Acesso, o morar no centro

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ACESSO

O MORAR NO CENTRO NATHÁLIA WACKED DIAS PERROCA TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO



Nathália Wacked Dias Perroca Orientação: Silvana Aparecida Alves Co-orientação: Maria Solange Gurgel de Castro Fontes

ACESSO o morar no centro Trabalho Final de Graduação Arquitetura e Urbanismo UNESP- Bauru 2017


Agradecimentos Gostaria de agradecer à todos da minha família, que sempre acreditam em mim, fazendo de tudo para que nada dê errado e que são os responsáveis por cada coisa boa que pude vivenciar, obrigada por serem tudo que são. Aos meus amigos de faculdade, que se tornaram família em todos esses anos, estando do meu lado nos momentos ruins, mas principalmente em todos os bons que marcaram a faculdade e a minha vida, me mostrando que tem muita gente boa por ai pra fazer tudo diferente, obrigada por serem a melhor turma, por não perderam nenhuma boa briga, e nenhuma boa festa. Ao Pigas e Piupiu, por terem passado por todo esse processo do tfg junto comigo, pelas respostas na madrugada e todas as opiniões e ajuda que me foram dadas. E aos outros da turma que se dispuseram a me ajudar. As minhas amigas da vida toda, Julia e Angélica, que estando sempre juntas me mostram os privilégios de dividir todos os momentos bons como esse com pessoas que amo, obrigada por dividirem a vida comigo. À Silvana e Solange que me orientaram nesse trabalho com tanta paciência e dedicação, e aos outros professores e funcionários da Unesp que também tem amor pelo que fazem e vontade de tornar as coisas melhores. E ao Vinicius Torres, meu amigo que gentilmente me cedeu suas ilustrações de que eu tanto gosto para fazerem parte desse trabalho, obrigada.

Sumário


1. INTRODUÇÃO…………………………………………………..…............…..…….6

1.1. OBJETIVO…………………………………………………………….....….7

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA…………………………….………...........…..........9

2.1. O CAMINHO ATÉ AQUI.................……………………...….……9

2.2. OS CENTROS…......................…………………………..…....…..14

2.3. POLÍTICAS PÚBLICAS……………………………………………...….19

2.4. A VOZ DELES..................………………………………………..…..22

2.5. DIRETRIZES PROJETUAIS .....…………………………………...….25

2.5.1 SISTEMA CONSTRUTIVO..................................25

2.5.2 MODULARIDADE.............................................29

2.5.3 CONFORTO AMBIENTAL ……………………......……31

2.5.4 SUSTENTABILIDADE………………………………....….34

2.5.5 ERGONOMIA NA CONCEPÇÃO DE ESPAÇOS....37

3. METODOLOGIA……………………………………………………….............…..40 4. LEITURA DE PROJETOS…………………………………………..…............…..44

4.1 COPAN- SÃO PAULO.......................................................44

4.2. SEHAB- SÃO PAULO.......................................................46

4.3. LIVING STEEL- RECIFE....................................................49

4.4. PRAÇA DAS ARTES- SÃO PAULO.....................................52

5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO…………………..................55

5.1. HISTÓRICO DE BAURU.…………………………………….…...……55

5.2. HABITAÇÃO EM BAURU…………………………………..…….…..59

5.3. PLANO DIRETOR……………………………………………….…....….62

5.4 ÁREA DE INTERVENÇÃO……………………………………......……64

7. PROJETO……………………………………………………………….........….....……71 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………........….....…....85


RESUMO

A questão da inserção da Habitação de Interesse Social

nos centros das cidades contemporâneas é um tema em constante debate, com a finalidade de avaliar os aspetos urbanos, econômicos e sociais. A cidade de Bauru, localizada no interior do estado de SP, apresenta um déficit habitacional bastante elevado para uma cidade de médio porte. Os conjuntos habitacionais, bairros de casas autoconstruídas e algumas favelas, formam uma borda periférica na malha urbana. Os conjuntos habitacionais mais antigos já se encontram consolidados na cidade. No entanto, os conjuntos novos continuam sendo construídos nas zonas periféricas, prejudicando o acesso dos indivíduos aos equipamentos públicos e transporte coletivo. Por isso, este trabalho tem a finalidade de realizar uma pesquisa sobre as possibilidades de ocupação dos vazios urbanos nos centros das cidades por conjuntos habitacionais.Além de pesquisar o diagnóstico e as propostas apresentadas no Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) e avaliar o uso e ocupação do solo. O objetivo é elaborar um projeto arquitetônico de um conjunto habitacional para ser implantado na área central da cidade de Bauru.Conceitos de conforto térmico e de sustentabilidade serão incorporados ao projeto.



1. INTRODUÇÃO

Esse processo, ocorridos nas principais capitais brasileiras foi chamado por

crescerem e se modernizarem, essa modernidade beneficiava apenas uma

A partir do final do século XIX, o aumento da imigração cresce em

proporção maior do que a oferta de moradia, provocando a falta de habitação para boa parte da população. Para suprir essa carência são construídos os cortiços – moradias destinadas ao aluguel. No início do século XX intensifica-se a imigração e, especialmente nos períodos de guerra - Primeira e Segunda Guerra Mundial houve um crescimento da população com a chegada de imigrantes de várias partes da Europa, em busca de uma vida melhor.

Nesse período cidades como Rio de Janeiro, São Pau-

lo e outras capitais do país não ofereciam condições mínimas necessárias para viver, pois faltava moradia para as pessoas mais pobres, as condições de saneamento e infraestrutura urbana eram muito precárias e não abarcavam toda extensão da cidade.

Na cidade do Rio de Janeiro a reforma urbana, ocorrida na ges-

tão do Prefeito Pereira Passos, entre 1902 e 1906, visava o alargamento de ruas e abertura de novas avenidas. Para a realização da reforma vários cortiços foram demolidos. Além da intenção de eliminar as moradias consideradas precárias para dar lugar aos novos empreendimentos voltados para a elite carioca, os cortiços eram considerados focos de doenças, como a febre amarela, por exemplo. A demolição dos cortiços agravou ainda mais o problema de falta de moradia.

Posteriormente a urbanização em São Paulo e de outros centros ur-

banos seguiram a mesma dinâmica de valorização das áreas mais servidas de infraestrutura, valorização da terra nas áreas centrais e consequente expulsão da população mais pobre para bairros mais afastados da região central. 8

Maricato (1997) de modernização excludente. Apesar dos centros urbanos parcela da população, enquanto grande parte era excluída do processo.

A partir da década de 1960 aumenta o êxodo rural. É nesse mo-

mento que ocorre um crescimento acentuado nas cidades, provocado pela migração das pessoas do campo para os centros urbanos, onde havia maior oferta de emprego. No entanto, não foi acompanhado pelo crescimento da infraestrutura urbana. Isso se intensificou a partir dos anos 80, com a instalação do fenômeno da globalização, que atingia diretamente o crescimento, planejamento e dinâmicas da cidade. Ocorre, então, um aprofundamento da pobreza e um agravo bastante significativo na segregação social do país (MARICATO,1997).

Sendo a habitação um bem que oferece abrigo e conforto, é

considerada um direito básico dos cidadãos. Porém, existem agravantes em relação a outros direitos que tornam complexa a garantia desse, como por exemplo, o alto preço de uma moradia em relação ao salário mínimo recebido pela população. Para uma pessoa que recebe o salário mínimo ou não tem um salário fixo,é muito difícil conseguir adquirir uma casa própria ou pagar o aluguel de imóveis localizados nas regiões onde há maior oferta de empregos, equipamentos urbanos e serviços.

Além disso, esse direito está ligado necessariamente a pro-

priedade de terras que são cada vez mais caras e inviáveis para grande

parcela

da

população

das

cidades

(MARICATO,1997).

Por outro lado, surgem os terrenos regulares com pre-

ços e condições mais acessíveis, porém, são sempre bastante


afastados dos centros das cidades, compondo os bairros de periferia,

de pelo menos 6.571 unidades habitacionais, segundo o Plano Local de

distantes dos equipamentos de saúde, educação, segurança, lazer, es-

Habitação de Interesse Social da elaborado em 2010. Dentro desse nú-

porte e assistência social, além do pouco transporte público disponí-

mero há grande quantidade de pessoas morando em localidades com to-

vel para que cheguem até seus empregos e a outras áreas da cidade.

tal falta de infraestrutura e serviços básicos, e ainda famílias que coabitam

A partir da década de 1990, algumas cidades de médio

residências incapazes de atender suas necessidades básicas de habitabili-

porte também passam por esse processo de crescimento da pe-

dade, higiene e conforto funcional e ambiental. Além disso, quase a tota-

riferia, surgimento de favelas e agravamento do déficit habita-

lidade dos conjuntos habitacionais foram construídos nas zonas periféri-

cional. A cidade de Bauru, no interior do estado de São Paulo, é

cas da cidade, com menor acesso a transporte e equipamentos públicos.

um caso de cidade média que passou por processos parecidos.

Bauru se originou a partir de uma doação de terras em 1884,

zem a ocupação de vazios urbanos – áreas envolvidas por outras já consoli-

e teve seu grande crescimento com a chegada dos trilhos da Compa-

dadas e servidas de infraestrutura urbana. Considerando que, desde a déca-

nhia União Sorocabana e Ituana, criando uma estação ferroviária de

da de 1990 há uma reivindicação dos movimentos sociais pela ocupação das

importância na época do café. Acontecimento este, que trouxe muitos

áreas centrais com moradia social nos grandes centros urbanos, e que esta

moradores à cidade e consequentemente investimentos para o desen-

demanda aumenta com o tempo nas cidades médias também, é oportuno

volvimento local. Esse crescimento urbano acelerado foi bastante de-

pensar nessa possibilidade para a cidade de Bauru. Ao invés de expandir a

sordenado, com a criação de muitos vazios urbanos, principalmente

cidade para a periferia com a construção de novos conjuntos habitacionais,

em fundos de vale, o que gerou um espraiamento da malha urbana.

neste Trabalho Final de Graduação (TFG) avaliam-se as oportunidades de

Nesse tipo de urbanização a exclusão social se torna mais agra-

propor um projeto de Habitação de Interesse Social na área central, onde

vada e evidente, a população de mais baixa renda passa a viver lon-

os moradores desse empreendimento teriam acesso a equipamentos públi-

ge do centro da cidade, aumentando a dificuldade de acessar os equi-

cos já existentes, além da área ser mais bem servida de transporte público.

pamentos e transporte públicos. Mesmo os conjuntos habitacionais

O Plano Diretor Participativo de 2008 apresenta diretrizes que indu-

construídos na cidade, foram localizados nas zonas periféricas. Além

1.1 Objetivos

disso, a cidade apresenta um significante déficit habitacional, com

pessoas vivendo em loteamentos irregulares e em condições de risco.

central da cidade de Bauru- SP, visando a implantação em um conjunto de

lotes vagos, localizados em região servida de infraestrutura, equipamentos e

Dados mais recentes, obtidos no final da primeira década do sé-

culo XXI, mostram que existe um déficit de habitação na cidade de Bauru

O objetivo é desenvolver o projeto de conjunto habitacional na área

serviços. 9



2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

ricato (1997) de uma “modernização conservadora”, priorizou o aten-

2.1. O caminho até aqui

“O país passa, no momento, por um período de transformações estruturais. Aprofundar o conhecimento dos processos que geraram o atual quadro das cidades brasileiras é importante para repensar as políticas urbanas e habitacionais.” (BONDUKI, 2011)

Para descrever o histórico da habitação social no Brasil é neces-

sário entender alguns fatores econômicos e sociais que fizeram parte da

dimento dos interesses das elites das grandes cidades (SPINELLI,2008). e o desenvolvimento urbano somente para uma parcela privilegiada da população, ocorreram desde o início da formação das cidades brasileiras. Essa exclusão não é limitada ao espaço físico das habitações, mas se prolonga também aos meios econômicos, sociais, e ao meio urbano, afetando o acesso a infraestrutura, equipamentos e transportes públicos, e outros problemas (MARTINS,2007). Villaça (2003) define o espaço urbano das cidades brasileiras como “esteticamente medíocre e funcionalmente inadequado” que foi resultado da falta de controle do Estado sobre o mercado imobiliário, e desse processo de modernização que teve base colonial.

formação do país. Afinal, como definido por Milton Santos (2002) “o espa-

“À mesma época, Sennett (2006), analisando o fenô-

ço deve ser compreendido em sua totalidade: são inseparáveis as ações

meno, afirma que as novas relações de trabalho, sur-

sociais e a relação entre elas e o mundo físico. O espaço é, portanto, um

gidas com o novo ciclo do capitalismo, geraram uma

resultado híbrido das condições sociais e físicas, carregado de história

elite global que controla a cidade sem responsabilida-

e significado, e representa um conjunto que não pode ser fragmenta-

de política ou coletiva, ameaçando o espaço das me-

do ou interpretado por partes distintas.”(apud. SPINELLI,2008, pág.45).

A partir desse tipo de processo se confirma que a exclusão social,

trópoles. À semelhança do que haviam feito as elites

No desenvolvimento do Brasil muitas ideias contraditórias fo-

burguesas e industriais, a elite global constrói ambien-

ram colocadas lado a lado. Como por exemplo, a defesa de ideologias li-

tes exclusivos e consolida uma cidade de espaços frag-

berais e a manutenção do trabalho escravo. O progresso era como uma

mentados e segregacionistas. “(SPINELLI,2008, pág 44).

imagem a ser passada escondendo o sistema exploratório de trabalho, a produção primitiva, a economia atrofiada, e a falta de produção de

conhecimento local. Tudo isso tinha por finalidade manter os privilé-

clusão social. A exclusão, porém, vem se transformando num modo de vida.

gios de uma classe dominante da população. Portanto, o processo de

Ao contrário do que ocorreria no passado, deixa de ser transitória e se torna

desenvolvimento do Brasil nas áreas urbanas, que foi chamado por Ma-

permanente. É um modo de vida dominado pela concepção de não per11

“É na cidade que se torna mais evidente e dramática a chamada ex-


tencimento.” (MARTINS,2007)

por uma política social de habitação e os incorporadores imobiliários pri-

vados, interessados na construção e venda de apartamentos de luxo. Dis-

A grande maioria das tentativas de solucionar o problema habita-

cional no Brasil foi marcada por sua descontinuidade, pela falta de víncu-

puta que, na verdade, nunca deixou de existir.” (BONDUKI, 2011).

los entre as políticas nacionais e as ações de estados e prefeituras, além

da falta de prioridade dada pelos governos e suas determinações incom-

refere, foi vencida pelos interesses privados, e o Instituto determinou re-

patíveis e contraditórias ao fim dos problemas sociais.

gras de quem poderia ou não receber as habitações produzidas, não por

fatores sociais, mas por associações a determinadas corporações, o que

Na década de 30 foi definido o primeiro orgão federal que se en-

Com o passar dos anos essa ‘disputa’, a qual Bonduki (2011) se

carregaria da questão habitacional, os IAPI’s (Instituto de Aposentadorias

agravou ainda mais a exclusão social.

e Pensões dos Industriários). Os Institutos receberam essa função devido

a grande crise da moradia que se instalou no país e da definição do Estado

larnos anos 40, o primeiro órgão federal com a função única de resolver os

como o responsável por resolver esse problema. Porém, como a ques-

problemas habitacionais do país. O Brasil passava pela maior crise habita-

tão da habitação social não era uma prioridade dos governos da época,

cional até então, que foi agravada pela Segunda Guerra Mundial, quando

não recebeu os investimentos e atenção necessários, impedindo a possi-

ocorreu um aumento na migração da população para as grandes cidades.

bilidade de implantação de uma “política social de maior alcance” (BON-

A Lei do Inquilinato foi estabelecida em 1942, congelando os aluguéis e

DUKI,2011). A ação dos IAPIs foi considerada uma medida paliativa ligada

consequentemente piorando a situação dos inquilinos que sofreram com

ao populismo. Mas que, apesar do número de ações efetivas terem sido

os despejos ocorridos. Estes moradores despejados contribuíram para a

muito inferiores ao necessário, os projetos apresentados e executados ti-

formação das primeiras favelas nas periferias da cidade de São Paulo.

nham qualidade arquitetônica e construtiva.

Os IAPs tinham três tipos de planos de atuação, o plano de locação

mentos clandestinos nas periferias, esquivou-se de impedir sua formação.

e venda, que era o mais usado, pois gerava maior rendimento; o financia-

Aceitou a situação como uma possibilidade de solução do problema habi-

mento, que trazia o menor retorno de lucro ao Instituto; e os empréstimos

tacional, onde a casa própria era construída pelos próprios moradores.

Com o fracasso dos Institutos, foi criada a Fundação da Casa Popu-

O poder público da cidade, apesar de saber do aumento dos lotea-

hipotecários. As ações realizadas fizeram com que a cidade se verticalizas-

se, já que a tipologia de prédios era utilizada pelo Instituto, e causaram

tivos há décadas buscados pela elite: desadensar e se-

um grande agravo na especulação imobiliária dos novos imóveis. “(...)

gregar. Desse modo os investimentos públicos poderiam

além da polêmica entre rentabilidade ou função social dos investimentos

ser concentrados nas áreas habitadas pela classe média

dos IAPs, havia uma disputa por recursos públicos entre os que lutavam

e alta e, por outro, seria viabilizada uma alternativa de

12

“Com a expansão periférica garantia-se dois obje-


baixíssimo custo para que os trabalhadores tivessem

de energia e transporte. O problema de gerenciamento desses recursos

acesso à casa própria, sem onerar o poder público e o

eleva o preço de comercialização dos imóveis ao invés de privilegiar a cons-

setor privado.” (BONDUKI,2011).

trução de unidades mais baratas.” Essa elevação de preços refletiu em um

O único plano desenvolvido pelo governo para solucionar a

aumento de 44% de favelas nas áreas periféricas entre os anos de 1975 e

questão era unificar a FCP com os IAPs, o que fortaleceria as ações e tra-

1978 (CORGHI,2008).

ria maiores recursos. Porém, os privilegiados dos Institutos perderiam

suas vantagens, então lutaram contra a unificação. O Partido Comunista

Caixa Econômica Federal, pelo Ministério da Ação Social (1990), pela Secre-

definia a FCP como uma forma de ilusão aos trabalhadores. Com tan-

taria Especial de Políticas Urbanas (1995), pela Secretaria Especial de De-

tos setores contrários ao desenvolvimento da Fundação, ela acabou em

senvolvimento Urbano (1999) e pelo Ministério das Cidades (2003).

1964, por falta de apoio e orçamento, mas durante sua vigência as con-

tribuições habitacionais comparadas ao déficit da época foram conside-

mais de 6 milhões de moradias até o ano de 2014. Dentro desse número a

ráveis (BONDUKI,2011).

grande maioria das famílias se encontra na faixa de renda mais vulnerável,

Em 1964, com o fim da FCP, foi instituído o Banco Nacional da

de 0 a 3 salários mínimos. Os problemas enfrentados para sanar o déficit

Habitação e o Sistema Federal de Habitação, que tinham como objetivos

de habitação social em um país tão marcado por problemas sociais como o

solucionar o problema do grande déficit habitacional, gerar empregos

Brasil, e outros países latino-americanos, podem ser considerados proble-

na construção civil, e eliminar as ocupações irregulares de terrenos. Os

mas de habitação em geral, já que grande parte da população não tem onde

recursos disponíveis vinham das cadernetas de poupança e do FGTS.

morar ou mora em condições inadequadas (MARICATO, 2013).

Porém, o programa também foi mal sucedido nas ações com habitações

de baixo custo. Colocando como prioridade aspectos quantitativos em

sil. Há outra parcela da população que vive em unidades habitacionais em

detrimento da qualidade, optando pela padronização das habitações e

situação de total precariedade. Ainda segundo os levantamentos do IBGE

do modo de implantar, sempre nas periferias.

o número de moradias em áreas consideradas como favelas soma um total

Após muitos fracassos com as políticas públicas habitacionais, o

de 3,2 milhões no país. Esses números não incluem ocupações clandesti-

governo estabelece então, na Constituição de 1969, durante a ditadura

nas, que não são consideradas favelas, nem outros locais sem saneamento

militar, que a produção de habitações é uma atribuição da iniciativa pri-

básico ou acesso a transporte público, e ainda domicílios onde a estrutura

vada. “O BNH a partir dos anos 70 passa a investir em obras de infra-es-

construída está completamente condenada ou em condições insalubres.

trutura urbana e recebe a influência das grandes construtoras nas áreas

Após o fim do BNH os recursos do FGTS passaram a ser geridos pela

Segundo informações do IBGE o déficit habitacional no Brasil era de

Porém, esse déficit é apenas parte do problema habitacional no Bra-

Com todos esses acontecimentos, em um país marcado pelo neo 13


liberalismo, é preciso também discutir o que rege as políticas públicas das cidades que não são capazes de resolver ou minimizar os problemas. Até propostas de revalorização das áreas mais danificadas da cidade, de re-habitar os centros, e o incentivo à produção de habitação de interesse social “acabam sendo capturadas por lógicas corporativas de produção do espaço” (MONTEIRO,2015). Nesses casos os interesses coletivos da população e a responsabilidade social das propostas ficam submetidas ao lucro do mercado imobiliário e dos investidores. “(...) as disparidades entre projetos de cidade tornam mais evidente a incompatibilidade entre o ímpeto da valorização fundiária e a garantia do direito à moradia adequada das populações de baixa renda.” (MONTEIRO,2015).

Seguindo essa linha mercadológica, existe um agravante dos pro-

blemas enfrentados pela população que têm acesso aos programas de subsídio do governo. Como o número de habitações disponíveis é sempre menor que o número de possíveis compradores, muitas pessoas acabam por ser expulsas dos apartamentos por compradores de uma classe social mais elevada e voltam à situação de falta de moradia. Para impedir essa situação e garantir que as classes mais pobres consigam manter suas moradias, seria necessário um número excedente de habitações disponíveis para evitar o abuso do mercado imobiliário, o que torna o problema mais difícil de ser resolvido (SPINELLI,2008).

14



2.2. Os centros

e a infraestrutura urbana e serviços públicos não acompanharam esse cres-

básicos, por não conseguirem ter acesso a eles.

Em geral as cidades se originam em um terreno central, e ao de-

cimento, deixando uma grande parte da população desprovida dos direitos O “longe” para elas é produzido por vários processos:

correr de seu desenvolvimento tem este como seu ponto focal de todos

pelas dificuldades de acesso, inclusive econômicas, a um

os investimentos públicos e privados, onde se localizam os equipamentos

sistema de transporte insatisfatório, pelas crescentes dis-

de serviços básicos e boas condições de infraestrutura e transporte. Com

tâncias, em tempo e em quilômetros, a que são impelidos

o crescimento das cidades faltou espaço para que todos vivessem nos

em suas casas e finalmente, pelo deslocamento dos cen-

centros. Em casos como este os preços da moradia sobem e deixam de

tros de emprego e subempregos terciários para a direção

ser acessíveis a todos, um exemplo simples de oferta x procura, a fim de definir quem continua morando ali e quem deverá encontrar um novo lugar.

Assim, algumas camadas da população, com o decorrer do tempo

foram expulsas desses centros por dificuldade em pagar para viver perto da melhor localização da cidade, na época. Essa população começou a ocupar as bordas da malha urbana, distante dos equipamentos e da infraestrutura existente. Caracterizando assim o maior dos padrões de segregação da metrópole brasileira, o centro x periferia, evidenciando o espaço como um mecanismo de exclusão (VILLAÇA, 1998). As classes sociais que poderiam pagar para morar no centro ocupavam o local, provido de maiores privilégios.

As cidades se expandiram e em sua maioria, no Brasil, apresen-

taram um crescimento horizontal de sua malha urbana, expandindo as fronteiras. Crescimento deste tipo que foi influenciado por políticas de financiamento, produção habitacional e de infraestrutura urbana (ROLNIK, 2004). Com essa expansão das cidades e o inchaço das classes menos favorecidas, as periferias demonstraram um crescimento desmesurado, 16

oposta à de seus bairros residenciais. “(VILLAÇA, 1998).

Surgem também instalações irregulares de uma população no limi-

te da exclusão, que sem alternativas, procura terrenos não utilizados para urbanização como margens de rios e encostas de morros, para ocupar com moradias precárias e na maioria das vezes auto construídas. Essas instalações irregulares seriam as favelas, que aumentam em número e população de maneira descontrolada nas grandes cidades brasileiras. Nas favelas os problemas citados de infraestrutura são elevados ao máximo pois não existe nenhum tipo de preparação daqueles locais para receber essa população, que permanece totalmente excluída do centro urbano. “No Brasil, a estrutura da metrópole industrial – concentrada, centralizada, massificada– não conseguiu acompanhar as transformações sem medidas perversas de organização espacial. O centro urbano, historicamente ocupado e dominado pelas elites, sofreu aqui as conseqüências do espaço segregado e regido pelo mercado imobiliário.” (SPINELLI, 2008, pág 44).


Com o passar dos anos o centro deixou de ser um local de desta-

mou e expandiu. Sendo ainda um dos principais destinos da população para

que e grande ocupação na malha urbana das cidades. Houve um grande

trabalho e consumo, além de manter a infraestrutura urbana e os serviços

esvaziamento desse centro original, principalmente no setor habitacio-

públicos existentes.

nal, impulsionado por legislações e planos de zoneamento que não in-

centivavam nem facilitavam a diversidade de usos e de funções da área

quanto simbólico do centro urbano se intensificaram a partir dos anos 60.

central (MONTEIRO,2015).

Nessa época, mesmo com um grande excedente de unidades habitacionais

A partir de então, o centro foi se deteriorando e outros lugares da

nos centros urbanos, a população de menor renda continuou a ocupar as

cidade se tornaram mais valorizados. Isso acontece como reflexo de um

periferias. O que demonstra que mesmo com o esvaziamento, o centro ain-

conjunto de interesses por parte de setores de importância e com poderes

da não se tornou um local completamente acessível para a maioria da po-

sobre a economia das cidades, como a indústria imobiliária e da constru-

pulação urbana (VARGAS; CASTILHO, 2006).

ção (MARICATO, 2013). Esses setores não teriam interesse em uma área já

consolidada urbanisticamente como o centro. Por isso, incentivaram a ida

acelerado das periferias urbanas, habitadas sem a infraestrutura necessá-

da população para outras áreas da cidade, que seriam novas e providas

ria para garantir qualidade de vida aos moradores, seria necessário um to-

de outras instalações, criando um padrão para esses novos bairros, que

tal muito elevado de investimentos e custos sociais. Buscando uma nova

se tornariam foco do desejo das pessoas e geraria novas possibilidades de

alternativa, pesquisadores e profissionais da área sugeriram propostas de

lucro.

habitar os antigos centros das cidades, já com a infraestrutura pronta, indo

A população de mais alta renda se deslocou para esses novos bair-

A decadência e esvaziamento demonstrado tanto no âmbito físico

Para que o poder público resolvesse o problema do crescimento

contra a continuação do espalhamento da cidade para locais sem as condi-

ros que eram especificamente projetados e direcionados para esse tipo

ções adequadas, e acesso aos equipamentos públicos (MEYER,2010).

de público, sendo das mais diferentes configurações, como por exemplo

grandes terrenos, altos edifícios, ou condomínios fechados. Além disso,

nal em centros urbanos tiveram início na década de 1970, uma contrapar-

todos os planos de desenvolvimento para habitações sociais foram im-

tida em meio a teses que defendiam a “museificação” dos centros como

plantados nas periferias das cidades. Essa opção era justificada através

patrimônios urbanos. Na época a maioria dos conjuntos habitacionais era

dos menores preços dos terrenos, que continuavam a ser caros no centro

produzida nas periferias da cidade, o que foi, em grandes números, re-

urbano.

alizado por ações do BNH. Só a partir da metade da década de 1980 os

Com o esvaziamento habitacional da área central, seu papel de

técnicos do BNH concordam com as novas estratégias de readensamento

centro comercial e fornecedor de empregos do setor terciário se reafir-

dos centros por parte das populações socialmente frágeis. Inicialmente

No Brasil as discussões acerca do incentivo à produção habitacio-

17


os projetos apareceram como reformas de imóveis tombados, ainda com

reocupação do espaço coletivo existente nos centros pela população de

uma discussão muito pautada pelo componente da preservação do patri-

mais baixa renda que faria uso da infraestrutura e transporte existentes.

mônio. No final dos anos 80 e início dos anos 90 é que o discurso de cidade

O incentivo à ocupação habitacional garantiria que os espaços recebessem

igualitária e de direitos recebe atenção dos debates sobre habitação nos

uma dinâmica de uso em todos os períodos do dia, não se limitando aos

centros urbanos. Um programa marcante dessa mudança no caráter dos

horários de comércio (SPINELLI, 2008).

debates foi o “Programa de Habitações Populares da Região Central de

São Paulo” realizado entre os anos de 1989 e 1993 na gestão de governo

tuações de revalorização urbana afirma que alguns urbanistas que se ins-

de Luiza Erundina na cidade de São Paulo. Pela primeira vez a preservação

piram no conceito de mistura social consideram os centros urbanos “como

do patrimônio não era a protagonista das ações, sendo colocados em pri-

espaços privilegiados para a promoção da integração de diferentes classes

meiro plano as “demandas dos movimentos de luta por moradia e pela re-

sociais e da reversão dos atuais padrões de segregação urbana”.

forma urbana, tais como a autogestão, a participação social na formulação

dos projetos e a permanência integral das famílias atingidas pelas obras”

resse social. Escolhendo os terrenos vazios, caso existam, para desenvolver

(MONTEIRO,2015).

projetos de novos edifícios, sendo uma opção que utilizará maior verba já

Muito ainda se fala sobre a restauração de centros com função

que a construção do edifício começará do zero, mas ao mesmo tempo será

histórica da arquitetura, onde o principal uso do espaço seria para lazer

a opção que criará as habitações mais adequadas para os moradores. Essa

e contemplação, criando muitos locais de memória. Para Otília Arantes

opção se aplica a cidades onde o centro apresenta vazios urbanos para ain-

(2001) esse tipo de ação nos centros urbanos, quando realizada sem pre-

da serem ocupados, sem a presença de prédios abandonados ou em esta-

ocupação social, torna o local um cenário sem uma dinâmica de ocupação

dos de degradação. É um caso diferente de cidades como São Paulo, onde

diária. Servindo apenas para criar uma imagem de cidade que na prática

o centro tem seu espaço todo consolidado. Nestas situações existem outras

não tem muito a oferecer com qualidade de vida para sua população de

opções mais adequadas para a ocupação habitacional.

mais baixa renda. Sendo necessária então, em casos de centros históricos,

a ação combinada de restauração arquitetônica e preocupação com políti-

para transformá-los em prédios residenciais. Essa opção diminui significan-

cas públicas de ocupação social.

temente os custos, já que o prédio em si já está pronto, sendo necessá-

O centro continua aparecendo nas atuais linhas de pesquisa como

rios apenas alguns reparos, devido a alguns estarem abandonados a algum

um local propício para direcionar os investimentos diretos de produção

tempo, e também algumas adaptações para tornar o local uma habitação,

habitacional de interesse social. Assim como políticas públicas de

já que alguns desses prédios são antigos hotéis ou conjunto de escritórios.

18

Monteiro (2015) ao falar sobre habitação de interesse social em si-

Existem diversas opções para ocupar o centro com moradias de inte-

Dentre essas opções está a readequação de edifícios desocupados


Apesar de ter custos reduzidos, nem sempre essas adaptações criam

para que se tenha de fato a “democratização do acesso à cidade”. No entan-

resultados satisfatórios para os novos moradores.

to são necessárias políticas públicas que garantam isso (MARICATO,2013).

Existe também um programa de aluguel social, que na maioria

dos casos é usado como uma solução provisória para pessoas que precisaram sair de suas casas com urgência, como em casos de catástrofes naturais, ou reintegração de posse. O governo paga o aluguel, ou parte dele, dependendo do caso específico e as pessoas recebem o direito de morar nas residências por um período, que normalmente é curto (de 3 a 6 meses de duração).

Ressaltando que a ocupação dos centros como espaços de mora-

dia principalmente social não exclui a necessidade existente nas cidades de criações de novas centralidades. O centro original dos municípios, apesar de sua importância histórica e social como espaço unificador não é capaz de atender a demanda habitacional da população de uma grande cidade. A criação de centralidades espalhadas pela malha urbana excluiria os conceitos de ‘periferia’ e ‘longe’. Isso porque muitas ocupações irregulares são consolidadas e não se encontram em áreas de risco, sendo de preferência da população a continuidade de suas moradias naquele local. Devendo, portanto, adequar o terreno para transformar a ocupação irregular em um bairro, provido de saneamento básico, asfalto, transporte público, postos de saúde, escolas e bases de assistência social. Maricato (2013) ressalta que apesar da ocupação do centro urbano com habitação social não solucionar o problema habitacional nas cidades, é uma alternativa para tornar possível o acesso a boa habitação para as camadas mais pobres e excluídas da população, ampliando as possibilidades de localização e melhorando as condições 19



2.3 Políticas Públicas

colher áreas já consolidadas e com infraestrutura na cidade como localiza-

Para que o incentivo à habitação nos centros seja direcionado

para as camadas mais pobres da população são necessárias políticas públicas que regulamentem as áreas centrais, nos mapas de uso e ocupação do solo, por exemplo. Porém, em muitos casos atualmente, os planos das cidades vêm obedecendo a regras de um mercado financeiro excludente e não mais voltados às medidas coletivas e sociais que deveriam ser a prioridade do Estado. Ribeiro (2007), ainda ressalta que essas políticas devem ser pensadas integrando as três esferas de governo, federal, estadual e municipal, além de incluir a população. “Os processos de planejamento ou a definição de projetos e políticas urbanas, denominem-se planos diretores ou planos estratégicos, não são inocentes. Podem servir apenas e tão-somente para legitimar práticas concentradoras e excludentes, podem ser capturados pela lógica da acumulação ou, modestamente, nos estreitos limites da poderosa atuação urbanística, podem ousar o desejo de intervir sobre esta lógica e de abrir espaços de redistribuição de renda e poder, abrindo esperanças em meio ao caos.” (ROLNIK,2003).

Os programas habitacionais encontrados hoje no Brasil cedem

às pressões desse mercado, colocando como prioridade a ampliação da indústria da construção ao invés do problema habitacional das cidades. O Minha Casa Minha Vida é um exemplo de programa que poderia es-

ção para construção dos conjuntos habitacionais. Porém, cabe a própria construtora definir essa localização, assim

como a tipologia das habitações. Essa definição é pautada de acordo com a necessidade de lucro e pouco gasto das empresas privadas. Por isso, os conjuntos habitacionais são construídos em áreas periféricas das cidades, muitas vezes desconectadas da malha urbana existente, e apresentam no projeto um padrão tipológico único incapaz de atender as necessidades de diferentes usuários e de se adaptar a diferentes terrenos e condições climáticas. Portanto, se a partir de uma análise qualitativa, quiser se avaliar os resultados do programa em resolver os problemas habitacionais do país, esses números seriam bastante baixos, apesar do grande número de unidades construídas. “Planos de habitação para a baixa renda que não forem acompanhados por instrumentos capazes de alterar o ciclo da especulação imobiliária e o acesso ao solo urbano, vão continuar sendo um paliativo para o problema do morar nas cidades brasileiras.” (NASCIMENTO; TOSTES, 2011).

Para deixar de produzir políticas públicas compensatórias será ne-

cessário interferir em fatores que dão base ao poder para uma pequena parcela da população, como o patrimonialismo e o mercado imobiliário privado (MARICATO,2013) “A formulação de uma política antiexclusão requer a compreensão global dos fatores que a construíram. No caso da política urbana, a exclusão territorial pode ser desconstruída em três elementos: a estratégia da distribuição dos investimentos, a regulação urbanística e a gestão urbana. 21


E, se a exclusão territorial pode ser construída com esses

três elementos, podemos também a partir deles produ-

questão fundamental para o desenvolvimento de programas habitacio-

zir instrumentos para desmontá-la. Uma estratégia de

nais em quantidade e qualidade. Com as cidades muito ocupadas e lote-

investimentos que privilegia de forma excludente deter-

adas sobram poucos terrenos livres em áreas urbanizadas nas mãos das

minada área da cidade, ou determinada funcionalidade

prefeituras, que acabam por levar os programas habitacionais para áreas

(como o transporte individual), influi radicalmente na

periféricas. Prejudicando as necessidades dos futuros moradores da área,

lógica da distribuição das centralidades – e, portanto,

os municípios seguem uma cultura herdada de um urbanismo autoritário,

nas oportunidades de emprego, renda e educação – no

que segrega da urbanidade aqueles que não participam do mercado for-

espaço intra-urbano.” (ROLNIK,2003).

mal (ROLNIK, CYMBALISTA, NAKANO, 2011).

A questão habitacional no país é também urbana. O solo é uma

Em junho de 2016 a Prefeitura de São Paulo divulgou uma propos-

“Se no nível nacional a proposta de um ordenamento ter-

ta do Plano Municipal de Habitação, que ficará disponível para discussão.

ritorial como suporte a um projeto de desenvolvimento

O plano é uma sugestão de política local e de longo prazo. A novidade

para o país não conquistou um espaço nas estratégias de

é que a partir de planos locais podem ser pensadas as particularidades

crescimento econômico, na escala dos municípios o ime-

de cada cidade no problema habitacional, as reais possibilidades de solu-

diatismo e pragmatismo da gestão promoveu a hegemo-

ção e as distintas linhas de atuação. “Por várias razões, essa proposta de

nia de práticas voltadas para resultados imediatos, com

PMH é um marco nos processos de elaboração de planos habitacionais.”

grande capacidade de resposta a pressões e demandas,

(ROLNIK,2016). Uma das propostas apresentadas é o aluguel social, não

sem que questões estruturais, como a forma de organi-

como uma ação paliativa, mas como resolução dos problemas habitacio-

zação física das cidades seja enfrentada.” (ROLNIK, CYM-

nais de grupos específicos, como idosos. O aluguel social aparece também

BALISTA, NAKANO, 2011, pág.2).

na proposta do Serviço Social de Moradia, que funcionaria como suporte para resolver a questão habitacional de uma população em situação de vulnerabilidade, moradores em situação de rua por exemplo, ou casos de emergências extremas, que incluiria vítimas de desastres naturais. Outra inovação que faz desse plano um marco é a incorporação da política fundiária na política habitacional, estruturando de maneira mais frontal os diferentes programas habitacionais com os instrumentos do Plano Diretor. 22



2.4. A voz deles

iniciar os movimentos sociais, já que era prejudicada pelos problemas ur-

problemas da periferia. Iniciou-se a partir disso a prática de reivindicações

Os movimentos sociais ligados à reivindicação de moradias bus-

cam unir pessoas que estejam excluídas socialmente e que não podem, com pouco ou nenhum salário, comprar uma casa própria, sem ajuda do Estado. Esclarecem a elas que habitação digna é um direito de todo cidadão e que eles devem lutar por isso. Então os movimentos se organizam e cobram das prefeituras uma resposta para os problemas habitacionais que são de extrema urgência. Hoje, o que é visto são todos aqueles que não têm onde morar, serem na verdade, impedidos de ter onde morar, por uma extrema desigualdade social produzida no injusto desenvolvimento das cidades e mantida por leis que garantem privilégios e interesses de grandes setores econômicos (SILVA,2016).

Antes da ditadura Vargas, os movimentos sociais eram limitados

e bastante desarticulados, basicamente eram associações de trabalhadores que discutiam por melhores condições de vida. Durante esse período surgiu nas falas dessas discussões a preferência pela casa própria, e não mais por soluções paliativas, como o aluguel social. A casa própria representava a ascensão social, a estabilidade econômica e a formação de um patrimônio da família, fatores que colaboraram para o aumento das autoconstruções nas cidades, que davam ainda a possibilidade de adaptar o espaço ao invés de se adaptar a um local padronizado.

Somente nos anos 40 com a expansão das áreas periféricas das

cidades e a omissão do Estado perante os problemas dessa área, os movimentos sociais de luta começaram a se articular. O movimento comunista entre 1945 e 1947 foi o primeiro a ver na periferia um lugar favorável para 24

banos, estes lutariam por melhorias e seriam relevantes na exposição dos que agora estavam bem mais organizadas, com capacidade de conscientização e posturas propositivas (BONDUKI,2011).

Os movimentos atribuíam ao Estado a falta de infraestrutura ur-

bana e serviços básicos nas áreas periféricas. Então, os moradores se mobilizaram para levar suas reclamações às prefeituras, cobrando melhorias nos bairros onde moravam. Muitos abaixo-assinados foram realizados. Fazendo com que a prefeitura não pudesse mais se omitir à situação daquelas pessoas que já representavam grande quantidade de bairros. “O histórico das lutas urbanas decorre do desenvolvimento político do país e de uma nova visão pelo direito de cidadania que confere aos movimentos sociais um papel diferente daquele exercido até aquele momento”(SANTOS, 2010).

Nesse período muitos dos movimentos sociais de luta por mora-

dia antes das discussões por habitação nos centros urbanos reivindicavam a melhoria da qualidade das habitações e das condições de vida nas periferias, sem lutar pela mudança de localidade dessas habitações. Posteriormente o discurso foi desenvolvido e ampliado em busca de habitação de qualidade em locais que já apresentem infraestrutura urbana e social. Além disso, a ocupação de áreas centrais pelas camadas mais pobres da população significaria inclusão à mobilidade, aos direitos sociais e a integração, e não mais estar literalmente à margem da malha urbana desenvolvida e bem estruturada. A periferia passou a representar a exclusão dessa sociedade e a afirmação de “padrões espoliativos do modelo capita-


lista de urbanização” (MONTEIRO,2015).

Santos (2010) ao falar sobre os movimentos de moradia e pro-

dução do espaço em São Paulo exemplifica a questão da luta pela moradia no centro com entrevistas de pessoas de dentro dos movimentos sociais que atuam nessa área. Na entrevista fica clara a urgência de uma política para o centro, pois já existe uma considerável parcela da população que precisa viver em áreas centrais, devido a empregos, ou localidade de escolas e hospitais.

Em outubro de 2011 foi realizado em São Paulo o Seminário

Nacional: lutas e experiências pela moradia digna nas áreas centrais. Estiveram presentes representantes de ONG’s, movimentos sociais, e assessorias técnicas. Os representantes se envolveram em discussões e troca de experiências sobre as lutas por habitações sociais em áreas centrais das cidades. Nessas discussões foram levantados os principais desafios e quais estratégias e propostas poderiam ser seguidas para o fortalecimento destas lutas. Os principais desafios levantados foram a falta de apoio financeiro para projetos de moradia popular no centro, o pouco diálogo das prefeituras com os movimentos populares e o alto custo das terras. Algumas soluções possíveis foram propostas, como a criação de uma comissão composta por representantes dos movimentos para participar do Fórum Nacional de Reforma Urbana, levantando o tema da moradia em áreas centrais, a criação de estratégias de sensibilização do poder público e da população quanto ao direito de morar no centro, o aprofundamento os debates sobre como seriam essas habitações, indo além das reformas de cortiços que são apresentadas pelo poder público hoje. 25



2.5. Diretrizes Projetuais

para racionalização da construção, evitando sobras e perdas de material.

da, utilizado pela primeira vez por Schumacher (1973) que atribuía ao termo

Esse item tem a função de esclarecer teóricamente diretrizes

Para resumir todos os fatores expostos, existe o termo Tecnologia Apropria-

que serão usadas para o desenvolvimento do projeto final.

quatro critérios, que são: pequeno, simples, barato e pacífico. Spannenberg

2.5.1Sistema Construtivo

conhecimentos locais para o desenvolvimento de um projeto adequado.

Em um sistema construtivo existem diversas ramificações a se-

realizar um projeto de qualidade ao menor custo possível.

rem definidas. Um sistema deve apresentar todos os seus métodos, ou subsistemas, que envolvam todas as partes de uma obra e dêem respostas às dificuldades que possam ser encontradas, além da definição de materiais e outros elementos necessários para que a conclusão da obra realizada com determinado sistema construtivo obtenha sucesso (SPANNENBERG, 2006).

Para definir um sistema construtivo a ser utilizado em um pro-

jeto, diversos fatores devem ser levados em conta. Em um projeto de habitação social em que o custo não deve ser elevado, a quantidade dos fatores a serem considerados é ainda mais elevada. Kruger (2003) expõe alguns desses fatores, como por exemplo, o uso de materiais locais, que além de economizar no transporte do material, garante lucro aos produtores da região, e ajuda a tornar o projeto adequado ao ambiente; a qualificação da mão de obra, que deve ser pesquisada, pois sistemas construtivos com pouca mão de obra disponível encarecem o total da construção; execução simples, para que exista a possibilidade de expansão e de reparos pela própria comunidade que receberá as moradias; flexibilidade; adequação da construção ao clima; e medidas

(2006) destaca também a importância de aliar o conhecimento técnico aos Mascaró (1991) define tecnologia adequada como aquela que é capaz de

Atualmente existem diversos sistemas construtivos passíveis de se-

rem adotados na construção de edifícios, serão abordados aqui os mais utilizados na região do interior de São Paulo, sendo eles o aço, os blocos estruturais e a alvenaria comum, para que se possa escolher o sistema adequado a ser aplicado no projeto desenvolvido.

O aço é uma das tecnologias que vêm ganhando espaço no mercado

imobiliário por apresentar algumas vantagens sobre as formas tradicionais de construção. Por exemplo, a possibilidade de maior área útil, já que as estruturas em aço são mais resistentes e ocupam menos espaço do que esqueleto de concreto, podendo também garantir maiores vãos livres, formando uma estrutura mais leve. As estruturas metálicas facilitam ainda as adaptações da construção, como ampliações ou reformas.

Na execução da obra existem vantagens também, como maior rapi-

dez de execução, podendo reduzir em 40 % o tempo da obra, o canteiro de obras se torna muito mais organizado, já que as peças vêm prontas e são apenas montadas, garantindo o que se chama de ‘obra limpa’ e sem desperdícios já que as peças são encomendadas na quantidade correta, e qualquer sobra tem a possibilidade de ser reciclada, não gerando resíduos. 27


Existem algumas questões que devem ser levadas em conta quando se

dimensões do bloco são bastante precisas. Os blocos possuem furos, com

trabalha com o sistema estrutural em aço. As peças são fabricadas indivi-

dimensões suficientes para que as instalações hidráulicas e elétricas pas-

dualmente e é necessário que algo as conecte depois, para que formem

sem por eles, o que facilita o processo de instalação. Esses furos podem

a estrutura da edificação. Essas conexões podem ser soldadas ou parafu-

ainda ser preenchidos com graute o que gera maior resistência ao blocos.

sadas. As ligações soldadas podem ser solicitadas à fábrica para que as

Além disso, é um material de fácil acesso em quase todo o país.

peças já venham até o canteiro de obras prontas para serem utilizadas,

é ideal para peças que aguentarão grandes cargas ou que tenham uma

bloco ao outro e os deixando sólidos na posição apropriada, servindo tam-

geometria complexa. As ligações parafusadas podem ser feitas na própria

bém para uniformizar qualquer imperfeição que possa existir no bloco,

obra, e existem dois tipos delas, as comuns que são usadas em ligações

além de impedir a entrada de água ou vento, vedando a abertura entre

de peças que não tem a necessidade de muita resistência, e as de alta

um bloco e outro.

resistência para peças de fundação ou que recebam altas cargas. Para a

vedação do projeto, a estrutura em aço permite muitadiversidade, poden-

miúdos e graúdos, água e cal. Colocado como preenchimento dos furos do

do ser em formato de alvenaria ou de painéis, de uma grande diversidade

bloco, sua função é a de aumentar a resistência do mesmo e da constru-

de materiais, como tijolos de barro, blocos cerâmicos, blocos de concreto

ção como conjunto, além de proteger as armaduras de aço da corrosão.

ou de concreto celular, concreto colorido, solo-cimento, aço, e gesso acar-

Existem normas que definem a proporção de cada elemento no graute

tonado (“dry-wall”).

para garantir sua resistência. Com esse material a resistência do bloco au-

menta de 30% a 40%.

O sistema construtivo de alvenaria estrutural depende de poucos

A argamassa é usada para o assentamento dos blocos. Unindo um

O graute é um tipo de concreto, composto por cimento, agregados

elementos, e a qualidade desses individualmente é de extrema importân-

cia para garantia da qualidade estrutural do edifício construído por intei-

parte da estrutura com os pilares, canaletas e vergas em aberturas, uti-

ro. Estes elementos são o bloco de concreto, a argamassa, as ferragens e

lizadas também nas estacas da fundação. Essas armaduras em aço são

o graute.

as mesmas usadas em construções de alvenaria comum, e em edifícios

Os blocos de concreto são industrializados, feitos com cimento,

devem ter a bitola de 10 mm. Na maioria dos casos de construções de

agregados miúdos e graúdos e chegam prontos ao local da obra. Existem

alvenaria estrutural a fundação é em viga baldrame apoiada em estacas.

algumas variações de tamanho e formato que podem ser usados em dife-

Os blocos de concreto podem apresentar ou não outro revestimento que

rentes processos da construção evitando sobras e a necessidade de ajus-

dê algum tipo de acabamento, mas em muitas construções atualmente é

tes. As fôrmas usadas para a produção do bloco são de aço, portanto as

visto o bloco sendo usado como fechamento aparente.

28

As armaduras são utilizadas entre os furos dos blocos, fazendo


A alvenaria comum é o sistema construtivo mais utilizado no

Brasil, devido a facilidade de encontrar materiais e mão de obra. Por essas facilidades o preço se tornou bastante acessível também, sendo o mais barato dos sistemas estudados nesse trabalho. Este é composto por um esqueleto de sustentação formado por pilares e vigas de concreto, reforçados com barras de aço, e vedado com os tijolos cerâmicos que são revestidos com reboco de argamassa e finalizados posteriormente com pintura, ou algum tipo de material de acabamento.

Como as paredes não fazem parte da sustentação da estrutura,

esse sistema torna mais fáceis alterações como reformas ou ampliações. A desvantagem desse processo está na demora do processo construtivo que não é tão sistemático quanto os anteriores, e também gera uma quantidade considerável de resíduo sólido ao fim da construção. Para os dois problemas aplicar os conceitos de modularidade pode ser a solução, já que as medidas permitirão que haja pouca sobra e maior rapidez de construção por tornar o projeto mais prático de ser executado.

29



2.5.2 Modularidade

dimensionalmente e modularmente (CIRQUEIRA,2015). Isso pode ainda

bem com uma proposta de habitação social.

O método da adoção de um módulo para desenvolvimento de

deixar a realização do projeto com um custo mais adequado, o que se alinha

projetos arquitetônicos acontece desde a Grécia Antiga, quando eram

“A coordenação modular, como muitos acreditam, jamais

usadas medidas base para toda a definição dos ambientes projetados.

compromete a capacidade criativa de um arquiteto. Pelo

Porém esse sistema de projeto ganhou força maior na arquitetura com

contrário, a existência dos condicionantes da coordenação

a industrialização e a elevação da racionalização, onde os materiais utili-

modular resulta em obras cujos valores estético-formais

zados para construção poderiam ser fabricados de acordo com esse mó-

estarão em harmonia perfeita com os valores sócio-eco-

dulo, podendo até mesmo tornar a construção uma série de encaixes

nômicos.” (FERREIRA; BREGATTO; D’AVILA, 2008, pág. 5).

de peças prontas e moldadas de acordo com a dimensão estabelecida (CARVALHO; TAVARES, 2014).

Esse conceito de racionalização do projeto em arquitetura ga-

rante a diminuição das sobras de resíduos sólidos na construção, um grande problema nas áreas urbanas das cidades, a facilidade na transformação de alguma parte individualmente, a maior rapidez na constru-

O arquiteto brasileiro João da Gama Figueiras Lima, conhecido como

Lélé, pautou seus projetos e obras na busca dessa industrialização e racionalização que o levaram ao módulo, conceito muito marcante em projetos como os hospitais da Rede Sarah.

ção e a possibilidade de aplicação desse módulo de diferentes formas em diversos lugares. A modularidade nos projetos arquitetônicos define uma unidade dimensional que será o módulo de partida de todo o desenho. A dimensão do módulo pode ser definida por diversos fatores, a partir da dimensão do material utilizado é a forma que mais colabora para a devida utilização dos materiais sem que haja necessidades de muitos recortes e sobras. As dimensões de módulo mais comuns vistas nos projetos são de 1,25x1,25 metro e 1x1 metro. A repetição desse módulo é o que define o projeto como modular, afinal ele é definido por essa medida adotada.

Os fatores citados garantem que o projeto esteja coordenado 31



2.5.3 Conforto Ambiental

ambientalmente e eficiente no ajuste dos extremos climáticos. Dentre essas

sistema de aquecimento de água, a climatização, o uso de energias limpas,

O conceito de conforto ambiental determina que a pessoa que

está em determinado ambiente sinta-se confortável sob parâmetros de temperatura, umidade, intempéries, iluminação e outros fatores. Ao falar de conforto ambiental, os autores Lamberts, Dutra e Pereira (1997), descrevem que a arquitetura vernacular é pensada de modo a aproveitar as características peculiares de cada lugar, para incorporar as condições climáticas e naturais no projeto arquitetônico. Um dos exemplos de como aproveitar um recurso natural é fazer uso da ventilação cruzada para renovar o ar – higiene da habitação e, também para controlar a temperatura interna, por meio do tamanho e da posição das aberturas em paredes opostas e/ou adjacentes. O mesmo raciocínio é empregado para o controle do fluxo de vento que atravessa o ambiente, ou seja, é possível de ser controlada a quantidade pelo tamanho e posição das aberturas (janelas e portas), bem como pela forma de abrir (LAMBERTS, et al, 1997). A arquitetura vernacular utiliza também os materiais de cada região em que se insere.

Na contramão dessa arquitetura, com o desenvolvimento de

tecnologias, o barateamento de determinados tipos de materiais de construção, e opções de adaptação a ambientes de formas artificiais, muitas dessas técnicas regionais de aproveitamento das características ambientais se perderam, gerando mais custos, mais consumo energético e dependência de conhecimentos externos (ARANTES,2013).

Entretanto, o avanço da tecnologia e das técnicas de construção

possibilita também mais alternativas para tornar o projeto confortável

opções podem ser trabalhadas, a forma, os fechamentos, a cor, o material, o entre outras.

Então, para garantir o conforto ambiental nas construções o ideal

seria unir os conhecimentos da arquitetura vernacular com as novas tecnologias. Priorizar a iluminação natural, através do tamanho das aberturas, controlar a insolação e ventilação pela escolha da orientação das aberturas e, assim, gerar uma economia de energia.

A cobertura também tem muita importância no desempenho térmi-

co de uma habitação, pois dentre todos os elementos de uma edificação o telhado é o mais exposto a insolação durante a maior parte do dia. Por isso, é importante escolher materiais que amenizem a transmissão de calor para o interior do edifício. Várias pesquisas já comprovaram que a telha cerâmica é a melhor para o desempenho térmico. Mas em projetos, nos quais pela tipologia escolhida é necessário empregar uma telha de baixa inclinação, recomendam-se as telhas tipo “sanduíche”. A telha sanduiche é formada por duas placas de telhas com uma camada de material isolante térmico e acústico colocada no meio das placas.

Arantes (2013) demonstra em seu estudo com uma habitação de in-

teresse social de alvenaria, na cidade de Bauru, a eficiência de algumas opções de projeto que podem contribuir para a obtenção de conforto térmico. Para obtenção dos resultados foram utilizados três softwares, o Sketchup, o EnergyPlus, e o Open Studio. No estudo a existência de beirais sobre as aberturas da residência mostrou eficiência, garantindo muita diferença na temperatura interna em épocas quentes como o verão. Comprovou também 33


a importância da orientação correta das aberturas projetadas. Para a cidade de Bauru a pesquisa de Arantes (2013) recomenda colocar as aberturas de dormitórios, por exemplo, nas faces leste e norte.

Quanto ao forro, foram testados diversos materiais e inclina-

ções, os forros de pvc, madeira e gesso, apresentaram resultados bastante semelhantes quanto a temperatura que era registrada no interior da residência, assim como os forros inclinados e retos que permaneceram com resultados parecidos (ARANTES, 2013).

Para garantia do conforto nas habitações existem normas como

a NBR 15575 e a NBR 15220-3. A primeira apresenta requisitos para um bom desempenho climático da construção em todos os seus âmbitos, desde o sistema estrutural, pisos, vedações, cobertura, até os sistemas hidrossanitários. São explorados os materiais e seus respectivos resultados de desempenho em determinadas zonas climáticas do país. A NBR 15220-3 trata especificamente de diretrizes construtivas para habitações de interesse social, a partir do zoneamento bioclimático do país, explorando estratégias de proteção de intempéries e garantia de conforto climatológico.

34



2.5.4 Sustentabilidade

clima e no ambiente em que estão inseridas, na maioria das vezes, gerando

dos processos mais impactantes ao meio, começando na produção dos ma-

Apesar de serem termos usados juntos e terem pontos em co-

mum, sustentabilidade e conforto ambiental são conceitos distintos. O conforto ambiental está incluído em sustentabilidade, porém existem outros aspectos junto a ele, os econômicos, sociais e culturais (PORTO,2009).

A sustentabilidade é um dos termos mais usados como exemplo

de conduta a ser seguida em várias áreas das atividades humanas, como plantações sustentáveis, construções sustentáveis, cidades sustentáveis, empresas sustentáveis. As populações concentradas nos centros urbanos são as responsáveis pelos ataques ao meio ambiente, assim como as aglomerações de construções existentes em todas as cidades já que elassão fontes consumidoras e geradoras de energia e de resíduos. Sendo assim, torna-se muito importante os estudos sobre outras possibilidades de consumo de energia no meio urbano.

O tema, de certa forma banalizado nas grandes mídias, quase

sempre vem associado a atitudes “Greenwhashing”, em uma tradução literal, lavagem verde, incluindo soluções ecológicas internacionalizadas que nem sempre são necessárias ou adequadas para determinado local, como aquecedores solares e tetos verdes. Mas o que deve ser ressaltado é o conceito da sustentabilidade que vem integrado ao projeto, que gera equilíbrio com a situação anterior do local, como um processo. Portanto, sustentabilidade nunca será um conceito estático, que pode ser definido em algumas soluções base (LISBOA; AMADO, 2010). 36

As cidades, sendo ocupações humanas, geram modificações no

problemas ambientais. A construção civil na produção das habitações é um teriais, os deslocamentos destas e da mão de obra, os resíduos sólidos gerados ao fim das obras, e o próprio uso da habitação, com gastos energéticos, geração de lixo, e desperdício de água. Para reverter esse processo de degradação é necessário que os cidadãos se conscientizem e apliquem algumas soluções sustentáveis em suas casas, e que o mercado comece a incentivar esse tipo de ação através de preços e valorizações (PEREIRA,2003).

No Brasil a habitação social precisa ser construída em grandes quan-

tidades, pois o número de pessoas a ser atendido é sempre bastante alto e trata-se de uma questão urgente. Isso, unido ao pouco interesse dos governantes de que essa população tenha uma habitação “digna”, e muito interesse nos lucros das grandes construtoras, resulta na produção, em grande escala no país, de unidades repetidas, que formam uma massa única, sem identidade local, sem implantação adequada no terreno, e sem quaisquer soluções de conforto ambiental ou sustentabilidade.

Segundo Amaral (2013), 23% do total da energia consumida no país é

do setor residencial, e afirma que com algumas ações esse número poderia ser menor. Segundo Hansen (2000), o uso de placas solares para aquecimento da água dos chuveiros, é uma solução simples e que oferece uma boa relação custo/benefício, já que o chuveiro elétrico é responsável pela maior porcentagem do consumo de energia em residências populares.

No estudo realizado por Amaral (2013) em casas populares na cidade

de Canoas- RS verificou-se a economia de 41,45% do consumo de energia para aquecimento da água, quando implantado o sistema de aquecimento


solar. Como o Brasil é um país com muito sol, essa fonte de energia, limpa

e renovável, deve ser aproveitada.

tação chega a produzir 1 litro de água para o uso dos moradores. Para di-

Os coletores solares são aquecedores de fluidos, que transformam

mensionar a cisterna que fará o armazenamento dessa água é necessário

luz solar em energia térmica e aquecem a água armazenada no interior

então fazer um cálculo da demanda da residência, esta pode ser de fibra

de um reservatório térmico, mantendo a temperatura para que a água

de vidro, e deve ser enterrada, pois sem a luz e o calor, existem poucas

quente possa ser utilizada. E para que a exposição do sol seja aproveitada

chances de bactérias se proliferarem.

ao seu máximo, essas placas precisam ser posicionadas para o lado que

recebe mais insolação.

cidades ainda não existe uma finalidade adequada. Com a falta de trata-

Segundo cálculos de Ferreira (2014), o uso de painéis fotovoltai-

mento de esgosto, muitas vezes o esgoto é despejado diretamente em rios

cos que gerem energia elétrica para cobrir toda a demanda de uma habi-

e córregos. Entretanto, a água que é descartada no banho, ou de máqui-

tação ainda é um sistema bastante caro para que seja aplicado por todos.

nas de lavar, pode ser reutilizada para descargas. Esse sistema é chamado

O armazenamento da água é outra questão de grande importân-

de reuso da água ‘greywater’, e pode diminuir em um terço o consumo

cia nos dias de hoje, quando se sabe que se trata de um recurso natural

de água nas habitações, além disso, tem um preço acessível. No geral os

que está sendo afetado pela forma de consumo, pelo desperdício e pela

sistemas instalados são fechados em cada banheiro, coletando a água do

poluição dos rios. Desse modo, é preciso pensar em um meio de apro-

chuveiro, que recebe uma filtragem, garantindo a segurança de reuso des-

veitamento inteligente desse recurso natural. Visto que, muitas cidades

sa água, e retorna para um reservatório que vai servir os vasos sanitários,

estão sofrendo com a falta de abastecimento de água em áreas urbanas,

já que como calcula Ferreira, o uso de água no banho e nas descargas dia-

devido a mudanças climáticas e a diminuição dos recursos naturais. Além

riamente é parecido (FERREIRA,2014).

Segundo Ferreira (2014), 1mm de chuva em 1m² de área de cap-

Para o esgoto também é possível criar soluções, já que em muitas

disso, algumas áreas não recebem o abastecimento da maneira correta por problemas com a infraestrutura da cidade.

A captação de água da chuva, por exemplo, é um sistema simples

que envolve um conjunto de calhas para a captação, um pré-filtro, um reservatório de tratamento, um filtro e uma cisterna de armazenamento final. A água transita entre estas etapas por tubos de 1000 mm de diâmetro, e pelas telhas, que se forem lisas, como as cerâmicas e as de cimento facilitam a captação da água. 37



2.5.5 Ergonomia na concepção de espaços

“Aliada a outras áreas do conhecimento como o de-

sign e a arquitetura, a ergonomia coloca o homem como eixo de referência, uma vez que as atividades humanas acontecem em espaços, sejam abertos, fechados, construídos ou não.” (LELIS,2015, PÁG 30)

Portanto, podemos definir a ergonomia como disciplina, cujo estu-

do foca nos aspectos antropométricos e que pode ser facilmente aplicado nos projetos arquitetônicos (PANERO e ZELNIK,2002). Tendo em vista que o ambiente exerce influência naqueles que o ocupam, a ergonomia é usada com o objetivo de garantir o conforto do ponto de vista da acessibilidade, funcionalidade e habitabilidade daqueles que serão os usuários dos espaços construídos (LELIS,2015).

Esses aspectos antropométricos são definidos através de estudos

dos movimentos, posturas e dimensões do corpo humano e de como os indivíduos se relacionam com o espaço. São utilizadas medidas antropométrica do corpo humano, como, estatura, largura dos ombros, comprimento, profundidade e perímetro do corpo humano, bem como seus movimentos, tais como: curvatura, medida de articulação e alcance. Dentro dessas medidas selecionadas são expressos limites superiores e inferiores de cada uma, encontrando um ponto médio que será a medida a ser levada em conta para que uma pessoa possa realizar determinada atividade na postura correta, com o menor esforço possível. “A dinâmica do espaço interage com a dinâmica do corpo humano enquanto organismo vivo.” (BOUERI,1991).

Além das medidas do corpo humano, os hábitos, a cultura e o

comportamento de determinados povos também devem ser considerados para o desenvolvimento do projeto de arquitetura, uma vez que deve apresentar espaço necessário para que a pessoa viva com qualidade, assim como, garantir que os ocupantes do espaço tenham suas distâncias pessoais respeitadas (HALL, 1977).

Em projetos habitacionais estes parâmetros se tornam ainda mais

importantes, pois é o local de maior vivência e descanso das pessoas. E quando se trata de habitações de interesse social, o cuidado deve ser ainda maior, pois com as medidas reduzidas nos ambientes dessas moradias por fatores como custo e rapidez de construção, muitas vezes as dimensões mínimas para se viver com conforto ergonômico são desrespeitadas.

Os órgãos públicos municipais possuem normas que regulam as

medidas mínimas que cada ambiente deve possuir: os Códigos de Obras. Em Bauru o Código de Obras define no Artigo 76 que a área mínima para habitação de interesse social em apartamentos é de 45 m². As Tabelas 1 e 2 regulamentam dimensões mínimas para os cômodos e áreas comuns de um conjunto habitacional. Para o caso de prédios existem mais especificações determinadas em normas, como o limite de inclinação de 12% para rampas, e que estas sejam revestidas com material antiderrapante a partir da inclinação de 6%. As edificações com área superior a 750m² totais devem apresentar área de recreação infantil, separadas do estacionamento, e com equipamentos adequados. Para essas edificações ainda há a necessidade de um local para reuniões de moradores.

A Lei de Zoneamento e parcelamento regula os recuos necessários

em construções de cunho social. Para o município de Bauru a Lei de Zoneamento propõe as medidas apresentadas naTabela 3.

39


Tabela 1: Dimensões mínimas casas populares ou de interesse social unifamiliar. Fonte: Código de Obras de Bauru-SP

Tabela 2: Habitações Multifamiliares- unidades agrupadas verticalmente, ou horizontalmente de interesse social. Fonte: Código de Obras de Bauru- SP 40


Tabela 3: CaracterĂ­sticas de dimensionamento, recuos e aproveitamento dos lotes. Fonte: Lei de Parcelamento e Zoneamento do solo de Bauru- SP

41


3.METODOLOGIA

7.Apontar as especificações do local, refere-se a apresentar os motivos que

8.Projetar um conjunto habitacional integrado ao meio urbano que ofereça

Esse Trabalho Final de Graduação propõe a inserção de um con-

junto habitacional na área central da cidade de Bauru – SP. Para tanto, foi necessário definir etapas de desenvolvimento para esse trabalho, que abarcassem desde o estudo sobre a temática Habitação de Interesse Social até os procedimentos projetuais em Arquitetura e Urbanismo. Nesse sentido, o trabalhos foi realizado de acordo com as seguintes etapas: 1.Compreender o problema habitacional no Brasil, por meio do estudo de fontes bibliográficas; 2.Conhecer as vantagens de ocupar o centro com habitação de interesse social, assim, buscou-se pesquisas que relatam os benefícios de incentivar a ocupação de vazios urbanos, especialmente em áreas centrais; 3.Estudar as variáveis de um projeto adequado ao clima e aos usuários, com esta finalidade foram estudados os conceitos de conforto ambiental, de arquitetura sustentável e de ergonomia; 4.Identificar projetos como referência, isto é, buscar exemplos de projetos arquitetônicos que aplicaram os conceitos acima citados e em alguns casos ocuparam as áreas centrais das cidades; 5.Investigar o déficit habitacional de Bauru, para aproximar a pesquisa a realidade local do lugar escolhido para elaborar o projeto de um conjunto habitacional; 6.Verificar a possibilidade de ocupar o centro da cidade de Bauru, para isso forma feita uma seleção de lotes vagos no centro da cidade, para escolher de acordo com critérios de dimensão e potencialidade para implantar um conjunto habitacional; 42

levaram a escolha de um terreno e as características do seu entorno; bons espaços , de modo que, do ponto de vista das unidades habitacionais, criar ambientes que ofereçam conforto térmico e ergonômico e do ponto de vista da cidade, criar um diálogo entre o edifício e a cidade.

Portanto, o desenvolvimento do TFG consistiu inicialmente em con-

centrar as atividades de embasamento teórico, coleta de dados e informações, como a primeira parte da pesquisa que fundamentaria as etapas seguintes. Assim foi realizada a revisão bibliográfica e a coleta de dados sobre o Plano Local de Habitação, diagnóstico da habitação de interesse social na cidade de Bauru-SP e potencialidade para ocupar um vazio na área central.

A Revisão Bibliográfica consiste em abarcar as quatro primeira eta-

pas do trabalho envolvendo uma abordagem teórica, que no caso específico desse trabalho teve o objetivo de identificar pesquisas e autores de relevância que se relacionem com o tema de habitação de interesse social e que tenham como linha de estudo a inserção da habitação em área central. Os temas abordados compreendem: o histórico de habitação social no Brasil, e como esse problema tornou-se uma realidade; as linhas de estudo de habitação em centros urbanos; as políticas e ações governamentais acerca do tema; o posicionamento da população em lutar pela garantia de seu direito por morarias; os tipos de sistema construtivo que podem ser usados no projeto, que foram selecionados a partir de técnicas sustentáveis, com preço acessível e menos agressivas ao meio ambiente; teorias de conforto ambiental, sustentabilidade e ergonomia, e ainda normas do Código de Obras da cidade de Bauru.


Na etapa 4, os projetos que serviram de referência foram esco-

A avaliação do mapa de uso e ocupação do solo – etapa 6, permitiu

lhidos por algumas particularidades, sendo eles nem sempre projetos

verificar a possibilidade de ocupar o centro da cidade de Bauru, a partir da

habitacionais, mas pela forma de implantação no interior da quadra ou

identificação dos lotes vagos na região central e do levantamento dos equi-

pela relação com o entorno, serviram de parâmetro para esse Trabalho

pamentos públicos educacionais e de saúde, serviços e comércio. Além de

Final de Graduação. No caso do projeto referência Edifício Copan, locali-

usar os mapas de Uso e Ocupação do Solo, foram realizadas visitas in loco,

zado da cidade de São Paulo, é um projeto residencial em área central e

aos terrenos livres identificados nos mapas, a fim de observar as caracte-

que se relaciona com a área pública do entorno. Outra referência é um

rísticas do entorno, gabarito, topografia, vegetação, mobiliários urbanos.

projeto residencial vencedor do concurso internacional Living Steel.

Nessa etapa do levantamento foram feitos registros fotográficos para mos-

trar as condições atuais desses terrenos.

O projeto vencedor desse concurso foi elaborado para ser im-

plantado em área periféricada cidade de Recife – PE, Brasil. Esse projeto

foi escolhido para ser apresentado nesse item do trabalho de TFG por

lhido para implantar um conjunto habitacional na região central da cidade

ser uma referência na adoção de técnicas projetuais que levaram em

– etapa 7. Nessa etapa foi pesquisada as características da área de estudo.

consideração as necessidades climáticas e locais, visando oferecer con-

forto térmico. O projeto Heliópolis é um conjunto habitacional também

históricos e urbanos da cidade, bem como de informações sobre sua forma-

em área periférica na cidade de São Paulo, porém apresenta a relação

ção urbana, populacional e econômica. Foi estudado ainda o Plano Local de

com o entorno e a relação entre edifícios. Trata-se de uma proposta

Habitação de Interesse Social de Bauru, que traz algumas análises do pro-

projetual que ocupa a quadra de modo a deixar a passagem pública no

blema habitacional na cidade, além de dados numéricos sobre este. Essa

interior do seu terreno e suas instalações, promovendo uma integração

etapa compreende também o estudo de normas e leis existentes na cidade

da cidade com o edifício, por meio das passagens de pedestres.

de Bauru que limitam ou incentivam o desenvolvimento de um projeto ha-

O projeto da Praça das Artes, apesar de ser um projeto cultural e

bitacional de interesse social na área central da cidade. Foi pesquisado o

não habitacional, é apresentado como referência pelo fato de apresen-

Código de Obras, a Lei de Zoneamento e Parcelamento do solo, além das

tar a harmonia entre uma construção nova e a preservação dos edifícios

instruções do Plano Diretor de 2008, o mais recente do município.

vizinhos, com suas características originais. E, também por ocupar os

lotes do interior de uma quadra, relacionando acessos por duas ruas

-se início a Elaboração do Projeto. O projeto foi desenvolvido levando em

que contornam a quadra, deixando livre a passagem para a população,

consideração todo o estudo anterior, buscando as melhores alternativas

criando espaços convidativos que se torne integrado ao meio urbano.

possíveis ao local escolhido. Na escolha do local foram levados em conta

A pesquisa foi concluída ao avaliar as potencialidadesdo lote esco-

Foi usado também o Plano Diretor de 1996 como fonte de dados

Após a conclusão de todas as etapas que envolviam pesquisa, deu-

43


alguns fatores como:o fato de haver poucos lotes vagos, o que limitou a opção de escolha, e as dimensões dos mesmos. Desse modo, foram escolhidos os lotes com opção de serem agrupados.

Portanto, escolheram-se vários terrenos que juntos formariam

um conjunto suficiente para desenvolvimento do projeto. A partir disso buscou-se as melhores formas de implantar esse projeto na área, a partir do desenho. Para criação desses desenhos foram usados softwares direcionados para arquitetura em desenho 2D ou 3D.

44



4. REFERÊNCIAS CONCEITUAIS E PROJETUAIS 4.1 COPAN - São Paulo

O edifício residencial Copan foi projetado pelo arquiteto Oscar

Niemeyer e inaugurado em 1966 na área central da cidade de São Paulo-SP. O prédio já foi considerado o maior edifício residencial do mundo, com 1160 apartamentos composto por diversas tipologias, com unidades de 32 a 180m², divididas em 35 andares. O edifício é dividido em blocos que têm entradas individuais, e conta com 22 elevadores atualmente.

Sob todos esses apartamentos fica uma galeria com comércio e

serviços, funcionando como uma extensão da rua. A área é pública e utilizada também pelas pessoas que vivem no entorno do prédio. O Copan foi projetado como um edifício multifuncional, que se voltasse para a cidade

Figura 1: Foto do prédio com a vista da cidade. Fonte: www.archdaily.com. br

e não apenas aos moradores do prédio. O projeto original contava ainda com um hotel, cinema, restaurantes e um teatro (Figura 3).

A relação do edifício com a cidade, ocorre principalmente no an-

dar térreo, por ser uma espécie de rua coberta e pública, delimitada pelas lojas e serviços disponíveis aos habitantes. A noção de que a calçada pública penetra no edifício é perceptível ao caminhar no interior do prédio, no nível do térreo, e ao notar que a rua interna apresenta o mesmo desnível que a rua externa, portanto, os pontos de acesso – entradas/saídas do edifício - estão nas mesmas cotas da via pública.

Quando foi inaugurado o edifício não tinha fechamento para a rua,

já que nos andares inferiores se localizam o comércio e serviços, mas a partir de 1980 o prédio foi cercado e permanece fechado a partir das 23 46

Figura 2: Foto do interior de um dos apartamentos. Fonte: www.archdaily. com.br


horas por todo o período noturno, medida justificada pela segurança dos moradores.O prédio foi projetado como um marco na paisagem(Figura 2), com a monumentalidade própria dos projetos de Niemeyer, com a pretensão de solucionar os problemas habitacionais e garantir a interação social entre classes.

Desde sua inauguração até hoje, houve muitas trocas de mora-

dores, que realizaram mudanças internas nos apartamentos, mas sem alterar a estrutura básica, que permanece a mesma. As esquadrias são metálicas com fechamentos em vidro, por toda a extensão da parede. As janelas são protegidas da entrada do sol pelos brises que formam a fachada e acentuam a forma de um S em toda a extensão do edifício. Muitos moradores reclamam da dificuldade em manter a limpeza desses brises de concreto, que tem uma estrutura separada do edifício em si. O sistema construtivo do edifício é em pilares e vigas de concreto, que criaram vãos pequenos, deixando muitos pilares dentro das unidades de habitação (Figura 3).

O conceito do projeto do Edifício Copan, de integrar moradia

com lojas e serviços, estabelecer a separação dos usos e funções entre

Figura 3: Foto dos primeiros andares do prédio, onde fica a galeria, com

andar térreo como espaço público e os andares superiores como espa-

abertura para a cidade. Fonte:www.grampodesign.blogspot.com

ço privado, é o conceito que será adotado na concepção do projeto de um conjunto habitacional nesse TFG.

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4.2- SEHAB Heliópolis- São Paulo

Esse novo projeto em Heliópolis, na cidade de São Paulo, faz par-

te do programa de Reurbanização de favelas da Prefeitura, e foi desenvolvido pelo escritório Biselli Katchborian Arquitetos. O espaço disponível para o projeto era uma quadra de 32.000m², com formato retangular. Para abrigar todas as unidades necessárias a tipologia escolhida foi a de prédios de até oito pavimentos. Estes não apresentam elevadores, pois aproveitando a topografia do terreno foram criados acessos diferentes para os andares inferiores e os andares superiores, adequando o projeto à legislação.

Figura 4: Foto do conjunto dos prédios, vistos do interior da quadra Fon-

te:archdaily.com.br/br/625377/sehab-heliopolis-biselli-katchborian-arqui-

Os prédios foram dispostos no contorno da quadra, criando um

pátio interno, voltado ao lazer dos moradores, mas com acesso público

tetos

para que possa ser usado como passagem (Figura 5). Existem também as áreas cobertas de lazer, que ficam nos próprios prédios e podem ser acessadas a partir dos acessos da topografia. Passarelas metálicas fazem ainda a ligação entre os blocos (Figura 4). O número de apartamentos é de 420 divididos em duas tipologias, ambos com dois dormitórios, um banheiro e uma sacada, essa diversidade de plantas e criação de pátios serão os principais referenciais utilizados para a idealização do projeto final (Figura 8).

O sistema construtivo adotado foi a alvenaria estrutural de blo-

cos de concreto pintado com diferentes cores, que foram usadas para garantir singularidade a cada bloco. As esquadrias são bem amplas, se estendendo do chão até a altura das portas, sendo só a parte superior possível de ser aberta, a parte inferior funciona como parapeito, ajudan-

Figura 5: Esquema da quadra Fonte:archdaily.com.br/br/625377/sehab-

do na iluminação natural dos ambientes (Figuras 6,7 e 9). 48

-heliopolis-biselli-katchborian-arquitetos


Figura 6: Foto dos prédios Fonte:archdaily.com.br/br/625377/sehab-heliopolis-biselli-katchborian-arquitetos

Figura 7: Entrada para os prédios prédios Fonte:archdaily. com.br/br/625377/sehab-heliopolis-biselli-katchborian-arquitetos 49


Figura 9: Detalhes prĂŠdio Fonte:archdaily.com.br/ br/625377/sehab-heliopolis-biselli-katchborian-arquitetos

Figura 8: Plantas dos dois tipos de apartamentos disponĂ­veis nos prĂŠdios Fonte:archdaily.com.br/ br/625377/sehab-heliopolis-biselli-katchborian-arquitetos 50


4.3- LIVING STEEL- Recife

-sa ou inércia térmica, evitando o armazenamento de calor. Cores claras

ples como aquecimento solar para água e reuso de águas pluviais foram

O Living Steel é um concurso mundial criado em 2005 para in-

centivar o projeto de habitações sociais usando o aço. No ano de 2008 o projeto vencedor foi o do escritório brasileiro Andrade Morettin Arquitetos Associados. O escritório desenvolveu um projeto no bairro de Jiquiá, em Recife, Pernambuco.

Como a cidade fica em um ambiente muito úmido e quente, a

ventilação foi a prioridade do projeto. Os arquitetos propuseram prédios permeáveis com muitas aberturas, e escolheram blocos de prédios isolados para não impedir que o vento circulasse por toda a área do terreno (Figura 10). Algumas das divisórias internas foram deixadas à

também foram escolhidas para minimizar a absorção do calor. Sistemas simprevistos, já que é uma região com muito sol e chuva.

Outra característica específica do local é que a cidade é muito ocupa-

da por rios e pequenos córregos, que periodicamente podem inundar áreas no entorno. Pensando nesse terreno, os prédios propostos, que apresentam quatro andares, ficam sobre pilotis, ou palafitas, que é uma característica típica da arquitetura local. A estrutura usada, como é toda em aço, é leve, toda parafusada e não carrega muito o solo. Os componentes dessa estrutura são pré-fabricados e só serão montados no local, garantindo uma obra limpa e sem resíduos sólidos.

meia altura para melhorar a ventilação, e ainda assim, foram usadas só quando necessário, deixando os ambientes mais amplos (Figura 13). O paisagismo também foi pensado para garantir a sensação de frescor do ambiente, com plantas locais e que não necessitassem de um cuidado extremo. As esquadrias não têm fechamento em vidro, pois como a cidade não tem uma estação fria onde o vidro estaria fechado apenas para a luz entrar, estes foram dispensados. Sendo como venezianas desenhadas para regular a entrada da luz natural, que podem ser ajustadas dependendo da intensidade do vento ou do sol. Foram usadas varandas amplas, para garantir maior sombreamento das venezianas e proteger da chuva, essas varandas são comuns aos moradores de cada andar e funcionam também como local de convívio (Figura 12).

A cobertura atua como um pára-sol, com beirais grandes para

barrar a entrada direta do sol. Os materiais adotados têm pequena mas-

Figura 10: Perspectiva do conjunto de prédios Fonte: http://www.andrade51 morettin.com.br/projetos/living-steel/


Essas estruturas garantem pouca necessidade de manutenção, podendo, quando necessário, trocar peças que podem ser recicladas.Pensando

que a rotação de famílias a morarem no edifício pode ser grande, e que as famílias a ocupá-lo têm perfis diversos, os arquitetos garantiram uma planta flexível que possa ser adaptada de acordo com a necessidade de cada caso (Figura 11).

O partido utilizado pelo escritório para determinar o projeto foi de arquitetura essencial, pensando em não permitir desperdícios. Segundo os

arquitetos esse partido é naturalmente econômico, reduzindo gastos em obras e garantindo o não desperdício de água e energia, já que conta com elementos que facilitam o uso de recursos naturais. A relação das soluções arquitetônicas com o clima da cidade é a principal referência encontrada nesse projeto, além da flexibilização dos espaços nos apartamentos para garantir que estejam sempre podendo ser adaptados pelos ocupantes, não impondo uma única formatação.

Figura 11: Planta do pavimento tipo. Fonte: http://www.andrademorettin.com.br/projetos/living-steel/

Figura 12: Perspectiva interna apartamento. Fonte: http://www.andrademorettin.com.br/projetos/living-steel/

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Figura 13: Esquemas de passagem de ventos, entrada de luz solar, sistema de aquecimento de รกgua e reuso de รกgua da chuva. Fonte: http://www. andrademorettin.com.br/projetos/living-steel/ 53


4.4- Praça das Artes- São Paulo

O projeto da Praça das Artes, desenvolvido pelo escritório Brasil Arquite-

tura, fica no centro de São Paulo, próximo ao Teatro Municipal. O projeto ocupa alguns lotes recortados em uma quadra já ocupada por outros prédios, alguns antigos e de importância histórica ou arquitetônica (Figura 14). Construído em 2012 o prédio abriga estruturas de diferentes usos, como escolas, sedes de organizações musicais, museu, restaurantes, e etc.

A arquitetura é brutalista, com concreto aparente em toda a extensão

dos prédios (Figura 17). A intenção era ser claramente diferenciado dos demais prédios existentes naquela quadra, mas não impor uma arquitetura que se sobrepusesse ao estilo das outras construções, causando um impacto negativo nas fachadas, já que o projeto se encaixa em um centro histórico.

Como o projeto ocupa mais de um lote e atravessa a quadra, houve a

preocupação de deixar esse terreno permeável aos pedestres que podem cruzar a quadra por dentro da construção que cria um ambiente favorável ao caminhar (Figuras 16 e 18). Essa interação com o espaço público torna o projeto muito mais integrado ao meio urbano e acaba por ajudar na qualidade desse espaço para o pedestre (Figura 15).

Esse tipo de implantação na quadra é a principal referência a ser desta-

cada no projeto, assim como a interação com o meio urbano, permitindo a permeabilidade da quadra, tópico de suma importância na construção das cidades contemporâneas.

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Figura 14: Praça das Artes- São Paulo. Fonte: http://www.archdaily.com. br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura


Figura 15: Implantação no centro da Praça das Artes- São Paulo. Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura

Figura 16: Croqui 1 Praça das Artes- São Paulo. Fonte: http://www.archdaily. com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura

Figura 18: Croqui 2 Praça das Artes- São Paulo. Fonte: http://www.archdaily. Figura 17: Espaço interno da quadra no projeto Praça das Artes- São Paulo. Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura

com.br/br/626025/praca-das-artes-brasil-arquitetura

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5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

ra bidimensional deixando a tridimensionalidade de lado a fim de obter mais

5.1 Breve Histórico de Bauru

criação da Avenida Pedro de Toledo em um sentido diagonal em relação

Muitas das cidades do interior paulista foram formadas a partir

da doação de terras para a igreja que tomava conta do território a partir de então. Em Bauru esse mesmo processo ocorreu, antes da chegada das três estradas de ferro, que aceleraram o crescimento da cidade e promoveram a valorização do território urbano (GHIRARDELLO,2002).

A doação foi feita por Antônio Teixeira do Espírito Santo e sua

mulher em 1884, formando um povoado com o nome de Bauru. As primeiras residências se deram na confluência do Córrego das Flores com o Rio Bauru, em uma parte alta da topografia para evitar os problemas com enchentes e cheias de rios. O desenho urbano da cidade foi iniciado a partir de duas ruas principais, uma com orientação Norte-Sul, a Rua Araújo Leite, e outra com orientação Leste- Oeste, a Rua 1º de Agosto (PLANO DIRETOR BAURU, 1996).

Foram divididas quadras de 88mx88m sem definir os usos es-

pecíficos a qual cada uma delas seria destinada, nem reservar locais de áreas verdes. As ruas deveriam medir 17,60m e as avenidas 20 metros em vias retas, medidas que, assim como o tamanho das quadras, foram determinadas pelo Código de Posturas da Cidade. Os desenhos das quadras projetadas possuíam formatos regulares, sem levar em conta a topografia, por esse motivo, na prática eram necessárias adaptações ao terreno, por isso, em algumas partes da cidade, as quadras acabaram por não serem homogêneas. Traçados desse tipo são criados de manei-

lucros (GHIRARDELLO,2002). A chegada dos trilhos da estrada de ferro ocorreu em 1905, ocupou

parte dos terrenos existentes na margem direita do Rio Bauru, e definiu a às outras existentes, e paralela às linhas férreas. Foi criada também a atual Avenida Rodrigues Alves que incentivou a formação de novas quadras, mantendo as dimensões definidas anteriormente. A localização da ferrovia neste fundo de vale evidenciou a segregação topográfica de parte do território pertencente a Bauru (PLANO DIRETOR BAURU, 1996).

Muitas pessoas chegavam à cidade devido à ferrovia, a nova indus-

trialização e ao crescimento do comércio municipal. Como os terrenos nas áreas já consolidadas da cidade tinham um preço elevado, as pessoas foram ocupando áreas novas mais distantes, que não tinham infraestrutura nem facilidade de acesso. Além disso, até 1928 não havia muita regulamentação para loteamentos, além das dimensões de quadras e ruas, portanto, cada proprietário dividia suas terras com o maior aproveitamento dos lotes, sem pensar em topografia, ou em áreas possivelmente inundáveis.

Ghirardello (2002) define essas cidades como “tabuleiro”, e ressalta

que o solo é visto como mercadoria, assim, as cidades servem para serem vendidas. Esta lógica não é uma exclusividade do interior paulista, pois esse processo aconteceu em cidades de vários países onde o capitalismo estava instaurado. Novamente, destacando o caso de Bauru, segundo o Plano Diretor de 1996 a zona Sul da cidade sempre foi tratada de forma diferente dos outros bairros, com maior atenção a arborização, calçamento e existência de infraestrutura urbana. 57


Figura 19: Crescimento da malha urbana de Bauru- 1910.1930, 1950.1970.1990.e 2010 Fonte: PLHIS Bauru,2010

58


Devido à falta de planejamento urbanístico para o crescimento

mento da população se tornou mais lento devido a diminuição do fator

do município, a cidade se espalhou pelo território de forma desordena-

migratório, chegando, na realidade, a 344 mil habitantes. A Figura 19 mos-

da, e gerando muitos vazios urbanos. Boa parte dos vazios urbanos fica-

tra a expansão da malha urbana nas décadas de 1990 e 2010.

va em fundos de vale, o que dividia ainda mais algumas áreas da cidade, e por muitos anos permaneceram desarticuladas da área central, fato que deixava uma parcela da população excluída da infraestrutura urbana ofertada somente para a região central e a zona sul. Lewis Munford (1982) define esse traçado como “planta baixa especulativa”. A Figura 19 mostra o mapa de crescimento do município nas primeiras décadas do século XX.

Com o desenvolvimento das rodovias e a queda do setor ferrovi-

ário, Bauru foi em busca de novos serviços a serem oferecidos, como por exemplo, a modernização agrícola, as instituições de ensino superior, e a industrialização de bens de consumo não duráveis, além do grande aumento dos estabelecimentos comerciais no centro urbano. O setor terciário é hoje uma das características econômicas mais fortes do município, e que a definiu como centro regional por impulsionar significamente o crescimento urbano (CORGHI,2008).Desse modo, nas décadas seguintes a cidade continuou a crescer e passou a ocupar novas áreas como mostra a Figura 19.

Segundo os censos do IBGE de 1960, 1970, 1980, 1991 a cidade

de Bauru- SP passou por um processo de urbanização quase homogêneo entre essas décadas. Entre os anos de 1970 e 1980 o fator migratório foi um dos principais para o crescimento da população, sendo responsável por 10% desse aumento. De acordo com esses números a previsão era de que em 2010 a cidade tivesse 450 mil habitantes, porém o cresci59



5.2. A habitação de interesse social em Bauru

A cidade de Bauru tem seu solo ocupado predominantemente

por residências. Os primeiros conjuntos habitacionais da cidade surgiram na década de 60, foram financiados pelo BNH, e ainda tinham pouco impacto na cidade. Na década de 70 apareceram novos conjuntos, dessa vez de grande porte, mas fora da malha existente,e desprovidos de equipamentos e obras urbanas. Esses conjuntos impactaram em larga escala o crescimento da cidade, sendo o primeiro deles o Conjunto Habitacional Geisel. “O núcleo Mary Dota entregue em 1990 com 3638 unidades é o maior conjunto habitacional implantado na cidade, sendo praticamente do porte de uma pequena cidade, onde o poder público instalou várias escolas, mini hospital, creches e outros equipamentos” (PLANO DIRETOR BAURU, 1996). Nas décadas de 80 a 90 apareceram os primeiros edifícios residenciais, em geral em bairros de classe média alta. A região sul e a região leste foram as mais adensadas nesses anos. “Os conjuntos habitacionais tiveram papel decisivo no crescimento da cidade. Com exceção da região sul, todos os demais setores cresceram em função da implantação de núcleos habitacionais localizados na periferia, que acabaram por exigir toda infraestrutura e equipamentos públicos para esses bairros, incentivando a ocupação das regiões adjacentes.” (PLANO DIRETOR BAURU, 1996).Essa informação é elucidada na Figura 20, onde cada um dos pontos em destaque representam um conjunto habitacional construídos até a década de 1990.

Figura 20: Localização de Núcleos habitacionais construídos até a década de 90. Fonte: Plano Diretor de Bauru 1996

Segundo Corghi (2008) Bauru cresceu sem um planejamento prévio, e

teve o que ela chama de “expansão especulativa”. Os novos loteamentos foram implantados distantes da malha urbana já existente, longe da infraestrutura da cidade, onde os lotes eram mais baratos. Com esse processoas áreas que ficavam vazias entre a malha existente e os novos loteamentostinham seu valor comercial aumentado. Gerando muito lucro aos agentes imobiliários da cidade, que segundo Corghi (2008), eram pessoas da câmara municipal e do poder executivo da cidade, fato que contribuiu para facilitar esse processo,e ocorreu com quase todos os conjuntos habitacionais construídos na cidade na época. A Figura 21 mostra os vazios urbanos. 61


Em 1990 a densidade populacional era de 45 hab/ha (área efetiva/

área ocupada). De acordo com o Plano Diretorde 1996, trata-se de índices extremamente baixos, definindo como ideais para áreas urbanas de 150 a 200 hab/ha, o que possibilita a otimização de uso dos equipamentos públicos, transporte e ainda facilitam maior integração social (PLANO DIRETOR BAURU, 1996).

Com a grande quantidade de conjuntos habitacionais sendo cons-

truídos, o eixo de crescimento da cidade mudou de sudoeste para nordeste, onde os maiores núcleos foram instalados e grande parte da população estava morando. Para conhecer a necessidade de construção de novos conjuntos era preciso um estudo da demanda habitacional na cidade, esse trabalho era feito pela COHAB - Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo, através de inscrições permanentes. Porém, eram atendidas apenas pessoas com faixa de renda a partir de 3,5 salários mínimos.

Figura 21: Vazios urbanos de Bauru-SP. Fonte: PLHIS, Bauru 2010

Com muitas pessoas excluídas do processo de financiamento

habitacional na cidade, iniciaram-se a formação de algumas favelas na década de 70. Para combater esse processo a prefeitura realizou alguns mutirões de construção na tentativa de atender essa faixa da população (FARIA,1988).

Mais funcionários foram contratados pela prefeitura, que queria

garantir a criação de diretrizes urbanas para o parcelamento do solo. Porém, sem muita fiscalização os parcelamentos continuaram a ocorrer sem a implantação de equipamentos urbanos, infraestrutura ou adequação das construções a topografia do terreno,agravando os problemas com enchentes (ALVES,2001). 62

Como consequência desses problemas urbanos e de outros fatores

econômicos, Bauru apresenta hoje uma desigualdade social profunda, em que 1/5 da população mais rica da cidade possui 42% da renda, enquanto o 1/5 mais pobre possui 9%.

O PLHIS, Plano Local de Habitação de Interesse Social de Bauru, ela-

borado em Bauru em 2010, reuniu dados da Fundação João Pinheiro (FJP), instituição que desenvolveu um método referência para definir o déficit habitacional, incluindo a inexistência e a inadequação das residências. A FJP (2005) apresenta como déficit habitacional na cidade 7,3% dos domicílios, o que em números significa 6.609 famílias. Dentro disso o déficit foi dividido em algumas categorias para que pudesse ser melhor entendido.


Do número total, 6.571 estão em áreas urbanas da cidade e 38 na área rural. Estes 6.571 da área urbana foram divididos de acordo com o tipo de moradia que estavam envolvidas, 181 famílias estão em domicílios rústicos, 137 em domicílios improvisados e os outros 6.291 são casos onde há coabitação familiar em casas ou cômodos (Figura 23).

O mesmo estudo do PLHIS (2010) concluiu que aproximadamen-

te dois terços, ou 64%, das famílias que compõe o déficit habitacional na cidade estão concentradas na faixa de renda que vai de 0 a 3 salários mínimos. Considerando uma faixa de renda que vai de 0 a 5 salários mínimos essa porcentagem sobe para 81% das famílias. A figura 22 presenta a distribuição do déficit habitacional por faixas de renda na cidade de Bauru, segundo FJP (2005).

Os dados apresentados pela Fundação João Pinheiro (2005) e

elucidados nas figuras anteriores, servem para quantificar a demanda

Figura 22: Distribuição do Déficit Habitacional por faixas de renda em Bauru-SP. Fonte:Fundação João Pinheiro - Centro de Estatísticas e Informações, 2005

por Habitação de Interesse Social no município de Bauru, bem como, para classificar os problemas habitacionais. Com base nessas informações e entendendo o problema da habitação na cidade podemos definir algumas questões no projeto a ser desenvolvido. Como a definição do direcionamento das unidades para a faixa de renda de 0 a 3 salários mínimos, onde se encontra um maior número de pessoas, e a necessidade de minimizar o problema da coabitação e adensamento excessivo, sendo os principais problemas encontrados em Bauru, criando um número de apartamentos razoáveis para iniciar a solução da questão.

Figura 23: Déficit Habitacional em Bauru-SP. Fonte:Fundação João Pinheiro - Centro de Estatísticas e Informações, 2005 63


5.3. Plano Diretor de Bauru de 1996 O Plano Diretor de 1996, além de realizar um estudo completo em mapas e histórico da cidade, estabelece como diretriz que se evite, quando for possível, a implantação de conjuntos habitacionais distantes da malha urbana e dos equipamentos públicos já existentes. Alertando quanto aos problemas que surgirão depois para os moradores e que a própria Prefeitura enfrentará para levar toda a infraestrutura até esses conjuntos.

5.4.Plano Diretor de Bauru de 2008

O último Plano Diretor publicado na cidade de Bauru é a versão de

2008. Para a questão da habitação em centros existem algumas considerações, como por exemplo, a diretriz de desenvolvimento de programas habitacionais para a área central no Art.123, ou o desenvolvimento de um projeto de revitalização na área central, que incluiria o incentivo à habita-

Figura 25: Áreas definidas como ZEIS pela prefeitura. Fonte: Prefeitura Municipal de Bauru- Plano Diretor,2008

ção, a readequação de imóveis desocupados e a re-qualificação dos imó-

habitações irregulares, incluindo a existência de favelas, e onde a prefei-

veis existentes, como explica o Art.209. Esses artigos são considerações

tura tem interesse na urbanização e regularização do local. A ZEIS-2 repre-

bastante pontuais e não muito desenvolvidas.

senta os lotes que estão sem uso ou subutilizados onde existem condições

Para Habitação social na cidade como um todo o Plano Diretor es-

para urbanização e promoção de novas unidades de habitação. E a ZEIS-3

tabelece as ZEIS- Zonas Especiais de Interesse Social, que são áreas de-

pontua os terrenos públicos que são ocupados irregularmente, incluindo a

terminadas na cidade para regularização de regiões consolidadas, desen-

situação de favelas, e onde é possível a urbanização e adequação da área.

volvimento de conjuntos habitacionais e, quando necessário, concessões

especiais para que possa ser desenvolvido algum projeto que envolva

além de diferenciar por cor a classificação de cada tipo de Zonas Especiais

moradia social. Essas ZEIS são divididas em três tipos. A chamada ZEIS-1

de Interesse Social. Todas as ZEIS demarcadas ficam em áreas periféricas da

identifica os terrenos de propriedade particular que estão ocupados por 64

cidade, assim como os outros conjuntos habitacionais já existentes.

A Figura 25 mostra as áreas nas quais foram demarcadas as ZEIS,


Fica estabelecido também que o coeficiente de aproveitamento pode ultrapassar o limite definido para cada zona quando a finalidade da constru-

ção for um empreendimento habitacional de interesse social. Além de definir um incentivo à produção de habitação em Zonas em Consolidação, Zonas não Consolidadas, na Zona Central, e nas Zonas de Adensamento, que estão especificadas no corpo do Plano Diretor. A Figura 26 mostra a demarcação das áreas onde o limite do coeficiente de aproveitamento pode ser ultrapassado, próximo a outros bairros já existentes e consolidados e com disponibilidade de terrenos, demarcação essa que é compatível com as áreas estabelecidas como ZEIS pelo Plano Diretor.

Figura 26: Áreas de provisão habitacional. Fonte: PLHIS - Plano Local de Habitação de Interesse Social de Bauru,2010 65


5.5 Área de Intervenção

possam vir a ocupar a região central. Já os equipamentos de saúde, que

educação, onde seis são particulares e 8 são públicos e assistência social,

Foi escolhido um lote na região central da cidade de Bauru para

elaborar o projeto de um conjunto habitacional e os motivos que levaram a seleção dessa região ao invés das áreas destinadas as ZEIS ou as áreas de provisão habitacional estão justificadas a seguir. Constantemente surgem críticas ao abandono das áreas centrais da cidade. Muitas vezes defendendo iniciativas de restauração para a área, que tem sua infraestrutura já existente sem o devido uso, e que perdeu sua variedade de formas de ocupação, só existindo, em muitos casos, apenas em horário comercial, fatores que levam a degradação daquele espaço (MONTEIRO,2015).

Bauru apresenta esses mesmos problemas em relação a sua

área central. Poucas áreas habitacionais, abandono, sensação de insegurança, uma infraestrutura subutilizada e ainda é o ponto central de acesso a transporte público na cidade. Tornando o centro um dos melhores lugares para incentivar o aumento de núcleos habitacionais, já que apresenta grande quantidade de escolas, equipamentos de saúde e outros, como demonstrado na Figura 27. Ressalta-se que em todas as figuras foi destacada a quadra onde está o lote escolhido para elaborar o projeto de um conjunto habitacional, denominado como área de intervenção.

A partir desses mapas podemos perceber que os equipamentos

de cultura, esporte e lazer são poucos, apesar de serem todos públicos, e podem ser integrados ao projeto que será desenvolvido, de modo a ficar disponível para a população da área e aos futuros moradores que 66

dentre os apresentados apenas dois são particulares e oito são públicos, em que todos são públicos, são suficientes e poderão atender a essa demanda de moradores.

O centro de Bauru, assim como de outras cidades brasileiras, apre-

senta um grande potencial, por todas essas facilidades da existência dos equipamentos públicos, comércio e transporte, além do local com maior variedade de pessoas circulando, mas também manifesta muitas deficiências, a ineficiência desse local como espaço público de qualidade e conexão com a cidade. São esses potenciais e deficiências que serão explorados para a escolha do lugar de desenvolvimento de projeto.

Bauru não apresenta muitos edifícios já construídos e desocupados

que possam ser transformados em unidades de habitação social. De acordo com as visitas feitas ao local existem apenas algumas casas unifamiliares sem uso e um antigo edifício garagem que apesar de estar inutilizado não é possível adaptá-lo para habitações por conta do seu baixo pé direito que fica em desacordo com as dimensões mínimas colocadas pelo Código de Obras da cidade. Então, a opção para ocupar o centro seria a de construir um novo edifício em terrenos vazios, ou ocupados por estacionamentos, que existem em número considerável no centro de Bauru, ocupando uma área valiosa para a população.

Como os lotes vazios encontrados possuem dimensões inferiores ao

necessário para a construção de um conjunto habitacional, a alternativa foi buscar uma quadra que tivesse vários lotes vagos, mesmo que não estivessem lado a lado. Com esse propósito a escolha foi determinada pela opção


Figura 27: Estudo Urbano

EDUCAÇÃO

PONTOS DE ÔNIBUS

67

ÁREAS VERDES

SAÚDE

LOTES VAZIOS

ESPAÇOS DE CULTURA

ESPORTE E LAZER

ASSISTÊNCIA SOCIAL


de identificar vários lotes que estivessem sem ocupação e que pudes-

dial, isto é, a maioria delas passa ou começa no centro da cidade. Além disso,

sem ser conectados uns aos outros.

“a abundância de transportes é também um valioso ativo para a dinâmica co-

A partir desse critério o local escolhido para o desenvolvimento

mercial, que é um dos segmentos de atividade mais densos na região.” (EM-

do projeto engloba alguns lotes, que ficam localizados na Rua Bandei-

DURB, 2004). Existe ainda um projeto de tornar a avenida central Rodrigues

rantes e na Rua Treze de Maio, próximos à Avenida Rodrigues Alves, no

Alves em um terminal de ônibus, concentrando grande parte do transporte

centro de Bauru. Os terrenos têm diferentes dimensões, e ao todo têm

público da cidade.

aproximadamente 3.500 m². O agrupamento dos lotes cria uma ocupa-

A Figura 29 apresenta um estudo de uso do solo no entorno imediato dos

ção de miolo de quadra e atravessa a rua para integra-se a outros lotes

terrenos escolhidos para o desenvolvimento do projeto – foi delimitado um

maiores – ocupando quase ¼ de quadra, localizados no cruzamento de

raio de 300 metros de abrangência. Confirma o caráter majoritariamente co-

duas ruas. Rodeados por comércios e próximos a todos os equipamen-

mercial do centro, mas revela que nessa região ainda há usos residenciais.

tos públicos básicos, o local se alinha nas teorias estudadas. A topogra-

Fica evidenciada também a quase inexistência de áreas verdes disponíveis.

fia dos terrenos é suave e não existe arborização original.

Meyer (2010) defende que “o centro deve propiciar espaços de

moradia que redirecionem os fluxos centro/periferia e, pela localização e serviços públicos oferecidos, viabilizar e garantir a mobilidade de moradores metropolitanos por um transporte de massa com qualidade”. De fato, aproveitar as oportunidades de acesso facilitado ao comércio, serviços, equipamentos públicos de saúde, educação e lazer e, ainda não ser dependente do veículo particular para se locomover, uma vez que há proximidade entre a moradia e os referidos equipamentos, é um tema já debatido e amplamente defendido por vários pesquisadores. O que se propõe nesse TFG é mostrar a viabilidade de aproveitar desses benefícios levando a habitação para a área central.

Foi levado em consideração também que para se locomover até

os locais de trabalho as pessoas encontram mais opções de linhas de ônibus, pois em Bauru a distribuição dessas linhas se faz de forma ra68


ed rez aT

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Figura 28: Terrenos escolhidos

Figura 29: Uso do solo no entorno imediato, em um raio de 300m

69


70

Figura 30: Identificação do local dos terrenos.


Figura 31: Principais avenidas 71



6. PROJETO

rior de cada uma das duas quadras. O térreo é o espaço de uso público,

estabelecendo uma relação direta com a cidade. O espaço privado é ga-

O partido arquitetônico do projeto do conjunto habitacional de-

senvolvido neste TFG engloba os conceitos dos projetos apresentados como referências. Primeiramente, foi decidido que o projeto seria proposto na área central da cidade de Bauru-SP. Ao se deparar com a dificuldade de encontrar lotes que estivessem disponíveis e fosse grande o suficiente para implantar um conjunto habitacional, iniciou-se a procura por lotes com possibilidade de serem agrupados. Desse modo, foi escolhido um grupo de lotes que engloba seis lotes ao todo, quatro deles em uma mesma quadra, criando um formato em L, que conecta duas ruas adjacentes, e passaram a ser integrados a outrosdois lotes paralelos que estão localizados na quadra oposta. O elemento que conecta todos esses lotes é o tipo de usos e funções atribuídos aos espaços implantados no térreo.

A característica do projeto é integrar espaços de uso público/co-

letivo com espaços de uso privativo aos moradores do conjunto habitacional. A ideia é criar espaços com funções específicas, implantados em andares diferentes, porém conectados visualmente e pela proximidade. Assim o térreo é formado por um espaço de uso público, constituído por praças, ruas internas, comércios e serviços. Os andares superiores são formados pelas unidades de apartamentos.

A distribuição do programa definido para esse projeto foi especia-

lizada em cinco edifícios, cuja característica de implantação foi definida pela configuração do terreno escolhido. Nesse sentido, foi planejada a criação de comércios e serviços voltados para as praças inseridas no inte-

aberto para o interior das quadras, que são conectados às vias públicas, rantido aos moradores do prédio, a partir do primeiro andar. Portanto, a separação dos usos e funções é determinada pelos pavimentos e fluxo no sentido vertical.

O propósito foi a criação de um projeto para a Habitação de Inte-

resse Social capaz de unir os edifícios habitacionais à cidade, atendendo às diferentes escalas, a da arquitetura e do urbano, tanto na escala humana do pedestre, quanto na urbana, capaz de integrar fluxos e dinâmicas.

A partir desse conceito foram dispostos os prédios para a garantir

boa localidade de implantação na área e boa relação desses edifícios com a área urbana pública, criada no interior das quadras. A disposição destes edifícios tornou-se um reforçador desse caráter de conexão entre os espaços, que além de serem visualmente vinculados, são interligados pela passarela de pedestres que passa por todos os blocos de habitação.

O espaço urbano projetado adjacente aos edifícios representa

uma nova forma de ocupação da área central, criando novas paisagens e ambientes interpessoais, agradáveis também no âmbito climático tanto para os habitantes dos edifícios quanto para os pedestres e usuários dos equipamentos inseridos no térreo de cada prédio.

O programa de necessidades surgiu de uma combinação de solu-

ções para o próprio conjunto habitacional e para o conjunto arquitetônico e urbano. Como visto na análise do entorno existe carência de espaços livres, arborizados e de lazer para a população central, e com a vinda de novos moradores essa carência se intensificaria. Portanto, para a área 73


arborizados e de lazer para a população central, e com a vinda de novos

de todos os equipamentos públicos urbanos. Com essa justificativa não é

moradores essa carência se intensificaria. Portanto, para a área livre ur-

proposto espaço de estacionamento para os edifícios implantados, já que a

bana desenvolvida foram pensados os seguintes equipamentos: áreas

proposta é de que os habitantes desses apartamentos não precisem utilizar

de lazer infantil, como playgrounds e jatos de água recreativos; quadra

veículos próprios para se locomoverem e façam uso da caminhada aos locais

poliesportiva e de areia; espaço para descanso, permanência e convi-

próximos e do transporte coletivo.

vência; e áreas arborizadas. Esse espaço é então multifuncional e apre-

senta proteção da área de tráfego de veículos, acessibilidade a todos,

guem as linhas do entorno criando um percurso a ser seguido, podendo ser

assim como iluminação noturna e ocupação de usuários dos espaços do

utilizado também como caminho e passagem, tornando-se ponto de encon-

térreo e de habitantes, que trazem a sensação de segurança.

tro de diferentes finalidades.

No andar térreo estão localizadas as lojas que também se encai-

O desenho final tanto dos edifícios como dos espaços públicos se-

O material usado no chão é o piso intertravado, o mesmo da calçada,

xam no módulo definido e podem ter diferentes layouts, alguns foram

gerando a sensação de continuidade, e piso emborrachado com o mesmo

desenvolvidos a fim de mostrar as possibilidades. Estão localizados tam-

sistema de encaixe para as áreas de recreação infantil. Essas escolhas de

bém espaços de banheiro e copa para os funcionários desse comércio

piso garantem a acessibilidade universal e incluem toda a área no sistema

local, além de um centro comunitário localizado em baixo de um dos

de drenagem urbana, podendo absorver parte da água, o restante sendo ab-

edifícios, criando espaço para reuniões e convivência dos moradores.

sorvido pelas áreas arborizadas e em ocasiões de chuvas extremas essa água

Voltando ao conceito de conexão, essa área de intervenção pro-

pode ficar reservada nas áreas rebaixadas do espaço. Os locais para sentar

jetual urbana apresenta ligação com o caráter comercial tão marcante

seguem as linhas conceituais de design dos espaços criados, ocupando suas

nessa região central da cidade de Bauru, por esse motivo, o andar tér-

margens em certos locais rebaixados e em outros elevados, construídos em

reo de todos os edifícios implantados é ocupado por comércio. Manter

concreto.

os usos e funções da maioria das edificações do entorno visa atrais os

usuários do comércio da cidade para o dentro desse empreendimento

da cidade de Bauru, que apresenta o Bioma do cerrado, e pretende criar

habitacional, comercial e de serviços. Todos os itens propostos para o

sombras, forrações, definir espaços e compor uma atmosfera agradável e

espaço têm a função de atrair a população para ocupar esse espaço

convidativa. Foram escolhidas espécies de árvores, algumas frutíferas que

público que é destinado a todos os cidadãos.

possam ser aproveitadas pelos moradores, espécies arbustivas e forrações

para compor um desenho paisagístico com diferentes volumes, cores e tex-

Uma das características positivas ressaltadas sobre habitar os

centros urbanos, era o grande acesso ao transporte público da cidade, e 74

turas.

A vegetação escolhida para compor o espaço é adequada ao clima


Figura 32: Fluxo principal dos camiinhos do projeto 75


Para o projeto dos edifícios foi definido um módulo de 1 x 1 me-

tro, facilitando a disposição de ambientes e espaços de circulação. Os apartamentos, sendo o lugar de refúgio e descanso das famílias, foram pensados para serem capazes de atender as principais demandas de conforto e privacidade de cada um dos moradores. Cada uma das plantas de apartamento (de 2 e de 3 dormitórios) foram planejadas para oferecer espaço suficiente para quartos de tamanho agradável, sala com espaço para no mínimo quatro pessoas, um banheiro de tamanho adequado, e cozinha com tamanho suficiente para abrigar uma mesa de refeições e uma área de serviço.

Foram desenvolvidas três tipologias de plantas de apartamen-

tos, duas delas com dois dormitórios, sendo uma opção projetada com

Figura 33: Uso da modularidade para concepção

as adequações de acessibilidade e a outra com as medidas mínimas necessárias para o conforto funcional/ergonômico.A terceira tipologia apresenta três dormitórios. A espacialização dos ambientes foi orientada para promover o conforto térmico, por meio da escolha da posição dos ambientes de acordo com a orientação solar e de modo a promover a ventilação cruzada e facilitar a entrada de luz natural. Portanto, o projeto foi norteado pelos conceitos de conforto ambiental.

A cidade de Bauru está localizada na Zona Bioclimática nº 4 de-

terminada na NBR 15220. Essa mesma norma indica que se sombreiem as aberturas a fim de diminuir a incidência de sol extrema. Os prédios foram implantados de tal maneira que as aberturas dos dormitórios recebessem incidência solar vindas do leste ou norte. Para proteção dessas janelas foram implantados protetores verticais e horizontais que compuseram a plástica do edifício. Ambientes como salas e cozinha re76

Figura 34: Iluminação natural e ventilação


cebem incidência solar vinda do oeste e em alguns casos são voltadas para

so. O acesso aos apartamentos é feito através de escadas, e de um equipa-

sul. As próprias passarelas de acesso aos edifícios fazem o papel de prote-

mento denominado montacarga, que tem acesso ao primeiro andar, devi-

ção do sol, e foram escolhidas também placas deslizantes que podem ser

do às limitações do equipamento, futuramente, com algum investimento

posicionadas pelos próprios moradores impedindo a entrada do sol em

conjunto dos moradores, ele pode ser substituído por um elevador que

determinadas janelas em alguns horários do dia. As aberturas escolhidas

alcance todos os andares do edifício.

são de tamanhos médios, conforme recomendação da NBR 15220.

As paredes internas do apartamento são de gesso cartonado, ou

sendo diferenciada por uma cor no andar térreo do comércio. As fachadas

drywall, o que possibilita flexibilidade para adequações na disposição dos

‘cegas’ que estão em cada um dos blocos de apartamentos receberão uma

ambientes, tornando o projeto passível de adequação ao passar do tem-

pintura tipo painel de ilustrações que pretendem dar cor ao local. Essas

po, mudanças de moradores e da forma de habitar. Os apartamentos ocu-

ilustrações poderão ser repensadas e trocadas com o passar dos anos por

pam os três andares superiores do prédio.

decisão dos moradores para que se sintam contemplados pela identidade

local. Para o desenvolvimento desse trabalho foram escolhidas ilustrações

Alguns conceitos da arquitetura sustentável foram incorporados

ao projeto, determinando as soluções do telhado. A cobertura foi definida

A pintura dos edifícios será branca, nos andares com apartamentos,

cedidas por Vinícius Torres.

em duas águas com inclinação voltada para o centro do prédio. Nela são colocadas placas solares, que para o maior aproveitamento da captação da energia sola são voltadas para norte. Essa energia solar produzida nas placas será destinada ao gasto com o chuveiro elétrico, que como visto nas pesquisas anteriores representa um dos maiores gastos de energia em moradias populares. Outra medida adotada foi o armazenamento de água da chuva que após passar pelos processos de purificação explicados no corpo do trabalho, podem ser reutilizadas para descargas.

As passarelas de acesso aos apartamentos receberam a instalação

de bancos em frente aos apartamentos como forma de incentivar o convívio, e transformá-la em mais um ambiente de lazer e contemplação. No último andar a passarela é contínua entre todos os blocos, reforçando a ideia de conexão do conjunto e criando mais uma possibilidade de percur

Figura 35: Trajetória solar da cidade de bauru, com posição do projeto 77


Piso intertravado Piso drenante

Piso emborrachado, tipo intertravado

Jatos D’água

Placas solares

Playground Playground

Quadras esportivas

Piso emborrachado, tipo intertravado Figura 36: Implantação com detalhe de usos e materiais 78


Planta salão de festas

Planta layout para um café Planta base das lojas

Planta banheiro para funcionários

Legenda 1-Espaço da loja 2- Banheiro/ Cozinha 3-Deck Figura 37: Plantas térreo 79


Planta apartamento 2 dormitórios

Legenda 1- Sala 2- Área de Serviço 3- Cozinha 4- Banheiro 5- Dormitório 1 6- Dormitório 2 7- Dormitório 3 Figura 38: Planta do primeiro andar 80

Planta apartamento acessível

Planta apartamento 3 dormitórios


Planta apartamento 2 dormitórios

Legenda 1- Sala 2- Área de Serviço 3- Cozinha 4- Banheiro 5- Dormitório 1 6- Dormitório 2 7- Dormitório 3

Planta apartamento 3 dormitórios

Figura 39: Planta tipo do segundo e terceiro andar 81


Bananeira Vermelha até 2m

Capim Gordura até 1m

Costela de Adão até 2m

Taro até 60cm

Amoreira porte médio

Folha de Bolo porte médio

Goibeira porte médio

Ipê amarelo porte médio

Figura 40: Planta paisagismo 82


Figura 41: Cortes do bloco A 83


Figura 42: Imagem representativa 1 84


Figura 43: Imagem representativa 2 85


Figura 44: Imagem representativa 3 86


Figura 45: Imagem representativa 4 87


7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A exclusão social sofrida por grupos de moradores marginalizados

espacialmente nas cidades é reforçada sempre que essas pessoas se vêem obrigadas a morar em locais sem a infraestrutura básica. Essa expulsão territorial para as margens do espaço urbano resulta no agravamento de inúmeros problemas sociais, impedindo o acesso dessa população à própria comunidade.

As áreas centrais das cidades estão sofrendo um abandono habita-

cional que causa a grande disponibilidade de equipamentos, transporte, e empregos, fatores que tornam essas áreas os pontos centrais de mudança do sistema de exclusão da população mais carente das cidades.

No caso de Bauru, a definição do centro como lugar de moradia

adequada para essa população pode criar muitas novas oportunidades para quem é sempre alojado nas localidades mais afastadas e isoladas do conjunto urbano.

Esse projeto teve a pretensão de criar um espaço de moradia de

qualidade aliado a um espaço público atraente para toda a população do centro, que pudesse criar trocas entre diferentes tipos de pessoas, e principalmente dar acesso à população que é sempre privada de direitos básicos e da sensação de pertencimento à comunidade municipal.

88


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Acesso, o morar no centro Nathália Wacked Dias Perroca Trabalho Final de Graduação 2017 Orientação: Silvana Aparecida Alves Arquitetura e Urbanismo


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