e objetiva trazer o frescor, matar a sede dos que caminham pela rua em que se insere e, além disso, promover um contato social entre os que utilizam o espaço para relaxar. Ganhador de prêmios, o parklet Bevetene a Tutti, possui toda a sua instalação em material plástico ecológico (Axylon da Orsogril) que garante a possibilidade de reciclagem do produto (DDPSTUDIO.EU, 2010). Figura 4 - Parklet Bevetene Tutti

Fonte: ddpstudio.eu (2010, acesso em 20/06/2015)


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Além desse parklet outros possuem funções específicas que atraem diversos tipos de pessoas, como pode-se observar na figura 5. Figura 5 - Parklet Tênis de Mesa

Fonte: fastcoexist.com (2010, acesso em 20/06/2015)

Muitas vezes a própria população, sentindo a necessidade de um espaço para recreação, se une a um designer para criar esse tipo de espaço. É importante a união dessas experiências, utilizador e arquiteto, para que o espaço seja vivo e de fato atraia os transeuntes e moradores vizinhos.


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5 MOBILIÁRIO URBANO E DESIGN THINKING

A NBR 9283 define mobiliário urbano como “todos os objetos, elementos e pequenas construções integrantes da paisagem urbana, de natureza utilitária ou não, implantados mediante a autorização do poder público, em espaços públicos e privados”. Ainda nessa norma são especificadas a classificação de acordo com a função para que foram concebidos, como por exemplo, o item 4.3 que trata de esporte e lazer, tendo um dos subitens “e) mesa, assentos;” (ABNT, 1986, p.3). Segundo John e Reis (2010, p. 181) “a classificação conforme critério funcional, além de facilitar o trato desses objetos criando categorias diferenciadas, dá ênfase à utilidade dos equipamentos no espaço público”. Há também quem adote a classificação segundo a escala relacionada com a função ou com a forma. Ainda para John e Reis (2010) essa classificação é importante quando relaciona-se o mobiliário com a paisagem, “(...) determinados objetos interferem mais do que outros pelas dimensões que possuem” (JOHN, REIS, 2010, p.184). Dessa forma, percebe-se que o mobiliário urbano deve ser pensado como parte da cidade e fundamental para dar vida ao espaço urbano. Por isso devem ser considerados no momento em que se determina a intenção de criar espaços agradáveis. Porém, segundo Águas (2012, p.58), “a qualidade pública do espaço é composta pelas experiências que as pessoas são capazes de criar dentro dele” e não o projeto de design por sí só. Dessa forma, “(...) o espaço público é coproduzido, ou seja, não é só criado pelo traço do seu projectista, mas também através da participação e utilização diária da sua população” (ÁGUAS, 2012, p.58). De acordo com Águas (2012) cada vez mais as pessoas que vão utilizar o mobiliário farão parte da sua concepção, dando maior destaque ao que será projetado. Essa abordagem, conhecida por design centrado no utilizador, utiliza investigadores treinados em observar e/ou entrevistar grupos de utilizadores, cuja contribuição é executar tarefas pré-determinadas e/ou dar opniões sobre conceitos de produtos concebidos por outros. (ÁGUAS, 2012, p.59)


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Essa forma de conceber o design está ligado ao parklet em diferentes formas e funções, pois dá flexibilidade ao arquiteto de ouvir os moradores e fazer com que eles façam parte da criação e manutenção dos mesmos. Por esse motivo, segundo Águas (2012) a noção de apropriação é essencial quando se projeta para o espaço público, esse deve ser pensado de modo que se construa a identidade do local. O projeto de design pode influenciar a relação do cidadão com o espaço público urbano: por um lado, mais pragmático, através das suas funções explícitas associadas à contemplação, ao relaxamento, ao lazer, ao serviço, etc.; por outro lado, menos evidente, através das funções implícitas e abstractas relacionadas com a identificação e compreensão da identidade e do caráter local pelo utilizador. (ÁGUAS, 2012, p.61)

Segundo Águas (2012) o modelo clássico para desenvolver um projeto preocupado com o design está se modificando com as prioridades na criação. A preocupação que antes era pautada na beleza do objeto agora está principalmente na forma e na função relacionadas às características subjetivas que o produto carrega, como por exemplo, a emoção e os valores. Essa carga de sensações não é agregada ao produto se ele for estabelecido de forma rígida. Dessa forma, Águas (2012) considera que, o projeto urbano com a participação pública se torna interdisciplinar e agregador, mas para isso é necessário que essa participação e o confronto aos métodos clássicos de projeto se tornem naturais. A partir dessas considerações, pode-se afirmar que o parklet é uma inciativa contemporânea e estimuladora da participação pública, desde que seu projeto e critérios de manutenção quebrem com paradgmas clássicos para que a população, que usufruir desse espaço, se sinta parte do mesmo. Essa participação pode se dar de diversas formas, seja no processo de criação, no executivo, na manutenção e principalmente na vivência. A partir do conhecimento adquirido neste trabalho, é importante atestar que o parklet surgiu de iniciativas da própria população. Com a forte inserção desta proposta o governo de São Francisco, Califórnia – EUA, passou a estabelecer normas e


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manuais para que estes fossem instalados legalmente. Porém, antes mesmo de serem regulamentados, os parklets surgiram como forma de intervenção urbana. Os cidadãos estão a começar a tomar conta, directamente, de suas cidades, estão a encetar inciativas e a construir a infraestrutura que os políticos não realizam ou demoram a realizar, estão a reagir próactivamente. Essas manifestações são maioritariamente realizadas por grupos locais, que por todo o planeta se manifestam através de vários tipos de acções. (ÁGUAS, 2012, p.63)

Tendo em vista que os manuais de instalações de parklet, tanto o de São Paulo como o de São Francisco afirmam que o parklet possui um caráter temporário. Dentro desse conceito, também deve ser estudado o mobiliário utilizado no projeto desses espaços. Sendo assim, pode-se afirmar, de acordo com esse critério, que esse mobiliário deve possuir um design flexível e adaptável. Segundo Fox (2015, p.3, tradução nossa) “paisagens temporárias não são band-aid para um problema maior. São soluções criativas que nos levam a um discurso crítico aprofundado sobre a paisagem da arquitetura”. Fox (2015) defende que um espaço deve ser transformado em um lugar e quando isso acontece seu local de implantação é estimulado culturalmente. Dessa forma, o potencial criativo que se encontrava adormecido, tanto do espaço quanto das pessoas que fazem parte desse lugar, é impulsionado. Fox (2015) considera então que essas paisagens temporárias possuem o objetivo de reativar a cidade e a possibilidade de mudar de lugar passa a ser uma alternativa para acompanhar os constantes ciclos de uma metrópole. Os espaços temporários, em algumas situações, podem ser tratados como arquitetura efêmera. Segundo Scóz (2009), essa arquitetura sempre existiu em forma de pequenas feiras, circos, dentre outras manifestações. Porém, tais estruturas nunca foram tratadas com devida importância, nem mesmo eram concebidas a partir de projetos. A situação do planeta à beira de um colapso energético e ambiental, obriga os arquitetos a mudarem de postura frente à edificação de obras cujas funções serão inevitavelmente substituídas, extinguidas ou transportadas de seu berço original em um curto espaço de tempo. (SCÓZ, 2009, p. 10)


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É com a contemporaneidade que surge a necessidade de maior especificação e detalhamento dessas estruturas que passam a ser mais leves do que as concebidas para durar por uma grande quantidade de tempo. Percebe-se, então que tudo se origina no questionamento de quanto tempo o produto durará, se ele será montado e desmontado e transportado ou não. Nessa perspectiva, Scóz (2009, p.10) afirma que a postura e o produto deixado pelo arquiteto muda, pois não será “[...] mais uma forma cartesianamente resolvida, mas um manifesto ainda aberto a diferentes apropriações”. Outro conceito importante para analisar as condições de um mobiliário urbano contemporâneo, é considerar o espaço de transição e seus efeitos sobre as pessoas, como define muito bem Ghel (2014): Muitas vezes o clima local nesses espaços de transição do espaço urbano é melhor porque, em certa medida, a pessoa está protegida dos elementos. Esse é um bom lugar para ficar. (GHEL, 2014, p.137)

Segundo Ghel (2014) a permanência em um espaço de transição se dá no conforto oferecido às pessoas, principalmente ao se sentar. Esses, segundo ele, podem ser divididos em primários e secundários. Os primários consistem no mobiliário em si, com encostos e braços. (...) O desenho das cadeiras também influi no conforto, claro, assim como os materiais e as propriedades de isolamento e impermeabilidade dos assentos. (...) muitas opções secundárias são necessárias, locais onde as pessoas possam se sentar, descansar e olhar em volta de modo mais informal e espontâneo. Pode-se usar uma grande variedade de objetos: pedestais, degraus, pedras, frades, monumentos, fontes ou o próprio chão. (GHEL, 2014, p.142).

Para Ghel (2014) os espaços de transição devem estar inseridos em locais convidativos, por isso é muito importante pensar na localização e na implantação de um espaço, como tratado no capítulo anterior. Ele defende que os espaços de transição devem ter um entorno que convidem à permanência, como por exemplo uma fachada detalhada e irregular que indiquem “por favor, pare aqui e fique à vontade.” (GHEL, 2014, p.139). É comum que a cidade transmita dificuldades para a comunicação entre as pessoas. Assim como dito sobre o local, “o mobiliário urbano pode trazer uma contribuição


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valiosa aos encontros no espaço das cidades”(GHEL, 2014, p.155). Dessa forma, Ghel (2014) exemplifica qual o tipo de mobiliário distancia e qual aproxima as pessoas. Tendo em vista as características de um espaço de transição e o efeito que ele traz sobre a sociedade, pode-se considerar o parklet dentro desse contexto. Ou seja, assim como o ideal para um espaço de transição, o parklet se insere em um contexto atual de espaço público que se preocupa em fornecer um espaço ativo, atrativo e que possua oportunidade de contatos e permanência. Uma forma de se preocupar em projetar uma boa opção de espaço de permanência é pensar na disposição dos bancos. Segundo Ghel (2014, p.155), criar uma “paisagem para conversa” é uma solução que deixa livre para que as pessoas decidam pela conversa ou não. “Os bancos foram colocados num ângulo levemente aberto para que as pessoas pudessem sentar-se próximas (...)” (GHEL, 2014, p.135). Ao contrário, os bancos longos e retilíneos, mais usados pelos arquitetos em espaços públicos do século XX, não facilitam a comunicação e mantém as pessoas mais distantes. Outro aspecto importante, segundo Ghel (2014), é a paisagem, as árvores e as flores existentes em um espaço. Para ele, esses elementos verdes além de proporcionar boas condições ambientais, possuem valor simbólico, como por exemplo, introspecção, sustentabilidade e beleza. As “árvores ao longo de alamedas ressaltam a sequência linear, e árvores que espicham seus ramos sobre a rua sugerem a presença de um espaço verde na cidade”. (GHEL, 2014, p.180) A iluminação também é fundamental para um design que assegure a segurança e a qualidade do espaço durante a noite. Segundo Ghel (2014), cidades que deixaram pra trás a preocupação em renovar as estratégias de iluminação, suas ruas, com o passar do tempo, resultam “numa cena urbana visivelmente caótica quando a noite cai” (GHEL, 2014, p.180). Em muitos locais a iluminação é usada como alvo de tratamento artístico.


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Dessa forma, pode-se afirmar que um conjunto de fatores devem ser considerados para a construção do projeto de um parklet e segundo Ghel (2014, p.176), “os resultados são convincentes quando design e conteúdo se unem”. Sendo assim, a presença de elementos verdes, um bom mobiliário para sentar e iluminação são essenciais. Esses devem ser aliados a um espaço atraente, ou seja, a função e a estética dos espaços devem sempre caminhar lado a lado.


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6 REFERENCIAL PROJETUAL

Ao realizar um projeto é necessário conhecer referências, para entender as necessidades dos usuários e dos equipamentos a serem projetados. Desse modo, como referenciais projetuais para embasar este trabalho foram escolhidos dois diferentes tipos de parklets da cidade de São Francisco, Califórnia - EUA. O mobiliário urbano utilizado nos parklets é um dos critérios analisados que diferenciam os exemplos. Por esse motivo, percebeu-se a necessidade de estudar mais opções destes mobiliários que estão sendo abordados no item 6.2. É possível perceber as variações de mobiliários e equipamentos que são necessários para compor o parklet e, assim, tomar partido da liberdade na criação dos mesmos.

6.1 PARKLETS Para análise do programa de necessidades de um parklet foram escolhidos o Noe Valley Parklet e o 22Nd Street Parklet, ambos situados na cidade de São Francisco, Califórnia – EUA, cidade berço destes novos equipamentos urbanos.

6.1.1 NOE VALLEY PARKLET, RG-ARCHTECTURE Situado em uma rua calma, com edificações de fachadas atraentes no entorno, próximo a uma pequena praça e a estabelecimentos de comércio e serviços, o Noe Valley Parklet (figura 6) é utilizado para encontros e refeições rápidas. Por estar situado na frente de duas cafeterias, seu mobiliário é predominantemente solto e recolhido pelos voluntários dos estabelecimentos todos os dias que também são responsáveis pela manutenção junto com a Associação Noe Valley, composta pela comunidade

da

rua

em

que

o

(PAVEMENTTOPARKS.SFPLANNING.ORG, 2010).

parklet

está

inserido


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Figura 6: Implantação e Entorno Noe Valley Parklet

Fonte: googlemaps, (acesso em 23/06/2015)

No que tange aos assentos (figura 7), predominam cadeiras soltas e bancos pesados para que não sejam relocados facilmente, reduzindo a possibilidade de furtos e vandalismo. O material é comum, neste caso o alumínio, e ambos possuem encosto. Assim como as cadeiras, as mesas seguem o mesmo material e também são soltas. Essas também servem como sustentação para os ombrelones que são as

únicas

peças

que

promovem

sombra

(PAVEMENTTOPARKS.SFPLANNING.ORG, 2010). Figura 7 - Mobiliário Noe Valley Parklet

Fonte: pavementtoparks.sfplanning.org (acesso em 23/06/2015)

no

parklet


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O piso é composto por placas de concreto moldado instaladas sobre um piso elevado, o que garante a manutenção da via. Como barreira do parklet, são usados grandes vasos de aço cortein e, entre estes, há cabos de aço que fazem com que o acesso ao parklet se dê somente pela calçada. São nestes vasos que se inserem toda a vegetação existente, no caso, foram escolhidas espécies de plantas de necessitam de pouca água e com pequena altura. Além disso, estes também servem de base para banners explicativos, como por exemplo cartazes que informam que este

espaço

é

público,

como

visto

na

figura

8

(PAVEMENTTOPARKS.SFPLANNING.ORG, 2010). Figura 8: Segurança Noe Valley Parklet

Fonte: pavementtoparks.sfplanning.org (acesso em 23/06/2015)

É importante analisar que em casos como este, o parklet tende a se tornar uma extenção dos estabelecimentos a sua frente, o que compromete o caráter público do espaço. O fato de terem mesas e cadeiras móveis torna o espaço ainda mais próprio dos estabelecimentos, pois o parklet se desconfigura a cada vez que os estabelecimentos estiverem fechados. Dessa forma, considera-se a inviabilidade deste uso, principalmente no Brasil. Além disso, a cultura e o clima do Brasil impediriam que o espaço fosse agradável e se mantivesse por um tempo com o espaço sendo sombreado somente por ombrelones. É necessário no caso do nosso clima que a sombra seja mais ampla, gerando conforto, e fixa, assegurando contra furto.


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6.1.2 22ND STREET PARKLET, REBBAR GROUP O 22Nd Street Parklet é um projeto situado na cidade de São Francisco, na Califórnia, EUA. Sua função é definida pelos estabelecimentos ao entorno que são uma cafeteria, um restaurante e uma agência de turismo. Estes, assim como os outros estabelecimentos da rua, criam a demanda por locais para conversa, refeições

rápidas

e

encontros.

Como

pode-se

perceber

na

figura

9

(PAVEMENTTOPARKS.SFPLANNING.ORG, 2010). Porém, ao observar as fachadas das construções ao longo da via, percebe-se que a escolha do local para implantação não está de acordo com o que já foi relatado sobre as melhores condições de permanência. Estas podem configurar um local pouco atraente aos transeuntes, por serem fachadas vazias de detalhes e muito grandes. Apesar disso, a via é composta por comércios e serviços variados que se tornam grandes atrativos (PAVEMENTTOPARKS.SFPLANNING.ORG, 2010). Figura 09 - 22Nd Street Parklet

Fonte: pavementtoparks.sfplanning.org (acesso em 23/06/2015)


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No que tange ao mobiliário, os assentos e apoios seguem a mesma linguagem. São feitos em bambu ecológico e seu conceito foi pensado como um tapete que se desdobra em diversas formas. Cada forma concebida compõe um módulo que juntos formam o parklet e dão a possibilidade de rearranjar suas partes de acordo com o comportamento

e

a

aceitação

da

população

(PAVEMENTTOPARKS.SFPLANNING.ORG, 2010).

O piso segue o mesmo material dos assentos e apoios, instalado sobre um piso elevado. Ainda utilizando este material, grandes canteiros são concebidos para abrigar plantas para sombra e espécies que precisam de pouca água e, além disso, seu desenho possibilita que o mesmo seja utilizado como local de parada para descanso com assentos. A figura 10 mostra estas possibilidades de arranjo (PAVEMENTTOPARKS.SFPLANNING.ORG, 2010). Figura 10 - Implantação e corte, 22Nd Street Parklet

Fonte: pavementtoparks.sfplanning.org (acesso em 23/06/2015)


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Este equipamento (figura 11) é projetado com uma estrutura de em média 40cm de altura contornando o parklet, porém, essa não foi executada. Dessa forma, não há nada além da própria estrutura do parklet para proteger os utilizadores do mesmo, tendo em vista que a própria diferença de altura (nível) já define o espaço deste equipamento. O bicicletário é proposto por grandes aros em ferro inoxidável (PAVEMENTTOPARKS.SFPLANNING.ORG, 2010). Figura 11 - Projeto 3D Humanizado, 22Nd Street Parklet

Fonte: pavementtoparks.sfplanning.org (acesso em 23/06/2015)

Este parklet foi financiado pelas empresas que estão no seu entorno, além disso pessoas da comunidade e os arquitetos se doaram para que o projeto fosse a frente. Dessa forma, são estes estabelecimentos que se responsabilizam pela manutenção diária

do

parklet,

mesmo

sendo

este

um

espaço

público

(PAVEMENTTOPARKS.SFPLANNING.ORG, 2010).

6. 2 MOBILIÁRIO Para uma melhor análise dos referenciais projetuais de mobiliário urbano utilizados em parklets, convencionou-se, para este trabalho, a subdivisão em sete itens que geralmente são utilizados para compor o espaço estudado. Dentro de cada tópico, são apresentados exemplos que ilustram a diversidade, a autenticidade e o que é mais comum no projeto de um parklet.


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6.2.1 ASSENTOS Tratando-se do mobiliário para sentar pode-se observar uma gama de opções que variam desde as mais clássicas, como cadeiras soltas e bancos, aos mais contemporâneos, feitos sob medida. Alguns propiciam uma irregularidade que faz com que a função de cada espaço seja determinada pelo próprio usuário, ou seja, uma pessoa pode decidir sentar aonde a outra apoia os pés. Este caso pode ocorrer em parklets como no exemplo da figura 12. Figura 12 - Mobiliário Assento Multifuncional

Fonte: institutomobilidadeverde.wordpress.com (acesso em: 23/06/2015)

Outro recurso muito utilizado pelos arquitetos desenvolvedores de parklets é a modulação. Dessa forma podem surgir diferentes opções de composição, formando parklets diferentes que podem ou não mudarem com o tempo. Para exemplificar este caso, observa-se o 22Nd Street Parklet. Um aspecto importante que pode ser evidenciado pelo mobiliário de sentar é a sensação de segurança que o mesmo passa ao possuir encosto, enquanto o sem encosto favorece o contato entre as pessoas. Para que o contato seja estimulado pelo mobiliário, estes devem possuir uma certa angulação, como tratado anteriormente.


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Figura 13 – Mobiliário Assento Orgânico

Fonte: pavementtoparks.sfplanning.org (acesso em 23/06/2015)

O mobiliário com formas orgânicas é um bom incentivador de conversas. O explicitado na figura 13 além de dar a possibilidade a diversos usos pode ser, de certa forma, utilizado como alerta ambiental como feito em São Paulo. Nessa ocasião, árvores derrubadas pelas condicionantes ambientais da cidade, como por exemplo em épocas de enchentes, foram transformadas em mobiliários urbanos para parklets (G1.GLOBO.COM, acesso em: 23/06/2015).

6.2.2 MESAS E APOIOS Ao realizar este estudo, percebe-se que a maior parte dos parklets já instalados não possuem mesa, o que se vê, predominantemente, são espaços para sentar e relaxar. Porém, a flexibilidade em que são projetados leva o usuário a utilizar o espaço voltado para sentar como apoio de comidas, computadores, dentre outros utensílios. Dessa forma, pode-se perceber na figura 14 que a falta desse mobiliário muitas vezes não impede ou restringe o uso do parklet.


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Figura 14 - Mobiliário de assento e apoio

Fonte: behance.net (acesso em 23/06/2015)

É importante ressaltar a necessidade de se analisar o perfil dos utilizadores do parklet e o local em que será instalado, pois o que também é evidenciado quando aborda-se o mobiliário de apoio é que a maior incidência destes é em frente a cafeterias e restaurantes. A figura 15 mostra um exemplo de parklet em um bairro da cidade de São Paulo, em frente a uma sorveteria, neste caso mesa grande com bancos não restringe o contato das pessoas que utilizam o espaço. Figura 15 - Parklet Le Botthegue di Leonardo, São Paulo – SP

Fonte: s-media-cache-ak0.pinimg.com (acesso em 23/06/2015)


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Contrário a isso, a figura 16 expõe um parklet na mesma tipologia de localização e que restringe totalmente o contato entre pessoas desconhecidas, ou seja, só pessoas que se conhecem dividem a mesma mesa. Figura 16 - Parklet em frente a restaurante.

Fonte: sfgate.com (acesso em 23/06/2015).

Outro aspecto importante a relatar neste caso é que, geralmente, o responsável pela manutenção deste tipo de parklet é o próprio estabelecimento, que encontra-se a frente. Dessa forma, os mobiliários soltos são retirados do parklet quando o estabelecimento fecha, descaracterizando o mesmo.

6.2.3 SOMBRA É fato que uma das premissas para um bom lugar de permanência é o clima, principalmente se tratando de um país tropical como o Brasil. Tendo como base estudos de casos feitos em São Francisco, Califórnia – EUA, pouca ou nenhuma sombra é utilizada nos parklets. Muitos utilizam ombrelones, como mostra a figura 17, e o conforto é garantido através desses.


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Figura 17 - Parklet com área sombreada por ombrelone.

Fonte: picasaweb.google.com (acesso em 23/06/2015)

A utilização deste meio não protege totalmente da grande irradiação solar e do calor a que os brasileiros estão expostos e, por isso, não consegue transmitir conforto como é previsto para um parklet. Por esse motivo, recomenda-se a instalação de parklets em áreas sombreadas por árvores já existentes, assim como já acontece no parklet de São Paulo exposto na figura 18.

Figura 18 - Parklet com área sombreada por vegetação natural existente.

Fonte: thisbigcity.net (acesso em 23/06/2015)


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Uma das alternativas para a instalação de parklets em locais não sombreados por árvores é criar um projeto com uma estrutura que sombreie, dessa forma o frescor é alcançado. Um exemplo disso é a figura 19 que utiliza um unico elemento para compor o parklet. Figura 19: Parklet com área sombreada pela própria estrutura

Fonte: parkingday.org (acesso em 23/06/2015)

É importante estar atento a este ítem no que tange a implantação de parklets em Vitória, pois o clima é muito variável e isso pode impedir que as pessoas utilizem o espaço em alguns períodos de condições climáticas instáveis.

6.2.4 PISO No que tange à aplicação do piso para o parklet, são muitas as opções técnicas, porém algumas especificações devem ser levadas em consideração, independente do design e revestimento escolhido. Observa-se a necessidade de mecanismos que façam com que o parklet não atrapalhe a manutenção das sarjetas. Para isso, foi criado, em um parklet de São Paulo, chapas metálicas que funcionam como uma aba que abre e fecha, possibilitando a limpeza da sarjeta, como apresenta a figura 20.


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Figura 20 – Mecanismo para manutenção de sarjetas

Fonte: aecweb.com.br (acesso em 23/06/2015)

Outra questão técnica relevante ao se estudar tipos de piso para o parklet é a necessidade de escoamento de água pela rua, ou seja, o parklet não pode ser uma barreira para o escoamento de águas pluviais. Dessa forma, os exemplos de estruturas de piso mais comuns em parklets são: piso elevado (figura 21) e steal frame (figura 22). Figura 21: Instalação de Piso Elevado em um parklet

Fonte: ibikenopa.blogspot.sk (acesso em 23/06/2015)


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Figura 22 – Esquema de elementos constituintes do Parklet 40th Street

Fonte: oziio.com (acesso em 23/06/2015)

No que tange aos materiais de revestimentos mais utilizados, pode-se considerar o concreto e a madeira ecológica. Porém, este é um critério amplo que varia de acordo com o arquiteto que projetou o espaço e o estilo do parklet.

6.2.5 VEGETAÇÃO A vegetação é utilizada no parklet de diversas formas, pois é imprescindível a sua presença. Muitas escolhas observadas foram por plantas que necessitam de pouca


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água, como por exemplo as suculentas que reservam água em seus caules. Além disso, muitos exemplos utilizavam os seus próprios vasos como elementos de barreira do parklet, como mostra a figura 23. Figura 23 - Plantas que necessitam de pouca água em canteiros de parklets.

Fonte: oziio.com (acesso em 23/06/2015)

Além deste exemplo, algumas árvores de pequeno porte também podem ser usadas como delimitador do parklet como mostra a figura 24. Figura 24 - Plantas delimitando espaço do parklet

Fonte: parkingday.org, (acesso em 23/06/2015)


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Uma proposta a ser considerada é a de parklets que se utilizam da vegetação como princípio norteador do projeto, como por exemplo na figura 25. Nestes, a vegetação seja por flores aromáticas, hortas ou até mesmo por plantas comuns, cumprem um papel fundamental no espaço.

Figura 25 - Vegetação integrada a proposta do parklet

Fonte: parkingday.org (acesso em 23/06/2015)

Com toda essa diversidade de aplicação da vegetação dentro de um parklet, podese observar que a mesma é de fundamental importância para o espaço. Além de compor, trazendo beleza e frescor, também podem servir como incentivador da participação dos utilizadores como, por exemplo, o cultivo de pequenas hortas.

6.2.6 BICICLETÁRIO O bicicletário é um espaço que está se tornando cada vez mais comum no ambiente urbano contemporâneo. Esse mobiliário está ganhando força, pois a iniciativa em se utilizar a bicicleta em detrimento do carro, como já tratado anteriormente, está se


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tornando uma alternativa para as pessoas que desejam fugir do tráfego, um dos grandes problemas urbanos. Para incentivar a utilização de meios de locomoção não automatizados, muitos parklets possuem estações para bicicletas. Em alguns casos, o bicicletário já é existente na própria calçada em frente do parklet, em outros, como na figura 26, utilizam as vagas laterais ao parklet para este fim. Figura 26 – Bicicletário próximo, mas não integrante do parklet.

Fonte: sustentarqui.com.br (acesso em 23/06/2015)

O design se encontra cada vez mais presente na construção de projetos de bicletários. Isso se dá, principalmente, para atrair a atenção e dar destaque a um espaço que, em muitos projetos, têm a mesma relevância que, por exemplo, o mobiliário de assento. Por esse motivo, é importante um bom projeto de parklet. Isto pode fazer com que mais espaços para vagas de bicicletas sejam possíveis ou que estes espaços sejam destacados dos outros (Figuras 27 e 28).


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Figura 27 – Bicicletas estacionadas na vertical

Fonte: urbanrecycle.com.br (acesso em 23/06/2015) Figura 28 – Bicicletas estacionadas de forma inclinada

Fonte: oziio.com (acesso em 23/06/2015)


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Dentro dessas diversas formas de abrigar as bicicletas nos parklets, ainda pode-se destacar os que se utilizam deste estacionamento como um conceito para o espaço, incentivando através de design e cartazes a locomoção por bicicletas.

6.2.7 BARREIRA E SEGURANÇA Pode-se observar que os arquitetos se utilizam da necessidade em prover segurança ou, simplesmente, da necessidade em causar essa sensação nos utilizadores para desenvolver diferentes tipologias para as barreiras entre o espaço de convívio e a via de tráfego. Atualmente, os parklets apresentam, através do seu mobiliário, discussões contemporâneas como, por exemplo, a reutilização de materiais observada na figura 29 e a interatividade entre os transeuntes, como na figura 30. Esta ainda incorpora a vegetação à barreira, caso visto também em outros exemplos de parklet. Figura 29 – Barreira de segurança e delimitação do parklet com material reutilizado.

Fonte: assets.inhabitat.com (acesso em 23/06/2015)


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Figura 30 – Barreira de segurança interativa e vaso para plantas

Fonte: pavementtoparks.sfplanning.org (acesso em 23/06/2015)

É imprescindível, ao construir um parklet, observar a velocidade da via em que será implantado para que seja seguro aos utilizadores. De qualquer modo, se torna necessária a construção de barreiras para que os utilizadores se sintam confortáveis ao utilizar o parklet.


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7 DIRETRIZES PARA REINVENTAR O ESPAÇO PÚBLICO COM O PARKLET


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8 DIAGNÓSTICO

Em primeiro momento, a escolha do bairro para desenvolver este trabalho foi objetivada em reativar um espaço que vem sofrendo com o crescimento acelerado e com os problemas urbanos surgidos a partir destes. O advento da modernidade e do automóvel, transformou o local ocupado de forma desordenada, desde o período colonial e isso teve reflexo no uso dos espaços coletivos, principalmente na função de proporcionar a convivência entre as pessoas. Apesar dessas grandes transformações urbanas, a área central conservou um grande acervo cultural, com patrimônios datados dos séculos XVI ao XX, por meios dos quais a memória da sociedade capixaba encontra grande parte de sua história. As mudanças urbanísticas no Centro de Vitória, principalmente a partir da década de 50 do último século, acompanharam a nova função comercial estabelecida para a região, transferindo-se para área norte da cidade a maioria das habitações (VITORIA.ES.GOV, 2015).

Em segundo momento, este local pode ser considerado ideal ao desenvolvimento dessa nova proposta por estar se tornando um grande polo atrativo culturalmente, seja pelo resgaste de valores patrimoniais e até mesmo pelas novas opções de entretenimento, como por exemplo, a reativação do Teatro Sesc Glória, a inauguração de bares e restaurantes e as constantes intervenções urbanas artísticas e sociais que ocorrem na rua. Tendo em vista a rua mais atrativa para a vida noturna do Centro de Vitória, a Gama Rosa, percebeu-se o primeiro indício que daria a oportunidade da instalação de um parklet. Após este anseio, outros aspectos passaram a ser analisados, como por exemplo a vida diurna, o fluxo de pessoas, as tipologias das vagas de estacionamento, dentre outros aspectos importantes para a escolha do local, como dito no capítulo quatro (Figura 31).


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Figura 31 – Mapeamento dos serviços existentes na Rua Gama Rosa

Fonte: adaptado de maps.google.com.br (acesso em 26/06/15)

Dessa forma, observou-se que a Rua Gama Rosa é ocupada de forma expressiva por restaurantes e bares que funcionam durante dia e noite. Além disso, há muitos estabelecimentos comerciais, o que garante movimento constante na rua. Esta via é voltada ao fluxo local, por isso possui pouco movimento de carros, apesar da grande procura por vagas de estacionamento devido a pouca oferta destas na Cidade Alta (Figura 32). Figura 32 – Vagas de estacionamento escolhidas para instalação do parklet da Rua Gama Rosa.

Fonte: adaptado de maps.google.com.br (acesso em 26/06/15)


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Existe grande carência por espaços públicos de transição nesta área, haja vista que a Praça Ubaldo Ramalhete, localizada próxima à extremidade baixa da Rua Gama Rosa, não atende aos interesses da maior parte dos utilizadores da via em estudo. É importante observar que a rua em questão é composta por construções de diferentes períodos, inclusive de algumas fachadas ecléticas que podem ser instrumentos de contemplação aos utilizadores do parklet. Como entrave a esta instalação, percebe-se a falta de arborização na via e a implantação recente dos parquímetros. Sendo assim, a sombra do parklet a ser instalado ficará por conta do design ou da vegetação proposta.


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9 ESTUDO PRELIMINAR PARKLET GAMA ROSA


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10 CONCLUSÃO

A cidade teve um crescimento acelerado no século XX e junto com esse crescimento aumentaram os problemas urbanos. Um deles é a praça, que não configura mais um espaço agregador da sociedade, desde o modernismo. Dessa forma, é imprescindível que os princípios dessa era sejam descartados ou revisados e que se tome partido da liberdade expressa pelo século XXI para reinventar a cidade e principalmente o espaço público. Entende-se que essa liberdade torna possível a participação da população no planejamento da cidade. Ou seja, é a população e entidades particulares que passam a ser responsáveis por pequenas mudanças urbanas que modificam todo o comportamento dos cidadãos. O parklet é uma dessas mudanças que

são

consideradas soluções para reativar a cidade, pois combina atividades sociais e de lazer com espaço para circulação de pedestres e tráfegos, sendo assim um tipo de infraestrutura emergente que ajuda a acomodar o crescimento das cidades. Neste momento, a cidade de Vitória - ES ainda tem muitas dificuldades para oferecer locais de encontro público que sejam atrativos e fomentadores de relações entre a população, para isso é fundamental que o espaço urbano seja de qualidade. Uma solução para reativar estes espaços é tirar partido da densidade populacional e ofertar espaços urbanos reinventados, inovadores e criativos que possuam como base uma escala humana necessitada de circulação e vida seja pelo caminhar, pelo pertencer ou pelo pedalar. Dado o exposto, pode-se relacionar dois fatores importantes para que a dinamicidade da cidade, o contato social entre as pessoas e o respeito pela vida em coletivo sejam estimulados: a pequena escala e a qualidade da infraestrutura urbana. O parklet possui em seu fundamento essas duas propostas o que o torna um espaço adequado ao encontro, provedor de segurança, atraente e acessível a todos. Pode-se considerar o parklet um escape dentro da escala enorme que é a cidade contemporânea com sua atividade intensa.


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É preciso que se leve em conta todas as especificações para se implementar um parklet, como por exemplo, se ele está em um local adequado, como deve ser implantado e qual a sua função para os utilizadores. Tendo em vista esta necessidade de adequação e técnica, criou-se diretrizes baseadas em manuais já estabelecidos, nas normas técnicas e na legislação local. Entende-se que isso serve como apoio facilitador aos que querem construir estes microespaços em suas cidades, contribuindo assim para uma cidade voltada para o coletivo e ativa. Levando em consideração estes aspectos desenvolveu-se um projeto modelo de parklet para a Rua Gama Rosa, no centro histórico de Vitória. O mesmo complementa o então dito nas diretrizes com informações técnicas gerais e específicas para uma correta implementação do projeto. Dessa forma, assegura-se uma execução correta, sem que seja prejudicial para nenhum agente e espaço envolvido. Em virtude do que foi mencionado, pode-se considerar o parklet um espaço agregador de sociabilidade, capaz de melhorar e aproximar as relações dos cidadãos com a cidade. Este fator é ainda mais animador quando afirma-se que este tipo de projeto pode ser efetivado independentemente de investimentos públicos, o que torna mais real a sua implementação. Sendo assim, entende-se que os resultados apresentados neste trabalho podem ser considerados facilitadores e incentivadores dessa prática na cidade de Vitória – ES, em um momento em que a sociedade urbana está cercada de grandes construções e vias de tráfego. Com isso, só resta esperar que a Prefeitura de Vitória regularize essa nova opção de espaço público, agindo de acordo com os preceitos de uma cidade que preza o coletivo e que não considera a pressão exercida pelos carros mais importante que a construção de uma cidade para pessoas.


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